quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Princípios de igreja no Tabernáculo- A. McShane (Parte I)

A maioria dos escritores, ao tratar do Tabernáculo, destaca as variadas glórias de Cristo que são tão ricamente ilustradas nele. Este é, sem dúvida alguma, o aspecto mais importante e claro do ensino do Tabernáculo, ao qual são perfeitamente aplicáveis as palavras usadas dos céus no Salmo 29:9: “… no Seu templo, cada um [lit., “tudo”, ARA] fala da Sua glória”. Há, porém, outra forma de olharmos para este quadro do Velho Testamento — podemos ver nele ilustrações dos santos no seu testemunho coletivo.

Não é difícil provar que esta é uma aplicação bíblica e legítima da figura, pois como Deus habitou naquele edifício antigo e o descreveu como Seu santuário, agora, da mesma forma, Ele habita no meio do Seu povo reunido. Paulo escreveu, da igreja em Corinto: “Vós … sois o templo [santuário] de Deus e … o Espírito de Deus habita em vós” (I Co 3:16). Nenhuma construção material pode, agora, ser chamada de Casa de Deus, pois o mesmo apóstolo disse: “Deus … não habita em templos feitos por mãos de homens” (At 17:24). Ele ainda tem, porém, o Seu santuário e habitação. O Senhor mesmo disse: “… onde estiverem dois ou três reunidos em Meu nome, aí estou Eu no meio deles” (Mt 18:20). Esta promessa bendita ainda não foi retirada, um fato que muitos têm provado por experiência própria. Nem é apenas que deduzimos que Sua presença esteja ali, pois a mesma igreja em Corinto foi ensinada que mesmo aqueles que visitassem suas reuniões, ao contemplarem a ordem divina sendo seguida no meio da igreja, confessariam publicamente que Deus estava verdadeiramente entre eles (I Co 14:25).
Estas poucas referências são suficientes para deixar claro que, ao considerarmos o Tabernáculo como uma ilustração de características de uma igreja neotestamentária, não estamos viajando pelos campos da mera imaginação.
Recolhendo os materiais
Os israelitas, assim que Deus revelou Seu propósito quanto ao santuário, começaram a providenciar os materiais brutos necessários para a sua construção. Ficamos impressionados com a quantidade, qualidade e variedade de coisas requeridas — ouro, prata, cobre, madeira, peles, e pedras preciosas. Como é que estas coisas poderiam ser fornecidas por um grupo de pessoas recém-libertadas da escravidão e agora habitando no deserto de Sinai? A resposta é simples: Deus, que é quem pediu-lhes que construíssem, havia previsto o que seria necessário, e em Sua soberania havia providenciado tudo. Os israelitas, ao deixar o Egito, saquearam os egípcios em cumprimento da promessa feita a Abraão, que fora avisado que eles sairiam “com grande riqueza” (Gn 15:14). Os anos de escravidão foram finalmente pagos, como se numa parcela única. Deus agiu de tal forma no coração dos egípcios que eles estavam dispostos a dar praticamente tudo que tinham para se verem livres dos israelitas. Esta riqueza do Egito era não só uma recompensa justa pelo seu trabalho como escravos, mas também o tesouro do qual foram providenciados os materiais necessários para o Tabernáculo.
Em nossos dias, material de um tipo muito diferente é necessário para a construção do santuário de Deus. Ele agora é composto de pecadores salvos, chamados para fora do mundo e associados juntos em testemunho público. Assim como os israelitas encontraram seus tesouros no Egito, assim também encontramos os nossos no mundo ao nosso redor, pois ele é, figurativamente, o banco do qual retiramos os tesouros para o santuário de Deus. Não podemos enfatizar demais que há uma ligação inseparável entre a edificação de uma igreja e a atividade evangelística. Durante os séculos passados a mensagem gloriosa do Evangelho provou seu poder de salvar aqueles que estavam perdendo seu tempo no pecado e nos prazeres, transformando-os em material digno de adornar a igreja de Deus. Não deveríamos ter olhos para ver, em cada pecador com quem entramos em contato, material em potencial para esta finalidade? Ajuda divina será necessária para salvá-los, mas o mesmo Deus que amoleceu os corações dos egípcios pode, ainda hoje, amolecer almas e trazê-las a Si. Há alguns que pensam que o ensino é o dom fundamental na vida de uma igreja, mas se meditarmos um pouco nesta questão veremos que só haverá santos novos para serem ensinados se o Evangelho estiver prosperando. Isto não quer dizer, é claro, que cremos que os novos convertidos devem ser deixados sem receber ensino sobre onde Deus quer que eles se reúnam.
É bem provável que nem todo o material necessário para a construção do Tabernáculo foi trazido do Egito. As tábuas de madeira, os pêlos de cabras, e algumas das peles podem muito bem ter sido encontradas no deserto onde os israelitas estavam acampados. Nisto podemos aprender que outros materiais em potencial para a habitação de Deus encontram-se perto do povo de Deus — suas famílias e seus amigos, por exemplo. Muitos destes são salvos ainda na sua meninice, antes de conhecerem as profundezas de pecado que há no mundo. Qualquer pai ou mãe espiritual desejará para seus filhos não só um lugar no céu, mas um lugar na igreja local. É necessário muito cuidado, porém, para que nenhum destes seja aceito na comunhão da igreja sem ter nascido de novo, ou simplesmente devido a relacionamentos naturais. O fato de serem protegidos e privilegiados são grandes bênçãos, mas não podem substituir a mudança espiritual e pessoal da salvação.
Também devemos acrescentar que muitos destes, apesar de realmente nascidos de novo, dão menos valor à sua posição na igreja do que aqueles que vieram de circunstâncias menos favoráveis. Assim como as tábuas do deserto eram cobertas com ouro do Egito, assim também muitos que foram criados sem conhecimento das coisas de Deus brilham mais, nas igrejas, do que aqueles que pagaram um preço menor para estar ali.
Os tecidos e coberturas
Era impossível aproximar-se do Tabernáculo sem ficar impressionado com a grande quantidade de tecido e peles visíveis no seu exterior. Apesar de ser um centro de riqueza, tanto de ouro quanto de prata, ele não possuía nem pedra nem ferro para protegê-lo. Quão diferente da mentalidade do homem, pois ele não consegue descansar até que seus tesouros estejam protegidos em cofres e fortalezas. O padrão de Deus é totalmente diferente. A Sua habitação possui apenas uma cortina de linho como cerca, e apenas uma cortina de tecido colorido como porta. Qualquer que ousasse invadi-la não seria impedido por tranca ou cadeado, e pelo que sabemos, não havia nem mesmo uma sentinela para vigiar à noite.
Porém o santuário de Deus não era tão vulnerável quanto parecia ser, pois acima dele estava o símbolo da presença de Deus — a nuvem garantia sua proteção de dia e de noite. Enquanto Ele estava próximo, tudo estava bem, e não havia razão para nenhuma preocupação quanto à segurança da Sua casa. A lição aqui não é difícil de perceber. Não há, de certa forma, uma fraqueza muito grande numa igreja local? Somente um grupo de almas salvas, que diariamente sentem suas limitações, permanecendo num testemunho público apesar de todos os elementos adversos que os cercam. “Tendo pouca força” (Ap 3:8) poderia ser escrito para cada uma delas. Uma simples cortina jamais poderia suportar o ataque de algum inimigo, mas ela não estava ali para isto.
Assim também os santos na igreja dependem de Deus para protegê-los de todo mal. Alguns, lamentavelmente, confiaram na sua maturidade e força espiritual mas descobriram depois, para vergonha própria, que facilmente o inimigo os lançava ao chão. Por outro lado, assim como a cortina não poderia ser destruída devido à proteção divina, também não há desculpas quando uma igreja de Deus é derrotada pelo inimigo.
A forma como estas cortinas eram sustentadas nos ensina algumas lições sobre nossa responsabilidade como testemunhas. Em primeiro lugar, elas estavam penduradas em ganchos, de cima. Aqui aprendemos que nossa força vem do alto, portanto depender do poder divino é o segredo para permanecermos em pé.
Em segundo lugar, estavam unidas e dependentes umas das outras. Nós também precisamos de nossos irmãos e irmãs. O individualismo nesta área é uma idéa que a Bíblia desconhece, e aqueles que defendem um testemunho individual ao invés de um testemunho unido estão bem longe do ensino apostólico.
Até que o Senhor venha haverá, como sempre houve, companhias de santos, apesar de algumas vezes serem poucas, que continuarão, apesar de suas fraquezas, a executar a vontade de Deus em testemunho coletivo.
Em terceiro lugar, as cortinas era fortalecidas por pilares, lembrando-nos daqueles que foram levantados no meio dos santos para fortalecê-los e uni-los. A igreja em Filipos era composta não só de santos, mas também de bispos e diáconos. A idéia de que todos têm a mesma responsabilidade numa igreja, e que todos têm a mesma autoridade no seu governo, é totalmente contrária ao modelo do Novo Testamento. Se o Cabeça da Igreja capacita homens para cuidar dos Seus, sejam eles pastores, bispos, guias ou diáconos, é nosso dever reconhecer os tais e tê-los em grande estima por causa do seu serviço.
Em quarto lugar, havia cordas e pinos. Estes nos falam do exercício de fé e das promessas de Deus. Assim como as cordas esticavam-se e seguravam nos pinos, assim nós, pela fé, podemos segurar firmemente nas imutáveis promessas da Palavra. Quando as tempestades assolam uma igreja e ela parece estar em perigo de sucumbir, nesta hora uma palavra de Deus, transmitida e recebida pela fé, muitas vezes fortalece os santos na sua fraqueza.
A nuvem tem, também, seu paralelo hoje. Como o santuário daqueles dias era guardado por Deus, seguro sob a Sua proteção, assim também a igreja é o lugar onde a Sua presença é conhecida e sentida. A igreja em Corinto foi avisada que se alguém corrompesse o santuário de Deus, Deus o destruiria (I Co 3:17). É, portanto, algo muito sério tentar destruir uma igreja, pois Deus é um Deus zeloso, e não deixará de guardar os Seus que confiam somente nEle para sua proteção. Se uma igreja for destruída pelo ensino falso ou por práticas corruptas, podemos concluir que ela já tinha perdido a consciência da presença do Senhor algum tempo antes de isto ocorrer.
Quer visto de longe ou de perto, o tecido do arraial do Tabernáculo deve ter apresentado um contraste muito grande com o deserto no qual estava. Aquela longa tela branca, com aproximadamente dois metros e meio de altura, deve ter impressionado todos que se aproximavam. Nisto aprendemos outra lição sobre o testemunho das igrejas. O linho fino, João nos diz, são as justiças dos santos (Ap 19:8), portanto num mundo corrupto, que cada dia torna-se mais corrupto, o santuário de Deus agora deve ser visto como um lugar limpo, em total contraste com aquilo que o cerca. É bom quando aqueles que conhecem pouco ou nada sobre os princípios bíblicos e os exercícios espirituais de uma igreja são forçados a dizer: “Não sabemos muito sobre as crenças e os ensinos daquele povo, mas sabemos que são as pessoas mais corretas nesta comunidade.” Foi um dia triste para a igreja em Corinto quando ela perdeu, por assim dizer, o seu caráter de linho fino, corrompendo-se pela imoralidade e desonestidade.
Erguendo-se numa das metades deste átrio de linho, com o dobro da altura deste, estava o Tabernáculo propriamente dito. Esta tenda era o único objeto visível do lado de fora, a não ser, é claro, pelos móveis do átrio que talvez pudessem ser vistos pela porta se esta estivesse aberta. Sua aparência não dava nenhuma indicação da beleza e riqueza do seu conteúdo. A cobertura rude de peles de texugos que cobria toda a tenda tinha como função protegê-la dos elementos do deserto, e era, em muitos aspectos, um contraste com o arraial de linho que já consideramos. Sua aparência desbotada nos sugere mais um princípio visto na vida das igrejas locais. O santuário de Deus não foi construído para atrair o olhar natural, nem os Seus santuários hoje deveriam ser moldados de tal forma que satisfaçam os desejos da mente incrédula. É um lugar de repúdio, e sempre testifica ao mundo da sua associação com um Senhor rejeitado. Para se livrarem de tal repúdio, alguns tentam modificar a igreja e moldá-la conforme idéias modernas. Seu local de reunião, acreditam, deveria ser semelhante aos prédios religiosos que existem, e em suas funções sociais (como casamentos) a pompa e beleza demonstradas não deveriam ficar em nada devendo a qualquer comunidade religiosa. Tal ostentação externa é contrária ao padrão do Novo Testamento. Quando uma igreja local perde seu caráter de peregrina perde também, na mesma proporção, seu poder de influenciar para o bem.
Antes de deixar o assunto das coberturas precisamos considerar as portas coloridas — uma dando acesso ao átrio e outra ao santuário propriamente dito. Todos que se aproximavam do Tabernáculo percebiam que só havia uma porta de entrada — uma porta com nove ou dez metros de largura, indicando claramente que havia muita liberdade de acesso. Esta primeira porta com seus quatro pilares nos falaria do Evangelho. Suas cores vivas falam dos vários aspectos de Cristo ali apresentados. Devemos notar que ela era mantida em pé ligada à cortina de linho, dizendo-nos, certamente, que os santos em testemunho unido têm a responsabilidade de proclamar o Evangelho como o único caminho que Deus estabeleceu para que o homem tenha comunhão com Ele. Não há nenhum segredo em nossa posição. O mundo é nossa paróquia, e a graça que nos alcançou está ao alcançe de todos, portanto deveríamos apreciar a honra de estarmos associados com Cristo, que é a única atração para qualquer um que procura aproximar-se de Deus.
O Tabernáculo propriamente dito possuía uma porta muito semelhante à que acabamos de considerar, pois era feita do mesmo material e decorada com as mesmas cores, mas suas medidas eram diferentes. A área das duas portas era igual, mas esta última tinha a metade da largura da primeira, mas o dobro da altura. Não estaria Deus ensinando o Seu povo que o caminho para o santuário é mais restrito que o caminho para o arraial? Somente os sacerdotes tinham acesso ao lugar santo, e mesmo alguns deles não podiam entrar por causa de alguns defeitos. Comunhão com Deus no Seu santuário atual — a igreja local — também possui restrições, pois é claro em I Co 14:23 que nem o infiel nem o indouto pertenciam à igreja em Corinto. É correto afirmar, apesar de surpreendente, que alguém pode estar preparado para ir ao céu, mas não preparado para estar em comunhão com uma igreja. O homem imoral de I Co 5 teve de ser colocado fora da comunhão da igreja, apesar do seu futuro arrependimento sincero provar que ele pertencia realmente ao Senhor. Para inverter a figura, devemos tomar cuidado para não fazermos ambas as portas da mesma largura e altura, pois não temos direito de alargar o que Deus estreitou, nem rebaixar o que Ele elevou.

The Purpose of God- J. N. Darby.

"Having made known unto us the mystery of his will, according to his good pleasure which he hath purposed in himself; that in the dispensation of the fulness of times he might gather together in one all things in Christ, both which are in heaven, and which are on earth." Ephesians 1: 9, 10.
Introduction
The good pleasure of the Godhead was that all its fulness should dwell and manifest itself in Christ. Such was the purpose of God, a purpose full of blessing. The way in which God is about to manifest that purpose, and in which we are associated with its blessings, is infinitely interesting to us.
In the following pages only a small part of that purpose has been treated of, the outward part, so to speak, a part which nevertheless is none the less interesting.
It was designedly that God was pleased to accomplish it in a visible way, in order that that purpose might be revealed to us by means of positive truths, which, while bringing the Christian into fellowship with God, who is their source, preserve him - weak creature that he is - from substituting the wanderings of his own imagination for the holy manifestations which God has given unto us of Himself. The subject we are treating is contained in the prayer of the apostle Paul, which we find at the end of Ephesians 1. This subject finds a still deeper source (to which we have alluded) in what is announced to us at the end of Ephesians 3, and we cannot truly enjoy the subject treated in Ephesians 1, without having felt in some measure the power of Ephesians 3.
For the rest, in communicating what follows, I only respond in weakness to the desires of a few persons, and I am confident that God will deign to make up for what is lacking.
THE CHURCH AND THE JEWS THE RESPECTIVE CENTRES OF THE HEAVENLY GLORY AND OF THE EARTHLY GLORY IN CHRIST.
Two great objects are presented to our contemplation by the prophecies and testimonies of the Scriptures, which refer to the millennium: on one hand, the church and its glory in Christ; on the other, the Jews and the glory which they are to possess as a nation redeemed by Christ. It is the heavenly people and the earthly people. The Son Himself, who is the image and glory of God, will be their common centre, and the sun which will enlighten them both; and although the place where His glory dwells in the church be the heavens, where He has "set a tabernacle for the sun" (Ps. 19: 4), the nations will walk in the light thereof. It will be manifested on the earth, and the earth will enjoy its blessings. When all is accomplished God will be all in all. The tabernacle of God will be with men, not coming down, so to speak, but come down from heaven.
267 All these things, and the way in which they will have their accomplishment, are revealed in detail in the Scriptures. Although the church and the people of Israel are each respectively the centres of the heavenly glory and of the earthly glory, in their connection with Christ, and although they cast on each other a mutual brightness of blessedness and joy, yet each of them has a sphere which is proper to itself, and in which all things are subordinate to it. With respect to the church, angels, principalities, and powers, with all that belongs to heaven - the domain of its glory; with respect to the people of Israel, the nations of the earth.
We will confine ourselves here to the history and condition of the church, on one hand, and to those of the people of Israel, on the other.
"In the beginning God created," the Old Testament tells us. "In the beginning was the Word," says the New, proclaiming the foundation of a higher glory and more durable than that of the first creation, and on which was to rest the restoration of the latter, when ruined by the weakness of man and by sin.
"In the beginning God created the heaven and the earth." When they came forth from the hand of the Creator, all His works were "very good." Sin appeared, and they were marred. Compare Colossians 1: 20, with Ephesians 2: 10. For a moment, God rested, so to speak, in them; but that rest came to an end. The Scriptures say but little as to the evil which sullied the heavens: all that we know is, that there were angels who fell. But it was on the earth and among men that the divine and wonderful work of redemption was to be displayed; and this subject is revealed to us in all its fulness.
268 THE REST OF GOD IN THE NEW CREATION BY MEANS OF THE SECOND ADAM
The rest of God, after the first creation, was short. The rest of man with God passed away like a morning-dream. But the blessing of God was not to pass away in the same manner. That which was transient, on account of the weakness of the first Adam, was to be restored on an infinitely more excellent footing by the display of the might and power of the Second Adam; the will of God being to head up in Him all things which are in the heavens and upon the earth; Eph. 1: 10.
CHRIST THE HEIR - THE CHURCH JOINT-HEIR WITH HIM, THROUGH RESURRECTION
It is on this gathering together of all things unto Christ and in Christ, as their Head (Greek, anakephalaiosis - heading up), that depends the character and the substance of the hope of the church, until God be all in all. In this point of view, Scripture speaks of Christ manifested, as being Heir of all these things, and of the church as being joint-heir with Him. This is, as it were, the formal character which is attributed to Him with regard to all things; that we may understand what is our place with Him. Thus it is written, that God has appointed Christ "heir of all things" (Heb. 1: 2); that, in Him, "we have obtained an inheritance" (Eph. 1: 11); that we are "heirs of God, and joint-heirs with Christ," Rom. 8: 17. This glorious title of Christ - the Heir - has a still more glorious origin. He is "the firstborn of every creature, for by him were all things created that are in heaven, and that are in earth . . . and for him," Col. 1: 15, 16. The church, the children of God, are therefore joint-heirs with Christ. How are they such? It is this which we are about to develop. Christ receives the inheritance in His character of man, of risen Man, once our companion in sufferings because of sin, and then the Head, the root and spring of all blessing.
We must first remark that the first Adam, "the figure of him that was to come," is a type and figure of the Second Adam of whom we are speaking. He is referred to in this respect in Ephesians 5: 30, 31. Before His manifestation, the last Adam is, as it were, hidden, as the first Adam was buried in sleep;* Eve, who prefigures the church, is taken from his side, and God presents her to him as the help meet for him, to be his companion in the government and the inheritance of all things given to him of God in paradise.
{*This analogy is very questionable. It is rather as dead that Adam is a figure here of Christ.}
269 Thus Christ, who is God as well as man, presents the church to Himself, when He awakes in His glory, that it may share that glory with Him and that dominion which He already possesses in title and by the gift of God. "And the glory which thou gavest me I have given them," John 17: 22.
Adam and Eve, taken collectively, are called Adam, as if they were but one (Gen. 1: 27; 5: 2), although, in a certain sense, Eve was inferior to her husband, and had come after him. So it is with Christ and the church, who are but one mystical body. This type, familiar to those who read the Scriptures, presents, in a most simple way, all the forms of the reality prefigured, with this exception, that the Second Man, being "out of heaven" (1 Cor. 15: 47), is also the Head and Lord of the heavenly things.
ALL THINGS PUT UNDER THE FEET OF MAN
Let us now consider the passages which speak of the dominion of man, and of the union of the church with Christ in that dominion.* It clearly results, from the terms in which they are worded, that their accomplishment has not yet taken place. All these passages rest on Psalm 8. There the Holy Ghost says, "Thou hast . . . crowned him" (man, the Son of man) "with glory and honour, . . . thou hast put all things under his feet"; then He tells us (Heb. 2: 7, 8, 9) that this is not seen as yet, but that Jesus has been "crowned with glory and honour," that He might be pointed out to the church as the one who, as man, is to have all things put under His feet. Meanwhile, and until the purposes of God are accomplished, until the enemies of Christ, who hold the power in unrighteousness, are made to be His footstool - in a word, during the period of the present dispensation - Christ is seated on the right hand of the Majesty on high; He sits, as having overcome, at the right hand of God the Father. It is thus that He will grant to him that overcometh, to sit on His own throne (Rev. 3: 21), when He takes possession of it and reigns.
{*Note to translation. - The association with Christ, we must remember, is more blessed than the dominion which flows from it.}
Ephesians 1: 17 to 2: 7 shews us the church united to Christ in all these circumstances, according to the working of the might by which Christ was raised from the dead; chapter 2: 7 points out the cause, the glorious motive of it. In chapter 1: 22 we find again the quotation of Psalm 8: "And hath put all things under his feet." The apostle adds: "And gave him to be the head over all things to the church, which is his body, the fulness of him that filleth all in all."
270 Thus, therefore, the church is united to Christ, as a body of which He is the Head, and under whose feet God has put all things. "Christ is head over all things to the church, which is his body." See the Greek. As to this character, it is as having been raised from the dead that He possesses it, as the passage itself clearly establishes. But this last point is treated in a special way in 1 Corinthians 15, in which we find again the quotation from Psalm 8.
"Since by man came death, by man came also the resurrection of the dead. For as in Adam all die, even so in Christ shall all be made alive. But every man in his own order: Christ the firstfruits; afterward they that are Christ's at his coming. Then cometh the end, when he shall have delivered up the kingdom [that which He possesses as being risen, which is the subject of the chapter] to God, even the Father; when he shall have put down all rule and all authority and power. For he must reign till he hath put all enemies under his feet. The last enemy that shall be destroyed is death. For he hath put all things under his feet: But when he saith, all things are put under him, it is manifest that he is excepted, which did put all things under him. And when all things shall be subdued unto him, then shall the Son also himself be subject [always as last Adam, as risen man; for it is always in this character that He is spoken of in this chapter] unto him that put all things under him, that God may be all in all,"* 1 Cor. 15: 21-28.
{*God, but not Christ, considered under the aspect of His mediatorial character. It is not said, "that the Father may be all in all"; because, although Christ delivers up the kingdom as Man-mediator, He is none the less God over all things, blessed eternally with the Father and the Holy Ghost.}
Christ, in His character of risen man, reigns therefore over a kingdom which He will deliver up, that God may be all in all. All this administration, and this human dominion, which is brought out in Psalm 8, comes to an end, that the glory of God, simply, may be universal. As to the way in which these things are accomplished other passages present it to us.
271 CHRIST AS HEIR RECEIVES THE INHERITANCE IN THE WAY OF PROMISE
We have seen that Christ is Heir, in title, as being Creator of all things - all things having been made by Him and for Him, as the Son; and also because He has been established such in the purpose of God. So that, God [acting] in the way of promise, all the promises find their centre in Christ. "Now to Abraham and his seed were the promises made. He saith not, And to seeds, as of many; but as of one, And to thy seed, which is Christ," Gal. 3: 16. "For all the promises of God in him are yea, and in him Amen, unto the glory of God by us," 2 Cor. 1: 20. Thus Christ is the Heir, the Seed, to whom the promise was made.
THE REJECTION BY THE NATURAL SEED GIVES OCCASION FOR THE INTRODUCTION OF THE SPIRITUAL SEED INTO THE HEAVENLY PLACES AS JOINT-HEIRS.
As regards this earth, the people of Israel, the seed according to the flesh, were, of all mankind, in the best position to receive the Lord, in a world that knew Him not; in coming unto them, "He came unto his own," John 1: 11. That people possessed the law, the promises, the covenants, the oracles of God; it was in their midst that, according to the promise, the Lord was to come, and that He actually came; Rom. 9: 4, 5. It was this people which, in the midst of a lost world, possessed, through their relationship with God, the sabbath - that sign which was to remind them of the hope of Jehovah's rest. But when the Messiah appeared, although His coming was in perfect harmony with the predictions of their own prophets, the Jews did not receive Him. It is true, they said, and this rightly, "This is the heir"; but as they hated Him, they added, "Come, let us kill him, and the inheritance shall be ours," Mark 12: 7. Thus vanished the last hope of God's rest upon the earth. After all that had come to pass, God had yet been pleased to send His own Son; but this trial served to complete the evidence that man is absolutely without any resource, and that "every man at his best state is altogether vanity," Psalm 39: 5.
272 But that only opened the way for a dispensation far more admirable, far more glorious. The earth and the people of Israel as a nation were set aside for a time; although "the gifts and calling of God are without repentance." The design which was hidden in God for ages past was about to be revealed (that is, the gathering together into one body, and in Christ, the remnant of the Jews and the fulness of the Gentiles, in order to bring them into the heavenly places). The companion and bride of the One who had been rejected, but who is risen - the church - is gathered from among all nations, while her Bridegroom is seated at the right hand of God; and she will shine forth in the same glory as Himself, when He shall appear; Col. 3: 4; 1 John 3: 2.
Christ, in His character of Seed of Abraham, is the Heir of the promises. If He had taken possession of this inheritance during His life here below, He would have possessed it for Himself alone. In fact, after He had manifested His glory as Son of God by the resurrection of Lazarus, and as King of the Jews by His entry into Jerusalem, when the Greeks came also to seek Him, He said that the hour was come when (in spite of the rejection of the promised Seed by the Jews) the Son of man should be glorified; but, as the Lord immediately adds, "Except a corn of wheat fall into the ground and die, it abideth alone: but if it die, it bringeth forth much fruit," John 12: 1-24.
It was as risen that Christ was to enter into the possession of the inheritance with the church - the ear, sprung from that grain of wheat cast into the tomb - with the church henceforth perfectly justified; Rom. 4: 25. Thus Christ inherits the promises, not as having come in the flesh on earth, but as risen. He inherits them, after having done all that was necessary for the redemption of the church, and in the power of that life which He has taken again, of which He makes His bride to partake. The result of this union is, that the souls which form the church, when they are born of the Holy Ghost, are considered as risen with Him. In a word, Christ is heir, in His character of risen Man - of risen Head of the church.
Paul, in Galatians 3: 17, speaks of the confirmation of the promise, made to Christ, and what he says perfectly agrees with what we have just been saying. Moreover, the apostle is quoting Genesis 22: 18, "And in thy seed shall all the nations of the earth be blessed; because thou hast obeyed my voice." In these words we find indeed that the promise, made to Abraham in chapter 12 and referring to the blessing of the nations, is confirmed to the seed of the patriarch, after that seed had been restored to him in a figure of resurrection; Heb. 11: 19.
273 Thus we have seen how the scripture establishes, under divers aspects, this blessed truth, that the church is redeemed to be united to Jesus, in order that, when He takes possession of His inheritance, He may have a companion meet for Him, to be associated with Him in all things, and perfectly like unto her glorified Bridegroom. For the complete fulfilment of these things, it was necessary, not only that the church should be redeemed, but also that Christ should go to prepare a place for her.
CHRIST EXALTED IN THE HEAVENS PREPARES A PLACE FOR THE CHURCH, AND CAN FULFIL THE PROMISES MADE TO ISRAEL - MEANWHILE THE CHURCH IS CALLED.
The resurrection of the Saviour had the double result of accomplishing the redemption of the church, and of putting Christ in a place where He could secure the sure mercies of David (Acts 13: 34), that is to say, confirm in His own name all the promises made to Israel. Moreover, it was needful also that He should take possession of the heavenly places, in order to establish the kingdom of heaven and to fill all things (Eph. 4: 10);* as well as to associate the church with that glory - new, and yet eternal - prepared before the foundation of the world, and yet hidden from the former ages, but the manifestation of which had- been determined according to the wisdom of God by the rejection of the Messiah by the Jewish people.
{*Compare with John 20: 17.}
We must here distinguish two things: Christ preparing a place, a heavenly habitation; and Christ gathering from among all nations those who are to be His joint-heirs, calling the bride who is to enter into possession with Himself. Thus, in John 14: 2, 3 the Lord says, "I go to prepare a place for you. And if I go and prepare a place for you, I Will come again, and receive you unto myself; that where I am, there ye may be also." In John 17: 24: "Father, I Will that they also, whom thou hast given me, be with me where I am; that they may behold my glory, which thou hast given me: for thou lovedst me before the foundation of the world."
In Romans 8: 29, it is written: "Whom he did foreknow, he also did predestinate to be conformed to the image of his Son, that he might be the firstborn among many brethren."
274 AT HIS COMING, HE RECEIVES THE INHERITANCE WITH THE RISEN CHURCH.
In Colossians 1: 18, Christ is called "the head of the body, the church . . . the firstborn from the dead."
But in what manner do these things take place? - "As we have borne the image of the earthy, we shall also bear the image of the heavenly." "As is the earthy, such are they also that are earthy: and as is the heavenly, such are they also that are heavenly." These words are found in 1 Corinthians 15, where we find the subject of the resurrection exclusively treated. Thus again it is also written in Romans 8: 30, and that in reference not to sanctification, but to glory - "Whom he justified, them he also glorified"; without any mention of sanctification. Philippians 3: 21: "Who shall change our vile body, that it may be fashioned like unto his glorious body."
The time when these things will be accomplished is clearly taught in Scripture. Christ is now hid in God, and our life is hid with Him there; Col. 3: 3. The present time is that during which are gathered, by the Holy Ghost, the members of His body, His joint-heirs, while He is seated at the right hand of Jehovah, until His enemies are made His footstool. The apostle says, "But he, having offered one sacrifice for sins, sat down in perpetuity at the right hand of God, waiting from henceforth until his enemies be set for the footstool of his feet," Heb. 10: 12-14. He has accomplished all that was to be done for the redemption of us, His friends; and while He is still gathering His own by the power of the Holy Ghost whom He has sent, and who reveals Him, and the Father through Him, He is seated, in the expectation of the possession - and not in the effective possession - of the earth, of creation; until the number of the joint-heirs is completed. He is sitting on the Father's throne, and it is there that the church knows Him at the present time.
But while He is waiting, we wait also; and even as regards the whole creation, it waits also: it waits for the manifestation of the children of God. As for the time and manner of that manifestation, the Scriptures are clear.
275 Since we are to be conformed to the image of the Lord Jesus, it is evident that it must be by resurrection and by glorification; for He is risen and glorified. Therefore it is said that the whole creation waits for the manifestation of the children of God; and the apostle adds, "And not only they, but ourselves also, which have the firstfruits of the Spirit, even we ourselves groan within ourselves, waiting for the adoption, to wit, the redemption of our body," Rom. 8: 19, 23. Again, it is written, "When Christ, who is our life, shall appear, then shall ye also appear with him in glory," Col. 3: 4. "We know that, when he shall appear, we shall be like him; for we shall see him as he is," 1 John 3: 2.
THE SAINTS JUDGE THE WORLD.
We have already seen that the Lord says, "I will come again, and receive you unto myself; that where I am, there ye may be also" John 14: 3); and this is what will take place, either by resurrection, or by being changed; for "we shall not all sleep, but we shall all be changed," 1 Cor. 15: 51. This is the entrance of the church into glory, as we are taught in detail by 1 Thessalonians 4: 16, 17: "The Lord himself shall descend from heaven with a shout, with the voice of the archangel, and with the trump of God; and the dead in Christ shall rise first: then we which are alive and remain shall be caught up together with them in the clouds, to meet the Lord in the air: and so shall we ever be with the Lord."
One may read in Revelation 19 the description of this scene - the marriage supper of the Lamb, and the subsequent judgment of the earth, or at least of the heads of the antichristian revolt. This judgment is again described in more general terms in Jude 14, 15: "Behold, the Lord cometh with ten thousands of his saints, to execute judgment," etc.; and in Zechariah 14: 5, it is said, "The Lord my God shall come, and all the saints with thee."
How blessed the time when Christ shall have presented the church to Himself, as a glorious spouse, "not having spot, or wrinkle, or any such thing!" Eph. 5: 27. Clothed with the beauty and glory which belong to her, seeing in her Lord the beauty and glory of the Father, she is moreover associated with the glory of her Bridegroom in the power of that love wherewith He loved her, and in which He gave Himself for her, that she might be perfectly cleansed and made glorious with Him, even where He is; then manifested in glory, surrounded with honours such as He receives Himself; made partaker of all His glory, of that glory which the Father gave Him, that the world might know that the Father has loved her, as He has loved Him. Associated with the Lord of glory, the saints will judge angels and the world; they will be the servants and instruments who will dispense the light and the blessings of His kingdom over an earth delivered of all its sorrows, and where Satan is no longer. "For unto the angels hath he not put in subjection the world to come, whereof we speak," Heb. 2: 5. "They which shall be accounted worthy to obtain that world [age]" to come, "and the resurrection from the dead," can die no more; Luke 20: 35, 36. "On such the second death hath no power," but they live and reign with Christ a thousand years; Rev. 20: 6. Happy those believers!
276 At the coming of Christ, these (already risen as to their souls) will rise as regards their bodies, by His Spirit that dwells in them; Rom. 8: 11. This is that resurrection - not of judgment, but of life (John 5: 29) - which belongs to the church in virtue of her union with Christ by the Holy Ghost. It cannot therefore concern the wicked; although they also must be raised up in their own time by the word of Christ, but to be judged. Those who belong to Christ will be raised at His coming; as for the rest of the dead, their resurrection will take place when Christ, after having delivered up the kingdom, will be seated, as Son of man, on the great white throne, to judge the dead, when the earth and the heaven have fled away before His face; Rev. 20: 11.
Such is the teaching of the word of God. The taking possession of the kingdom by Christ is described in Daniel; but to treat this subject would lead to our second part, the earthly glory: we shall therefore lay it aside for the present. Our only desire here was to shew the place which the church occupies in this scene, and the connection which exists in Scripture between that doctrine - well understood - and the most fundamental and comforting truths which form the hope and the joy of the believer.
277 THE KINGDOM OF THE FATHER.
There is a point in this subject which we have scarcely touched upon, but the contemplation of which would lead us too far away from our main object, and might expose us to the danger of losing sight of it. It is the place which the Father's love has here - a subject equally full of deep comfort. It is for the kingdom of the Father that Jesus taught His disciples to pray: it is in the Father's kingdom that the righteous shall shine forth as the sun (Matt. 13: 43), that is, as Christ, the Sun of righteousness. It is in the glory of the Father that Christ is to appear, and that is for us a most happy circumstance in the blessedness of that great day. Here we enter into deeper waters, and yet more calm; into that eternity which is an unruffled and boundless ocean of infinite joy - a joy of which, however, we shall know the breadth, and length, and depth, and height, which pass all knowledge; for it is there that we shall learn these things; it is there we shall study the glory. Here below we may feel perhaps more deeply what grace is; there we shall be the full manifestation of it, we sinners made like unto Christ Himself; Eph. 2: 7.
But the passages which have placed under the eyes of the reader, with the reflections which are added, may suffice to guide those who desire to inquire further as to this simple but blessed truth, and to receive the revelation of it in their souls. They will not be long without feeling that it contains everything; that it is the fulness of Him, who, without having had a beginning, was pleased to be born, and who, having no end, is pleased to accomplish eternally in us that infinite joy, the realisation of which will even render us capable of enjoying it in a measure always increasing. We shall have great lessons to learn in glory with Christ, the Lamb, in whom the Father is fully revealed. The life we have received gives us even now a right and tide to all these blessings as ours.
This is only a simple outline of the position the church will occupy, when Christ shall be revealed in His power and glory. Then will it be manifested as His bride, His companion, in the same glory with Himself; and all things will be blessed through it. For it will be the sphere and means of the display of the glory and blessing of Christ.

Are there Two Half Weeks in the Apocalypse?- J.N.Darby

Dear Mr. Editor,
It has long been assumed that two half-weeks are spoken of in the Apocalypse. In this I have for years myself acquiesced, and I think rested on the contrast of the beast's overcoming the saints, and the witnesses destroying their enemies, as confirming this assumption. I hardly know how I was led some time back to call it in question; but I have been: and I should be glad to present the point as a question, in case you or your readers were given of God to throw any light upon it. Though strongly calling in question that two half-weeks are spoken of, my mind is still quite open to conviction; and I have nothing whatever to sustain in it, and desire only to know what the Spirit of God has really meant to teach us in the word as to it. I hardly know whether such a question enters into the object of the "Bible Treasury"; but it may elicit some light from others as to the matter. I shall give a kind of exposition of the subject from Scripture, considered from the point of view I have spoken of.
Seventy weeks are determined on Daniel's people and his holy city, to complete the blessing and close their eventful history - the display of divine government in the earth. After seven and sixty-two weeks Messiah is cut off and has nothing. There are seven and sixty-two till Messiah the Prince. His cutting off is indefinite; only it is after the sixty-two weeks Then the prince that comes establishes a covenant with the many (that is, the mass of the people). Messiah's relationship, on the contrary, had been with the residue, though presented to all the people. Then, in the dividing of the week, he causes the sacrifice and oblation to cease; and then, because of the protection of abominations (idols), there is a desolator. I give you Daniel as I understand it.
No persecutions are here spoken of in the first half-week, nor indeed is any first half-week spoken of. The prince confirms the covenant one week, and the half-weeks are marked by his change of conduct in the middle of the week. In Daniel 7 we have, without any note of period, the general characteristic of the beast - that he wears out the heavenly saints, and in general makes war with the saints till the Ancient of days comes. But the times and laws (not the saints) are delivered into his hand for half a week, i.e., for a time, times, and half a time. In Matthew 24 there is general testimony, such as there was in Christ's time - only it reaches the Gentiles - till the last half-week, which begins the abomination of desolations. This exclusive allusion to the last half-week in Matthew 24 had often struck me. In Revelation 13 the beast is given power to act forty and two months. He blasphemes God and them that dwell in heaven; and he makes war with the saints (not "those that dwell in heaven, compare chapter 12: 12), and overcomes them. One would surely, at first sight, suppose that power to act forty-two months hardly meant that he does so eighty-four.
169 Thus far, certainly, the last half-week seems to be noted. The second beast acts in presence of the first, who is the beast with the deadly wound healed. Compare Revelation 17: 8. In this last chapter no date or period is given; it is the description of the beast; but his existence is stated, and it is as ascending out of the bottomless pit (he who kills the witnesses in chapter 11) when all worship him save the elect. The Gentiles (chap. 11: 2) tread the city under foot forty and two months - one would suppose therefore no longer. It is true the temple and the altar are spared; but I surely think that this applies to the destruction of true condition of worship and true worshippers, not locality, though in Jewish connection. But if this be true of verse 2, verse 3 applies to the period spoken of in verse 2. This would put the third woe (Rev. 10: 7, when he sounds, as he is just about to do, I apprehend is the sense), at the close. The casting down of Satan, the flight of the woman, and the changing of times and laws, would coincide as to epoch with the ascent of the beast out of the bottomless pit. I have thus given a kind of statement of the whole matter, sufficient to present the question, "Are there two half-weeks spoken of in the Apocalypse?" I do not reason on it, nor reply to objections which might suggest themselves. If my question draws out any remarks, that will be the time to enquire into their justice.
A collateral subject suggests itself, on which I would say a few words. There are heavenly saints spoken of in Daniel 7. Does this bring the church into the scene? It implies, I think, nothing as to the church; rather, I think, the contrary - makes its distinctive place more clear, though the church be heavenly We have, in Daniel, the saints of heavenlies, as belonging to, and connected with, these earthly questions, where there is not the smallest allusion to the church, where all is connected with the beasts and the true kingdom over the earth. Abraham was a heavenly saint, though he saw Christ's day and was glad He looked forward with joy to this, but was himself obliged to take it in another way. Such is the case supposed in the sermon on the mount. "The meek shall inherit the earth"; but the reward of the persecuted will be great in heaven. So in the Psalms, especially book 1 (Psalm 1-41), where even Christ is shewn the path of life (Psalm 16), so as to be in God's presence, and the saint (as Christ Himself) is satisfied (Psalm 17), waking up after Jehovah's likeness. Yet the remnant are promised earthly blessings very plainly and clearly. See Psalms 1, 37, whence the expression in Matthew 5 is drawn; so Psalm 34, and others, as Psalms 9, 10, and indeed also Psalm 8, shew.
170 The passages, then, in Daniel, as others, point out clearly a residue, who, connected with earthly things, and passing through them, but purified by trials out of them, and led to look up on high, have finally their portion there where they have been taught to look. But, in general, I apprehend their desire after heavenly things is more connected with weariness of heart in conflict while under the law - for they are under the law - though no doubt they do in spirit thereby dwell in heaven, for the enjoyment of which the new nature renders them capable.
As to the church, remark that in Ephesians 1 it is brought out quite apart from the full blessing of individuals, developed with such inexpressible beauty; first, in their calling; then, in the knowledge given them of the purpose of God to gather together all in one, in Christ, and in the inheritance obtained in Him. After that the apostle prays that they may understand these two points of God's calling and inheritance in the saints. But then he adds another demand, brought in addition, that they might know the exceeding greatness of His power, which He wrought in Christ, when He raised Him from the dead; and then first brings in the church as His body, the fulness of Him who fills all in all; thus giving the church, which He had not before spoken of, a peculiar place in union with Christ, as raised from the dead (compare Col. 1: 18),* and sitting at the right hand of God. God gave Him, the raised Jesus, to be Head - over all things - to the church, which is His body, the fulness of Him who filleth all in all. It has no existence but united to Him, and has its existence consequent on His exaltation. Hence it is said we are "one body in Christ" (Rom. 12: 5), and still stronger, "so also is Christ" (1 Cor. 12: 12).
{*The Colossians speaks only of the resurrection. This falls in with another point observable in this epistle: life, or the new nature, is referred to, rather than the Holy Ghost, as in the Ephesians; for the presence of the Holy Ghost depends on Christ's exaltation. This difference of the epistles, which I cannot follow out here, is full of instruction.}
171 And here note that in Ephesians 1 Christ is considered as the exalted Man. The chapter speaks of His (God's) mighty power which He wrought in Christ. Christ is looked at as man, and subjected to death, and raised again by another, even God; that is, it is a Christ really living in time. When the forming of the body on earth by the Holy Ghost is spoken of, the word leads us to the same truth: "By one Spirit are we all baptised into one body," 1 Cor. 12: 13. There is (Eph. 4) "one body and one Spirit . . . one Lord, one faith, one baptism." I go on to "one baptism," because it shews that the apostle is speaking of those who are brought in by the known death and resurrection of Christ. The testimony of 1 Corinthians is beyond controversy; and while the Ephesians shews individual privilege, in the highest way, as relationship, position, and character, making the individual the proper object of every ministration of the church, the more the Scriptures are searched into, the more the church - the assembly - will be seen to have a distinct and peculiar position, and to be a special and distinctive body. Hebrews 12 shews it very clearly. Thus, in the midst of the general assembly of heaven, "to an innumerable company of angels, the general assembly, and to the church of the firstborn whose names are written in heaven." It is really forgotten that, unless the question of authorship be raised on the last mentioned passage, in the apostolic writings none ever speaks of "the church" but Paul.
I resume the points as to the half-weeks. Christ's connection with the first half-week is left entirely vague. Seventy weeks are determined on the city and the sanctuary to bring in blessing. Then there are seven and sixty-two weeks till Messiah the Prince. A week thus remains. But after the sixty-two weeks Messiah is cut off and has nothing - after their fulfilment, but His time passes for nothing; it drops through, as He is rejected. We can say that in His death He laid the foundation of the new covenant, and that, in some sort, during His life, He may be said to have been dealing with the remnant in establishing a covenant associating them on certain principles with Himself. I apprehend what is called "confirming a [not the] covenant" means forming it as on established principles of association. This the prince does with the mass or the many. This prince (not the Messiah) is alone said to do it, and in the dividing of the week, which is referred to in connection with him only, he subverts the whole order of Jewish worship, breaks their apparent link with God, making sacrifice and offering cease. In Daniel 9 we have only the earthly historical view of the matter.
172 But, at this epoch, Satan is cast down from heaven, the blasphemous beast comes up out of the bottomless pit - he whose deadly wound was healed. Thus, incontrovertibly, the last half-week is the great subject of testimony: it alone is referred to by the Lord; nor indeed is the first referred to as a half week when its existence is proved; Dan. 9: 27. Of course, as the prince changes his conduct in the dividing of the week, there must have been a half-week before; but the "confirming" is referred to the week in general. Satan's (to him, probably, unlooked for) rejection from heaven changes the whole scene. He, as to the mass, sets aside the public outward testimony to God. This would account for the witnesses being raised up, as witnesses before the God of the earth; because (Satan being become the Satan of the earth then) God's witness must be there where Satan's power is and refer to it, just as the church's ought to the heavenly now. The particular protection of the witnesses accounts for their subsisting in spite of it. They were as Moses and Elias in reference to the power of evil.
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In reply to the questions of your correspondent, "J.M., etc.", in the number for February, I remark: First, if the seven vials are the details of what passes under the seventh trumpet, the question is decided. But where is the proof of this? I have always held chapter 15 as a distinct vision ("I saw another great sign in heaven"), chapters 12-14 to be continuous, or rather to belong to one subject, giving the origin and different aspects of the same series of events up to the final judgment executed at the coming of the Son of man, and then chapter 15 to give another special course of judicial events up to the destruction of Babylon, before the coming of the Lord, which is only brought in subsequently in chapter 19. This part of the difficulty, therefore, falls to the ground, for chapters 15-18 precede the last event of chapter 14. The question whether chapters 15-18 are included in the last trumpet remains untouched, but at any rate to be proved, and not, as yet, a proof of anything.
173 Next, it is assumed that chapter 11: 7, the beast that ascendeth out of the bottomless pit means "who then ascends out of the bottomless pit"; but of this there is no proof It is a characteristic, and not a date. Is it not rather to be believed that he takes this character when Satan is cast down from heaven, and has great rage, and that the dragon then gives him his throne and great authority?
Further, your correspondent assumes too much when he says on chapter 12: 10, that heavenly celebration long precedes earthly accomplishment, if he would use it as proving that the announcement that the worldly kingdom is come, may precede by three years and a half its coming. The cause of the celebration in chapter 12: 10, which does anticipate, I do not doubt, ulterior results, is given, and is a present thing, and it is not said "the kingdom of the world," etc. as in chapter 11: 15 - a very notable difference. The cause is that after open war, Satan or the dragon is cast down, and though there is an application to the state of certain suffering saints, the heavens only and their inhabitants are called on to rejoice. To the earth and its inhabitants woe is announced from the power of Satan. Surely this is a different thing from Christ's kingdom of this world is come; though they might well say, "Now is come salvation and strength, and the kingdom of our God, and the power of His Christ; for the accuser is cast down." For in truth the whole state of things was changed, and the heavenly saints delivered, and power established in heaven, in contrast with the meeting accusations.
There remains only one difficulty, that three days and a half occur before God interposes in deliverance. The same difficulty presented itself to me long ago, on the other scheme. For if the seventh trumpet be the beginning of the last half-week, as it is alleged to be by the connection of chapter 12: 10 with chapter 6: 15, then we have at least three days and a half and something more from chapter 11: 14 (cometh quickly) intercalated between the end of the first half week and the beginning of the second. I hardly think the fact that a short interval elapsed between the last act of the beast and the public execution of judgment upon him can make a substantial difficulty. It may be the time of the gathering of the armies when Christ is coming as a thief, or the reaping of the earth before the vintage, neither of which could be called the practising of the beast. The difficulty seems to me to be less than intercalating something more than three days and a half between the half-weeks If the three days and a half be put into the last half-week; which would not be, in itself, I apprehend, a difficulty, the whole connection of chapter 11 with chapter 12 and the explanation of chapter 12: 10 and following verses falls to the ground. Yet that we have, certainly, some definite half-week in chapter 12 seems clear. I think the subject requires a fuller investigation. I can only here answer the difficulties presented by "J.M.", which do not seem to me to result, as yet, in the rejection of the thought that there is only one half-week spoken of in the Apocalypse. The removal of an objection is not a proof necessarily of the thing objected to. For that I still wait with my mind entirely free.
Your affectionate brother in Christ, J.N.D.

La Vida Profesional del Creyente y su Testimonio para Cristo en el Mundo-W. Kelly

Es indudable que la mayoría de los cristianos, durante el curso de su peregrinaje por este mundo, se ven en la obligación de ganar el pan diario para sí mismos y para su familia. Y eso es bueno, ya que pocos de entre nosotros seríamos capaces de sostenernos sin la necesidad de trabajar de esta manera. Pero, ¿por qué motivo este trabajo necesario me habría de impedir servir al bendito Señor con todo mi corazón? ¿Por qué me habría de impedir que rinda un testimonio auténtico, con todo mi afecto y con todas mis energías, a su Nombre, al mismo tiempo que mis manos proveen, tanto para la familia como para las necesidades individuales, lo poco que hace falta para el sustento diario? Sin embargo, para el creyente este trabajo es solamente un medio de ganarse el pan, y nada más que eso.


Tan pronto como uno busca vincular estos esfuerzos con la dignidad de una profesión, y los considera como algo de honor a los ojos de los hombres, el testimonio dado a la gloria de Cristo resulta imposible. Sin duda que la gracia de Dios puede llamar a su servicio a individuos activamente ocupados en profesiones que son de alta estima a los ojos del mundo. Sabemos, desde luego, de personas que han sido así llamadas por Dios en el momento mismo en que empezaban una de estas carreras tan altamente estimadas para el corazón natural, o que ya estaban plenamente dedicadas a ellas. Hemos visto también a otros, en circunstancias similares, demostrar una gran simplicidad de corazón. No estoy diciendo ahora que sea algo malo tener lo que los hombres llaman una profesión. Mas, a la luz de la gloria celestial de Cristo, juzgo el espíritu en el cual se halla organizado todo lo que está en el mundo; y quiero advertir a los hijos de Dios contra la vanagloria de los hombres respecto de estas cosas, contra el deseo y la ambición detrás de las distinciones terrenales, contra la desmedida estimación de las cosas que llevamos a cabo para nosotros y para nuestra familia, tanto en pensamientos como en sentimientos, conforme a la buena opinión que el mundo tiene de ellas.


Así como Cristo dijo que su hora aún no había venido (Juan 2:4), así tampoco ha llegado la nuestra. Si le pertenecemos a Él, no tenemos nada que ver, en lo más mínimo, con la gloria de este mundo. Tened por seguro que esos honores no son sino una deshonra para un hijo de Dios. Poco importa lo grande que sea el galardón que el mundo ofrece; ¿qué necesidad tenemos de él? ¿Acaso no son “nuestras todas las cosas” (1.ª Corintios 3:21-23)? ¿No habremos de “juzgar al mundo e incluso a los ángeles” (1.ª Corintios 6:2-3)? Por lo demás, sabemos que estas cosas terrenales llevan a menudo sobre sí la misma impronta de su propia futilidad e intrascendencia, a tal punto que hasta los sabios de este mundo admiten que el bien consiste más en perseguir que en alcanzar el objeto de nuestros deseos. ¿Quién no sabe que para algunos hombres, obtener la tan ansiada «cinta de condecoración» o el «diploma» es la mayor recompensa que jamás haya podido obtener por los esfuerzos de toda su vida? ¡Éstos, sin embargo, son considerados hombres sensatos! ¿Qué no harían o no padecerían los más nobles o los más ricos de los hombres para obtener y lucir la insignia de alguna de las órdenes caballerescas?


Permitidme, pues, insistir sobre la importancia para el cristiano (en cualquier actividad que emprenda, ya para él, ya para los suyos) de mantenerse constantemente en guardia en cuanto al mundo, y de fijar la mirada en Cristo en el cielo. Lejos está de mí el absurdo pensamiento de que el cristianismo impone que todos los creyentes busquen una uniformidad de ocupación. La fe no se manifiesta necesariamente por el abandono de una profesión, si uno puede permanecer con Dios en esa actividad, ni por la búsqueda de una profesión que esté enteramente fuera de nuestras aptitudes. Esto no es fe, sino insensatez. Mas dándole a todo esto la importancia que merece, permitidme insistir en el hecho de que si hemos de hacer una actividad diaria cualquiera, ya sea redactar escrituras notariales o reparar zapatos, el único móvil digno de un cristiano es hacer todo para el Señor.


Si sabemos que hacemos la voluntad de Dios, podemos hacerlo todo con buena conciencia y con un corazón alegre. La ruina para el cristiano consiste en olvidar que está en la tierra para hacer la voluntad de Dios y para ser un fiel testigo de un Cristo rechazado por el mundo, pero glorificado en el cielo.


En contraste con esto, ¿cuál es la ambición del hombre del mundo? Es hacer su propio camino, avanzar a fin de emprender algo grande; y que lo que ha podido lograr hoy, sea un escalón para obtener mañana algo más de este mundo. Todo esto constituye una absoluta negación del lugar del cristiano en el mundo, y pone de manifiesto que el deseo del corazón está puesto en la corriente de este mundo. Es natural para el hombre el deseo de tener una posición más brillante y más cómoda en la tierra; pero, amados, ¿es ello compatible con la lealtad del corazón a Cristo? ¿No es ello, después de todo, la señal de que uno prefiere al primer Adán antes que a Cristo? Toda la cuestión se resume realmente en este punto: ¿Le doy más valor al primer Adán o al Segundo? Si mi corazón pertenece al segundo Adán, ¿no debería demostrarlo en mi vida de cada día? Honrar a Cristo, ¿es algo que debo hacer únicamente el domingo? ¡Esto no sería seguramente la lealtad que le debemos a nuestro Jefe en el cielo! ¿Has sido llamado por la gracia de Dios al conocimiento del Hijo de su amor mientras ocupabas una posición considerada por el mundo como humilde y despreciable? ¡Que así sea! Si puedes permanecer con Dios conservando esta posición, ¡qué admirable oportunidad tendrás entonces para ejercer tu fe, la cual juzga las cosas en función de un Cristo en la gloria! No te pido que sigas a uno o a otro hombre, sino que escudriñes la Palabra de Dios a fin de determinar en qué medida te será posible honrar a Cristo tal como Él es, en el puesto donde te encuentras. Pues ¿acaso no debemos ser “epístolas Suyas, leídas y conocidas por todos los hombres”? (2.ª Corintios 3:2). ¿Y no es así que por su gracia, ríos de agua viva, provenientes de Él, correrán de nosotros? Creedme, no manifestamos nada de Cristo cuando nos aferramos tenazmente a nuestros propios logros, cuando hacemos valer nuestros derechos y dignidad, por más fundados que puedan ser a los ojos del mundo, o cuando resistimos con tesón toda usurpación o exceso de libertad que nos parece injusto, en un siglo que menosprecia la autoridad.


Tampoco el espíritu de Cristo es manifestado por un cristiano de esa condición que el mundo estima inferior, que busca aprovechar ansiosamente todas las oportunidades que se le presentan, para dirigir sus esfuerzos conforme a su propia estima de los valores de este mundo. Por otro lado, ya sea que nuestra condición sea elevada o modesta, como dicen los hombres, siempre tenemos la ocasión de demostrar lo que pensamos de Cristo. Cualquiera que sea la prueba, no es más que una pequeña oportunidad ofrecida para poner de manifiesto lo que Cristo es a nuestros ojos.


La Palabra de Dios constituye el único criterio para dirigirnos de una manera infalible, ya que nuestra propia sabiduría en tales cosas, sólo es vana e insensata. La voluntad del Señor lo es todo. Todo gira en torno a ella. Para la conciencia del cristiano, toda la cuestión se reduce a este solo punto: que cualquiera que sea nuestra posición en el mundo, cada uno de nosotros siempre tiene la oportunidad de hacer la voluntad de Dios, de ser Su siervo, de manifestar que lo estimamos de manera infinitamente superior al mundo. La bendición para mí consiste en estar contento con el servicio que el Señor me da para hacer, cualquiera que sea. En cuanto a las circunstancias que mejor honran Su gloria, y que convienen a Su siervo aquí abajo, Él es el único capaz de juzgar bien. Considero tales circunstancias simplemente como una oportunidad más que tengo para publicar Sus alabanzas, estimando, sobre todas las cosas, lo que el mundo aborrece. Con respecto a mi profesión, ya honrada, ya menospreciada a los ojos de los hombres, reitero que, para mí, no debe ser sino un medio de ganarme el sustento. Es indudable que el mundo no tiene este punto de vista. «¡¿Qué?! ¿Tratar una profesión honorable sólo como un medio de ganarme la vida?» Sí, así es justamente; un Salvador crucificado aquí abajo y exaltado ahora en la gloria, poco tiene que ver con el mundo y con todo lo que en él se encuentra.


Tomemos un ejemplo. Supongamos que deba trabajar como zapatero; ¿es mi meta llegar a ser el mejor zapatero del pueblo? Supongamos que sea médico. ¿Aspiro a tener el mayor número de pacientes de la ciudad? ¿Hay algo de Cristo en estos deseos? ¿Así honramos en la práctica al Jesús glorificado? ¿Acepto realmente de Su mano mi trabajo, y lo hago verdaderamente para él? Si el Señor nos dio realmente algo que hacer para él, nuestro amor se aplicaría sin duda alguna en hacerlo lo mejor posible. Lejos está de nosotros el pensamiento de considerar una virtud el hecho de que los cristianos sean descuidados y negligentes en la manera de llevar a cabo sus ocupaciones. Ciertamente no hay nada peor en un hombre —y menos para un santo―, que ser desaliñado y descuidado consigo mismo. Pero lo que es necesario para la fe, es la firme convicción de que Cristo es el objeto de nuestro trabajo, independientemente de la naturaleza de éste, ya sea importante o humilde, de que todo es hecho para Él.


Por eso manifestamos, incluso en nuestras conversaciones de la vida diaria, que no vivimos para nosotros mismos ni para el mundo, sino “para Aquel que murió y resucitó” (2.ª Corintios 5:15). Entonces tendremos ciertamente con nosotros el poder del Espíritu Santo para todo. Éste es un precioso testimonio, aunque sea dado en medio de las cosas pasajeras de este mundo, pero un testimonio que no pasará jamás. No hacemos más que atravesar un país extranjero. Nuestra patria está con Cristo y sólo estamos por pocos días allí donde el propio Señor nos ha llamado y nos ha colocado. Hemos de residir aquí abajo todo el tiempo que el Señor nos mande trabajar para Él. “Al mandato de Jehová acampamos, y al mandato de Jehová partimos” (Números 9:18). Y porque le pertenecemos, Él dispone enteramente de nosotros. Estamos en el desierto, pero, mientras aguardamos, en vez de solamente beber agua que fluye de una peña, tenemos dentro de nosotros una fuente de donde corren ríos de agua viva (Juan 4:14). No es otra cosa que el gozo de Jesús que se reproduce aquí abajo, el poder del Espíritu Santo que permite al corazón regocijarse hoy mismo en Aquel que está allá arriba. Hay una profunda conciencia de que pertenecemos a Aquel que está allí en lo alto ahora, y por eso toda la gloria de este mundo es juzgada como la peor basura, es decir, tan sólo como el ilusorio incentivo del que se sirve Satanás para seducir a un mundo perdido y condenado.


Que Cristo permanezca como el objeto de nuestros corazones


Amados, quisiera preguntaros, ¿en qué medida nuestras almas tienen este objeto, y este objeto solamente, delante de sí? Y yo también me hago la misma pregunta respecto de mí mismo. Ruego a Dios que nos de gracia para que ninguna de las verdades que Él tuvo a bien revelarnos degenere en un conocimiento estéril. Y quiero decir que particularmente nosotros tenemos que estar alerta contra esta trampa, más que ningún otro cristiano. Dios en su gracia ha estado despertando a sus hijos, los ha llamado o, mejor dicho, les ha hecho recordar esta verdad, y más aún, ha estado reavivando “la fe que ha sido una vez dada a los santos" (Judas 3). Ello, sin duda, es un gran privilegio, pero acarrea una seria responsabilidad y graves peligros. ¿Quiénes son los más expuestos a perder de vista esta verdad y a convertirse quizá en sus adversarios declarados?: Los mismos que, habiendo conocido estas verdades, dejaron de vivir en ellas y, por ende, de amarlas. ¿Y cómo es posible vivir en estas verdades, a menos que Cristo, y no el yo, sea nuestro primer y principal objeto? Sustituid en vuestros corazones al Señor por cualquier preocupación personal en relación con nuestro renombre o nuestro bienestar, e inmediatamente todo se corrompe, todo se contamina hasta las mismas fuentes. Sólo Dios sabe dónde se podrá detener esta locura e inconstancia, a menos que Su gracia intervenga, la cual, después de habernos atraído cuando no había en nuestros corazones la menor chispa de amor hacia Él, nos guardó a pesar de toda nuestra miseria, y de esa misma manera puede aún impedir las desastrosas consecuencias de nuestra infidelidad e ingratitud.


Dios, que tiene siempre a Cristo ante sí, y que quiere que ahora Él sea glorificado en nosotros, nos deja bastante libertad de acción y de responsabilidad moral para mostrar hasta dónde la incredulidad es capaz de actuar aun en un santo. Pero Dios puede restaurar un alma, y de hecho lo hace. ¡Ojalá que siempre contemos con esta gracia para guardarnos, así como para restaurarnos! ¡Que nos enseñe a discernir la manera en que Él juzga las cosas y a las personas, y a tratar con severidad todo aquello que menosprecie Su Palabra, o que abuse de la gracia para disminuir la gloria del Señor Jesucristo!


¡Quiera el Señor volvernos humildes y mantenernos en la humildad! ¡Que nos conceda el privilegio de contemplarlo continuamente en la gloria, de modo que todo lo que pertenezca a este mundo pueda ser siempre juzgado como si sólo estuviésemos aguardando la hora de la cosecha y la de la vendimia, que aún no han llegado! Pero al esperar, nuestro gozo es cumplido en la glorificación de Cristo y en el Espíritu Santo que nos fue dado antes de esa hora. Conocemos a Jesús en la gloria celestial y sabemos que ya ha enviado al Espíritu Santo para hacernos participar desde ahora de las riquezas y del poder de esta gloria. ¡Ojalá que podamos ser vasos fieles de Su testimonio! ¡Vasos que necesitan seguramente ser quebrantados a fin de que los ríos de agua puedan correr tanto más libremente, y que podamos ser también canales a través de los cuales fluyen esos ríos de agua viva, para alabanza de la gracia y de la gloria de Dios!

Cristãos renascidos precisam obedecer à Lei de Moisés ou estão dispensados de cumpri-la?- Samuel Rindlisbacher

Há algum tempo fomos questionados por que escrevemos tão pouco sobre o cumprimento dos Dez Mandamentos, que seria muito importante para receber a bênção de Deus. Perguntas assim confirmam a insegurança que existe entre os crentes em relação à observância da Lei de Moisés.
Na Igreja de Jesus surgem perguntas como: “Ainda devo guardar a Lei?” “Os Dez Mandamentos são obrigatórios?” “Devo guardar o domingo?”, etc. Existem muitas dúvidas em relação à Lei e nossa posição diante de suas exigências.
C.H. Mackintosh diz acertadamente em seu livro “ Estudos sobre o Livro de Êxodo” (da Série de Notas sobre o Pentateuco):

A Lei e a Graça

É da maior importância compreender o verdadeiro caráter e o objeto da lei moral, como nos é apresentada neste capítulo [Êx 20]. Existe uma tendência do homem para confundir os princípios da lei com graça, de sorte que nem a lei nem a graça podem ser perfeitamente compreendidas. A lei é despojada da sua austera e inflexível majestade, e a graça é privada de todos os seus atrativos divinos. As santas exigências de Deus ficam sem resposta, e as profundas e múltiplas necessidades do pecador permanecem insolúveis pelo sistema anômalo criado por aqueles que tentam confundir a lei com a graça. Com efeito, nunca podem confundir-se, visto que são tão distintas quanto o podem ser duas coisas. A lei mostra-nos o que o homem deveria ser; enquanto que a graça demonstra o que Deus é. Como poderão, pois, ser unidas num mesmo sistema? Como poderia o pecador ser salvo por meio de um sistema formado em parte pela lei e em parte pela graça? Impossível: ele tem de ser salvo por uma ou por outra. (página 203)

Em que consiste a Lei de Moisés?

Quando se faz referência à Lei de Moisés nas igrejas, geralmente está se falando dos Dez Mandamentos. Mas esse é um engano, pois cumprir a Lei Mosaica é muito mais: ela é composta de todo o código de leis formado por 613 disposições, ordens e proibições. Em hebraico a Lei é chamada de Torá, que pode significar lei como também instrução ou doutrina. O conteúdo da Torá são os cinco livros de Moisés, mas o termo Torá é aplicado igualmente ao Antigo Testamento como um todo.

Neste artigo usaremos o termo Torá para designar os cinco livros de Moisés, especialmente a compilação das leis mosaicas, as 613 disposições, ordens e proibições que mencionamos.

• A Lei pode ser dividida em Dez Mandamentos , que no hebraico são chamadas simplesmente de As Dez Palavras. Eles regulamentam a relação do ser humano com Deus e com seu próximo.

• No código mosaico encontramos também o Livro da Aliança das Ordenanças Civis e Religiosas, que explica e expõe detalhadamente o significado dos Dez Mandamentos para Israel.

• O código mosaico ainda contém as leis cerimoniais, que regulavam o ministério no santuário do Tabernáculo e, posteriormente, no Templo. Elas tratavam também da vida e do serviço dos sacerdotes.

Em conjunto, todas essas disposições, ordens e proibições formam a Lei Mosaica. No judaísmo ortodoxo, além dessas 613 ordenanças, há ainda as leis do Talmude, a transmissão oral dos preceitos religiosos e jurídicos compilados por escrito entre os séculos III-VI d.C. A Torá e o Talmude são o centro da devoção judaica

Jesus Cristo e a Lei de Moisés

É interessante observar que Jesus posicionou-se claramente a favor do código legal mosaico, pois disse: “Não penseis que vim revogar a Lei ou os profetas; não vim para revogar, vim para cumprir” (Mt 5.17). Entretanto, Ele rejeitou com veemência as ordenanças humanas e as obrigações impostas apenas pela tradição judaica (compiladas, posteriormente, no Talmude), afirmando: “Negligenciando o mandamento de Deus, guardais a tradição dos homens. E disse-lhes ainda: Jeitosamente rejeitais o preceito de Deus para guardardes a vossa própria tradição. Pois Moisés disse: Honra a teu pai e a tua mãe; e: Quem maldisser a seu pai ou a sua mãe seja punido de morte. Vós, porém, dizeis: Se um homem disser a seu pai ou a sua mãe: Aquilo que podereis aproveitar de mim é Corbã, isto é, oferta para o Senhor, então, o dispensais de fazer qualquer coisa em favor de seu pai ou de sua mãe, invalidando a palavra de Deus pela vossa própria tradição, que vós mesmos transmitistes; e fazeis muitas outras coisas semelhantes” (Mc 7.8-13).
Jesus defendeu firmemente a Palavra de Deus. Ele considerava o Pentateuco como realmente escrito por Moisés, inspirado por Deus e normativo para Sua própria vida e Seu ministério, pois afirmou: “Porque em verdade vos digo: até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra. Aquele, pois, que violar um destes mandamentos, posto que dos menores, e assim ensinar aos homens, será considerado mínimo no reino dos céus; aquele, porém, que os observar e ensinar, esse será considerado grande no reino dos céus” (Mt 5.18-19).

A quem foi dada a Lei de Moisés?

As passagens bíblicas seguintes documentam que a Lei de Moisés foi dada ao povo judeu, ou seja, a Israel:
– “E que grande nação há que tenha estatutos e juízos tão justos como toda esta lei que hoje vos proponho?” (Dt 4.8).
– “Mostra a sua palavra a Jacó, as suas leis e os seus preceitos, a Israel. Não fez assim a nenhuma outra nação; todas ignoram os seus preceitos. Aleluia!” (Sl 147.19-20).
– “São estes os estatutos, juízos e leis que deu o Senhor entre si e os filhos de Israel, no monte Sinai, pela mão de Moisés” (Lv 26.46).
– “São israelitas. Pertence-lhes a adoção e também a glória, as alianças, a legislação, o culto e as promessas” (Rm 9.4).

A Lei de Moisés foi entregue a Israel

A Lei fez de Israel algo especial, transformando-o em parâmetro para todos os outros povos. A Bíblia exprime essa verdade da seguinte maneira: “Porque tu és povo santo ao Senhor, teu Deus; o Senhor, teu Deus, te escolheu, para que lhe fosses o seu povo próprio, de todos os povos que há sobre a terra” (Dt 7.6). Por conseqüência, o Israel do Antigo Testamento era a única nação cuja legislação, jurisdição e jurisprudência tinham sua origem na pessoa do Deus vivo.
Hoje não é essa a situação de Israel, pois o povo continua incrédulo e não está sob o governo do Messias. No futuro, quando Israel tiver se convertido a Jesus, a Lei divina será seguida por todo o povo judeu. O próprio Deus estabelecerá a teocracia como forma de governo, definirá a legislação e executará justiça em Israel. Sobre a situação vigente quando o Messias estiver reinando, a Bíblia diz: “Deleitar-se-á no temor do Senhor; não julgará segundo a vista dos seus olhos, nem repreenderá segundo o ouvir dos seus ouvidos; mas julgará com justiça os pobres e decidirá com eqüidade a favor dos mansos da terra; ferirá a terra com a vara de sua boca e com o sopro dos seus lábios matará o perverso” (Is 11.3-4).
A situação futura das nações será como descreve Isaías 2.3: “Irão muitas nações e dirão: Vinde, e subamos ao monte do Senhor e à casa do Deus de Jacó, para que nos ensine os seus caminhos, e andemos pelas suas veredas; porque de Sião sairá a lei, e a palavra do Senhor, de Jerusalém”. Deus está preparando o cumprimento dessa profecia. Por isso, não devemos nos admirar quando todo o poder das trevas se levanta para atrapalhar, pois o que está em jogo é o domínio divino sobre o mundo, domínio que virá acompanhado de todas as suas abençoadas conseqüências! Quando o Senhor reinar, pecado será pecado, injustiça e mentira serão chamadas pelos seus nomes e acontecerá o que está escrito em Jeremias 25.30-31: “O Senhor lá do alto rugirá e da sua santa morada fará ouvir a sua voz; rugirá fortemente contra a sua malhada, com brados contra todos os moradores da terra, como o eia! dos que pisam as uvas. Chegará o estrondo até à extremidade da terra, porque o Senhor tem contenda com as nações, entrará em juízo contra toda a carne; os perversos entregará à espada, diz o Senhor”. A oração de Jesus também se cumprirá: “Pai nosso que estás nos céus, santificado seja o teu nome; venha o teu reino; faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu” (Mt 6.9-10).
Até que ponto as nações têm o dever de seguir a Lei Mosaica?
Provérbios 29.18 diz a respeito: “Não havendo profecia, o povo se corrompe; mas o que guarda a lei, esse é feliz”. Toda nação que seguir esse conselho se dará bem!
A Lei de Moisés foi entregue ao povo de Israel com a seguinte finalidade: “Porque o mandamento é lâmpada, e a instrução, luz; e as repreensões da disciplina são o caminho da vida” (Pv 6.23). Deus queria que Israel fosse uma clara luz no meio da escuridão espiritual em que viviam os povos e um contraponto às trevas do pecado. Por essa razão Balaão, o profeta gentio, foi compelido a proclamar: “...eis que é povo que habita só e não será reputado entre as nações. Que boas são as tuas tendas, ó Jacó! Que boas são as tuas moradas, ó Israel!” (Nm 23.9; 24.5). Balaão reconheceu que Deus era com Israel, que Ele velava sobre esse povo, morava no meio dos israelitas e lhes dava segurança e estabelecia a ordem através da Lei.
Mesmo a meretriz Raabe, que vivia na cidade ímpia de Jericó, sentiu-se obrigada a declarar aos dois espias judeus: “Bem sei que o Senhor vos deu esta terra, e que o pavor que infundis caiu sobre nós, e que todos os moradores da terra estão desmaiados. Porque temos ouvido que o Senhor secou as águas do mar Vermelho diante de vós, quando saíeis do Egito; e também o que fizestes aos dois reis dos amorreus, Seom e Ogue, que estavam além do Jordão, os quais destruístes” (Js 2.9-11).
Quando a rainha de Sabá (atual Iêmen) visitou o rei Salomão, exclamou admirada: “Foi verdade a palavra que a teu respeito ouvi na minha terra e a respeito da tua sabedoria. Eu, contudo, não cria no que se falava, até que vim e vi com meus próprios olhos. Eis que não me contaram a metade da tua sabedoria; sobrepujas a fama que ouvi. Felizes os teus homens, felizes estes teus servos que estão sempre diante de ti e ouvem a tua sabedoria! Bendito seja o Senhor, teu Deus, que se agradou de ti para te colocar no seu trono como rei para o Senhor, teu Deus; porque o teu Deus ama a Israel para o estabelecer para sempre; por isso, te constituiu rei sobre ele, para executares juízo e justiça” (2 Cr 9.5-8).
O nome de Deus era conhecido muito além das fronteiras de Israel. As nações reconheciam que Israel era singular, admiravam seu maravilhoso Templo e vinham para louvar seu Deus. Assim era respondida a oração que Salomão fizera por ocasião da inauguração do Templo: “Também ao estrangeiro, que não for do teu povo de Israel, porém vier de terras remotas, por amor do teu nome (porque ouvirão do teu grande nome, e da tua mão poderosa, e do teu braço estendido), e orar, voltado para esta casa, ouve tu nos céus, e faze tudo o que o estrangeiro te pedir, a fim de que todos os povos da terra conheçam o teu nome, para te temerem como o teu povo de Israel e para saberem que esta casa, que eu edifiquei, é chamada pelo teu nome” (1 Rs 8.41-43).
Até que ponto, então, as nações do mundo têm o compromisso de obedecer à Lei de Moisés? Bem, na verdade ninguém tem a obrigação de cumprir lei alguma. Nenhuma nação é obrigada a se orientar pelo código de leis divinas. Mas quando, de livre e espontânea vontade, ela se sujeita às ordens de Deus, essa é a melhor escolha, com os melhores resultados práticos. Cada povo que segue as orientações do Senhor experimenta o que diz o Salmo 19.8-11: “Os preceitos do Senhor são retos e alegram o coração; o mandamento do Senhor é puro e ilumina os olhos. O temor do Senhor é límpido e permanece para sempre; os juízos do Senhor são verdadeiros e todos igualmente, justos. São mais desejáveis que o ouro, mais do que muito ouro depurado; e são mais doces do que o mel e o destilar dos favos. Além disso, por eles se admoesta o teu servo; em os guardar, há grande recompensa”.

A História nos ensina que os povos que desprezaram as leis divinas de maneira consciente, que as pisotearam, cedo ou tarde desapareceram de cena. Basta pensar na ex-República Democrática Alemã ou na União Soviética, que não existem mais. Mas os povos que estabelecem sua legislação e fundamentam sua constituição sobre as leis divinas, mesmo que seja de maneira imperfeita, são povos abençoados. A Bíblia diz: “Bem-aventurado o povo a quem assim sucede! Sim, bem-aventurado é o povo cujo Deus é o Senhor!” (Sl 144.15).
Será que hoje vivemos estressados, emocionalmente doentes e desorientados porque deixamos de obedecer à Palavra de Deus? Será que os líderes da economia mundial e os políticos tomam tantas decisões equivocadas por negligenciarem a Palavra do Senhor? Será que hoje as pessoas andam insatisfeitas e infelizes porque desprezam as ordens divinas? Com toda a certeza, pois o desprezo pelos decretos divinos sempre acaba conduzindo à ruína – espiritual, emocional e financeira

A Igreja de Jesus deve cumprir a Lei?

O Senhor Jesus, cabeça da Igreja (Ef 5.23), validou toda a Lei Mosaica, inclusive as 613 disposições, ordens e proibições, ao afirmar: “É mais fácil passar o céu e a terra do que cair um til sequer da Lei” (Lc 16.17). Ele avançou mais um passo, dizendo: “Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revogar, vim para cumprir” (Mt 5.17). Jesus, ao nascer, também foi colocado sob a Lei: “vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei” (Gl 4.4). Ele foi criado e educado segundo os preceitos da Lei, pois cumpria suas exigências.
O Senhor Jesus, porém, não apenas se ateve pessoalmente a toda a Lei de Moisés. Foi essa mesma Lei que O condenou à morte. Quando tomou sobre Si todos os nossos pecados, teve de morrer por eles, pois a Lei assim o exige. Vemos que a Lei foi cumprida e vivida por Jesus, e através dEle ela alcançou seu objetivo. Por isso está escrito que “...o fim da Lei é Cristo” (Rm 10.4).

Quando sou confrontado com a Lei Mosaica, ela me apresenta uma exigência que devo cumprir. Deus diz em Sua Lei : “...eu sou santo...” e exige de nós: “...vós sereis santos...” (Lv 11.44-45). Assim, a Lei me coloca diante do problema do pecado, que não posso resolver sozinho. O apóstolo Paulo escreve: “...eu, todavia, sou carnal, vendido à escravidão do pecado” (Rm 7.14).

A lei expõe e revela nossa incapacidade de atender às exigências divinas, pois ela nos confronta com o padrão de Deus. Ela nos mostra a verdadeira maneira de adorá-lO, estabelece as diretrizes segundo as quais devemos viver e regulamenta nossas relações com nosso próximo. Além disso, a Lei é o fundamento que um dia norteará a sentença que receberemos quando nossa vida for julgada por Deus. Pela Lei, reconhecemos quem é Deus e como nós devemos ser e nos portar. Mas existe uma coisa que a Lei não pode: ela não consegue nos salvar. Ela nos expõe diante de Deus e mostra que somos pecadores culpados. Essa é sua função.

Lembremos que Jesus disse: “Não penseis que vim revogar a Lei ou os profetas; não vim para revogar, vim para cumprir” (Mt 5.17). O Filho de Deus está afirmando que veio a este mundo para cumprir a Lei com todas as suas 613 disposições, ordenanças e proibições. Ele realmente cumpriu todas elas, pelo que está escrito: “...o fim da lei é Cristo” (Rm 10.4). Ele conduziu a Lei ao seu final; ela está cumprida. Por que Ele o fez? Encontramos a resposta quando lemos o versículo inteiro: “Porque o fim da lei é Cristo, para justiça de todo aquele que crê” (Rm 10.4). Jesus cumpriu a Lei para todos, mas Sua obra é eficaz apenas para todo aquele que crê. Segundo a Bíblia, que tipo de fé é essa? É a fé que sabe...
...que pessoa alguma é capaz de cumprir a Lei e que ninguém consegue satisfazer as exigências divinas.
... que para isso o Filho de Deus, Jesus Cristo, veio ao mundo, cumprindo as exigências da Lei até nos mínimos detalhes.

...que Jesus Cristo tomou sobre Si, em meu lugar, o castigo da Lei, que é a morte.
Agora, talvez, muitos perguntem: Não estamos removendo a base que sustenta uma ética comprometida ao dizermos que a Lei não vale mais para os cristãos renascidos? Será que saberemos como nos comportar e o que é certo ou errado se dissermos que não é preciso cumprir a Lei de Moisés?

Jesus estabeleceu uma ética muito superior...

...à ética da Lei de Moisés. Ela exige: “Não adulterarás” (Êx 20.14). Mas Jesus disse: “qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura, no coração, já adulterou com ela” (Mt 5.28). A lei de Moisés impõe: “Não matarás” (Êx 20.13). Mas Jesus ensina: “Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem” (Mt 5.44).

A ética estabelecida por Jesus Cristo supera tudo que já houve em matéria de lei moral e toda e qualquer possibilidade dentro da ética humana.

Jesus exige que cumpramos normas diametralmente opostas ao nosso comportamento natural. Essa ética estabelecida por Jesus só pode ser seguida por pessoas que nasceram de novo, que entregaram todo o seu ser ao Senhor: “Porei no seu coração as minhas leis e sobre a sua mente as inscreverei” (Hb 10.16).

A Bíblia diz, ainda, acerca dos renascidos: Deus “...nos habilitou para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata, mas o espírito vivifica” (2 Co 3.6).

Curiosamente, Paulo escreveu essas palavras justamente à igreja que tinha mais problemas com ira, ciúme, imoralidade, libertinagem e impureza espiritual entre seus membros. Mas, ao admoestá-los, ele estava dizendo aos crentes de Corinto – e, por extensão, a todos nós – que é possível ter uma ética superior e viver segundo os elevados preceitos de Jesus quando nascemos de novo. Com isso os cristãos não estão rejeitando a ética da Lei de Moisés mas estabelecem uma ética muito superior, a ética do Espírito Santo, do qual a Bíblia diz: “Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio. Contra estas coisas não há lei” (Gl 5.22-23).

Como, porém, colocamos isso em prática?

Simplesmente vivendo um relacionamento íntimo e autêntico com Jesus Cristo. O que pensamos, o que falamos, o que fazemos ou deixamos de fazer deve ser determinado somente por Jesus: “E tudo o que fizerdes, seja em palavra, seja em ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus” (Cl 3.17). Na prática, devemos nos comportar como se tudo o que fizermos levasse a assinatura de Jesus. Somente quando nos entregarmos completamente ao Senhor Jesus poderemos produzir fruto espiritual. Quando submetermos nosso ser ao Senhor, o fruto do Espírito poderá crescer em nós em todos os seus nove aspectos. Talvez nós mesmos nem o percebamos, mas certamente as pessoas que nos cercam perceberão que o Espírito está frutificando em nós. Que seja assim na vida de todos nós!

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

A História Esquecida- R. E. Watterson

Existem muitos livros, bem autenticados e bem detalhados, que contam a historia do cristianismo, desde o seu começo humilde em Jerusalém (At 2:41) até ao dia de hoje. Falam do seu desenvolvimento e das suas divisões; mostram a origem e a história das inúmeras denominações que professam ser a Igreja, ou uma parte dela.
É uma história que nos empolga e ao mesmo tempo nos envergonha. Ficamos empolgados ao ler as histórias da fé e da coragem dos mártires que não negaram o seu Senhor. Envergonham-nos, porém, as intrigas, as heresias, as guerras chamadas santas e a Inquisição. Alegra-nos ler das conquistas do Evangelho, mas entristece-nos ver o abandono das doutrinas Bíblicas, e até da honestidade e da sinceridade.
Esta história, porém, não é a história da Igreja de Jesus Cristo. É a história daquela pequena semente que tornou-se em grande árvore e as aves do céu fizeram ninho nos seus ramos (Mt 13:31-32). É a história de organizações que professam o Nome de Cristo.
A Igreja do Senhor Jesus Cristo, porém, não é uma organização; é um organismo vivo. Não tem sede em lugar algum na Terra; é celestial. Não tem líder humano; Jesus Cristo é o “Cabeça”. As igrejas que vemos no Novo Testamento pouco ou nada têm em comum com as organizações eclesiásticas do cristianismo histórico.

A VERDADEIRA HISTÓRIA

A verdadeira história começou a ser escrita por Lucas, que nos deixou um livro inspirado pelo Espírito Santo, e portanto digno de toda a confiança. Neste livro vemos como o Evangelho foi levado de Jerusalém para outras cidades, países e continentes. Vemos também como os salvos em cada localidade se reuniam, formando igrejas locais. Segundo a história relatada em Atos dos Apóstolos, estas igrejas não se uniram para organizar uma “Igreja” composta de muitas “igrejas filiadas”; eram igrejas autónomas. Cada uma destas igrejas, diretamente responsável ao Senhor, tornou-se um centro de evangelismo, levando as boas novas a todos em redor, e desta forma se multiplicavam.
Seguindo a estrada do tempo, logo encontramos uma bifurcação. Até o ano 63 a.D. tudo é claro, pois o Espírito Santo registrou a história como Ele a viu. A partir desta data, porém, vemos dois caminhos que atravessam os séculos. Aquele que segue em frente parece estreito, escuro, e pouco movimentado. A maioria segue pelo outro caminho, que desvia ligeiramente para um lado, mas parece ser o principal, pois é bem iluminado e muito movimentado. A maioria dos historiadores seguiram este caminho largo, contando-nos a história da “Igreja Professa”. É bem documentada e bem conhecida. Neste livreto, porém, vamos caminhar pela outra estrada, observando o que pudermos da história esquecida. Este caminho é estreito, e relativamente pouco movimentado, porque a maioria desviou-se dele; é escuro, pois existem poucas informações a seu respeito, mas isto não deve nos assustar. Creio que nossa viagem por este caminho trará muitas recompensas, e a nossa fé será fortalecida.
O faCto da maioria dos cristãos professos se desviarem do modelo bíblico não surpreende aquele que lê o Novo Testamento. Vez após vez o Espírito Santo avisou que isto aconteceria. Ao conversar com os anciãos da igreja em Éfeso, Paulo disse que lobos crueis entrariam no meio deles, e também avisou que do meio daqueles presbíteros se levantariam homens que procurariam atrair os discípulos após si, dividindo a igreja (At 20:29-30).
Na primeira carta a Timóteo, o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos alguns apostatariam da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores e doutrinas de demônios (I Tm 4:1). Na última carta inspirada que Paulo escreveu, aprendemos que muitos não suportariam a sã doutrina e resistiriam à verdade (II Tm 4:3 e 3:8). O apóstolo Pedro também avisou deste desvio da verdade, dizendo: “entre vós haverá falsos doutores, que introduzirão encobertamente heresias de perdição” (II Pd 2:1). E João, o último dos apóstolos, disse: “Amados, não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus; porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo” (I Jo 4:1).

POUCAS INFORMAÇÕES

A escassez de informações quanto à história de igrejas neotestamentárias é devido a dois fatos importantes:
Através dos séculos, as organizações eclesiásticas dominaram e perseguiram aquelas igrejas autônomas que procuravam manter a simplicidade do modelo deixado no Novo Testamento. Em conseqüência disto, a literatura daquela época ainda existente é a do grupo dominante. Os escritos das igrejas locais foram, quando possível, destruídos pelos perseguidores, de sorte que a maior parte das informações que temos acerca destas igrejas é o que seus perseguidores escreveram a respeito delas.
A própria natureza destas igrejas contribuiu para esta escassez de informações. Sendo celestiais e espirituais, ficaram separadas das organizações e movimentos terrenos, e conseqüentemente há pouca menção delas na história secular. Também como igrejas locais e autônomas, não se filiaram a nenhuma organização, e portanto não chamaram a atenção dos historiadores.
Em O Cristianismo Através dos Séculos H. H. Muirhead diz: “Infelizmente os dados históricos não permitem traçar passo a passo a história das igrejas do Novo Testamento. Isto porque a quase totalidade das informações acerca dos grupos divergentes procede dos seus maiores inimigos. Sustentamos, porém, que a continuação histórica das doutrinas essenciais pode ser traçada, e que Deus não tem ficado sem testemunhas” (pág. 76).

IGREJAS NEOTESTAMENTÁRIAS

Apesar da escassez de informações, e das dificuldades que cercam este estudo, haverá grande recompensa para aquele que procura descobrir a história das igrejas de Deus. Ele descobrirá que nestes dois mil anos que já se passaram desde o começo da primeira igreja local (a de Jerusalém — Atos cap. 2), sempre houve igrejas que procuravam seguir fielmente o modelo deixado no Novo Testamento. Neste livreto vamos chamá-las de igrejas locais porque, permanecendo fieis ao ensino do NT, não se filiaram a nenhuma organização ou movimento; continuaram sendo igrejas autônomas e, conseqüentemente, locais. Deus nunca se deixou a Si mesmo sem testemunho (At 14:17).
O historiador E. H. Broadbent escreve: “Há uma sucessão ininterrupta de igrejas, compostas de crentes, que procuravam praticar o ensino do Novo Testamento. Esta sucessão não é encontrada necessariamente num só lugar, pois freqüentemente estas igrejas foram dispersas ou se degeneraram, mas outras, semelhantes, surgiram em outros lugares. O modelo é apresentado nas Escrituras com tanta clareza, que é possível haver igrejas semelhantes em diversos lugares, mesmo não sabendo que outros, antes deles, seguiram o mesmo caminho, ou que nos seus próprios dias alguns estavam fazendo isto em diversos lugares” (The Pilgrim Church, pág. 2).
H. H. Muirhead afirma: “&ldots; há duas linhas históricas a traçar; duas tendências que não se conciliam — a centralização administrativa e a fixidez dogmática, por um lado, e a reação em favor dos ensinos e práticas do Novo Testamento, simples e desartificiosos, por outro &ldots; A primeira delas tem o seu ponto culminante na hierarquia romana: a segunda, numa volta à norma apostólica” (O Cristianismo Através dos Séculos, pág. 75).
No final do terceiro século, a maioria das igrejas era muito diferente daquelas igrejas dos dias dos apóstolos. As mudanças foram realmente grandes. O livro já citado, O Cristianismo Através dos Séculos, ainda comenta: “Essa transformação, que gradualmente ia formando a Igreja Católica, foi motivada pela rápida influência judaica e pagã &ldots; Naturalmente essa transformação não poderia deixar de provocar protestos por parte dos mais espirituais nas igrejas, resultando em divisões”. E. H. Broadbent também escreve sobre esta transformação: “À medida que a organização do grupo católico de igrejas desenvolvia, surgiram no seu meio grupos que almejavam uma reforma; também algumas igrejas se separam dela; e ainda outras, perseverando nas doutrinas e práticas reveladas no NT, achavam-se isoladas daquelas igrejas que as abandonaram &ldots; Havia naquele tempo, como agora, várias linhas divergentes de testemunho &ldots; e vários grupos de igrejas que se excluíam mutuamente” (The Pilgrim Church, pág. 11).

OS MONTANISTAS

Muitos daqueles que se opuseram às mudanças nas igrejas foram apelidados Montanistas, devido à grande influência de Montano que, partindo da região da Frígia, condenava corajosamente os desvios das igrejas que abandonavam o modelo bíblico da igreja local.
Os Montanistas, entre outras coisas, ensinavam que a direção das igrejas é prerrogativa do Espírito Santo, e resistiam à dominação exercida pelos “bispos”. Destacavam a necessidade de cada igreja deixar lugar para a operação do Espírito no seu meio. No leste do Império Romano logo surgiu uma separação definitiva, porém no ocidente os chamados “Montanistas” permaneceram em comunhão com as igrejas que aceitavam a autoridade dos “bispos” até o começo do século III, quando finalmente seguiram o exemplo dos seus irmãos do leste, separando-se daquele grupo que viria a ser a Igreja Católica. Um dos ensinadores mais destacados naquela época entre os Montanistas foi Tertuliano, cuja oposição à idéia de federação, e cuja defesa da autonomia das igrejas locais, foram decisivas nesta separação. O alvo dos chamados Montanistas era “fazer voltar o Cristianismo aos seus moldes primitivos” (O Cristianismo Através dos Séculos, pág. 85). A Shaff-Herzog Encyclopedia, Vol III, diz o seguinte a respeito deles: “Não foi uma nova forma de Cristianismo: foi a volta ao velho, à Igreja primitiva, em oposição à corrupção do cristianismo corrente” (pág. 1562).
Não devemos pensar, porém, que todas as igrejas que foram apelidadas “Montanistas” eram realmente igrejas segundo o modelo nas Escrituras. A “Igreja” perseguidora incluía sob este nome muitos que divergiam entre si, da mesma maneira que as palavras “crente” ou “evangélico” são usadas hoje. Muitos que se chamam de crentes em nossos dias professam falar em línguas desconhecidas e ter o poder de fazer milagres, expulsar demônios e curar os enfermos. São divididos em inúmeras denominações onde cada congregação tem o seu Pastor. Qualquer historiador daria ênfase a estes, pois são a vasta maioria, e se mencionasse aquelas igrejas que hoje seguem o modelo claro do NT as chamaria também de “crentes” ou “evangélicas”, embora estas nada têm em comum com as denominações.
Entre os chamados Montanistas havia divergências. Algumas destas igrejas, fugindo do erro de organização humana na obra de Deus, caíram em outro erro por não entender as Escrituras no tocante aos dons do Espírito Santo. Procuravam os dons de línguas, de profecia, e outros semelhantes que foram dados como sinais nos primeiros anos da era apostólica, não percebendo que tais dons haviam cessado (veja Mc 16:16-20 e Hb 2:3-4). Outras igrejas, porém, baseando-se no ensino da Palavra de Deus, sabiam que tais dons não mais existiam, e continuavam seu testemunho simples e fiel segundo a Palavra de Deus. Estes foram chamados de Novacianos.

OS NOVACIANOS

Foram assim apelidados porque um certo Novácio, que mais tarde foi martirizado, foi um bem conhecido ensinador entre estas igrejas. Eles não aceitavam nome algum, mas afirmavam ser individualmente cristãos e irmãos. Não reconheciam como igreja aquela que uniu-se ao Estado, nem davam qualquer valor às suas ordenanças.
Estes irmãos, bem como os demais Montanistas, se opunham à hierarquia na igreja, e ensinavam e praticavam a verdade do sacerdócio de todos os salvos. Foram inimigos implacáveis das inovações que gnósticos e pagãos introduziam nas igrejas. Discordavam também daqueles Montanistas que diziam possuir dons espetaculares, tais como o de línguas e profecia (veja O Cristianismo Através dos Séculos, págs. 86-87).
Durante muitos anos estes irmãos continuaram o seu testemunho. Espalharam-se por diversas partes do Império Romano, especialmente no Norte da África e na atual Turquia. Em Ecclesiastical Researches o Dr. Robinson escreve: “Continuaram a florescer por duzentos anos. Depois, quando as leis penais os obrigaram a se esconder em lugares retirados e adorar a Deus secretamente, foram designados por vários nomes, e a sua sucessão continuou até a Reforma.”
No quarto século havia muitas destas igrejas na atual Turquia e na Arménia, muitas das quais haviam começado nos dias dos apóstolos (provavelmente fruto dos trabalhos de Paulo e seus companheiros). Além do Eufrates, onde provavelmente Pedro e outros trabalharam bastante, havia ainda muitas igrejas seguindo o modelo original. Retomaremos a história destas igrejas após uma breve referência aos Donatistas.

OS DONATISTAS

Este movimento no Norte da África foi influenciado pelos chamados Novacianos. Receberam o nome de Donatistas porque dois dos seus ensinadores mais notáveis se chamavam Donato. Este grupo separou-se da igreja dos bispos por questões disciplinares, mas manteve a mesma forma de hierarquia; não voltou ao modelo deixado nas Escrituras. E. H. Broadbent diz: “Os Donatistas, sendo muitos no norte da África, e tendo mantido muito da organização católica, possuíam condições para apelar ao Imperador no seu conflito com o grupo católico” (The Pilgrim Church, págs. 20-21). Discordavam da Igreja Católica, pois acreditavam que o caráter moral dos ministrantes afeta seu ministério. Foram condenados em concílios convocados pela Igreja Católica e cruelmente perseguidos. Foram finalmente extintos quando a invasão maometana atingiu o Norte da África.
Assim podemos ver que a idéia de que existia, nos primeiros três séculos, uma igreja verdadeiramente católica e unida está longe da verdade. Muito pelo contrário, a verdade incontestável é que naqueles dias, como agora, havia várias correntes de testemunho, vários grupos que mutuamente se excluíam. O livro O Cristianismo Através dos Séculos, comentando os primeiros três séculos do cristianismo, diz: “... o crescimento fora fenomenal ... Também o Cristianismo ganhara alta posição social e, em muitas igrejas, grande parte dos membros eram ricos ... Esta expansão, todavia, custou um alto preço. Se o Cristianismo venceu o paganismo, de seu turno, o paganismo operou transformação no Cristianismo... O mundo grego-romano fora cristianizado, e o Cristianismo, em parte, paganizado. Todavia, seria erro supor que esta situação prevalecesse ... em todas as igrejas ... Entre os grupos dissidentes havia uma aproximação ao Cristianismo primitivo” (págs. 126-127).

CONSTANTINO (séc. IV) e depois

Quando Constantino entrou vitorioso em Roma ele pôs fim às perseguições aos cristãos. Estes haviam sofrido desde o começo, primeiramente nas mãos dos judeus e depois nas do Império Romano. Todos os grupos de igrejas, bem como aquelas igrejas que não faziam parte de grupo algum, sofriam a mesma perseguição.
Com o Imperador Constantino, porém, uma fase nova começou. Este Imperador, sem renunciar a sua posição de Pontífice Máximo da religião pagã, assumiu a mesma posição entre os cristãos. O célebre intelectual brasileiro, Rui Barbosa, escreveu na introdução do livro que traduziu (O Papa e o Concílio): “Foi o que entrou a suceder sob Constantino. Estreou-se aí o sacrifício do cristianismo ao engrandecimento da hierarquia. O Imperador não batizado recebe o título de bispo exterior; julga e depõe bispos; convoca e preside concílios; resolve sobre dogmas. Já não era mais esta ... a igreja dos primeiros cristãos.”
No mesmo livro, Rui Barbosa continua descrevendo a Igreja que se uniu ao Império, e comenta: “de perseguida, tornou-se perseguidora”. Logo, todo o poder do Império estava à disposição dos bispos e, liderados pelos Metropolitanos, não hesitaram em perseguir aquelas igrejas que ainda mantinham fielmente o ensino apostólico. Na medida do possível eles procuravam exterminar os verdadeiros servos de Deus, e juntamente com eles destruíam, quando possível, todos os seus escritos. Esta é a razão da escassez de informações existentes quanto à história das igrejas locais. É necessário também lembrar que a Igreja Católica as difamava injustamente, chamando-as de hereges e dando-lhes nomes, tais como Paulicianos, Cátaros e outros; nomes estes que estas igrejas repudiavam.
Ao prosseguir por esta estrada escura convém lembrar de certos fatos. As acusações feitas pela “Igreja” perseguidora não são de confiança, a não ser quando há evidências para sustentá-las. Além disto, devemos lembrar da tendência de generalizar. As igrejas locais, como mencionamos acima, não reconheceram qualquer nome denominacional, mas os perseguidores as chamavam de Paulicianos, e outros nomes. Não devemos pensar que todos os que a Igreja Católica classificava de Paulicianos compartilhavam as mesmas crenças.
Em nossos dias, o nome de “crente” inclui muitos grupos com pensamentos e práticas diferentes, e foi assim através dos séculos. Qualquer historiador que tentasse escrever sobre o cristianismo no Brasil neste século XX daria destaque aos movimentos pentecostal e carismático, e pouco ou nada teria a dizer das igrejas locais que não fazem parte de organização alguma, porque mantém fielmente os princípios da Palavra de Deus (por exemplo, a autonomia de cada igreja local).
Mas, apesar da escassez de informações, surge um fato inegável: em todo este período, desde o Imperador Constantino até à Reforma, as igrejas locais continuaram a existir, e a seguir fielmente o modelo da Palavra de Deus. Veja algumas evidências disto. Apesar da perseguição feroz e da difamação cruel, alguns escritos daquela época ainda existem, o que permite que a verdade seja conhecida, pelo menos em parte.

OS PAULICIANOS

Não se sabe ao certo por que receberam este nome, mas presume-se que foi devido ao destaque que davam às cartas de Paulo. A Igreja Católica os chama de hereges, e os acusa de toda a sorte de perversidade, porém a verdade é bem outra. Gregório, considerado um dos “Pais da Igreja”, e inimigo dos Paulicianos, escreveu: “não são acusados de perversidade de vida, mas sim de livre pensamento e de não reconhecer autoridade. De uma posição negativa quanto à igreja, eles tomaram uma posição positiva, e começaram a examinar o próprio fundamento, as Escrituras Sagradas, procurando ali um ensino puro, e direção sadia para a sua vida moral” (The Pilgrim Church, pág. 59-60). E. Gibbon, um historiador do século XVIII, escreveu dos Paulicianos: “Foi esta a forma primitiva do cristianismo”.
Estas igrejas se espalhavam na Ásia e na Armênia até além do Eufrates. The Pilgrim Church comenta que eram “igrejas de crentes batizados, discípulos do Senhor Jesus Cristo, que guardavam a doutrina dos apóstolos, num testemunho ininterrupto desde o começo” (pág. 44).
No ano de 1891 a.D., W. J. Coneybeare descobriu na Biblioteca do Santo Sínodo em Edjmiatzin, na Armênia, um documento provavelmente escrito por um dos chamados Paulicianos, intitulado A Chave da Verdade. A descoberta deste documento, e outros mais, permitiu que a verdadeira história deste povo, pelo menos em parte, fosse conhecida. Coneybeare comentou: “A igreja Pauliciana não era uma igreja nacional, nem de uma raça particular, mas uma velha forma da igreja apostólica”. Devemos lembrar que eles mesmos repudiavam o nome “igreja Pauliciana”. A Chave da Verdade mostra que eles destacavam a necessidade de arrependimento e fé antes do batismo; suas igrejas eram governadas por anciãos. Sendo igrejas autónomas, sem um centro que dirigisse ou organizasse, é provável que havia certas diferenças entre estas igrejas, mas o pouco que sabemos deles mostra uma determinação de fazer tudo conforme o modelo nas Escrituras.

CONSTANTINO SILVANO

Em cerca de 653 a.D. um cristão da Armênia hospedou-se na casa de um certo Constantino, e ao despedir-se deixou um presente de grande valor — uma cópia dos quatro Evangelhos e das epístolas de Paulo. A leitura das Escrituras impressionou muito este homem, e resultou na sua conversão. Imediatamente, ele “resolveu dedicar-se a trabalhar com todo o esforço, a fim de conseguir a volta do cristianismo à sua primitiva forma” (O Cristianismo Através dos Séculos, pág. 165). Outro historiador escreveu: “O estudo destes escritos &ldots; bem depressa afastou do espírito de Constantino qualquer idéia falsa que pudesse ter tido, e deu-lhe um sincero desejo de novamente ver a igreja naquele estado de simplicidade que a distinguia no tempo dos apóstolos” (A História do Cristianismo, A. Knight e W. Anglin). Ele foi um dos Paulicianos mais conhecidos, e devido ao seu zelo e fidelidade foi apedrejado em 690 a.D. Dizem que 100.000 Paulicianos foram mortos na Armênia, por ordem da Imperatriz Teodora.
Com o passar do tempo, sinais de degeneração começaram a aparecer. Alguns, provocados pela perseguição feroz nos dias da Imperatriz Teodora, pegaram em armas para se defenderem; abandonaram a atitude pacifista dos milhares de mártires que haviam selado seu testemunho com o próprio sangue. Alguns sinais de degeneração doutrinária também começaram a aparecer, e como exemplo disto citamos a questão do batismo. Inicialmente estas igrejas insistiam na necessidade de arrependimento e fé antes do batismo, o qual foi administrado por imersão. “Parece que o modo geral de batismo entre os últimos Paulicianos era afusão, ainda que &ldots; os primitivos praticassem imersão” (O Cristianismo Através dos Séculos, pág. 169-170).
Vemos outro exemplo desta degeneração na questão do pão e do vinho na Ceia do Senhor. Pelo menos alguns entre eles passaram a considerar que estes emblemas “abençoados” eram mudados no corpo e sangue de Cristo, e chamavam esta ordenança de “mistério da salvação”.

EXPANSÃO DOS PAULICIANOS

Devido ao trabalho missionário dos Paulicianos o Evangelho chegou a muitos lugares, especialmente à Bulgária, Bósnia e Sérvia, e “no princípio do século VIII as doutrinas paulicianas espalharam-se por toda a Europa, firmando-se no sul da França, onde mais tarde floresceram os Albigenses” (O Cristianismo Através dos Séculos, pág. l68).
As igrejas que foram plantadas na Bulgária continuaram durante muito tempo, e mesmo no século XVII há evidências de congregações conhecidas como “Pavlicani” (Paulicianas). Estas foram descritas pela Igreja Ortodoxa como “hereges convictos”, enquanto que elas classificaram a Igreja Ortodoxa de “idólatra”. A degeneração espiritual também atingiu estas igrejas, e gradualmente foram desviadas das verdades que outrora defendiam, e pelo esforço de missionários franciscanos, finalmente foram absorvidas pela Igreja Católica Romana. Os candeeiros iam sendo removidos, mas o testemunho iria continuar em outros lugares.
Muitas igrejas na Bulgária foram apelidadas também de “Bogomili”, significando “amigos de Deus”, mas sendo perseguidas cruelmente pelo Império Bizantino, os cristãos fugiram para o oeste, e muitos entraram na Sérvia, mas o poder da Igreja Ortodoxa logo obrigou-os a fugir para a Bósnia.

BÓSNIA

No século XII havia muitas igrejas locais na Bósnia, no tempo de Kulin Ban, um dos mais eminentes governantes daquele país. Ele e sua esposa, bem como milhares de Bósnios, deixaram a Igreja Católica. E. H. Broadbent diz no livro The Pilgrim Church: “Não havia sacerdotes; eles reconheciam o sacerdócio de todos os salvos. As igrejas eram guiadas por anciãos ... vários deles em cada igreja. Reuniões poderiam ser convocadas em qualquer casa, e os lugares de reunião regular eram simples, sem sinos ou altares” (pág. 61).
No início do século XIII, sob ameaça de invasão, as autoridades da Bósnia cederam às pressões do Papa e a liberdade cessou, mas as igrejas continuaram, apesar de perseguidas. O Papa finalmente persuadiu o Rei da Hungria a invadir a Bósnia por causa do fracasso das medidas anteriores, e a Bósnia foi devastada. As igrejas, porém, continuaram o seu testemunho. Diante desta situação o Papa convocou todo o “mundo cristão” para uma “guerra santa”, e também estabeleceu a Inquisição no ano de 1291, para destruir definitivamente “os hereges”.
É nesta época que observamos uma comunhão verdadeira entre estas igrejas e seus irmãos no sul da França, Alemanha e outros lugares, estendendo-se até a Inglaterra e Itália. Numa época de grande perseguição contra os chamados Albigenses no norte da Itália e sul da França, muitos irmãos conseguiram fugir e achar proteção na Bósnia (The Pilgrim Church, pág. 62).
Estas igrejas da Bósnia formam um elo entre as igrejas primitivas da era apostólica e as outras que surgiram posteriormente nos Alpes da Itália e França. Quando muitos irmãos tiveram de deixar a Bósnia devido às perseguições, passaram pela Itália e chegaram ao sul da França. Pelo caminho todo encontraram com muitos cristãos que compartilhavam a mesma fé. Havia ainda nesta época cristãos que aceitavam as Escrituras como sua única regra de fé. Um dos seus perseguidores queixou-se bastante da atitude destes cristãos em recusar qualquer nome denominacional, e em não reconhecer homem algum como seu fundador. Ele escreveu: “Pergunte a eles quem é o fundador da sua seita, e não apontarão homem algum &ldots; Sob que nome ou sob que título poderá se arrolar estes hereges? Na verdade, sob nome algum, pois a heresia deles não é derivada de homens, mas sim dos demônios.” Mesmo assim outro líder dos Inquisidores os chamou de “Igreja dos Cátaros”, ou seja, “Igreja dos de vida pura”, e testificou que eles se estendiam desde o Mar Negro até ao Atlântico.
Nos vales dos Alpes estas igrejas se reuniam durante séculos e, embora recusassem reconhecer nome algum, foram conhecidos como Valdenses, Albigenses, etc. Diziam existir desde os tempos dos apóstolos. Não eram igrejas “reformadas”, pois nunca desviaram daquele modelo apresentado no Novo Testamento, como fizeram as igrejas que formaram a Igreja Romana, a Ortodoxa , e outras. A posição básica destas igrejas era a de considerar as Escrituras como o padrão para os seus dias, não sendo anuladas pelas mudanças nas circunstâncias. O seu alvo era manter o caráter do cristianismo original.
O testemunho dos seus perseguidores é impressionante. Um dos Inquisidores escreveu, em meados do século XIII: “Esta seita é a mais perniciosa de todas, por três razões: "É a mais antiga; alguns afirmam que existe desde o tempo dos apóstolos; Alastrou-se muito: existe em quase todos os países; Eles tem vidas justas e crêem tudo a respeito de Deus; apenas blasfemam a Igreja Romana e os seus clérigos.”
É um faCto histórico que diversos grupos floresceram no sul da França, alguns mais, outros menos evangélicos, do princípio do século XII em diante. Já mencionamos como os perseguidores generalizavam, e isto aconteceu também neste caso, pois o nome Albigenses foi usado de todos os que não se sujeitaram à soberania do Papa. Daí vem muita confusão (veja O Cristianismo Através dos Séculos, pág. 306). Verdadeiras igrejas locais e grupos sectários se confundem na terminologia dos perseguidores, pois classificavam todos os que não reconheciam a Igreja Católica como Albigenses.
Apesar desta confusão, é mais que evidente que sempre houve igrejas conforme o modelo do Novo Testamento desde os tempos dos apóstolos, embora nem sempre no mesmo lugar. Não há dúvida de que havia igrejas nos vales dos Alpes, conhecidas como Valdenses, que baseavam a sua fé e prática somente nas Escrituras, e eram verdadeiros seguidores daqueles que desde a era apostólica fizeram o mesmo. O livro já citado, The Pilgrim Church, diz: “Não possuíam nenhum credo, ou religião, ou regras, a não ser as Sagradas Escrituras, e não permitiam que a autoridade de homem algum substituísse a autoridade das Escrituras” (pág. 98).
Dois documentos datados do século XIII, e escritos por seus perseguidores, são importantes para nos dar uma idéia de quem eram estes Valdenses. Um destes documentos os descreve da seguinte forma: “vestiam-se com relativa simplicidade, comiam e bebiam moderadamente, eram sempre laboriosos e estudiosos, havendo entre eles muitos homens e mulheres que sabiam de cor todo o Novo Testamento”. O segundo diz que “rejeitavam os milagres religiosos e os festivais, etc.” (veja O Cristianismo Através dos Séculos, págs. 319-320). Os mesmos documentos mostram que rejeitavam o batismo de crianças e a transubstanciação. Os próprios depoimentos dos perseguidores mostram que estas igrejas perseguidas estavam seguindo bem de perto o modelo deixado no NT.
No final da chamada “Idade Média” havia, além das muitas igrejas locais bíblicas, movimentos de protesto dentro da própria Igreja Romana. Muitos verdadeiros cristãos, ainda ligados ao sistema papal, pregavam ousadamente o Evangelho puro, e muitos tiveram de pagar com a própria vida. Embora o nosso propósito seja seguir a história de igrejas locais, não podemos deixar de mencionar nomes como Marcílo de Pádua, na França, e mais tarde João Wycliff na Inglaterra, Conrado do Waldhausen, Pedro Chelcicky da Boêmia, João Huss de Praga, e um verdadeiro exército de reformadores como eles, antes da tão falada Reforma do século XVI.

A REFORMA - SÉCULO XVI

Antes, e até à ocasião da Reforma, havia em muitas partes da Europa grupos de Igrejas que procuravam seguir o modelo do Novo Testamento, e conseqüentemente não aceitavam nome denominacional. Em 1463 a.D. e também em 1467 a.D. houve Conferências de alguns destes irmãos, quando consideraram juntos os princípios da igreja. Naquelas Conferências declararam formalmente a sua separação da igreja Romana, e se descreveram como “Unitas Fratrum”, ou seja, Irmãos Unidos, acrescentando que não queriam formar um novo grupo, nem separar-se dos irmãos que, sem qualquer denominação, reuniam-se em muitos países.
Por este facto podemos perceber que havia muitas igrejas naquela época que procuravam agir de acordo com o modelo bíblico de igreja local, mas havia entre elas algumas divergências. Algumas (como as igrejas dos Irmãos Unidos), ao mesmo tempo que procuravam manter a autonomia local, estabeleceram uma certa federação e adotaram, com reservas, um nome. Outras igrejas, porém, permaneceram fiéis ao modelo primitivo, recusando participar destas Conferências e recusando qualquer nome, mesmo o de “Irmãos Unidos”.
Não está no escopo deste artigo contar a bem conhecida história da Reforma, mas precisamos observar o efeito dela nestas igrejas locais. Geralmente se crê que a Reforma dividiu a Europa entre Católicos e Protestantes. O grande número de cristãos que reuniam na simplicidade do modelo do Novo Testamento é ignorado. Eram, porém, tão numerosos que tanto a Igreja Católica quanto as Igrejas Protestantes temiam que poderiam ameaçar a sua supremacia. Este fato levou tanto Católicos quanto Protestantes a perseguirem cruelmente aqueles cristãos que não reconheciam a sua autoridade.

MARTINHO LUTERO

Martinho Lutero compreendeu claramente o plano de salvação pela fé, e por suas pregações claras e poderosas levou muitos à certeza da salvação. Também entendeu perfeitamente os princípios bíblicos da igreja, mas após uma intensa luta consigo mesmo os abandonou. Johannes Warns, no seu livro Baptism, comenta com surpresa que “um homem como Lutero, que em 1520 a.D. &ldots; defendeu a liberdade do cristão; que em 1526 a.D., no seu tratado German Mass and Order of Divine Service, testificou que conhecia bem o modelo duma igreja de crentes, biblicamente organizada, mais tarde mudou de forma tão radical, contradizendo seus próprios princípios” (pág. 184). Warns ainda afirma: “historicamente nada é mais incorreto do que a afirmação de que a Reforma foi um movimento para a liberdade de consciência” (pág. 188)

OS ANABAPTISTAS

É nesta época que aparece nas páginas da história o nome “Anabatista”. Significa “Rebatizador”, e foi usado para descrever todos aqueles que rejeitavam a aspersão de crianças, e praticavam a imersão de adultos já salvos. As igrejas locais que procuravam continuar na simplicidade do modelo do Novo Testamento sempre fizeram assim, e obviamente estavam incluídas sob este apelido, junto com diversos grupos que adotavam a mesma posição em relação ao batismo.
A Igreja Católica os perseguia até à morte. Lutero e Zwinglio, líderes das Igrejas Protestantes da Reforma, tomaram a mesma posição, causando o martírio de milhares de cristãos. No início as igrejas locais se alegraram muito com o aparecimento de Lutero, passando a testemunhar de forma muito mais pública. A sua alegria e liberdade, porém, durou pouco. Johannes Warns, no já citado livro, diz: “Estas comunidades (as igrejas locais) receberam com alegria e com grande expectativa o advento de Lutero. Os princípios antigos duma comunhão cristã bíblica ... foram proclamados abertamente ... Quando, porém, Lutero e seus companheiros, bem como Zwinglio, abandonaram a idéia de formar igrejas de crentes conforme o modelo bíblico, preferindo estabelecer Igrejas unidas ao Estado, surgiu um antagonismo cruel” (pág. 191) contra todos que recusaram incorporar-se a estas Igrejas do Estado. E. H. Broadbent escreve em The Pilgrim Church: “A esperança despertada entre os irmãos gradualmente desapareceu à medida que eles se viam entre dois sistemas eclesiásticos (Católico e Protestante), ambos dispostos a usar a espada para forçar conformidade” (pág. 147).
As igrejas locais sempre foram perseguidas. Nos primeiros três séculos desta era foram perseguidas pelos judeus, e depois pelo Império Romano. Desde a “conversão” do Imperador Constantino estas igrejas passaram a sofrer a perseguição por parte das Igrejas do Estado (Romana no ocidente e Grega no oriente). Agora, porém, havia mais uma agravante. As igrejas Protestantes de Lutero e Zwinglio as perseguiam também, queimando milhares de cristãos e afogando outros. Por não negarem a sua convicção quanto à autonomia da igreja local e o batismo somente daqueles que crêem, e por não aceitarem a doutrina da Transubstanciação, foram martirizados pelos seus próprios irmãos em Cristo, os Luteranos da Alemanha e os Protestantes da Suíça.
Devemos esclarecer, porém, que nem todos que eram apelidados de Anabatistas estavam seguindo verdadeiramente o modelo bíblico. Havia joio no meio do trigo, mas é um fato inegável que as igrejas que aderiram aos princípios do Novo Testamento foram tão cruelmente perseguidas, tanto pelos católicos como pelos evangélicos, que quase desapareceram das páginas da história. Acharam refúgio por algum tempo na Áustria, mas os anos que seguiram à Reforma foram entre os mais difíceis para estas igrejas. Praticamente eliminadas na Alemanha e na Suiça, e perdendo a proteção na Austria, alguns conseguiram fugir para a Holanda e daí para a Inglaterra, onde continuaram apesar de constantes perseguições. E. H. Broadbent comenta que além da Igreja Católica, a Igreja da Inglaterra, e as denominações evangélicas que havia naquele tempo na Inglaterra, “havia também grupos de crentes que correspondiam às igrejas de Deus do Novo Testamento ... mas seu testemunho foi mantido ... no meio de circunstâncias tão confusas que constituíram uma verdadeira prova de fé e amor” (pág. 247-248).

O SÉCULO XIX

No começo do século XIX a história registra um aumento realmente impressionante destas igrejas locais, começando na Irlanda e estendendo-se quase que simultaneamente a vários países na Europa. Sem dúvida alguma foi uma obra do Espírito Santo. Em 1827 a.D. alguns cristãos na cidade de Dublin, na Irlanda, começaram a reunir-se para partir o pão e edificar-se mutuamente. Não sabiam que outros, por exemplo perto de Omagh na Irlanda do Norte, e em Georgetown na Guiana Inglesa, já estavam fazendo a mesma coisa. Rapidamente mais e mais igrejas locais e autônomas surgiram em muitos lugares.
Logo no começo daquela igreja em Dublin destacou-se um irmão que teria um impacto muito grande, não só na Irlanda, mas em todo o mundo. Era J. N. Darby. Até hoje quantos cristãos e quantas igrejas sentem os resultados benéficos dos trabalhos incansáveis daquele saudoso servo do Senhor. Quando, porém, ele adotou a idéia de que o corpo místico de Cristo é algo visivel na Terra, ele foi levado a conclusões errôneas que trouxeram muito prejuízo ao povo de Deus, provocando uma divisão entre igrejas que até então gozavam de preciosa comunhão mútua. Afirmou que os santos que já partiram estão com Cristo, e conseqüentemente nesta condição não fazem parte do corpo de Cristo que (a seu ver) é algo visivel na Terra (Letters of J.N.D. Vol. 1, pág. 527). Desta forma, ele contemplava um corpo que o Novo Testamento não reconhece. A conseqüência inevitável deste ensino foi a formação duma seita — exatamente a idéia que ele procurava combater!
As igrejas que seguiram este ensino de J. N. Darby foram apelidadas de “Exclusivistas”, mas a bem da verdade devemos reconhecer que estes queridos irmãos não adotam este ou qualquer outro nome. Desde então houve freqüentes divisões entre eles, e sub-divisões, o que é conseqüência inevitável do ensino errado quanto ao corpo de Cristo.
As igrejas que não seguiram este ensino se espalharam pelo mundo inteiro, mas muitas delas, embora dizendo ser igrejas neotestamentárias, tem desviado muito da sua posição original, imitando as práticas das denominações chamadas evangélicas e tornando-se como elas. Enquanto ainda professam aceitar o sacerdócio de todos os crentes, estão dependendo mais e mais da liderança dum chamado “obreiro”, que em muitos casos já é reconhecido como o Pastor da igreja. Ainda dizem ser igrejas autônomas, mas já faz bastante tempo que dizem ser do “Movimento dos Irmãos”. E esta descrição está sendo modificada em nossos dias, pois alguns já dizem que são das “igrejas dos Irmãos”. Ainda dizem que não são denominacionais, mas estão caindo no mesmo erro dos “Irmãos Unidos” ao realizarem as suas Conferências em 1463 a.D e 1467 a.D.
Apesar da divisão triste do século XIX, e dos grandes desvios atuais, ainda há no mundo hoje, em muitos países, igrejas locais e autônomas. Obviamente não tem denominação, nem sede, pois aceitam somente as Escrituras Sagradas para sua orientação, e dependem dos dons e da direção do Espírito Santo para sua continuação. Estão, porém, sempre em perigo. Às vezes foram, e ainda são (em alguns lugares) cruelmente perseguidas, mas o maior perigo hoje é a inerente tendência humana de desviar-se de Deus. Muitas igrejas locais tem deixado de existir não devido à perseguição, mas devido ao seu desvio da Palavra de Deus. O Senhor mesmo removeu o candeeiro.

CONCLUSÃO

Temos caminhado rapidamente pelo caminho escuro seguido por igrejas locais durante estes quase dois mil anos desta dispensação. Temos percebido, mesmo nos primeiros anos do seu testemunho, quando os apóstolos ainda viviam, uma tendência constante de desviar-se de Deus e do modelo que Ele estabeleceu. Além disto, temos visto um esforço da parte de Satanás para destruir estas igrejas, desviando-as da simplicidade que há em Cristo (II Co 11:3).
Devido à pouca informação confiável que possuímos, o caminho que acabamos de seguir é obscuro. Uma coisa, porém, fica perfeitamente clara. Apesar das falhas humanas e dos ataques satânicos, Deus nunca Se deixou a Si mesmo sem testemunho (At 14:17). Embora muitas igrejas desviaram da simplicidade original, degenerando-se ao ponto de serem removidas pelo próprio Senhor, sempre houve na Terra verdadeiras igrejas locais, desde a formação da primeira igreja em Jerusalém (Atos cap. 2).
Quando “candeeiros” precisavam ser removidos, o Senhor levantava outras igrejas em outros lugares. O testemunho não se apagava; o candeeiro é que era removido. Em nossos dias, quase dois mil anos depois da primeira igreja, ainda há muitas igrejas conforme o modelo do Novo Testamento — Deus é fiel, Ele tem preservado o testemunho. Que nós sejamos fiéis, guardando a Sua Palavra, apesar dos desvios de muitos em nossos dias.

A NOSSA RESPONSABILIDADE

A fidelidade de Deus não nos livra de responsabilidade. Em nossos dias, provavelmente os últimos dias do testemunho de igrejas locais na Terra, vemos os ataques de Satanás se redobrarem cada dia. Igrejas que outrora amavam a simplicidade do modelo divino agora adotam as maneiras e os métodos das denominações. Com muita música e atividades sociais procuram atrair as pessoas e manter os jovens na igreja. Dão muita importância às tradições humanas e às opiniões da sociedade em que vivem, e deixam de lado a Palavra de Deus como algo fora de moda. Muitas já perderam todas as características das verdadeiras igrejas de Deus. A situação é confusa, mas ainda é possível manter o modelo que Deus estabeleceu nas Escrituras.
Deus não mudou. O modelo na Sua Palavra não mudou; a nossa responsabilidade é clara. O cristão não deve tornar-se membro de denominação alguma, mas sim separar-se de todas elas para reunir-se com outros cristãos, simplesmente como cristãos, em Nome do Senhor Jesus Cristo, formando assim uma igreja local e autônoma, onde o Senhor Jesus é a única atração, e a Sua Palavra a única autoridade. Estas igrejas não precisam, nem devem, unir-se a movimento algum; mas ao mesmo tempo que mantém a sua autonomia, devem cultivar comunhão com outras igrejas que seguem os mesmos princípios.
Tais igrejas podem ser fracas, pequenas, e desprezadas pelo mundo religioso, mas o Senhor lhes deixou uma promessa animadora: “eis que diante de ti pus uma porta aberta, e ninguém a pode fechar; tendo pouca força, guardaste a Minha Palavra, e não negaste o Meu Nome” (Ap 3:8).
“Pelo que saí do meio deles, e apartai-vos, diz o Senhor; e não toqueis nada imundo, e Eu vos receberei” (II Co 6:17).
“Saiamos pois a Ele fora do arraial, levando o Seu vitupério.” (Hb 13:13).

Extraído de http://www.irmaos.net/historia/historiaesquecida.html

Irmãos em Cristo Jesus.

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Mt 5:14 "Vós sois a luz do mundo"

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