sábado, 15 de outubro de 2011

O MInistério Cristão- F.W. Grant

O MINISTÉRIO CRISTÃO
Extraído do Livreto ( NIcolaitismo Surgimento e Crescimento do Clero) Traduzido pelos irmãos da Cidade de tucuruí-PA)

Não me interpretem mal. Eu não ponho em dúvida a instituição divina do ministério cristão, posto que o «ministério» é característico do cristianismo. E se bem creio que todos os verdadeiros cristãos são ministros, eu não questiono um ministério especial e distintivo da Palavra, como dado por Deus a alguns e não a todos, mas para o uso de todos. Ninguém que seja verdadeiramente ensinado por Deus pode negar que alguns cristãos tenham o lugar de evangelista, pastor ou mestre. A Escritura ensina que todo verdadeiro ministro é um dom de Cristo, que o é por Seu cuidado como Cabeça da Igreja, e que é para Seu povo, que é algum irmão que tem seu lugar dado por Deus somente e que é responsável, em seu caráter de ministro, ante Deus somente. O miserável sistema clérigo-laicista degrada o ministro de Deus desse bendito lugar e faz dele pouco mais que a manufatura e o servidor dos homens. À vez que outorga um lugar de senhorio sobre pessoas que comprazem à mente carnal (a velha natureza), este sistema restringe ao homem espiritual, tanto ao gerar nele uma consciência artificial para os homens (o conselho da igreja, etc.), como ao obstaculizar sua consciência para estar corretamente diante de Deus.

Permita-me estabelecer brevemente qual é a doutrina da Escritura sobre o «ministério». É muito simples. A verdadeira Igreja (Assembléia) de Deus é o corpo de Cristo; todos os membros são os membros de Cristo. Nas Escrituras não há mais condição de membros que esta: a de membros do corpo de Cristo, ao qual pertencem todos os verdadeiros cristãos; não muitos corpos de Cristo, senão um só corpo (Efésios 4:4); não muitas igrejas, senão uma só Igreja.
Há um lugar diferente para cada membro do corpo pelo único fato de que ele ou ela são um membro. Nem todos podem ser o olho, ou ouvido, etc., mas todos eles são necessários, e todos são ministros em alguma forma, uns dos outros. Assim pois, cada membro tem seu lugar, não só em uma determinada localidade e para o benefício de uns poucos, senão para o benefício do corpo inteiro.
Cada membro tem um dom “porque da maneira que em um corpo temos muitos membros, mas nem todos os membros tem a mesma função, assim nós, sendo muitos, somos um corpo em Cristo, e todos membros uns dos outros. De maneira que, tendo diferentes dons, segundo a graça que nos é dada...” (Romanos 12:4-6). Leia também 1.ª Coríntios 12:7.11; Efésios 4:7 y 1.ª Pedro 4:10, os que também demonstram que cada cristão possui um dom.

Em 1 Coríntios 12, Paulo fala em detalhe destes dons e os chama por um nome significativo no versículo 7: “manifestações do Espírito”. Eles são dons do Espírito e, também, manifestações do Espírito. Eles se manifestam (se mostram) a si mesmos ali onde se encontram, onde há discernimento espiritual por gente que está mui próximo de Deus, em comunhão íntima com ele. Por exemplo, tomemos o Evangelho. De onde obtém seu poder e autoridade? É de alguma aprovação do homem, ou é de seu próprio poder inerente? Desafortunadamente, a tentativa comum de acreditar ao mensageiro, tira, em lugar de agregar, poder à Palavra. A Palavra de Deus deve ser recebida simplesmente por ser sua Palavra. Ela tem a capacidade de satisfazer as necessidades do coração e da consciência só por ser as boas novas de Deus; o Deus que conhece perfeitamente qual é a necessidade do homem e que, em conseqüência, tem feito provisão para ele. Todo aquele que tem sentido o poder do Evangelho sabe de Quem tem vindo o poder. A obra e o testemunho do Espírito Santo na alma não necessitam nenhum testemunho do homem que os suplementem.

Mesmo a apelação do Senhor em seu próprio caso foi à verdade. Ele expressou: “Pois se digo a verdade, por que vós não me credes?” (João 8:46). Quando Ele falava na sinagoga judaica ou em qualquer outro lugar, era, aos olhos dos homens, só um pobre filho de carpinteiro, não acreditado por escola ou grupo de homens alguns. Todo o peso da autoridade humana esteve contra Ele. Ele inclusive repudiou “o receber testemunho dos homens”. Só a Palavra de Deus deve falar por conta de Deus. “Minha doutrina não é minha, senão daquele que me enviou” (João 7:16). E, como se aprovou a si mesma? Pelo fato de ser verdade! A verdade se fez conhecer àqueles que a buscavam; o que “quer fazer a vontade de Deus, conhecerá se a doutrina é de Deus, ou se eu falo por minha própria conta” (João 7:17). Em João 7 e 8, o Senhor lhes está dizendo: «Eu digo a verdade. a tenho trazido de Deus; e se esta é a verdade, e se procurais fazer a vontade de Deus, aprendereis a reconhecê-la como a verdade.»

Deus não manteria as pessoas na ignorância e na obscuridade se procuravam fazer Sua vontade. Permitiria Deus que os corações sinceros fossem defraudados pelos muitos enganos que haviam em redor? É claro que não! Ele faz conhecer Sua voz a todos os que lhe buscam. Assim, o Senhor diz a Pilatos: “Todo aquele que é da verdade, ouve a minha voz” (João 18:37). “Minhas ovelhas ouvem minha voz, e eu as conheço, e me seguem”, e de novo: “Mas ao estranho não seguirão, senão fugirão dele, porque não conhecem a voz dos estranhos” (João 10-27, 5).
A verdade é de uma natureza tal que a desonramos se tratamos de convalidá-la para aqueles que são verdadeiros, como se ela não fosse capaz de evidenciar a si mesma. Deus mesmo inclusive é desonrado, como se ele não pudesse ser suficiente para as almas, ou para o que ele mesmo tem dado.

Não, o apóstolo fala de “manifestação da verdade, recomendando-nos a toda consciência humana diante de Deus” (2.ª Coríntios 4:2). O Senhor diz que o mundo está condenado porque “a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas que a luz, porque suas obras eram más” (João 3:19). Não havia nenhuma falta de evidência. A luz estava ali, e os homens reconheceram seu poder para sua própria condenação, quando procuraram escapar dela.
Da mesma maneira, no dom está a “manifestação do Espírito”, e é “dada a cada um para proveito” (1.ª Coríntios 12:7). Pelo simples fato de que um homem o tenha, ele é responsável de usá-lo; responsável ante Ele, quem não o tem dado em vão. A capacidade e o título para «ministrar» estão no dom, porque eu sou responsável de ajudar e de servir com o que tenho. Se os demais recebem ajuda, eles não necessitam perguntar se tenho autorização para ajudá-los.
Este é o caráter sensível do ministério, o serviço de amor conforme a capacidade que Deus dá; serviço mútuo de uns aos outros e para todos, sem acepção ou a exclusão de uns a outros. Cada dom é adicionado ao tesouro comum, e todos são feitos mais ricos. A benção de Deus e a manifestação do Espírito são toda a autorização requerida. Nem todos são mestres, mas se aplica exatamente o mesmo princípio. O ensinamento é, entretanto, uma das muitas divisões do serviço para Deus, serviço que é rendido por uns a outros, de acordo com a esfera de seu ministério.
Não havia acaso nenhuma classe ordenada (designada) na Igreja primitiva? Isso é uma coisa totalmente distinta. Havia duas classes de oficiais que eram regularmente designados ou ordenados. Os diáconos ou servidores tinham a seu cargo os fundos para os pobres e outros propósitos, e eram eleitos, primeiro pelos santos para este posto de confiança, e logo nomeados pelos apóstolos, já fosse diretamente ou por aqueles autorizados pelos apóstolos para fazê-lo. Os anciãos foram uma segunda classe —homens de idade, como o indica a palavra— que foram nomeados nas assembléias locais unicamente pelos apóstolos ou seus delegados (Atos 14:23; Tito 1:5) como bispos ou supervisores para estarem atentos ao estado espiritual da assembléia. Os anciãos eram o mesmo que os bispos, como deduzimos claramente das palavras de Paulo aos anciãos de Éfeso (Atos 20:17,28), quando ele lhes exorta dizendo: “Portanto, olhai por vós e por todo o rebanho em que o Espírito Santo os tem posto por bispos.” Aqui os tradutores da versão Reina-Valera tem deixado sem traduzir a palavra grega «bispo» que significa «supervisor», e o mesmo podemos observar em Tito 1:5, 7: “Por esta causa te deixei em Creta, para que... e estabelecesses anciãos em cada cidade, assim como eu te mandei... porque é necessário que o bispo (supervisor) seja irrepreensível...”.
O trabalho de um ancião era vigiar ou supervisar, e mesmo quando ser “apto para ensinar” (1.ª Timoteo 3:2) era uma qualidade muito requerida em vista de que os erros eram já rampantes, o fato de ensinar certamente não era algo limitado àqueles que eram “maridos de uma só mulher, que tenha a seus filhos em sujeição com toda honestidade”, etc. (Tito 1:6-9; 1.ª Timóteo 3). Esta foi uma prova necessária para um que seria ancião (ou bispo), “pois o que não sabe governar sua própria casa, como cuidará da igreja de Deus?” (1.ª Timóteo 3:1-7).

Qualquer que tenham sido os dons que tiveram os anciãos, eles os utilizavam da mesma maneira que faziam todos. O apóstolo Paulo ordena o seguinte: “Os anciãos que governam bem, sejam tidos por dignos de duplo honorários, especialmente os que trabalham em pregar e ensinar” (1.ª Timóteo 5:17). Mas se desprende claramente que eles podiam governar bem sem ocupar-se em trabalhar na Palavra e no ensino.

O significado de sua ordenação ou nomeação era só este: aqui se tratava de uma questão de autoridade, não de dom. Foi uma questão de título para examinar com freqüência assuntos difíceis e delicados entre pessoas que não estavam dispostas a submeterem-se à Palavra de Deus. A ministração do «dom», não obstante, era uma questão totalmente diferente.


MINISTÉRIO VS. CLERICALISMO


Nosso penoso dever, agora, é contrastar esta doutrina da Escritura com os sistemas nos quais uma classe definida está consagrada formalmente a coisas espirituais, enquanto os laicos estão excluídos de dita ocupação. Este é o verdadeiro nicolaísmo: a sujeição do povo.

O ministério da Palavra de Deus é completamente legítimo e nele estão aqueles que possuem dons e responsabilidades especiais (mas não exclusivamente) para ministrá-lo. Mas o «sacerdócio» é suficientemente distinto do «ministério» para ser reconhecido facilmente onde quer que seja reclamado ou exista. Os protestantes em geral negam que todo poder sacerdotal esta em seus ministros. Não tenho nenhum desejo de disputar sua honestidade nesta negação. Eles querem dizer que seus ministros não tem nenhum poder autoritativo de absolvição, e que eles não fazem da mesa do Senhor um altar no que se renove, dia após dia (como na missa católica romana), a perfeição do oferecimento único e suficiente de Cristo, negada por inumeráveis repetições. Eles tem razão com respeito a ambas as coisas, mas esta não é a história completa. Se analisarmos mais profundamente, encontraremos que existe um caráter sacerdotal de muitas outras maneiras.

Podemos distinguir sacerdócio e ministério como segue: o ministério é para os homens, enquanto que o sacerdócio é para Deus. O que ministra traz a mensagem de Deus ao povo, falando, da parte de Deus, a eles. O sacerdote se dirige a Deus de parte do povo, falando no sentido inverso: de parte do povo, a Deus.

O louvor e as ações de graças são sacrifícios espirituais. Eles são parte de nossas oferendas como sacerdotes. Agora, ponha uma classe especial em um lugar onde eles só, de forma regular e oficial, atuem dando louvores e ações de graças, e virão a ser um sacerdócio intermediário, mediadores entre Deus e aqueles que não estão tão perto Dele.
A Ceia do Senhor é a mais completa e proeminente expressão pública da adoração e ação de graças cristã; mas, que ministro protestante ou pastor denominacional não o considera como seu direito e dever oficiais de administrá-la? A maioria dos «laicos» se abstém de administrá-la. Este é um dos terríveis males do sistema, pelo qual as massas cristãs são deste modo secularizadas (feitas mundanas). Ocupadas com coisas mundanas, pensam que não podem esperar ser espiritualmente como os clérigos. Deste modo, as massas são exoneradas das ocupações espirituais, para as quais crêem não reunir as mesmas condições que o clero.

Mas isto vai muito mais além. “Porque os lábios do sacerdote tem de guardar a sabedoria” (Malaquias 2:7). Mas como pode o laico (que tem chegado a ser tal por haver abandonado seu sacerdócio voluntariamente) ter a sabedoria pertencente a uma classe sacerdotal? A falta de espiritualidade à qual se tem desprezado a si mesmos não lhes permite conhecer as coisas espirituais. Assim, só a classe ocupada nas coisas espirituais vem a ser intérprete autorizada da Palavra de Deus. Deste modo, o clero vem a ser os olhos, ouvidos e boca espirituais dos laicos.
De qualquer maneira, esta organização convém à maioria das pessoas. O «clericalismo» não tem começado simplesmente porque uma classe de homens que quiseram dirigir assumiram o lugar de liderança. Esta miserável e anti-bíblica distinção entre clero e laicos nunca poderia ter ocorrido de maneira tão rápida e universal se não estivesse tão bem adaptada ao gosto daqueles a quem substituiu e degradou. No cristianismo, como em Israel, a profecia têm sido cumprida, “os profetas profetizam falsamente, e os sacerdotes dominam de mãos dadas com eles; e é o que deseja o meu povo.” (Jeremias 5:31). Ao sobrevir uma decadência espiritual, um que esta voltando ao mundo troca de boa vontade, como Esaú, sua primogenitura espiritual por uma mistura da sopa do mundo. Concede com gratidão sua necessidade de cuidar das coisas espirituais àqueles que aceitem esta responsabilidade.

Uma vez que a Igreja perdeu seu primeiro amor e o mundo começou a introduzir-se através das portas pobremente protegidas, chegou a ser mais difícil para os cristãos tomar o bendito e maravilhoso lugar que lhes pertencia. Cada passo descendente só fazia mais fácil os passos subseqüentes, até que, em menos de 300 anos desde o começo da Igreja, um sacerdócio judaico e uma religião ritualista foram praticados em quase todas as partes. Só os nomes das coisas preciosas do cristianismo foram deixados. A realidade dos privilégios especiais e cada cristão individual havia desaparecido.



ORDENAÇÃO


Observemos com maior detalhe um traço característico desta clerezia ou clericalismo. Notamos a confusão entre o ministério e o sacerdócio; a atribuição de um título oficial não escriturário, para as coisas espirituais, para administrar a Ceia do Senhor e para batizar, etc. Agora tratarei sobre ênfase posta por este perverso sistema sobre a ordenação (isto é, nomeação ou reconhecimento oficial).

Quero que vejas o que significa ordenação. Primeiro, se consultamos o Novo Testamento, não encontraremos nada acerca de uma ordem para ensinar ou pregar. Encontraremos as pessoas que fazem livremente, usando um dom que tenham. A Igreja inteira foi dispersa fora de Jerusalém (exceto os apóstolos) e estas pessoas foram por todas as partes pregando a Palavra. As perseguições não as ordenaram. Não há rastro de outra coisa. Timóteo recebeu um dom de profecia pela imposição das mãos de Paulo, em companhia dos anciãos (2.ª Timóteo 1:6; 1.ª Timóteo 4:14); mas aquela era a comunicação de um dom, não uma autorização para usá-lo! A Timóteo, então, se lhe ordena que comunique seu próprio conhecimento a homens de fé, que foram capazes também de ensinar a outros (2.ª Timóteo 2:2), mas não há nenhuma palavra acerca de ordená-los. O caso de Paulo e Barnabé em Antioquia (Atos 13:1-4) fracassa como sustento do propósito com que alguns o querem usar, porque (da maneira como se pretende usar) profetas e mestres estariam obrigados a ordenar ao apóstolo Paulo mesmo, que recusa totalmente ser um apóstolo “dos homens ou por homem” (Gálatas 1:1). Ao contrário o Espírito Santo diz: “Apartai-me a Barnabé e a Saulo para a obra a que (Eu) os tenho chamado” (Atos 13:2). Se trata aqui simplesmente de uma missão especial que eles cumpriram (Atos 14:26).

O que significa ordenação nos círculos religiosos da atualidade? Pode você estar seguro de que significa muito; do contrario, os homens não contenderiam com tanto zelo por ele. Há duas formas de ordenação. Na forma mais extrema —como no caso dos católicos romanos e os ritualistas— à ordenação se o confere a atribuição de conceder tanto autoridade como poder espiritual. Os líderes da igreja se adotam, com todo o poder dos apóstolos, a faculdade de subministrar o Espírito Santo mediante a imposição de suas mãos. Deste modo, as massas do povo de Deus são descartadas do sacerdócio que Ele mesmo lhes tem outorgado, e uma classe especial é colocada em seu lugar para intermediar por eles de uma maneira que anula o fruto da obra de Cristo e os ata à «igreja» como o único meio de achar graça.

Aqueles que aceitam uma forma mais moderada de ordenação, recusam reta e consistentemente essas pretensões anti-cristãs. Eles não pretendem conferir nenhum dom na ordenação, senão que só «reconhecem» o dom que Deus têm dado. Pero este «reconhecimento» é considerado necessário antes de que a pessoa possa batizar ou administrar a ceia do Senhor, coisas que não requerem nenhum dom especial em absoluto! Então, enquanto ao ministério, o dom de Deus estaria obrigado a requerer a aprovação humana, e é «reconhecido» em nome de Seu povo por aqueles a quem se considera que tem um «discernimento» que os cristãos laicos não tem.
Cegos ou não, estes homens ordenados —o clero— vêm a ser os “guias dos cegos”, à vez que seus próprios corações são tirados do lugar de responsabilidade direta ante Deus e feitos indevidamente responsáveis ante o homem. Uma consciência artificial é feita para eles de parte daqueles que os ordenaram, e lhes são constantemente impostas condições as quais se tem que ajustar a fim de obter o reconhecimento requerido. Inclusive estes pastores ou ministros freqüentemente estão sob o controle de seus «ordenadores» no que respeita a sua senda de serviço.
Em princípio, tudo isto é infidelidade a Deus, porque se Deus me tem dado um dom a fim de que o use para Ele, eu seria certamente infiel se comparecer a algum homem ou a um grupo de homens com o fim de solicitar sua permissão para usá-lo. O próprio dom acarreta a responsabilidade de usá-lo, como o temos visto. Se eles dizem que as pessoas podem cometer erros, eu estou de acordo, mas quem tem de assumir minha responsabilidade se estou equivocado? Além do mais, os erros cometidos por um «corpo ordenante» (ou «presbitério») são muito mais sérios que os de um indivíduo que meramente marcha sem haver sido enviado pelos homens, porque os erros do corpo ordenante são declarados sagrados e se prolongam no tempo pela ordenação que conferiu. Se a pessoa «ordenada» simplesmente se sustentara por seus próprios méritos, encontraria rapidamente seu verdadeiro nível; mas o corpo ordenante tem investido sobre ele um caráter que deve ser mantido. Equivocação de por meio ou não, ele é agora nada menos que um novo membro do corpo clerical, um ministro, mesmo quando não tenha realmente nada que ministrar. Ele deve ser mantido —deve ter sua «igreja»— por mais que esta se encontre em uma localidade pouco ilustre, onde as pessoas —tão amadas por Deus como qualquer— é posta sob seu cuidado e deve ficar sem se alimentar se ele não for capaz de alimentá-las.

Não me acuse de sarcástico. O anterior é um fiel retrato do sistema do qual estou falando, sistema que envolve ao corpo de Cristo com vendas que impedem a livre circulação do sangue vivificante do ministério, que deveria estar fluindo de forma irrestrita através de todo o corpo. Aqueles que ordenam na atualidade devem provar que são ou apóstolos ou homens designados pelos apóstolos porque, segundo as Escrituras, nenhum outro tinha autoridade para ordenar (Atos 14:23; Tito 1:5). Aliás, devem provar que o «ancião» segundo as Escrituras pode não ser ancião de todo, senão um jovem, uma pessoa solteira, apenas saída de sua adolescência e que fora evangelista, pastor e mestre —todos dons de Deus envoltos em uma só pessoa—. Este é o ministro segundo o sistema: o tudo em todos para 50 ou 500 almas confiadas a ele como seu rebanho, no qual nenhum outro tem o direito de interferir. Seguramente a marca de «nicolaísmo», está posta sobre um sistema como este!

Mesmo quando o ministro esteja espiritualmente dotado (e muitos estão, como outros muitos não estão), é improvável que tenha todos os dons espirituais. Suponha-se que seja um verdadeiro evangelista e que as almas se salvem; ele pode não ser um mestre, e ver-se assim incapacitado para edificá-las na verdade. Ou talvez tenha o verdadeiro dom de Deus de mestre, mas é enviado a um lugar onde há tão somente uns poucos cristãos e muitos de sua congregação são não convertidos. Não há conversões, mas sua presença ali, a causa do sistema sob o qual está trabalhando, mantém afastado (em diversos graus) ao evangelista que se necessitaria ali. Agradeçamos a Deus que Ele sempre esteja desbaratando estes sistemas, e que as necessidades possam ser supridas de algum modo irregular. Entretanto, esta provisão humana não é conforme o plano de Deus e por ele divide ao invés de unir. O sistema é o responsável de tudo isto. O ministério exclusivo de um só homem, ou de um número específico de homens em uma congregação, não tem Escritura que o sustente. A ordenação é o esforço para limitar todo ministério a certa classe e faz descansar a este na autorização humana e não no dom divino. E assim se nega aos demais membros do corpo —o rebanho de Cristo— a capacidade aprovisionada por Deus para ouvir Sua voz e logo comunicá-la. O resultado é que se dá ao homem a atenção que deveria ser dada à Palavra que ele traz. A pergunta prevalecente é: Está autorizado? Relativo à verdade do que fala, com freqüência é secundaria se ele está ordenado; ou talvez, diria eu, sua ortodoxia (sua retidão doutrinal) está estabelecida já de antemão para eles pelo fato de ser ordenado.
O apóstolo Paulo não fora autorizado para ministrar conforme este plano. Houve apóstolos antes dele, mas ele não subiu a eles nem recebeu nada deles. Se houvesse uma «sucessão», ele a cortou. Paulo fez o que fez, de propósito, para mostrar que seu evangelho não era segundo os homens, nem derivado deles (Gálatas 1:1) e que não descansava sobre a autoridade humana. Se ele mesmo ou um anjo do céu (cuja autoridade pareceria concludente), anunciasse um evangelho diferente do que havia pregado, a sentença solene de Paulo é: “seja anátema” (Gálatas 1:8-9).

Autoridade, então, não é nada, a menos que seja autoridade da Palavra de Deus. Esta é a prova: É isto conforme às Escrituras? “Acaso pode um cego guiar a outro cego? Não cairão ambos no buraco?” (Lucas 6:39). Dizer: «Eu não pude conhecer: confiei no outro», não o salvará do poço (o inferno para os não conversos, a pobreza espiritual e a perda da comunhão para os salvos), independentemente de quanta «autoridade» pretendeu ter o ministro que lhe guiou ao erro.
Mas, como pode pretender o não espiritual e não instruído «laico» ter um conhecimento igual ao do educado e acreditado ministro, dedicado às coisas espirituais? Em geral, não pode. Ao invés de segurar por si e para si a Palavra de Deus, usando o poder do Espírito Santo que mora Nele para aprender as coisas espirituais (João 14:26), ele se submete àquele que, segundo supõe, deve saber mais e melhor. Assim pois, na prática, o ensinamento do ministro ou pastor substitui principalmente a autoridade da Palavra. Entretanto, ele mesmo não tem certeza em quanto à verdade ministrada. O laico não pode ocultar-se a si mesmo o fato de que os ministros não estejam de acordo entre si por mais doutos, bons e acreditados que sejam.

Mas aqui o diabo intervém e sugere à pessoa incauta que a confusão é o resultado da imprecisão das Escrituras, quando em realidade é o resultado de fazer caso omisso das Escrituras.
Opinião, não fé, há em todas as partes. Você tem direito a sua opinião, mas deve conceder a outros o direito a ter a própria. Você pode dizer «eu creio» enquanto não quer dizer «eu sei». Reclamar «conhecimento» seria reclamar que você é mais sábio e melhor que as gerações precedentes, as que creram de forma diferente.
A infidelidade (incredulidade) logra prosperar desta maneira, e Satanás se regozija quando consegue que os pensamentos de muitos vibrantes comentaristas substituem a simples e segura voz divina. O que você necessita é a “espada do Espírito, que é a Palavra de Deus” (Efésios 6:17). Crês tu que «assim disse João Calvino» ou «Martinho Lutero» ou qualquer outro homem, impactará tanto a Satanás como: “assim disse o Senhor”? ¿Quem pode negar que tais pensamentos e práticas, estão em todas as partes e não restringidas unicamente aos católicos romanos e ritualistas? A tendência constante é a de desviar-se do Deus vivente, mesmo quando Ele está tão próximo dos seus hoje em dia como nunca antes na história da Igreja. Ele é, inclusive, tão capaz para instruir como sempre, e todavia está disposto a cumprir a palavra: “O que quer fazer a vontade de Deus, conhecerá se a doutrina é de Deus” (João 7:17). Os «olhos» da fé são os olhos do coração (do afeto por Deus), não olhos da cabeça. Deus tem ocultado dos sábios e entendidos o que revela às criaturas. A escola de Deus é mais efetiva que todos os seminários juntos, e nessa divina escola, laicos e clérigos podem ser iguais: “o espiritual julga (discerne) todas as coisas (1.ª Coríntios 2:15), pois tudo depende da condição espiritual individual. Não há substituto para a espiritualidade. O homem não pode gerar espiritualidade em outra pessoa mediante a ordenação nem mediante nenhum outro meio. Ordenação, em sua forma mais moderada, é o esforço do homem para realizar a manifestação do Espírito Santo. Mas se aqueles que ordenam cometem um erro (o são eles mesmos não espirituais e, por ele, incapazes de julgar) e seu «ministro» não tem nada que ver com a obra de Deus, eles simplesmente provêem guias cegos para os cegos.

Roma en la Profecía de Daniel- Gino Iafrancesco V

PREFACIO

El libro de Daniel es básico para la escatología y para el entendimiento del resto de las profecías bíblicas, especialmente las del Apocalipsis. De la misma manera, el papel de Roma en las profecías de Daniel es crucial para la consideración de los tiempos modernos que caen en la parte final del esquema profético.
Con el presente opúsculo se piensa simplemente a consideración algunos puntos cruciales que sirvan de ayuda a las personas que desean internarse poco a poco en los tesoros de la escatología. Se aconseja, sin embargo, que los estudios escatológicos no se aíslen ni se descentren del propósito central de la Palabra de Dios, sino que más bien le sirvan como marco de referencia.
El opúsculo se escribió en el Paraguay durante el primer trimestre de 1983 a pedido de hermanos en Cristo que participaron de exposiciones orales sobre el tema dadas por el autor en tiempo atrás. La nota preliminar es posterior.
Las citas de las Escrituras se han tomado de la versión Reina-Valera de 1960. Para las citas de los libros de los Macabeos se ha utilizado la versión Latinoamericana, cuyo texto consideramos aceptable, aunque no necesariamente sus comentarios, los cuales juzgamos a veces tendenciosos, por lo cual no los aprobamos.
Gino Iafrancesco V.

PRESENTACIÓN

No deseamos molestar, ni mucho menos ofender a nadie, con la presentación de este estudio de la profecía bíblica; deseamos, sí, encarar esta porción de la Palabra divina, porque siendo efectivamente eso, Palabra de Dios, no está de sobra en las Escrituras, sino que tiene su lugar correspondiente para un propósito del Altísimo.
Dios desea que al estar comprometidos con Su causa, estemos enseñados en Su Palabra acerca del desenvolvimiento de los planes divinos. Estamos confiados en que el estudio del tema escritural que aquí nos ocupa, nos ayudará en la fe, en el fervor y en el discernimiento. De una cosa estamos seguros, y es del hecho de que esas profecías están allí para nosotros de parte de Dios, y para nuestro provecho y el de Su gloria.
La intención, pues, que nos mueve al encarar este estudio, procura estar de parte de la verdad, y de la verdad en amor. Repetimos, pues, que no es nuestro propósito ofender a nadie, ni indisponer el corazón de ninguno contra alguien, sino más bien, el que nuestros ojos sean alumbrados por la deslumbrante luz de la Palabra divina, de manera que podamos conocer mejor la voluntad de Dios y ajustarnos más estrechamente a ella.
Las realidades evidenciadas pueden parecer quizá demasiado duras para alguna u otra persona, pero recordemos que lo que estamos encarando es nada menos que una porción del tesoro de la revelación divina. Deseamos, pues, imponer a nuestra exégesis la mayor honestidad e integridad porque la responsabilidad es grande.
¿Por qué enfocar precisamente a Roma? porque, como veremos, ella está íntimamente relacionada con los acontecimientos finales, y aunque, si bien, no los copa todos, si tiene en ellos un lugar muy preponderante. En razón, pues, de la importancia que le concede la Palabra divina, iniciamos esta serie escatológica, Dios mediante, enfocando a Roma en la profecía de Daniel.

domingo, 5 de junho de 2011

O Livro da Consumação- Gino Iafrancesco



O LIVRO DA CONSUMAÇÃO

VISÃO PANORÂMICA



Antes de entrar nos detalhes do tema desta introdução, olhemos tudo sob a perspectiva de uma introdução panorâmica, porque há vezes em que alguém olha um motor, mas o motor está desmontado, desarmado, todas as peças estão soltas, amontoadas no chão, e nessas condições, é difícil saber do que se trata o motor. É necessário, pois, que todo o motor esteja armado, que cada porca vá com seu correspondente parafuso, que cada peça esteja em seu lugar, que cada molinha deste modo esteja em seu lugar, que todas as coisas estejam relacionadas umas com as outras de uma maneira coerente.

Antes de entrar nos detalhes necessitamos inicialmente ter uma visão panorâmica introdutória que nos ajude a nos localizar no assunto central. O mesmo ocorre quando vai se construir, por exemplo, um edifício; primeiro se busca o lugar e os elementos apropriados, colocam-se os principais fundamentos, as colunas principais, as vigas principais, as pranchas principais; logo se fazem as principais divisões, e logo depois vem o cenário.

Mas alguém não pode colocar-se no cenário, com os pequenos detalhes, sem ver primeiro o plano geral, as linhas mestras e diretrizes, ou o esquema fundamental. Assim necessitamos também entender precisamente que ao livro de Apocalipse é necessário vê-lo primeiro em relação com o programa divino, em relação com toda a Bíblia, e em particular com todo o Novo Testamento, e particularísimamente com os escritos do apóstolo João, e ver o que é o que Deus quer nos dar através deste livro; primeiro de uma maneira geral, e logo sim entrando nos detalhes.

Em primeiro lugar nos fixemos na localização providencial que o livro do Apocalipse tem no canon das Sagradas Escrituras; aparece nada menos que no final de toda a Bíblia, e o mesmo título do livro, Apocalipse, que é uma palavra grega que significa revelação ou desvelação, mostra-nos como se fora e é a culminação de todo um programa, de todo um processo. Devemos entender que essa é a razão da localização do livro providencialmente no final do canon, não só dos escritos de João e do Novo Testamento, mas sim de toda a Bíblia.

Apocalipse significa tirar o véu. É como um artista que esteve fazendo durante muito tempo uma obra mestra e minuciosa; mas enquanto se fazia, essa obra estava oculta ao público em geral. Ao passar perto da casa do artista, poderia ser um escultor ou um pintor, o público talvez escute alguns ruídos, algumas marteladas, mas não compreenderia aquilo, tanto para a escultura como para a pintura; talvez sairia um pouco de pó pela janela, e o público sem saber o que estava fazendo o artista. Mas quando se chega o dia da inauguração, como quando vai se tirar um véu para mostrar o busto de algum personagem importante, pois se chega a esse dia final e se corre o véu e se mostra ao público a obra mestra. O Apocalipse cumpre esse mesmo papel.

O livro de Gênesis é o livro das orígens; é o livro onde se semeiam as primeiras sementes do programa de Deus, onde se estabelecem as primeiras pistas do propósito eterno de Deus, e onde se mostram também as primeiras linhas de conduta, tanto da descendência da Semente da Mulher, como da descendência da semente da serpente. No livro de Gênesis se semeiam essas sementes. A primeira profecia onde nos resume o que seria a história está primeiro em Gênesis. Mas depois de haver se desenvolvido ao longo de toda a Bíblia e de toda a história, consuma-se no Apocalipse.

O COMBATE HISTÓRICO ENTRE AS DUAS SEMENTES

Diz a Palavra de Deus em Gênesis 3:15:

"E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre sua semente e a semente dela; esta te ferirá na cabeça, e você lhe ferirá no calcanhar".

Deus fala aqui antecipando-se ao programa da história, e fala com a serpente, aquela serpente antiga, que é o diabo, Satanás, e vemos que o Senhor está identificando a um personagem e a uma linha de conduta que segue a esse personagem. Como o Senhor Jesus disse depois: "Vós sois de seu pai o diabo, e os desejos de seu pai querem fazer" (João 8:44a), o Senhor já identificou a um personagem rebelde e profetizou uma descendência espiritual desse mesmo personagem, e de uma vez uma conduta e também um final. Deus pôs inimizade entre a semente da serpente e a Semente da Mulher. Claro que a mulher por si só não pode ter semente, a menos que seja a virgem Maria que deu a luz sem intervenção do homem; portanto realmente o Senhor Jesus Cristo é a Semente da Mulher porque nasceu da mulher sem intervenção do varão.

Daí que isto se trate de uma luta entre o Senhor e o diabo, na qual o Senhor fere na cabeça a Satanás; aí está anunciado o final; e o diabo fere o Senhor no calcanhar. O Senhor lhe esmagará a cabeça ao diabo, e ao esmagar-lhe Ele será ferido, mas de todas as maneiras a esmagará. A primeira profecia, que poderíamos chamar o proto-evangelho, mostra-nos um combate entre Deus e o diabo; entre a descendência de um e a do outro, e um final vitorioso para o Senhor, revelado através da Semente da Mulher. Para obter essa vitória teve que haver uma ferida, um sofrimento nessa Semente da Mulher. Gênesis aqui apresenta de uma maneira resumida o programa de Deus ao longo de toda a história, e a história mesma tem seu final.

Esta mesma mulher e esta mesma serpente aparecem também em Apocalipse; somente que em Apocalipse já não nos revela algo tão simples, a não ser um pouco mais complexo. Para ilustrar melhor leiamos, por exemplo, em Apocalipse 12:1-4:

"1 Apareceu no céu um grande sinal: uma mulher vestida do sol, com a lua debaixo de seus pés, e sobre sua cabeça uma coroa de doze estrelas. 2 E estando grávida, clamava com dores de parto, na angústia para dar a luz. 3 Também apareceu outro sinal no céu: eis aqui um grande dragão escarlate, que tinha sete cabeças e dez chifres, e em suas cabeças sete diademas; 4 e sua cauda arrastava a terceira parte das estrelas do céu, e as jogou sobre a terra. E o dragão parou frente à mulher que estava para dar a luz, a fim de devorar a seu filho logo que nascesse".

Aquela mulher que era muito simples quando mencionada em Gênesis, já teve um desenvolvimento no Apocalipse. Também vemos aqui a Semente da Mulher. O primeiro sinal que aparece é que a mulher dá a luz um filho varão; o segundo sinal é a aparição no céu de um dragão escarlate, que é a mesma serpente, como explica o versículo 9, quando diz:

"E foi arrojado fora o dragão, a serpente antiga, que se chama diabo e Satanás, o qual engana ao mundo inteiro; foi arrojado à terra, e seus anjos foram jogados com ele".

Aí nos explica que este dragão é a mesma serpente, somente que ao princípio aparece de uma maneira muito simples; quer dizer, simplesmente a mulher, a Semente da Mulher, a serpente e a semente da serpente. Mas ao transcorrer o tempo da história, vemos a mulher já vestida de sol, com a lua debaixo de seus pés, com doze estrelas. Deste modo vemos a serpente muito desenvolvida, convertida em um dragão com sete cabeças e dez chifres. Outros acontecimentos finais vemos nos versos 15-17, que dizem:
"15 a serpente lançou de sua boca, atrás da mulher, água como um rio, para que fosse arrastada pelo rio. 16 Mas a terra ajudou à mulher, pois a terra abriu sua boca e tragou o rio que o dragão tinha lançado de sua boca. 17 Então o dragão se encheu de ira contra a mulher; e foi fazer guerra contra o resto da descendência dela, os que guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus Cristo".

Aquilo que começou no livro de Gênesis de uma maneira simples, profética, teve um desenvolvimento ao longo de toda a história, e precisamente aparece um final no livro de Apocalipse. Até agora só viemos fazendo um esboço deste histórico drama, pois somente vimos a primeira vista, e a final; como quando vai se disparar a um alvo, terá que ter em conta a primeira e a última vista. Se só olharmos com a primeira vista, ou só com a segunda, não acertamos no alvo; por isso devemos olhar Gênesis com Apocalipse, para descobrir qual é a linha reta para acertar no alvo.

Quando olhamos o livro de Apocalipse vemos que essas cabeças do dragão depois aparecem identificadas com as cabeças da besta; assim como o dragão tem sete cabeças, também a besta tem sete cabeças; então nos damos conta de que as cabeças da besta são as mesmas cabeças do dragão. Somente que o dragão representa a parte espiritual do reino das trevas, e em troca, a besta representa a parte política e terrestre desse reino; e existe, além disso, uma sincronia entre esse mundo espiritual e esse mundo natural. Por exemplo, no capítulo 10 do livro do profeta Daniel, aparece uma luta nos ares e se diz que aquele anjo que esteve lutando para poder vir dar a Daniel a revelação de Deus, teve que ser ajudado pelo arcanjo Miguel, quem lutou contra o príncipe da Pérsia; mas a Palavra narra que depois que o príncipe da Pérsia caísse, viria o príncipe da Grécia; e isso significa que nos ares existiu um principado que se chamou príncipe da Pérsia. Enquanto esse principado demoníaco estava reinando, na terra governava o império persa. Quando o príncipe espiritual das trevas da Persia caiu, o império persa também caiu. E ante quem caiu o império persa? precisamente ante o império grego, que era liderado pelo príncipe das trevas chamado o príncipe da Grécia. Vemos, pois, que a Palavra de Deus nos revela que existe uma sincronia entre o mundo espiritual e o mundo natural, entre o dragão e a besta, as cabeças do dragão ou seus príncipes e as cabeças da besta e os grandes líderes, ou grandes impérios que estão representados por essas cabeças.

Está profetizado desde Gênesis o que entre a Semente da Mulher e a semente da serpente se desenvolveu em toda a história universal; e a Palavra de Deus nos revela o transfundo da história universal. O que é o que está detrás de todos os acontecimentos? Qual é o significado último detrás de tudo o que aconteceu na história? Um combate entre a semente da serpente e a Semente da Mulher. A linha de Deus contra a linha de Satanás; ao fim disso conta é o que está detrás. Mas a Bíblia nos ensina que tanto Deus como o diabo têm um objetivo, têm um propósito.

A GRANDE MENTIRA DO DIABO

A Bíblia nos fala do propósito de Deus e também nos fala das intenções ou desejos do chamado pai o diabo; não é chamado assim por nós, obviamente. Como citamos acima, o Senhor disse a certos personagens: "Vós sois de seu pai o diabo, e os desejos de seu pai querem fazer"; aí vemos que Jesus falou dos desejos do diabo, dos objetivos que ele tem; há algo que ele quis. Nos capítulos 14 de Isaías e 28 de Ezequiel, a Palavra de Deus nos esclarece que o diabo teve uns objetivos; mas esses objetivos não são de Deus nem são eternos. Antes de que o diabo tivesse esses objetivos, e antes de que o diabo existisse, e antes de que existisse coisa alguma, Deus existia desde a eternidade e Deus tinha Seus próprios objetivos, Seus próprios propósitos, até sabendo que uma das criaturas angélicas, um querubim protetor que Ele criaria como o selo da formosura, rebelaria-se contra Deus e teria também seus propósitos, que estão revelados claramente em Isaías 14 e Ezequiel 28. Esses propósitos satânicos consistem em que o diabo quer ocupar o lugar de Deus. O diabo dizia:

"13 Subirei ao céu; no alto, junto às estrelas de Deus, levantarei meu trono, e no monte do testemunho me sentarei, aos lados do norte; 14 sobre as alturas das nuvens subirei, e serei semelhante ao altíssimo" (Isaías 14:13-14).

Esses tem sido os desejos do diabo desde o começo da rebelião no céu; quer dizer, que o diabo tem um objetivo. O quer substituir, substituir a Deus; ele quer que a criatura ocupe o lugar de Deus.

Esse princípio está detrás de muitas filosofias, de muitas mitologias, de muitas religiões e de muitas rebeliões; mas esse mesmo princípio, "serão semelhantes a Deus", é o mesmo com que o diabo tentou ao homem desde o começo: Vós sereis como deuses, conhecendo o bem e o mal; e isso é precisamente o que está detrás da filosofia evolucionista, do homem autodesenvolver-se por si mesmo até chegar a ser a expressão final da divindade.

Mas a divindade já não chama a Deus, a não ser à natureza, como no panteísmo; filosofia que diz que a natureza tem umas forças intrínsecas evolutivas que vão desenvolvendo-se, e que essa divindade vai aparecendo no homem, e que o homem é o estado mais evoluído do fio primitivo da substância divina, que é o tudo da natureza, segundo eles; e isso está detrás das religiões, detrás das mitologias e das filosofias seculares. Essa é a filosofia de Hegel, de Teilhard de Chardin; essa é a pseudofilosofía do evolucionismo; deste modo essa é a filosofia do esoterismo, do gnosticismo, do cabalismo, do hermetismo, da maçonaria, da nova era.

Todo esse princípio é o mesmo da serpente: Sereis como Deus, sabendo o bem e o mal; quer dizer, vós ocupareis o lugar central. Essa foi a sensação que o diabo difundiu, que não nasceu de ninguém mas sim de si mesmo, e quis ocupar o lugar central. Em Romanos 1:21-23, Paulo o expressa formosa e magistralmente assim:

"21 Pois havendo conhecido a Deus, não lhe glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, mas sim se envaideceram em seus raciocínios, e seu néscio coração se obscureceu. 22 Professando ser sábios, fizeram-se néscios, 23 E trocaram a glória do Deus incorruptível em semelhança de imagem de homem corruptivel, de aves, de quadrúpedes e de répteis".

Os homens adoraram a natureza, incluído o homem mesmo, em lugar de Deus. É o mesmo problema do diabo; ele disse: serei semelhante ao altíssimo. Esses são os desejos do diabo. Mas assim como o diabo tem seus próprios desejos, antes de que o mesmo diabo existisse e tivesse a oportunidade de rebelar-se, Deus já tinha um propósito eterno. Na Palavra de Deus são muitas as passagens que nos falam do propósito eterno de Deus, e que quando Deus criou as coisas, criou-as em função de Seu propósito eterno.

Quando Deus deu permissão para que existisse a rebelião, fez-o em função de Seu propósito eterno; e a providência de Deus, que profetizou o que seria a história, esteve detrás de todos os acontecimentos, levando adiante todo o propósito de Deus, até com a existência de um mundo rebelde que tem outro propósito. E Deus permitiu essa rebelião porque queria fazer notório o que ele reprova, e também Seu poder e Sua ira contra a rebelião; e também Sua graça e Sua misericórdia para com aqueles de quem se compadeça e salve e introduza em Seu Reino, em Sua economia final.

UM SUBSTRATO DO PROPÓSITO DE DEUS

Nos demos conta de que o livro de Apocalipse está situado em um lugar onde conflui a consumação dessas duas linhas. Não é qualquer livro; isso supõe um livro tremendo; um livro onde tudo o que se semeou em Gênesis e se desenvolveu ao longo da história, na Bíblia, e também depois de que a Bíblia fechou seu canon, tudo isso que estava já profetizado, consuma-se no livro de Apocalipse. Esse livro contém o destino final daquela semente de rebelião, e contém também a consumação do plano eterno de Deus. Na epístola aos Efésios 1:8-12, a Palavra é tão clara, que nos ajuda a analisar as coisas, para saber o que é o que deveríamos encontrar em Apocalipse, porque às vezes, quando vamos a este livro, fixamo-nos nas porquinhas, nos parafusinhos, nas molinhas, no motor desmontado, mas precisamos ver tudo isso armado e consumado. Leiamos a passagem:

"(Sua graça) 8 que fez superabundar para conosco em toda sabedoria e inteligência, 9 dando-nos a conhecer o mistério de sua vontade, segundo seu beneplácito, o qual havia proposto em si mesmo, 10 de reunir todas as coisas em Cristo, na dispensação do cumprimento dos tempos, assim as que estão nos céus, como as que estão na terra. 11 Nele deste modo fomos feitos herança, tendo sido predestinados conforme o propósito daquele que faz todas as coisas segundo o intuito de sua vontade, 12 A fim de que sejamos para louvor de sua glória, nós os que primeiro esperamos em Cristo".

Esta graça superabundante já não se refere somente à redenção, ao perdão dos pecados, que por si só, é uma graça muito abundante. "Onde abundou o pecado superabundou a graça"; mas tanto superabundou, que a graça não se limitou somente à redenção, porque a redenção é para recuperar ao homem caído, a fim de poder Deus continuar com Seu propósito eterno. O propósito final de Deus não é a salvação, pois a salvação é o meio que Deus utiliza para recuperar ao homem, para alcançar seu propósito final. O propósito final de Deus vai mais além da redenção e a salvação, e por isso diz aqui que à graça a fez superabundar além da redenção, em toda sabedoria e inteligência espiritual, ou seja, sabedoria e inteligência que provêm da graça e em relação com o propósito eterno de Deus; e isso se estende nos dando a conhecer o mistério de Sua vontade, porque Deus tem uma vontade. Ainda muitos dizem: Como é que viemos para cá? para que vivemos? será que o mundo por aqui tem algum sentido? Isso é o que alguns estão concluindo. Entretanto, à Igreja, não à universidade, não à ciência secular, à Igreja, não por meio de seus próprios esforços, mas sim pela revelação divina, à Igreja é dado a conhecer o mistério da vontade divina; qual é o objetivo que Deus propôs em Si mesmo; para que criou; para que permitiu a rebelião; para que salvou, e onde terminará todo o desenvolvimento da história. Isto Deus revela à Igreja. O que a Deus agradou desde a eternidade, o propôs como um objetivo, e não haverá diabo que possa estorvar a Deus em Seu propósito eterno, Seus objetivos. No verso dez diz que se propôs em Si mesmo reunir todas as coisas em Cristo, na dispensação do cumprimento dos tempos, nos dando em forma resumida o substrato do Apocalipse, porque Apocalipse é a consumação do plano de Deus, e aqui em Efésios nos está dizendo qual é esse plano.

Quer dizer, que através da chave deste versículo, vemos o substrato fundamental ou esquemático de Apocalipse. Reunir significa tomar o que estava disperso, o que sem estar neste lugar, aos pés de Cristo e em função de Cristo, não teria razão de ser. Tenha-se em conta que o diabo também quer reunir. Se entendermos esta primeira consideração panorâmica, depois vamos entender outras muitas coisas com relação à religião, à política, à economia; mas aqui se fala de reunir todas as coisas em Cristo, em troca o diabo quer reunir todas as coisas mas não em Cristo, senão ao redor de si mesmo. O diabo em seus desejos quer sentar-se no monte do testemunho, pôr seu trono sobre as estrelas do norte e fazer-se semelhante a Deus, e para isso necessita também reunir, mas reunir ao redor de si mesmo; em contrapartida o Senhor quer reunir ao redor de Cristo. A quem ama o Pai por sobre todas as coisas é ao Filho, porque antes de que existisse a criação, só existia a Trindade, e o Pai amava ao Filho, e o Pai quer a preeminência do Filho sobre todas as coisas. A criação foi feita para o Filho; a redenção é para dar ao Filho um Reino; o Filho está no centro do coração do Pai, mas o diabo quer ocupar esse centro.

Se entendermos isto, nos vai afinar o discernimento a respeito dos acontecimentos atuais; porque sabemos que existem duas forças em combate, no qual prevalecerá a do Senhor, embora seja muito aparente a do diabo. É mais aparente um dragão com sete cabeças que uma mulher com um menino, mas entretanto é o menino dessa mulher, a Semente da mulher, quem prevalecerá contra o dragão, suas cabeças e seus chifres.

Quando em Efésios nos diz "de reunir... na dispensação do cumprimento...", no grego diz: "na economia da plenitude dos tempos". Esta palavra economia, que nesta passagem se traduz dispensação, em outras passagens se traduz administração, em outros se traduz mordomia, comissão, edificação. A palavra economia vem de umas palavras gregas, oikos , de onde vem a palavra espanhola hogar, que quer dizer casa, e nomos, de onde vem a palavra espanhola norma, que significa lei; de onde oikonomía significa a lei da casa, a norma da casa; quer dizer, a administração do Reino. Então diz que Deus quer reunir todas as coisas em Cristo na economia da plenitude do cumprimento do tempo.

Quando fala dos tempos, no plural, significa que a história percorreu várias etapas; mas ao contrário do que pensam os gregos, que o tempo é uma questão cíclica que se repete cegamente, ou do que pensam alguns que acreditam no azar, que não há nenhum sentido na história, mas sim as coisas surgem na história de uma maneira desbocada, que não têm nenhum sentido, a Palavra de Deus revela que a sucessão dos tempos, das etapas, dos períodos da história, tem um sentido, que detrás da história há uma mão providente e governante, que é a de Deus, e que Deus está dirigindo o sentido de cada período da história; que quando um período da história se deu, conseguiu uma primeira plataforma, uma primeira escala ou elo de um programa definido que Deus tem, de reunir em Cristo todas as coisas. Deus governa a história em função de Cristo. Quando depois ou através de certo tempo Deus estabelece uma base, então se entra em um segundo período, depois em um terceiro, logo em um quarto, e essas sucessões de períodos vêm para o cumprimento e finalização ou consumação da economia divina, na qual o Filho de Deus tem a preeminência, pois todas as coisas estão ordenadas ao redor de Seu Filho, tendo em conta que Seu Filho dá sentido à realização de todas as coisas. O Filho está no centro do coração do Pai, e o Pai lhe entregou a criação, e por fim a história. A história discorre em função do Filho, porque a criação é em função do Filho; o Filho é quem ocupa o lugar central. Por isso quando entramos em Apocalipse, encontramos o trono de Deus. A parte sobressalente de Apocalipse não são os chifres da besta senão o trono de Deus, o qual é a parte central; a Jerusalém de Deus. Deus em Sua cúpula, em Seu Lugar altíssimo, e o Cordeiro é Seu luzeiro, e a glória de Deus através do Cordeiro e de Sua Esposa, sendo a capital do universo.

Todas as coisas reunidas ao redor de Cristo, expressando a excelência de Cristo. Deus o Pai ama tanto ao Filho, que quis dar a ele todas as coisas para que delas disponha e as administre, e seja o mordomo da plenitude. Por isso lhe chama economia do cumprimento dos tempos, ou dispensação do cumprimento, ou plenitude dos tempos, das eras, dos tempos.

A IGREJA NO PROPÓSITO DE DEUS

Um fato muito importante é que neste propósito eterno de Deus no que o lugar central o ocupa o Filho de Deus, o Cristo, o Senhor Jesus, a Igreja junto com Cristo ocupa também um lugar central, como esposa do que é, como co-herdeiros que somos os filhos de Deus com Ele; por isso no verso 11 de Efésios 1 diz que nele, ou seja neste Cristo ao redor do qual Deus quer reunir tudo, nele do mesmo modo, assim como Deus quer reunir tudo ao redor de Cristo, Deus quis que este Cristo fosse um Cristo corporativo, um Cristo que se incorpora em Seu Corpo que é a Igreja, e que faz aos membros de Seu Corpo, herdeiros com Ele de todas as coisas, que é uma verdade que queremos ressaltar por sua importância. De maneira que a Igreja ocupa com Ele um lugar central no plano eterno de Deus.

Essa é a razão pela qual o último livro da Bíblia, o Apocalipse, termina com a Nova Jerusalém, com a esposa do Cordeiro, que deste modo se identifica com a Igreja. Assim como a Jerusalém terrestre tinha nos subúrbios um lixeiro onde paravam todas as coisas imprestáveis, para serem queimadas com fogo, localizado no Vale do Hinom, de onde vem a palavra Gehena, da mesma maneira a Jerusalém de Deus tem nas trevas exteriores seu lixeiro, o lago de fogo que arde com fogo e enxofre, onde estará Satanás e seus anjos, e os perdidos que lhe seguiram; quer dizer, tudo o que era imprestável à causa e propósito de Deus vai parar no lixeiro que estará nos subúrbios. Por isso é que o Apocalipse termina com um julgamento dessa linha maligna no lago de fogo, mas com a consumação do objetivo de Deus na Nova Jerusalém.

"Nele deste modo tivemos herança, tendo sido predestinados conforme o propósito de quem faz todas as coisas...". Deus tem um propósito, e Ele escolheu pessoas e as predestinou para que alcancem esse propósito, e precisamente para isso fez a redenção, para recuperar essas pessoas de sua queda e poder alcançar o que Ele se propôs nele, em Cristo, nesse Cristo central, no Cristo preeminente ao redor do qual Deus o Pai reúne tudo. Deste modo como Cristo, a Cabeça, também o Corpo tem herança; fomos feitos co-herdeiros conforme o propósito de quem faz todas as coisas segundo o desígnio de Sua vontade, a fim de que sejamos para louvor de Sua glória, nós os que primeiro esperamos em Cristo. Nestes versos de Efésios que viemos recortando está o substrato básico, a essência de Apocalipse, porque esta é a revelação do que é o objetivo de Deus, e Apocalipse é a expressão, a revelação já mais detalhada dessa culminação do programa de Deus. Se entendermos esta visão panorâmica, vamos entender depois muito melhor os detalhes.

VISÃO PANORÂMICA DA ECONOMIA DIVINA

Deste modo é importante nos deter um pouco nesta visão panorâmica no relacionado com a teologia e a economia divina. A teologia que se ocupa do estudo e aprofundação da Palavra de Deus em geral, tem também uma ordem formal, sistemática, que é a Teologia Sistemática, a qual não se engasga com um montão de temas desconexos. Por isso se chama sistemática; em contrapartida a exegese faz o exame de cada texto para tirar seu sentido. A Teologia Dogmática é a que relaciona as verdades trazidas pela exegese. A dogmática não estuda por textos, por autores, por passagens em ordem, por livros, por versos, por raízes, mas sim seu estudo o faz por temas.

A Teologia Exegética estuda por autores, como a coleção das epístolas paulinas, e inclusive fazendo as subdivisões como as epístolas primeiras, as epístolas da prisão, as epístolas pastorais; o passo seguinte seria começar com Romanos, suas principais seções, logo todo o primeiro capítulo, passagem por passagem, verso por verso, frase por frase, e se for necessário, palavra por palavra, e até raiz por raiz dessa palavra; tudo isso o faz a exegese. A exegese se encarrega do estudo do livro, localiza-o, e pode começar por estudar a raiz da palavra, o sentido do versículo, o contexto do capítulo, o lugar que ocupa em toda a epístola, e o que Deus quer nos dizer através de Paulo nessa epístola, inclusive da contribuição paulina em todas suas epístolas. Já temos a teologia paulina.

Depois se faz o mesmo com o Pedro, obtendo a teologia petrina; depois fazemos o mesmo com João, e temos a teologia joanina.

Logo tomamos toda a teologia dos autores do Novo Testamento e temos a teologia neotestamentaria. Dessa maneira fazemos o mesmo com a teologia do Antigo Testamento, e temos a Teologia Bíblica que surge da exegese.

A Teologia Dogmática é a antesala da Sistemática; como havemos dito, a dogmática não estuda por livros, por autores, por passagens, mas sim por temas. À dogmática o que lhe interessa é Deus, o plano de Deus, a criação de Deus, os anjos, o diabo, os demônios, o homem, a queda, o pecado, a salvação, Cristo, o Espírito Santo, a Igreja, as últimas coisas; ou seja que estuda os grandes temas e as verdades reveladas e proclamadas. A isso é ao que na Bíblia, em sua versão original lhe chama dogmática. Quando lemos a Bíblia em espanhol, ali não encontramos a palavra dogma, mas no original grego sim está. Quando se reuniu o Concílio de Jerusalém, e chegaram a uma conclusão e a escreveram, depois que chegaram às Igrejas, diz aqui na tradução Reina Valera de 1960, que enviaram a carta com as ordenanças dos apóstolos. Mas no original grego, a palavra que aqui se traduz ordenança, como em outras partes que se traduz edito, decreto, acordo, ordem, é a palavra grega dogma apostólico, surgido do concílio apostólico da Igreja em Jerusalém; ou seja, o primeiro concílio. Dessa palavra bíblica, dogma, surge o que é a dogmática. A Teologia Dogmática é o estudo dos grandes temas; já não é o estudo dos grandes textos, pois disso se encarrega a exegese para que surja a Teologia Bíblica. Quando estes temas ficam em ordem em uma seqüência lógica e coerente, então se arma um sistema completo. A Igreja não somente tem que ter mensagens soltas de uma quantidade de coisas, como se nós estivéssemos tomando uma sopa, mas sim a Igreja tem que ordenar esses temas em uma grande cosmovisão que demonstre qual é o conselho de Deus. Por essa razão Paulo falava que não tinha fugido de anunciar à Igreja todo o conselho de Deus.

O conselho de Deus é a cosmovisão coerente, o que o salmista no Salmo 119:160 diz: "A soma de sua palavra é verdade"; e desse versículo é de onde surgiram os nomes dos grandes sistemas teológicos, e que por isso na Idade Média lhes chamava “a Soma Teológica”, que se deriva da palavra latina summa, que significa totalidade, como as que escreveram Tomás de Aquino e Alberto Magno.

A de Tomás de Aquino é uma obra monumental onde não está tratando um tema ou outro, mas sim se mete com os grandes temas e os ordena em um sistema. Por isso se diz que Tomás de Aquino foi um teólogo que no século XIII sistematizou todo o dogma católico de seu tempo. Ao unir esses grandes temas em um sistema, surge a Teologia Sistemática. Assim como da exegese surge a Teologia Bíblica, da dogmática, a qual se encarrega de realizar os estudos por temas, ao relacioná-los em sistema, surge a Teologia Sistemática.

A Teologia Sistemática é a apresentação ordenada e coerente do corpo da verdade ou da soma da Palavra. Dentro da Teologia Sistemática, e precisamente em honra de seu nome, existe uma seqüência de vários temas, e o último justamente tem que ver com Apocalipse, dentro do contexto da Escatologia. O primeiro que Deus revelou na Bíblia é a respeito de Si mesmo; portanto o primeiro grande tema da Teologia Sistemática é Deus mesmo. A teologia propriamente dita, o que se chama Teologia Própria, é a matéria que se ocupa do ser de Deus, dos atributos de Deus, dos nomes de Deus, de Sua eternidade, de Sua espiritualidade, de Sua personalidade, de Sua infinitude, de Seu amor, de Sua unidade em Trindade, etc. Somente é Deus o conteúdo desta grande matéria, ou seção, ou disciplina da Teologia Sistemática, que é a teologia propriamente dita, ou Teologia Própria.

Mas Deus não somente revelou algo a respeito de Si mesmo, mas sim revelou algo a respeito de Seus planos, porque uma coisa é o que O é em Si mesmo e para Si mesmo, e outra é o que planeja para com Sua criação. Antes de chegar à criação mesma havia uns planos, e Deus revelou nas Sagradas Escrituras o conteúdo de Seus planos: Qual é Seu beneplácito, qual é Sua vontade, qual é Seu propósito, qual é o plano, o programa para levar adiante esse propósito no futuro; a presciencia de Deus ou o conhecimento antecipado de todas as coisas que Deus tem para escolher segundo essa presciencia, e para predestinar a esses escolhidos, e para abençoar com Sua graça com um decreto antes da fundação do mundo, de maneira que Seus escolhidos, predestinados, alcancem o propósito; e ordenou as coisas, e tem o que a Bíblia chama um conselho determinado, uma mão providente que dirige todas as coisas a esse propósito. Todos esses capítulos formam parte de uma espécie de segunda grande matéria da Teologia Sistemática, que é a Divina Teleología; quer dizer, tratado sobre o telos, ou a vontade , o propósito; essa palavra, telos, não significa fim no sentido de terminação, mas sim de objetivo, meta, propósito. depois da teologia propriamente dita, vem a Divina Teleología.

Logo depois de Deus ter falado de Si mesmo e de Seus planos, também falou a respeito da criação. Deus se revelou ali. O que é a criação? Como se originou? Como está? O que lhe passou? Que sentido tem? Como há uma criação invisível? Como há uma providência de Deus que sustenta essa criação? Como há uma concorrência de Deus como causa primária, com as causas secundárias do que se produz na natureza? Ou seja que Deus revelou algo a respeito da criação, e isso constitui a matéria chamada Cosmologia Bíblica.

Mas depois de Deus revelar a respeito de Si mesmo, de Seus propósitos, de Sua criação, e começa a recortar um pouco mais sobre a criação, entra no mundo invisível, nas principais criaturas desse mundo, nos anjos, e então surge essa grande matéria que se chama a Angeología. Entre esses anjos houve um querubim, Lúcifer, que se rebelou, e surge a Satanología; mas como não se rebelou ele sozinho mas sim levou a terceira parte dos anjos, então surge a Demonologia, sendo essas duas matérias derivações da Angeología. De tudo isto falou Deus na Bíblia.
Mas vêm as criaturas do mundo visível, das quais a principal é o homem. Deus falou na Bíblia sobre o homem; da missão do homem conforme o propósito de Deus; do desenho do homem conforme à missão que Deus lhe encomendou; da constituição do homem, de seu espírito, de sua alma e de seu corpo; de como caiu o homem, e como afetou a queda o ser do homem, tanto no individual como no familiar e no cultural, e como foi restaurado. Todo esse tema e o que se relaciona com ele, é o conteúdo dessa grande matéria que se chama Antropologia Bíblica. Assim como existe uma antropologia secular, que trata de interpretar ao homem em sua origem e seu sentido do ponto de vista humano, existe uma antropologia revelada, a bíblica, que nos ensina o que Deus diz sobre o homem, de sua origem, de sua missão, de seu estado, de seus fins, etc.

Vemos que, igual a aquele querubim, o homem também caiu, e surge outro grande tema dos que Deus falou muito claro em Sua Palavra. Deus revelou com muita clareza na Bíblia sobre o pecado, sobre o mal, tudo o relativo ao por que Deus permitiu o pecado; que efeitos teve o pecado, como tem que ser tratado o pecado, etc.Tudo isto pertence a uma matéria da Teologia Sistemática chamada Hamartiología, porque a palavra pecado no grego se diz hamartía; é por isso que o tratado a respeito da hamartía ou o pecado, a doutrina do mal, é a Hamartiología.

Agora, como trata Deus com essa condição caída? Então vem a Cristología, que, como seu nome o indica, fala-nos de Cristo.

Quem era Cristo antes da fundação do mundo? Que parte teve Cristo não só com o Pai na eternidade, mas também no propósito de Deus, na criação de Deus, na redenção da parte de Deus, no julgamento e no Reino da parte de Deus? E nos fala também sobre tudo relativo à pessoa de Cristo antes da encarnação, seu kenosis , ou despojamento, Sua concepção no ventre da virgem Maria, Sua gestação e nascimento, Seu crescimento em estatura, em graça e sabedoria, as provas que teve, Sua morte, Sua ressurreição, Sua ascensão, Seu ministério celestial, Sua segunda vinda; tudo o referente a Cristo é o que trata a Cristologia. Do mesmo modo, tudo o referente ao Espírito Santo o registra a Pneumatología, do grego pneuma, vento, espírito.
A Cristología e a Pneumatología são as bases da Soteriología, que é a matéria que se ocupa da salvação, porque Cristo e o Espírito Santo vieram para sanar e salvar. Tudo o que a Bíblia fala da salvação, todo esse grande conteúdo de revelação bíblica, chama-se Soteriología, que vem da palavra grega sotería, que significa salvação. De modo que já temos a Cristo, ao Espírito Santo e a salvação, e surge a Igreja, que é tão importante para Deus, porque a Igreja é a esposa de Seu Filho, todos os salvos. O Senhor diz frases muito profundas com palavras muito singelas, e em uma parábola muito singela, somente ao início dessa parábola diz: "O reino dos céus é semelhante a um rei que fez festa de bodas a seu filho..." (Mateus 22:2). Em uma frase muito simples narra de um rei que fez festa de bodas a seu filho. Aleluia. Que profundidade nessa frase! O rei está revelando ao Soberano Deus que promove estas bodas, e está revelando o propósito eterno de Deus; fazer bodas a Seu Filho.

Está mostrando a centralidade de Cristo e está revelando o sentido da Igreja, que é a esposa desse Filho para essas bodas; uma frase tão singela e de uma vez tão profunda; então surge essa grande matéria a respeito da esposa desse Filho, o Corpo de Cristo, a Igreja, que é a Eclesiologia; porque a Igreja é o veículo de vanguarda que usa a Cabeça do universo que é Cristo, o qual não só é Cabeça da Igreja. O é Cabeça sobre todas as coisas, dado à Igreja, e é Cabeça de todo principado e potestade, e Cabeça de toda a criação. Deste modo é Cabeça de todo varão, soberano de todos os reis da terra. E como Cabeça, O tem um Corpo; a ele foi dado uma esposa, e tudo o que a Bíblia fala a respeito da Igreja, o lugar da Igreja no propósito eterno de Deus, a origem da Igreja, a natureza da Igreja, as profecias e a tipología a respeito da Igreja, a administração da Igreja, o governo da Igreja, o funcionamento da Igreja, o ministério dos membros do Corpo de Cristo, que é muito o que a Palavra de Deus fala sobre este tema, tudo isso o trata essa grande matéria que se chama Eclesiología.

A última das grandes matérias da Teologia Sistemática e que precisamente encontra seu sentido no Apocalipse, é a Escatologia; é a matéria que se ocupa das últimas coisas, da consumação, porque o Deus eterno que tinha um propósito e que providentemente se moveu detrás da história e tem feito uma grande obra de salvação através de Seu Filho e por Seu Espírito, tem-no feito com um sentido final e esse sentido final é para cada criatura e para todas as criaturas em uma só história. Então aquela matéria que se ocupa das últimas coisas em relação a cada criatura, sobre tudo as criaturas humanas, o relativo a seu próprio fim, sua morte, pós-tumba, o céu ou o inferno, e também o fim da história e as etapas para esse fim, as profecias a respeito de Deus, de Cristo, da Igreja, do Israel, das nações, da criação, da grande tribulação, do arrebatamento, do milênio, da Nova Jerusalém, tudo isso é o conteúdo de uma final matéria da Teologia Sistemática, que é a Escatologia, de maneira que a Escatologia vai se colocar ao fim do estudo sistemático da teologia; e o Apocalipse, que é o livro da Bíblia que coroa todo o texto sagrado e todo o programa de Deus, é também o livro que lhe subministra o material fundamental à Escatologia.

O Apocalipse é um livro muito importante; não é um livro solto, nem profecia solta, mas sim é nada menos que a coroação de toda a Palavra de Deus, tal como foi revelada nas Escrituras, e tal como foi entendida e revelada pela teologia. O Apocalipse é também a culminação e coroação da mesma teologia; ou seja que não é qualquer livro; é um livro precioso, profundo. O Apocalipse mesmo atribui sua autoria ao apóstolo João, corroborado pelos escritos da Igreja primitiva em sua corrente tradicional. O apóstolo João é o último dos doze apóstolos do Cordeiro que ficou. O Senhor Jesus havia dito a Pedro: "Em verdade, em verdade te digo que, quando eras mais moço, te cingias a ti mesmo, e andavas por onde querias; mas, quando fores velho, estenderás as mãos e outro te cingirá, e te levará para onde tu não queres." (João 21:18).

Aí lhe estava revelando o Senhor com que morte teria que morrer; e a história diz que Pedro foi levado cativo e crucificado e disse que não era digno de morrer como nosso Senhor, que o pusessem de barriga para baixo, e assim foi como morreu o apóstolo Pedro, de barriga para baixo ou com as pernas para cima. Existem livros apócrifos e existe um Apocalipse de Pedro que é considerado apócrifo, que trata de umas supostas experiências de pós-tumba e visões sobre o céu e do inferno. Quando o Senhor Jesus estava dizendo as anteriores palavras a Pedro, o apóstolo viu que detrás vinha João e perguntou ao Senhor: "Senhor, e deste, que será?", referindo-se a João. Dizem os versículos 22 e 23 que: "22 Jesus lhe disse: Se eu quiser que ele fique até que eu venha, que tens tu com isso? Segue-me tu. 23 Este dito se estendeu então entre os irmãos, que aquele discípulo não morreria. Mas Jesus não lhe disse que não morreria, senão que: Se quiser que ele fique até que eu venha, que tens tu com isso?".

A esse discípulo, João, o Senhor apareceu para lhe revelar todos os acontecimentos do livro da consumação das coisas.

De maneira que os escritos de João são os que completam toda a Bíblia; seu evangelho completa aos sinópticos, suas epístolas foram as últimas a serem escritas, e o Apocalipse fecha toda a revelação bíblica.

Irmãos em Cristo Jesus.

Irmãos em Cristo Jesus.
Mt 5:14 "Vós sois a luz do mundo"