sexta-feira, 11 de setembro de 2009

A Vida do Eu é a Morte; A Morte do Eu é a Vida- Levi Cândido

“A VIDA DO EU É MORTE; A MORTE DO EU É VIDA”

“A isto, respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus. Não te admires de eu te dizer: importa-vos nascer de novo.”(Jo 3:3,7)

Nascemos neste mundo fora do reino de Deus. O pecado foi a causa de nossos primeiros pais terem sido expulsos do Paraíso e, conseqüentemente, também fomos privados do mesmo pela mesma razão. “A graça não corre no sangue, mas a corrupção sim. Pecador gera pecador, mas santo não gera santo”.¹ “Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram... Mas as vossas iniqüidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que vos não ouça”.(Rm 5:12 ; Is 59:2)
Em conseqüência do pecado herdamos uma natureza depravada, egocêntrica, maligna...Com muita lógica Blaise Pascal declarou: “Nascemos iníquos; cada um tende a agradar a si mesmo, e a tendência de agradar ao eu é o início de toda desordem”. O grande problema do homem não são as coisas, nem as pessoas, tampouco os seus inimigos – é ele mesmo. Foi sob este enfoque que alguém disse: “O sonho do homem é ser totalmente senhor de sua existência. Mas muitos homens, que se julgam donos de sua ação, são de fato, mais ou menos escravos de seu corpo e de sua sensibilidade”. Não hesito em afirmar que o meu grande problema é o meu próprio coração. Concordo perfeitamente com François Fenelon que disse: “Quando nos conhecemos melhor, descobrimos que somos mais depravados do que pensávamos”. Um santo do século XVIII chamado Jonathan Edwards (1703-1758) o qual experimentou um grande avivamento com a igreja da Inglaterra no período entre 1734-1735, chamado “O Grande Despertamento”, expressou-se do seguinte modo: “Quando olho para meu coração e enxergo minha iniqüidade, ele parece um abismo infinitamente mais profundo do que o próprio inferno”. E foi com a mesma percepção que Martinho Lutero declarou: “Tenho mais medo do meu coração do que do Papa e dos seus cardeais”. A propósito – alguém poderá objetar -; um cristão dizer isto não é paradoxal? Penso que um cristão anônimo já respondeu com exatidão esta indagação dizendo: “Uma lei universal da vida cristã é que, quanto mais maduro um homem se torna, mais sensível ao pecado ele fica”. Creio ser assim mesmo; quanto mais santo for um cristão, maior será a sua consciência de pecado. Considerando biblicamente, normalmente, a genuína regeneração gera uma permanente convicção de pecado. Se lhe falta esta convicção, deve-se suspeitar se houve de fato regeneração. Poderíamos extrair diversos exemplos bíblicos concernentes a este assunto, porém consideraremos apenas três casos. Primeiramente atentemo-nos ao que disse o rei Davi estando sob convicção de pecado. “Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova dentro em mim um espírito inabalável.”(Sl 51:10) Vejamos também como se expressou o profeta Isaias. “Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças, como trapo da imundícia; todos nós murchamos como a folha, e as nossas iniqüidades, como um vento, nos arrebatam.” (Is 64:6) Finalmente, consideremos agora o que disse o apóstolo Paulo. “Fiel é a palavra e digna de toda aceitação: que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal.”(I Tm 1:15) “Os crentes, por si mesmos, não são mais capazes agora de ter um único pensamento bom, de expressar um único desejo bom, de falar uma única palavra boa, de realizar uma única boa obra, do que eram antes de serem justificados.² “Quanto mais o crente se achega a Cristo, tanto mais ele descobrirá as corrupções de sua velha natureza, e tanto mais ardentemente desejará ser liberto de tal natureza”.³ As Escrituras descrevem o coração humano da seguinte forma: “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?”(Jr 17:9)
O coração aqui descrito – diga-se de passagem -, não refere-se à bomba muscular cardíaca de nosso corpo, mas ao centro da vida. (cf. Pv 4:23) “Esta palavra na Bíblia denota a sede dos sentimentos e impulsos do homem. Segundo Lucas 6:45 “a boca fala do que está cheio o coração”. Por ser o corpo do Cristão, santuário do Espírito Santo (I Co 6:19; Rm 8:26,27), convém guardarmos o nosso coração, estando atentos à Sua voz ( I Ts 5:19 )”.* Podemos compreender com mais exatidão este conceito observando as palavras de nosso Senhor Jesus registrada em Marcos 7:21-23 que diz: “Porque de dentro, do coração dos homens, é que procedem os maus desígnios, a prostituição, os furtos, os homicídios, os adultérios, a avareza, as malícias, o dolo, a lascívia, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura. Ora, todos estes males vêm de dentro e contaminam o homem.” A.W.Pink em sua avaliação concernente à natureza egocêntrica humana, deixou registrado o seguinte: “Todos os desejos e desígnios dos indivíduos mundanos visam à satisfação do próprio “eu”. Que esses alvos e inquirições sejam variados quanto o queiram tais homens, o fato é que o próprio “eu” reina supremamente, e tudo tem por escopo agradar ao próprio “eu”.” O fato é que “todo o pecado do mundo pagão e todo o pecado da cristandade não passa de rebentos de uma única raiz: Deus destronado, e o “eu” entronizado no coração dos homens”.(4) Mas, “se você quiser viver miseravelmente, pense somente em si; pense no que precisa, no que gosta e no respeito e atenção que você quer que outros lhe dêem”.(4) O novo nascimento é, portanto, uma necessidade fundamental sem a qual ninguém poderá ver e muito menos entrar no reino de Deus. A experiência do novo nascimento é a entrada para a nova vida no reino de Deus. Sem nascer de novo o homem não pode ver o reino de Deus, porque o pecado o cegou espiritualmente, e não pode entrar nesse reino porque além da cegueira espiritual, o pecado o tornou incapaz de buscar a Deus por si próprio. “como está escrito: Não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer.”(Rm 3:10-12) “O homem não está evoluindo na direção do conhecimento de Deus. Ele foi criado com o conhecimento de Deus e desde então tem caminhado na direção oposta”.(5) As Escrituras ensinam com clareza que em conseqüência do pecado nascemos totalmente degenerados. Eis alguns exemplos: a)Nascemos MORTOS espiritualmente.“Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram.”(Rm 5:12) b)Também diz que os homens estão ACORRENTADOS. “disciplinando com mansidão os que se opõem, na expectativa de que Deus lhes conceda não só o arrependimento para conhecerem plenamente a verdade, mas também o retorno à sensatez, livrando-se eles dos laços do diabo, tendo sido feitos cativos por ele para cumprirem a sua vontade.”(II Tm 2:25-26) Mostra-nos que o homem é CEGO e SURDO. “Ele (Cristo) lhes respondeu: A vós outros vos é dado conhecer o mistério do reino de Deus; mas, aos de fora, tudo se ensina por meio de parábolas, para que, vendo, vejam e não percebam; e, ouvindo, ouçam e não entendam; para que não venham a converter-se, e haja perdão para eles.”(Mc 4:11-12) Igualmente, as Escrituras mostram que nascemos IGNORANTES. “Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.”( I Co 2:14) A Bíblia também fala de nós como sendo PECAMINOSOS POR NATUREZA. 1º Por nascimento: “Eu nasci na iniqüidade, e em pecado me concebeu minha mãe.”(Sl 51:5) 2º Por prática: “Viu o SENHOR que a maldade do homem se havia multiplicado na terra e que era continuamente mau todo desígnio do seu coração;”(Gn 6:5) Este é o estado natural do homem apresentado pelas Escrituras Sagradas. Sendo assim, se perguntarmos: Podem os mortos se levantar? Podem os presos se libertar? Podem os cegos dar-se visão, ou os surdos audição? Podem os ignorantes ensinar-se a si mesmos? Podem os pecaminosos por natureza mudar a si mesmos? A resposta óbvia certamente será não! No livro de Jó no capítulo 14, verso 4 lemos: “Quem da imundícia poderá tirar coisa pura? Ninguém!” Também podemos ler em Jeremias 13:23 o seguinte: “Pode, acaso, o etíope mudar a sua pele ou o leopardo, as suas manchas? Então, poderíeis fazer o bem, estando acostumados a fazer o mal.” “Se ficasse por conta dos pecadores, totalmente depravados como são, a iniciativa de reagir com fé ao evangelho, por sua própria vontade, nenhum deles tomaria essa iniciativa...Tão grande é a depravação do homem não-regenerado que, embora não haja nada que ele necessite mais do que o evangelho, não há nada que ele deseje menos”.(6) Um cristão anônimo ponderou com muita percepção: “Visto que o homem é depravado, ele não fará perguntas de valor eternal enquanto não for acordado de sua ilusão temporal”. E aqui brilha gloriosa e intensamente a misericordiosa graça de Deus para conosco. “Deus amou-nos quando não havia nada de bom para ser visto em nós, e nada de bom para ser dito por nós”.(4) “Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores... Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” (Rm 5:8 ; Jo 3:16) “A graça é uma provisão para homens que se acham tão decaídos que não podem erguer o machado da justiça, tão corruptos que não podem mudar a sua própria natureza, tão contrário a Deus que não podem voltar-se para Ele, tão cegos que não podem vê-lo, tão surdos que não podem ouvi-lo, tão mortos que Ele mesmo precisa abrir os seus túmulos e levantá-los para a ressurreição.”(7)) O irmão Tomaz Germanovix expressou-se significativamente quando disse: “Quando o homem reconhece que a soma de toda a sua justiça iguala-se a “trapo de imundícia”, então será estabelecida em sua vida a justiça de Deus”. Foi dentro deste contexto que Martinho Lutero expressou-se dizendo: “Deus cria a partir do nada. Portanto, enquanto o homem não se considerar nada, Deus não poderá fazer nada com ele”. Cristo Jesus se manifestou para nos salvar de nossa miserável condição. Ele assumiu a cruz em nosso lugar. “A cruz é o lugar do arruinado, do corrupto, do bandido, do canalha, do mesquinho, do perverso, do arrogante, do presunçoso, do orgulhoso, do exibido, do pecador em todas as suas nuanças”.(8) Foi na cruz do Calvário que o Filho de Deus assumiu a nossa deplorável condição, experimentando a separação e o desamparo do Pai, por causa de nossas transgressões, por causa de nossa natureza iníqua. Todo o lixo de nossa rebelião e de nossa miséria eterna foi lançado sobre o Cordeiro de Deus para que fôssemos justificados. Na cruz do Calvário o clamor do Justo Filho de Deus foi: “...Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Mc 15:34b) Em outros termos foi como se ele dissesse: “Porque me deixaste sozinho meu Deus? Porque me viraste a costa, ò meu Deus?” Sim, o SENHOR é tão puro de olhos que não podes ver o mal..” (cf. Hc 1:13), e, por este motivo Ele lançou para trás de Si todos os nossos pecados (cf. Is 38:17), vindo a cair sobre o Seu Filho Unigênito. “...mas o SENHOR fez cair sobre ele a iniqüidade de nós todos...Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus.” (Is 53:6b; II Co 5:21) “O Calvário mostra como os homens podem ir longe no pecado, e como Deus pode ir longe para salvá-los”.(9) Foi ali na cruz do Calvário que Cristo nos atraiu a Si mesmo para libertar-nos do pecado, da carne, do mundo e do império das trevas, e de nós mesmos. “E eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim mesmo...sabendo isto: que foi crucificado com ele o nosso velho homem, para que o corpo do pecado seja destruído, e não sirvamos o pecado como escravos... E os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e concupiscências... Mas longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim, e eu, para o mundo... Aquele que pratica o pecado procede do diabo, porque o diabo vive pecando desde o princípio. Para isto se manifestou o Filho de Deus: para destruir as obras do diabo...Estou crucificado com Cristo;” (Jo 12:32 ; ; Rm 6:6 ; Gl 5:24 ; Gl 6:14 ; I Jo 3:8 ; Gl 2:19b) “A morte de Cristo tornava-se a nossa morte, para que a sua justiça fosse a nossa justiça”.(4) “A cruz é o atestado de óbito do miserável pecador”(8) “A cruz de Cristo sempre será ofensiva para o homem natural”.(11) C.H.Spurgeon confessou certa vez: “Talvez existam pessoas que sempre possam deslizar como um bonde sobre trilhos sem um único solavanco, mas descobri que tenho uma natureza vil que devo combater, e a vida espiritual é uma luta para mim. Preciso lutar dia a dia contra a corrupção inata, a frieza, a morte, a esterilidade, e, se não fosse por meu Senhor Jesus Cristo, meu coração seria tão seco como o coração dos condenados”. Os que se amam a si mesmos certamente fugirão da cruz (ou, a propósito: talvez como Simão o cireneu, levam a cruz mas não morre nela), mas os salvos unir-se-ão ao apóstolo Paulo num só coro celestial: “Certamente, a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos, poder de Deus.”(I Co 1:18) Graças a Deus, há vida vinda da morte. “A nossa perfeita salvação implica no perdão dos nossos pecados, na crucificação de nosso homem velho, o servo do pecado, e na transmissão de uma nova vida gerada na ressurreição de Jesus Cristo”.(8) “Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim.”(Gl 2:19b,20) O irmão Glênio disse certa vez: “Sem a morte do egoísmo o Filho de Deus não habita em nosso ser. Não é porque sou bom que aceito minha morte no corpo de Cristo. É exatamente o contrário. Não vejo nada de bom em mim, senão rebeldia, dureza de coração e egoísmo em extremo”. Cristo em Lc 9:23 exortou: “Dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-me.” “Não há outra forma de viver esta vida cristã a não ser mediante uma contínua morte para o “eu” através dos efeitos permanentes de Cristo crucificado”.(11) “levando sempre no corpo o morrer de Jesus, para que também a sua vida se manifeste em nosso corpo. Porque nós, que vivemos, somos sempre entregues à morte por causa de Jesus, para que também a vida de Jesus se manifeste em nossa carne mortal.” (II Co 4:10-11) “Cristo não ressuscitou dos mortos como uma pessoa em particular, mas como Cabeça público da igreja”.(12) “Pois o amor de Cristo nos constrange, julgando nós isto: um morreu por todos, logo todos morreram. E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivem mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou.” (II Co 5:14-15) Soli Deo glória!
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¹Mathew Henry ; ²John Wesley ; ³A.W.Pink ; *Comentário Bíblico nova vida ; (4)Alguém ;(5)Vance Havner ; (6)R. B. Kuiper ; (7)G.S.Bishop ; (8)Glênio Fonseca Paranaguá ; (9)H.C.Trumbull ; (10)John Blanchard ; (11)François Fenelon ; (12) Thomas Watson

Levi Cândido
BARUERI, 05 de julho de 2009

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Mt 5:14 "Vós sois a luz do mundo"

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