domingo, 24 de janeiro de 2010

A cruz e o Espírito Santo- Watchman Nee

Extraído do Livro " O Homem Espiritual"
Muitos crentes, senão a maioria deles, não foram cheios do Espírito Santo no momento em que acreditaram no Senhor. E o que é ainda pior, depois de muitos anos de terem crido, continuam presos nas redes do pecado e ainda são cristãos carnais. Nas páginas que seguem, tudo o que tentamos explicar sobre como se pode libertar um cristão de sua carne está apoiado na experiência dos crentes de Corinto e também na de muitos crentes parecidos de todas partes.
Além disso, não desejamos dar a entender que um cristão deve primeiro acreditar na obra substitutiva da cruz e posteriormente acreditar em sua obra identificativa. Não é verdade, entretanto, que muitos, no princípio não têm uma revelação clara em relação à cruz? O que receberam é só a metade de toda a verdade, e por isso têm que receber a outra metade em um período posterior.
Mas, se o leitor já aceitou a obra completa da cruz, o que vai encontrar aqui não lhe interessará muito. Mas se, como a maioria de crentes, também acreditou unicamente na metade de toda a verdade, então lhe é indispensável o resto. Mesmo assim, queremos seriamente que nossos leitores saibam que não é necessário aceitar as duas faces da obra da cruz em separado; a segunda aceitação só é necessária para quem recebeu a primeira de maneira incompleta.

A libertação da cruz
Em sua carta aos Gálatas, depois de enumerar muitos atos da carne, o apóstolo Paulo adverte que «os que pertencem a Jesus Cristo crucificaram a carne com suas paixões e desejos» (Gl. 5:24). Eis aqui a libertação. Não é estranho que o que interessa ao crente difere muito do que interessa a Deus? O crente está interessado nas «obras da carne» (Gl. 5:19), quer dizer, nos pecados variados da carne. Está ocupado com a irritação de hoje, o ciúmes de amanhã ou a disputa de depois de amanhã. O crente se lamenta por um pecado em particular e deseja conseguir a vitória sobre ele. Entretanto, todos estes pecados só são frutos da mesma árvore. Enquanto se agarra uma fruta (em realidade não se pode agarrar nenhuma) aparece outra. Crescem uma atrás de outra e não dão nenhuma possibilidade de vitória. Por outro lado, Deus não está interessado nas obras da carne mas sim na crucificação da carne.

«E os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências.» (Gl. 5:24).

Se tivessem arrancado a árvore haveria alguma necessidade de temer que desse fruto?
O crente trabalha ativamente fazendo planos para controlar os pecados, que são as frutas, enquanto se esquece de tratar a própria carne — que é a raiz —. Não é estranho que antes de que possa resolver um só pecado já surgiu outro. Por isso hoje devemos tratar a origem do pecado.
Os recém-nascidos em Cristo precisam se apropriar do profundo significado da cruz porque ainda são carnais. O objetivo de Deus é crucificar junto com Cristo o velho homem do crente, com o resultado de que os que pertencem a Cristo «crucificaram a carne com suas paixões e desejos».
Tenham presente que o que foi crucificado é a carne junto com suas poderosas paixões e desejos.
Posto que o pecador foi regenerado e redimido de seus pecados por meio da cruz, agora o menino carnal em Cristo deve ser libertado do domínio da carne pela mesma cruz para que possa andar segundo o espírito e já não segundo a carne. Depois disto não passará muito tempo antes de que seja um cristão espiritual.
Aqui encontramos o contraste entre a queda do homem e a ação da cruz. A salvação que proporciona esta é justamente o remédio para aquela. Que adequação tão perfeita entre as duas!
Primeiro Cristo morreu na cruz pelo pecador para perdoar seu pecado. Portanto, o Deus santo podia perdoá-lo com justiça. Mas a seguir está o fato de que o pecador também morreu na cruz com Cristo para que não possa ser controlado mais por sua carne. Só isto pode fazer que o espírito do homem recupere seu próprio domínio, que o corpo seja seu servidor externo e que a alma seja sua intermediária. Desta forma, o espírito, a alma e o corpo são restaurados a sua posição original anterior à queda. Se ignoramos o significado da morte que descrevemos, não seremos libertados. Que o Espírito Santo seja nosso Revelador!
«Os que pertencem a Cristo Jesus» se refere a todo crente no Senhor. Todos os que creram nEle e nasceram de novo lhe pertencem. O fator decisivo é se se esteve unido a Ele na vida, não se se é espiritual ou se se trabalhar para o Senhor, nem se se conseguiu libertação do pecado; venceram-se as paixões e desejos da carne e agora se é plenamente santificado. Em outras palavras, a pergunta só pode ser: foi-se regenerado, ou não? acreditou-se no Senhor Jesus como Salvador, ou não? Se for sim, não importa o estado espiritual atual — em vitória ou em derrota —, crucificou-se a carne».
O assunto que temos adiante não é moral, nem é coisa da vida, conhecimento ou obras espirituais. Simplesmente é se se é do Senhor. Se for assim, então já se crucificou a carne na cruz. Está claro que isto significa, não que alguém vai crucificar, nem que está no processo de crucificação, mas sim que já crucificou.
Convém ser mais explícito aqui. Assinalamos que a crucificação da carne não depende das experiências, por muito diferentes que possam ser, mas sim depende do fato da obra terminada de Deus.
«Os que pertencem a Cristo Jesus» — tanto os fracos como os fortes — «crucificaram a carne com suas paixões e desejos».
Dizeis que ainda pecais, mas Deus diz que fostes crucificados na cruz.
Dizeis que vosso mau gênio persiste, mas a resposta de Deus é que fostes crucificados.
Dizeis que vossas paixões continuam sendo muito poderosas, mas novamente Deus replica que vossa carne foi crucificada na cruz.
De momento, façam o favor de parar de olhar suas experiências e ouçam o que Deus lhes diz. Se não escutarem sua Palavra e em lugar disso observarem continuamente sua situação, jamais viverão a realidade de que sua carne foi crucificada na cruz. Não façam caso de seus sentimentos e de sua experiência. Deus declara crucificada sua carne, e conseqüentemente, ela foi crucificada. Respondam simplesmente à Palavra de Deus e terão experiência. Quando Deus lhes diz que «sua carne foi crucificada», devem responder: «Amém, é verdade que minha carne foi crucificada.» Atuando desta maneira, segundo sua Palavra, comprovarão que sua carne está verdadeiramente morta.
Os crentes de Corinto se permitiram cometer os pecados de fornicação, ciúmes, disputas, espírito partidarista, pleitos e muitos outros. Eram claramente carnais. É certo que eram «meninos em Cristo», mas mesmo assim eram de Cristo. Pode-se dizer realmente que estes crentes carnais haviam tido sua carne crucificada na cruz? A resposta é indubitavelmente que sim. Inclusive estes haviam tido crucificada sua carne. Como é isso? Devemos compreender que a Bíblia jamais nos diz que nos crucifiquemos. Só nos informa que «fomos crucificados». Devemos compreender que não temos que ser crucificados individualmente, mas sim fomos crucificados junto com Cristo (Gl. 2:20; Rm. 6:6). Se foi uma crucificação conjunta, então quando o Senhor Jesus foi crucificado, nesse momento também foi crucificada nossa carne. Além disso, a crucificação junto com a sua não a sofremos pessoalmente, posto que foi o Senhor Jesus quem nos levou a cruz em sua crucificação. Em conseqüência, Deus considera nossa carne já crucificada. Para Ele é um fato consumado. Sejam quais forem nossas experiências pessoais, Deus declara que «os que pertencem a Cristo Jesus crucificaram a carne». Para possuir esta morte não devemos dedicar muita atenção a investigar ou observar nossas experiências. Em vez disso devemos acreditar na Palavra de Deus. «Deus diz que minha carne foi crucificada e por isso acredito que está crucificada. Reconheço que o que diz Deus é verdade.» Respondendo desta maneira logo nos encontraremos com a realidade disto. Se primeiro olhamos o ato de Deus, nossa experiência virá a seguir.
Da perspectiva de Deus, esses coríntios já tinham crucificada sua carne na cruz com o Senhor Jesus, mas do seu ponto de vista é evidente que não tinham semelhante experiência. Possivelmente isto se devia a seu desconhecimento de fato de Deus. Daí que o primeiro passo para a libertação é tratar a carne segundo o ponto de vista de Deus. E o que é isso? Não é tentar crucificar a carne, mas sim reconhecer que foi crucificada; não é andar segundo nossa vista, mas sim segundo nossa fé na Palavra de Deus. Se estivermos bem assentados neste ponto de reconhecer que a carne já está crucificada, então poderemos tratar com a carne em nossa experiência. Se titubearmos quanto a este fato perderemos a possibilidade de possuí-lo definitivamente. Para experimentar a crucificação junto com Jesus, primeiro devemos deixar de lado nossa situação atual e simplesmente confiar na Palavra de Deus.

O Espírito Santo e a experiência
«Enquanto estávamos vivendo na carne, nossas paixões pecaminosas... obravam em nossos membros para dar fruto de morte. Mas agora estamos... mortos...» (Rm. 7:5, 6).

A conseqüência disto é a carne já não ter nenhum poder sobre nós.
Acreditamos e reconhecemos que nossa carne foi crucificada na cruz. Agora — antes não — podemos fixar nossa atenção no tema da experiência. Embora agora destaquemos a experiência, mesmo assim nos aferremos firmemente ao feito de nossa crucificação com Cristo.
O que Deus tem feito por nós e o que experimentamos da obra acabada de Deus, embora sejam duas coisas distinguíveis, são inseparáveis.
Deus fez o que podia fazer. A pergunta imediata é: Que atitude adotamos em relação à sua obra terminada? Ele crucificou nossa carne na cruz, não de nome, mas sim de fato. Se acreditamos e exercemos nossa vontade para escolher o que Deus tem feito por nós, esta experiência será nossa para sempre. Não se nos pede que façamos nada, porque Deus tem feito tudo. Não se nos exige que crucifiquemos nossa carne, porque Deus a crucificou na cruz.
Crêem que é certo? Desejam possuí-lo em sua vida? Se acreditarem e desejarem, então colaborarão com o Espírito Santo para conseguir uma rica experiência.
Colossenses 3:5 nos exorta: «Exterminai, pois, as vossas inclinações carnais.»
Este é o caminho para a experiência. O «pois» indica a conseqüência do dito no versículo 3, «morrestes». O «morrestes» é o que Deus obteve para nós. Posto que «morrestes», pois, «façam morrer o que é terrestre em vós». Aqui, a primeira menção da morte é nossa posição de fato em Cristo; a segunda é nossa experiência real. O fracasso dos crentes de hoje pode achar-se no fracasso em ver a relação entre estas duas mortes. Alguns tentaram anular sua carne porque têm insistido exclusivamente na experiência da morte. Por isso sua carne cresce mais forte com cada tentativa! Outros reconheceram a verdade de que sua carne de fato foi crucificada com Cristo na cruz, mas não procuram a realidade prática disso. Nenhum destes pode jamais apropriar-se em sua experiência da crucificação da carne.
Se desejamos fazer morrer nossos membros, devemos primeiro ter uma base para semelhante ação, pois do contrário simplesmente confiaríamos em nossas forças. Nenhum grau de entusiasmo pode nos trazer jamais a experiência desejada. Além disso, se unicamente soubermos que nossa carne foi crucificada com Cristo, mas não nos preocupamos de que sua obra acabada trabalhe em nós, nosso conhecimento também será inútil. Para fazer morrer nossos membros devemos primeiro passar pela identificação de sua morte. Conhecendo nossa identificação, devemos então proceder ao fazer morrer nossos membros. Estes dois passos devem acontecer juntos. Enganamos a nós mesmos se nos conformamos em simplesmente entender o fato da identificação, achando que agora somos espirituais posto que a carne foi destruída. Por outro lado, também nos enganamos se, ao fazer morrer as más ações da carne colocamos nisso muita ênfase e falhamos em tomar a atitude de que a carne morreu. Se esquecermos que a carne está morta, nunca poderemos nos desprender de nada, enterrar nada. O «façam morrer» depende do «morrestes». Aqui, o fazer morrer significa levar a morte do Senhor Jesus a todas as ações da carne. A crucificação do Senhor tem muita autoridade porque faz morrer aquilo com que se enfrenta. Como estamos unidos a Ele em sua crucificação, podemos aplicar sua morte a qualquer membro que seja tentado pelas paixões e fazê-lo morrer imediatamente.
Nossa união com Cristo em sua morte significa que é um fato em nossos espíritos. O que o crente deve fazer agora é tirar esta morte de seu espírito e aplicá-la a seus membros cada vez que suas paixões despertem. Esta morte espiritual não é coisa para uma vez e pronto. Se o crente não se mantiver vigilante ou se perde a fé, é indubitável que a carne entrará em um frenesi de atividade. Que deseje ser totalmente conformado à morte do Senhor, deve fazer morrer sem cessar as ações de seus membros para que o que é real no espírito se realize no corpo.
Mas de onde vem o poder para aplicar a crucificação do Senhor a nossos membros? Paulo insiste em que é «pelo Espírito que se fazem morrer as ações do corpo» (Rm. 8:13). Para fazer morrer estas ações, o crente deve confiar no Espírito Santo para converter sua crucificação conjunta com Cristo em uma experiência pessoal. Deve acreditar que o Espírito Santo aplicará a morte da cruz a tudo o que tenha que morrer. Em vista do fato de que a carne do crente foi crucificada com Cristo na cruz, não tem que ser crucificada de novo. Tudo o que se precisa é aplicar, por meio do Espírito Santo, a morte consumada do Senhor Jesus em favor dele sobre a cruz a qualquer ação má do corpo que tente elevar-se. As obras más da carne podem surgir em qualquer momento e em qualquer lugar. Como conseqüência, se o filho de Deus não faz valer constantemente pelo Espírito Santo o poder da santa morte de nosso Senhor Jesus, não poderá triunfar. Mas se enterrar as ações do corpo deste modo, o Espírito Santo que habita nele realizará finalmente o propósito de Deus de deixar inoperante o corpo do pecado (Rm. 6:6).
Apropriando-se da cruz deste modo, o menino em Cristo será libertado do poder da carne e será unido ao Senhor Jesus na vida da ressurreição.
Daí em diante o cristão deveria «andar pelo espírito, e não satisfazer os desejos da carne» (Gl. 5:16). Deveríamos recordar sempre que por muito profundamente que penetre em nossas vidas a cruz do Senhor, não podemos esperar evitar mais perturbações das más ações de nossos membros sem uma constante vigilância por nossa parte. Sempre que um filho de Deus fracassa em seguir o Espírito Santo, isto tem como conseqüência imediata seguir à carne. Deus nos descobre a realidade de nossa carne por meio do perfil que o apóstolo Paulo faz do eu do cristão em Romanos 7 a partir do versículo 5. No momento em que o cristão deixa de fixar sua atenção no Espírito Santo, instantaneamente se encaixa no modelo de vida carnal que descrevemos. Alguns dão por certo que, como o capítulo de Romanos 7 está entre os capítulos 6 e 8, a atividade da carne será coisa do passado assim que o crente a tenha passado e tenha entrado na vida do Espírito em Romanos 8. Na realidade os capítulos 7 e 8 são paralelos. Se um crente não andar pelo Espírito segundo Romanos 8, fica submerso imediatamente na experiência de Romanos 7.

«Assim, por mim mesmo sirvo à lei de Deus com minha mente, mas com minha carne sirvo à lei do pecado» (7:25).

Observem que Paulo conclui a descrição de sua experiência, explicada antes deste versículo 25, usando a frase «assim». Notamos uma contínua derrota em todo o versículo 24. Só no versículo 25 se vê a vitória:

«Graças a Deus por meio de Jesus Cristo nosso Senhor» (v. 25a).

No momento de conseguir a vitória depois de derrotas constantes lemos que Paulo diz:

«Eu por mim mesmo sirvo à lei de Deus com minha mente.»

Aqui está nos dizendo que sua nova vida deseja o que Deus deseja. Porém, essa não é toda a história, porque imediatamente Paulo declara:

«mas com minha carne sirvo à lei do pecado».

E encontramos isto dito exatamente depois de sua vitória no versículo 25a. A conclusão óbvia é que não importa o muito que sua mente interior possa servir à lei de Deus e por mais que se veja livre da carne, esta permanece invariável e continua servindo à lei do pecado. Por isso, se desejamos ser guiados pelo Espírito Santo (Rm. 8:14) e ser libertados da opressão da carne, devemos fazer morrer as más ações do corpo e andar e conformidade com o Espírito Santo.

A existência da carne
Notemos com atenção em que, embora possamos fazer morrer a carne para que fique «inútil» (o significado real de «destruir» em Rm. 6:6), a carne continua resistindo, apesar de tudo. É um tremendo engano pensar que já eliminamos a carne e deduzir que a natureza do pecado está completamente aniquilada. Este falso ensino engana às pessoas. A vida regenerada não modifica a carne. A crucificação conjunta em Cristo não suprime a carne. O fato de que o Espírito Santo habite em uma pessoa não a impossibilita para andar segundo a carne. A carne, com sua natureza carnal, vive perpetuamente no crente. Assim que tenha uma oportunidade, passará à ação de modo imediato.
Vimos anteriormente o quão estreitamente relacionados estão o corpo humano e a carne.
Enquanto não chegue o momento de nos libertar fisicamente deste corpo não poderemos estar suficientemente libertados da carne, de modo que esta não tenha nenhuma oportunidade de atuar.
Todo o que nasce da carne é carne. Não há maneira possível de eliminá-la até que este corpo corrompido do Adão não seja transformado. Nosso corpo ainda não está redimido (Rm. 8:23); espera o volta do Senhor Jesus para sua redenção (1 Co. 15:22, 23,42-44,51-56; 1 Ts. 4:14-18; Fp. 3:20,21). Assim pois, enquanto estivermos no corpo devemos nos manter continuamente alertas para que a carne não entre em ação com suas más obras.
Nossa vida na terra se pode comparar, na melhor das hipóteses, com a de Paulo, que dizia que «embora andemos na carne não militamos segundo a carne» (2 Co. 10:3).
Como ainda possui um corpo, anda na carne. Entretanto, como a natureza da carne é tão corrupta, não luta segundo a carne. Anda na carne, sim, mas não anda pela carne (Rm. 8:4).
Enquanto o crente não é libertado do corpo físico, não está totalmente livre da carne.
Fisicamente falando, deve viver na carne (Gl. 2:20); espiritualmente falando, não lhe é necessário e não deve lutar segundo a carne.
Vejamos bem, se Paulo, segundo a conclusão evidente de 2 Coríntios 10:3, estando no corpo, é suscetível de lutar segundo a carne (embora deduzamos do v. 4 que não luta nesse sentido), então quem se atreve a dizer que já não tem uma carne potencialmente ativa? A obra terminada da cruz e sua contínua aplicação por parte do Espírito Santo são, por conseguinte, inseparáveis.
Devemos prestar uma atenção especial a este ponto porque apresenta sérias conseqüências.
Se um crente chega a acreditar que está totalmente santificado e que já não tem carne, viverá uma vida de aparência, falsa, ou uma vida indolente e relaxada. Aqui temos que destacar um fato. Os filhos nascidos de pais regenerados e santificados ainda são da carne e precisam nascer de novo como outros meninos.
Ninguém pode dizer que não são da carne e que não precisam nascer de novo. O Senhor Jesus afirmou que «o que nasce da carne é carne» (Jo. 3:6). Se o que nasce é carne, isto mostra que o que dá a luz também deve ser carne, porque só a carne pode engendrar carne. O fato de que os filhos são carnais testemunha de maneira concreta que os pais não estão totalmente liberados da carne. Os santos transmitem a seus filhos a natureza caída unicamente porque, originariamente era a sua. Não podem transmitir a natureza divina recebida na regeneração, já que essa natureza não é a sua original, a não ser a recebida individualmente como um dom gratuito de Deus. O fato de que os crentes comuniquem sua natureza pecadora a seus filhos indica que sempre está presente neles.
Considerada dessa perspectiva, vemos que uma nova criatura em Cristo nunca recupera, nesta vida, a posição que Adão tinha antes da queda, posto que pelo menos o corpo ainda está esperando a redenção (Rm. 8:23). Uma pessoa que é uma nova criatura, continua conservando a natureza pecaminosa em seu interior. Ainda está na carne. Seus sentimentos e seus desejos são imperfeitos às vezes e são menos nobres que os de Adão antes da queda. Se não eliminar a carne humana de seu interior, não pode ter sentimentos, desejos ou amor perfeitos. O homem jamais pode chegar à posição de estar acima de toda possibilidade de pecar, visto que a carne persiste. Se um crente não seguir o Espírito Santo mas, em vez disso ceder para a carne, estará, certamente, sob o domino da carne. Entretanto, apesar destas realidades, não devemos empobrecer a salvação realizada por Cristo. A Bíblia nos diz em muitas passagens que tudo o que foi engendrado de Deus e foi cheio com Deus não tem nenhuma inclinação para o pecado. Não obstante, isto não significa que, definitivamente, não haja possibilidade de ter um desejo pecaminoso. Exemplificando: dizemos que as bóias de madeira não têm tendência de afundar, mas é obvio que não são insubmergíveis. Se a madeira fica encharcada o tempo suficiente, afundará por si só. Mesmo assim, a natureza de uma tora de madeira é claramente de não afundar. De maneira análoga, Deus nos salvou até o ponto de não termos inclinação para pecar, mas não nos salvou até o ponto de sermos incapazes de pecar.
Se um crente permanecer totalmente inclinado a pecar, isto mostra que é a carne e que não se apropriou da salvação total. O Senhor Jesus pode nos desviar do pecado, mas além disso devemos estar alertas. Sob a influência do mundo e a tentação de Satanás, a possibilidade de pecar se mantém.
Naturalmente, um crente deve compreender que em Cristo é uma nova criatura. Como tal, o Espírito Santo vive em seu espírito; e isto, junto com a morte de Jesus trabalhando ativamente em seu corpo, pode equipar o crente para viver uma vida santa. Isto só é possível porque o Espírito Santo aplica a cruz na carne do crente, fazendo morrer as ações de seus membros. E então fica inativa. Entretanto, isto não implica que já não existe a carne. Porque um crente continua possuindo uma carne pecaminosa e é consciente de sua presença e de sua contaminação. O próprio fato de que a natureza pecaminosa seja transmitida aos filhos deixa claramente estabelecido de que o que agora possuímos não é a perfeição natural de Adão sem pecado.
O crente deve confessar que inclusive em suas horas mais santas pode haver momentos de fraqueza: podem introduzir-se maus pensamentos em sua mente inconscientemente; podem escapar palavras impróprias sem querer; sua vontade pode, às vezes, encontrar dificuldade em ceder diante do Senhor; e secretamente pode, inclusive, aprovar a idéia da auto-suficiência.
Tudo isso não é nada mais do que a obra da carne.
Por isso os crentes devem saber que a carne pode voltar a exercer seu poder a qualquer momento. Não foi eliminada do corpo. Mas a presença da carne tampouco significa que a santificação seja impossível para um crente. Só quando entregamos nosso corpo ao Senhor (Rm. 6:13) é possível libertar-nos do domínio da carne e estar sob o domínio do Senhor. Se seguirmos o Espírito Santo e mantivermos uma atitude de não deixar que o pecado reine sobre o corpo (Rm. 6:12), então nossos pés ficam livres de tropeçar e experimentamos uma vitória constante. Havendo sido libertado, nosso corpo se converte em templo do Espírito Santo e é livre para fazer a obra de Deus. Assim, a maneira de preservar nossa liberdade da carne tem que ser exatamente a maneira com que se obteve esta liberdade no princípio, naquela conjuntura entre a vida e a morte, quando o crente diz «sim» a Deus e «não» à carne. Longe de ser um fato único, de uma vez para sempre, o crente deve manter durante toda sua vida uma atitude afirmativa diante de Deus e uma resposta negativa para o pecado.
Nenhum crente consegue chegar ao ponto de estar acima da tentação. Quão necessário é vigiar e orar, e inclusive jejuar, para poder saber como andar segundo o Espírito Santo! Apesar de tudo, o crente não deveria diluir nem o propósito de Deus nem sua própria esperança. Tem a possibilidade de pecar, mas não deve pecar. O Senhor Jesus morreu por nós e crucificou nossa carne com Ele na cruz. O Espírito Santo vive em nós para tornar real para nós o que o Senhor Jesus fez. Temos a absoluta possibilidade de não ser governados pela carne. A presença da carne não é uma chamada à rendição, mas sim uma chamada a vigiar. A cruz crucificou por completo à carne. Se estivermos dispostos a anular as más obras do corpo no poder do Espírito Santo, experimentaremos seriamente a obra consumada da cruz.

«assim, irmãos, somos devedores, não à carne para viver segundo a carne, porque se viverem segundo a carne morrerão, mas se pelo Espírito fazem morrer as ações do corpo, viverão» (Rm. 8:12, 13).

Posto que Deus concedeu semelhante graça e salvação, a culpa será toda nossa se continuarmos seguindo a carne. Já não lhe somos devedores como o fomos antes de conhecer esta salvação. Se agora persistirmos em viver pela carne é porque queremos viver assim, não porque devemos viver assim. Muitos santos amadurecidos experimentaram uma vitória sustentada sobre a carne. Embora a carne permaneça, seu poder está reduzido virtualmente a zero. Sua vida, junto com sua natureza e suas atividades, foi posta em suspensão de maneira tão contundente pela cruz do Senhor no poder do Espírito Santo, que foi relegada a um estado de existência como se não estivesse presente. Devido à profunda e persistente obra da cruz e à fidelidade dos santos em seguir ao Espírito Santo, a carne, embora exista, perde toda sua existência. Inclusive seu poder para estimular aos crentes parece estar anulado. Todos os crentes podem obter este triunfo total sobre a carne.

«Se pelo Espírito fazem morrer as ações do corpo, viverão.»

Toda a relação expressa neste versículo se apóia nessa palavra: «se».
Deus fez tudo o que era necessário. Não pode fazer nada mais. A decisão é nossa. Se descuidarmos desta perfeita salvação, como escaparemos?
«Se viverem segundo a carne morrerão»: isto é uma advertência. Embora estejam regenerados, mesmo assim perderão sua experiência espiritual, como se não estivessem vivos.
Se viverem «pelo Espírito» também morrem, mas morrem na morte de Cristo. Esta morte é muito autêntica porque anulará todas as ações da carne. De um ou outro modo morrerão. Que morte escolhem: a que procede de uma carne viva ou a que surge de um espírito ativo? Se a carne estiver viva, o Espírito Santo não pode viver com força.
Que vida preferem: a da carne ou a do espírito? A provisão de Deus para vocês é que sua carne e todo seu poder e suas atividades fiquem sob o poder da morte de Cristo na cruz. O que nos falta não é outra coisa senão a morte.
Deixemos isto bem claro antes de falar de vida, porque não pode haver ressurreição se antes não houver morte.Estamos dispostos a obedecer a vontade de Deus? Deixaremos que a cruz de Cristo se manifeste de uma maneira prática em nossas vidas? Se for assim, devemos fazer morrer com o Espírito Santo todas as ações más do corpo.

Um comentário:

LUCAS TITO disse...

Graças a Deus pela palavra da Cruz! Fico feliz por saber que Deus tem posto na terra homens e mulheres amantes do evangelho glorioso de Cristo! Deus abençoe vocês cada dia mais!

Irmãos em Cristo Jesus.

Irmãos em Cristo Jesus.
Mt 5:14 "Vós sois a luz do mundo"