sexta-feira, 11 de setembro de 2009

O amor à alma- Arcadio Sierra Diaz

Extraído do Livro " Os Vencedores e o Reino Milenar" de Arcadio Sierra Diaz
Depois de declarar que para dar fruto tem que morrer, como o grão de trigo, diz em João 12:25: "Quem ama a sua vida perde-a; mas aquele que odeia a sua vida neste mundo preservá-la-á para a vida eterna". Nós devemos perder a vida da alma, a casca que oprime o espírito, a fim de andar em comunhão espiritual com o Senhor e dar fruto, e assim desfrutar, na ressurreição, do reino com o Senhor.Mais de cem vezes encontramos no Novo Testamento, afirmações no sentido de crer para ser salvo, para ser justificado, para ter vida eterna; tudo isso se refere à salvação do espírito; entretanto, quando se refere à salvação da alma, a Bíblia fala de sofrer com paciência, de trabalhar, de perder a alma para ganhá-la. Pode ser que tu não estejas pecando no sentido de estar praticando atos implicitamente maus; mas deixas de obedecer ao Senhor por estar envolvido em comprazer-te nos desejos e paixões de tua alma, ou comprazer-te com as relações de tuas amizades e parentes; podes estar amando tudo isso mais que ao Senhor. Tem que decidir entre obedecer a Deus ou obedecer e deleitar nossa alma. Nós não queremos que nossa alma sofra, e às vezes isso nos interessa mais que obedecer ao Senhor.Em que se deleita a alma? No que se deleita o mundo: Ter muitos amigos e compartilhar com eles, ter dinheiro e amá-lo mais que a Deus, desfrutar de luxos, deleitar-se com a boa comida, luzir os bons vestidos à moda, tudo o relacionado com os exageros na beleza física, as recreações, as coisas supérfluas, os elogios dos homens, a fama, a glória terrena, as vaidades. Tudo isso agrada a alma. O cristão deve escolher entre o mundo e o reino milenar. O cristão já tem vida eterna; seu espírito já está salvo, e é certo que estará com o Senhor na Nova Jerusalém; mas se não tem perdido sua alma nesta era, irá perder quando o Senhor estabelecer Seu reino. Que lamentável seria que diante do Senhor tivéssemos que reconhecer uma triste realidade e admitir: Se, conhecíamos ao Senhor, tínhamos consciência que éramos do Senhor, mas não vivíamos para Ele senão para nós mesmos, e todo o tempo que vivemos na terra o desperdiçamos, estávamos obscurecidos, com nossa visão posta em um mundo atraente.O mundo se relaciona também com as riquezas, o amor que se tenha e o lugar que ocupem em nosso coração. De acordo com a prioridade que ocupem as coisas em tua vida, assim é teu andar com Deus, assim é o grau de comunhão que tenhas com o Senhor, e assim é a motivação de tua oração. Diz a Palavra que da abundancia do coração fala a boca, e isso mesmo pode se aplicar para nossa oração diária. Qual é tua motivação na oração? Priorizas teus próprios interesses ou concedes ao Senhor o primeiro lugar? Qual é a ordem de prioridades em Mateus 6:33? Um crente vencedor é um intercessor diante do Pai pelos interesses do Senhor.Lemos em Hebreus 11:24-26: " Pela fé, Moisés, quando já homem feito, recusou ser chamado filho da filha de Faraó,25 preferindo ser maltratado junto com o povo de Deus a usufruir prazeres transitórios do pecado;26 porquanto considerou o opróbrio de Cristo por maiores riquezas do que os tesouros do Egito, porque contemplava o galardão".
O crente vencedor também escolhe ser maltratado por causa do Senhor e sofrer o vitupério de Cristo fora do acampamento. O que significa fora do acampamento? Lemos em Hebreus 13:12-13: " Por isso, foi que também Jesus, para santificar o povo, pelo seu próprio sangue, sofreu fora da porta.13 Saiamos, pois, a ele, fora do arraial, levando o seu vitupério ".
De conformidade com o contexto, o Senhor Jesus foi sacrificado fora da porta, fora do acampamento, e nos guiou ao caminho estreito da cruz e do sacrifício, e assim poder ter comunhão com Ele mais além do véu, mais além da mera aparência religiosa, no Lugar Santíssimo de nosso espírito, onde está Ele morando por Seu Espírito.Nos guia fora da cidade terrena e a organização humana, em especial nos afasta dessa labiríntica organização religiosa; envolvidos no sistema religioso dificilmente podemos levar a cruz; saímos do acampamento para seguir a Jesus em Seus sofrimentos, em sincera humildade, levando o vitupério de Jesus; é o caminho da cruz. Aí está o Gólgota. Fora do acampamento desfrutamos a presença do Senhor e escutamos que nos fala e nos guia, nos fortalece. Saímos do desfrute dos gozos do mundo e de nossa própria alma, a desfrutar a Ele em nosso Espírito.

O Que é a Oração?- Watchman Nee

A oração é o ato mais maravilhoso do reino espiritual e também um assunto muitíssimo misterioso.

Oração: um mistério

A oração é um mistério; e depois de analisarmos algumas questões sobre o assunto, creio que apreciaremos ainda mais o caráter misterioso que envolve a oração, pois é assunto de difícil compreensão. Com isto não estamos sugerindo que o mistério da oração seja incompreensível ou que os variados problemas referentes à oração sejam inexplicáveis. Simplesmente indica que poucas pessoas realmente conhecem a fundo essas questões. Por causa disto, poucos são verdadeiramente capazes de realizar muito para Deus no ministério da oração. O poder da oração reside não no quanto, oramos, mas no quanto nossas orações estão de acordo com o princípio da oração. Somente as orações que possuem esse princípio têm valor verdadeiro.
A primeira pergunta que se deve fazer é: Por que orar? Para que serve a oração? Não é Deus onisciente e onipotente? Por que espera ele que oremos para começar a operar? Uma vez que ele sabe, por que devemos contar-lhe tudo (Filipenses 4:6)? Sendo Todo-poderoso, por que Deus não opera direta-mente? Por que precisa ele de nossas orações? Por que somente os que batem entram (Mt 7:7)? Por que diz Deus: “Nada tendes, porque não pedis” (Tg 4:2)?
Depois de fazer as perguntas acima devemos continuar a inquirir, como segue: E a oração contrária à vontade de Deus? Que relação há entre oração e justiça?
Sabemos que Deus jamais faz algo contra a sua própria vontade, e se abrir portas é a vontade dele, por que espera até que batamos para abrir? Por que ele simples-mente não abre segundo sua própria vontade sem requerer que batamos? Sendo onisciente, Deus sabe que precisamos de portas abertas; por que, então, espera que batamos para abrir? Se a porta deve-se abrir, e se abrir portas está de acordo com a vontade de Deus, e se, além disso, ele sabe que precisamos que ela seja aberta, por que espera que batamos? Por que ele simplesmente não abre a porta? Que vantagem tem Deus em que batamos?
Ainda devemos fazer as seguintes perguntas: Uma vez que a vontade de Deus é abrir a porta e o abrir a porta está de acordo com a justiça, abrirá Deus a porta se não batermos? Ou preferiria ele atrasar a realização de sua vontade e justiça a fim de esperar por nossas orações? Permitirá Ele que sua vontade de abrir a porta seja impedida porque deixamos de bater?
Se assim for, não estaremos nós limitando a vontade de Deus? É Deus realmente Todo-poderoso? Se ele é Todo-poderoso, por que não pode abrir a porta por si mesmo – por que deve ele esperar até que batamos? É Deus realmente capaz de realizar sua própria vontade? Se ele realmente e capaz, então por que o seu abrir a porta (a vontade de Deus) é governado por nosso bater (oração do homem)?
Ao fazer estas perguntas compreendemos que a oração é um grande mistério. Pois aqui vemos o princípio do trabalho de Deus: seu povo deve orar antes que Deus se levante e opere – sua vontade somente é realizada mediante as orações dos que lhe pertencem; as orações dos crentes devem realizar sua vontade; Deus não cumprirá sua vontade sozinho – Ele operará somente depois que seu povo mostrar simpatia por meio das orações.
Tal sendo o caso, podemos dizer, portanto, que a oração nada mais é que um ato do crente operando juntamente com Deus. A oração é a união do pensamento do crente com a vontade de Deus. A oração que o crente profere na terra nada mais é que o expressar da vontade de Deus no céu. A oração não é a expressão de nosso desejo de que Deus ceda à nossa petição e que preencha nosso desejo egoísta. Não é forçar o Senhor a mudar sua vontade e realizar o que não deseja. Não, oração é simplesmente o crente proferindo a vontade de Deus. Perante Deus, o crente pede, em oração, que se faça a vontade do Senhor.
A oração não altera o que Deus determinou. Nunca muda nada; meramente realiza o que já foi pré-ordenado. A falta de oração, entretanto efetua mudanças. Deus deixará que muitas de suas resoluções fiquem suspensas devido à falta de cooperação dedicada de seu povo.
“Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra, terá sido ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra, terá sido desligado no céu” (Mt 18:18). Estamos bem familiarizados com estas palavras de nosso Senhor, mas devemos compreender que elas se referem à oração, e são seguidas imediatamente por esta afirmativa de Cristo: “Em verdade também vos digo que, se dois entre vós, sobre a terra, concordarem a respeito de qualquer coisa que porventura pedirem, ser-lhes-á concedida por meu Pai que está nos céus” (v.19).

O Céu governado pela Terra

Aqui, afirma-se claramente o relacionamento entre a oração e a obra de Deus. Deus, no céu, somente ligará e desligará o que seus filhos, sobre a terra, ligaram ou desli-garam. Muitas coisas há que precisam ser ligadas, mas Deus não as ligará sozinho. Deseja que seu povo as ligue na terra primeiro, e então Ele as ligará no céu. Também há muitas coisas que devem ser desligadas; mas, de novo, Deus não deseja desligá-las sozinho: espera até que seu povo as desligue na terra, então ele as desligará no céu. Pense nisto: Todas as ações do céu são governadas pelas ações da terra! E da mesma forma todos os acontecimentos do céu são restritos pelos acontecimentos da terral Deus tem grande deleite em colocar todas as suas obras sob o controle de seu povo. (Deve-se ressaltar que estas palavras de Mateus não foram ditas a pessoas carnais, porque tais pessoas não estão qualificadas Para ouvi-las. Tenhamos muito cuidado aqui para que a carne não interfira, pois nesse caso estaremos ofendendo a Deus em muitos aspectos.)
Há uma passagem em Isaías que transmite o pensa-mento encontrado em Mateus: “Assim diz o Senhor, o Santo de Israel, aquele que o formou: Quereis, acaso, saber as coisas futuras? quereis dar ordens acerca de meus filhos e acerca das obras de minhas mãos?” (45:11). Ao examinar esta palavra, possamos nós ser verdadeiramente piedosos, não permitindo que a carne entre de maneira sutil. Deus deseja homens humildes como nós para comandá-Lo! Ele começa a fazer sua obra quando ordenamos! Toda a ação de Deus no céu, seja ligar ou desligar, é feita de acordo com nossa ordem na terra.
Primeiro e preciso que a terra ligue antes que o céu o possa fazer; a terra deve primeiro desligar para que o céu também o faça. Deus nunca faz nada contra sua vontade. Não é porque a terra ligou alguma coisa que o Senhor seja forçado a ligar aquilo que não desejava. Não é assim. Ele figa no céu o que foi ligado na terra simplesmente porque sua vontade original sempre foi ligar o que sobre a terra foi ligado. Espera até que seu povo sobre a terra ligue o que os céus têm desejado ligar, e então obedece à sua ordem e liga para eles o que pediram. O próprio fato de Deus estar disposto a ouvir a ordem de seu povo e ligar o que foi ligado é evidência de que já era sua vontade fazer tal coisa (porque todas as vontades de Deus são eternas). Por que ele não liga antes? Uma vez que sua vontade é ligar, e essa vontade é eterna, por que não liga ele antes o que devia ser ligado segundo sua própria vontade? Por que deve ele esperar até que a terra ligue para depois e ele ligar no céu? E verdade que o que não ‘ ligado na terra não pode ser ligado no céu? Se houver demora em ligar na terra, haverá também demora no céu? Por que deve Deus esperar que a terra ligue o que ele há muito desejou ligar?
Seja-me permitido dizer que e ao responder a estas perguntas o crente pode tornar-se mais útil nas mãos de Deus. Já conhecemos o motivo da criação do homem. Deus cria o homem para que possa se unir com ele e derrotar Satanás e suas obras. Criado com livre-arbítrio, espera-se que o homem exerça sua vontade de ter união com a vontade de Deus em oposição à vontade de Satanás. Esse é o propósito da criação e também o propósito da redenção. A vida toda do Senhor Jesus demonstra este princípio. Não sabemos o motivo, entretanto sabemos que Deus não age independentemente. Se o povo de Deus falhar em mostrar-lhe simpatia, cedendo-lhe sua vontade e tendo unidade mental com ele em oração, Deus prefere esperar e adiar sua obra. Ele se recusa a agir sozinho. Ao pedir que seu povo trabalhe com ele, recebe glória. Embora ele seja Todo-poderoso, deleita-se em que sua onipotência seja circunscrita por seus filhos. Embora seja zeloso de sua própria vontade, temporariamente permitirá que Satanás mantenha a ofensiva se seu povo esquecer-se da vontade divina e falhar em mostrar simpatia na cooperação com Deus.
Oh, que os filhos de Deus não fossem tão frios como se mostram hoje! Que fossem mais dispostos a negar-se a si mesmos e submeter-se à vontade de Deus – tendo maior cuidado por sua glória e guardando sua palavra! Então a vontade de Deus referente a esta época seria realizada rapidamente; a igreja não estaria em tamanha confusão; os pecadores não estariam tão endurecidos; a vinda do Senhor Jesus e seu reino chegariam mais cedo; Satanás e seus poderes seriam jogados mais cedo no poço sem fundo, e o conhecimento do Senhor encheria mais rapidamente a terra. Devido ao fato de que os crentes se preocupam demasiada-mente com seus próprios afazeres e falham em trabalhar com Deus, muitos inimigos e muita falta de lei não são amar-rados, e muitos pecadores e muita graça não são libertados. Quão restrito fica o céu pela terra! Uma vez que Deus nos respeita tanto, não podemos nós confiar nele da mesma forma?
Como é que ligamos o que Deus deseja, e desligamos o que Deus quer? A resposta do Senhor Jesus é: “Concordarem a respeito de qualquer coisa que pedirem.” Ora, isto é oração – a oração do corpo de Cristo. O ponto alto de nosso trabalho com Deus e pedir a uma só voz que Deus realize o que deseja. O significado verdadeiro da oração é que a pessoa que ora o faça pelo cumprimento da vontade daquele a quem ora. Oração é a oportunidade pela qual expressamos nosso desejo da vontade de Deus. A oração significa que nossa vontade está do lado de Deus. Fora disto não existe oração.

O Ego e a Oração

Quantas orações hoje em dia realmente expressam a vontade de Deus? Em que medida esquecemos de nós mesmos completamente e procuramos somente a vontade do Senhor? Quantos crentes estão realmente trabalhando com Deus em oração? Quantos de nós realmente estamos decla-rando diariamente perante ele sua vontade e derramando nossos corações em oração para que ele possa manifestar-nos sua vontade, qualquer que ela seja? Que se reconheça clara-mente que o egoísmo pode manifestar-se nas outras áreas e também na oração! Quão múltiplos são os pedidos para nós mesmos! Quão fortes são nossas opiniões, desejos, planos e aspirações! Tendo tanto de nós mesmos na oração, como podemos esperar ser capazes de esquecermos de nós mesmos completamente e procurarmos a vontade de Deus em oração? A autonegação deve ser praticada em tudo. E tão essencial na oração como no agir. E preciso saber que os redimidos devem viver para o Senhor – aquele que morreu e agora vive para nós. Devemos viver inteiramente para ele e nada procurar para nos mesmos. A oração faz parte das coisas que devemos consagrar a Deus.
Prevalece um sério erro em nossa compreensão, isto é, que sempre pensamos na oração como um canal para expressar o de que precisamos – como nosso pedido de socorro a Deus. Não percebemos que orar é pedir que Deus cumpra suas necessidades. Devemos compreender que o pensamento original de Deus certamente não é permitir que os crentes alcancem os próprios alvos mediante a oração; antes, é Deus realizando seu propósito por meio das orações dos crentes. Isto não quer dizer que os cristãos nunca devem pedir ao Senhor que supra suas necessidades. Serve somente para indicar que primeiro precisamos compreender o signifi-cado e os princípios da oração.
Sempre que o crente estiver passando por necessi-dades, primeiro deve inquirir: Tal falta afetará a Deus? Ele deseja que eu passe necessidade? Ou é sua vontade suprir minha necessidade? Ao ver que a vontade de Deus é suprir sua necessidade, então pode pedir-lhe que supra a necessidade dele suprindo a sua. Tendo conhecido a vontade dele, você deve orar de acordo com essa vontade. Você ora para que ele preencha a necessidade divina. A questão já não é se sua necessidade será suprida, mas se a vontade de Deus será feita. Embora sua oração de hoje não seja muito diferente da do passado, entretanto o que agora você procura e que seja feita a vontade de Deus nesta questão particular e pessoal, e não que sua própria necessidade seja suprida. E aqui registram-se muitos fracassos: os crentes, muitas vezes, dão prioridade às suas necessidades; embora saibam que a vontade do Senhor é, suprir-lhes as necessidades, não conseguem esquecer-se de mencionar essas necessidades em primeiro lugar em suas orações.
Não devemos orar somente por nossas necessidades. No céu e na terra só uma oração é legítima e aceitável a Deus – a que lhe pede que se cumpra sua vontade. Nossas necessidades deviam-se perder na vontade de Deus. Sempre que virmos a vontade de Deus concernente à nossa necessi-dade, devemos, imediatamente, despojar-nos de nossa neces-sidade e pedir-lhe que cumpra a sua. Pedir ao Senhor, direta-mente, que supra nossas necessidades, quaisquer que sejam, não pode ser considerada oração de alto nível. Na oração, as necessidades, pessoais devem ser tocadas indiretamente, primeiro pedindo que a vontade do Senhor seja feita. Este e o segredo da oração, a chave para a vitória em oração.
O propósito de Deus é que estejamos tão imbuídos de sua vontade que nos esqueçamos de nossos próprios interes-ses. Ele nos chama para trabalhar com ele a fim de realizar sua vontade. O trabalho é a oração. Por esse motivo ele deseja que aprendamos dele qual seja sua vontade com relação a todas as coisas para que possamos, então, orar segundo sua vontade.
A oração verdadeira é trabalho real. Orar de acordo com a vontade e Deus e orar somente pedindo sua vontade é deveras obra que exige a negação pessoal. A menos que nos despojemos completamente de nós mesmos, e não tenhamos o mínimo interesse próprio, mas vivamos absolutamente para o Senhor e procuremos sua glória somente, não gostaremos do que ele gosta, não procuraremos o que ele procura, nem oraremos da maneira que ele deseja que oremos. Não resta dúvida que trabalhar para Deus sem o interesse próprio é muito difícil; mas orar sem nenhum interesse próprio e ainda mais difícil. Não obstante todos os que vivem para Deus devem fazer isso.
Nas gerações passadas o Senhor não fez muitas coisas que pode fazer e gosta de fazer, por causa da falta de coope-ração de seus filhos. O fracasso não está em Deus, mas em seu povo. Se analisarmos nossas próprias histórias pessoais veremos mesmo triste estado. Tivéssemos tido fé maior e mais oração, nossa vida não teria sido tão ineficaz. O que o Senhor procura agora e que seus filhos estejam dispostos a unir-se a sua vontade e expressar tal união mediante a oração. Crente algum jamais experimentou completamente a grandeza da realização por meio da união com a vontade de Deus.

Oração – Preparação do caminho de Deus

Um servo do Senhor disse de forma correta: A oração é a estrada da obra de Deus. Deveras, a oração está para a vontade de Deus assim como os trilhos estão para o trem de ferro. A locomotiva tem poder: é capaz de correr milhares de quilômetros por dia. Mas se não existirem trilhos, não poderá avançar um centímetro sequer. Se ousar mover-se sem eles, logo afundará na terra. Pode percorrer grandes distâncias, mas não pode andar onde não existem trilhos. Tal é a relação entre a oração e o trabalho de Deus. Não acho necessário explicar com detalhes, pois acredito que todos podem reconhecer o significado desta parábola. Não há dúvida que Deus é Todo-poderoso e opera poderosamente, mas não pode trabalhar nem trabalhará se você e eu não trabalharmos com ele em oração, se não prepararmos o caminho para sua vontade, e orarmos “com toda oração e súplica” (Ef 6:18) para dar-lhe a capacidade de operar. Muitas são as coisas que Deus deseja fazer e gostaria de fazê-las, mas suas mãos estão atadas porque seus filhos não cooperam com ele e não oram a fim de preparar os seus caminhos. Deixe-me dizer a todos que se deram inteiramente a Deus: Examinem-se a si mesmos de verdade e vejam se não têm limitado a Deus nesse respeito diariamente. Daí que nosso trabalho mais importante é preparar o caminho do Senhor. Não há outra obra que se possa comparar a esta. Com Deus há muitas “possibilidades”; mas estas se transformarão em “impossibi-lidades” se os crentes não abrirem caminhos para Deus. Tendo isto como alvo, nossas orações com a mente de Deus devem ser grandemente aumentadas. Que possamos orar exaustivamente – isto é, que possamos orar em todas as direções – para que a vontade de Deus prospere em todas as direções. Embora nossas atividades entre os homens sejam importantes, nosso trabalho com o Senhor, mediante orações, é muito mais.
A oração não é a tentativa de restaurar o coração do céu. É totalmente errôneo o conceito de que Deus é muito duro, e por isso precisamos entrar no combate da oração contra ele para subjugá-lo e assim fazer com que ele modifique sua decisão. Toda oração em desacordo com a vontade de Deus é totalmente vazia. Que nos asseguremos de estar lutando perante Deus como se em conflito pela simples razão de sua vontade estar sendo bloqueada pelos homens ou pelo diabo, e desta forma desejamos que ele execute sua vontade a fim de que ela não sofra por causa da oposição. Desejando, desse modo, a vontade de Deus e orando sim, até mesmo lutando – contra tudo que se oponha à sua vontade, preparamos o caminho para que ele execute sua vontade sem permitir que o que procede do homem ou do diabo prevaleça temporariamente. É verdade que parece estarmos lutando contra Deus; mas tal luta não é contra Deus, como se quiséssemos fazê-lo mudar sua vontade para se acomodar a nosso prazer; é, em realidade, contra tudo o que se opõe a Deus de modo que ele possa cumprir sua vontade. A vista disto, percebamos que somos incapazes de orar como cooperadores de Deus, a menos que realmente conheçamos sua vontade.
Agora, já tendo compreendido um pouco do verdadeiro significado da oração, redobremos nosso cuidado para que a carne não interfira. Pois, note, por favor, que se o próprio Deus enviasse trabalhadores, Cristo não nos teria mandado orar ao Senhor da seara para que mande trabalhadores! Se o nome de Deus mui naturalmente fosse santificado, se seu reino viesse sem necessidade de nossa cooperação, e se sua vontade fosse feita automaticamente na terra, o Senhor Jesus jamais nos teria ensinado a orar da forma como o fez. E se ele vai voltar sem a necessidade de uma resposta da sua igreja, o Espírito do Senhor não teria movido o apostolo João a clamar para que ele voltasse cedo. Se Deus o Pai espontaneamente fizesse com que todos os crentes fossem um teria nosso Senhor, porventura, orado a seu Pai com esse fim? Se o trabalhar com Deus não e essencial, qual será o valor da intercessão contínua de nosso Senhor no céu?
Oh, que percebamos que a oração de lealdade a Deus é mais vital do que qualquer outra coisa! Pois que Deus só pode operar nos assuntos pelos quais seus filhos mostraram simpatia. Ele se recusa a operar nas áreas em que não existem orações e nas quais a vontade de seu povo não está unida com a sua. A oração de vontades unidas é a resposta; é unir a vontade do homem com a de Deus de modo que ele possa operar. Às vezes pedimos incorretamente e, portanto, nossa oração fica sem resposta; mas se nossa vontade estiver unida à vontade de Deus, ele ainda ganhará, porque mediante nossa simpatia ele pode executar sua vontade.

Livros Celestes- Gino Iafrancesco

Extraído do Livro " Aproximación al Apocalipsis.

“o que vencer será vestido de vestimentas brancas; e não apagarei seu nome do livro da vida, e confessarei seu nome diante de meu Pai, e diante de seus anjos”. Apocalipse 3:5.

VARIEDADE DE LIVROS

Irmãos, nesta série do Apocalipse que estamos tendo, terminamos o capítulo 3 do livro do Apocalipse, terminamos a consideração da mensagem do Senhor às sete Igrejas na Ásia Menor, que é uma mensagem profética do Espírito Santo a toda a história da Igreja, a todas as Igrejas da terra; mas antes de entrar em capítulo 4, na noite de hoje queria fazer um apêndice; ou seja, tratar um tema do que se tratou nas idades da Igreja mas que não se pôde tratar mais a fundo; então o deixamos para tratá-lo ao final, posto que no tratamento de cada período da Igreja não houve o tempo para tratá-lo a fundo. Vocês recordam que mencionamos, quando tratávamos a mensagem à igreja em Sardes, que há um verso misterioso, sério, que diz o Senhor ali; então o apêndice é para aprofundar um pouquinho mais na consideração do que o resto da palavra do Senhor diz a respeito, que quando tratamos de Sardes não pudemos tratar a fundo. Se vocês se fixarem no capítulo 3, no versículo 5 do Apocalipse, ali dizia e diz o Senhor Jesus: “o que vencer será vestido de vestimentas brancas; e não apagarei seu nome do livro da vida, e confessarei seu nome diante de meu Pai, e diante de seus anjos.” Aqui há uma frase bastante séria; embora aqui o diga como uma promessa, o que é sério é o que alguém se pergunta e implica. O que diz é que ao que vencer, não apagará seu nome do livro da vida; isso está claro, mas a pergunta que as pessoas se fazem é: E se um crente nascido de novo não vencer, o que acontece? Seu nome é apagado do livro da vida? Ou será que um crente nascido de novo, como diz a Escritura, vence o mundo? Porque diz São João: “Todo o que é nascido de Deus vence ao mundo”; então aí é onde alguém se pergunta não pelo que está escrito, mas sim pelo que não está escrito; e se não vencerem, será apagado seu nome do livro da vida? Lógico que é uma pergunta séria que merece uma consideração mais detida.

Eu estive tomando algumas notas que queria compartilhar com meus irmãos neste apêndice, e ter mais em conta alguns detalhes.

A primeira vez que aparece este assunto de um livro onde estão nossos nomes, e não só um livro, mas também muitos livros onde também estão nossas obras, aparecem pela primeira vez no livro de Êxodo; é a primeira vez em que se menciona este assunto; logo se volta a mencionar de uma maneira um pouco mais complexa; então quisera que fôssemos a Êxodo 32:32-33; ali está Moisés, movido pelo Espírito de Cristo, intercedendo pelo povo de Israel que tinha pecado com idolatria e desenfreio enquanto Moisés estava recebendo as tábuas da lei. Quando baixou Moisés encontrou o desastre, rompeu as tábuas; houve aquele julgamento de parte dos levitas que ficaram do lado de Jeová, ao lado de Moisés, e Moisés se voltou a interceder profundamente, e nessa intercessão Moisés disse umas palavras ao Senhor que não sabemos de onde tomou o conhecimento disso, porque de Gênese até esta passagem não aparece ensino sobre o assunto, e a primeira vez que Moisés o menciona já o dá como um fato; ou seja, que é uma revelação que teve Moisés e Deus lhe respondeu como que é assim, como Moisés estava dizendo, que sim realmente existia um livro, e não só um, porque vamos ver que há outros; mas é aqui quando aparece pela primeira vez.

Diz Êxodo 32:32-33 assim: “Que perdoes agora seu pecado, e se não, me risque agora de seu livro que tem escrito”. Aqui Moisés tem um conhecimento na presença de Deus, de um livro escrito Por Deus onde Moisés está inscrito. Vemos que Moisés escreve que se não perdoar a Israel seu pecado, que o apague do livro: “me risque agora de seu livro que tem escrito”; aqui, pelas palavras de Moisés, ainda não vemos a resposta de Deus. Pela palavra de Moisés parece que este livro já tinha coisas escritas, e é o que vamos estudar, porque o livro da vida não é uma coisa simples; parece que é uma coisa complexa; ali vamos encontrar versículos que nos falam de vários livros e versículos que nos falam de coisas que já estavam escritas, de coisas que estão se escrevendo agora e de coisas que vão se escrever depois e também de coisas que se apagam; então é interessante ver todas estas coisas. Quais são as que a Bíblia ensina que já vinham escritas, quais são as que se vão escrevendo e quais as que vão se escrever a partir de um momento futuro; assim não é um livro assim simples. Há passagens onde se fala do livro dos viventes onde pelo contexto parece que estão escritos inclusive os ímpios que recusaram a Cristo e que são apagados por havê-lo recusado; mas já estavam escritos no livro dos viventes e por recusar a Cristo são apagados. Vamos ver os versos agora.

UM LIVRO ESCRITO POR DEUS

Nos fala também do livro da vida, assim simplesmente, o livro da vida; em outra parte diz que estão escritos no livro, simplesmente o livro; em outro diz o livro da vida; outros versos dizem o livro da vida do Cordeiro; então não é uma coisa simples, é uma coisa complexa. Algo que tem já do passado, algo que se está escrevendo agora, algo que se pode apagar, algo que vai se escrever depois.

Então vamos ver esses distintos versos. Este primeiro mostra ao Moisés ter, já na presença de Deus, uma revelação do livro. Moisés não tinha falado nunca disto, mas agora Moisés diz: “seu livro que tem escrito”; ou seja, que Deus tem escrito um livro no qual figurava Moisés; não sabemos se este era o livro da vida onde estava o nome sozinho, ou o que em outras passagens diz os livros onde se escrevem nossas obras; aqui ele o menciona como um só livro.

Parece que Moisés não faz diferença entre um livro de nomes e um livro de obras, mas ele o chama livro. Bom, então nos toca ficar ainda com a pergunta, que livro era este? o dos nomes, o da vida, ou o das obras? Há também outras menções que vamos ver, onde se fala do livro da verdade onde está escrita de antemão a história que vai acontecer depois; isso está em Daniel, e está também o livro das memórias onde se escreve o que nós fazemos a favor da causa do Senhor e por amor a Ele; isso se escreve e se está escrevendo; esse se chama o livro das memórias; o vamos ver também. Por agora fiquemos aqui com a resposta do Senhor que é uma resposta séria: “33 E Jeová respondeu a Moisés: Ao que pecar contra mim, a este riscarei eu de meu livro”; ou seja que Deus sabia, porque Ele é onisciente, que no futuro alguns nomes seriam tirados desse livro; entretanto estavam escritos porque o Senhor disse: “Ao que pecar contra mim, a este riscarei eu de meu livro”; coloca o riscarei como no futuro; ou seja que enquanto não tenha pecado contra Ele, não foi tirado, mas se peca vai ser tirado, e diz o Senhor mesmo. “Ao que pecar contra mim, a este riscarei eu de meu livro”.

O LIVRO DOS VIVENTES

Então, a respeito, eu quisera que vocês me acompanhásseis ao Salmo 69, onde há umas palavras de Davi pelo Espírito de Cristo, porque este é um Salmo messiânico, onde se refere a essas pessoas que estavam no livro dos viventes e que são tiradas por recusar a Cristo. Vamos ao Salmo 69, vamos ler do versículo 28 onde está a frase chave do que estamos tratando; mas quisera eu que para entender melhor essa frase tenhamos em conta o contexto do Salmo. Em primeiro lugar diz: “Ao músico principal; sobre Lírios. Salmo de Davi”; aqui neste Salmo há umas frases que são messiânicas, proféticas, onde Davi fala, mas é o Espírito de Cristo em Davi; porque, por exemplo, diz o versículo 19 (parecesse que fora Cristo na cruz): “19 Tu sabes minha afronta, minha confusão e meu opróbrio; diante de ti estão todos meus adversários. 20 O escárnio quebrantou meu coração, e estou triste. Esperei quem se compadecesse por mim, e não o houve; e consoladores, e nenhum achei.

21 De alimento me deram fel, e em minha sede me deram a beber vinagre”. Todos sabemos que este é um Salmo messiânico; embora o falou Davi, era o Espírito de Cristo em Davi, prefigurando o que ia passar Cristo na cruz. “Deram-me a beber vinagre”, disse o Senhor; e isso se cumpriu; mas o curioso é o que contínua dizendo Davi pelo Espírito no verso 22; ou seja, o castigo que vem aos recusadores de Cristo; diz: “22 Seja seu convite diante deles por laço, e o que é para bem, por tropeço.

23 Sejam obscurecidos seus olhos para que não vejam, e faz tremer continuamente seus lombos. 24Derrama sobre eles sua ira, e o furor de sua irritação os alcance. 25Seja seu palácio assolado; em suas lojas não haja morador”. por que? por que esse castigo? “26 Porque perseguiram ao que tu feriste, e contam da dor dos que você ulcerou. 27 Põe maldade sobre sua maldade, e não entrem em sua justiça. 28 Sejam riscados do livro dos viventes, e não sejam escritos entre os justos”. Esta é uma frase séria; aqui se fala de um livro dos viventes onde já estavam escritos os que foram recusar a Cristo; porque se não como vão ser riscados? Mas por quanto recusaram a Cristo, sejam riscados do livro dos viventes; e a outra frase é com respeito ao futuro: “não sejam escritos entre os justos”, como se não somente os justos viessem escritos, mas sim como se fora a haver uma escritura futura dos justos; e agora diz quanto ao livro dos viventes: sejam riscados; quer dizer que estavam; e quando os justos vão ser escritos depois, outra vez, então não sejam escritos lá; ou seja que nos damos conta de que o assunto do livro é uma coisa complexa, não é simples. Aqui fala de coisas que se escreveriam no futuro. Aqui fala dos justos; não é que não vá haver conhecimento a respeito dos ímpios.

ESCRITOS NO PÓ

Quisera eu que vocês acompanhassem outro versículo que está em Jeremias 17:13; vamos ler esse misterioso verso ali. “OH Senhor, esperança de Israel! todos os que te deixam serão envergonhados e os que se separam de mim serão escritos no pó, porque deixaram ao Senhor, manancial de águas vivas”. Coisa curiosa! Sim são escritos, mas não nos céus; a congregação dos primogênitos está inscrita nos céus, mas estes que deixam ao Senhor, diz, “serão escritos no pó”; e sabemos o que significa o pó na Bíblia. Quando o homem pecou, Ele disse: “Pó és, e ao pó tem que voltar”; ou seja, voltar para pó é a morte. Ser escritos no pó quer dizer que são condenados à morte, não só à primeira morte, porque quase todos os justos morrerão, mas a segunda morte é mais grave, e aqui se fala do pó; pode ser a primeira morte, mas implicará também a segunda? Perguntamo-nos. Deus sabe.

NOMES ESCRITOS NOS CÉUS

Agora vamos ver outros versos neste contexto, onde se fala da inscrição nos céus. Está em Lucas 10:20; é para que os irmãos tenham os versos e depois repassar por você mesmo este assunto: Diz que quando vieram os setenta regozijando-se, diziam: Senhor, até os demônios nos sujeitam em seu nome; e o Senhor lhes diz: “20 Mas não se regozijem de que os espíritos vos sujeitam”.

Por que não? Porque haverá alguns ateliês de iniqüidade a quem também às vezes se sujeitaram os demônios; então, não se alegrem por expulsar demônios; porque alguns vão dizer naquele dia: Senhor, acaso não expulsamos demônios em seu nome? e o Senhor lhes dirá: praticantes de iniqüidade; ou seja que por expulsar demônios, por sanar doentes e por profetizar não terá que alegrar-se. “20 Mas não vos regozijem de que os espíritos vos sujeitam, a não ser (disto é do que terá que regozijar-se) vos regozijeis de que seus nomes estão escritos nos céus”; não no pó, a não ser nos céus. Essas são palavras do Senhor Jesus e que somente registra Lucas e em Hebreus. Vocês sabem que eu pessoalmente acredito que Hebreus o escreveu Lucas também. Leiamos Hebreus 12:23; vamos ver o contexto dessa expressão da seguinte maneira. Leio do 22: “22 Mas tendes chegado ao monte Sião e à cidade do Deus vivo, a Jerusalém celestial, e a incontáveis hostes de anjos, e à universal assembléia 23e igreja dos primogênitos arrolados nos céus, e a Deus, o Juiz de todos, e aos espíritos dos justos aperfeiçoados
”. O mesmo que dizia Jesus, registrado por Lucas: “ regozijai-vos de que seus nomes estejam escritos nos céus”, e aqui fala da congregação dos primogênitos, cujos nomes estão inscritos nos céus. Agora, o curioso é que aqueles do Salmo 69 que recusavam ao Messias, foram riscados do livro dos viventes e não escritos com os justos; fala-se de uns nomes que estavam e que seriam apagados; mas esses não eram salvos porque foram os que recusaram a Cristo; ou seja que quando Deus fez ao homem não o fez para o inferno. Deus fez o inferno para o diabo e seus anjos. A vontade de Deus é que todos os homens sejam salvos, mas havia pessoas que estavam nesta seção chamada “o livro dos viventes”, que foram recusar a Cristo e seu nome ia ser riscado e não estava no livro por ter aceito a Cristo, estavam porque foram pessoas criadas para Deus; mas ao recusar a Cristo, foram riscados, e aquele que diz o Senhor: Aquele que pecar contra mim, a esse riscarei eu de meu livro; quer dizer que já estava no livro.

O CENSO DE TODA HUMANIDADE

Então há uma seção do livro, do livro dos viventes, onde estavam escritos os nomes das pessoas que depois foram pecar e foram recusar a Cristo, e foram ser apagados; esses viventes não eram viventes com a vida de Cristo, nem com a vida do Cordeiro, a não ser viventes com a vida natural; mas Deus, certamente, tem contados até nossos cabelos, não terá contadas todas as criaturas que Ele criou? Certamente que sim também. Notem que até a Israel mandou fazer um censo terrestre, e houve um censo no Sinai, e logo, quando se trocou a geração, Deus mandou a fazer outro censo em Moabe e houve outro censo; então se existirem aqui na terra censos nos registros terrestres, não haverá registros celestiais de todas as criaturas também? Então eu me pergunto: Atendendo essa seção do Salmo 69:28 que fala do livro dos viventes, onde há nomes de pessoas que recusariam a Cristo e que por isso seriam riscadas do livro, não quer dizer que os nomes de todos os seres humanos estavam escritos para receber ao Messias e ficariam se o recebessem, e seriam apagados se o recusassem? Então, vemos que essa é uma seção que não se refere aos que receberam a Cristo; dão-se conta? É uma seção diferente. Agora, temos lido que existem uns nomes escritos nos céus pelo qual terão que se regozijar; certamente que não é a mesma seção do livro dos viventes; por quê? Porque aqui se refere aos que já são salvos. Agora, a Bíblia fala de nomes escritos no livro da vida e da vida do Cordeiro; vamos ver esses versículos.

O LIVRO DA VIDA DO CORDEIRO

Vamos a Apocalipse 13:8, e vamos comparar o com Apocalipse 17:8. vamos ter os dois juntos à mão, porque é necessário interpretar um com o outro, porque se não possivelmente o vamos interpretar mau; essa é uma regra de sã hermenêutica. Uma regra para interpretar sadiamente é que quando há uma passagem conflitiva, onde não se sabe como interpretá-la se assim ou assado, precisa-se procurar outras passagens complementares paralelas, que tratem do mesmo assunto para podê-las interpretar com a ajuda do outro versículo. Se lermos só o 13:8 e o tratamos de interpretar sozinho, sem o 17, podemo-lo interpretar equivocadamente. Diz Apocalipse 13:7,8 assim: “7 E foi permitido (essa é a besta, o anticristo final) fazer guerra contra os Santos, e vencê-los. Também lhe deu autoridade sobre toda tribo, povo, língua e nação. 8 E adoraram (à besta) todos os moradores da terra cujos nomes não estavam escritos no livro da vida do Cordeiro que foi imolado, desde o começo do mundo”. Não sei se deram conta do tom como li isto. Volto e leio: “E a adoraram todos os moradores da terra cujos nomes não estavam escritos no livro da vida do Cordeiro que foi imolado, desde o começo do mundo”. Por que faço esta pausa em imolado? Se não tivesse lido o 17, possivelmente o tivesse lido de outra maneira; tivesse-o lido assim: “não estavam escritos no livro da vida do Cordeiro que foi imolado desde o começo do mundo”. A quem se refere este desde o começo do mundo? Ao Cordeiro, ou aos que estavam escritos no livro da vida? Essa é a pergunta. Pode-se interpretar que este desde o começo do mundo, refere-se ao Cordeiro que foi imolado; ou se pode interpretar aos nomes escritos no livro da vida; olhem duas maneira como se pode ler.

Se só olharmos o capítulo 13, pode-se ler de duas maneiras; uma, cujos nomes não estavam escritos no livro da vida do Cordeiro que foi imolado desde o começo do mundo; ou seja, que aqui desde o começo do mundo se refere ao Cordeiro imolado desde o começo do mundo; ou se pode ler também assim: escritos no livro da vida do Cordeiro que foi imolado, desde o começo do mundo; ou seja, escritos desde o começo do mundo, ou imolado desde o começo do mundo. Então qual dos dois vamos escolher? E se é imolado desde o começo do mundo, ou escritos desde o começo do mundo. Se interpretarmos isto com a ajuda do 17, damo-nos conta de que se refere aos nomes escritos desde o começo do mundo; não ao Cordeiro, a não ser aos nomes. Por isso, quando há uma passagem difícil, terá que tomar outro paralelo que fala do mesmo e se interpreta.

Então, vamos a Apocalipse 17:8, onde fala do mesmo, fala da besta, do anticristo. Diz: “A besta que viu, era, e não é; e está para subir do abismo e ir a perdição; (esse é o anticristo do outro lado) e os moradores da terra, aqueles cujos nomes não estão escritos da fundação do mundo no livro da vida, assombrar-se-ão vendo a besta que era e não é, e será”. Então, pelo capítulo 17 nos damos conta de que são os nomes que não estavam escritos desde o começo do mundo no livro da vida, os que vão adorar à besta; os que não estavam. Então, com o 17 nos esclarece em qual sentido interpretar o 13:8. Com o 17:8 nos ajudamos a ver qual escolhemos na balança: Se for o Cordeiro imolado desde o começo do mundo, ou os nomes escritos no livro da vida do Cordeiro imolado, escritos desde o começo do mundo. Qual escolher? Com a ajuda do 17, somos inclinados a escolher aos nomes que não estavam escritos desde o começo do mundo no livro da vida. No 13 diz “no livro da vida do Cordeiro”, e aqui diz só “o livro da vida”, e se refere aos mesmos; quer dizer que o livro da vida do Cordeiro está no livro da vida. Não sabemos se o Livro da Vida seja mais extenso que o Livro da Vida do Cordeiro, ou o Livro da Vida tem uma seção que é a do Cordeiro e outra a dos viventes, que estavam antes e que foram apagados; por isso a palavra o livro da vida, é algo amplo; dão-se conta? O livro da vida, o livro da vida do Cordeiro, o livro dos viventes; mas o contexto do Salmo 69:28 do livro dos viventes, refere-se a pessoas que estavam escritas, seres humanos que foram rechaçar a Cristo e por isso foram ser apagados; ou como dizia o Senhor a Moisés: Ao que pecar contra mim, a este riscarei de meu livro; mas vemos que aqui está falando desses que se separam do Senhor que serão inscritos no pó; mas fala de outros que estão inscritos nos céus e cujos nomes estão no livro da vida, e da vida do Cordeiro.

DESDE O PRINCÍPIO DO MUNDO

Olhemos outro detalhe: Quando foram escritos estes nomes no livro da vida, ou da vida do Cordeiro? Certamente que se vermos a gramática do verso, dá a impressão de que estivessem sendo escritos ao longo da história. Veja-o outra vez; leiamos o 17:8; diz: “.... os moradores da terra, aqueles cujos nomes não estão escritos da fundação do mundo no livro da vida, assombrar-se-ão vendo a besta que era e não é, e será”; não diz aqui desde antes da fundação do mundo; isso sim seria diferente; claro, em Efésios fala de escolhidos desde antes da fundação do mundo; certamente Deus sabe; “teus eram, e me destes isso”; claro, Deus sabe. Se souber quantos são os cabelos de cada ser humano, se souber quantas são as folhas de cada árvore, como não vai saber os nomes dos seus? Se Ele souber inclusive os que têm que morrer. Quando consolou àqueles sob o altar; eles diziam: “Até quando, Senhor, santo e verdadeiro, não julga e vinga nosso sangue dos que moram na terra?” E lhes disse: esperem até que se complete o número dos que têm que ser mortos assim como vós; ou seja que o Senhor, já desde antes, sabia um número exato das pessoas que foram morrer. Certamente que o Senhor conhece os seus desde antes. Por isso diz: “29 Porque aos que antes conheceu, também os predestinou para que fossem feitos conforme à imagem de seu Filho, para que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. 30 E aos que predestinou, a estes também chamou; e aos que chamou, a estes também justificou; e aos que justificou, a estes também glorificou”. Isso já sabe Deus da eternidade. Não estamos negando o aspecto da presciência de Deus, e da eleição de Deus, e da predestinação de Deus, e da ordenação de Deus. Acreditaram os que estavam ordenados para vida eterna; e o Senhor acrescentava cada dia à igreja os que tinham que ser salvos; não estamos negando esse aspecto; mas aqui, pela maneira como está escrito, não diz que é antes da fundação do mundo, a não ser desde; no 13 também o diz assim. No 13:8 diz da mesma maneira: “desde o princípio do mundo”; não antes da fundação do mundo, a não ser desde; ou seja que a partir do princípio do mundo, os nomes foram escritos. Possivelmente foram sendo escritos na medida que as pessoas recebiam ao Senhor ou acreditavam nele. Não quero negar isso, que Deus conheça, que tenha eleito, destinado; o que estamos vendo é a gramática; não fala de antes, a não ser desde; nomes escritos desde; ou seja que desde que se fundou o mundo, os nomes foram escritos, da fundação do mundo. Mas poderia entender-se também que à fundação do mundo já estavam os nomes, e portanto estão escritos desde a fundação do mundo.

O LIVRO DA VIDA

Agora, olhemos outros versículos que nos ajudam a entender isto um pouquinho. Vamos a Filipenses 4:3 onde Paulo, assim como Jesus, tinha a certeza de que os nomeie de seus apóstolos, aqueles 70 e outros como eles, estavam escritos nos céus. São Paulo aqui na terra já tinha essa fé em relação a seus companheiros. Olhem o que diz Filipenses 4:3; ali fala Paulo aos Filipenses: “Deste modo rogo a ti, (este é Lucas) companheiro fiel”. Paulo diz a isto Lucas: “Deste modo rogo a ti, companheiro fiel, que ajude a estas (a Evódia e Síntique, estas amadas irmãs que tinham problemas) que combateram junto comigo no evangelho, (e tinham problemas) com Clemente também e outros meus colaboradores, cujos nomes (e esse “cujos”, eu acredito que inclui a Síntique e a Evódia, junto com o Lucas e Clemente e outros companheiros) estão no livro da vida”. Vemos que Paulo tinha a certeza de que os nomes desses irmãos já estavam no livro da vida; assim como também Jesus disse: não vos regozijem de que os demônios vos sujeitam, mas sim seus nomes estão escritos nos céus. Coisa interessante essa, verdade, irmãos? Mas agora vamos ver uns versos onde se fala de um momento no futuro, pelo contexto parece ser no momento da vinda do Senhor, quando se escrevem outra vez os nomes. Há uns que estavam escritos e foram apagados por rechaçar ao Senhor ou pecar contra Ele. Outros que são ou estão escritos desde o começo do mundo no livro da vida e da vida do Cordeiro, dos quais Jesus reconheceu aos 70 e a outros com eles, e o mesmo Paulo reconheceu a seus companheiros no livro da vida. Mas há uns versos que nos falam de uma escritura futura, como se o que foi escrito tivesse que ser confirmado depois de todo o caminho até a vinda do Senhor.

LIVROS DINÂMICOS

Em primeiro lugar, recordemos o que já lemos no Salmo 69 onde não só diz que os riscasse do livro dos viventes, mas também não fossem escritos entre os justos; ou seja, que no futuro, Deus escreverá os nomes dos justos; quer dizer, é como uma escritura definitiva.

Digamos que esses livros são livros móveis, inclusive o das obras; ou seja, os anjos escrevem suas obras: se pecou, ali estão escritos seus pecados; se te arrependeu e creste no sangue de Cristo é apagado, já Deus não se lembra de seus pecados; mas volta e pecas, volta e se escreve; arrepende-te e crê, volta e se apaga; ou seja, que esses livros não são imóveis; são muito dinâmicos. Diz a Escritura que os mortos serão julgados conforme ao escrito nos livros. Quando vem o julgamento de cada um no trono branco, segundo o escrito no livro por suas obras, são julgados. Agora, são condenados não por suas obras, mas sim por não estar no livro da vida; por isso são condenados; mas em apóio a que são julgados? Em suas obras; sua incredulidade e suas obras fizeram que seu nome não estivesse no livro da vida; é como se houvesse uma relação nessas duas coisas, porque são julgados pelas obras, mas se vão ao lago de fogo por não estar no livro da vida; ou seja que tem que haver uma relação.

O LIVRO DA CASA DE ISRAEL. UMA INSCRIÇÃO FUTURA

Então, vamos a um versículo onde o Senhor vê o que está escrito e diz o seguinte em Ezequiel; e depois veremos a escritura futura. No contexto dos falsos profetas, em Ezequiel 13:9 o Senhor está falando dos falsos profetas, de que quando chegar o momento de ser escritos os nomes, eles não vão estar ali.

Lemos Ezequiel 13:8,9, para ter o contexto imediato: “8 Por tanto, assim há dito Jeová o Senhor: Por quanto vós (esses vós, são os falsos profetas) falastes vaidade, e viram mentira, portanto, eis aqui eu estou contra vós, diz Jeová o Senhor. 9 Estará minha mão contra os profetas que vêem vaidade e adivinham mentira; não estarão (note o futuro do verbo) na congregação de meu povo, nem serão inscritos (futuro) no livro da casa do Israel, nem à terra de Israel voltarão; e saberão que eu sou Jeová o Senhor”. Então esta expressão do Senhor: “nem serão inscritos no livro da casa do Israel”, significa que haverá no futuro, quando o Israel voltar para sua terra para começar a receber ao Messias e o reino messiânico, o milênio, haverá uma inscrição, mas os falsos profetas que mentiram em Israel, não estarão na congregação, nem serão inscritos. Aqui está falando de uma inscrição futura. Por isso lhes dizia, parece que há coisas que já estavam escritas, nomes que estavam escritos, coisas que se estão escrevendo e coisas que se escreverão no futuro; não é algo simples; é algo em etapas. Aqui diz em futuro: “nem serão escritos no livro da casa de Israel”. O Senhor escreverá por etnias, porque diz a Escritura que de toda etnia, tribo, povo, língua e nação, Ele tem gente. Aqui se referiu à inscrição dos da etnia de Israel, mas há outras passagens onde se refere à inscrição das outras etnias; uma inscrição futura.

Então vamos ver isso também em Salmo 87, neste contexto da inscrição futura. Salmo 87:6. Vamos ler todo o Salmo que é curto: “1A os filhos do Coré. Salmo. Cântico. Seu alicerce (vem falando da cidade de Deus) está no monte santo. 2 Ama Jeová as portas de Sião mais que todas as moradas de Jacó. 3 Coisas gloriosas se hão dito de ti, cidade de Deus.” Notem, está falando para o futuro, para a cidade de Deus; podemos dizer, à Nova Jerusalém. “4 Eu me lembrarei de Raabe (olhem esta frase do Senhor; está falando da cidade de Deus, mas se lembra de outros) e de Babilônia entre os que me conhecem; (haverá gente de Raabe e de Babilônia que chegará a conhecer senhor, dos quais o Senhor se lembrará) eis aqui Filistéia (Palestina) e Tiro, (Fenícia, Líbano) com Etiópia; este nasceu lá. 5E de Sião se dirá: Este e aquele nasceram nela, e o Altíssimo mesmo o estabelecerá. 6Jeová contará ao inscrever aos povos. Este nasceu ali”. Fixem-se em que há uma inscrição futura não só de Israel; Israel é, como dizer, o primogênito; Sião é a capital; mas não só estará escrita gente da capital, mas também de Raabe, da Babilônia, da Filistéia, de Tiro, de Etiópia e dos povos. No mesmo contexto da inscrição dos povos põe no meio de Sião.

Havia dito: “Eu me lembrarei do Raabe e da Babilônia entre os que me conhecem; eis aqui Filistéia e Tiro, com Etiópia; este nasceu lá”; ou seja, Deus está dizendo: este é da Filistéia; porque quem fez a Filistéia a não ser o Senhor? quem fez a Babilônia? Estes são os da Babilônia, estes são os de Tiro, estes são os de Sião, estes são os da Colômbia, estes são os do Equador, e não só nações mas também etnias; estes são os zulus, estes os bantúes, estes os paisas, estes os costeiros, etc., porque diz: etnias; a palavra nação no sentido bíblico é a etnia. De toda tribo, povo, língua e etnia o Senhor tem gente escolhida; mas o curioso é que aqui aparecem sendo inscritos no futuro. Os falsos profetas não serão inscritos no livro da casa de Israel, como sim os inscritos para o Israel e a cidade Santa estão em uma seção do livro que corresponde a Israel; mas há outra seção que corresponde a Tiro, outra seção que corresponde a Babilônia, outra que corresponde a Filistéia, outra que corresponde a cada um dos povos, a cada uma das línguas, etc. Então nos damos conta de que este livro não é algo simples. Desde o começo do mundo se está escrevendo e vem escrito, mas se escreverá algo específico a partir da vinda do Senhor para o reino do milênio e a Nova Jerusalém; outros já vinham escritos, mas ao chegar o julgamento final, não apareceram escritos, foram riscados. Há duas causas pelas quais o Senhor menciona que os riscasse do livro: porque rechaçaram ao Senhor e porque pecaram contra Jeová. Então, irmãos, esses versículos são interessantes, verdade?

O LIVRO DAS OBRAS

vamos tomar uns minutos para ver outros versos que se referem aos outros livros; porque quando falamos destes, é necessário também falar dos outros para não fazer a confusão; amém? Então, vamos ver primeiro em Daniel, capítulo 7, onde pela primeira vez se mencionam esses livros das obras pelos quais vai se julgar às pessoas. Daniel 7:10. É o capítulo que trata da profecia das bestas e ao final do reino do Senhor. depois de descrever todas as bestas, apresenta a vinda do Senhor, no verso 9, quando o Ancião de dias põe os tronos e se estabelece o julgamento para o milênio e chega no versículo 10, no contexto do julgamento, e diz: “Um rio de fogo procedia e saía diante dele; milhares de milhares lhe serviam, e milhões de milhões assistiam diante dele; o Juiz se sentou, e os livros foram abertos”. Aqui fala não de um só livro, mas sim de vários livros no dia do julgamento; amém? Este verso é desenvolvido em Apocalipse. Então, vamos a Apocalipse 20:12,15.

Apocalipse 20, faz referência com Daniel 7. No contexto do julgamento do trono branco, depois do milênio, lemos Apocalipse 20:11,12: “11 E vi um grande trono branco e ao que estava sentado nele, de diante do qual fugiram a terra e o céu, e nenhum lugar se encontrou para eles.

12E vi os mortos, grandes e pequenos, de pé ante Deus, e os livros foram abertos, e outro livro foi aberto”; ou seja que este outro, que é o da vida, é distinto a outros; e isso das obras não é um sozinho, a não ser são vários. Há várias coisas registradas no livro, e não é um só livro, a não ser muitos livros; mínimo cada pessoa tem um livro ou uma biblioteca. Todos nossas intenções, palavras, pensamentos; diz-se que cada palavra que dizemos será julgada; isso está em um livro; ou seja que há anjos que estão tomando nota todo o dia; há umas bibliotecas imensas nos céus para cada um dos milhões e milhões de pessoas que existimos.

E do julgamento diz: “os livros foram abertos, e outro livro foi aberto, o qual é o livro da vida; e foram julgados os mortos pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo suas obras”. Todas nossas obras estão escritas em livros. “13 E o mar entregou os mortos que havia nele; e a morte e o Hades entregaram os mortos que havia neles; e foram julgados cada um segundo suas obras. 14E a morte e o Hades foram lançados ao lago de fogo. Esta é a segunda morte. 15 E o que não se achou inscrito no livro da vida foi arrojado ao lago de fogo”. Agora, isto me faz pensar em umas perguntas que as deixo pra vocês. Aqui no julgamento do trono branco todo mundo vai ser julgado por suas obras, mas os que não se acharem no livro da vida vão ao lago de fogo; mas minha pergunta é: já que não vai se julgar somente pelo livro da vida, mas sim pelos livros das obras, e o que não se achar vai ao lago de fogo; e o que se achar, é minha pergunta, será que haverá alguns que não qualificaram pelo tribunal de Cristo, mas que depois do milênio são julgados no trono branco e seus nomes estão no livro da vida? Só faço a pergunta, porque não podemos doutrinar com silêncios; qualificará no trono branco? Ou será que nenhum dos que vão ao trono branco, estará no livro da vida? Essa é a pergunta que os deixo; porque aqui diz assim: “que não se achou inscrito no livro da vida...”; mas será que ao dizer: “que não se achou”, está implicando que alguns sim se acharam no trono branco? Por isso não podemos dogmatizar apoiados no silêncio, mas sim podemos perguntar, por isso o deixo a nível de pergunta, só a nível de pergunta.

O LIVRO DA VERDADE

Voltemos agora para Daniel, para ver outros livros onde havia coisas escritas antes de que acontecessem, esse livro onde a história está escrita de antemão; a esse livro lhe chamam o livro da verdade.

Que coisa misteriosa! A história que tem que acontecer no futuro já escrita no livro da verdade, antes de que aconteça. Que coisa misteriosa são estes livros, verdade? Mas estamos falando desses livros; terá que lê-lo, terá que o ter em conta e não confundi-lo com outros; por isso o lemos. Daniel capítulo 10:21. Aqui lhe aparece o anjo para lhe revelar toda a profecia dos capítulos 11 e 12; mas antes de lhe revelar toda a história que está profetizada nos capítulos 11 e 12; olhem esta declaração do anjo, Daniel 10:21: diz o anjo ao Daniel: “21 Mas eu te declararei o que está escrito no livro da verdade; e ninguém me ajuda contra eles, a não ser Miguel seu príncipe. 1 E eu mesmo, no primeiro ano de Dario o medo, estive para animá-lo e fortalecê-lo. 2E agora eu te mostrarei a verdade. Eis aqui que ainda haverá três reis na Pérsia, e o quarto se fará de grandes riquezas mais que todos eles; e ao fazer-se forte com suas riquezas, levantará todos contra o reino da Grécia. 3Se levantará logo um rei...”; e logo tal e logo, e segue todo o capítulo 11 descrevendo a história até a vinda de Cristo. Já estava escrita a história no livro da verdade e o anjo lhe diz: Vem Daniel, eu te mostrarei o que está escrito no livro da verdade; ou seja que há coisas que se estão escrevendo, coisas que vão se escrever e coisas que já estavam escritas.

Agora, não só disto da história se diz que já estava escrita; não somente a história, digamos social, política ou religiosa; a história biológica de suas células estava escrita. Vamos ler isso em Salmo 139:16; vamos ler do 13 para entender o contexto; olhem o que diz do 13, onde está falando David pelo Espírito Santo a Deus: “13Porque você formou minhas vísceras; você me fez no ventre de minha mãe. 14Te louvarei; porque formidáveis, maravilhosas são suas obras; estou maravilhado, e minha alma sabe muito bem. 15 Não foi encoberto de ti meu corpo, bem que em oculto fui formado, e entretecido no mais profundo da terra. 16 Meu embrião viram seus olhos, e em seu livro estavam escritas todas aquelas coisas que foram logo formadas, sem faltar uma delas. 17Quão preciosos me são, OH Deus, seus pensamentos! Quão grande é a soma deles!” Aqui pelo Espírito Santo, Davi está dizendo que todas suas células em embrião, sua formação no ventre de sua mãe desde que se uniu virtualmente o esperma com o óvulo, começou a multiplicação das células e a formação do pequeno feto, tudo já estava escrito no livro de Deus. Em seu livro estavam escritas todas estas coisas; é como se Deus notificasse que conhece o DNA; e como não, de todos os seres humanos, e se desenvolve segundo um plano de Deus escrito. Em seu livro estavam escritas todas estas coisas; ou seja que havia coisas que estavam escritas no livro de Deus, toda nossa formação, a de cada um de nós; mas Jó diz uma coisa misteriosa. Vamos ao livro de Jó, ao capítulo 13:26; penso que não vou ler a não ser esse verso para não confundir aos irmãos. Diz Jó de Deus no capítulo 13:26: “por que escreve contra mim amarguras, e me faz cargo dos pecados de minha juventude?” Olhem essa frase de Jó: “por que escreve?”; e agora o diz em presente, escreve contra mim amarguras; ou seja que Jó sofria coisas, mas ele considerava que o que ele estava sofrendo era que Deus o estava escrevendo ou que o tinha escrito; ou seja, que o que Deus escrevia a Jó acontecia. Então, há coisas que vão ser escritas no futuro, outras que se estão escrevendo, outras que estavam escritas; havia nomes escritos, viventes escritos, a história estava escrita; a formação, o desenvolvimento da vida de cada um no ventre de sua mãe estava escrito; e há coisas que se estão escrevendo desde o começo do mundo e que se estão escrevendo agora, e coisas que vão se escrever no futuro; ou seja que estes são livros bem profundos.

O REMANESCENTE DE ISRAEL

Agora, olhemos outra vez Daniel, mas vamos a outro verso. Daniel 12:1: “Naquele tempo se levantará Miguel, o grande príncipe que está de parte dos filhos de seu povo; e será tempo de angústia, qual nunca foi desde que houve gente até então; mas naquele tempo será libertado seu povo, todos os que se achem escritos no livro”. Aqui fala de gente que será libertada no futuro de Israel; digamos os 144.000 selados das tribos de Israel, os que serão libertados à vinda do Senhor, quando se levantar Miguel como em Apocalipse 12; mas diz que esses estavam já no livro, e que inclusive, quando João ouviu o número dos selados, eram 144.000 das tribos de Israel; 12.000 de tal tribo, 12.000 de tal tribo, 12.000 de tal tribo; quer dizer que eram escolhidos, porque se tivesse sido deixado somente ao livre-arbítrio sem a eleição, poderiam ser 25 lá, 37 lá, 58 lá, 1500 para cá; mas não, são 12.000, 12.000, 12.000, 12.000. É o que diz Paulo: um remanescente escolhido por graça; ou seja, que isso também está escrito no livro. Diz aqui, “todos os que se achem escritos no livro”; ou seja, que esses que vão ser libertados já estavam escritos; como os que vão ser salvos já estão ordenados para vida eterna e tinham que ser salvos; “teus eram e me destes esses, e guardaram sua palavra, e acreditaram que eu saí de Ti, de Deus eram e me destes esses. Que misterioso! Deus sabe tudo e entretanto está escrevendo. Há coisas escritas da eternidade e coisas escritas segundo nossas obras e coisas que têm que ser escritas; ou seja que há uma combinação da eternidade com o tempo, da eleição divina com a responsabilidade humana; tudo isso está escrito junto; é um livro complexo, verdade? São livros complexos.

O LIVRO MEMORIAL

vamos ver outro aspecto do que está sendo escrito. Vamos a Malaquias 3:16. Isto é muito precioso, isto também está escrito.

Leiamos Malaquias 3:13-16, para ter o contexto: “13Vossas palavras contra mim foram violentas, diz Jeová. (Alguns israelitas, muitos) E disseram: O que falamos contra ti? 14Haveis dito: Muito é servir a Deus. O que aproveita que guardemos sua lei, e que andemos afligidos na presença de Jeová dos exércitos? 15 Dizemos, pois, agora: Bem-aventurados são os soberbos, e os que fazem impiedade não só são prósperos, mas também tentaram a Deus e escaparam. (Ele sabe o que muitos dizem) 16Então (enquanto uns diziam isso, outros diziam o seguinte) os que temiam a Jeová falaram cada um com seu companheiro; e Jeová escutou e ouviu, e foi escrito um livro memorial diante dele para os que temem a Jeová e para os que pensam em seu nome. 17 E serão para mim especial tesouro, há dito Jeová dos exércitos, no dia em que eu atue; e os perdoarei como o homem que perdoa a seu filho que lhe serve. 18Então voltarão, e discernirão a diferença entre o justo e o mau, entre o que serve a Deus e o que não lhe serve”. Aqui se chama livro memorial. Quando você fala com um irmão de querer seguir ao Senhor, de lutar embora o mundo esteja atirando a toalha e rebelde contra o Senhor. Não, sigamos ao Senhor; Deus ouviu e foi escrito livro memorial. “Serão para mim especial tesouro”. Que precioso, verdade?

TUDO ESTA ESCRITO

Agora, olhemos outras coisas que também Deus ouve. Isaías 65:6; não somente Deus ouve e se escreve o bom e o ânimo que se dão uns aos outros os fiéis, mas também se escreve o que os infiéis se animam para o mal; isso também se escreve. Isaías 65:6; ali em toda essa passagem fala do castigo aos rebeldes, e olhe dos quais fala aqui do verso 3: “povo que de contínuo me irrita abertamente, sacrificando em jardins e queimando incenso sobre altares de tijolos; 4que mora entre as sepulturas e passa as noites em lugares misteriosos; come carne de porco e tem no seu prato ensopado de carne abominável; 5povo que diz: Fica onde estás, não te chegues a mim, porque sou mais santo do que tu. És no meu nariz como fumaça de fogo que arde o dia todo. 6Eis que está escrito diante de mim, e não me calarei; mas eu pagarei, vingar-me-ei, totalmente.” Aqui outra vez se vê a relação do galardão e as obras, e o escrito nos livros das obras, o galardão negativo, verdade? Ou seja, o castigo: eis aqui está escrito diante de mim; ou seja que o bom está escrito, o mau está escrito. Agora, se nos arrependermos com fé em Cristo, diz Deus, que jogará ao mar do esquecimento nossos pecados e nunca mais me lembrarei deles; mas se nós não confessamos nossos pecados, seguem escritos e nos encontraremos com eles no julgamento; no tribunal de Cristo, uns, e no julgamento do trono branco, outros. O fato é que tudo está escrito.

Olhemos outros versos mais para terminar aqui, do Senhor Jesus, o que Ele faria. Também estava escrito, não só as profecias, mas também como diz aqui o Salmo 40:6-8: “6Sacrifícios e ofertas não quiseste; abriste os meus ouvidos; holocaustos e ofertas pelo pecado não requeres. 7Então, eu disse: eis aqui estou, no rolo do livro está escrito a meu respeito; 8agrada-me fazer a tua vontade, ó Deus meu; dentro do meu coração, está a tua lei”. O mesmo diz Hebreus 10:5-7, referidos precisamente a esta profecia; essa é uma profecia onde se troca o Antigo Pacto pelo Novo Pacto. Hebreus 10:5-7: “5Por isso, ao entrar no mundo, diz: Sacrifício e oferta não quiseste; antes, um corpo me formaste. 6não te deleitaste com holocaustos e ofertas pelo pecado (o que era segundo o Antigo Pacto). 7Então, eu disse: Eis aqui estou (no rolo do livro está escrito a meu respeito), para fazer, ó Deus, a tua vontade”. Isto também estava escrito em livros; a glória de Deus está escrita, não só em livros, está escrita nos astros, está escrita na noite. Diz: olhe as estrelas, elas lhe contarão, o céu anuncia a obra de suas mãos e uma noite envia mensagem a outra noite; há uma mensagem escrita também nos céus de parte do Senhor; ou seja que, irmãos, Deus é soberano, Deus conhece todas as coisas; todas nossas células estão dirigidas Por Deus, o que se desenvolve está escrito; até a história está escrita; e entretanto, não quer dizer que haja determinismo; há pré-conhecimento, mas há responsabilidade e liberdade; mas Deus não tem que esperar para saber; Ele sabia o que é o que faria Judas; já estava escrito o que faria Judas; e entretanto, Deus não obrigou ao Judas; Judas foi livre e o fez, mas já Deus sabia e por isso estava escrito. Nisso se conhece que Deus é Deus, que conhece totalmente o futuro; e, entretanto, o fato de que haja coisas que se estejam escrevendo e que vão se escrever, quer dizer que o pré-conhecimento de Deus não implica determinismo; quer dizer, que cada um tem que fazer o que está escrito, não; está escrito porque Deus sabia que ia se fazer, mas cada qual é responsável e por isso Deus faz responsável às pessoas e as julga; e por isso se estão escrevendo coisas, estão-se apagando coisas, estão-se escrevendo novas e vão se escrever nomes no futuro.

Outra coisa que está escrita nos livros. Salmo 56:8; vão se alegrar que isto está escrito nos livros de Deus. Olhem o que diz aqui Davi: “Minhas suas fugas contaste; (quando foge, Deus conta) ponha minhas lágrimas em sua redoma; não estão elas em seu livro?” Até suas lágrimas estão escritas, aleluia! Que beleza! Até suas lágrimas estão escritas, graças ao Senhor, amém? Há coisas que não devemos deixar apagar desses livros, mas há coisas que devemos apagar rápido, nos arrependendo com fé em Cristo de nossos pecados, amém, graças ao Senhor.

UM POUCO DE CRÍTICA TEXTUAL

Bom, irmãos, vimos já os versos chave; somente vou a um último verso onde a tradução Reina Valera diz livro da vida, mas somente aparece na Vulgata e nas traduções latinas; em nenhum manuscrito grego aparece isto; e terminamos ali.

Apocalipse 22:19: “E se alguém tirar das palavras do livro desta profecia, Deus tirará sua parte da árvore da vida”. Assim dizem todos os manuscritos gregos e todas as versões, exceto a Vulgata latina e alguns manuscritos latinos; quer dizer, o texto grego, todos os que existem, todas as demais versões em outros idiomas, em copto, boharico, sahídico, brasmúrico, no siríaco; todos esses são idiomas antigos; em nenhum manuscrito, diz, exceto no latino, “livro da vida” neste contexto. Esta é uma última cotação de crítica textual, onde diz: “Deus tirará sua parte da árvore da vida e da Santa cidade e das coisas que estão escritas neste livro”; ou seja, que tirar das palavras da profecia do Apocalipse, Deus tirará sua parte da árvore da vida. Agora, isso é diferente do livro da vida, porque o livro da vida, que não esteja no livro da vida, aonde vai? ao lago de fogo; mas os vencedores que entrarem na Nova Jerusalém, eles terão acesso à árvore da vida; mas as nações terão acesso às folhas, mas não estarão no inferno, terão acesso às folhas, não ao fruto, aos doze frutos, a não ser somente às folhas. Agora, claro que aqui diz, parece que não é só ao fruto, a não ser incluídas as folhas, porque diz a árvore. Diz: “Se alguém tirar das palavras do livro desta profecia, Deus tirará sua parte da árvore da vida, e da Santa cidade e das coisas que estão escritas neste livro”. Todos os manuscritos gregos (o Apocalipse se escreveu em grego) dizem: “Árvore da vida”. Todas as versões que se fizeram antigas, dizem: “Árvore da vida”; somente a Vulgata Latina que traduziu Jerônimo e alguns manuscritos latinos dizem: “Livro da vida”; mas temos que escolher. Vamos escolher a tradução do Jerônimo que é apenas uma tradução tardia do século IV, ou vamos escolher os manuscritos antigos gregos, que o livro do Apocalipse se escreveu em grego, e todos dizem: “árvore da vida”? há outras traduções em espanhol que dizem: “Árvore da vida”, mas esta tradução Reina-valera apoiou o Apocalipse em um manuscrito tardio do século XV, o códice 1, que não era a não ser um só que usou Erasmo para traduzir o Apocalipse, e não completo; estes versos, inclusive, acrescentaram-se depois por Erasmo.

Então, por isso, pessoalmente, escolho a tradução “árvore da vida”; deixo que vocês façam sua própria decisão. Vamos parar aqui irmãos.

A Epístola de Tiago- J.N.Darby

Traduzido pelos irmãos da cidade de Alegrete-RS

Introdução

A epístola de Tiago não se dirige à Igreja nem se investe de autoridade apostólica sobre as pessoas a quem é enviada. É uma exortação prática que reconhece ainda às doze tribos e a conexão que com elas têm os cristãos de origem judia, tal como Jonas se dirige aos gentios, embora o povo judeu tivesse diante de Deus seu caráter de povo afastado por Ele. De tal maneira, o Espírito de Deus ainda reconhece aqui a relação de Deus com o Israel, tal como no caso do Jonas reconhece relações com os gentios e os inalteráveis direitos de Deus, sejam quais forem os privilégios especiais concedidos à Igreja ou a Israel, respectivamente. sabe-se que, historicamente, os cristãos de origem judia seguiram sendo judeus até o final da história que deles nos oferece o Novo Testamento. Eles eram, inclusive, ciumentos pela lei, coisa estranha para nós, mas que Deus suportou por um tempo.

A doutrina do cristianismo não é o tema da epístola de Tiago. Esta carta dá a Deus seu lugar na consciência e com respeito a tudo o que nos rodeia. Rodeia assim os lombos do cristão ao lhe mostrar a próxima vinda do Senhor e a presente disciplina que Ele exerce, já que a Igreja de Deus devia compreender esta disciplina e desenvolver uma atividade fundada nela. Também o mundo e tudo o que nele exalta e dá esplendor é julgado do ponto de vista de Deus.

Umas poucas observações sobre a posição dos cristãos (isto é, sobre a maneira em que esta posição é considerada com respeito a Israel) nos ajudarão a entender esta porção da Palavra.

Israel conserva ainda o caráter de povo de Deus. Para a fé de Tiago, a nação ainda tem a relação que Deus lhe tinha dado consigo mesmo. Tiago se dirige aos cristãos como integrantes de um povo cujos vínculos com Deus ainda não estavam judicialmente quebrados; mas dentre eles somente os cristãos possuíam a fé no verdadeiro Messias, dada pelo Espírito. Tão somente estes entre o povo, junto com o apóstolo, reconheciam a Jesus como Senhor da glória. Com exceção dos versículos 14 e 15 do capítulo 5, esta epístola não contém nenhuma exortação que, em sua elevação espiritual, vá além do que poderia ser dito a um judeu piedoso. Ela supõe que as pessoas às quais se dirige têm fé no Senhor Jesus; mas não chama àquilo que é exclusivamente próprio do cristianismo e que depende dos particulares privilégios deste. As exortações fluem daquela fonte mais elevada e exalam um ar mais celestial, mas o efeito que procuram produzir são provas reais, próprias da religião terrestre; as exortações são as que poderiam se ouvir na igreja professa, vasto corpo, semelhante a Israel, no meio do qual existem alguns cristãos.

A epístola não se apóia, para repartir seus ensinos, nas relações cristãs daqui embaixo; reconhece-as, mas como um fato particular entre outros que têm direitos sobre a consciência do escritor. O autor inspirado supõe que aqueles a quem se dirige mantêm uma conhecida relação com Deus, da que não duvida, uma relação que é de antiga data. Ele supõe que o cristianismo se introduziu em meio daqueles que mantêm tal relação com Ele.

É importante fazer notar qual é o nível moral da vida que nos é apresentada nesta epístola. Assim que captamos a posição em que ela considera os crentes, o discernimento da verdade sobre este ponto não resulta difícil. Vemos, em efeito, que o nível moral que a epístola nos mostra é o manifestado por Cristo quando andava em meio a Israel, fazendo brilhar ante seus discípulos a divina luz e as relações com Deus, as que emanavam para eles de Sua presença. É obvio que ao escrever a epístola ele estava ausente, mas aquela luz e aquelas relações das quais falamos são mantidas qual medida de responsabilidade, medida que será aplicada em julgamento, à volta do Senhor, contra aqueles que não quiseram aceitá-la e que não andaram de acordo com essas relações. Até esse dia os fiéis tinham que ter paciência frente à opressão que sofriam de parte dos judeus, quem ainda blasfemavam o santo Nome pelo que eram chamados.

É o inverso da epístola aos Hebreus, quanto à relação dos fiéis com o povo judeu; não moralmente, a não ser por causa da proximidade do julgamento na época em que a epístola aos Hebreus foi escrita.

Os princípios fundamentais da posição da que acabamos de falar são estes: a lei, em sua espiritualidade e perfeição, tal como Cristo a explicou e a resumiu; uma vida conferida, a que tem os princípios morais da lei mesma, quer dizer, a vida divina; a revelação do nome do Pai. Tudo isto era verdade em vida do Senhor, e era por certo o terreno no qual ele tinha colocado a seus discípulos —por escassa que tenha sido a compreensão destes a esse respeito—, já que lhes havia dito que deviam ser as testemunhas disso depois de Sua morte, distinguindo esse testemunho de que daria o Espírito Santo.

Tal é Tiago aqui, se se adicionar até a promessa do Senhor a respeito de seu retorno. É a doutrina de Cristo com respeito ao andar em meio de Israel, segundo a luz e as verdades que ele tinha introduzido; e, já que ele ainda estava ausente, inclui uma exortação a perseverar e ter paciência nesse andar, aguardando o momento em que ele aplique, mediante o julgamento que executará sobre os que oprimiam aos fiéis, os princípios segundo os quais estes andavam.

Embora o julgamento executado sobre Jerusalém tenha trocado a posição do remanescente de Israel a este respeito, assim e toda a vida de Cristo sempre segue sendo nosso modelo, e temos que aguardar com paciência até que venha o Senhor.

A epístola não se refere à associação do cristão com Cristo exaltado no alto nem, por conseguinte, ao pensamento de que iremos a seu encontro no ar, como Paulo o ensinou. Mas o que ela contém sempre segue sendo verdade; e aquele que diz que mora nele (em Cristo) deve andar como ele andou.

O julgamento que devia chegar nos faz compreender a maneira em que Tiago fala do mundo, dos ricos que se regozijam em sua porção no mundo e da posição do remanescente crente, oprimido, em meio de uma nação incrédula; compreendemos por que ele começa pela questão das tribulações e fala delas tão freqüentemente, como assim também por que insiste nas provas práticas da fé. Vá a todo o Israel ainda em seu conjunto; mas alguns tinham recebido a fé do Senhor da glória, e se sentiam tentados a valorar aos ricos e aos grandes de Israel. Ao seguir sendo todos eles judeus, facilmente compreendemos o fato de que, enquanto alguns acreditavam e confessavam que Jesus era o Cristo, não obstante, já que estes cristãos seguiam os regulamentos judaicos, os meros professantes podiam fazer outro tanto sem que houvesse neles a menor mudança vital demonstrada por suas obras. Resulta evidente que semelhante fé, uma fé morta como esta, não tem valor algum. Isso é precisamente a fé dos que agora elogiam as obras: uma morta profissão da verdade cristã. Ser engendrado pela Palavra de verdade é algo tão alheio e estranho para eles como o era para os judeus de quem fala Tiago.


Capítulo 1

O fato de que os crentes estivessem ainda em meio de Israel com alguns que se diziam crentes e não eram mais que simples professantes, permite compreender facilmente, por uma parte, por que o apóstolo se dirige à massa do povo como sendo aqueles que pudessem participar dos privilégios acordados a este último —caso que a fé no Messias existisse—; por outra parte, por que se dirige aos cristãos como se tivessem um sítio especial; e finalmente, por que adverte ao mesmo tempo a aqueles que professavam acreditar em Cristo. A aplicação prática da epístola em todos os tempos, e em particular naqueles nos quais um corpo numeroso pretende ter direito hereditário aos privilégios do povo de Deus, é do mais fácil devido a sua perfeita clareza. Pelo resto, a epístola tem uma força muito peculiar para a consciência individual; ela julga a posição, os pensamentos e as intenções do coração.

A epístola começa então com uma exortação a gozar-se nas provas, as que são um meio para produzir a paciência (V. 2-3). No fundo, este tema das provas, e do espírito que convém a quem é exercitados por elas, prossegue até o final do versículo 20 deste primeiro capítulo, no qual o pensamento da passagem se volta para a necessidade de pôr freio a tudo o que se opõe à paciência e para o verdadeiro caráter de alguém que se mantém na presença de Deus. Tal direção, como conjunto, termina ao finalizar o capítulo. O fio do raciocínio do apóstolo não é sempre fácil de reconhecer; a chave do mesmo se acha na condição moral a que ele se refere. Tratarei de fazer que a compreensão dessa chave seja o mais acessível que se possa.
O substancial do tema consiste em que devemos andar ante Deus e mostrar a realidade de nossa profissão, em contraste com a união com o mundo, ou seja, dar prova da religião prática. A paciência, pois, tem que ter sua obra completa (V. 4); assim a vontade é subjugada e submetida, e se aceita toda a vontade de Deus; por conseguinte, nada lhe falta à vida prática da alma. A gente sofre, mas se atém pacientemente ao Senhor. É o que Cristo fez; esta era sua perfeição: aguardava a vontade de Deus e nunca fazia a sua própria; assim a obediência era perfeita mesmo que o homem fora posto a prova. Mas, de fato, freqüentemente carecemos de sabedoria para saber o que deveríamos fazer. Para isso, diz o apóstolo, o recurso é evidente: pedimos a Deus sabedoria e ele dá a cada um liberalmente (V. 5); somente que temos que contar com sua fidelidade e com uma resposta a nossas orações. De outra maneira há dobra de coração; a dependência não está sujeita a Deus; nossos desejos têm outro objeto (V. 6). Se unicamente procuramos o que Deus quer e o que Deus faz, dependemos dele com um coração seguro do cumprimento de Sua vontade. Quanto às circunstâncias deste mundo, as que poderiam fazer acreditar que é inútil depender de Deus, desvanecem-se como a flor do campo. Deveríamos ter consciência de que nosso lugar, segundo Deus, não é o deste mundo. Aquele que é de condição humilde deve regozijar-se de que o cristianismo lhe exalte (V. 9), e o rico, de que lhe humilhe (V. 10). Não devemos nos gozar nas riquezas, pois estas passam (V. 11), a não ser no exercício de coração do que fala o apóstolo, porque depois que tenhamos sido provados gozaremos da coroa de vida (V. 12).

A vida de quem é provado e no qual esta vida se desenvolve com obediência a toda a vontade de Deus, vale mais que a de um homem que se entrega a todos os desejos de seu coração pelo luxo.
Com respeito a estas tentações, às quais alguém se deixa levar pelas cobiças do coração, não se deve dizer que vêm de Deus. O coração do homem é a fonte da cobiça que conduz ao pecado, e por este à morte (V. 13-15). Que ninguém se engane a este respeito! O que no íntimo prova ao coração procede da gente mesmo. Todos os dons bons e perfeitos vêm de Deus, e ele nunca troca, só faz o bom. Por isso nos deu uma nova natureza, fruto de sua própria vontade, a que obra em nós mediante a Palavra de verdade para que sejamos primicias de suas criaturas (V. 16-18). Como é Pai das luzes, o que é trevas não vem dele. Ele nos engendrou pela Palavra da verdade para ser as primeiras e mais excelentes testemunhas deste poder benfeitor que resplandecerá mais tarde na nova criação, da qual somos as primícias. Isto é o oposto ao falso pensamento que quereria fazer de Deus a fonte das cobiças e lhe atribuir as tentações, as que têm sua origem no coração do homem.

A Palavra da verdade é a boa semente da vida; a própria vontade é o berço de nossas cobiças. A energia desta vontade nunca pode produzir os frutos da natureza divina, como tampouco a ira do homem cumpre a justiça de Deus. Por isso somos exortados a ser dóceis, dispostos para ouvir, lentos para falar, lentos para nos irar; exortados a pôr a um lado todas as sujas cobiças da carne, toda energia de iniqüidade, e a receber com mansidão a Palavra (V. 19-20), uma Palavra que, como é de Deus, identifica-se com a nova natureza que está em nós (a Palavra está implantada em nós; V. 21), formando-a e desenvolvendo-a segundo sua própria perfeição, porque inclusive esta nova natureza tem sua origem nela.

Esta Palavra de verdade não é como uma lei que está fora de nós e que, ao opor-se a nossa natureza pecaminosa, condena-nos. Ela salva à alma; é viva e vivificadora; obra vitalmente em uma natureza que é fruto dela, e a que forma e ilumina.

Mas é necessário que a Palavra obre realmente em nós; é preciso que não só sejamos auditores dela, mas que também esta produza frutos práticos que sejam a prova de que obra real e vitalmente no coração (V. 22). De outra maneira, a Palavra é tão somente como um espelho no que possivelmente nos podemos ver por um momento, e logo esquecemos o que vimos (V. 23-24). Aquele que esquadrinha a lei perfeita, que é a da liberdade, e persevera fazendo a obra que ela indica, será bento na atividade real e obediente que se desenvolve nele (V. 25).

Esta lei é perfeita, pois a Palavra de Deus, tudo o que o Espírito de Cristo manifestou, é a expressão da natureza e do caráter de Deus, pelo que ele é e do que ele quer, pois ele quer o que ele é, e isto necessariamente.

Esta lei é a lei da liberdade, porque a mesma Palavra, que revela o que Deus é e o que ele quer, tem-nos feito partícipe, por graça, da natureza divina; de maneira que o fato de não andar segundo essa Palavra seria não andar de conformidade com nossa própria natureza nova. E andar segundo uma regra que expresse os desejos desta nova natureza que é de Deus, e os ditados de sua Palavra, isto é a verdadeira liberdade.

A lei dada no Sinai reprime e condena todos os movimentos do velho homem, e não pode lhe permitir ter uma vontade, pois deve fazer a vontade de Deus. Mas tem outra vontade, de modo que a lei lhe é uma escravidão, uma lei de condenação e de morte. Mas, como Deus nos engendrou por meio da Palavra de verdade, a natureza que temos em virtude de ter nascido assim possui gostos e desejos conforme a essa Palavra: ela é dessa mesma Palavra. A Palavra, mercê a sua própria perfeição, desenvolve esta natureza, a forma, ilumina-a, como o havemos dito; mas a natureza mesma tem sua liberdade no ato de seguir o que esta Palavra expressa. Assim aconteceu com Cristo; se se tivesse podido lhe tirar sua liberdade (o que espiritualmente era impossível), isso teria sido lhe impedindo de fazer a vontade de Deus, seu Pai.

O mesmo ocorre com respeito ao novo homem em nós (que é Cristo, como vida em nós), o qual é criado em nós segundo Deus, revestido de justiça e verdadeira santidade, produzidas em nós pela Palavra, que é a perfeita revelação de Deus, do conjunto da natureza divina no homem, da qual Cristo —a Palavra vivente, a imagem do Deus invisível— foi a manifestação e o modelo. A liberdade do novo homem é a liberdade de fazer a vontade de Deus, de imitar a Deus em seu caráter, como querido filho dele, tal como esse caráter foi manifestado em Cristo. A lei da liberdade é este caráter, tal como é revelado na Palavra, e a nova natureza acha seu gozo e satisfação nesse caráter de Deus revelado em Cristo, assim como ela extrai sua existência da Palavra que Lhe revela e do Deus que nela é revelado.

Tal é “a lei da liberdade” (V. 25), o caráter de Deus mesmo em nós, formado pela operação de uma natureza gerada por meio da Palavra que Revela a ele e que usa como molde esta mesma Palavra.

O primeiro elemento que trai ao homem interior é a língua (V. 26). Um homem que parece estar relacionado com Deus e quer lhe honrar, e que não sabe reprimir sua língua, engana-se a si mesmo, e sua religião é vã.

A religião pura ante Deus, o Pai, é a de cuidar daqueles que, alcançados nas relações mais tenras pelo pagamento do pecado, vêem-se privados de seus sustentos naturais; e de guardar-se sem mancha do mundo (V. 27). Em vez de destacar-se e figurar em um mundo de vaidade, afastado de Deus, alguém deve voltar-se, tal como o faz Deus, para os afligidos, para os que precisam socorro, e guardar-se de um mundo no que tudo polui, no que tudo é contrário à nova natureza que é nossa vida e ao desenvolvimento e manifestação em nós do caráter de Deus, tal como o conhecemos pela Palavra.


Capítulo 2

O apóstolo entra agora no tema daqueles que professavam acreditar que Jesus era o Cristo, o Senhor. Antes, no capítulo 1, ele tinha falado da nova natureza em conexão com Deus; aqui a profissão de fé em Cristo é posta em presença da própria pedra de toque, ou seja, da realidade dos frutos produzidos por ela, em contraste com este mundo. Todos estes princípios —o valor do Nome de Cristo, a essência da lei tal como Jesus a manifestou, a lei da liberdade— são considerados para julgar a realidade da vida espiritual, ou para convencer ao professante de que não a possuía. Duas coisas são reprovadas: a consideração da aparência exterior das pessoas (V. 1-13), e a ausência de obras como prova da sinceridade da profissão (V. 14-26).

Em primeiro lugar, pois, o apóstolo censura a consideração da aparência exterior das pessoas (V. 1-4): se professa que se tem fé no Senhor Jesus (V. 1) e, não obstante, se está animado pelo espírito do mundo! O Espírito responde: Deus escolheu aos pobres para que sejam ricos na fé e herdeiros do reino (V. 5). Os professantes lhes tinham menosprezado; estes homens ricos blasfemavam o Nome de Cristo e perseguiam os cristãos (V. 6-7).

Em segundo lugar, Tiago apela ao resumo prático da lei da que Jesus tinha falado, a lei real (V. 8). Se violava a própria lei ao favorecer aos ricos (V. 9), e a lei não consentia nenhuma infração de seus mandamentos, porque estava em jogo a autoridade do legislador (V. 10-11). Se a gente menosprezar aos pobres, por certo que não ama ao próximo como a si mesmo.

Em terceiro lugar, deve-se andar como aqueles cuja responsabilidade é medida pela lei da liberdade, como aqueles que, tendo uma natureza que saboreia e gosta do que é de Deus, estão liberados de tudo o que era contrário a ele; de maneira que não podem desculpar-se se admitirem princípios que não são os de Deus mesmo. Esta participação da natureza divina introduz naturalmente o pensamento de misericórdia, mercê a qual Deus mesmo se glorifica. O homem que não mostra misericórdia se verá objeto do julgamento sem misericórdia (V. 12-13).

A segunda parte do capítulo se relaciona com este pensamento a respeito da misericórdia, pois Tiago inicia sua dissertação sobre as obras, como provas da fé, falando desta misericórdia que responde à natureza e ao caráter de Deus, atributos dos quais o verdadeiro cristão, como nascido de Deus, foi feito partícipe. A profissão de ter fé sem esta vida —cuja existência se prova por obras— não pode beneficiar a ninguém. Isto é muito singelo. Digo a profissão de ter fé, porque a epístola o diz: “Se alguém disser que tem fé” (V. 14). Eis aí a chave desta parte da epístola: diz-se ter fé, mas onde está a prova dela? Nas obras. Desta maneira as emprega o apóstolo. Um homem diz que tem fé. Mas a fé não é uma coisa que possamos ver. Por isso dizemos com razão: “me mostre sua fé” (V. 18). O que o homem requer é a evidência da fé; somente por seus frutos podemos fazer visível ante os homens a existência da fé, pois a fé em si mesmo não se vê. Mas se tiver esses frutos, então certamente tenho a raiz, sem a qual não poderia haver frutos. De modo que a fé não se mostra a outros nem pode ser reconhecida sem que medeiem as obras, mas as obras, frutos da fé, provam a existência da fé (V. 14-18).

O que segue mostra que a fé morta da que fala Tiago é a profissão de uma doutrina, possivelmente verdadeira em si mesmo. Ele supõe que se reconhecem certas verdades, pois é uma verdadeira fé a que têm os demônios quanto à unidade de Deus; eles não duvidam a respeito, mas não há nada que ligue seus corações a Deus por meio de uma nova natureza. Muito longe disso!
Mas o apóstolo confirma isto pelo caso de homens em quem a oposição com a natureza divina não é tão evidente. A fé, essa fé que reconhece somente a verdade com respeito a Cristo, está morta sem obras, quer dizer, que uma fé que não produz frutos está morta (V. 20).

Vemos (V. 16) que a fé da qual fala o apóstolo é uma profissão desprovida de realidade; o versículo 19 mostra que pode ser uma certeza, sem fingimento, de que o que se crie é verdade; mas a vida engendrada pela Palavra, vida pela qual fica estabelecida uma relação entre a alma e Deus, falta por completo. Como esta vida provém da semente incorruptível que é a Palavra, é da fé afirmar que, tendo sido engendrados Por Deus, temos uma nova vida. Esta vida atua, quer dizer, a fé atua conforme à relação com Deus na qual ela nos coloca, gerando obras que emanam naturalmente dela e que dão testemunho da fé que as produziu.
Do versículo 20 até o final do capítulo, ele apresenta uma nova prova de sua tese, fundada no último princípio que acaba de enunciar. E as provas que dá da demonstração da fé pelas obras nada têm que ver com os frutos de uma natureza amável, porque há frutos amáveis que produz a própria criatura mas que não provêm de uma vida que tenha sua origem na Palavra de Deus, mediante a qual ele nos gera. Os frutos dos que fala o apóstolo dão testemunho, por seu próprio caráter, da fé que as produziu. Abraão ofertou a seu filho (V. 21); Raabe recebeu aos mensageiros de Israel, associando-se assim ao povo de Deus quando tudo lhe opunha e separando-se de seu próprio povo pela fé (V. 25). Tudo sacrificado Por Deus, tudo abandonado por Seu povo antes de que este tivesse obtido tão somente uma vitória, e isso enquanto o mundo tinha seu pleno poder: assim são os frutos da fé.

Um se voltava a Deus e lhe acreditava da maneira mais absoluta, contra tudo o que há na natureza ou naquilo no qual a natureza pode apoiar-se; a outra reconhecia ao povo de Deus quando tudo estava contra este; mas nem um nem o outro eram o fruto de uma natureza amável ou de por si naturalmente boa, segundo o que os homens chamam boas obras. Um era um pai a ponto de dar morte a seu filho; a outra era uma mulher pecadora que traía a sua pátria. Por certo cumpriu-se a Escritura que diz que Abraão acreditou em Deus (V. 23; veja-se também Gênese 15:6). Como teria podido obrar como o fez, se não lhe tivesse acreditado? As obras puseram o selo sobre sua fé, e a fé sem obras só é, como um corpo sem alma, uma forma exterior desprovida da vida que a anima. A fé atua nas obras (pois sem ela as obras são uma nulidade, não são as de uma vida nova), e as obras completam a fé que atua nesta vida, as produzindo; porque apesar da prova, e na prova, a fé está ativa nesta nova vida. As obras de lei não têm parte alguma na vida. A lei exterior que exige não é uma vida que produz (além desta natureza divina) essas santas e amantes disposições que têm por objeto a Deus e a seu povo e para as quais nada mais tem valor.

Note que Tiago nunca diz que as obras nos justificam diante de Deus, porque Deus pode ver a fé sem suas obras. Quando está a vida, ele sabe. A fé se exerce com respeito a ele, para ele, pela confiança em sua Palavra e nele mesmo, recebendo seu testemunho através de tudo, apesar de tudo, por dentro e por fora. Esta é a fé que Deus reconhece. Mas quando se trata do homem, quando tem que dizer-se “me mostre” (V. 18), então a fé, a vida, mostram-se por meio das obras.


Capítulo 3

Neste capítulo a epístola volta a referir-se à língua, o índice mais disposto a revelar o estado do coração e que mostra se o novo homem atua, se a natureza e a vontade própria estão refreadas (V. 1-2). Mas neste capítulo não há quase nada que precise comentário, embora sim muito que requer um ouvido atento. Se a vida divina estiver em uma alma, os conhecimentos não se manifestarão em palavras, mas sim pelo andar e por obras nas que será vista a mansidão da verdadeira sabedoria (V. 13). A amargura e a contenção não são os frutos de uma sabedoria que vem do alto, mas sim de uma sabedoria terrestre, da natureza do homem e do inimigo (V. 14-16).

A sabedoria que vem do alto, a que possui seu sítio na vida, no coração, tem três características (V. 17). Em primeiro lugar, é pura, pois a alma está em comunhão com Deus, tem intercâmbios com ele (por isso tem que haver esta pureza). Seguidamente é aprazível, mansa, preparada para ceder à vontade alheia, logo, ativa para o bem e movimento por um princípio que extrai sua origem e seus motivos do alto; ela atua sem parcialidade, quer dizer, a acepção de pessoas e as circunstâncias que influem na carne e nas paixões não influem nela. Pela mesma razão, a sabedoria é sincera e sem fingimento.

As instruções para refrear a língua como primeiro impulso e expressão da vontade do homem natural, estendem-se em sua aplicação aos crentes. Não tem que haver, quanto à disposição interior do homem, muitos mestres. Todos fracassamos, de maneira que ensinar a outros e fracassar nós mesmos é algo até mais digno de ser condenado, pois a vaidade pode alimentar-se facilmente ao ensinar a outros, o que é muito diferente de uma vida animada pelo poder da verdade. O Espírito Santo dá como lhe agrada. O apóstolo se refere aqui à disposição naquele que fala, não ao dom que pode ter recebido para falar.


Capítulo 4

Em tudo o que segue, a epístola se refere ao julgamento sobre a natureza não refreada, da vontade em suas diferentes forma: conflitos provenientes das cobiças (V. 1-2); petições feitas a Deus que procedem da mesma fonte (V. 3); desejos da carne e da mente que se desenvolvem e encontram sua esfera na amizade com o mundo, a que é assim inimizade contra Deus (V. 4). A natureza do homem cobiça com inveja, está cheia de inveja com respeito a outros. Mas Deus dá maior graça (V. 6). Há uma força que atua contra esta natureza se alguém se contenta sendo pequeno e humilde, com não ser nada no mundo. A graça e o favor de Deus estão conosco para nos liberar das perniciosas influências da carne, porque ele resiste aos orgulhosos e dá graça aos humildes. Sobre isto, o apóstolo desdobra a ação da alma dirigida pelo Espírito de Deus, em meio da incrédula e egoísta massa dos judeus com a que estava associada (V. 7-10), porque supõe que os crentes a quem se dirige estão ainda relacionados com a lei. Ao falar mal de seu irmão, ao qual a lei lhe dava um lugar ante Deus, falava-se mal da lei1, segundo a qual esse irmão tinha muito grande valor (V. 11-12). Esse julgamento pertencia a Deus, quem tinha dado a lei e quem sabia preservar sua autoridade, como assim também conceder liberação e salvação.

Nos versículos 13-16, a mesma própria vontade e esquecimento de Deus são censurados; a falsa confiança fundada no fato de contar com a própria capacidade para fazer o que se queira e a ausência de dependência respeito de Deus são postas de manifesto. O versículo 17 é uma conclusão geral, fundada no princípio já enunciado no capítulo 3, versículo 1, e no que se diz com respeito à fé. O conhecimento do bem, sem sua posta em prática, faz que a própria ausência da obra que se sabe fazer seja um pecado positivo. A ação do novo homem está ausente, o velho homem está presente; como o bem está ante os olhos, sabe-se o que se deveria fazer, mas não o faz; não há disposição para isso, não quer fazê-lo.


Capítulo 5

As duas classes que há no Israel estão aqui nitidamente destacadas, em contraste a uma com a outra, logo depois do qual o apóstolo fala da marcha que o cristão deve seguir quando é disciplinado pelo Senhor.

A vinda do Senhor é apresentada como final de sua situação, tanto para os ricos opressores incrédulos de Israel como para o remanescente pobre que é crente. Os ricos acumularam tesouros para os últimos dias (V. 3); os pobres oprimidos têm que ter paciência até que o Senhor mesmo venha para lhes liberar (V. 7). Por isso a liberação não demorará. O lavrador aguarda a chuva e o tempo da colheita; o cristão espera a vinda de seu Senhor. Esta paciência caracteriza, como o vimos, a vida de fé. A viu nos profetas; e quando as provas e a perseguição caem sobre outros, temos por ditosos àqueles que as suportam por amor ao Senhor (V. 11). Jó nos ensina os caminhos do Senhor: ele teve que ter paciência, mas o fim do Senhor era bênção e tenra compaixão.

Esta espera da vinda do Senhor é uma solene advertência, um estímulo precioso, mas deste modo é o que mantém o verdadeiro caráter da vida prática do cristão. Ela mostra também no que terminará o egoísmo da própria vontade, e refreia toda ação desta vontade nos crentes. Os mútuos sentimentos dos irmãos são postos sob a proteção desta mesma verdade. Não se deve ter um espírito de descontentamento e de queixa contra outros possivelmente mais favorecidos em suas circunstâncias exteriores: “O juiz está diante da porta” (V. 9).

Os juramentos revelam até mais que se esquece a Deus e, por conseqüência, a ação da própria vontade da natureza. O “sim” deve ser sim e o “não”, não (V. 12). A ação da natureza divina que é consciente da presença de Deus e a repressão de toda vontade humana e de sua natureza pecaminosa, é o que deseja o escritor desta epístola.

O cristianismo tem recursos tanto para a sorte como para a desdita. Se alguém está aflito, que ore. Deus é a força; ele responde (V. 13). Se se sentir ditoso, que cante; se estiver doente, chame os anciões da Igreja, a fim de que orem por ele e lhe unjam com azeite; o castigo será tirado e os pecados pelos que foi castigado, segundo o governo de Deus, serão perdoados assim que se refere a esse governo, porque só disso se fala aqui (v.14-15). Aqui não se trata da imputação de pecado para condenação.

Agora nos é mostrada a eficácia da oração de fé; mas ela está sujeita à sinceridade de coração (V. 15). O governo de Deus se exerce com respeito a seu povo. Castiga-o por meio da enfermidade, se for preciso; e é importante que a verdade no homem interior seja mantida. ocultam-se as faltas, deseja-se andar como se tudo fora bem, mas Deus julga a seu povo! Prova o coração e as vísceras. O crente é mantido em laços de aflição. Às vezes Deus lhe mostra suas faltas, às vezes sua própria vontade sem quebrantar; seus ossos são castigados com fortes dores: “Também sobre sua cama é castigado com dor forte em todos seus ossos” (Jó 33:19). Então a Igreja de Deus intervém por caridade e, segundo a ordem estabelecida, por meio dos anciões; o doente se encomenda a Deus ao confessar sua estado de necessidade; a caridade da Igreja atua e põe ante Deus àquele que é castigado, segundo a relação na qual ela mesma se encontra segundo esta caridade, já que a Igreja goza de relações com Deus nas quais se desdobra o amor de Deus. A fé aduz esta relação de graça; o doente é sanado. Se os pecados —e não meramente a necessidade de disciplina— fossem a causa de seu castigo, esses pecados não impedirão que seja sanado, mas sim eles lhe serão perdoados.

Tiago apresenta seguidamente o princípio, em geral, como a direção para todos, segundo o qual os cristãos devem abrir seus corações os uns aos outros, para manter a verdade no homem interior quanto a gente mesmo, e orar os uns pelos outros para que a caridade esteja em pleno exercício com respeito às faltas alheias (V. 16). A graça, a verdade e uma perfeita união de coração entre os cristãos são assim espiritualmente formadas na Igreja, de modo que até as faltas mesmas dão ocasião para o exercício da caridade, assim como elas o são para que Deus a exerça a nosso favor. Uma inteira confiança dos uns nos outros, conforme a esta caridade, como assim também em um Deus que restaura e dá graça, é estabelecida em meio dos Santos. Que formoso quadro de princípios divinos que animam aos homens e lhes fazem atuar segundo a natureza de Deus mesmo e a influência de seu amor sobre o coração!

pode-se notar que não se trata de fazer confissão aos anciões. Esta confissão teria sido confiança em alguns homens, uma confiança oficial. Deus deseja a operação da caridade divina em todos. A confissão recíproca dos uns aos outros mostra o estado que Deus deseja para a Igreja, e era o que realmente existia no princípio dela. Deus quer que o amor reine de tal maneira que se esteja o bastante perto dele para tratar ao pecador conforme à graça que se sabe que há nele, e que este amor divino no coração dos irmãos seja conhecido de tal maneira que a sinceridade perfeita e interior seja produzida por meio da confiança e a operação desta graça. A confissão oficial se opõe a tudo isto e o destrói. Que sabedoria divina a que omitiu a confissão quando se referiu aos anciões, mas que a prevê mais adiante como a viva e voluntária expressão do coração!

Isto nos conduz também ao valor da enérgica oração do homem justo (V. 16). É a proximidades respeito de Deus e, por conseguinte, a consciência que se tem a respeito do que Deus é, o que (por meio da graça e a operação do Espírito) dá sua força a esta oração. Deus tem em conta aos homens; tem em conta, segundo o infinito de Seu amor, a confiança depositada nele, a fé que lhe merece sua Palavra a um coração que pensa e atua segundo uma justa apreciação do que Ele é. É sempre a fé o que faz sensível aquilo que não se vá —a Deus mesmo—, e que obra em consonância com a revelação que Deus deu que si mesmo. O homem que na pratica é justo por meio da graça, está perto de Deus; como justo, pessoalmente não tem que ver com Deus em relação ao pecado que manteria seu coração distante; seu coração é livre de aproximar-se de Deus —segundo a natureza de Deus mesmo— em favor de outros; é movido pela natureza divina que lhe anima e que lhe faz apreciar a Deus; procura, conforme à atividade dessa natureza, de fazer prevaler suas orações ante Deus, seja para o bem de outros, seja para a glória de Deus mesmo, em seu serviço. E Deus responde, segundo essa mesma natureza, benzendo esta confiança e respondendo a ela para manifestar o que ele é para a fé, a fim de respirar a esta a legitimar a atividade cristã do amor e para pôr seu selo sobre o homem que anda por fé 2.

O Espírito de Deus, sem dúvida, obra em nós quando o coração é assim ativado, mas aqui o apóstolo não fala do Espírito, mas sim se refere ao efeito da fé prática na alma e apresenta ao homem tal como é, atuando sob a influência desta natureza, aqui em sua energia positiva com respeito a Deus e perto Dele, de maneira que ela obra em toda sua intensidade, movida pelo poder dessa proximidade. Mas se considerarmos a ação do Espírito, esses pensamentos são confirmados. O homem justo não entristece ao Espírito Santo, e o Espírito obra nele segundo Seu próprio poder, ao não ter que pôr sua consciência como deve ser diante de Deus, mas sim atuando no homem conforme ao poder da comunhão de este com Deus.

Finalmente, temos a segurança de que a ardente e enérgica oração do homem justo tem grande eficácia: é a oração da fé que conhece Deus, que conta com ele e lhe aproxima.
O exemplo de Elias, mencionado aqui, é interessante porque nos mostra (e há outros exemplos semelhantes) como o Espírito Santo atua em um homem no qual vemos a manifestação exterior do poder (V. 17-18). A história nos refere a declaração do Elias: “Vive Jeová... que não haverá chuva nem rocio nestes anos, mas sim por minha palavra” (1 Reis 17:1.) Esta é a autoridade, o poder, exercido no Nome de Deus. Em nossa epístola, a operação secreta (o que passa entre a alma e Deus), é manifestada: o homem justo orou, e Deus lhe ouviu. Temos o mesmo testemunho de parte de Jesus junto à tumba de Lázaro, só que neste último caso temos a oração secreta reunidas e a autoridade pessoal, embora a oração do Salvador não nos é dada, a menos que fora esse suspiro inexpressável que subiu do coração de Jesus (Jesus 11:41-44).

Ao comparar Gálatas 2 com a história de Atos 15, vemos que é uma revelação de Deus a que determinou a conduta do Paulo quando subiu a Jerusalém, quaisquer tenham sido os motivos exteriores que todos conheciam. Por meio de casos tais como os que o apóstolo propõe à Igreja, e os de Elias e do Senhor Jesus, nos é revelado um Deus vivente, atuante, que se interessa em tudo o que ocorre em meio de seu povo.

A epístola nos mostra também a atividade do amor em favor daqueles que se extraviam (V. 19-20). Se alguém se separar da verdade, e alguém lhe volta a trazer por meio da graça, este deve saber que o fato de fazer voltar um pecador do engano de seus caminhos é o exercício (por singela que seja nossa ação) do poder que libera uma alma da morte; por isso todos esses aborrecíveis pecados que se exibem tão odiosamente diante de os olhos de Deus e ofendem sua glória e seu coração mediante sua presença em Seu universo, ficam cobertos. Assim que uma alma é levada a Deus pela graça, todos seus pecados são perdoados, desaparecem, são apagados de diante da face de Deus. A epístola (do princípio ao fim) não fala aqui do poder que atua nesta obra de amor, mas sim do fato em si; aplica-o aos casos que tinham ocorrido entre os cristãos; mas estabelece um princípio universal quanto ao efeito da atividade da graça na alma por ele animada. A alma que se desencaminhava é salva, pois seus pecados são tirados de diante de Deus.

O Amor na Igreja suprime, por assim dizê-lo, os pecados que de outra maneira destruiríam a união, venceriam essa caridade na Igreja e apareceriam em toda sua fealdade e malignidade diante de Deus, enquanto que, enfrentados pelo amor na Igreja, não vão mais longe, sendo dissolvidos —por assim dizê-lo— e feitos a um lado pela caridade a que não puderam vencer. O pecado é vencido pelo amor que atuou contra ele; os pecados desaparecem, são tragados por este amor. A caridade cobre assim uma multidão de pecados. Aqui se trata de sua ação na conversão de um pecador.
J.N.D.





NOTAS

1 Compare-se com 1 Tessalonicenses 4:8, aonde o Espírito toma o lugar da lei aqui.

2 É bom recordar que isto se leva a cabo segundo os intuitos governamentais de Deus, em ordem ao título de Senhor (dignidade que Cristo detém de modo especial), embora aqui o termo se empregue em forma geral. Compare-se com o versículo 11 e com a referência geral judaica da passagem. Para nós temos um Deus e Pai, e um Senhor Jesus Cristo. Ele chegou a ser Senhor e Cristo, e toda língua confessará que Jesus Cristo é o Senhor.

Irmãos em Cristo Jesus.

Irmãos em Cristo Jesus.
Mt 5:14 "Vós sois a luz do mundo"

Arquivos do blog