sexta-feira, 23 de maio de 2008

Da Desolação à Restauração -Christian Chen

Da Desolação à Restauração
Christian Chen


“Manifestou os seus caminhos a Moisés e os seus feitos aos filhos de Israel” (Sl 103:7). Na história do povo de Deus encontramos duas classes de pessoas: aquelas que somente conhecem Seus feitos e aquelas que, além disso, conhecem Seus caminhos.Seus feitos revelam Seu poder, mas Seus caminhos revelam Sua intimidade. Os feitos de Deus têm como objetivo nos levar a conhecer Seu poder e soberania, mas Seus caminhos são os meios que Ele utiliza para revelar Seus segredos e conduzir-nos ao Seu propósito mais elevado. Conhecer apenas Seus feitos, Suas obras, significa ficar na periferia do Seu chamamento, sem conhecer o propósito para o qual fomos chamados. O grande perigo jaz em querermos egoisticamente desfrutar de Seu poder, de Suas bênçãos, não buscando conhecer Seus caminhos e cooperar com Seu propósito. Palavra aos Leitores.
O DUPLO CHAMAMENTO
A indignação de Deus derramou-se sobre aqueles que “...sempre erram no coração... e não conheceram os Seus caminhos” (Hb 3.10). No deserto caíram milhares daqueles que insistiram em andar em seus próprios caminhos, em vez de se submeterem à direção de Deus rumo à edificação do Seu testemunho; e tudo isso serviu de exemplo para nós, que já temos chegado ao fim dos tempos (1 Co 10).No entanto, Seus caminhos estão claramente definidos em Sua Palavra e Seu propósito será cabalmente cumprido. O Senhor ainda chora por Sua Jerusalém celestial e nos chama de volta para Ele, de volta para Seus caminhos.
DA DESOLAÇÃO À RESTAURAÇÃO
Atrás de todo o chamamento de Deus registrado na Bíblia há sempre uma vontade de Deus específica. A fim de realizar essa vontade, Deus chamou alguns ou um grupo de pessoas para participar de Sua obra. Toda e qualquer vontade de Deus específica é apenas uma fase do plano eterno de Deus para uma pessoa específica num tempo e espaço específicos. A fim de obtermos uma visão panorâmica do conselho eterno de Deus, é necessário correlacionar todos os dados mencionados na Bíblia a respeito do chamamento de Deus, mas descobriremos que esta é uma tarefa impossível. Contudo, entre os numerosos chamamentos de Deus, há somente oito chamamentos duplos mencionados na Bíblia. Nessas passagens, Deus chama o nome de uma pessoa duas vezes, como, por exemplo, “Abraão! Abraão! ou “Saulo! Saulo!”. Esta impressionante revelação definitivamente chama nossa atenção e nos convida a estudar este assunto mais cuidadosamente. O esforço empregado nessa tarefa mostrou-se recompensador.Por meio das revelações desses duplos chamamentos de Deus nós temos o privilégio de compartilhar com nossos leitores uma ilustração do que é a “esperança do Seu chamamento” e o maravilhoso propósito de Deus para todos os santos, tanto individual como corporativamente. Nossa oração é para que os leitores da língua portuguesa respondam ao duplo chamamento de Deus e nele caminhem à medida que Deus os capacita e, com isso, tragam um avivamento espiritual em suas localidades.
Nós agora apresentamos este livro como cinco pães e dois peixes Àquele que colocou em nossas mãos estas mensagens e o colocamos novamente naquelas mãos que por amor de nós foram feridas. Se assim for Sua vontade, que Ele mesmo abençoe esta mensagem e permita que ela alcance um público mais amplo e chegue àqueles que têm fome espiritual. Amém.
“Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados! Quantas vezes quis Eu reunir os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas, e vós não o quisestes! Eis que a vossa casa vos ficará deserta. Declaro-vos, pois, que, desde agora, já não Me vereis, até que venhais a dizer: Bendito o que vem em nome do Senhor!” (Mateus 23.37-39) “Quando ia chegando, vendo a cidade, chorou e dizia: Ah! Se conheceras por ti mesma, ainda hoje, o que é devido à paz! Mas isto está agora oculto aos teus olhos. Pois sobre ti virão dias em que os teus inimigos te cercarão de trincheiras e, por todos os lados, te apertarão o cerco; e te arrasarão e aos teus filhos dentro de ti; não deixarão em ti pedra sobre pedra, porque não reconheceste a oportunidade da tua visitação.” (Lucas 19.41)
PEREGRINAÇÃO E AS FESTAS
Buscando na presença do Senhor o que Ele desejava que eu ministrasse nessa ocasião, tive um encargo muito forte pelo sentimento expresso nos versículos citados acima. Ambos trechos têm um impressionante pano de fundo. Nosso Senhor, na metade de Seu último meio ano na terra, andou do monte Hermom até o Gólgota; em Sua jornada, Ele disse aos discípulos ser-Lhe necessário subir para Jerusalém. Esse caminho que Ele fez para Jerusalém era quase exatamente o mesmo caminho que os filhos de Israel faziam a fim de subir para as três festas anuais: a Páscoa, o Pentecoste e a Festa dos Tabernáculos. Essa trajetória era bem complexa. Por exemplo: os israelitas que moravam na Galiléia, que fica no norte de Israel, tinham de cruzar para o lado leste do rio Jordão a fim de ir para Jerusalém. O Jordão, que liga duas massas de água: o mar da Galiléia, ao norte, e o mar Morto, ao sul, é a fronteira leste de Israel. Assim, se os galileus quisessem andar menos, iam para o sul a fim de cruzar o rio. Desse modo, porém, eles teriam de passar por Samaria. Então, por eles não se relacionarem com os samaritanos, antes de chegar a Samaria eles se desviavam, cruzando para o lado leste do rio Jordão e, então, desciam para o sul. Quase chegando à cidade de Jericó – o lugar mais baixo do mundo, que se situa a aproximadamente 430 metros abaixo do nível do mar – é que os israelitas cruzavam o Jordão. Jericó é próxima de Jerusalém e é o local mais baixo daquela região – o mais elevado é Jerusalém. Portanto, eles caminhavam do lugar mais baixo para o mais elevado. Imagine uma caminhada de uma região a 430 metros abaixo do nível do mar até a região mais elevada! Esse era, sem dúvida, um caminho ascendente, no qual facilmente os peregrinos se cansavam. Por essa razão, eles cantavam salmos enquanto andavam. Há, no Livro de Salmos, um grupo de quinze deles que são chamados de “salmos dos degraus” ou “cânticos de romagem”, que são exatamente os cânticos que usavam para se encorajar mutuamente em sua jornada para Jerusalém. Esses quinze salmos os levavam à presença de Deus e os reunia em Sua presença. Todos os anos, os israelitas se reuniam para comemorar as festas e para estar, juntos, diante da face de Deus. Eles caminhavam por muitos dias e durante sua peregrinação havia muitos sofrimentos, muitos perigos. A esse caminho a Bíblia chama de “caminho de Sião”: é o caminho que leva o homem à presença de Deus. Mas a Bíblia diz também que esse caminho passa por um vale, o Vale de Baca, que significa “vale das lágrimas”. Portanto, ir para Jerusalém a fim de buscar a Deus implica pagar um alto preço. Os israelitas passavam por muitas tribulações, dificuldades e perigos e, quando viam seus pés dentro das portas de Jerusalém, quando finalmente chegavam à presença de Deus, naquele momento podiam cantar juntos o salmo 133: “Oh! Como é bom e agradável viverem unidos os irmãos!” Por que todos haviam se disposto a buscar a presença de Deus, eles descobriam, não somente a presença de Deus, mas também a presença dos irmãos, em um único caminho. Por isso, cantavam: “Oh! Como é bom e agradável viverem unidos os irmãos!” Este é o auge do cântico dos degraus. O salmo seguinte era o que eles cantavam ao se despedir. Assim, podemos dizer que o objetivo da ida a Jerusalém era aquele momento em que eles podiam cantar quão bom e agradável era estarem unidos. Os peregrinos não podiam conter a alegria quando, ainda ao longe, avistavam os muros de Jerusalém. Ao ver Jerusalém, eles se esqueciam das dificuldades e dos sofrimentos do caminho; ao ver Jerusalém, podiam esquecer-se das lágrimas do vale; por isso, dos que chegavam a Jerusalém, não havia um sequer que não se rejubilasse e desejasse celebrar a festa. Assim, o preço que eles pagaram durante os dias de jornada, todas as dificuldades do caminho foram válidas, pois, por fim, chegavam à presença de Deus.
O TESTEMUNHO DE DEUS
Que há de melhor do que a presença de Deus? O que há de melhor do que ver os irmãos? Primeiramente, vemos a Deus e, então, os irmãos; nosso relacionamento espiritual deve ser primeiramente com Deus, o sentido vertical, e depois com os irmãos, sentido horizontal. Não somos um agrupamento, ou um clube ou um partido que se reúne apenas por termos crenças iguais. Somos irmãos. E encontramos nossos irmãos no caminho de Sião. Eu quero andar no caminho de Sião e outro irmão também quer – é um caminho difícil, pelo qual temos de pagar um preço, pois ele passa pelo vale das lágrimas; mas, quando estamos juntos, vemos Jerusalém edificada sobre o monte, na região mais elevada, e ficamos cheios de alegria e satisfação juntamente com os irmãos que subiram conosco. Jerusalém edificada alegra a nós e a Deus, pois, na Bíblia, ela representa eternamente o testemunho de Deus.Por que ela era o testemunho de Deus? Porque lá estava Seu templo, o qual representa a presença de Deus. Portanto, quando os filhos de Israel estavam reunidos, o conteúdo de seu ajuntamento era a presença de Deus. Com a presença Dele, tudo lhes era um paraíso! Bastava-lhes chegar à presença de Deus para perceber que todo esforço e todas as lágrimas valeram a pena. Portanto, todos os que percorreram o caminho de Sião, chegando à presença de Deus, descobriram Deus e também descobriram os irmãos.Por isso, irmãos e irmãs, temos sempre de lembrar que a presença de Deus se manifesta, de maneira espontânea, numa expressão concreta, que era representada, no Antigo Testamento, pela cidade de Jerusalém. Portanto, Jerusalém representa o testemunho de Deus, e o testemunho de Deus é baseado em Sua presença. Por isso, pode-se abrir uma fábrica ou uma escola, mas nunca poderemos abrir, produzir ou fundar o testemunho de Deus. Basta-nos ter interiormente a presença de Deus para, de forma espontânea, termos exteriormente Seu testemunho glorioso.
A PRESENÇA DE DEUS E O TEMPLO – O CONTEÚDO E A CASCA
Ao ler o Antigo Testamento, devemos sempre ter em mente que, quando Jerusalém é mencionada, temos uma referência ao testemunho de Deus, pois a cidade de Deus e Seu templo são inseparáveis. O templo é a realidade interior e a cidade é o testemunho exterior – por haver a presença de Deus, o resultado gerado exteriormente é o testemunho de Deus.Portanto, quando a presença de Deus é verdadeira, Ele permite que exteriormente se veja um testemunho concreto. No entanto, quando a realidade interior é perdida, o testemunho exterior é perdido. Não podemos nos enganar: quando a vida divina se esvai, quando não temos a presença de Deus, o que vemos é meramente uma organização humana, o resultado do agir das mãos do homem. Quando a realidade interior já não existe, Deus não deseja que criemos uma falsificação de Seu testemunho. Havendo Sua presença, temos o paraíso; por isso, não precisaremos fazer propaganda do testemunho de Deus, dizendo: “Nós somos a igreja e ninguém mais é” – todos os que falam assim provam que não são a igreja. Aquele que realmente tem a presença de Deus pode falar qualquer coisa, menos essas palavras. Não há meio termo: ter a presença de Deus é ter a presença de Deus; quando a vida vazou ela vazou; se a água da vida entre nós secou, não temos água da vida. Não nos enganemos.Precisamos ter clareza de que Deus destrói o que é visível externamente quando não há mais realidade interiormente – Ele permite que não permaneça pedra sobre pedra. Quando os israelitas se rebelaram contra Deus, quando adoravam ídolos em oculto, quando não procediam mais como na época de Davi – exteriormente tudo ainda estava igual, pois o templo estava lá e o serviço a Deus ainda era realizado, aparentemente nada havia mudado, mas só Deus sabia que a realidade interior já não existia. Por isso, o livro de Ezequiel diz que a glória de Deus se retirou de Seu templo para o oeste do monte das Oliveiras e dali ascendeu aos céus. Por essa razão, no registro do Antigo Testamento, a partir desse evento, Deus passou a ser chamado apenas de Deus dos céus, em lugar de Senhor dos céus e da terra. Em Jerusalém, antes do cativeiro babilônico, havia o nome de Deus, mas, porque Sua presença fora perdida, Sua glória se retirou para o céu; por isso, a Jerusalém da terra, o templo da terra, se tornou apenas uma casca: bela por fora, mas sem vida por dentro. Por isso, Deus permitiu que o exército babilônico invadisse a Cidade Santa e a incendiasse. E, enquanto Jerusalém queimava, o profeta Jeremias estava, provavelmente, escondido numa caverna do monte Gólgota. Ele via a cidade sendo incendiada; o fogo estava queimando fora de Jeremias, mas a Bíblia nos indica que, na realidade, o fogo ardia dentro dos ossos de Jeremias, queimando até esgotarem suas lágrimas. Por isso, ele é conhecido como o profeta que chora (cf. Lm 3.49).
O CHORO DE JEREMIAS
Enquanto Jeremias via Jerusalém, a Cidade Amada, o testemunho de Deus, ardendo em chamas, o fogo do céu queimava dentro dele e ele chorava pela cidade. Nessa situação, ele escreveu o livro de Lamentações de Jeremias. Esse livro registra o choro de Jeremias por Jerusalém, pois ela deveria ser o testemunho de Deus, mas agora foi destruída, agora não há pedra sobre pedra. Ela não era a cidade do grande Rei? Ela não fora edificada pelo próprio Deus? O próprio Deus havia dito que a escolhera e que nela habitaria; Ele disse que escolheu Sião. Ele desejava morar naquela cidade, queria ter nela Seu lugar de descanso. Mas, por causa da idolatria dos israelitas, Deus permitiu que Nabucodonosor invadisse Jerusalém e a incendiasse. E Jeremias chorou ao ver isso. Quão diferente isso era de quando os israelitas se reuniam em Jerusalém nas festas! Ali não havia ninguém de mãos vazias, pois cada um deles levava o produto da terra de Canaã, a terra que manava leite e mel. Aqueles milhares de israelitas, como um só homem, davam um único testemunho de Deus na terra, cantando: “Oh! Como é bom e agradável viverem unidos os irmãos!”. Quando havia a realidade interior, Deus permitia sua manifestação exterior.Jerusalém estava sempre no coração dos filhos de Israel, mesmo quando estavam no cativeiro babilônico. Toda vez que se lembravam de Sião, eles choravam. A única coisa que podiam fazer era pendurar as harpas nos salgueiros junto aos rios de Babilônia, pois não lhes era possível entoar as belas canções de sua terra (Sl 137.1-4). Onde quer que eles estivessem, jamais se esqueceriam de Jerusalém, pois ela representava o testemunho de Deus. Por essa razão, não havia israelita que não rejubilasse ao chegar em Jerusalém, que não derramasse lágrimas de alegria, pois todas as dores e dificuldades já haviam passado. Aqueles que realmente conheciam o testemunho de Deus, ao ver Jerusalém, eram tomados de incontida e espontânea alegria. Mas, ao lermos a Bíblia, vemos que Alguém teve uma reação diferente ao ver Jerusalém.
O caminho que o Senhor percorreu com os discípulos no último meio ano de Seu ministério era quase o mesmo que os israelitas andavam para ir a Jerusalém, o caminho de Sião. Nessa etapa final de Seu ministério, Ele seguia resolutamente para a Cidade Santa e disse algumas vezes aos discípulos: “Eis que subimos para Jerusalém” (Mt 16.21; 20.18; Mc 10.32, 33; Lc 9.51, 53; 13.22; 17.11; 18.31; 19.28). Jerusalém era Seu alvo. Em Mateus 16, lemos que Jesus perguntou aos Seus discípulos quem o povo dizia ser Ele. Alguns personagens foram mencionados, e havia também quem dissesse ser Ele Jeremias. Isso não é coincidência, mas é a soberania de Deus! Por que Jesus se parecia com Jeremias? Porque, em toda a Bíblia, só houve duas pessoas que choraram por Jerusalém: Jeremias e o Senhor Jesus.
O CHORO DE JESUS
Quando Ele e os discípulos finalmente chegaram a Jerusalém – ao contrário dos outros israelitas que choravam no caminho por causa das dificuldades, mas alegravam- se ao ver a Cidade de Deus –, nosso Senhor chorou por ela! Assim como no Antigo Testamento houve uma pessoa que chorava por Jerusalém, assim também há Alguém no Novo Testamento. No Antigo Testamento, temos o livro das Lamentações de Jeremias, um longo poema que expressa todo o sentimento profundo do profeta. E, lendo atentamente as palavras do Senhor Jesus, vemos que elas também são um poema. Há vários poemas ditos pelo Senhor e registrados nos Evangelhos, não temos tempo de vê-los um a um agora, mas há um que é especial: este que se identifica com as lamentações de Jeremias. A constituição deste poema é lamentação, a constituição deste poema é dor. Há poemas que, por meio de suas rimas e estrutura, nos dão um sentimento de alegria, mas tanto Lamentações quanto esta declaração de Jesus são cheias de lamento e dor. O poema está registrado em Mateus 23.37: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados! Quantas vezes quis Eu reunir os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas, e vós não o quisestes! Eis que a vossa casa vos ficará deserta. Declaro-vos, pois, que, desde agora, já não me vereis, até que venhais a dizer: Bendito o que vem em nome do Senhor!” Os especialistas em poesia hebraica dizem que esse trecho da palavra do Senhor Jesus tem uma estrutura de poema igual à de Lamentações de Jeremias.Quando o Senhor chora por Jerusalém, Ele concentra Seu sentimento nestas palavras: “Jerusalém, Jerusalém (...) Quantas vezes quis Eu reunir os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas”.Jerusalém é uma cidade, é a capital de Israel. É uma cidade que pode ser achada no mapa, que foi edificada sobre um monte. A história não registra nenhuma cidade do mundo que tenha passado tantos sofrimentos como esta. Segundo alguns autores, desde o início dos registros históricos, Jerusalém já foi destruída e reconstruída por pelo menos vinte vezes.Mas quando o Senhor Jesus chorava por Jerusalém, Ele não estava chorando por uma cidade material, um amontoado de edifícios e ruas. A cidade pela qual Ele chorou é uma cidade que pode escolher, pode decidir, pode optar por ser reunida pelo Senhor sob Suas asas. O Senhor Jesus queria reunir os filhos de Jerusalém como a galinha ajunta os pintinhos debaixo das asas, mas os israelitas responderam dizendo: “Crucifica-O! Crucifica-O!” Para os israelitas, Jerusalém sempre foi uma cidade santa; por isso, todos os que não eram santos não podiam morrer dentro da cidade. Sem dúvida, o Senhor Jesus é o Santo – Ele é a encarnação da santidade de Deus –, mas os israelitas consideraram a cidade muito mais santa que o próprio Senhor. Os judeus jogavam todo o lixo fora da cidade: eles crucificaram o Senhor fora da cidade e preferiram um salteador. Eles clamaram:“Crucifica-O! Crucifica-O!”. Veja, amado irmão e irmã: o Senhor Jesus a queria, mas Jerusalém não queria a Ele. Se Jerusalém fosse, de fato, em sua realidade interior, uma cidade santa, como poderia não receber o Santo Senhor Jesus? Portanto, o Senhor Jesus não chorou apenas pela Jerusalém do mapa, a Jerusalém da história. Aos olhos do Senhor Jesus, Jerusalém era algo muito mais elevado do que simplesmente uma cidade: ela representava o testemunho de Deus e, por isso, está relacionada ao eterno propósito de Deus. Ao chorar por Jerusalém, Jesus disse: “Jerusalém, Jerusalém (...) Quantas vezes quis Eu reunir os teus filhos (...) e vós não o quisestes!” E, pouco depois, acrescentou: “Eis que a vossa casa vos ficará deserta.” Quando era apenas um menino, Jesus disse: “Não sabíeis que me cumpria estar na casa de meu Pai?” (Lc 4.29). O templo de Jerusalém era, no sentimento do Senhor, a casa do Pai. Mas ao chorar por Jerusalém, Ele disse: “Eis que a vossa casa vos ficará deserta.” O templo de Deus deveria ser o lugar de descanso de Deus; se fosse, o Senhor teria dito: “Esta é a casa de Meu Pai”. Mas, a partir do momento em que a realidade interior da presença de Deus não existe mais, por estar o templo de Deus em desolação, o Senhor refere-se a ele como “a vossa casa”. Os israelitas, no Antigo Testamento, já manifestavam essa indisposição de se arrependerem de seus pecados e se consolavam dizendo que Jerusalém não seria destruída, pois o templo de Deus estava ali: “Templo do SENHOR, templo do SENHOR, templo do SENHOR é este” (Jr 7.4), eles repetiram para se entorpecer. Na verdade, a glória de Deus já se havia retirado dali, mas eles ainda falavam: “Este é o templo de Deus, a cidade de Jerusalém não será destruída, pois uma vez que haja o templo de Deus, ele será eternamente o templo de Deus!” É como os que dizem hoje: “Uma vez que somos a igreja de Deus, seremos eternamente a igreja de Deus.” A Igreja de Deus não é a casa do Pai? Sim, no princípio, de fato, era assim. Lembrem-se que o Senhor Jesus disse:“Não sabíeis que Me cumpria estar na casa de Meu Pai?” Mas ao chorar por Jerusalém, Ele disse: “Eis que a vossa casa vos ficará deserta.” Em Lucas 19.41, Ele acrescentou: “Não deixarão em ti pedra sobre pedra”. E a história comprova que essa palavra foi cabalmente cumprida.
A DESTRUIÇÃO DA CASCA VAZIA
Em Mateus 24.1, 2, o Senhor disse algo com respeito à situação futura do templo de Deus. Isso foi profetizado quando Ele andava com os discípulos no templo e estes se maravilharam das pedras com que havia sido edificado. O templo foi construído com pedras muito grandes colocadas umas sobre as outras, pedras extremamente pesadas, entre as quais não foi usado nenhum tipo de cimento – elas ficavam ligadas umas às outras apenas por seu próprio peso. A maneira como o templo foi edificado indica a maneira como a Igreja deve ser edificada. Edificação da Igreja não é criar maneiras de fazer com que os irmãos fiquem juntos, ensinando computação ou cuidando da saúde dos idosos, por exemplo. Se fizermos isso, é como ter de usar cimento para juntar as pedras. Mas, de acordo com a tipologia da construção do templo, a edificação da Igreja acontece como decorrência espontânea do peso espiritual diante do Senhor que cada pedra viva adquire por meio de muitas lições espirituais preciosas aprendidas em oculto. Assim, quando nos reunirmos com outros irmãos, teremos o peso espiritual que adquirimos na presença do Senhor. Somos edificados juntos, pois você tem peso e eu também tenho peso; nós, por nós mesmos, não temos peso espiritual algum, pois só Cristo é nosso peso. Quanto mais você experimenta Cristo, mais peso você tem. Irmãos e irmãs, a Igreja é edificada exclusivamente dessa maneira.Por causa dessa característica do templo, os discípulos se admiraram: “Mestre! Que pedras, que construções!” Mas Jesus lhes disse: “Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra que não seja derribada”. Irmãos e irmãs, essa profecia se cumpriu completamente. No ano 70 d.C., o comandante romano Tito liderou seu exército e invadiu Jerusalém. Os soldados cortaram todas as oliveiras do Monte das Oliveiras e usaram a madeira para preparar a invasão. E eles iam atacar Jerusalém exatamente na época da celebração da páscoa, quando os israelitas, de todos os lugares, vinham a Jerusalém para comemorar a festa. Era uma cena muito curiosa! A cidade estava cercada por cavalos e exércitos e, por isso, era tempo de todos se afastarem da zona de guerra – mas os israelitas vinham em grande número para Jerusalém. Por que eram tão corajosos? A razão é que eles achavam que Jerusalém nunca seria destruída. Eles entendiam que, uma vez que Jerusalém era a cidade de Deus, edificada por Deus, ela jamais seria destruída. Eles supunham serem especialmente protegidos por Deus por serem judeus, enquanto seus inimigos eram gentios, povo desprezado por eles e por Deus. Eles diziam que aquela era a cidade eterna e, por isso, os romanos não a conquistariam. Isso os tornou obcecados, a ponto de entrar na cidade, em meio ao cerco, para comemorar a festa. Os soldados romanos não podiam acreditar no que viam! “Eles deveriam correr da cidade; por que todos vão para ela?” Mas era exatamente esta a situação: os israelitas obcecados de todas as partes do país seguiam para lá. Então, Tito deu ordem para que se abrissem todas as portas da muralha, a fim de quem quisesse entrar entrasse. E, exatamente nesse momento, muitos discípulos, por lembrar da profecia de Jesus de que haveria uma grande tribulação que não deixaria ficar pedra sobre pedra, por crer que aquela palavra do Senhor não falharia, aproveitaram a ocasião em que os judeus entravam na cidade para dela fugir. Entre esses discípulos estavam João e a mãe de Jesus. Finalmente, as portas da cidade foram fechadas – e aquela foi a última Páscoa do povo de Israel –, e eles morreram todos. Os romanos incendiaram a cidade e o templo. Quando metade do templo estava queimando, eles se lembraram de que lá havia muito ouro e prata que, agora, derretidos, estavam escorrendo para as fendas das pedras. Então, foi dada uma ordem para que todo o exército tirasse o ouro e a prata do meio das pedras. E, por isso, não ficou pedra sobre pedra, sendo, desse modo, cumprida integralmente a profecia do Senhor Jesus. Daquele dia em diante, a nação de Israel desapareceu totalmente da terra, até ser restabelecida em 14 de maio de 1948. Isso foi o cumprimento da palavra do Senhor: “Eis que a vossa casa vos ficará deserta. Declaro-vos, pois, que, desde agora, já não Me vereis, até que venhais a dizer: Bendito o que vem em nome do Senhor!” No futuro, eles reconhecerão que Jesus é o Messias e dirão: “Bendito o que vem em nome do Senhor!” Mas, naquela época, o que eles disseram? “Crucifica- O! Crucifica-O! Elimina-O! Preferimos o salteador, nós não O queremos.” Quando Pilatos perguntou: “Hei de crucificar o vosso rei?”, que responderam os judeus? “Não temos rei, senão César!” Os judeus sempre deveriam dizer que além de Deus não tinham rei. Por isso, os judeus e os romanos não se misturavam; mas, para eliminar o Senhor Jesus, disseram algo que era totalmente contra sua consciência e sua lei. JUNTOS!Depois de termos sido salvos, percebemos que não somos os únicos: há muitos outros cristãos que, como nós, têm a vida de Cristo. Vemos, então, que estamos na Casa de Deus. Fomos chamados do mundo por Deus para que estejamos juntos; portanto, ninguém pode ser um cristão isolado ou solitário. Sem Deus não podemos viver, mas sem os irmãos e as irmãs também não podemos viver nem amadurecer. Por definição, a Igreja é, primeiramente, a reunião dos chamados. Todos nós, cristãos, fomos chamados por Deus para sair do mundo e reunir-nos. E essa reunião dos chamados é a Igreja, é a Casa de Deus, é o templo de Deus. Assim, o templo do Antigo Testamento é apenas uma prefiguração da Igreja. Temos de lembrar sempre que a Igreja não testemunha de si mesma, mas testifica de nosso Senhor. Quando desfrutamos a presença do Senhor, naturalmente nós O exaltamos e Dele testemunhamos; desse modo, Sua glória e beleza são espontaneamente manifestadas por meio de nós. Ninguém consegue expressar sozinho todas as características de Cristo; mas em um irmão vemos a mansidão de Cristo, em outro vemos Sua longanimidade, em outro, Sua humildade. E, quando nos reunimos, vemos uma única personalidade, que é a de Cristo. A personalidade de Cristo é Sua imagem, à qual estamos sendo conformados a fim de que as pessoas possam ver Sua glória e beleza. Recentemente, houve um terremoto muito forte em Taiwan, e muitos irmãos foram ajudar aqueles desabrigados das áreas atingidas. Ali, naquela situação, foi possível perceber que alguns conhecem de fato a Igreja, mas muitos, não. O testemunho da Igreja exalta a Cristo. Se vestimos a roupa do evangelho e o capacete do evangelho, o que mostramos às pessoas é Cristo, nós mesmos não ficamos visíveis. Você sabe por que nosso corpo necessita ser coberto? Você sabe por que expor o corpo é vergonha? Cobrir o corpo tem por objetivo fazer com que o mundo inteiro veja apenas nossa cabeça. Do mesmo modo, o testemunho da Igreja nunca deve exaltar a ela mesma, mas unicamente a Cristo. É suficiente levarmos as pessoas a crer em Jesus, não precisamos que as pessoas nos conheçam nem valorizem o que fizemos. Quando ocorreu o terremoto em Taiwan, muitas áreas foram severamente atingidas. No entanto, por haver naquelas áreas de calamidade muitos repórteres e câmeras de televisão de todo o mundo, os cristãos que ajudavam as pessoas desabrigadas levantavam grandes bandeiras, nas quais estava escrito que eles eram de tal “igreja” e de tal denominação. Amados irmãos e irmãs, o que foi mostrado ao mundo todo pela televisão? Esse o testemunho que o Corpo de Cristo deve dar? O Corpo dá testemunho da Cabeça, não de si mesmo. Mas o problema está em que, naquela situação, alguns queriam que o mundo inteiro soubesse que eles estavam socorrendo os afligidos pelo terremoto – estavam chamando atenção sobre si mesmos. A Bíblia registra que a Igreja primitiva socorria os pobres segundo o preceito do Senhor, de que a mão esquerda não deveria saber o que a mão direita fazia (Mt 6.3), nunca com o objetivo de exaltar o homem. Quão diferente, porém, daquilo que vimos em meio à destruição em Taiwan! Mas, além da exaltação do homem, ali vimos a manifestação das divisões entre os filhos de Deus – grupos separados sob bandeiras distintas, anunciando sua própria obra. O testemunho de Deus, representado por Jerusalém, não é algo abstrato. Após termos sido salvos, tornamo-nos membros da Igreja, que é o lugar de desfrute da presença de Deus. Por isso, quando nos reunimos com outros irmãos, testemunhamos da unidade. Por conhecermos, de fato, o Senhor e Sua Igreja, não aceitamos que haja qualquer divisão entre Seu povo. Desse modo, graças ao amor de Cristo em nós, sabemos amar aqueles que não são amáveis, aqueles que são diferentes de nós, mesmo aqueles que não viram a luz de Deus sobre a Igreja. O amor nos faz humildes, o amor nunca nos faz sentir especiais. Esse é o testemunho da Igreja: um testemunho de unidade e de amor.
O MAIS IMPORTANTE É O MAIS BAIXO
Lembro-me da primeira vez que fui a Jerusalém. Eu fiquei muito entusiasmado, pois havia subido a Sião, ao monte do Senhor. Mas eu estava um pouco preocupado: eu não tinha certeza se aquele era o verdadeiro monte Sião! Em Jerusalém – este é um fato curioso –, você vai encontrar dois pináculos, dois lugares da última ceia, dois Gólgotas, e muitas outras coisas duplas. Então, por causa de minha dúvida, perguntei a um monge do mosteiro que ficava naquele lugar: “Este é realmente o monte Sião? ”Ele me respondeu: “Este não é o monte Sião.” Então, perguntei-lhe onde ficava o monte. Ele respondeu: “Como em redor de Jerusalém estão os montes, assim o SENHOR, em derredor do Seu povo” (Sl 125.2). O menor desses montes que você vir, este é Sião.” Então, eu olhei para o leste e também para o oeste, perguntando-me onde estava o monte de Deus. O monge, que estava me observando, me disse: “Você está procurando de maneira errada. Não olhe para cima nem para os lados; você tem de olhar para baixo, você tem de olhar para o vale. Ali há um pequeno monte: aquele é realmente o monte Sião do tempo de Davi. O monte Sião em que você está agora é o monte assim designado de acordo com a tradição católica, não é Sião do tempo de Davi, não é o monte Sião da Bíblia.” A Bíblia diz que os povos dos montes afluirão para Sião (Is 2.2). A palavra “afluirão” no original tem a idéia de fluir como água. Obviamente, a água nunca corre para cima, mas sempre para baixo; portanto, se todos os montes fluem para este monte, o monte Sião não apenas é o menor, mas também o mais humilde. No entanto, o mesmo versículo diz que o monte da Casa do SENHOR será estabelecido sobre os mais altos montes. Como poderão as águas fluir em direção ao cume? Isso é um paradoxo! Sim, e ele encerra um princípio espiritual fundamental: se somos realmente espirituais, se, de fato, andamos com o Senhor, se somos úteis a Ele e a Sua Casa, devemos ser os mais baixos, os mais humildes, os que mais servem. Somente a vida de Cristo em nós e o operar profundo de Sua cruz podem gerar esse caráter em nós.Irmãos e irmãs, isto é o monte Sião, e assim deve ser o testemunho da Igreja. Se realmente vemos o que é a Igreja, se realmente vemos o que é o testemunho de Deus, jamais diremos que somente nós somos a igreja e ninguém mais é. No momento em que falamos assim, já não somos o mais baixo, mas nos elevamos a nós mesmos e ninguém consegue nos acompanhar. Isso não é testemunho da Igreja. Por isso, quando nos reunimos, temos de lavar os pés uns dos outros. O que significa lavar os pés? Humilhar-nos para servir aos irmãos. Quando nos reunimos, não estamos somente diante dos pés do Senhor, mas estamos também diante dos pés dos irmãos. Essa é uma vida humilde. Assim, todo o testemunho da Igreja deveria ser a representação do monte Sião. Então, ao unirmos o monte Sião ao monte Moriá temos Jerusalém. Isso prefigura nosso testemunho. Para os judeus, há uma cidade: Jerusalém; nela há um templo, o templo de Deus. A cidade é material e o templo é material, mas Deus, por meio dos filhos de Israel, nos dá uma ilustração muito importante, pois, na verdade, Jerusalém representa algo espiritual: o eterno propósito de Deus. Isso é trabalho de Deus, não trabalho nosso. Mas se você ama a Deus, naturalmente tem parte na Sua obra. Portanto, repito: hoje nós estamos reunidos, fomos chamados para andar juntos, fomos chamados do mundo para exaltar a Cristo, glorificar a Cristo, dar testemunho por nosso Senhor. Agora por meio de nós há um testemunho visível: as pessoas não devem nos ver, mas ver apenas a Cristo.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

O CAMINHO DE CAIM- David W Dyer

O CAMINHO DE CAIM
Enviado pelo irmão Samuel Espindola

Há muito tempo atrás, no Jardim do Éden, o primeiro homem, Adão e a sua esposa, Eva, caíram. E les haviam pecado contra o Altíssimo, fazendo a única coisa que Ele havia ordenado que não fizessem. Agindo assim, estas duas primeiras pessoas, deterioraram seu relacionamento com Deus e tiveram ciência de sua própria nudez. Embora tivessem tentado se cobrir juntando folhas de figueira, quando ouviram a voz do Senhor que passeava pelo jardim na virada do dia, eles se esconderam e estavam assustados. O homem, que havia sido criado por Deus e gozado de doce comunhão com Ele, agora estava se escondendo de Deus, nu e envergonhado. Conforme nós sabemos agora, isto não foi uma surpresa para o Senhor. Ele sabia de antemão que o homem que criara iria desobedecer a seu mandamento e cair em pecado. Já que Deus não é limitado pelo tempo e compreende simultaneamente tanto o princípio como o final de todas as coisas, Ele já havia preparado o caminho da salvação. Neste exemplo, por causa deste primeiro homem, Deus deve ter matado algum tipo de animal, porque somos ensinados que Ele fez roupas de pele para o casal. Foi tirando a vida de uma outra criatura que Deus providenciou uma cobertura que Adão e Eva tão desesperadamente necessitavam. Eu agora sugiro a vocês que o animal morto por Deus era um cordeiro. Embora isto não possa ser provado, sinto que existe uma grande possibilidade. Harmoniza lindamente com o resto da Escritura e com o supremo plano de redenção de Deus. Esta atitude, sem dúvida, estava apontando para o tempo em que Ele permitiria que Seu Único Filho, o Cordeiro de Deus, fosse morto como cobertura para os nossos pecados – escondendo nossa nudez e rebelião contra Deus. Também mais adiante, no livro de Gênesis, temos uma insinuação de que talvez fosse mesmo um cordeiro que foi morto por causa de Adão e Eva. Quando examinamos rigorosamente as Escrituras, surge um quadro. Aprendemos que Abel era um pastor, enquanto Caim era um lavrador do chão, um agricultor. Já que Deus não havia permitido ao homem que comesse carne antes do dilúvio e, de fato, os próprios animais não se comiam uns aos outros, mas eram herbívoros (Veja Gen 1:29,30 e 9:2,3), podemos indagar porque Abel estava zelando por um cordeiro. Porque ele gastou seu tempo cuidando de animais que não tinham valor algum para ele? A resposta é, muito provavelmente, encontrada na idéia de que estes animais eram usados para fornecer vestimentas. Estas ovelhas devem ter sido criadas por causa de sua lã ou por causa de sua pele, que eram usadas como cobertura, assim dando suporte à idéia que fora Deus quem havia dado o exemplo a eles. Tanto Caim quanto Abel, provavelmente, tinham conhecimento do que havia ocorrido com seus pais no Jardim do Éden. Estou certo que, como pais fiéis, os dois compartilharam com seus filhos tudo o que ocorrera e tentaram instruí-los na maneira correta de caminhar com Deus. Quando eu lia no livro de Gênesis que Deus rejeitou a oferta de Caim, eu me preocupava porque esta rejeição parecia arbitrária. Eu não conseguia compreender como Ele podia julgar entre esses dois homens se ambos estavam agindo puramente por instinto. Entretanto, agora eu sinto que Caim sabia tanto quanto Abel o tipo de sacrifício que Deus requeria. Ele sabia, pelo testemunho de seus pais, que eles haviam sido cobertos pela morte de um cordeiro e que Deus exigira o derramar do sangue para a expiação do pecado. Todavia, Caim escolheu seguir seu próprio caminho, embora sabendo da justa exigência de Deus. Ele deliberadamente o desobedeceu, ignorando o que havia sido evidentemente providenciado. Em vez disso, ofereceu algo de sua própria invenção, algo de sua própria imaginação, algo que ele mesmo podia produzir. Ele pode ter pensado: “Porque eu devo oferecer um cordeiro? Os vegetais que eu plantei são ótimos, não há nada de errado com eles. De fato, eles são os melhores vegetais das redondezas. Por que não posso oferecer a Deus o que tenho de melhor? Não é bom o bastante? Não há dúvida que ele vai reconhecer isto e recebê-lo.” Mas, como lemos em Gen cap 4 vers 5, Deus rejeitou a oferta de Caim. Não importa quão boa ela era, não importa o quão maravilhosa parecia ser, ainda que Caim houvesse trazido o seu melhor, Deus não estava satisfeito. Ele já havia ordenado qual era o sacrifício necessário . Ele já havia estipulado o formato para que os verdadeiros adoradores o seguissem e era apenas através da obediência que o Seu prazer e favor poderiam ser ganhos. UMA MENSAGEM PARA HOJE O que esta história tão antiga nos fala hoje? Como é que nós, crentes, podemos aprender da experiência destes primeiros homens e evitar o caminho de Caim? No Novo Testamento, assim como no Velho, Deus determinou a todos os crentes o modo adequado de adoração. Vemos no livro de João cap 4 vers 23 e 24 a seguinte declaração: “Jesus diz – é chegada a hora e a hora vem, quando os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade, porque são estes que o Pai procura para seus adoradores. Deus é espírito e importa que seus adoradores DEVEM adorá-lo em espírito e em verdade.” Por favor, notem aqui a tradução da palavra “DEVEM”. As Escrituras não dizem que “PODEM” ou mesmo “TALVEZ DEVESSEM”, mas afirma especificamente que aqueles que adoram a Deus “DEVEM” fazê-lo no espírito. Tal adoração não é opcional. Qualquer coisa menos que isto não atinge o objetivo do claro mandamento de Deus. Você vê, tanto no Novo como no Velho Testamento, um cordeiro foi morto para a cobertura de pecados. Deus tinha providenciado um cordeiro! E este cordeiro deve ser a nossa oferta. Nada mais é adequado. Não importa quão bom possa parecer, não importa quão correto segundo as Escrituras possa aparentar, não importa quão reverente, adornado, musicalmente excelente possa ser, nenhuma outra coisa será satisfatória. Somente o Cordeiro irá fazê-lo. Este fato tem uma importante aplicação para nós, como cristãos. Quando nos reunimos para adorar o Pai, precisamos adorá-lo em espírito. Quando estamos juntos, é essencial que entremos no espírito de Jesus Cristo para que nossa adoração e nosso louvor e, na verdade tudo o que fazemos, se origine Nele. Ele é quem deve estar dirigindo nossas reuniões na Igreja. Além disso, é este Cordeiro que deve ser a essência deles. Mas, o que significa “estar no espírito” ? Significa que estamos em um certo estado de ânimo? Será que ele indica que entramos na emoção de uma determinada situação? Não. Significa que nós realmente entramos na presença de Deus através do Santo Espírito. Significa que estamos “ plenos” do Espírito de Jesus Cristo e sendo dirigidos por Ele. Vemos nos Evangelhos que, “quando dois ou mais se reunirem em Seu nome, Ele ali estará no meio deles.” Jesus não vem às nossas reuniões como um espectador. Ele não vem para nos ouvir em nossas cerimônias ou “serviços”. Cristo tem aparecido como nosso Sumo Sacerdote, para nos dirigir em louvor e adoração ao nosso Deus. Quando Jesus vem para o nosso meio, vem como Aquele que vai dar origem a todas as coisas. É Ele quem deve estar escolhendo as músicas e é Ele mesmo quem deve se derramar em nossas orações e através delas. É o Espírito de Jesus quem deve emanar da ministração da Palavra. Deus se satisfaz apenas com a oferta de Seu Filho e é somente quando nos reunimos e oferecemos a Ele tudo o que flui de Jesus Cristo, que o Pai se agrada. Qualquer coisa menos que isto é apenas “vegetal”. Talvez alguns acreditem que o objetivo em nossos encontros deve ser que os mesmos sejam de acordo com a Bíblia. Imaginam que, se simplesmente imitarmos aquilo que achamos que os crentes do Novo Testamento faziam, Deus se sentirá satisfeito. Isto leva tantos encontros cristãos a “fazer adoração” ou a “ter ministério” almejando, de qualquer forma, encontrar as bênçãos de Deus. Isto é um verdadeiro golpe ou um erro de alvo. Quando as coisas não correm muito bem, é comum os líderes culparem os que se assentam nos bancos pela falta de entusiasmo ou consagração. Mas o problema com este alvo é o seguinte: Quais das milhares de coisas das Escrituras Jesus deseja que façamos hoje? A Igreja primitiva fazia muitas coisas. A Bíblia está repleta de coisas que Deus deseja que digamos ou façamos em uma determinada situação. Mas, como Ele está nos liderando agora? Para saber isto, precisamos estar no Espírito. Precisamos ter um relacionamento real e íntimo com Ele. Deste modo, podemos sentir Sua liderança, segui-lo naquilo que Ele está fazendo e, assim, alcançar a satisfação da verdadeira adoração espiritual. Quão freqüentemente nós, povo de Deus, temos ido pelo caminho de Caim! (Judas 11) Quantas vezes nos reunimos e oferecemos a Deus o que se origina exclusivamente em nossos próprios corações! Nossas próprias idéias, invenções dos homens – coisas que têm uma mera qualidade da alma – têm sido colocadas no lugar de Cristo, como substitutas. Temos erradamente suposto que, se o que fazemos é bom, se é suficientemente bíblico, se é o bastante elaborado, se é suficientemente melodioso, Deus estará satisfeito. Não há dúvida que nós, como seres humanos, oferecemos a Deus o que temos de melhor. Tudo o que faze-mos tem as melhores intenções, humanamente falando. Entretanto, mesmo com todas estas coisas, Deus não se satisfaz. Ele não pode se satisfazer. Ele mesmo nos ensinou o Caminho e nós temos que andar nele. MUITAS OBRAS MARAVILHOSAS Oh, as catedrais que têm sido construídas, as liturgias que têm sido formuladas, os arranjos musicais que têm sido criados, as mensagens que têm sido pregadas, tudo em nome da adoração! Entretanto, Deus não deseja nenhuma destas coisas. Elas e muitos outros itens desta natureza, são realizações tremendamente humanas. Não estou tentando diminuir a excelência de nenhuma delas. Ainda assim, o seu valor é nulo se comparado com a beleza e a glória do que Deus providenciou. Muitas destas coisas são apenas as obras humanas, as melhores que podemos fazer, ainda assim elas não podem atingir o alvo, a exigência de Deus. Os homens apreciam tais coisas com sua alma, seus sentidos e freqüentemente confundem esta apreciação com alguma bênção espiritual. Entretanto, Lucas 16:15 afirma que “aquilo que é tido em alta estima pelos homens, é abominação aos olhos de Deus” . Coisas meramente externas não têm absolutamente valor espiritual. Elas nada fazem para intensificar nossa adoração ou para atrair a presença de Deus. A razão pela qual Deus rejeita tais coisas é que elas são uma substituição humana para a verdadeira oferta que Ele providenciou. Conseqüentemente, o espírito do homem é deixado sem ministração quando estas coisas predominam em nossas reuniões cristãs. Quantas vezes você saiu de um culto insatisfeito? Quantas vezes você ouve muitas mensagens em muitos encontros, conseguindo apenas umas migalhas da mesa do Senhor? Quantas vezes nossa adoração a Deus é formal, afetada e espiritualmente morta? Tudo isto somente serve para provar que temos seguido o caminho de Caim. Nenhuma de nossas idéias ou invenções, não importa quão boas ou “corretas” elas possam ser, poderá satisfazer a Deus e quando Deus não está satisfeito, nós também não poderemos estar espiritualmente satisfeitos. Oh, mas que diferença há no Filho! Quando o povo de Deus se reúne e se abre para Ele, permitindo que o Seu Espírito se mova em Seu meio, permitindo que o Sumo Sacerdote de nossa confissão dirija a adoração, o louvor e o ministério, quão satisfatórios estes encontros podem se tornar! Como serão cheios do Espírito e de Verdade! Como estes encontros serão ungidos e agradáveis! O homem se satisfaz porque Deus está satisfeito, tendo visto e aceito a oferta de Seu Filho. FOGO ESTRANHO No Velho Testamento temos um outro exemplo da vã religião humana. Nadabe e Abiu eram filhos do Sumo Sacerdote. Eram os filhos mais velhos de Arão e foram consagrados a Deus juntamente com ele para o sacerdócio junto ao Senhor. Os dois tinham bastante experiência em adorar ao Senhor e até chegaram a ver fogo cair do céu sobre os sacrifícios que ofereciam (Lv 9:24). Então começaram a achar que tinham um bom domínio no negócio da religião. Pensavam que já eram capazes de inventar algo para adorar a Deus. Tiveram a idéia de colocar um pouco de incenso em seus incensórios e foram para o santo Templo. O resultado foi desastroso. Veio fogo do céu e os consumiu. Esta foi a reação de Deus às suas inovações (Lv 10:1,3). Talvez estas coisas signifiquem algo para nós hoje. Como homens, temos uma profusão de idéias para contribuir com as reuniões das Igrejas – apresentações dramáticas, danças, adoração planejada anteriormente, performances musicais, práticas tradicionais, muitos dos adereços e formatos que achamos tão normais hoje na religião cristã – todas estas coisas podem ser apenas fogo estranho oferecido ao Senhor. Nós, povo de Deus, deveríamos chegar diante Dele com temor reverente. Deveríamos tomar cuidado para não seguirmos o caminho de Caim! É essencial que nossa adoração seja algo verdadeiramente espiritual, que venha do próprio Deus jorrando dentro de nós e derra-mando através de nós! Não é suficiente que, quando estamos juntos, sejamos simplesmente informados, emocionalmente estimulados ou entretidos. Ele, tão somente Ele, é a fonte de genuína oferta espiritual. Deus pode tolerar nossos exercícios religiosos hoje em dia. Hoje Ele não manda fogo do céu para destruir estas coisas que muitos de nós estão fazendo. Entretanto, somos ensinados que um dia nossas obras passarão pelo teste do fogo e, se estivemos construindo com madeira, feno e palha, em vez de ouro, prata e pedras preciosas, nossa obra será consumida. Lemos que o Senhor virá repentinamente ao Seu Templo e irá purificar os filhos de Levi de modo que sua oferta seja feita em justiça (Ml 3:1-3). Por favor, não me entendam mal. Não há dúvida que Deus pode nos conduzir em nossa adoração enquanto cantamos, dançamos ou fazemos muitas outras coisas. O Rei Davi dançou diante do Senhor com toda a sua força (2a Sm 6:14). Débora, Moisés e muitos outros, compuseram canções de louvor. Entretanto, fizeram estas coisas porque estavam transbordando de unção do Espírito Santo. Não fizeram isto por achar “apropriado”, “sagrado” ou “inspirado”. Aquilo que se origina em Deus e as invenções dos homens podem parecer iguais. Podem até mesmo ter a mesma forma aparente. Entretanto, há um universo de diferença! A questão não é realmente sobre a forma, mas sobre a fonte destas coisas. Se a fonte não é Deus, não importa o quão maravilhoso possa parecer, não importa que a doutrina possa estar correta, não importa que seja bom de se ver, isto é rejeitado por Ele. Por outro lado, tudo o que é inspirado pelo Espírito Santo, é importante e deveria ser incluído em nossa adoração. Como nós, os filhos de Deus, precisamos aprender a discernir entre o sagrado e o profano, entre o limpo e o sujo (Ez 22:26)! É triste, mas é verdade que muitos cristãos não aprenderam a discernir entre a alma e o espírito (Hb 4:12). Muitos passaram tão pouco tempo na presença de Deus meditando sobre Sua Palavra que nunca experimentaram a Sua espada do Espírito separando o que é natural e humano daquilo que é espiritual. Freqüentemente não temos crescido em nosso discernimento para sabermos o que Deus está pedindo. E, agindo assim, temos falhado em atingir Seus objetivos – adoração em espírito e em verdade. Há uma tendência entre alguns homens, de apreciar coisas com as quais estão habituados ou que existem há muito tempo. Outros gostam de inovações em sua adoração. Entretanto, tudo deve ser levado ao controle do Espírito Santo e somente Ele deve ser soberano sobre tudo o que fazemos. Além disso, já que Jesus é uma pessoa viva, podemos presumir que a Sua liderança irá mudar continuamente. Assim como o nosso relacionamento com outras pessoas está em constante transformação, assim também Deus se renova a cada manhã (Lm 3:22,23). Portanto, devemos estar em constante comunhão com Ele de maneira que possamos sentir e seguir o que Ele está fazendo hoje. É possível que muitas pessoas não compreendam o que estou dizendo e se sintam ofendidas por minhas palavras. Se este é o seu caso, eu lhe peço que não protele, mas que se coloque diante de Deus e lhe peça que o encha com Seu Espírito. Leia a passagem em Lucas que declara o quanto o Pai do Céu deseja derramar de Seu Espírito sobre aquele que lhe pedir (Lc 11:11-13). Ele anseia que saibamos a diferença entre o que é espiritual e o que é natural, para que possamos ofertar coisas que são aceitáveis e agradáveis a Ele! Deus nos ama muito. Ele derramou sobre nós o Seu Espírito. Ele nos ofereceu o Seu único Filho. Deus não escondeu de nós nada que fosse necessário para uma verdadeira adoração e um puro relacionamento com Ele. Como nós, como homens, precisamos aproveitar tudo o que Deus nos tem dado! Oh, que tenhamos o discernimento para saber o que se origina na alma e o que vem do Espírito. É em nosso espírito que nos ligamos a Deus (1a Co 6:17). E é somente através do Espírito Santo que podemos oferecer um sacrifício que seja aceitável. Para conseguir encontros genuinamente espirituais nós, assim como nosso devoto predecessor Abel, precisamos estar trabalhando uma semana naquilo que Deus providenciou. Se chegamos de mãos vazias aos nossos encontros na Igreja, se não estivemos antesna presença do Senhor nos alimentando em Sua Palavra e não sentimos o Seu Espírito se movendo dentro de nós, não teremos nada para oferecer. Se não pudemos exaltar o Cordeiro durante a semana, como podemos trazê-lo como uma oferta? Nesta situação, muitos cristãos são tentados a oferecer vegetais. Talvez pela falta de experiências espirituais, talvez pela falta de um relacionamento íntimo com o próprio Deus, eles são deixados sem cordeiro e podem oferecer aquilo que cresce do solo – algo terreno, algo natural. Estas coisas são espiritualmente insatisfatórias. O fato que o Pai procura homens e mulheres que o adorem em Espírito deveria realmente nos impressionar. Agora mesmo Ele está procurando por adoradores! Seu coração hoje está ansiando por verdadeiros adoradores que ofereçam sacrifícios de louvor, o fruto de seus lábios, aqueles que irão revelar a Ele o que Deus forjou neles através de Jesus Cristo. Oh, como precisamos orar, como necessitamos procurar a Sua face para que possamos experimentar este tipo de adoração! Não pode ser difícil. Na verdade, não deveria ser , porque Cristo morreu para que fosse assim. Nada tem sido negado a nós. O sacrifício do próprio Deus está completamente à nossa disposição. Portanto, vamos chegar até Ele e nos encher com o Cordeiro de Deus de maneira que, quando estivermos reunidos e Ele estiver no meio de nós, possamos oferecer um doce aroma, santo e agradável a Deus. Que possamos ser, como Paulo diz, aqueles “da circuncisão, que adoram a Deus em espírito” (Fp 3:3). Irmãos e irmãs, eu oro sinceramente para que estas coisas se tornem a sua realidade.

David W. Dyer 25/04/2004
Tradução – Maria Regina Vidal Eliasquevici

Irmãos em Cristo Jesus.

Irmãos em Cristo Jesus.
Mt 5:14 "Vós sois a luz do mundo"