sábado, 4 de junho de 2016

O Domínio Próprio- Charles Henry Mackintosh.

O DOMINIO PRÓPRIO
C. H. MACKINTOSH
Traduzido do Espanhol Pelos irmãos da Cidade de Cascavel-PR.

A palavra grega traduzida “moderação” em 2.ª Pedro 1:6 na versão inglesa King James tem um significado muito mais profundo que o que normalmente atribui a esse termo. Usualmente a palavra “temperança” se aplica aos hábitos de moderação com referência a comer e beber. Não cabe dúvida de que isto é parte de seu significado, mas o sentido no grego é muito mais amplo. De fato, a palavra grega empregada pelo inspirado apóstolo significa propriamente “domínio próprio” (como na versão espanhola Reina-valera), e transmite a idéia de uma pessoa que tem o domínio de si mesma de forma habitual e que sabe governar o eu. 
  
Exercer o domínio da gente mesmo é, em efeito, uma graça extraordinária e admirável, a qual comunica sua bendita influência sobre toda a marcha, o caráter e a conduta do indivíduo. Esta graça não só afeta diretamente um, dois ou vinte hábitos egoístas, mas sim exerce seu efeito sobre o eu em toda a gama e variedade desse tão amplo e odioso termo. mais de um que olharia com orgulhoso desdém a um glutão ou a um bêbado, pode ele mesmo faltar a toda hora de manifestar a graça do domínio próprio. Certamente, os excessos na comida e a bebida devem ser classificados junto com as formas mais vis e degradantes de egoísmo. Devem ser considerados como parte dos frutos mais amargos desta árvore tão estendida do eu. O eu, em efeito, é uma árvore, e não somente o ramo de uma árvore nem o fruto de um ramo, e nós não só devemos julgar o eu quando está ativo, mas também controlá-lo para que não atue.  
  
Pode ser que alguém pergunte: «Como posso controlar o eu?» A bendita resposta  é simples: “Tudo posso em Cristo que me fortalece” (Filipenses 4:13). Não obtivemos a salvação em Cristo? Sim, bendito seja Deus, obtivemo-la. E o que inclui esta palavra maravilhosa? É simplesmente a liberação da ira vindoura? É meramente o perdão de nossos pecados e a segurança de estar livres do lago que arde com fogo e enxofre? Por mais preciosos que forem estes privilégios, a “salvação” abrange muito mais que isso. Em uma palavra, “salvação” implica uma plena aceitação de Cristo com o coração, como minha “sabedoria” para me guiar fora da escuridão da insensatez e dos caminhos torcidos, para os caminhos de luz e de paz celestial; como minha “justiça” para me justificar diante de um Deus santo; como minha “santificação” para me fazer virtualmente santo em todos meus caminhos; e como minha “redenção” para me dar libertação final de todo o poder da morte, e entrada nos campos eternos de glória (1.ª Coríntios 1:30).
  
Por isso, é evidente que o “domínio próprio” está incluído na salvação que temos em Cristo. É o resultado dessa santificação prática de que nos dotou a graça divina. Devemos nos guardar com cuidado do hábito de ter uma visão estreita da salvação. Devemos procurar entrar em toda sua plenitude. É uma palavra que se estende da eternidade até a eternidade e abrange, em sua poderosa exploração, todo os detalhes práticos da vida diária. Não tenho nenhum direito de falar de salvação de minha alma no futuro enquanto recuse conhecer e manifestar sua influência prática em minha conduta no presente. Somos salvos, não só da culpa e a condenação do pecado, mas sim do poder, a prática e o amor dele em sua plenitude. Estas coisas nunca devem separar-se; e ninguém que foi divinamente ensinado quanto ao significado, magnitude e poder dessa palavra preciosa (salvação), o fará. 

Ao apresentar agora ao meu leitor umas observações práticas sobre o assunto do domínio próprio, vou considerá-lo sob as três divisões seguintes, Ou seja: a) os pensamentos, b) a língua e c) o temperamento. Dou por seguro que estou me dirigindo a pessoas salvas. Se meu leitor não o for, só posso dirigi-lo ao único caminho verdadeiro e vivente: “Crê no Senhor Jesus Cristo, e será salvo tu e tua casa” (Atos 16:31). Ponha sua inteira confiança nele e estará tão seguro como Ele mesmo o é. Agora procederei a tratar o prático e tão necessário tema do domínio próprio.  
  
Em primeiro lugar, trataremos a respeito de nossos pensamentos e do controle que habitualmente devemos exercer sobre eles. Suponho que há poucos cristãos que não padeceram pensamentos perversos: esses intrusos molestos que aparecem em nossa mais profunda intimidade, perturbando continuamente o descanso de nossa mente, e que tão freqüentemente obscurecem a atmosfera ao redor de nós e nos privam de olhar acima com uma vista clara e plena para o céu luminoso. O salmista podia dizer, “Os pensamentos vãos aborreço” (Salmo 119:113). São verdadeiramente aborrecíveis e devem ser julgados, condenados e desprezados. Alguém, falando do assunto dos maus pensamentos, disse:  «Eu não posso impedir que os pássaros voem sobre mim, mas sim posso evitar que pousem em mim.» Do mesmo modo, não posso evitar que os maus pensamentos surjam em minha mente, mas posso impedir que se alojem nela.”  
  
Mas como podemos controlar nossos pensamentos? Não mais do que poderíamos apagar nossos pecados ou criar um mundo. O que deveríamos fazer? Olhar a Cristo. Este é o verdadeiro segredo do domínio próprio. Ele pode nos guardar, não só de que se alojem maus pensamentos, mas também também de que os tais surjam em nossa mente. Não poderíamos prevenir um nem o outro. Ele pode prevenir ambas as coisas. Ele pode evitar não só que os vis intrusos entrem, mas também golpeiem a porta. Quando a vida divina está em sua atividade, quando a corrente de pensamento e sentimento espiritual é profunda e rápida, quando os afetos do coração estão intensamente ocupados com a Pessoa de Cristo, os vãos pensamentos não vêm nos atormentar. Só quando nos deixamos invadir pela indolência espiritual, os maus pensamentos vêm sobre nós. Então nosso único recurso é fixar nossos olhos em Jesus. Poderíamos também tentar combater contra as organizadas hostes do inferno, assim como contra uma horda de maus pensamentos. Mas nosso refúgio é Cristo. Ele foi feito para nós “santificação”. Podemos fazer todas as coisas por meio Dele. Só temos que levar o nome de Jesus contra o dilúvio de maus de pensamentos, e Ele dará com toda segurança um pleno e imediato livramento.

Entretanto, o meio mais excelente para ser preservado das sugestões do mal consiste em estar ocupados com o bem. Quando a corrente do pensamento flui invariavelmente para cima, quando é profundo e perfeitamente estável, sem nenhum desvio nem lacunas, então a imaginação e os sentimentos, que brotam das profundas fontes da alma, fluirão naturalmente para frente no leito do referido canal. Este é indiscutivelmente o caminho mais excelente. Tomara que o provemos em nossa própria experiência! “Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai. O que também aprendestes, e recebestes, e ouvistes, e vistes em mim, isso fazei; e o Deus de paz será convosco” (Filipenses 4:8-9). Quando o coração está cheio de Cristo, tendo incorporado de forma viva todas as coisas enumeradas no versículo 8, desfrutamos de uma paz profunda e imperturbável frente aos maus pensamentos. Este é o verdadeiro domínio próprio.  
  
Em segundo lugar, podemos pensar na língua, esse membro influente tão frutífero para o bem como para o mal, o instrumento com o qual podemos proferir acentos de doce e tenra simpatia, ou palavras de amargo sarcasmo e de ardente indignação. Que importância enorme tem a graça do domínio próprio em sua aplicação a tal membro! Graves danos, irreparáveis com o tempo, pode causar a língua em um instante. Palavras pelas quais daríamos o mundo para que fossem apagadas, pode proferir a língua em um momento de descuido. Ouçamos o que o inspirado apóstolo diz sobre este assunto:

2 Porque todos tropeçamos em muitas coisas. Se alguém não tropeça em palavra, o tal varão é perfeito e poderoso para também refrear todo o corpo.
3 Ora, nós pomos freio nas bocas dos cavalos, para que nos obedeçam; e conseguimos dirigir todo o seu corpo. 4 Vede também as naus que, sendo tão grandes e levadas de impetuosos ventos, se viram com um bem pequeno leme para onde quer a vontade daquele que as governa. 5 Assim também a língua é um pequeno membro e gloria-se de grandes coisas. Vede quão grande bosque um pequeno fogo incendeia. 6 A língua também é um fogo; como mundo de iniqüidade, a língua está posta entre os nossos membros, e contamina todo o corpo, e inflama o curso da natureza, e é inflamada pelo inferno. 7 Porque toda a natureza, tanto de bestas-feras como de aves, tanto de répteis como de animais do mar, se amansa e foi domada pela natureza humana; 8 mas nenhum homem pode domar a língua. É um mal que não se pode refrear; está cheia de peçonha mortal” (Tiago 3:2-8).

Quem então pode controlar a língua? “Nenhum homem” é capaz de fazê-lo, mas Cristo sim pode, e nós só temos que contemplar a Ele, com simples fé. Isto implica a consciência tanto de nossa absoluta impotência como de Sua plena suficiência. É absolutamente impossível que sejamos capazes de controlar a língua. É o mesmo que se tentássemos deter a maré do oceano, os rios do degelo ou a avalanche da montanha. Quantas vezes, ao sofrer as conseqüências de algum equívoco da língua, resolvemos ordenar a esse membro desobediente algo melhor da próxima vez, mas nossas resoluções resultaram ser como a orvalho da manhã que se desvanece, e não tivemos mais escolha senão nos retirar e chorar por nosso deplorável fracasso no assunto do domínio próprio! A que se deve isto? Simplesmente a que nós empreendemos esta obra sobre a base de nossas próprias forças ou pelo menos sem ter uma consciência suficientemente profunda de nossa própria debilidade. Esta é a causa de constantes fracassos. Devemos nos apegar a Cristo como um menino se apega à sua mãe. Isto não significa que o fato de nos apegar tenha algum mérito em si mesmo; entretanto, devemos nos apegar a Cristo, pois esta é a única maneira em que podemos refrear a língua com êxito. Recordemos sempre estas palavras  solenes e esquadrinhadoras do próprio apóstolo Tiago: “ Se algum pensa ser religioso entre vós, e não refreia sua língua, a não ser enganando seu coração, a religião do tal é vã.” (Tiago 1:26).  São estas palavras saudáveis para um tempo como o presente quando tantas línguas desobedientes e vãs palavras germinando em qualquer parte. Tomara que tenhamos graça para prestar ouvidos a estas palavras! Que sua Santa influência impregne profendamente em nossos caminhos!  

O terceiro ponto que vamos considerar é o temperamento ou o caráter, o qual se acha intimamente relacionado com a língua e com os pensamentos. Quando a fonte do pensamento é espiritual, e a corrente celestial, a língua é só o agente ativo para o bem, e o temperamento será calmo e aprazível. Se Cristo morar no coração pela fé, tudo se acha sob controle. Sem Ele, nada tem valor. Eu posso possuir e manifestar a calma de um Sócrates, e ao mesmo tempo ignorar por completo o “domínio próprio” de que fala o apóstolo Pedro em 2.ª Pedro 1:6. Este último se fundamenta na “fé”; enquanto que a calma estóica dos sábios deste mundo se fundamenta sobre o princípio da filosofia: duas coisas totalmente diferentes. Não devemos esquecer o que nos diz a palavra: “Adicionem à sua fé, virtude...” Isto põe por primeiro a fé como o único elo que vincula o coração com Cristo, a fonte vivente de todo poder. Tendo a Cristo e permanecendo nele, somos feitos capazes de adicionar à fé “virtude”, conhecimento, domínio próprio, paciência, piedade, amor fraternal, amor”. Tais são os preciosos frutos que brotam como resultado de permanecer em Cristo. Mas eu não posso controlar meu temperamento mais que minha língua ou meus pensamentos, e se me propor fazê-lo, com toda segurança fracassarei a cada instante. Um filósofo sem Cristo pode ser que manifeste um maior domínio sobre si mesmo, seu caráter e sua língua que um cristão, se este não permanecer em Cristo. Isto não teria que ocorrer e não ocorreria se tão somente o cristão considerasse Jesus. Só quando falha neste ponto, o inimigo ganha vantagem. O filósofo sem Cristo tem um êxito aparente na obra tão importante do domínio próprio, só que assim pode estar mais efetivamente cego a respeito da realidade de sua condição diante de Deus, e ser miserável precipitadamente à perdição eterna. Satanás se deleita quando faz tropeçar e cair um cristão, fazendo que este ache uma ocasião para blasfemar o nome precioso de Cristo. 
  
Leitor cristão, tenhamos em conta estas coisas. Consideremos cristo a fim de que controle nossos pensamentos, nossa língua e nosso temperamento. Prestemos “toda diligência”. Vamos pesar tudo o que isto envolve. “Porque, se em vós houver e aumentarem estas coisas, não vos deixarão ociosos nem estéreis no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo. Pois aquele em quem não há estas coisas é cego, nada vendo ao longe, havendo-se esquecido da purificação dos seus antigos pecados.
” (2.ª Pedro 1:8-9). Estas palavras são profundamente solenes. Com que facilidade caímos em um estado de cegueira e negligência espiritual! Nenhuma medida de conhecimento, seja de doutrina,  seja da letra da Escritura, preservará à alma desta horrível condição. Unicamente “o conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo” será de proveito. E este conhecimento crescerá na alma “dando toda diligência para adicionar à nossa fé” os diversos dons de graça que o apóstolo se refere na passagem tão eminentemente prática que atinge profundamente nossa alma. “Portanto, irmãos, procurai fazer cada vez mais firme a vossa vocação e eleição; porque, fazendo isto, nunca jamais tropeçareis. 11 Porque assim vos será amplamente concedida a entrada no Reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (V. 10-11).



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Irmãos em Cristo Jesus.

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