sábado, 15 de novembro de 2008

A Necessidade da Graça - Levi Candido

Após ponderarmos sobre os tópicos dos três estudos anteriores, é necessária alguma consideração final. Não teremos nenhum progresso na vida cristã, a menos que tenhamos a benção do Senhor sobre nós. À parte da graça divina, não poderemos dar um passo sequer em direção à santidade. Graça, como alguém já definiu, é Deus dando e fazendo tudo a quem nada merece e nem tem condições de merecer. Precisamos estar continuamente na dependência do Senhor, pois tudo na vida cristã é pela graça do princípio ao fim. Foi assim que um santo expressou: “Foi a graça que inscreveu meu nome no livro eterno de Deus, foi a graça que me deu ao Cordeiro que levou todas as minhas tristezas. A graça ensinou minha alma a orar e a conhecer o amor perdoador. Foi a graça que cuidou de mim neste dia, e que nunca me deixará só”. De fato, somente a graça pode nos preservar e aperfeiçoar. Não fosse pela graça de Deus todos estaríamos constantemente nos desviando. Por isso, necessitamos rogar ao Senhor diariamente para que incline as nossas afeições a Cristo, que nos dê a cada manhã nova percepção do evangelho, que nos ensine o seu caminho, e que nosso coração possa estar unido ao temor do seu nome.

“Ensina-me, SENHOR, o teu caminho, e andarei na tua verdade; une o meu coração ao temor do teu nome”.(Salmo 86:11).

Thomas Manton foi muito feliz em sua colocação quando disse: “Precisamos não somente de luz para reconhecer o nosso caminho, mas também de um coração bem disposto para andar por esse caminho. A orientação é necessária por causa da cegueira de nossas mentes; e os impulsos eficazes da graça são necessários por causa da fraqueza dos nossos corações. Não cumpriremos ao nosso dever mediante a mera noção das verdades, a menos que as abracemos e as sigamos”. E para isto é necessário estarmos na dependência de Cristo. Alguém já disse que “toda a graça provém do Deus da graça, e é necessário graça para aceitar a graça”. Cristo que é a Fonte de toda a graça para os cristãos, nos ensina o caminho da dependência em João 15:4,5. “Estai em mim, e eu em vós; como a vara de si mesma não pode dar fruto, se não estiver na videira, assim também vós, se não estiverdes em mim. Eu sou a videira, vós as varas; quem está em mim, e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer”.

Todas as obras, todos os esforços, todas as virtudes sem a dependência de Cristo, não passam de obras mortas. O cristão só poderá servir a Deus com reverência e piedade pela graça, e de nenhum outro modo. Aqueles que não estão debaixo da graça não podem servir a Deus agradavelmente, porquanto a palavra de Deus é clara neste sentido. “Por isso, tendo recebido um reino que não pode ser abalado, retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus agradavelmente, com reverência e piedade; Porque o nosso Deus é um fogo consumidor”. ( Hb 12:28,29). A Bíblia diz que “O temor do Senhor é o princípio da sabedoria, e o conhecimento do Santo é prudência”(cf. Pv 9:10), e foi neste contexto que alguém observou muito bem: “O temor do Senhor é o elemento indispensável para o desenvolvimento evolutivo no andar cristão. O temor reverente de Deus é a chave para a fidelidade em qualquer situação”. José na casa de Potifar só pode ser livre do laço do pecado devido ao temor que possuía pelo Senhor. “ E aconteceu depois destas coisas que a mulher do seu senhor pós os seus olhos em José, e disse: Deita-te comigo. Porém ele recusou, e disse à mulher do seu senhor: Eis que o meu senhor não sabe do que há em casa comigo, e entregou em minha mão tudo o que tem; Ninguém há maior do que eu nesta casa, e nenhuma coisa me vedou, senão a ti, porquanto tu és sua mulher; como pois faria eu tamanha maldade, e pecaria contra Deus?” (Gn 39:7-9). Todo cristão regenerado sabe por revelação que todo pecado é primariamente contra Deus. Foi assim que Davi considerou as suas transgressões contra Bate-Seba, contra Urias e contra si mesmo. “Contra ti, contra ti somente pequei, e fiz o que é mal à tua vista, para que sejas justificado quando falares, e puro quando julgares”. (Sl 51:4). Neste aspecto devemos concordar com A.W.Pink que disse: “Até ao ponto onde Deus é verdadeiramente conhecido, até esse ponto será devidamente temido”. Acerca dos ímpios, porém, está escrito: “ Não há temor de Deus diante de seus olhos”( cf. Rm 3:18). As Escrituras mostram que é pelo temor do Senhor que os homens evitam o mal. (ver Pv 16:6). E em Salmo 34 verso 11 vemos que até mesmo os filhos de Deus precisam aprender o temor do Senhor. “Vinde, meninos, ouvi-me; eu vos ensinarei o temor do SENHOR”.
Também no Salmo 9 verso 10, lemos sobre aqueles que confiam no Senhor e o motivo que os levam a essa confiança: o conhecimento do nome do Senhor. “Em ti confiarão os que conhecem o teu nome; porque tu, SENHOR, nunca desamparaste os que te buscam”.

Recorrendo novamente às observações de Pink, consideremos o que ele disse: “O Espírito Santo primeiramente insufla em nós o senso de nossa própria ignorância, vaidade, pobreza espiritual e depravação, antes que nos leve a perceber que somente em Deus podem ser encontradas a verdadeira sabedoria, a benção real, a bondade perfeita e a justiça imaculada”. Quanto maior a visão que possuirmos da glória de Deus, maior será o senso de nossa nulidade. Dessa forma veremos que somente a suficiência de Deus poderá satisfazer nossa deficiência total. Em outro enfoque se quer dizer: A revelação de Deus traz à luz a revelação de quem somos. Somente à medida em que conhecermos a nós mesmos, e isto mediante à luz da revelação da Palavra de Deus, é que prostraremos sobre os nossos rostos e exclamaremos: “sê propício a mim, pecador!” (cf. Lc18:13). Esta convicção de pecado é resultante de uma vivificação espiritual em que ao indivíduo é concedido uma visão da glória de Deus e é trazido à luz a sua pecaminosidade inata, antes porém, adormecida pelo pecado, e geralmente resulta em arrependimento e fé. Tomemos alguns exemplos ilustrativos para a nossa compreensão. Começando por Jó; ele era um homem ilustre, reputado pelo próprio Deus como íntegro, reto e temente a Ele, e sobressaia-se aos demais homens da terra “E disse o SENHOR a Satanás: Observaste tu a meu servo Jó? Porque ninguém há na terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, temente a Deus, e que se desvia do mal”. (Jó 1:8). Notem seu zelo concernente ao seu comportamento religioso verso 5. “Sucedia, pois, que, decorrido o turno de dias de seus banquetes, enviava Jó, e os santificava, e se levantava de madrugada, e oferecia holocaustos segundo o número de todos eles; porque dizia Jó: Talvez pecaram meus filhos, e amaldiçoaram a Deus no seu coração. Assim fazia Jó continuamente”.Porém, a justiça própria de Jó teria que cair por terra para que pudesse ser estabelecida a justiça de Deus em sua vida. E isto aconteceu somente quando o Senhor deu-se a conhecer a Jó por meio de uma revelação sobrenatural, e só então ele exclamou: “eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te vêem..” (Jó 42:5,6). John Flavel fez uma observação muito oportuna: “Os que conhecem a Deus serão humildes; os que conhecem a si próprios não podem ser orgulhosos”. Os homens vivem em seu orgulho e presunção até onde não conhecem a Deus e desconhecem a si mesmos. Thomas Watson refletiu: “A visão da glória de Deus produz humildade. As estrelas somem quando o sol aparece”. E João Calvino sustenta: “Deus nunca receberá o que lhe é devido a não ser que sejamos totalmente reduzidos a nada, de forma que se veja claramente que tudo o que é louvável em nós não provém de nós”. Outro exemplo clássico de despertamento espiritual diz respeito ao profeta Isaias. Ele foi um servo do Altíssimo, profetizou diversas vezes acerca do Senhor e Salvador, da obra vicária do Servo do Senhor, acerca do reinado soberano do Rei dos reis, acerca da nova Jerusalém, etc. Notem, entretanto, a sua experiência sobrenatural com Deus. “ No ano em que morreu o rei Uzias, eu vi também ao Senhor assentado sobre um alto e sublime trono; e o seu séquito enchia o templo. Serafins estavam por cima dele; cada um tinha seis asas; com duas cobriam os seus rostos, e com duas cobriam os seus pés, e com duas voavam.

E clamavam uns aos outros, dizendo: Santo, Santo, Santo é o SENHOR dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória.

E os umbrais das portas se moveram à voz do que clamava, e a casa se encheu de fumaça. Então disse eu: Ai de mim! Pois estou perdido; porque sou um homem de lábios impuros, e habito no meio de um povo de impuros lábios; os meus olhos viram o Rei, o SENHOR dos Exércitos”. (Is 6:1-5). A visão da glória de Deus trouxe à luz a visão de sua própria pecaminosidade, e então ele teve que reconhecer: “Ai de mim! Estou perdido!”. (v 5). E todo o curso de sua vida desde então, foi marcado por esta convicção de pecado. Vemos mais adiante Isaias referir-se às suas justiças como trapo de imundícia. “Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças como trapo da imundícia; e todos nós murchamos como a folha, e as nossas iniqüidades como um vento nos arrebatam”. ( Is 64:6). Conforme um comentário bíblico diz: “Assim como o profeta se inclui nesta confissão humilde, nós também, de igual modo, devemos reconhecer e confessar nossa total corrupção natural, pelos pecados que diariamente cometemos. Só esta confissão pode nos abrir o caminho para o verdadeiro arrependimento, o reconhecimento dos méritos de Jesus Cristo, e à aceitação da sua morte expiatória em prol dos pecadores”. Esta é uma visão espiritual procedente de luz espiritual outorgada pelo Espírito Santo. É Ele quem convence o homem do pecado, da justiça e do juízo. “E, quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, e da justiça e do juízo. Do pecado, porque não crêem em mim;” (João 16:8,9). Foi por isso que Martinho Lutero disse: “O reconhecimento do pecado é o começo da salvação”. Quando Lutero foi agraciado por Deus de receber uma revelação acerca de si mesmo, ele exclamou: “Não tenho outro nome senão o de pecador; pecador é meu nome, pecador é meu sobrenome”. O homem por si mesmo está em trevas espirituais, a menos que lhe seja dado olhos para que veja e ouvidos para que ouça. “Quem pode entender os seus erros? Expurga-me tu dos que me são ocultos. Também da soberba guarda o teu servo, para que se não assenhorie de mim. Então serei sincero, e ficarei limpo de grande transgressão. Sejam agradáveis as palavras da minha boca e a meditação do meu coração perante a tua face, SENHOR, Rocha minha e Redentor meu!” (Sl 19:12-14). Santo Agostinho foi muito preciso em sua consideração dizendo: “Antes de Deus poder libertar-nos, precisamos desenganar a nós mesmos”. Pecamos por pensamentos, palavras e ações e muitas vezes achamos que não temos pecado; isto já é pecado !. John Blanchard corrobora este pensamento dizendo: “Os pecados ocultados pelo homem nunca são cancelados por Deus”. A Bíblia é categórica a este respeito. “ Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e não há verdade em nós. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a injustiça. Se dissermos que não pecamos, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós”. (1ª Jo 1:8-10). Alguém disse que “A maneira de cobrir nosso pecado é descobri-lo pela confissão”,. Quando confessamos nossos pecados a Deus, estamos concordando com Ele que erramos, e dessa forma somos introduzidos debaixo da sua benção. “Bem-aventurado aquele cuja transgressão é perdoada, e cujo pecado é coberto. Bem-aventurado o homem a quem o SENHOR não imputa maldade, e em cujo espírito não há engano. Quando eu guardei silêncio, envelheceram os meus ossos pelo meu bramido em todo o dia. Porque de dia e de noite a tua mão pesava sobre mim; o meu humor se tornou em sequidão de estio. (Selá.)

Confessei-te o meu pecado, e a minha maldade não encobri. Dizia eu: Confessarei ao SENHOR as minhas transgressões; e tu perdoaste a maldade do meu pecado. (Selá.) Por isso, todo aquele que é santo orará a ti, a tempo de te poder achar; até no transbordar de muitas águas, estas não lhe chegarão. Tu és o lugar em que me escondo; tu me preservas da angústia; tu me cinges de alegres cantos de livramento. (Selá.) (o cristão confessa em seu íntimo:) Ele é o que perdoa todas as tuas iniqüidades, que sara todas as tuas enfermidades, Que redime a tua vida da perdição; que te coroa de benignidade e de misericórdia, Que farta a tua boca de bens, de sorte que a tua mocidade se renova como a da águia. O SENHOR faz justiça e juízo a todos os oprimidos. ( Sl 32:1-7 e Sl 103:3-6). Mas é bom atentarmos para um pensamento que diz: “A confissão dos pecados não substitui o ato de abandoná-los”. Muitos presumem-se que vivendo em pecado, mas confessando a Deus os seus pecados são perdoados e por isso estão salvos. Notem porém, que Cristo se manifestou não para salvar o pecador no pecado, para viver em pecado, mas para salvá-lo do pecado para a santidade. “Que diremos pois? Permaneceremos no pecado, para que a graça abunde? De modo nenhum. Nós, que estamos mortos para o pecado, como viveremos ainda nele? Mas graças a Deus que, tendo sido servos do pecado, obedecestes de coração à forma de doutrina a que fostes entregues. E, libertados do pecado, fostes feitos servos da justiça. Mas agora, libertados do pecado, e feitos servos de Deus, tendes o vosso fruto para santificação, e por fim a vida eterna”. (Rm 6:1-2,17-18,22). Conforme este enfoque, a Palavra de Deus é o instrumento eficaz do Espírito para tal realização. “A lei do SENHOR é perfeita, e refrigera a alma; o testemunho do SENHOR é fiel, e dá sabedoria aos símplices. Os preceitos do SENHOR são retos e alegram o coração; o mandamento do SENHOR é puro, e ilumina os olhos. O temor do SENHOR é limpo, e permanece eternamente; os juízos do SENHOR são verdadeiros e justos juntamente. Mais desejáveis são do que o ouro, sim, do que muito ouro fino; e mais doces do que o mel e o licor dos favos. Também por eles é admoestado o teu servo; e em os guardar há grande recompensa”. (Sl 19:7-11). Devemos buscar sempre do Senhor caminhos retos para os nossos pés. “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me, e conhece os meus pensamentos.
E vê se há em mim algum caminho mau, e guia-me pelo caminho eterno”. (Sl 139:23,24). O homem sábio não confiará nas diretrizes apontadas pelo seu coração, mas seu coração estará voltado para as diretrizes apontadas pela Palavra de Deus. Só pode ser bem-aventurado aquele cujo caminho são delineado pela Palavra de Deus. “Bem-aventurados os retos em seus caminhos, que andam na lei do SENHOR. Bem-aventurados os que guardam os seus testemunhos, e que o buscam com todo o coração. E não praticam iniqüidade, mas andam nos seus caminhos. Tu ordenaste os teus mandamentos, para que diligentemente os observássemos. Quem dera que os meus caminhos fossem dirigidos a observar os teus mandamentos. Então não ficaria confundido, atentando eu para todos os teus mandamentos. Louvar-te-ei com retidão de coração quando tiver aprendido os teus justos juízos. Observarei os teus estatutos; não me desampares totalmente. Com que purificará o jovem o seu caminho? Observando-o conforme a tua palavra”. (Sl 119:1-8).

Levi Cândido
candidolevi@ig.com.br

Barueri, 22 de Junho de 2008

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