domingo, 24 de janeiro de 2010

Arrependimento para a Vida- David W Dyer

Extraído do livro "Arrependimento para a vida" de David W Dyer; você pode fazer o download do ebook aqui no Filho Varão.

“(...) Assim, pois, Deus concedeu também aos
gentios o arrependimento para a vida” (At 11:18 VR).

O versículo citado mostra uma sucessão de eventos. Ele indica uma ação que resulta no recebimento de um benefício. A ação é chamada “arrependimento”. O benefício é descrito como “vida”.
Este processo foi experimentado por todos os participantes da igreja primitiva. O fato de que ele incluía tanto os judeus como os gentios é indicado pela palavra “também”. Era algo básico e essencial pelo qual eles passavam e o considerava fundamental para serem crentes em Jesus.
Essa experiência provou para os crentes judeus e, posteriormente, aos gentios, que tinham se convertido genuinamente. Para eles, o arrependimento e o recebimento dessa vida eram o centro da mensagem de Jesus.
Assim como nos dias do livro de Atos, hoje também é imperativo que cada crente cumpra esse processo e passe pelo mesmo. Todos nós precisamos passar por ele para que nossa fé seja genuína e seus benefícios sejam completamente compreendidos e experimentados.
Para recebermos a totalidade das bênçãos que são nossas em Cristo, é essencial que compreendamos com precisão o que está sendo dito no versículo citado no início. Com este propósito, passaremos um tempo investigando alguns de seus termos.

O QUE É ESSAVIDA?

Para começar, qual o significado exato da palavra “vida”? Todo habitante da terra já tem uma espécie de vida, do contrário, não estariam aqui. Então, que tipo de vida é essa que requer nosso arrependimento para que a tenhamos? Obviamente, é algo que pessoas naturais ainda não têm. É algo que ainda precisam receber.
Talvez alguns pensem que essa “vida” se refere à futura vida no Céu, mas não é este o caso. Outros podem imaginar que ela é uma extensão de sua vida humana, que não morrerão, mas permanecerão vivos para sempre. De qualquer maneira, não é este, também, o significado.
Outros ainda podem supor que este tipo de vida é uma melhoria de sua existência humana, como uma gasolina aditivada que pode dar a eles mais poder e mais quilometragem. Mais uma vez, esse não é o significado de “vida”. A vida mencionada nesse versículo é a preciosa vida de Deus!
Podemos estar certos disso devido ao uso de uma palavra especial para “vida” no texto original em grego. É essa palavra específica que nos dá a verdadeira compreensão. Apalavra “vida” vem de um vocábulo grego peculiar: “ZOÊ”. Ele foi escolhido pelos autores do Novo Testamento para se referir à vida do próprio Deus. Então, entende-se que a vida que pretendemos receber é a vida de outra Pessoa – a vida do próprio Deus.
A língua portuguesa tem somente uma palavra para vida, mas o grego é muito mais rico. Há várias palavras para se referir a diferentes tipos de vida e distingui-los entre si. Todos os crentes deveriam estar cientes dessa distinção, porque isso influencia grandemente nossa compreensão do que certas passagens bíblicas significam.
Por exemplo, lemos, em João 10:10, que Jesus veio para nos dar vida. Porém, que tipo de vida deve ser essa? Se a palavra grega fosse BIOS, Jesus poderia ter vindo para melhorar nossa existência física, ajudando-nos a sermos mais saudáveis ou prósperos. Se a palavra fosse PSUCHÊ, (que também é traduzida como “alma”) poderíamos presumir que Ele veio para nos fazer felizes e equilibrados.
De qualquer forma, a palavra usada aqui não é BIOS, nem PSUCHÊ, e sim ZOÊ, que se refere à vida de Deus Pai, aquela que não foi criada por ninguém. Jesus veio para tornar a vida do Pai disponível para nós e em abundância!
Essa distinção é essencial para entendermos outras passagens das Escrituras, também.

VIDA ETERNA

Essa vida ZOÊ é descrita em outras partes do Novo Testamento como sendo eterna (1 Jo 1:2). A palavra “eterna” no grego é muito especial, porque quer dizer “aquilo que transcende as eras” (AIONION). Portanto, ela aponta para uma vida sem começo e sem fim. É um tipo especial de vida que não nasceu, nem pode morrer; que sempre existiu, existe agora e existirá para sempre.
Apenas Deus possui esse tipo de vida. A Bíblia diz que somente Deus tem “imortalidade” (1 Tm 6:16). Essa é a espécie de vida descrita aqui. Ao longo das eras, Deus tem sido o único ser imortal. Sua vida não apenas não morre ou envelhece como também não pode ser morta por ninguém. É imortal e imutável. Está escrito: “(...) não era possível fosse Ele retido por ela [morte]” (At 2:24).
Agora temos boas novas. Elas são tão maravilhosas que é quase impossível de se crer nelas, ainda que sejam verdadeiras. Deus decidiu compartilhar Sua própria vida com os seres humanos. Ele tomou a decisão de tornar conhecida essa vida sem começo e sem fim aos meros mortais (Jo 3:16).
Quando eles recebem essa vida (ZOÊ), também se tornam seres imortais (2 Tm. 1:10); podem ter a vida eterna de Deus dentro de si. O que significa que jamais poderão morrer. Eles passaram “(...) da morte para a vida [a imortal]” (Jo 5:24).
Se tomarmos uns minutos e meditarmos nessa idéia, tudo isso parece quase inconcebível. A possibilidade de nós, simples seres humanos, recebermos a vida de um ser supremo em nosso interior é simplesmente inacreditável.
O que parece estar sendo oferecido a nós é a oportunidade de deixarmos a raça humana para fazermos parte de outra raça. Essa nova raça consiste em pessoas que receberam uma vida imortal, tão superior à vida humana, que vai além da compreensão natural. Aqueles que fazem parte dessa nova raça são chamados “filhos de Deus”; o que, na verdade, é uma nova espécie, uma nova variedade de ser, que a Bíblia chama de “nova criatura” (2 Co 5:17; Gl 6:15).
Homens e mulheres dificilmente sonhariam com isso. A ficção científica também nunca conseguiu imaginar algo parecido. No entanto, a verdade é que o Deus do universo abriu as portas para que qualquer um que consiga ouvir, entender e corresponder se transforme em algo sem precedentes no universo – algo inédito.
Eles podem receber, dentro si mesmos, a vida de um imensurável Ser superior. Podem permitir que essa vida os preencha por completo e, então, deixar com que ela se manifeste através deles em cada faceta de suas vidas.
Mesmo que alguns não tenham entendido ainda, esta é a verdadeira mensagem do evangelho de Jesus Cristo.

UM IMPEDIMENTO

Ainda existe um problema. Existe uma coisa que impede muitos homens e mulheres de receberem este dom inefável. Há uma barreira no processo de recebimento dessa nova vida. Existe algo que nos impede de receber essa vida e, mesmo quando já a recebemos, também nos inibe de sermos cada vez mais cheios dessa vida. Este problema chama-se pecado.

Deus é supremamente Santo. Ele não é só um pouco santo ou parcialmente santo. Ele é tão intensamente santo que, se uma pessoa pecadora, por alguma razão, adentrasse Sua presença, seria consumida. Agonizaria terrivelmente.
Sua santidade é tão pura, tão concentrada, tão extrema que qualquer coisa que não seja santa não pode permanecer em Sua presença. Um pecador jamais poderia ficar nem ao menos perto de Deus.
A vida de Deus é santa, reta por definição. Sua vida é espontaneamente santa, assim como a vida humana é naturalmente pecadora. Ele não precisa tentar não pecar. Não está tentando resistir à tentação. Ele não possui pecado pelo fato disso ser contrário à Sua natureza. Sua santidade é, simplesmente, quem e o que Ele é. É a Sua própria essência.
Fica claro, com isso, porque os pecadores gostam de ficar longe de Sua presença. Esta é a razão pela qual acham muitas desculpas para negar a existência de Deus. A consciência de uma pessoa não santa já sofre um impacto só de pensar que Deus possa ser real.
Para compreendermos melhor nosso Deus, poderíamos fazer uma analogia com o sol. O sol é, na verdade, uma contínua explosão nuclear. É tão intenso, que só podemos olhar para ele durante alguns segundos e, mesmo assim, com proteção nos olhos. Imagine, então, não apenas olhar, mas chegar perto do sol. Uma pessoa seria consumida pela sua impetuosa intensidade.
O universo consiste em bilhões de estrelas como essa. Talvez haja, na verdade, bilhões de galáxias, cada uma delas cheias dessas incontáveis estrelas. E cada uma dessas estrelas está brilhando, com uma inimaginável intensidade, como o sol. Contudo, nosso Deus, que criou tudo isso, ainda é bem mais grandioso! Ele é muito mais poderoso e a glória de Sua santa presença é ainda mais intensa.
Lemos em Isaías 33:14, o que vai acontecer na intensa presença de Deus: “Os pecadores em Sião se assombram, o tremor se apodera dos ímpios; e eles perguntam: Quem dentre nós habitará com o fogo devorador? Quem dentre nós habitará com chamas eternas?”.
Essa passagem indica com clareza que a presença de Deus é intensamente poderosa e ardente como fogo. Confirmando isso, também está escrito: “Porque o nosso Deus é fogo consumidor” (Hb 12:29). A presença do Criador é um local onde pecador algum conseguirá sobreviver. Ela causa extrema agonia e destruição. Exatamente como o efeito do sol em nosso corpo natural, a intensa presença de Deus é demais para que um pecador a agüente.
Mais uma prova disso é a maneira como a Besta será destruída. Seu fim se dará simplesmente pelo surgimento de Jesus: “(...) o iníquo, a quem o Senhor Jesus matará com o sopro de sua boca e o destruirá pela manifestação de sua vinda” (2 Ts 2:8). É o intenso e glorioso brilho de Sua aparição que destruirá o “homem do pecado”.

Quando estivermos diante de Deus, a verdade – poderosa, pura e não diluída – tomará conta do ambiente. Todo nosso “refúgio da mentira” será varrido (Is 28:17). Todas as desculpas para justificar nosso comportamento, nossas palavras, pensamentos, atitudes e ações; tudo o que fazemos para culpar os outros pela nossa condição; toda imagem que fazemos a nosso respeito – de que somos melhores do que realmente somos – serão vistos com extrema clareza.
A extraordinária presença de Deus produzirá este efeito. Nada permanecerá em segredo ou às escondidas. Tudo o que temos dito, feito ou pensado se tornará evidente diante de todo o universo. A consciência de qualquer pecador estará na mais extrema agonia, sem chance de escapar. Está escrito que Ele: “(...) trará à plena luz as coisas ocultas das trevas” e “(...) manifestará os desígnios do coração” (1 Co 4:5). Tudo que for secreto será exposto. A luz da presença de Deus o fará.
Hoje, Deus oculta-Se a Si mesmo (Is 45:15). Ele não está revelando-Se a Si mesmo ao mundo com clareza. Não há dúvida de que Ele faz isso para nosso benefício. É para que não sejamos consumidos. Quando Deus Se revelar a Si mesmo, em toda Sua plenitude, todo aquele que for pecador será destruído.
Isso não acontece porque Deus odeia essas pessoas, e sim porque é uma conseqüência natural de quando o pecado entra em contato com Sua santidade. A natureza da Sua pessoa é tão extrema que qualquer coisa que seja contrária a ela, simplesmente, não pode suportar a experiência. Isso é algo que não pode ser alterado. Deus não muda (Ml 3:6). Ele apenas é o que é.
Há outro exemplo dessa verdade. Podemos olhar para o que acontecerá quando Jesus surgir em Sua glória no final dos tempos. Neste caso, descobrimos que, quando os céus se abrirem e Ele começar a descer, os incrédulos e pecadores vão subitamente inventar uma nova religião. Eles vão começar a orar.
Entretanto, em vez de orar a Deus, orarão aos rochedos e montes. Começarão a gritar para as montanhas e rochas, dizendo: “Caí sobre nós e escondei-nos da face daquele que se assenta no trono e da ira do Cordeiro” (Ap 6:16).
Naquele tempo, morrer com uma pedra enorme caindo sobre eles será mais preferível a agonia e tormento que a presença de Jesus criará em suas mentes.
Espero que tenha ficado bem claro para cada leitor que Deus não se mistura com pecado e vice-versa. Eles não podem coexistir. A presença de Deus destrói todo pecado.
Não é porque Deus tenha alguma atitude intolerante sobre a fraqueza da espécie humana. Não é porque Ele esteja bravo por “um pouco de pecado”. Não é porque Ele não seja compreensível ou não simpatize com nossas faltas e falhas. É simplesmente um fato, um resultado de quem Deus, nosso Criador, é. A intensa santidade, que define Sua natureza, junto ao Seu maravilhoso e ilimitado poder, simplesmente destruirá todo pecador.


O SURGIMENTO DE DEUS


Deus está planejando revelar Sua presença ao universo, um dia. Em algum momento, Ele não Se ocultará mais. Deus não quer existir de uma maneira encoberta para sempre. Sua vontade é revelar-Se em Sua grandeza a toda Criação.
Entretanto, Deus ama a raça humana que fez. Ele não quer extinguir a todos nós através de Sua revelação plena sem que tenhamos algum tipo de preparação que nos capacite a sobreviver a esse evento.
Isso, então, traz-nos de volta ao nosso pensamento original. O plano de Deus para que permaneçamos vivos e inteiros em Sua vinda é fazer uma troca de vida. Sua idéia é que recebamos Sua própria vida e, assim, nos tornaremos uma variedade de seres que Lhe darão as boas-vindas e se alegrarão com Seu surgimento – seres “à prova de fogo”.
Por isso, devemos nos tornar o mesmo tipo de ser que Ele é, receber Sua vida e natureza santas e mergulhar nelas, porque só esse tipo de ser não sofrerá impacto negativo algum quando Ele surgir. Esse ser não apenas sobreviverá na presença de Deus, como também prosperará nela.
Hoje, nosso pecado é o que nos separa de Deus. Também é nosso pecado que causará nossa futura dor e destruição quando estivermos em Sua presença imediata. Portanto, é necessário que nos tornemos livres de nosso pecado. Somente assim, seremos capazes de suportar a presença de Deus quando Ele surgir.

ARREPENDIMENTO


O primeiro passo da solução de Deus para o problema do nosso pecado é chamado “arrependimento”. Esse é o passo que nós devemos dar. Ainda que seja verdade que Deus nos ajuda neste procedimento tão necessário, esta é uma decisão que somente nós podemos tomar.
O arrependimento é uma parte essencial do processo de salvação. Na verdade, é tão crucial na obtenção da nova vida que sem ele não podemos ir a lugar algum. Sendo assim, não podemos deixar de gastar algum tempo e examinar esse processo cuidadosamente.
Quando João Batista veio, ele veio pregando uma coisa: arrependimento. João dizia: “Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus”(Mt 3:2).
Do mesmo modo, Jesus começou Seu ministério na terra proclamando a mesma mensagem. Está escrito: “Daí por diante, passou Jesus a pregar e a dizer: Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus” (Mt 4:17). Esse arrependimento é o primeiro passo essencial para conseguirmos receber a vida que Deus está nos oferecendo. Há muitos que querem pular esse passo.
Incitam pessoas a aceitarem a Jesus sem o arrependimento inicial, necessário para prosseguir adiante ou alcançar êxito. Parecem crer que simplesmente “aceitar” a Jesus e tudo que Ele fez por nós é o suficiente para que o pecador, um dia, “vá para o céu”. Acabam apresentando um caminho largo e fácil.
O fato, no entanto, é que Jesus não carece de “aceitação”. Ele não está ansiando por sua aceitação ou de quem quer que seja. Deus não está aguardando ansiosamente, com esperança de que alguém O aceite. Parece que alguns crêem que, se eles tão somente O aceitarem, Ele Se esquecerá de toda Sua aversão ao pecado e à condição pecadora deles.
Ao contrario, nossa maior necessidade não é de aceitá-Lo, mas de que Ele nos aceite! Nós precisamos ser aceitos por Ele! E, para que Ele nos aceite é necessário que tomemos um passo inicial: o arrependimento – um completo, profundo e sincero arrependimento.
Então, o que é o arrependimento? É quando percebemos muitas coisas pecaminosas que temos feito. Também começamos a ver o que somos. Na luz de Deus, tornamo-nos convictos de nossos atos e de nossa tendência natural de fazer uma grande variedade de coisas más que são contrárias à natureza de Deus.
Em seguida, confessamos, diante de Deus, o que temos feito, o que somos e, então, tomamos conhecimento de que somos dignos de morte. Sim, o arrependimento genuíno envolve a percepção de que, aos olhos de Deus, somos dignos de morte. O arrependimento verdadeiro significa que nós descobrimos que merecemos morrer por aquilo que temos pensado, dito, feito e, inclusive, pelo que somos. Esta é uma parte importante do processo de arrependimento.
Raciocine comigo por um momento. Se não somos dignos de morte, ou não achamos que somos, que razão haveria para que alguém morresse em nosso lugar? Se não somos culpados o bastante para merecermos a pena de morte, que necessidade haveria de alguém nos substituir nessa execução? Se nossa culpa não é suficiente para merecermos a morte, então por que precisaríamos que Jesus morresse em nosso lugar?
Portanto, é impossível uma pessoa receber um Salvador que ela não quer ou que não sente que precisa ter.
O batismo deveria ser um símbolo deste fato em si. Não é um simples mergulho ou um banho. É uma declaração para o universo de que nós compreendemos e aceitamos nossa necessidade de morrer. No verdadeiro batismo, reconhecemos nossos pecados e proclamamos que estamos unidos com Cristo em Sua morte, olhando para Sua ressurreição para nossa salvação. Estamos declarando publicamente que quem somos e o que fazemos é digno de morte e que cremos que Cristo nos mudará através da substituição de Sua vida pela nossa.
Qualquer “arrependimento” que não tenha sido profundo o suficiente para que a pessoa envolvida compreenda que ela merece morrer é falho. Esse tipo de “arrependimento” não levará ninguém muito longe em sua caminhada cristã.
Sem um verdadeiro, profundo e completo arrependimento, tais pessoas não terão como ser limpas por Deus e ter suas vidas substituídas pela Dele. Portanto, crescerão muito pouco na vida espiritual.
Por que, por exemplo, alguém iria querer ter sua vida arrancada e trocada por outra vida se ele ainda crê que sua vida é boa? Se, em sua própria concepção, sua vida o está servindo bem, não existe nenhuma necessidade lógica para ser trocada. Ninguém gostaria de ser dominado pela vida de outra Pessoa se ainda gosta da vida que possui e a aprova. Ela nunca iria desejar morrer para si mesma e ter a vida de Deus em seu lugar.
A respeito do julgamento de Deus sobre aqueles que pecam, está escrito: “Sem misericórdia morre pelo depoimento de duas ou três testemunhas quem tiver rejeitado a lei de Moisés” (Hb10: 28).
Foi Deus quem deu esta lei. E a pena da lei para o pecado é a morte. A morte foi aplicada para diferentes tipos de ofensa, mesmo aquelas consideradas insignificantes. Por exemplo, o Velho Testamento conta-nos a história de um homem apedrejado até a morte, segundo a direção do próprio Deus, por estar apanhando lenha no sábado (Nm 15:32-36).
Essa mesma penalidade foi passada para aqueles que cometessem adultério, usassem drogas, praticassem homossexualismo, consultassem espíritos, cometessem incesto, fizessem sexo com animais, blasfemassem, murmurassem, fossem filhos rebeldes, dentre muitas outras coisas como essas. Resumindo: assim como o pecado de Adão e Eva resultou em morte, toda e qualquer pessoa que peca revela que é digna de morte. “(...) a alma que pecar, essa morrerá” (Ez 18:4).
A morte física, que foi instituída pela lei do Velho Testamento, é apenas uma representação, ou uma sombra, do futuro. Como temos visto, a morte e destruição da alma pecaminosa serão um resultado inevitável da presença direta de Deus. Quando Ele surgir, a vida e a natureza pecaminosa serão queimadas.
A sentença de Deus sobre o pecado é a morte. Deus não pode coexistir com o pecado. “Porque o salário do pecado [todo e qualquer pecado] é a morte (...)” (Rm 6:23). Temos entendido claramente, desde o início deste capítulo, que a intensa presença de Deus julgará quem e o que nós somos.
Então, podemos compreender, com facilidade, que as pessoas cheias de pecado, ou mesmo com uma tendência natural para o pecado, terão Seu julgamento executado sobre elas. Esses indivíduos, pelo simples fato de aparecerem diante de um Deus santíssimo, sofrerão o julgamento pela Sua presença.
Portanto, nosso arrependimento – o conhecimento de nossos atos e da nossa condição e o reconhecimento de que merecemos morrer – é essencial para recebermos Sua nova vida e, conseqüentemente escaparmos de Seu julgamento. Nosso arrependimento abre o caminho para nos tornarmos mortos para nós mesmos e cheios de Sua vida.
Assim, preparamo-nos para o dia vindouro, quando Jesus surgirá em Sua intensa e ardente glória. Quando, verdadeiramente, nos arrependemos, abrimos nossos corações para Deus fazer Sua gloriosa obra de substituição em nós, transformando-nos à Sua própria imagem.
Se não vemos nosso pecado, é porque temos uma deficiência de luz. A única maneira pela qual podemos realmente nos arrepender é se Deus, em Sua misericórdia, fizer Sua luz brilhar dentro de nós. Quando Ele Se aproxima de nós, a luz de Sua presença expõe quem e o que somos. Quando nos falta essa luz e a convicção de pecado, é a prova de que não somos realmente íntimos de nosso Criador.
Contudo, quando, através do favor de Deus, conseguimos vê-Lo com mais clareza, também enxergamos nosso pecado. Isso, então, capacita-nos a nos arrepender.


TRISTEZA


O arrependimento é algo que fazemos quando, finalmente, vemos nosso pecado. Quando percebemos, à luz de Deus, o mal em nossos caminhos, começamos a sentir um pesar. Quando compreendemos o quanto temos ofendido aos outros; quando vemos o quanto temos entristecido a Deus; quando sabemos como nossas palavras e ações têm causado dor e sofrimento àqueles que estão a nossa volta, estamos prontos para nos arrepender.
O verdadeiro arrependimento envolve tristeza. Vejamos o que Paulo escreveu para os coríntios: “Agora, me alegro não porque fostes contristados, mas porque fostes contristados para arrependimento; pois fostes contristados segundo Deus, para que, de nossa parte, nenhum dano sofrêsseis. Porque a tristeza segundo Deus produz arrependimento para a salvação, que a ninguém traz pesar (...)” (2 Co 7:9,10).
O arrependimento ocorre quando temos um grande senso de culpa pelos pecados que cometemos e pela nossa condição pecaminosa. Tornamo-nos verdadeiramente convictos da gravidade de nossos pecados e de suas conseqüências.
No arrependimento genuíno, nos damos conta de nossa horrível condição. Quando verdadeiramente enxergamos a nós mesmos, vemos algo muito repugnante.
A experiência de Jó é um exemplo dessa verdade. Ele era, em sua própria opinião, um homem reto. De fato, de um ponto de vista superficial, ele estava fazendo tudo certo. Ajudava os pobres, socorria os desamparados. Não falava mal dos outros. Não mentia, não cometia fraude, não roubava, não tirava vantagem, nem se comprometia com outros sem cumprir o combinado. Com seu jeito de agir, em muitas situações, Jó era mais correto do que muitos que dizem ser cristãos, hoje.
Entretanto, no final de sua provação, Deus revelou-Se a Jó. A justiça genuína de Deus foi vista e, naquela brilhante e intensa luz, Jó viu que seu esforço era meramente humano e imperfeito. Ele disse: “Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te vêem. Por isso me abomino e me arrependo no pó e na cinza” (Jó 42:5 e 6).
Por favor, note a reação de Jó. Quando viu a verdadeira santidade, abominou-se a si mesmo. Descobriu que o que ele era, ainda que em termos humanos fosse estimado, era podre, digno de repúdio. Ele odiou o que viu em si mesmo. Odiou a carne, a natureza caída e, até mesmo, o senso de justiça própria que tinha visto em si mesmo. O resultado foi arrependimento. Esta é a única reação aceita por Deus.
Quando Pedro estava pregando no dia de Pentecostes, seus ouvintes tiveram uma reação semelhante. Eles “compungiram-se em seu coração” (At 2:37). Pedro tinha-os acusado de participação no assassinato de Cristo. No versículo 23 do capítulo 2 do livro de Atos, falando acerca da morte de Jesus, ele proclama: “(...) vós o matastes, crucificando-o por mãos de iníquos”.
Com certeza, aqueles não eram os mesmos homens que O seguraram e pregaram os pregos. No entanto, foram convencidos pelo Espírito Santo de que era exatamente o tipo de pessoa que faria aquilo. Eles consentiram em Sua morte. Através da pregação de Pedro, sentiram uma profunda culpa rasgando seus corações. O resultado direto dessa convicção de pecado foi o arrependimento (vs. 38).
Outra reação à revelação da pessoa de Deus é a auto-repugnância. Em Ezequiel, capítulo 20, versículo 43, encontramos algo sobre o que ocorrerá no futuro reino milenar de Cristo, quando Ele trará todos aqueles da nação de Israel de volta para sua terra. Lá, Ele Se revelará a eles. E qual será a reação deles? Eles perceberão seus pecados e sentirão nojo.
Está escrito: “Ali vos lembrareis dos vossos caminhos e de todos os vossos feitos com que vos contaminastes e tereis nojo de vós mesmos, por todas as vossas iniqüidades que tendes cometido”. O verdadeiro arrependimento também envolve auto-repugnância.
Há muitos na Igreja, hoje, que estão difundindo o pensamento positivo. Eles pensam que você deve “amar-se a si mesmo”. Queridos irmãos e irmãs, deixe-me alertá-los da forma mais direta possível: este é um sério engano. Isso não os levará a lugar algum, espiritualmente.
Pode lhes dar a falsa idéia de “valor próprio”, no âmbito psicológico (que se trata apenas da alma do homem), mas não promoverá crescimento espiritual algum. Pode ajustar sua mente, humanamente falando, e, talvez, dar-lhes algum consolo emocional, mas não os transformará à imagem de Cristo.
Na verdade, de acordo com o evangelho de João, o amor-próprio resultará na perda de sua vida, ou “alma”. Lê-se: “Quem ama a sua vida perde-a; mas aquele que odeia a sua vida neste mundo preservá-la-á [tem esta vida trocada] para a vida eterna (Jo 12:25).
Por que será isso? Porque, quando aprovamos e amamos o que somos, não nos arrependemos. Não sentimos nojo nem nos detestamos. Não sentimos a necessidade de Alguém Superior viver dentro de nós, tomando o lugar de nossa vida natural.
Se for assim, quando Jesus surgir, não teremos sido completamente transformados. Naquele momento, Sua santidade intensa consumirá tudo que for natural, humano e pecaminoso. É impossível a vida pecaminosa permanecer em Sua presença.
Aqui, encontramos uma promessa infalível de Deus. Um fato do qual podemos ter certeza. Se amarmos quem e o que somos; se aprovarmos a nós mesmos; se pensarmos que somos bons; se não tivermos nojo e detestarmos a nós mesmos, perderemos nossa egocêntrica vida natural (PSUCHÊ) da pior maneira. Ela será perdida na vinda do Senhor. Será consumida por Sua intensa santidade. Contudo, se odiarmos nossa vida porque vemos o que ela realmente é à luz da face de Jesus, Ele trabalhará em nós para trocá-la por Sua própria vida eterna.
O verdadeiro arrependimento – algo que ocorre quando nos vemos à luz de Deus – gera tristeza e auto-repúdio, acompanhados de uma vontade de nos livrar daquilo que vemos. Significa que agora entendemos nossa necessidade de morrer e ter nossa vida substituída pela vida de Deus. Concordamos com o julgamento de Deus sobre nossa carne e nos abrimos para receber Sua grande salvação.


ALUZ DO MUNDO

Como temos visto, o verdadeiro arrependimento depende da revelação de Deus. Jesus é “a luz do mundo” (Jo 8:12). Quando nos aproximamos Dele, ou quando Ele Se aproxima de nós, Sua luz brilha em nós. Conforme essa luz se aproxima, começamos a nos enxergar com muito mais clareza.
Uma pessoa em um quarto totalmente escuro não vê nada. Esta é a nossa condição antes de conhecermos a Cristo. Quando, porém, uma pequena luz começa a brilhar, a pessoa no quarto começa a enxergar ao seu redor. Quanto mais a luz brilha, mais tudo é visto com clareza. Da mesma forma, quanto mais nos aproximamos de Jesus, mais forte Sua luz brilha e mais claramente enxergamos nosso pecado. Aliás, este é um excelente teste para sabermos se estamos nos transformando de verdade em pessoas mais íntimas de Jesus: se conseguimos ver melhor nosso pecado.
Quando era um jovem crente, imaginava que, depois de mais de 36 anos caminhando com o Senhor, estaria quase levitando, sentindo-me bem santo. Entretanto, minha experiência tem sido de, com o passar do tempo, ver cada vez mais o meu pecado. Tenho tido a constante e profunda oportunidade de me arrepender mais completamente e de deixar a nova vida de Deus crescer dentro de mim.
O arrependimento não é algo que acontece uma única vez. Não é algo que fazemos uma vez, no início de nossa caminhada cristã e depois acaba. Pelo contrário, no cristianismo verdadeiro, há sempre a profunda consciência de que precisamos de um Salvador. Vemos cada vez mais claramente o que somos, como homens naturais, e o quanto precisamos ter a nossa vida trocada pela Dele.
Quanto mais nos arrependemos, mais podemos ser transformados. Quanto mais compreendemos o quanto nossa velha vida é digna de morte, mais podemos ser transformados à Sua imagem. Um constante crescimento em arrependimento abre o caminho para que a vida de Deus nos preencha e substitua o que somos.
Agora, por que será que tem que ser assim? Porque, a menos que vejamos a necessidade de nossa vida velha morrer, Deus não fará – na verdade, não poderá fazer – Sua obra em nós. Ele, com certeza, não vai nos forçar a experimentar essa transformação. Ele não aplicará a morte de Jesus em áreas da nossa vida que não desejamos morrer.
Jesus nunca nos forçará a passar por essa transformação. Não estarmos dispostos a sermos crucificados é o que bloqueia Sua obra. Portanto, precisamos, primeiro, nos enxergar sob Sua luz e, depois, concordar com a sentença de Deus a nosso respeito. A partir daí, Ele vai operar em nosso interior para aplicar tanto a morte como a ressurreição de Jesus em nossa alma (PSUCHÊ).
Enquanto aprovamos o que somos, vamos querer reter o que temos. Enquanto pensamos que estamos bem, então não existe, em hipótese alguma, nenhuma necessidade de mudança. Certamente, não sentiremos nenhuma necessidade de haver uma sentença de morte sendo executada sobre nós.
Portanto, permaneceremos como somos: homens e mulheres naturais, sem transformação. O verdadeiro progresso na vida espiritual - transformação genuína e eterna à imagem de Deus – só pode existir quando nos enxergamos sob a luz de Deus. Somente então, estaremos dispostos a “negar-nos a nós mesmos e tomar a nossa cruz.” Somente então, estaremos dispostos a perder nossa própria vida.

As Dores de Parto - Gino Iafrancesco

Extraído do Livro Aproximação ao Apocalipse, capítulo 47- Tomo II

“1 Viu-se grande sinal no céu, a saber, uma mulher vestida do sol com a lua debaixo dos pés e uma coroa de doze estrelas na cabeça”. Ap. 12:1.
Oração:

Querido Pai: No nome do Senhor Jesus, obrigado por nos conceder esta nova oportunidade de considerar alguma porção de Sua Palavra. Rogamos que seu Santo Espírito esteja nos dando à luz e a vida de Sua Palavra, ele Seja nos afirmando, ele Seja nos estabelecendo, ele Seja nos encaminhando, em Seu nome. Encomendamos a Ti nossa fragilidade humana, Damos graças porque podemos deixá-la em Suas mãos. Fale-nos Senhor, que possamos todos do coração olhar a Ti e ser ajudados por Ti, ele que fala também, em nome do Senhor Jesus. Amém.

UMA MULHER VESTIDA DE SOL

Quando no ano passado pudemos estar com o irmão Celso Machado (do Brasil) e Alexandre Pacheco no Vale, mencionamos algumas coisas que também em Remará mencionamos, e queria voltar para elas avançando um pouquinho com a ajuda do Senhor. Então, para tomar um verso a maneira de epígrafe, um verso que nos permita abranger uma panorâmica um pouco mais geral, queria ler uma passagem curta inicialmente em Apocalipse 12, nos primeiros dois versos. Não é a intenção fazer uma exegese desta passagem, a não ser somente me valer de uma das frases dele: “1 Viu-se grande sinal no céu...”, à outra lhe chama simplesmente “outro sinal”, mas a esta a chama “grande sinal”. “Viu-se grande sinal no céu, a saber, uma mulher vestida do sol com a lua debaixo dos pés e uma coroa de doze estrelas na cabeça, 2 que, achando-se grávida, grita com as dores de parto, sofrendo tormentos para dar à luz”. Não é, como vos disse, a intenção de entrar em todos os detalhes, somente algo mínimo. Queria mencionar aqui que esta mulher que aparece com seu menino frente a esse dragão com suas cabeças e cauda, que aparece um pouco mais adiante, apresenta-nos algo que já tinha tido seus inícios no livro de Gênesis, onde Deus fala com a mulher e fala com a serpente e fala também da descendência ou semente da mulher, que esmagaria a cabeça do dragão, da serpente; e fala também da descendência da serpente; e isso que teve seu começo em Gênesis e teve seu desenvolvimento com o passar do período bíblico e posterior ao bíblico, tem aqui uma visão final. Aparece esta mulher, acredito que representando ao povo do Senhor em geral, incluindo tanto aos Santos do Antigo Testamento como aos do Novo Testamento, porque ela aparece vestida de sol, representando ao Sol de Justiça que é o Senhor Jesus; portanto o Novo Testamento está incluído; mas ela está com os pés sobre a lua, que é a que reflete a luz do sol, que quando não está o sol, ela nos fala do sol, e é como uma espécie de adiantamento e de tipologia; e por isso nos representa também o Antigo Testamento; e aí aparecem essas doze estrelas, digamos, as Doze Tribos de Israel como dos doze filhos de Jacó, mas logo também o Senhor disse que essas tribos seriam julgadas por Doze Apóstolos; e já entramos no Novo Testamento. Esta mulher simboliza o povo de Deus em geral, incluindo o período anterior ao Israel, o período dos patriarcas e o tempo próprio de Israel, e que continua com a Igreja. Não quero falar tanto da mulher em geral, mas sim do aspecto que diz o verso dois (recordar isso): “que, achando-se grávida”, esta mulher tem que dar a luz um menino varão destinado a reinar do Trono de Deus.

Certamente que no Antigo Pacto Israel esteve tendo dores de parto na espera pelo Messias. Mas quando nasceu o Messias, o Senhor Jesus, Ele viveu e morreu por nós, ressuscitou e foi tomado Por Deus à glória, e se sentou certamente à Destra de Deus Pai.

AS DORES DE PARTO

Mas Ele também falou deste mistério desta mulher. Vamos ler o ali em João 16, do versículo 16 em diante. O Senhor Jesus, que é o Messias, mas que é a Cabeça de um Corpo, que certamente foi esperado com angústia e dor por Israel, mas que veio e voltará, então Ele diz aos seus: “Ainda um pouco, e não me vereis”; este primeiro pouco nos fala de um período, de uma experiência de fé incipiente, apenas nascente, onde diz: ainda... não me vereis; “ainda um pouco e não me vereis, e de novo um pouco, e me vereis”; este é um segundo pouco, “…e me vereis…”, mas este “me vereis” o adiciona com um porque, “…porque eu vou ao Pai”. Disse umas palavras que eles não entenderam bem. Há um período onde lhe vêem e um período onde não lhe vêem porque Ele vai ao Pai; certamente que lhe verão espiritualmente enquanto esteja com o Pai; e lhe verão em Glória quando vier do Pai. “Então (ante essas palavras) disseram alguns de seus discípulos uns aos outros: Que é isto que nos diz: “Ainda um pouco e não me vereis; e de novo um pouco, e me vereis; e, porque eu vou ao Pai? Diziam, pois O que quer dizer com: Ainda um pouco? Não entendemos o que falas”; eles tinham recebido ao Messias, pensavam que o reino se manifestaria imediatamente; inclusive depois de que ressuscitou ainda lhe disseram:

“Senhor, não restaurará o reino a Israel...?” e Ele teve que dizer: “Não lhes toca a vós saber os tempos e as épocas que o Pai pôs em Sua exclusiva autoridade, mas me sereis testemunhas”; ou seja que o Senhor Jesus ressuscitou, subiu à mão direita do Pai e encomendou à Igreja um testemunho; a Igreja foi deixada aqui; não foi com o Messias. Já havia uns poucos, mas o Senhor tinha que chamar muitas ovelhas de Israel e também as outras ovelhas dentre os gentios para encher as moradas celestiais. Então não se levou a Igreja ainda; deixou-lhe dois poucos; um primeiro pouco onde não lhe veriam, uma primeira etapa que poderíamos dizer: formativa, que poderíamos dizer: Externa, que poderíamos dizer: Periférica; porque não lhe veríamos; e depois uma etapa mais profunda onde sim lhe veríamos, e então a respeito desse período é que lhe perguntam. Eles não pensavam que haveria o período de testemunho que a Igreja teria, e que também coincidiria com o período de formação de Cristo na Igreja; porque esse varão que é Cristo e que já está à mão direita do Pai, é a cabeça de um corpo e está destinado a formar-se a plenitude nesse corpo. Essa é a parte que corresponde a esta mulher depois de Cristo; então Ele fala desta mulher agora depois de Cristo; porque o Israel teve seu tempo, mas agora Jesus, quando eles pensavam que o reino de Israel já estava a ponto de manifestar-se, Ele lhes diz: “Não, ainda há outro pouco e há outro pouco”.

Então diz assim: “Jesus conheceu que queriam lhe perguntar, e lhes disse: Perguntam entre vós a respeito disto que disse: Ainda um pouco e não me vereis, e de novo um pouco e me vereis?”, ou seja que o que Ele vai explicar aqui é isto de “pouco”, destes dois poucos. “Em verdade, Em verdade vos digo, que vós chorareis, e lamentareis…”; esse é o primeiro pouco: “ainda um pouco”; “…e o mundo se alegrará; mas embora vós estejais tristes, sua tristeza se converterá neste gozo é o segundo pouco: “e até outro pouco e me vereis”. “A mulher quando dá a luz, tem dor, porque chegou sua hora, (a hora da mulher e a dor vão juntos; é inevitável a dor na hora; a hora de dar a luz é a hora da dor) “mas depois...”, esse é o segundo pouco; o primeiro pouco é a dor: “Ainda um pouco e não me vereis”. É esta mulher em angústia de parto é a Igreja. A angústia precede ao parto; isso é o normal, a dor precede ao gozo, a morte precede à ressurreição, a tarde precede à manhã, porque o dia começa com a tarde. A Bíblia diz: “tarde e manhã”; não diz “manhã e tarde”, como acostumamos nós dizer; não, o dia começa pela tarde.

Quando ficou o sol se acabou o dia e começou na escuridão o seguinte dia; o dia começa com a escuridão, a tarde lhe chama na Bíblia a todo o período de escuridão; a palavra é ereb, de onde vem a palavra erebo: Escuridão; “a tarde e a manhã, um dia”, o dia não começa pela manhã, o dia na Bíblia começa na tarde, começa com a escuridão, e então aí saem as estrelas que anunciam o dia, e por fim sai o Sol de Justiça. Então a segunda parte é a manhã, e a primeira parte é a tarde; e a tarde vai desde que fica o sol até que sai o sol; essa é a tarde o Erebo; e a segunda parte começa quando sai o sol até quando fica; essa é a manhã, o dia inteiro é a manhã, e a noite inteira é a tarde; primeiro é a noite e depois é a manhã. Por isso diz: “Primeiro é o homem natural, depois é o homem espiritual”, necessita-se que haja um período para remoção do homem natural; esse é o primeiro pouco.

DE NOVO UM POUCO: O GOZO PERPÉTUO

“Ainda um pouco, e não me vereis, mas de novo um pouco, e me vereis”; esse “me vereis”, é esse gozo que será impossível de ser tirado dela, porque a tristeza se converterá em gozo; há dor e há gozo, há angústia e há parto, mas nessa ordem: primeiro um pouco e logo o outro pouco; claro que isto tem uma primeira parte espiritual da formação de Cristo. Esse “me vereis” tem um início na revelação de Cristo. Ele se vai revelando a nós, vamos conhecendo de maneira direta, e clara que depois lhe veremos tal como Ele é, quando Ele vier por nós e nós sejamos recolhidos a Ele; e aí esse gozo será pleno, mas certamente que já há gozo a partir de agora. Então diz, verso 21:

“A mulher quando dá a luz, tem dor, porque chegou sua hora; mas depois que deu a luz a um menino, já não se lembra da angústia”. O Senhor não eximiu a esta mulher da angústia das dores do parto, mas sim está dizendo à Igreja como a maneira de parábola, embora aqui a palavra parábola não aparece, está lhe dizendo que isto é inevitável, que terá que passar por aqui. “Mas depois que deu a luz a um menino, já não se lembra da angústia pelo gozo de que tenha nascido um homem no mundo. Também vós…”. Aqui a mulher está representando a eles, aos apóstolos, a seus discípulos que estão, como dizer, representando toda a Igreja; então aqui vemos que esta mulher também tem que ver com a Igreja. Por isso aparece vestida de sol. A parte tipológica de Israel a vemos nas estrelas, vemos com a lua sob seus pés, porque está parada sobre o que era uma promessa e uma tipologia, que nos anunciava o que vinha, mas a lua não é a luz real; ela não tem luz própria, ela somente tem luz refletida; a verdadeira luz é a do sol, e esta mulher vestida do sol é a Igreja revestida de Cristo. Deus fazendo um povo com todo seu povo anterior e fazendo um só corpo com eles e conosco, e dando aos do final algo que não deu aos anteriores, para que eles não sejam aperfeiçoados sem nós.

Então diz: “Também vós ...”; essa é a mulher, a Igreja; “também vós agora têm tristeza”. “um pouco, e não me vereis, e de novo um pouco, e me vereis”; e usa a palavra tristeza, como a palavra angustia, como a palavra dor, como a palavra não vê. “Mas lhes voltarei a ver, e se gozará seu coração”; esta frase eu penso que não a podemos interpretar de uma só maneira, porque certamente que quando Ele se vai revelando a nós estamos começando a vê-lo; e um dia, claro, ver-lhe-emos tal como Ele é, e seremos semelhantes a Ele porque lhe veremos tal como Ele é; mas o do parto não é uma coisa como o de voltear uma torta de milho de um dia para outro, mas sim é um processo; compara a uma mulher grávida, e uma mulher em grávida é um processo comprido. “E ninguém lhes tirará seu gozo. Naquele dia, não me perguntareis nada. Em verdade, Em verdade, que tudo que pedireis ao Pai em meu nome, dar-lhes-á isso. até agora nada pedistes em meu nome; pedis, e recebereis…”; e começa a dizer: “até agora”.o de pedir não é só a partir de que o Senhor venha, não é só a partir de que se estabeleça um milênio glorioso sobre a terra e logo um céu novo e terra nova e Nova Jerusalém, não; a partir de agora mesmo terá que pedir para que a partir de agora comece a adiantar o gozo; por isso se fala de “gozar agora dos poderes do século vindouro”; tudo isto terá uma plena culminação no século vindouro e a eternidade, mas começa a perfilar-se, a anunciar-se a partir de agora; é um adiantamento dos poderes do século vindouro. “Peçam, e receberão para que seu gozo seja completo”. Nosso gozo se vai cumprindo na medida que vamos recebendo o que pedimos, e terá um pleno cumprimento na eternidade. Então, nesta mulher, neste menino formando-se nela, neste processo através da angústia, através da dor, através da tristeza, através da espera, através dos perigos, das suplica, nos fala de um processo.

PARA ENCHER TUDO

Também o apóstolo Paulo fala desse processo aos Efésios no capitulo 4; queria que o olhássemos. Vou ler do verso 10: “que descendeu, (“Agora estou com vós, mas não me verão mais”) é o mesmo que também subiu (“não me verão mais, ainda um pouco”) por cima de todos os céus para enchê-lo todo”. Ele veio, morreu, foi aos infernos, ressuscitou, ascendeu, com um objetivo: “enchê-lo tudo”, enchê-lo. Ou seja, o que a Igreja faz nesse período da ascensão, é encher-se. Ele subiu para enchê-lo tudo; o objetivo da ascensão é enchê-lo tudo, enchê-lo tudo de Si mesmo. Todo aquilo que é diferente a Ele e que é distinto Dele e que carece Dele, é visitado por Ele, para Ele ser introduzido, incorporado, recebido, podemos lhe dizer gerado no ventre da Igreja, para encher à Igreja de Si, e usar à Igreja como veículo para tomá-la terra e logo, claro que haverá uns que não querem que Ele reine, e haverá uma resistência à Igreja, contribuirão com a dor da Igreja e o mundo quererá fazer seu reino a sua maneira, e o Anticristo se sentará, mas o Senhor virá e os que não queriam que Ele reinasse, que quiseram ficar eles como cabeça, ficarão sem cabeça, porque Deus só tem uma Cabeça, que é Seu Filho Jesus Cristo; e então definitivamente estabelecerá o Seu. Mas há um processo. Então diz aqui: “para enchê-lo. E (então Ele, para encher Ele tudo, Ele começa enchendo a uns primeiro e lhes enviando para ministrarle a Ele, para abrir-se lugar neles e com eles) ele mesmo deu (porque isto é um dom, a palavra aqui constituir, é uma tradução não tão exata, porque a palavra no grego é edoken, que quer dizer deu) a uns apóstolos, a outros profetas, a outros evangelista, a outros pastores e professores, a fim de aperfeiçoar...”. Então o encher está relacionado com o aperfeiçoar, e o aperfeiçoar está relacionado com a formação de Cristo, que é o varão que nasce no ventre da Igreja. Ele já é o varão perfeito que esperava o Israel, e já esta sentado à mão direita do Pai, mas Ele é a cabeça de um corpo que é a Igreja, na qual Ele tem que formar-se, tem que enchê-lo, aperfeiçoá-lo, configurá-lo a Sua própria imagem.

Então segue dizendo para cá: “aperfeiçoar (sublinho esse verbo) aos Santos, para a obra do ministério, para a edificação do corpo de Cristo.” Aqui usa a palavra aperfeiçoar, que nos fala desse processo que nos fala dessa iluminação, desse estar em cinta, desse ter dores de parto, de angústias; todo isso está incluído no aperfeiçoar, e também no edificar, aperfeiçoar aos Santos, para que os Santos façam a obra do ministério, ou seja, do serviço a Deus, que é edificar um corpo a Ele.

A FÉ INICIAL E A FÉ AMADURECIDA

Ele tem que encher esse corpo e expressar-se nele. Diz: “Até que”; essa edificação no objetivo de Deus é muito alto; dificilmente os homens ficariam um objetivo como este, mas Deus como é o que o faz, Ele sim se pode pôr este objetivo: “até que todos cheguemos à unidade da fé”. Aqui fala da fé como no futuro; claro que há uma fé no passado, claro que há uma fé no início, há uma fé que se falta no início, não há início; esta fé é a fé mínima para que uma pessoa receba ao Senhor e nasça de novo. Aqui mesmo no Efésios acabava de falar dessa fé do início, e logo no verso 13 e 14 fala da fé amadurecida. A fé do início aparece aqui no verso 4 quando diz: “um Senhor, uma fé, um batismo”; esta fé mínima inclui deus, ao Filho de Deus, ao Jesus o Filho de Deus e o Cristo, morto por nossos pecados em uma morte expiatória, ressuscitado e feito Senhor; e acreditando nele somos salvos e começamos, mas logicamente que esse começo, esse fundamento é em vista de um processo posterior, que é o da formação de Cristo. Ou seja que a edificação da Igreja é a formação de Cristo; e fala de uma fé amadurecida, da fé não só inicial, a não ser a fé no sentido completo, como lhe diz Paulo aos Tessalonicenses.

Vamos voltar aqui para o Efésios, mas para que os irmãos possam ver esse verso especialmente se houver alguns que são mais novos, possivelmente não o recordam, em 1ª Tesalonicenses 3 diz no versículo 10, do Paulo e seus companheiros: “Orando de noite e de dia, com grande insistência”; lhe está falando com uma igreja nova, só tinha podido estar três meses em Tessalônica, e por causa da perseguição, ele teve que ir-se preocupado, mas mandou ao Timóteo. Timóteo chegou com boas notícias, que eles se mantinham na fé, no amor, e apreciando-os a eles; então já estavam na fé, nessa primeira parte da fé, e lhes diz Paulo que ele seguia orando com o Silvano, com o Timóteo: “...com grande insistência, para que vejamos seu rosto e completemos o que falte a sua fé”. A fé inicial tem que ser completada, e o ministério do apóstolo Paulo aqui, o ministério apostólico, tem o encargo, não só a levar as pessoas ao início da fé, mas também eles mesmos avançar para a unidade da fé.

Quando se fala da unidade da fé se coloca no futuro; aqui no Efésios 4:12 diz: “aperfeiçoar aos Santos para a obra do ministério, para a edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé”. A fé é uma, é a fé do Filho de Deus, mas nós temos que chegar à unidade da fé; quando se fala da unidade do Espírito, não usa o verbo chegar a não ser o verbo guardar. Por exemplo aqui no capítulo 4:3 diz: “Solícitos em guardar a unidade do Espírito”. O Espírito é um sozinho; nós não temos que fazer nada para ter a unidade do Espírito, porque todos os filhos têm recebido o mesmo Espírito , a todos nos deu a beber do mesmo Espírito , todos os filhos de Deus temos o mesmo Espírito, não importa a nacionalidade,, a raça, a classe social; não importa se for homem, se for mulher, se for rico ou pobre, se for culto ou inculto, a todos nos deu a beber de um mesmo Espírito; portanto, quanto à unidade do Espírito, não nos pede chegar a nenhuma parte, a não ser somente guardá-la. Já foi dada. O Espírito de fato é e será eternamente Um; portanto, onde Ele está, está a unidade do Espírito. Qualquer pessoa que tem o Espírito do Senhor, tem a unidade do Espírito, não lhe pede que a fabrique, não lhe pede que a alcance, só lhe pede que a guarde com solicitude, em troca, quando se fala da unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, da estatura do varão perfeito, este Varão, é o filho varão daquela mulher, este varão perfeito do versículo 13. Diz: “até que todos cheguemos”; chegar; agora fala de um processo. A partir da unidade do Espírito, chegamos à unidade da fé; quer dizer, crescemos, somos aperfeiçoados, somos edificados na unidade da fé, a fé do Filho de Deus, a fé que uma vez foi dada aos Santos. Não vamos há lhe acrescentar nada à fé; a plenitude desta fé expressa na Palavra de Deus.

Mas uma coisa é que ela esteja na Palavra de Deus e outra coisa é que nós a tenhamos captado, ou a tenhamos recebido ou tenhamos crescido nela; a fé foi dada uma só vez, não aparecerá nenhuma outra Bíblia. Qualquer outra que pretenda aparecer por aí, o Corão, o livro do Mórmon ou qualquer outro, é falso. Paulo disse que nem sequer ele, nem os apóstolos, nem nenhum anjo do céu, podiam pregar um evangelho diferente que o que já pregou Jesus Cristo. Jesus Cristo é o Amém de Deus; já a última Palavra. ?Ele é o princípio e Ele é o fim; portanto na Bíblia já está contida a plenitude da fé do Filho de Deus; mas isso não quer dizer que nós por ter a Bíblia em papel, tenhamo-la no coração, por revelação; isso é outra coisa.

PRECISAMOS NOS APROFUNDAR NO CONHECIMENTO E NA FÉ, NA FÉ E O CONHECIMENTO DO FILHO DE DEUS.

Verão-me, gozarão-lhes, alegrarão-lhes, primeiro na fé, logo a realidade, na esperança, e logo na plenitude. Diz para cá: “...até que todos cheguemos (o verbo agora é futuro, fala-nos de um processo) à unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus”. E agora é como se a fé e o conhecimento do Filho de Deus se sintetizassem em uma pessoa, e é em Cristo. A fé e o conhecimento do Filho de Deus, é um equivalente do seguinte verbo, da seguinte frase: “a um varão perfeito.” Ele está dizendo duas coisas da mesma maneira: “Cheguemos à unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus”, é o mesmo que chegar: “a um varão perfeito” e isso é o mesmo que chegar: “à medida da estatura da plenitude de Cristo”; então aqui fala de uma plenitude que tem uma medida e que tem uma estatura, e essa plenitude, essa medida, essa estatura, é um varão perfeito. Vemos, pois, que a Igreja tem que crescer à medida do varão perfeito; e podíamos dizer que o varão perfeito tem que crescer a Sua própria medida na Igreja, porque Ele ascendeu e envio seu Espírito com o objetivo de enchê-lo tudo, do que? de Si mesmo. Então a unidade do Espírito, a unidade da fé, a unidade do conhecimento, estão relacionados com o varão perfeito. Tudo começa com o Espírito; esse são os penhor da herança, a primeira parte. Pelo Espírito nascemos de novo e nascemos para crescer, para ser edificados juntos como um corpo, o corpo Dele, um organismo para Sua própria vida; então crescemos no Senhor.

Então o Senhor disse que Ele o faria, porque isso é o que a profecia dizia que faria o Filho de Deus; embora a profecia o diz como o filho do David. “David, você derramaste muito sangue, você não me edificará casa, mas você filho que nascerá de ti”, do qual Salmão era tão somente uma figura; o templo que edifico Salomão era apenas uma figura; “Salomão você filho, edificasse-me casa”. Por isso Paulo aos Efésios fala da edificação do corpo de Cristo, e diz: “...para morada de Deus no Espírito.” Toda a edificação, toda a casa que se levante, é para ser cheia. O objetivo do Tabernáculo era ser cheio da glória, o objetivo do templo era ser cheio, o objetivo da Igreja é ser cheia. Ele subiu para enchê-lo tudo, e ao final será “Deus todo, em todos”. Aqui este todos se refere logicamente aos que recebemos ao Senhor, porque outros estarão no Lago de Fogo, conhecendo a justiça de Deus, posto que não quiseram conhecer a Graça, conhecerão o julgamento de Deus. Como rechaçaram a graça, bom, ficaram sem essa metade da moeda de Deus, mas a outra metade a deixarão sempre presente. Deus estará sempre presente com eles em Seu julgamento; Ele quer estar presente na vida de todos em Sua graça, mas se rechaçarmos Sua graça, não fica a não ser em Sua presença: Julgamento.

Então “Eu edificarei (diz o Senhor Jesus) Minha Igreja”. A formação de Cristo na Igreja. A história da Igreja, é a história da edificação de uma casa que o Filho do David faz a seu Pai; a história da Igreja tem esse objetivo, de edificar uma casa para a plenitude de Deus. É Deus em Cristo e Deus por Cristo, pelo Espírito em nós; é Deus o Pai quem colocou Sua plenitude no Filho, e é o Pai e o Filho pelo Espírito que aconteceram e estão passando Sua plenitude à Igreja. Então esta Igreja sendo cheia e portanto aperfeiçoada, e portanto edificada; e todo esse processo tem uma tarde e uma manhã, tem uma dor e um gozo, uma angústia e uma iluminação, e toda a história da Igreja, é uma combinação destas duas coisas. A Igreja passando por dores, por tristezas, por angústias, com o rápido objetivo de dar a luz ao Filho Varão; ou seja que Cristo se forme na Igreja. Sempre a Igreja enfrentará desafios, enfrenta problemas, e esses problemas aqui têm essas palavras que aqui mencionava: angústia, etc.

UM POUCO MAIS DE CRISTO

Mas a resposta, se for ser verdadeira resposta, sempre será um pouco mais de Cristo; nunca a resposta será outra que algo mais de Cristo, um pouco de Cristo que não tínhamos conhecido, um aspecto de Cristo que não tínhamos captado; compreenderemos e participaremos espiritualmente de um pouco mais de Cristo; então o objetivo dessas provas, destas lutas destes conflitos, destes combates, foi que Cristo seja melhor conhecido. Ontem à noite conversávamos com o irmão Jorge Iván Panesso, e outros irmãos, ao falar do processo da história da Igreja, e como o que o Senhor foi revelando de Si, de Seu propósito, de Sua Palavra, de Seus planos, de Suas obras, da riqueza de Sua obra a Sua Igreja, que foi dirigido todo isso pelo Espírito Santo, porque o Espírito Santo está aqui em nome de Cristo, não fazendo nada por Si mesmo, a não ser atuando no nome de Cristo, não falando a não ser o que ouça, o que recebe de Cristo, e Cristo o que recebe do Pai. “A revelação do Jesus Cristo que Deus lhe deu”. Deus o Pai a dá ao Filho, e o Filho ao Espírito, e o Espírito a veio dando à Igreja durante este comprido processo de edificação. Esta edificação é para um final; diz que: “melhor é o fim do negócio, que seu princípio”. Ou seja que os do fim (não os golfinhos, embora sejamos os golfinhos do Senhor) os do fim do negócio, somos os herdeiros do processo da formação de Cristo ao longo da história da Igreja, a Igreja estava em dores de parto, embora haja havido coisas que não compreendeu bem.

A Palavra, a revelação que foi proposta Por Deus, que foi chamada assim pelos teólogos: A Revelação Preposicional, A Revelação Especial que esta na Bíblia; a Palavra completa de Deus já foi dada à primeira geração apostólica; fechou-se o Cânon, já não é necessário que apareça outra Bíblia, já tudo o que temos que conhecer esta aí; somente que agora nos corresponde beber do Espírito, nos voltar para Espírito, para que o Espírito nos dê a resposta, fazendo viva por meio de Cristo Sua palavra a nós. Cada vez a Palavra será mais real, cada vez a Palavra será mais rica, cada vez a Palavra terá major contido para nós; possivelmente ao princípio nós lemos como às escuras, passamos por muitos versos, até os podemos recitar de cor, mas não somos tocados pela realidade desses versos, não se fazem um rhema, uma palavra viva, iluminada, uma iluminação, um sopro, um toque do Espírito, mas sim o Espírito vai capturando, e quando estamos passando de comprimento, de repente algo nos tocou, fez-nos nos deter, fez-nos voltar e voltamos sobre nossos passos e começamos a olhar de novo uma palavra que já tínhamos lido muitas vezes, e que não a tínhamos entendido e que não a tínhamos relacionado com outras que estão também na mesma Bíblia, até que Deus vai trazendo luz. A história da Igreja, a história do entendimento espiritual da Igreja, a respeito da Palavra plena de Deus, a respeito de Cristo, Sua pessoa, Sua relação com seu Pai e com Seu Espírito, com a humanidade, Sua obra, Seu viver, Seu morrer, a profundidade de Sua obra na cruz, a ressurreição, o que nos vem da ressurreição, o que nos vem da crucificação, o que nos vem da ascensão, o que nos vem da intercessão, o que nos vem da encarnação, todo isso a Igreja esteve desfrutando-o como um bota de cano longo que o Valente ganhou e agora a Igreja fica com o bota de cano longo; já a Igreja tem o bota de cano longo nas mãos, já é nosso, mas ainda não o desfrutou, apenas esta tirando as coisas. Mas isto estava aí? Sim. Mas isto também? Sim.

E quem faz isso? O Espírito; o Espírito é o que faz realidade a Cristo em nós, é o que faz viva e vida a Palavra de Deus em nós, é o que verdadeiramente nos edifica. Então, irmãos, a história da Igreja tem esse sentido; convém olhar o que o Espírito tem feito na história da Igreja, convém observar atentamente ao Senhor em Sua edificação, convém pôr atenção às tônicas, às teclas que o Espírito Santo há meio doido nos diferentes séculos; porque foi uma edificação; necessitava-se a luz dos primeiros séculos para que se pudesse edificar algo nos séculos médios; e se necessitava o que foi gerado nos séculos médios para que se pudesse chegar ao que se viu na época da Reforma; necessitava-se o que foi gerado, o que foi formado de Cristo na época da Reforma para que se pudesse dar o que se deu depois nos séculos XVIII, XIX e XX; e nós no século XXI necessitamos todo o contribua do Espírito; não digo somente um contribua com externo; claro que o do Espírito se pode escrever e se pode ter uma biblioteca, claro que ter uma biblioteca fora é o mesmo que ter uma Bíblia sem ler. Damos graças a Deus pela Bíblia e pelo que o corpo de Cristo tem escrito e que enche bibliotecas, mas Deus está interessado, não em que tenhamos bibliotecas, embora não as proíbe, e se a gente apreciar as coisas de Deus, pois acredito que apreciará o que Deus deu aos irmãos, inclusive aos seres humanos; mas o que Deus nos está dando à Igreja durante estes 21 séculos, é algo mais do mesmo Cristo, e é algo que o Espírito fará cada vez mais real; nunca a realidade pode ser independente ao Espírito.

ESPIRITUALIDADE E ORTODOXIA. UNICAMENTE PELO ESPÍRITO

Eu queria olhar com meus irmãos um verso que está aqui na 2ª epístola Timóteo 1, nos versos 13 e 14 diz Paulo ao Timóteo assim; ele se refere a dois aspectos aqui, a um externo, digamos ortodoxo, doutrinal, e a um interno, espiritual, podíamos lhe chamar inclusive carismático se se quiser, não no sentido de carisma, de dons, a não ser vital; e todo este conteúdo de Cristo que a Igreja esteve recebendo para que nela se forme e Ele o encha tudo, tem esses dois aspectos: um aspecto vital, interno, e um aspecto ortodoxo, doutrinal, externo.

Às vezes nos inclinamos segundo nossos temperamentos, a um ou outro aspecto; se formos pessoas racionais e se tivermos algum dom de professor, possivelmente nos inclinemos ao aspecto ortodoxo, doutrinal; se formos umas pessoas um pouco mais místicas, ao aspecto interno, espiritual, ou inclusive bastaria sendo emocionais, porque às vezes o emocional se parece um pouco ao místico; não é o mesmo, claro, mas como se parece, então às vezes substituímos o místico, o misterioso, o espiritual, pelo meramente emocional. Há pessoas que só procuram saber; outras que procuram sentir, uns se inclinam mais por estar sentindo; “é que não sinto nada e eu quero sentir, é que faz momento não sinto”, e outro o que quer não é tanto sentir, mas bem desconfia desses sentires; ele o que quer é saber; mas tanto o saber como o sentir pertencem só ao âmbito da alma, do homem exterior, ao âmbito anímico, não ao mais interno, ao âmbito espiritual, Claro que Deus quer que sintamos e que saibamos, mas o que mais quer Deus é que criamos. Ainda não podemos saber nem sentir tudo o que algum dia temos que saber e de sentir, agora é necessário acreditar e viver uma vida de fé, para que por essa fé, essa dependência, esse contato, possamos ser tocados e receber realidade espiritual em nosso interior; hei aqui essa realidade.

Diz Paulo ao Timóteo em 2 Timóteo 1 (o verso 13 fala da ortodoxia doutrinal e o verso 14 fala da experiência espiritual, uns podiam dizer do Logotipos e do Rema): “Reserva a forma das sões palavras, que de meu ouviu na fé”; porque não são só palavras, a não ser palavras reais, palavras na fé, e no amor; mas esta fé e este amor tampouco são reais em si mesmos, só em Cristo. Cristo é a realidade da fé e do amor, e a fé e o amor em Cristo, são a realidade desta forma das sões palavras. Então poderíamos dizer que a forma das sões palavras são o aspecto doutrinal ortodoxo da verdade, que deve ser retido; não podemos pretender ser tão espirituais que nos deixemos da ortodoxia; porque assim qualquer espírito misticoide nos levaria a fantasias pensando que é o Espírito Santo. Não vou contar casos, acredito que Manolito Urrea, tem a carga de falar sobre isso e pode ser que nos conte uns casos; mas logo então diz o verso 14: “guarda o bom deposito (e diz aqui) pelo Espírito Santo que mora em nós”. Fixa lhe que o bom deposito, ou seja, a realidade das palavras ortodoxas, aquilo ao qual se refere a ortodoxia, só o pode guardar o próprio Espírito Santo; do qual devemos depender cada dia; para que o que sabemos, as verdades que aprendemos, as verdades da ortodoxia, sejam vida em nosso ser; só o Espírito Santo nos pode fazer isso vivo. Pode ser que o dia que teve uma revelação, foi muito vivo para ti, mas passado o tempo, começamos a ficar com a casca, com a formula, com o formalismo, com a inércia, e se perde a vitalidade; mas dizemos as mesmas coisas, o credo é o mesmo, formula-a é a mesma, o credo da Nicéia, o da Calcedônia, a confissão do Ausburgo, podem ser verdadeiras, referem-se a coisas da Bíblia; mas Deus está interessado em que por meio do Espírito Santo mantenhamos viva essa verdade; tenho que dizer: “Senhor, eu não quero repetir somente costure que sei, claro que as tenho que dizer, não vou dizer outras, mas necessito de Ti, porque só Você mesmo é a verdade desta coisas, só Você mesmo é a realidade destas palavras; necessito de Ti, volto-me para Ti”. Diz que se viermos a Ele pela fé, “de nosso interior correrão rios de água Isto viva diz San João: “isto disse do Espírito que receberiam os que acreditassem”, ou seja que o Espírito está sempre para que nos voltemos para Ele para acreditar; nem tanto para saber, nem tanto para sentir, a não ser para acreditar. “que em mim crie, de seu interior correrá o Espírito, ...como rios de água viva”; são vários rios, porque necessitamos constantemente que a secura da ortodoxia, que pode nos levar a murchar, reverdeça; só o Espírito faz reverdecer aquilo ao qual se refere a ortodoxia, e Paulo nos manda a reter as duas coisas, o aspecto externo e o interno. “Reserva a forma e guarda o bom deposito...”. O Bom Deposito é tudo o que Deus o Pai é, Sua plenitude que pôs em Cristo, e o que o Pai e o Filho, o que eles são e têm feito, o Espírito o faz real em nós, por meio de depender deles na fé, acreditar Sua palavra e depender, vir ao Senhor, dizer ao Senhor: “Não tenho nada sem ti, não quero ser um papagaio”. Um papagaio pode aprender o credo da Calcedônia, um papagaio pode aprender a confissão de Ausburgo e a podia repetir, mas sabemos que o Senhor nos deu mais que palavras e que as repetir como um papagaio; necessitamos essa presença do Espírito que esta aí, não porque nós o mereçamos, não porque tenhamos guardado a lei, mas sim pelo ter ouvido a Palavra com fé; é acreditar a Palavra o que abre as portas ao funcionamento da obra do Espírito.

“Receberam o Espírito pelas obras ou pelo ouvir com fé..., aquele que faz maravilhas entre vós...”; então o que faz maravilhas entre nós é o que subministra o Espírito e o faz somente pela fé; acreditar em Deus. Se Deus te concede sentir algo, saber algo, amém; recebe-o como um dom de Deus; é um dom de Deus saber algo. Saber eletricidade também é um dom de Deus, saber engenharia é um dom de Deus, saber agricultura também é um dom de Deus; todo isso é um dom de Deus; não vamos menosprezar os dons de Deus. Deus junto com seu Filho nos deu todas as coisas, mas todas as coisas sem seu Filho se voltam uma distração e uma enganação, um engano; mas todas as coisas com seu Filho são nossas. Deus nos deu todas as coisas, até a morte é nossa, e a vida e o futuro, tudo é nosso em Cristo Jesus; somos herdeiros de tudo, tudo nos pertence e nos é útil se estivermos em Cristo, se Cristo for o administrador, se Cristo for o que dirige todas as coisas. As coisas nos foram dadas, não vamos menosprezar as coisas porque seria menosprezar ao Doador, mas não vamos idolatrar as coisas de tal maneira que nos afastem do Criador.

Graças a Deus por todas as coisas, por todas as experiências, por todas as posses, por todos os conhecimentos; essa não é a letra que arbusto, a letra que arbusto é a própria letra da lei de Deus que foi escrita em pranchas de pedra, para condenar ao que não obedeça a lei; essa é a letra que Marta, mas todo o resto que possamos conhecer, de agronomia, de medicina, de engenharia, de astrofísica, etc., é um dom de Deus; todas as coisas nos foram dadas. “O que é o homem para que te dele lembre? Fez-lhe inferior aos anjos, entretanto o coroou de honra e glória, todas as obras de suas mãos, pô-las nas mãos do homem”; de maneira que não precisamos nos desfazer de uma parte dos dons de Deus, o que precisamos é recebê-los e administrá-los em conjunção com Cristo, em comunhão com Cristo; nada do que é humano nos tem que ser proibido, ou nos tem que ficar grande, não! Tudo o que é humano, é humano por vontade de Deus, menos o pecado (claro, isso foi que Deus o permitiu, mas não o quer), mas tudo o que nos vem do que é humano por criação de Deus, é algo que Deus quer que o tenhamos como um presente Dele, e o administremos em união, em comunhão com seu Filho Jesus Cristo. Toda a história da Igreja é isto, tem um conteúdo interno e um externo; digamos que às vezes temos sozinho a ortodoxia, mas um dia iluminou algo mais de Cristo e a ortodoxia se fez viva e se fez visto; aí está o Espírito. Então essa é a formação de Cristo, é quando a ortodoxia se faz viva, por causa do Espírito.

O QUE DEUS NOS CONCEDE PARA QUE ISSO FALEMOS

Em 1ª aos Coríntios capitulo 2, também fala destes aspectos. Diz no verso 12 até o 15: “e nós não recebemos (eu gosto do verbo receber, assim como o verbo acreditar, porque nada se pode receber, a não ser acreditando) o espírito do mundo”. Ai Senhor! Guarda meu coração, guarda nosso coração de receber o espírito do mundo.

Nós estamos fechados, devemos está-lo, pelo menos fechados ao mundo; na cruz o mundo foi crucificado e nós crucificados ao mundo “Não recebemos (diz Paulo com essa segurança) o espírito do mundo, a não ser...”; isto sim recebemos; isto não é um prêmio a muito jejum, ou um prêmio a algumas orações bem desmedidas, nos dando cabaçadas contra a parede, não!, é por fé que se recebe; o que sim recebemos é “o Espírito que provém de Deus (Que maravilha! isso é o próprio do Espírito, a procedência, o Espírito provém de Deus) para que saibamos (aqui está o conhecimento do Filho de Deus. Saibamos o que?) o que Deus nos concedeu”. Isso, o que Deus nos concedeu é o Bom Deposito, é a realidade, é o próprio Deus, é o próprio Cristo, é o próprio Espírito, é a obra efetiva; isso é o que Deus nos concedeu, esse é o conteúdo interno, mas diz que temos que sabê-lo, quer dizer, tomar consciência; nisto terá que crescer: Na fé e no conhecimento do Filho de Deus; é um conhecimento espiritual que claro que deixa suas marcas e seu trabalho no natural, mas o núcleo, a medula é espiritual, e diz para cá: “o que Deus nos concedeu, o qual também falamos”; essa é a ortodoxia, essa é a verdade doutrinal, mas aqui temos as duas coisas, uma: “o que Deus nos concedeu”, e a outra: “o qual também o falamos”, este contido o expressamos segundo a forma dos sãs palavras, ou seja, a ortodoxia bíblica; mas temos a ortodoxia bíblica e o Espírito, que é a realidade o que a Bíblia fala; temos as duas coisas; para isso a Igreja está para cá, para que Ele o encha tudo, e então Ele o enche assim pelo Espírito; mas o Espírito também se expressa em palavras: “O que Deus nos concedeu” e “o qual, também falamos”; esse é o testemunho da Igreja, ou seja que a Igreja está aqui, estamos aqui para ser testemunhas do que o Senhor está enchendo; ser testemunhas. Ser testemunha não é somente falar; ser testemunha é ver o que Deus está fazendo.

Quando Deus disse a seus discípulos: “serão-me testemunhas”, não somente quer dizer: Vão falar de mim, não, vocês me vão ver fazendo as coisas e vocês as vão interpretar”; como o fazia Pedro: “Isto é o que disse o profeta Joel: Nos últimos dias, derramarei meu Espírito sobre toda carne, sobre meus servos, sobre meus sirva, sobre meus filhos sobre minhas filhas...”; isto é isto, ou seja, está a realidade e está a interpretação. Aí temos não só ortodoxia, nem só carisma, mas sim temos vida e temos verdade, vida e verdade. O Senhor é “o caminho, a verdade e a vida”. O caminho é todo Ele. Todo o processo é algo mais de Cristo; o primeiro passo é: um pouquinho de Cristo, o segundo passo é: outro pouquinho de Cristo, o terceiro passo é outro pouquinho de Cristo, o quarto passo, todos os passos, e todo o caminho é Cristo.

Então Cristo tem essas duas coisas: Verdade e Vida; a vida é o Espírito, e a verdade é também Cristo; e é a Palavra, poderíamos dizer é a ortodoxia. “Sua Palavra é Verdade”. Então aqui vemos isso dois aspectos, verdade? “O que Deus nos concedeu, isso também falamos”; o falar dos apóstolos, o falar do Novo Testamento, o falar da Igreja, é a ortodoxia; mas essa ortodoxia não é uma ortodoxia seca, não é uma ortodoxia vazia, é uma ortodoxia com seu respectivo conteúdo espiritual que é o próprio Senhor. Então diz para cá: “...também o falamos não com palavras ensinadas com sabedoria humana...”. Vocês sabem que há duas classes de sabedoria, uma meramente natural, mas há uma que provém do alto, que é primeiro pacifica, cheia de mansidão, cheia de bons frutos, essa é a verdadeira sabedoria de Deus; não é somente uma erudição jactanciosa, mas sim é mansa, humilde, ou seja que tem um caráter, uma natureza espiritual; e então diz para cá: “não com palavras ensinadas com sabedoria humana, a não ser com as que insígnia o Espírito”; ou seja que o Espírito ensina palavras, o Espírito ensina a expressão ortodoxa, o Espírito ensina a forma das sãs palavras, mas também as cheia de conteúdo, como Jesus disse: “minhas palavras são Espírito e vida”; então diz para cá: “as palavras que insígnia o Espírito acomodando o espiritual ao espiritual”; e aqui vemos que há duas coisas espirituais que se acomodam uma à outra, e que se correspondem. Uma coisa espiritual é o que Deus nos concedeu. O que é? a própria vida divina, a natureza divina, nosso próprio Pai em seu Filho Jesus Cristo, em seu Espírito; e o que o obteve em sua vitória sobre a morte, o pecado, o mundo, o diabo, todo isso nos concedeu isso e isso também o falamos; e esse falar apostólico, esse falar neotestamentário, esse falar da Igreja, é a ortodoxia, a fé que foi dada aos Santos, a fé em que a Igreja tem que crescer. A Igreja tem que crescer na ortodoxia viva, na vida, em sua forma correta, forma da sãs palavras, o bom deposito pelo Espírito, e aqui vem o espiritual acomodando-se com o espiritual, um conteúdo interno, o que Deus nos concedeu, isso é algo espiritual, falamo-lo com palavras ensinadas pelo Espírito, acomodando, acomodando as palavras ao que Deus nos concedeu, acomodando as palavras. O Espírito Santo nos dá palavras que são as que estão no Novo Testamento; essas são as Palavras que ensinou o Espírito; isso, o Novo Testamento, são as palavras que se referem ao que Deus nos concedeu. Então a Igreja que está no ministério do Novo Pacto, a diferença da sinagoga no Antigo Pacto, e do sacerdócio do Aarão; o sacerdócio de Aarão nos dava só o aspecto exterior, mas no aspecto do Novo Pacto, a Igreja administra as duas coisas, o conteúdo, o bom deposito, o que Deus nos concedeu, a realidade espiritual, através de umas palavras, da forma das sãs palavras, de uma ortodoxia bíblica, que é também inspirada pelo Espírito Santo, e que a Igreja como ministério do Novo Pacto deve administrar as duas coisas; sempre que nos estejamos dando conta que nos estamos ficando só na letra, bom, nós sozinho temos letra, mas o Espírito Santo tem vida e Ele nos dá isso, não porque mereçamos algo, venhamos mas bem e digamos: “Senhor, volto-me para Ti, necessito sua graça, necessito seu Espírito, com Seu sangue venho a Ti, para que Você faça viva sua Palavra; não vou eu a fazer viva a palavra, não vou eu a lhe dar manivela às emoções para aparentar uma coisa que não é. Senhor, necessito Sua graça”.

RECEBEMOS TUDO PELA OPERAÇÃO DO PODER DE DEUS

A graça é a operação de Seu poder, esse é o ministério; diz aqui no Efésios (voltaremos para o Coríntios) 3:7, 8: “A mim que sou menos que o mais pequeno de todos os Santos, foi dada esta graça”; não diz este prêmio, não é porque mereci um prêmio, não, não; não é um prêmio, é um presente. “O que tem que não tenha recebido? E se o recebeu, por que te glorifica como se não o tivesse recebido?... Quem te distingue?” Tudo recebeste, ninguém se pode glorificar; “...esta graça, fui feito ministro...”, fui feito servidor , ou seja, o ministério do Novo Pacto, que é o ministério que tem agora o corpo de Cristo, assim se forma. “...ministro pelo dom da graça...”, pelo presente do presente, pelo dom da graça; ministro pelo dom da graça; e diz “que me foi dado”; outras vez dado, tudo é um presente. E como é dado? Como é que Deus dá o dom da graça? “Segundo a operação de seu poder”, ou seja que quando o poder de Deus opera, que não é o nosso, embora seja através de nós, quando o poder de Deus, quando a realidade do que Deus nos concedeu, que é Deus, quando o poder de Deus opera, essa é a maneira como Deus dá o dom da graça. Deus dá de presente o presente do presente, o dom da graça; assim Deus te faz servidor. “Fui feito ministro pelo dom da graça que foi dado, segundo a operação de seu poder”; ou seja, o poder do Senhor é o conteúdo, é o Espírito, é a realidade das coisas, e esse é um dom dado a quem? À Igreja, a todo o corpo de Cristo, uns com um ministério, outros com outro, no sentido externo, mas no fundo todos com o mesmo ministério da reconciliação, da Palavra, do Espírito, do Novo Pacto, da justificação; esse é o ministério que compartilhamos todo o corpo de Cristo. O corpo de Cristo é o administrador da graça de Deus, como se a graça fora um pacote, uma realidade espiritual que está nas mãos da Igreja, e que as pessoas que se encontram com a Igreja recebem uma realidade espiritual que é graça, que é vida, que é luz, que é poder de Deus, que é salvação, que regenera; é uma administração espiritual, uma verdadeira edificação que esta Filho fazendo para seu Pai. O Filho edificando para o Pai. Então aqui vimos esses dois aspectos.

Voltemos para 1 Coríntios 2:14: “Mas (mas, mas) o homem natural...”; a palavra no grego é o homem psíquico, ou seja, o homem meramente almático, que está só em seus pensamentos humanos, em suas emoções humanas, em suas decisões humanas, que está tratando de produzir magicamente, chamánicamente, por si mesmo alguma coisa. Diz: “o homem natural, não percebe...”; e aqui se usa o verbo perceber; o espiritual, a realidade espiritual, tem que ser percebida; mas se uma pessoa não nasce de novo, não pode perceber. Não que não esteja ali o Senhor, não que não esteja ali a vida, não que não esteja ali a luz, não que não esteja ali o poder, só que estão cegos, e não o vêem; mas os que o vêem, justificam a sabedoria de Deus.

Não disse assim o Senhor Jesus? O mesmo Senhor Jesus que esteve fazendo milagres na Galiléia, foi o que esteve no Nazaré, mas os do Nazaré diziam: Mas quem é este? Não é este o carpinteiro? e não puderam perceber porque estavam no homem natural; e diz o Senhor Jesus e depois Paulo: “que não nasce de novo, da água e do Espírito, não pode perceber, não pode ver, não pode entrar no reino deste Deus ver, é este perceber; o ver do João 3 é o perceber de 1 Coríntios 2; as coisas espirituais se têm que perceber, e o perceber não é um fruto do trabalho do homem, mas sim é a graça de Deus.

“Bem-aventurado é, Simão filho do Jonas, porque não lhe revelo isso...”, ou seja que Pedro percebeu algo, e não foi porque Pedro fora melhor; não, não, era bem-aventurado, porque o Pai o revelou, o Pai lhe revelou ao Filho, e sobre a rocha, que é este Cristo sendo revelado e confessado pela Igreja, é que a Igreja é edificada. Então a Igreja se edifica em uma revelação que é o conteúdo interno, que é a luz, que é a presença do Espírito Santo dizendo: Isto é assim. Mas agora você o confessa; então, a confissão do Pedro, e que tem que ser a da Igreja, é a ortodoxia, a doutrina; mas a revelação que recebeu Pedro é o que Deus nos concedeu. Isso é o espiritual, o interno. Quem é o Filho? e Para que veio? O que nos fez? e o que nos deu? e o que somos nele? Isso nos é revelado e também é confessado pela Igreja. A Igreja tem um testemunho dobro, um testemunho que é o ministério do Novo Pacto, que é administrar a graça de Deus através de umas palavras também espirituais, ensinadas também pelo Espírito, uma forma das sões palavras, um testemunho ortodoxo e vivo. Eu queria lhes chamar a atenção aos irmãos, de que somos herdeiros desse testemunho que tem essas duas caras, uma cara para dentro e uma cara para fora, uma cara que é o que Deus nos concedeu, a realidade do Espírito, o poder, a revelação, e uma cara que é a confissão, a forma das sãs palavras, a doutrina. “Guarda a doutrina”, diz Paulo. Paulo não tinha reparos em falar de doutrina, a doutrina dos apóstolos; fui entregue a esta forma de doutrina; claro, também foi entregue ao Senhor, às duas coisas, ao Senhor e a esta forma de doutrina; e esta forma de doutrina é uma expressão apostólica. Não devemos já pretender ser tão carismáticos, que nos vamos desfazer de toda doutrina.

OBEDECENDO EM ESPÍRITO A FORMA SÃ DA DOUTRINA

Vamos ler essa expressão em Romanos 6:17; aqui aparece como uma doutrina pode produzir um efeito na pessoa; mas por que? Porque essa doutrina é somente um pacote que contém um conteúdo; por isso produz o efeito do verso 18; o verso 17 diz: “graças a Deus, que embora foram escravos”; e Paulo o diz com essa segurança: “foram escravos”, não necessariamente agora, agora vocês têm algo que é mais capitalista que o pecado que há na carne; vocês têm o Dom do Espírito, como se o Senhor dissesse: “Nunca vocês vão vencer se a vocês mesmos com seu próprio poder; recebam meu presente, queiram-no, contem comigo”. Então diz: “graças a Deus que embora foram escravos do pecado...”; Paulo tivesse podido dizer aqui: “obedecestes a Cristo”, o qual estaria e pareceria muito espiritual, mas isto também é espiritual, isto o inspirou o Espírito Santo: “obedecestes que coração a aquela forma de doutrina”; note que aí fala: Forma de doutrina; essa é a ortodoxia; mas claro que Paulo não era só um professor de confissões, não; ele era um ministro do Novo Pacto, ou seja, ele dependia da ajuda do Espírito Santo, e o Espírito Santo operava poderosamente nele; esse é o atuar de Deus no ministério. O ministério de novo Pactuo é um atuar de Deus. “que atuou no Pedro, atuou também em mim para com os gentis”; ou seja que Paulo tinha consciência que ele sozinho não tinha atuado; claro que ele também disse: “Eu percorri tudo até o Ilírico, e o enchi tudo, ...não eu, a não ser a graça de Deus com esfarelo”; não eu sozinho, se claro, eu fui, eu fiz, mas não eu sozinho, a graça de Deus com esfarelo. Então ele diz aqui de é outro aspecto Amém? Competentes por nós mesmos? não!, mas sim um presente de Deus. Então diz:“obedecestes que coração a aquela forma de doutrina”, isso, a doutrina dos apóstolos, tem uma forma espiritual; o que recebemos também o falamos com palavras ensinadas pelo Espírito; essa é a forma da doutrina, as palavras espirituais que se acomodam ao conteúdo espiritual; essas duas coisas Deus nos deu isso , a Igreja, para dar um testemunho, e esse testemunho é um testemunho crescente; embora a fé foi dada uma só vez, é cada vez melhor entendida, cada vez melhor vivida, cada vez melhor representada, cada vez melhor exemplificada; isso, enquanto o diabo está mandando seu rio de águas sujas, o Senhor diz: “O inimigo não levantará bandeira”, “quando o inimigo viniere como um rio, o Senhor levantará bandeira, contra ele”. Ou seja que na medida que aumenta a maldade, que aumenta a configuração da globalização do mundo para o reino do anticristo e do dragão, a Igreja também vai maturando, nesse Varão vai crescendo, a Igreja vai recebendo o que necessita de Cristo para enfrentar qualquer situação.

SEMPRE SERÁ ALGO MAIS DE CRISTO

Quando vemos as sete idades da Igreja, vemos nas sete idades da Igreja, que a Igreja passa por diferente citações; às vezes cai, às vezes falha, e o Senhor em Seu amor, aos que ama corrige e inclusive castiga, porque a palavra castigo também existe de parte do amor do Senhor. O Supremo nosso Sacerdote com seus despabiladeras diz: “...mas tenho contra ti... tenho contra ti...”.

O que vemos ali nessas idades da Igreja? Vemos que o Senhor, é a resposta para todos os desafios da Igreja; a Igreja passa por períodos para enfrentar diferentes desafios para que Cristo seja a resposta aos novos desafios, os desafios do Império Romano, os desafios do Judaísmo, os desafios da filosofia grega, os desafios do gnosticismo, a resposta para todos eles foi um pouco mais de Cristo formando-se na Igreja; logo vieram os desafios da época do Sacro Império Romano, a mescla da política com a religião, mas a resposta foi: um pouco mais de Cristo, da santidade, da separação de Cristo; e havia irmãos que lhe deram lugar a Cristo e venceram esse novo desafio; veio uma nova era da Igreja, novas circunstâncias, novas mesclas, se não havia perseguições por fora, havia armadilhas por dentro. Qual era a resposta sempre a tudo? um pouco mais de Cristo. “Ainda um pouco e não me verão... a mulher quando vai dar a luz tem dor, tristeza, angústia”. Mas o que é tudo isto? Para que é todo isso? Para que a resposta seja um pouco mais de Cristo; sempre a Igreja receberá um pouco mais de Cristo, para enfrentar qualquer desafio, a soma dos desafios, as sete Iglesias, a soma dos problemas que o diabo enfrentará contra Deus, está sintetizado nos problemas das sete foi da Igreja, Apocalipse 2 e 3, e a resposta sempre é Cristo. “...assim diz o que esta em meio dos sete castiçais... que tem a espada... assim diz o que tem os sete Espíritos... assim diz o Amém... assim diz o Santo...”, assim diz, assim diz. Sempre nos distintos aspectos de Cristo; é um mesmo Cristo que no capítulo um tem todas as coisa nele, mas ao Éfeso aplica este lado de Sua pessoa, a Esmirna aplica este lado, a este Pérgamo, a Tiatira, a Esmirna, a Filadélfia e a Laodicéia, a cada um responde com algo de Si mesmo; a única resposta e a suficiente para todo desafio havido e por haver é algo mais de Cristo e toda vivificação do Senhor. A edificação é isso, edificar é: um pouco mais de Cristo. Nunca será outra coisa a verdadeira edificação a não ser um pouco mais de Cristo. Cristo nos dando saída para este novo desafio, e por isso o Pai nos permite diferentes desafios, às vezes complicados; para que? para dar lugar a Cristo, para que Cristo seja visto; de repente onde não havia saída, houve uma saída e qual era a saída? Algo mais de Cristo. Sempre a saída será um pouco mais de Cristo.

Isto, tendo sido falado a nível geral, a nível panorâmico, sem entrar nos detalhes da mão do Senhor, providente da história da Igreja, isso se poderia ver também, se o Espírito o dirigir, se o quer usar de uma maneira viva, para nos capacitar para hoje, porque a Igreja tem todo um deposito, tem um deposito de munições, mas que só o mesmo Espírito as vivifica. Terá que ir ao Senhor, às vezes só vamos à ortodoxia; isso foi o que aconteceu o Israel, e Jesus lhes disse: “Vós esquadrinham as Escrituras, pensando ter nelas (ou seja, no aspecto externo da ortodoxia) a vida eterna, mas (o que fazem as escrituras?) elas dão testemunho de mim”. Como se dissesse: “Elas são um caminho para mim, mas vós não querem vir para mim, para ter vida; vós vão às escrituras, pensando ter vida, mas das Escrituras não vêm para mim, mas venham para mim; que em mim crie, de seu interior correrá o Espírito”; mas não terá que ir só à Escritura, terá que ir a Ele com a Escritura. Quando lemos a Escritura, lemo-la em oração, não cumprindo um dever, a não ser conversando com o Senhor, dependendo, querendo encontrá-lo a Ele em cada frase da Escritura. Que Ele seja quem nos ilumine cada versículo, que Ele seja quem nos conecte este com aquele, e então assim algo mais Dele se forma em nós, e somos edificados, mas a única verdadeira edificação sempre é: Algo mais de Cristo; cada desafio que temos por diante, é uma ocasião a Cristo, e nós poderemos honrar a Cristo. Se em nosso desafio pessoal e coletivo vamos a Cristo, cada desafio que fazia a Igreja: “Senhor, olhe: levantaram-se estes: Herodes e Pilatos... E: Senhor, concede a Sua Igreja denodo”. Já tinha vindo o Espírito Santo no dia do Pentecostes, e voltou a tremer e voltaram a sentir o Espírito Santo porque o aspecto econômico da unção do Espírito é para muitas vezes. Ele deveu morar uma vez para sempre vitalmente em nós; ao nascer de novo, temos o Espírito; esse é o espiritual, habitando em nós; mas muitas vezes necessitamos também que venha sobre nós: para esta vez, para esta vez, para cada vez necessitamos algo mais Dele formado em nós, e algo mais Dele sobre nós.

Então, irmãos, não entrei em detalhes, a não ser somente na parte panorâmica, mas confio que o Espírito Santo nos ajudará a tratar de entender a carga da Palavra, e a aplicá-la em um âmbito até major do que pudemos conversar.

ORAÇÃO FINAL

Pai Deus: No nome do Senhor Jesus, como precisamos te honrar e ser vitoriosos em ti, Senhor- Nos ajude porque às vezes somos provados em pequenas coisas, e muitas vezes Lhe entristecemos ao ter sido derrotados, tendo a nossa mão tanta riqueza, e essa derrota se deve porque amamos mais o pecado e a nós mesmos que a Ti. nos perdoe, Pai, não te canse de nos perdoar; nos ajude a nos levantar de novo. Tenha compaixão de cada um de nós. Você nos fez irmãos, família; glorifica Seu nome em nossa vida, que não Lhe envergonhemos e entristeçamos, mas sim Lhe alegremos; no nome do Senhor Jesus. Amém.

A cruz e o Espírito Santo- Watchman Nee

Extraído do Livro " O Homem Espiritual"
Muitos crentes, senão a maioria deles, não foram cheios do Espírito Santo no momento em que acreditaram no Senhor. E o que é ainda pior, depois de muitos anos de terem crido, continuam presos nas redes do pecado e ainda são cristãos carnais. Nas páginas que seguem, tudo o que tentamos explicar sobre como se pode libertar um cristão de sua carne está apoiado na experiência dos crentes de Corinto e também na de muitos crentes parecidos de todas partes.
Além disso, não desejamos dar a entender que um cristão deve primeiro acreditar na obra substitutiva da cruz e posteriormente acreditar em sua obra identificativa. Não é verdade, entretanto, que muitos, no princípio não têm uma revelação clara em relação à cruz? O que receberam é só a metade de toda a verdade, e por isso têm que receber a outra metade em um período posterior.
Mas, se o leitor já aceitou a obra completa da cruz, o que vai encontrar aqui não lhe interessará muito. Mas se, como a maioria de crentes, também acreditou unicamente na metade de toda a verdade, então lhe é indispensável o resto. Mesmo assim, queremos seriamente que nossos leitores saibam que não é necessário aceitar as duas faces da obra da cruz em separado; a segunda aceitação só é necessária para quem recebeu a primeira de maneira incompleta.

A libertação da cruz
Em sua carta aos Gálatas, depois de enumerar muitos atos da carne, o apóstolo Paulo adverte que «os que pertencem a Jesus Cristo crucificaram a carne com suas paixões e desejos» (Gl. 5:24). Eis aqui a libertação. Não é estranho que o que interessa ao crente difere muito do que interessa a Deus? O crente está interessado nas «obras da carne» (Gl. 5:19), quer dizer, nos pecados variados da carne. Está ocupado com a irritação de hoje, o ciúmes de amanhã ou a disputa de depois de amanhã. O crente se lamenta por um pecado em particular e deseja conseguir a vitória sobre ele. Entretanto, todos estes pecados só são frutos da mesma árvore. Enquanto se agarra uma fruta (em realidade não se pode agarrar nenhuma) aparece outra. Crescem uma atrás de outra e não dão nenhuma possibilidade de vitória. Por outro lado, Deus não está interessado nas obras da carne mas sim na crucificação da carne.

«E os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências.» (Gl. 5:24).

Se tivessem arrancado a árvore haveria alguma necessidade de temer que desse fruto?
O crente trabalha ativamente fazendo planos para controlar os pecados, que são as frutas, enquanto se esquece de tratar a própria carne — que é a raiz —. Não é estranho que antes de que possa resolver um só pecado já surgiu outro. Por isso hoje devemos tratar a origem do pecado.
Os recém-nascidos em Cristo precisam se apropriar do profundo significado da cruz porque ainda são carnais. O objetivo de Deus é crucificar junto com Cristo o velho homem do crente, com o resultado de que os que pertencem a Cristo «crucificaram a carne com suas paixões e desejos».
Tenham presente que o que foi crucificado é a carne junto com suas poderosas paixões e desejos.
Posto que o pecador foi regenerado e redimido de seus pecados por meio da cruz, agora o menino carnal em Cristo deve ser libertado do domínio da carne pela mesma cruz para que possa andar segundo o espírito e já não segundo a carne. Depois disto não passará muito tempo antes de que seja um cristão espiritual.
Aqui encontramos o contraste entre a queda do homem e a ação da cruz. A salvação que proporciona esta é justamente o remédio para aquela. Que adequação tão perfeita entre as duas!
Primeiro Cristo morreu na cruz pelo pecador para perdoar seu pecado. Portanto, o Deus santo podia perdoá-lo com justiça. Mas a seguir está o fato de que o pecador também morreu na cruz com Cristo para que não possa ser controlado mais por sua carne. Só isto pode fazer que o espírito do homem recupere seu próprio domínio, que o corpo seja seu servidor externo e que a alma seja sua intermediária. Desta forma, o espírito, a alma e o corpo são restaurados a sua posição original anterior à queda. Se ignoramos o significado da morte que descrevemos, não seremos libertados. Que o Espírito Santo seja nosso Revelador!
«Os que pertencem a Cristo Jesus» se refere a todo crente no Senhor. Todos os que creram nEle e nasceram de novo lhe pertencem. O fator decisivo é se se esteve unido a Ele na vida, não se se é espiritual ou se se trabalhar para o Senhor, nem se se conseguiu libertação do pecado; venceram-se as paixões e desejos da carne e agora se é plenamente santificado. Em outras palavras, a pergunta só pode ser: foi-se regenerado, ou não? acreditou-se no Senhor Jesus como Salvador, ou não? Se for sim, não importa o estado espiritual atual — em vitória ou em derrota —, crucificou-se a carne».
O assunto que temos adiante não é moral, nem é coisa da vida, conhecimento ou obras espirituais. Simplesmente é se se é do Senhor. Se for assim, então já se crucificou a carne na cruz. Está claro que isto significa, não que alguém vai crucificar, nem que está no processo de crucificação, mas sim que já crucificou.
Convém ser mais explícito aqui. Assinalamos que a crucificação da carne não depende das experiências, por muito diferentes que possam ser, mas sim depende do fato da obra terminada de Deus.
«Os que pertencem a Cristo Jesus» — tanto os fracos como os fortes — «crucificaram a carne com suas paixões e desejos».
Dizeis que ainda pecais, mas Deus diz que fostes crucificados na cruz.
Dizeis que vosso mau gênio persiste, mas a resposta de Deus é que fostes crucificados.
Dizeis que vossas paixões continuam sendo muito poderosas, mas novamente Deus replica que vossa carne foi crucificada na cruz.
De momento, façam o favor de parar de olhar suas experiências e ouçam o que Deus lhes diz. Se não escutarem sua Palavra e em lugar disso observarem continuamente sua situação, jamais viverão a realidade de que sua carne foi crucificada na cruz. Não façam caso de seus sentimentos e de sua experiência. Deus declara crucificada sua carne, e conseqüentemente, ela foi crucificada. Respondam simplesmente à Palavra de Deus e terão experiência. Quando Deus lhes diz que «sua carne foi crucificada», devem responder: «Amém, é verdade que minha carne foi crucificada.» Atuando desta maneira, segundo sua Palavra, comprovarão que sua carne está verdadeiramente morta.
Os crentes de Corinto se permitiram cometer os pecados de fornicação, ciúmes, disputas, espírito partidarista, pleitos e muitos outros. Eram claramente carnais. É certo que eram «meninos em Cristo», mas mesmo assim eram de Cristo. Pode-se dizer realmente que estes crentes carnais haviam tido sua carne crucificada na cruz? A resposta é indubitavelmente que sim. Inclusive estes haviam tido crucificada sua carne. Como é isso? Devemos compreender que a Bíblia jamais nos diz que nos crucifiquemos. Só nos informa que «fomos crucificados». Devemos compreender que não temos que ser crucificados individualmente, mas sim fomos crucificados junto com Cristo (Gl. 2:20; Rm. 6:6). Se foi uma crucificação conjunta, então quando o Senhor Jesus foi crucificado, nesse momento também foi crucificada nossa carne. Além disso, a crucificação junto com a sua não a sofremos pessoalmente, posto que foi o Senhor Jesus quem nos levou a cruz em sua crucificação. Em conseqüência, Deus considera nossa carne já crucificada. Para Ele é um fato consumado. Sejam quais forem nossas experiências pessoais, Deus declara que «os que pertencem a Cristo Jesus crucificaram a carne». Para possuir esta morte não devemos dedicar muita atenção a investigar ou observar nossas experiências. Em vez disso devemos acreditar na Palavra de Deus. «Deus diz que minha carne foi crucificada e por isso acredito que está crucificada. Reconheço que o que diz Deus é verdade.» Respondendo desta maneira logo nos encontraremos com a realidade disto. Se primeiro olhamos o ato de Deus, nossa experiência virá a seguir.
Da perspectiva de Deus, esses coríntios já tinham crucificada sua carne na cruz com o Senhor Jesus, mas do seu ponto de vista é evidente que não tinham semelhante experiência. Possivelmente isto se devia a seu desconhecimento de fato de Deus. Daí que o primeiro passo para a libertação é tratar a carne segundo o ponto de vista de Deus. E o que é isso? Não é tentar crucificar a carne, mas sim reconhecer que foi crucificada; não é andar segundo nossa vista, mas sim segundo nossa fé na Palavra de Deus. Se estivermos bem assentados neste ponto de reconhecer que a carne já está crucificada, então poderemos tratar com a carne em nossa experiência. Se titubearmos quanto a este fato perderemos a possibilidade de possuí-lo definitivamente. Para experimentar a crucificação junto com Jesus, primeiro devemos deixar de lado nossa situação atual e simplesmente confiar na Palavra de Deus.

O Espírito Santo e a experiência
«Enquanto estávamos vivendo na carne, nossas paixões pecaminosas... obravam em nossos membros para dar fruto de morte. Mas agora estamos... mortos...» (Rm. 7:5, 6).

A conseqüência disto é a carne já não ter nenhum poder sobre nós.
Acreditamos e reconhecemos que nossa carne foi crucificada na cruz. Agora — antes não — podemos fixar nossa atenção no tema da experiência. Embora agora destaquemos a experiência, mesmo assim nos aferremos firmemente ao feito de nossa crucificação com Cristo.
O que Deus tem feito por nós e o que experimentamos da obra acabada de Deus, embora sejam duas coisas distinguíveis, são inseparáveis.
Deus fez o que podia fazer. A pergunta imediata é: Que atitude adotamos em relação à sua obra terminada? Ele crucificou nossa carne na cruz, não de nome, mas sim de fato. Se acreditamos e exercemos nossa vontade para escolher o que Deus tem feito por nós, esta experiência será nossa para sempre. Não se nos pede que façamos nada, porque Deus tem feito tudo. Não se nos exige que crucifiquemos nossa carne, porque Deus a crucificou na cruz.
Crêem que é certo? Desejam possuí-lo em sua vida? Se acreditarem e desejarem, então colaborarão com o Espírito Santo para conseguir uma rica experiência.
Colossenses 3:5 nos exorta: «Exterminai, pois, as vossas inclinações carnais.»
Este é o caminho para a experiência. O «pois» indica a conseqüência do dito no versículo 3, «morrestes». O «morrestes» é o que Deus obteve para nós. Posto que «morrestes», pois, «façam morrer o que é terrestre em vós». Aqui, a primeira menção da morte é nossa posição de fato em Cristo; a segunda é nossa experiência real. O fracasso dos crentes de hoje pode achar-se no fracasso em ver a relação entre estas duas mortes. Alguns tentaram anular sua carne porque têm insistido exclusivamente na experiência da morte. Por isso sua carne cresce mais forte com cada tentativa! Outros reconheceram a verdade de que sua carne de fato foi crucificada com Cristo na cruz, mas não procuram a realidade prática disso. Nenhum destes pode jamais apropriar-se em sua experiência da crucificação da carne.
Se desejamos fazer morrer nossos membros, devemos primeiro ter uma base para semelhante ação, pois do contrário simplesmente confiaríamos em nossas forças. Nenhum grau de entusiasmo pode nos trazer jamais a experiência desejada. Além disso, se unicamente soubermos que nossa carne foi crucificada com Cristo, mas não nos preocupamos de que sua obra acabada trabalhe em nós, nosso conhecimento também será inútil. Para fazer morrer nossos membros devemos primeiro passar pela identificação de sua morte. Conhecendo nossa identificação, devemos então proceder ao fazer morrer nossos membros. Estes dois passos devem acontecer juntos. Enganamos a nós mesmos se nos conformamos em simplesmente entender o fato da identificação, achando que agora somos espirituais posto que a carne foi destruída. Por outro lado, também nos enganamos se, ao fazer morrer as más ações da carne colocamos nisso muita ênfase e falhamos em tomar a atitude de que a carne morreu. Se esquecermos que a carne está morta, nunca poderemos nos desprender de nada, enterrar nada. O «façam morrer» depende do «morrestes». Aqui, o fazer morrer significa levar a morte do Senhor Jesus a todas as ações da carne. A crucificação do Senhor tem muita autoridade porque faz morrer aquilo com que se enfrenta. Como estamos unidos a Ele em sua crucificação, podemos aplicar sua morte a qualquer membro que seja tentado pelas paixões e fazê-lo morrer imediatamente.
Nossa união com Cristo em sua morte significa que é um fato em nossos espíritos. O que o crente deve fazer agora é tirar esta morte de seu espírito e aplicá-la a seus membros cada vez que suas paixões despertem. Esta morte espiritual não é coisa para uma vez e pronto. Se o crente não se mantiver vigilante ou se perde a fé, é indubitável que a carne entrará em um frenesi de atividade. Que deseje ser totalmente conformado à morte do Senhor, deve fazer morrer sem cessar as ações de seus membros para que o que é real no espírito se realize no corpo.
Mas de onde vem o poder para aplicar a crucificação do Senhor a nossos membros? Paulo insiste em que é «pelo Espírito que se fazem morrer as ações do corpo» (Rm. 8:13). Para fazer morrer estas ações, o crente deve confiar no Espírito Santo para converter sua crucificação conjunta com Cristo em uma experiência pessoal. Deve acreditar que o Espírito Santo aplicará a morte da cruz a tudo o que tenha que morrer. Em vista do fato de que a carne do crente foi crucificada com Cristo na cruz, não tem que ser crucificada de novo. Tudo o que se precisa é aplicar, por meio do Espírito Santo, a morte consumada do Senhor Jesus em favor dele sobre a cruz a qualquer ação má do corpo que tente elevar-se. As obras más da carne podem surgir em qualquer momento e em qualquer lugar. Como conseqüência, se o filho de Deus não faz valer constantemente pelo Espírito Santo o poder da santa morte de nosso Senhor Jesus, não poderá triunfar. Mas se enterrar as ações do corpo deste modo, o Espírito Santo que habita nele realizará finalmente o propósito de Deus de deixar inoperante o corpo do pecado (Rm. 6:6).
Apropriando-se da cruz deste modo, o menino em Cristo será libertado do poder da carne e será unido ao Senhor Jesus na vida da ressurreição.
Daí em diante o cristão deveria «andar pelo espírito, e não satisfazer os desejos da carne» (Gl. 5:16). Deveríamos recordar sempre que por muito profundamente que penetre em nossas vidas a cruz do Senhor, não podemos esperar evitar mais perturbações das más ações de nossos membros sem uma constante vigilância por nossa parte. Sempre que um filho de Deus fracassa em seguir o Espírito Santo, isto tem como conseqüência imediata seguir à carne. Deus nos descobre a realidade de nossa carne por meio do perfil que o apóstolo Paulo faz do eu do cristão em Romanos 7 a partir do versículo 5. No momento em que o cristão deixa de fixar sua atenção no Espírito Santo, instantaneamente se encaixa no modelo de vida carnal que descrevemos. Alguns dão por certo que, como o capítulo de Romanos 7 está entre os capítulos 6 e 8, a atividade da carne será coisa do passado assim que o crente a tenha passado e tenha entrado na vida do Espírito em Romanos 8. Na realidade os capítulos 7 e 8 são paralelos. Se um crente não andar pelo Espírito segundo Romanos 8, fica submerso imediatamente na experiência de Romanos 7.

«Assim, por mim mesmo sirvo à lei de Deus com minha mente, mas com minha carne sirvo à lei do pecado» (7:25).

Observem que Paulo conclui a descrição de sua experiência, explicada antes deste versículo 25, usando a frase «assim». Notamos uma contínua derrota em todo o versículo 24. Só no versículo 25 se vê a vitória:

«Graças a Deus por meio de Jesus Cristo nosso Senhor» (v. 25a).

No momento de conseguir a vitória depois de derrotas constantes lemos que Paulo diz:

«Eu por mim mesmo sirvo à lei de Deus com minha mente.»

Aqui está nos dizendo que sua nova vida deseja o que Deus deseja. Porém, essa não é toda a história, porque imediatamente Paulo declara:

«mas com minha carne sirvo à lei do pecado».

E encontramos isto dito exatamente depois de sua vitória no versículo 25a. A conclusão óbvia é que não importa o muito que sua mente interior possa servir à lei de Deus e por mais que se veja livre da carne, esta permanece invariável e continua servindo à lei do pecado. Por isso, se desejamos ser guiados pelo Espírito Santo (Rm. 8:14) e ser libertados da opressão da carne, devemos fazer morrer as más ações do corpo e andar e conformidade com o Espírito Santo.

A existência da carne
Notemos com atenção em que, embora possamos fazer morrer a carne para que fique «inútil» (o significado real de «destruir» em Rm. 6:6), a carne continua resistindo, apesar de tudo. É um tremendo engano pensar que já eliminamos a carne e deduzir que a natureza do pecado está completamente aniquilada. Este falso ensino engana às pessoas. A vida regenerada não modifica a carne. A crucificação conjunta em Cristo não suprime a carne. O fato de que o Espírito Santo habite em uma pessoa não a impossibilita para andar segundo a carne. A carne, com sua natureza carnal, vive perpetuamente no crente. Assim que tenha uma oportunidade, passará à ação de modo imediato.
Vimos anteriormente o quão estreitamente relacionados estão o corpo humano e a carne.
Enquanto não chegue o momento de nos libertar fisicamente deste corpo não poderemos estar suficientemente libertados da carne, de modo que esta não tenha nenhuma oportunidade de atuar.
Todo o que nasce da carne é carne. Não há maneira possível de eliminá-la até que este corpo corrompido do Adão não seja transformado. Nosso corpo ainda não está redimido (Rm. 8:23); espera o volta do Senhor Jesus para sua redenção (1 Co. 15:22, 23,42-44,51-56; 1 Ts. 4:14-18; Fp. 3:20,21). Assim pois, enquanto estivermos no corpo devemos nos manter continuamente alertas para que a carne não entre em ação com suas más obras.
Nossa vida na terra se pode comparar, na melhor das hipóteses, com a de Paulo, que dizia que «embora andemos na carne não militamos segundo a carne» (2 Co. 10:3).
Como ainda possui um corpo, anda na carne. Entretanto, como a natureza da carne é tão corrupta, não luta segundo a carne. Anda na carne, sim, mas não anda pela carne (Rm. 8:4).
Enquanto o crente não é libertado do corpo físico, não está totalmente livre da carne.
Fisicamente falando, deve viver na carne (Gl. 2:20); espiritualmente falando, não lhe é necessário e não deve lutar segundo a carne.
Vejamos bem, se Paulo, segundo a conclusão evidente de 2 Coríntios 10:3, estando no corpo, é suscetível de lutar segundo a carne (embora deduzamos do v. 4 que não luta nesse sentido), então quem se atreve a dizer que já não tem uma carne potencialmente ativa? A obra terminada da cruz e sua contínua aplicação por parte do Espírito Santo são, por conseguinte, inseparáveis.
Devemos prestar uma atenção especial a este ponto porque apresenta sérias conseqüências.
Se um crente chega a acreditar que está totalmente santificado e que já não tem carne, viverá uma vida de aparência, falsa, ou uma vida indolente e relaxada. Aqui temos que destacar um fato. Os filhos nascidos de pais regenerados e santificados ainda são da carne e precisam nascer de novo como outros meninos.
Ninguém pode dizer que não são da carne e que não precisam nascer de novo. O Senhor Jesus afirmou que «o que nasce da carne é carne» (Jo. 3:6). Se o que nasce é carne, isto mostra que o que dá a luz também deve ser carne, porque só a carne pode engendrar carne. O fato de que os filhos são carnais testemunha de maneira concreta que os pais não estão totalmente liberados da carne. Os santos transmitem a seus filhos a natureza caída unicamente porque, originariamente era a sua. Não podem transmitir a natureza divina recebida na regeneração, já que essa natureza não é a sua original, a não ser a recebida individualmente como um dom gratuito de Deus. O fato de que os crentes comuniquem sua natureza pecadora a seus filhos indica que sempre está presente neles.
Considerada dessa perspectiva, vemos que uma nova criatura em Cristo nunca recupera, nesta vida, a posição que Adão tinha antes da queda, posto que pelo menos o corpo ainda está esperando a redenção (Rm. 8:23). Uma pessoa que é uma nova criatura, continua conservando a natureza pecaminosa em seu interior. Ainda está na carne. Seus sentimentos e seus desejos são imperfeitos às vezes e são menos nobres que os de Adão antes da queda. Se não eliminar a carne humana de seu interior, não pode ter sentimentos, desejos ou amor perfeitos. O homem jamais pode chegar à posição de estar acima de toda possibilidade de pecar, visto que a carne persiste. Se um crente não seguir o Espírito Santo mas, em vez disso ceder para a carne, estará, certamente, sob o domino da carne. Entretanto, apesar destas realidades, não devemos empobrecer a salvação realizada por Cristo. A Bíblia nos diz em muitas passagens que tudo o que foi engendrado de Deus e foi cheio com Deus não tem nenhuma inclinação para o pecado. Não obstante, isto não significa que, definitivamente, não haja possibilidade de ter um desejo pecaminoso. Exemplificando: dizemos que as bóias de madeira não têm tendência de afundar, mas é obvio que não são insubmergíveis. Se a madeira fica encharcada o tempo suficiente, afundará por si só. Mesmo assim, a natureza de uma tora de madeira é claramente de não afundar. De maneira análoga, Deus nos salvou até o ponto de não termos inclinação para pecar, mas não nos salvou até o ponto de sermos incapazes de pecar.
Se um crente permanecer totalmente inclinado a pecar, isto mostra que é a carne e que não se apropriou da salvação total. O Senhor Jesus pode nos desviar do pecado, mas além disso devemos estar alertas. Sob a influência do mundo e a tentação de Satanás, a possibilidade de pecar se mantém.
Naturalmente, um crente deve compreender que em Cristo é uma nova criatura. Como tal, o Espírito Santo vive em seu espírito; e isto, junto com a morte de Jesus trabalhando ativamente em seu corpo, pode equipar o crente para viver uma vida santa. Isto só é possível porque o Espírito Santo aplica a cruz na carne do crente, fazendo morrer as ações de seus membros. E então fica inativa. Entretanto, isto não implica que já não existe a carne. Porque um crente continua possuindo uma carne pecaminosa e é consciente de sua presença e de sua contaminação. O próprio fato de que a natureza pecaminosa seja transmitida aos filhos deixa claramente estabelecido de que o que agora possuímos não é a perfeição natural de Adão sem pecado.
O crente deve confessar que inclusive em suas horas mais santas pode haver momentos de fraqueza: podem introduzir-se maus pensamentos em sua mente inconscientemente; podem escapar palavras impróprias sem querer; sua vontade pode, às vezes, encontrar dificuldade em ceder diante do Senhor; e secretamente pode, inclusive, aprovar a idéia da auto-suficiência.
Tudo isso não é nada mais do que a obra da carne.
Por isso os crentes devem saber que a carne pode voltar a exercer seu poder a qualquer momento. Não foi eliminada do corpo. Mas a presença da carne tampouco significa que a santificação seja impossível para um crente. Só quando entregamos nosso corpo ao Senhor (Rm. 6:13) é possível libertar-nos do domínio da carne e estar sob o domínio do Senhor. Se seguirmos o Espírito Santo e mantivermos uma atitude de não deixar que o pecado reine sobre o corpo (Rm. 6:12), então nossos pés ficam livres de tropeçar e experimentamos uma vitória constante. Havendo sido libertado, nosso corpo se converte em templo do Espírito Santo e é livre para fazer a obra de Deus. Assim, a maneira de preservar nossa liberdade da carne tem que ser exatamente a maneira com que se obteve esta liberdade no princípio, naquela conjuntura entre a vida e a morte, quando o crente diz «sim» a Deus e «não» à carne. Longe de ser um fato único, de uma vez para sempre, o crente deve manter durante toda sua vida uma atitude afirmativa diante de Deus e uma resposta negativa para o pecado.
Nenhum crente consegue chegar ao ponto de estar acima da tentação. Quão necessário é vigiar e orar, e inclusive jejuar, para poder saber como andar segundo o Espírito Santo! Apesar de tudo, o crente não deveria diluir nem o propósito de Deus nem sua própria esperança. Tem a possibilidade de pecar, mas não deve pecar. O Senhor Jesus morreu por nós e crucificou nossa carne com Ele na cruz. O Espírito Santo vive em nós para tornar real para nós o que o Senhor Jesus fez. Temos a absoluta possibilidade de não ser governados pela carne. A presença da carne não é uma chamada à rendição, mas sim uma chamada a vigiar. A cruz crucificou por completo à carne. Se estivermos dispostos a anular as más obras do corpo no poder do Espírito Santo, experimentaremos seriamente a obra consumada da cruz.

«assim, irmãos, somos devedores, não à carne para viver segundo a carne, porque se viverem segundo a carne morrerão, mas se pelo Espírito fazem morrer as ações do corpo, viverão» (Rm. 8:12, 13).

Posto que Deus concedeu semelhante graça e salvação, a culpa será toda nossa se continuarmos seguindo a carne. Já não lhe somos devedores como o fomos antes de conhecer esta salvação. Se agora persistirmos em viver pela carne é porque queremos viver assim, não porque devemos viver assim. Muitos santos amadurecidos experimentaram uma vitória sustentada sobre a carne. Embora a carne permaneça, seu poder está reduzido virtualmente a zero. Sua vida, junto com sua natureza e suas atividades, foi posta em suspensão de maneira tão contundente pela cruz do Senhor no poder do Espírito Santo, que foi relegada a um estado de existência como se não estivesse presente. Devido à profunda e persistente obra da cruz e à fidelidade dos santos em seguir ao Espírito Santo, a carne, embora exista, perde toda sua existência. Inclusive seu poder para estimular aos crentes parece estar anulado. Todos os crentes podem obter este triunfo total sobre a carne.

«Se pelo Espírito fazem morrer as ações do corpo, viverão.»

Toda a relação expressa neste versículo se apóia nessa palavra: «se».
Deus fez tudo o que era necessário. Não pode fazer nada mais. A decisão é nossa. Se descuidarmos desta perfeita salvação, como escaparemos?
«Se viverem segundo a carne morrerão»: isto é uma advertência. Embora estejam regenerados, mesmo assim perderão sua experiência espiritual, como se não estivessem vivos.
Se viverem «pelo Espírito» também morrem, mas morrem na morte de Cristo. Esta morte é muito autêntica porque anulará todas as ações da carne. De um ou outro modo morrerão. Que morte escolhem: a que procede de uma carne viva ou a que surge de um espírito ativo? Se a carne estiver viva, o Espírito Santo não pode viver com força.
Que vida preferem: a da carne ou a do espírito? A provisão de Deus para vocês é que sua carne e todo seu poder e suas atividades fiquem sob o poder da morte de Cristo na cruz. O que nos falta não é outra coisa senão a morte.
Deixemos isto bem claro antes de falar de vida, porque não pode haver ressurreição se antes não houver morte.Estamos dispostos a obedecer a vontade de Deus? Deixaremos que a cruz de Cristo se manifeste de uma maneira prática em nossas vidas? Se for assim, devemos fazer morrer com o Espírito Santo todas as ações más do corpo.

Irmãos em Cristo Jesus.

Irmãos em Cristo Jesus.
Mt 5:14 "Vós sois a luz do mundo"