sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Os Três Aspectos do Pecado - W Nee

A Bíblia mostra-nos que existem três aspectos do pecado. Em outras palavras, o pecado está em três lugares. Primeiro, o pecado está diante de Deus; segundo, o pecado está na nossa consciência; terceiro, o pecado está na nossa carne. A Bíblia sempre nos mostra o pecado de acordo com essas três linhas. É como um rio alimentado por três afluentes. Se quisermos conhecer o pecado de forma completa, devemos ter clareza sobre essas três linhas. Precisamos saber que nosso pecado está diante de Deus, na nossa consciência e na nossa carne. Se não tivermos clareza dessas três linhas e não formos capazes de fazer distinção entre elas, não teremos clareza acerca do problema do pecado. Se confundirmos essas três linhas, não perceberemos o ponto de vista de Deus concernente ao pecado e não compreenderemos como Deus é perfeito ao lidar com o pecado. Somente quando entendemos a necessidade é que reconhecemos o tratamento. Se não conhecermos a necessidade, presumiremos que o tratamento é desnecessário. Portanto, precisamos conhecer primeiramente o pecado para depois conhecer como a salvação de Deus é completa.
Deus é um Deus justo. Na administração do universo Ele é a mais elevada autoridade. Ele é o Governante do universo, e tem leis e ordenanças definitivas sobre os pecados. Ele recompensa o homem de acordo com o que o homem faz, e segundo a maneira como age. Deus lida com o mundo na Sua posição de Governante soberano. No tempo de Adão, embora ainda não houvesse este termo, havia a lei adâmica. Depois de Noé, embora não houvesse este termo, houve a lei de Noé. No tempo de Moisés, o termo lei começou a ser utilizado especificamente. Foi a partir daí que a lei foi especificamente colocada diante do homem. Quer estejamos falando da lei explícita depois de Moisés quer da lei implícita antes do tempo de Moisés, o veredito de Deus é que quem peca deve morrer. Ele exige que os que transgridem a lei sejam punidos com a morte eterna. Enquanto o homem está vivo, embora sua carne esteja vivendo, seu espírito está morrendo. No final, sua carne também morrerá. E na eternidade, seu espírito, alma e corpo perecerão. Se o homem não pecar, Deus não executará a punição. Contudo, se o homem pecar, Deus certamente executará a punição. Deus decretou ordenanças e leis acerca dos pecados do homem.
Quando ocorrem pecados em nossa vida, primeiro há o registro deles diante de Deus. Deixe-me ilustrar com um exemplo. Recentemente as pessoas foram proibidas de estacionar seus carros onde bem quisessem. Há dois meses, você podia estacionar seu carro em qualquer lugar. Você podia até mesmo estacionar no lado contrário da rua e era livre para estacionar em qualquer sentido. Mas há dois meses o departamento de trânsito proibiu essa prática. Agora, enquanto dirige, você vê todos os carros estacionados no mesmo sentido. Há uma nova lei que diz que todos os carros devem ser estacionados no mesmo sentido do fluxo do trânsito. Se você não fizer isso, estará violando a lei. Se hoje, um irmão vier à reunião de carro e estacionar no sentido contrário, um oficial do departamento de polícia pode ver isso e registrar a infração no departamento de polícia. A infração é registrada não na rua onde ele estacionou, mas no departamento de polícia, mesmo que o irmão não esteja ciente do fato. A infração pode ter ocorrido na Rua Ha-Tung, mas o local onde a infração será registrada é o departamento de polícia do distrito de Tsin-An-Tsu.
Os incidentes de pecado ocorrem no homem, mas assim que o homem peca, há o registro do pecado diante de Deus. Deus é o soberano Governante do mundo. Ele tem o controle de tudo. Se no decorrer de nossa vida transgredimos a lei, há um registro do nosso pecado diante de Deus. É por essa razão que no Antigo Testamento freqüentemente se fala de pecar contra Jeová. A razão de um ato de pecado ser maligno e terrificante é que uma vez que um pecado é cometido, ele é registrado diante de Deus. Desde que Deus tenha dito que quem pecar deve morrer, Ele tem de executar Seu julgamento sobre os pecados. Não existe maneira de escapar, pois o registro do pecado já está lá.
Em segundo lugar, o conhecimento do pecado está em nossa consciência. Embora haja um registro do pecado diante de Deus, enquanto você não tomar conhecimento dele, ainda será capaz de sorrir e regozijar-se em sua cadeira e agir como se nada houvesse ocorrido. Mas uma vez que tome conhecimento daquele pecado, o pecado que está diante de Deus entra na sua consciência. Inicialmente, esse pecado estava somente diante de Deus; agora ele é identificado na sua consciência. Que é a consciência? É uma “janela”. A luz de Deus resplandece em seu interior através da janela da sua consciência. Toda vez que a luz de Deus brilha em você, você se sente pouco à vontade e sabe que fez algo errado.
Pode ser que haja alguém aqui que estacionou o carro no sentido contrário. Pode ser que não estivesse cônscio do seu erro e estivesse totalmente despreocupado. Mas uma vez que eu o mencionei, ele se sentirá inquieto interiormente. Minhas palavras moveram o registro de seu pecado do departamento de polícia para ele. Portanto, a consciência é alterada pelo conhecimento. Sem conhecimento, você ignora seus pecados; e desde que a consciência dentro de si não o moleste, você se sentirá em paz. Mas assim que tiver o conhecimento e começar a perceber o ponto de vista de Deus e da lei sobre você, sua consciência não cessará de incomodá-lo.
É verdade que todos têm uma consciência? Certamente todos têm uma consciência. Contudo, algumas consciências estão obstruídas e a luz de Deus não pode entrar. Algumas consciências são como uma janela de cozinha que tem uma espessa camada de sujeira sobre ela. Por ela você pode ver a sombra de um homem movendo-se, mas não pode ver o homem claramente. Se a sua consciência não puder receber a luz de Deus, você estará despreocupado e alegre. Mas no momento em que ouvir o evangelho e vir seus próprios pecados, sua posição diante de Deus e o registro de seus pecados diante Dele, sua consciência terá um problema. Ela ficará incomodada; não estará em paz, mas irá condená-lo. Você perguntará o que deve fazer para ser capaz de permanecer diante do Deus justo, e como ser justificado diante deste Deus tão justo.
O que é surpreendente quanto à consciência é que, na pior das hipóteses, ela pode adormecer, mas ela nunca morrerá. Nunca pensemos que nossa consciência morreu. Ela nunca morrerá, mas adormecerá. Entretanto, quando a consciência de muitos desperta, eles acham que é tarde demais, que não têm mais a oportunidade de crer ou de ser salvos. Não pense que nossa consciência nos deixará em paz. Um dia ela nos acusará. Um dia ela falará. Muitos que pensavam assim, que faziam muitas coisas más, achavam que escapariam. Mas, quando a consciência deles finalmente acordou, eles foram capturados por ela.
Que fazem as pessoas quando sua consciência desperta e elas percebem que pecaram? Tão logo a consciência as capture, elas tentam fazer o bem praticando boas obras. Qual é o propósito do homem ao tentar fazer boas obras? O seu propósito é subornar a consciência. A consciência mostra ao homem que ele pecou. Então, agora ele faz mais atos de caridade e faz mais boas obras para dizer à sua consciência que, apesar de ter feito tanta coisa errada, ele também faz todas essas coisas boas. Que significa fazer boas obras? Significa subornar a consciência quando esta começa a acusar, de modo a abrandar sua condenação. Essa é a forma de salvação inventada pelo homem.
Mas lembre-se de que essa é a maneira errada. Onde reside esse erro básico? O erro encontra-se na nossa suposição de que o pecado existe apenas em nossa consciência. Esquecemo-nos de que o pecado também existe diante de Deus. Se o pecado existisse somente em nossa consciência, então necessitaríamos realizar, quando muito, dez boas obras para compensar cada erro nosso. Entretanto, o problema agora não é somente com a nossa consciência. O problema agora é o que está diante de Deus. Eu não posso ser absolvido do julgamento por uma infração de estacionamento proibido, apenas porque estaciono o carro corretamente uma centena de vezes. Pecado é algo diante de Deus. Não é somente algo em nossa consciência. Não somente precisamos lidar com o pecado em nossa consciência; também temos de lidar com o nosso pecado diante de Deus. Somente quando tivermos lidado com o registro do pecado diante de Deus, é que o pecado em nossa consciência poderá ser tratado. Não podemos lidar com o problema na consciência primeiro, pois esta poderá ser apaziguada pelo auto-engano. Mas lembre-se de que a consciência nunca morrerá.
Talvez você ainda não tenha visto a consciência em funcionamento. Freqüentemente vejo pessoas atormentadas pela consciência. Quando a luz de Deus vem, a consciência fica incomodada. Se houvesse um buraco no chão, uma pessoa em tal condição se arrastaria para dentro dele. Ela faria qualquer coisa para apaziguar sua consciência. Ela até daria sua vida para redimir-se do pecado. Por que Judas se enforcou? Porque sua consciência não o deixava em paz. Ele havia traído Jesus e sua consciência não o deixava em paz.
Por que Deus não precisa enviar muitos anjos para jogar os homens no lago de fogo como se jogassem pedras? Por que não há necessidade de Deus ter muitos anjos guardando o lago de fogo? Deus não teme uma revolta no inferno? É bem possível que para um homem que pecou, o inferno seja mais uma bênção do que uma maldição. Quando a consciência se levanta para condenar um homem, ela exige que o homem seja punido. A punição não é apenas uma exigência de Deus, mas também do homem. Antes de ver o que é o pecado, você tem medo da punição. Mas após ver o que é o pecado, você encara a punição como uma bênção. Você já viu criminosos ou assassinos no momento da execução? Antes de ver seu pecado, um homem pode alegrar-se em matar. Mas depois de ver seu pecado, ele se alegrará com sua própria execução. Portanto, o inferno não é somente um lugar de punição. É também um lugar de fuga. É o derradeiro lugar de refúgio. O pecado na consciência causa dor hoje e clama por punição na era vindoura. Portanto, para Deus nos salvar, Ele precisa lidar com nossos pecados diante Dele, e também precisa lidar com nossos pecados em nossa consciência.
Existe um terceiro aspecto do pecado. O pecado não está somente diante de Deus e na consciência do homem; ele está também na carne do homem. Isso é o que nos diz Romanos 7 e 8. Que é o pecado na carne? Vimos que por um lado há o registro dos pecados diante de Deus, e que, por outro, existe a condenação dos pecados na consciência do homem. Agora vemos o terceiro aspecto: o poder do pecado e as atividades do pecado na carne do homem. O pecado tem seu ofício. O pecado está chefiando. O pecado está na carne do homem como chefe. Lembre-se de que o pecado é o chefe chefiando na carne.
Que quero dizer com isso? Os pecados diante de Deus e na própria consciência do homem são objetivos. Para mim, o registro dos pecados diante de Deus e a condenação dos pecados em minha consciência são questões do meu sentimento com relação ao pecado. Mas o pecado na carne é subjetivo. Isso significa que o pecado que está habitando em mim tem o poder de forçar-me a pecar; ele tem o poder de incitar-me e levantar-me para pecar. Isso é o que a Bíblia chama de pecado na carne.
Por exemplo, pode haver um irmão que ganha cem dólares por mês, mas gasta cento e cinqüenta. Ele gosta de pedir dinheiro emprestado. É a sua disposição. Se ele não pede emprestado, suas mãos começam a coçar, e até sua cabeça e corpo coçarão. Depois de gastar todo seu salário, ele precisa pedir algum dinheiro emprestado e gastá-lo para sentir-se bem. Nele podemos ver os três aspectos: primeiro, ele tem muitos credores, que têm os registros de seus débitos; segundo, a menos que ele não tenha conhecimento das conseqüências de se pedir emprestado (neste caso ele ainda continuará tranqüilamente pedindo emprestado) ele perceberá que está em perigo e assim ficará preocupado não somente com o registro da dívida perante seus credores, como também com a sensação desagradável que sente em sua consciência; além disso, há o pecado em sua carne. Ele sabe que é errado pedir emprestado, contudo sente-se inquieto a menos que continue a fazê-lo. Algo o está induzindo e incitando, dizendo-lhe que há meses não pede dinheiro emprestado e que deveria fazê-lo uma vez mais. Que é isso? Isso é o pecado na sua carne. Por um lado, o pecado é um fato para ele; esse pecado resulta em um registro do pecado diante de Deus e na sua consciência. Por outro lado, o pecado é um poder na sua carne; ele o incita e compele, até força e empurra-o para pecar.
Se nunca resistiu ao pecado, você ainda não sentiu o poder dele. Mas se tentar resistir ao pecado, sentirá o poder dele. Você não sente a força da correnteza de um rio quando se deixa levar por ela. Mas se tentar ir contra a correnteza, sentirá a força dela. A maioria dos rios na China correm do ocidente para o oriente; assim, se você tentar viajar do oriente para o ocidente, sentirá quão poderosos são os rios da China. Os que mais conhecem o poder do pecado são também os mais santos, pois são os que tentam se opor e permanecer contra o pecado. Se você se une ao pecado e segue seu curso, certamente não conhecerá sua força. O pecado na sua carne está o tempo todo incitando e compelindo-o a pecar, mas somente quando você desperta para lidar com o pecado é que perceberá que é um pecador perdido e destinado a perecer. Só então você saberá que está sem recursos e que não tem solução para o problema do pecado em sua carne, sem mencionar a presença dos pecados na sua consciência e o registro dos pecados diante de Deus.
Portanto, precisamos ver que quando Deus nos salvou, Ele tratou com todos os três aspectos. O pecado interior é tratado pela cruz e pela crucificação do velho homem. Já mencionamos isso muitas vezes, por isso não iremos repeti-lo agora. Nosso estudo da Bíblia desta vez abrange a maneira de Deus lidar com nossos pecados diante Dele e a condenação dos pecados em nossa consciência. De início, mencionei o problema do pecado e dos pecados. Os pecados referem-se aos atos pecaminosos diante de Deus e em nossa consciência. Toda vez que a Bíblia menciona pecados, ela se refere aos atos pecaminosos diante de Deus e em nossa consciência. Mas toda vez que a Bíblia menciona o pecado na carne, ela usa a palavra pecado, e não pecados. Se você lembrar-se disso não terá problemas mais tarde.
Agradecemos a Deus porque a Sua salvação é completa. Ele tratou com nossos pecados diante Dele. Ele também julgou nossos pecados na pessoa do Senhor Jesus. Além disso, o Espírito Santo aplicou a obra de Cristo a nós, para que pudéssemos receber o Senhor Jesus e ter paz em nossa consciência. Uma vez que a consciência é purificada, não há mais percepção dos pecados. Muitas vezes ouvi cristãos dizerem que o sangue do Senhor Jesus purifica-nos de nossos pecados. Quando pergunto se sentem paz e alegria, eles dizem que às vezes ainda sentem a presença de seus pecados. Isso é inconcebível. Estou alegre porque quando a consciência é purificada, não mais precisamos estar conscientes dos pecados. Se nossa consciência ainda está consciente dos pecados é porque ainda há registro de pecados diante de Deus. Mas se os pecados se foram de diante de Deus, como ainda podemos estar conscientes deles? Uma vez que os pecados diante de Deus foram tratados, os pecados em nossa consciência também devem ter sido tratados. Assim sendo, não precisamos mais estar conscientes de nossos pecados.

Extraído do livro " O Evangelho de Deus"

O Jardim do Éden, figura de uma igreja local- W. J. Watterson

O jardim do Éden, onde Adão e Eva habitavam antes do seu pecado, era o paraíso de Deus aqui na Terra. Um local perfeito, onde o homem podia viver em comunhão, também perfeita, com seu Deus. Infelizmente esse estado tão maravilhoso parece ter durado pouco, pois o homem, como conseqüência do seu pecado, foi destituído desta posição privilegiada e expulso do jardim.
Podemos aprender muito, porém, ao examinar os poucos versículos que falam daquele jardim. Neste artigo é minha intenção destacar algumas das características do jardim do Éden que correspondem a características de uma igreja local que segue o padrão do Novo Testamento. Sabemos que tal igreja é sagrada aos olhos de Deus, e que, hoje, é ali que Ele deseja ter comunhão perfeita com Seus servos (veja I Co 3:16-17; I Tm 3:14-15; Mt 18:20; etc.). Seria natural, portanto, encontrar várias semelhanças entre estes dois “paraísos”, entre o local onde Deus teve, pela primeira vez, comunhão com o homem, e o local onde, hoje, Ele procura tal comunhão.
Quero destacar, então, algumas destas semelhanças, lembrando-nos, porém, de algo simples mas de suma importância: quando falar em “igreja”, neste artigo, estarei sempre me referindo a um grupo de pessoas reunidas unicamente ao nome do Senhor Jesus Cristo, sem qualquer vínculo denominacional. Jamais estarei indicando um prédio religioso, ou uma organização humana, ou algo parecido.
1. Plantado por Deus (Gn 2:8)
O jardim do Éden não foi plantado por mãos humanas; a Bíblia afirma claramente que “plantou o Senhor Deus um jardim”. Deus fez tudo conforme Ele queria, de acordo com a Sua vontade e o Seu propósito.
E o mesmo acontece em relação a uma verdadeira igreja de Deus hoje em dia; ela será plantada por Deus. Isto quer dizer que não é um decreto humano que determina o nascimento de uma igreja, nem é necessário ter a autorização de uma instituição ou autoridade humana para que ela passe a existir. O ensino claro do Novo Testamento é que onde um grupo de cristãos, mesmo que pequeno (“Porque onde estiverem dois ou três …”) estiver se reunindo regularmente (“… reunidos …”; o verbo, no grego, é um particípio perfeito na forma passiva, indicando um ato que continua no presente, e feito por uma força externa), atraídos unicamente ao nome do Senhor Jesus Cristo (“… em Meu nome”; não somente com a autoridade dEle, mas atraídos ao Senhor Jesus), ali existe um “santuário de Deus”, uma igreja local (“ali estou no meio deles”). A operação do Espírito Santo atrai um grupo de cristãos ao nome singular do Senhor Jesus Cristo, e devido à ação desta Pessoa divina, sem qualquer influência ou autoridade humana, Deus planta uma igreja local!
Isto é confirmado pelo Seu aviso à igreja em Éfeso (Ap 2:1-7). Deus mesmo diz que, se necessário, iria remover aquele candeeiro; só Ele poderia fazer isto, pois Ele é quem havia plantado aquela igreja, no começo.
É claro que Ele usa vasos humanos para executar esta obra (I Co 3:6-9), mas estes serão apenas “cooperadores de Deus” (I Co 3:9); o poder e a autoridade sempre serão dEle.
Que possamos sempre lembrar deste fato tão solene! A igreja não é uma instituição humana, plantada por homens, que pode ser manipulada ou “cortada” por homens. Deus é quem planta; só Ele é quem tem autoridade para plantar, para preservar, e até, em casos extremos, para cortar.
2. Um lugar agradável (Gn 2:8).
O lugar escolhido por Deus para plantar este jardim chamava-se Éden, uma palavra hebraica que significa “agradável”, ou “prazer”. Deus criou um jardim perfeito, onde Ele poderia passar momentos agradáveis juntamente com o homem que criara. O profeta Isaías indica que naquele jardim havia “regozijo e alegria, … ações de graça e som de música” (Is 51:3).
Da mesma forma, o Senhor deseja que o Seu povo possa experimentar, hoje, o prazer maravilhoso da Sua presença. E esta comunhão, tão agradável, deve ser encontrada no seio da igreja local. É verdade que cada um deve ter comunhão, individualmente, com seu Salvador, mas é um fato bíblico que, nesta dispensação da graça, Deus fortalece e anima seus filhos através da comunhão da igreja. Ele quer que, na igreja, haja um só sentimento, um só amor (Fl 2:2), onde os membros mais fracos possam ser ajudados pelos mais espirituais (Gl 6:1), todos “lutando juntos pela fé evangélica” (Fl 1:27). Ele quer que a comunhão sincera e verdadeira do Seu povo, uns com os outros e com Ele, possa animar e consolar a cada um, trazendo verdadeiro prazer espiritual! Aqui na Terra poucas coisas se comparam à esta comunhão divina; é realmente sublime o prazer que um verdadeiro servo de Deus sente em lembrar do seu Senhor junto com um grupo dos seus irmãos, por menor ou mais humilde que este grupo seja. Como disse o Espírito, através de Davi: “Oh! Como é bom e agradável viverem unidos os irmãos” (Sl 133:1).
Isto nos faz lembrar, porém, de algo muito importante. Irmãos, será que sentimos prazer nas reuniões da nossa igreja? Ela é um lugar agradável a nós? Se a resposta for “não”, será que estamos nos esforçando, positivamente, para que esta situação mude? Não de uma maneira hipócrita, querendo que todos concordem conosco, mas “considerando cada um os outros superiores a si mesmo” (Fl 2:3).
Ou ainda, será que a comunhão da nossa igreja local é tão verdadeira e espiritual que os novos convertidos sentem prazer nesta comunhão? Será que estamos obedecendo à exortação do Espírito: “restabelecei as mãos descaídas e os joelhos trôpegos; fazei caminhos retos para os vossos pés, para que não se extravie o que é manco, antes seja curado” (Hb 12:12-13)? Estamos animando, ou ajudando a desanimar?
E a pergunta mais solene: será que o “Senhor, Deus dos céus, Deus grande e temível” (Ne 1:5), considera a minha igreja local como um lugar agradável? Será que a igreja onde você se reúne é um lugar onde Ele pode gozar de comunhão verdadeira com Seu povo, como Ele fazia, no começo, lá no Éden? É triste quando a nossa falta de fidelidade aos princípios tão simples do Novo Testamento, a nossa arrogante insistência em introduzir idéias humanas no meio da igreja de Deus, a nossa falta de paciência e tolerância uns com os outros, ou o nosso materialismo, acabam por desagradar, envergonhar e irritar o nosso Deus. Senhor, poupe-nos desta tristeza tão amarga!
3. Um lugar acessível (Gn 2:8)
O jardim de Deus foi plantado no Éden, mas o Espírito nos dá ainda mais detalhes; foi “da banda do Oriente”, isto é, virado para o Oriente. Porque mencionar este fato, aparentemente irrelevante? A Palavra preciosa e perfeita de Deus não omite qualquer coisa necessária, e nem tão pouco menciona qualquer coisa desnecessária. O que podemos aprender, então, desta expressão: “da banda do Oriente”?
A palavra hebraica aqui traduzida “Oriente”, junto com suas cognatas, aparece muitas vezes no Velho Testamento (um total de 171 vezes). Sem tomarmos o espaço necessário para entrar em detalhes, podemos afirmar que, analisando com cuidado todas estas ocorrências, fica claro que, na Bíblia, o Oriente é o lugar do homem afastado de Deus. Quando a Bíblia fala de alguém indo para o Oriente, está enfatizando que ele se afasta de Deus, e aquele que vem do Oriente geralmente é alguém que esteve bem longe de Deus. Isto é apenas figurativo; hoje, ir para o Oriente não é sinônimo de afastamento de Deus, e nem os habitantes do Ocidente são, de qualquer forma, superiores aos do Oriente. Mas o Espírito nos ensina, também, através de figuras, e a figura apresentada pelo Oriente, na Bíblia, é a de um lugar longe de Deus. Eis as razões para tal afirmação:
Das 171 ocorrências de “oriente”, “oriental”, etc, no Velho Testamento, 37 vezes a palavra tem outro significado (sendo traduzida por “antigamente”, “tempos eternos”, etc.), e 68 vezes temos uma referência geral, onde o oriente é usado simplesmente como um ponto de referência, e não figurativamente (“para o oriente e para o ocidente”, e expressões semelhantes). Das 66 ocorrências que restam, onde a menção da palavra “oriente” parece ter sido usada com um propósito figurativo, apenas 20 parecem, a primeira vista, indicar que o oriente é figura de algo bom. Mas estes versículos são tão bem interpretados (e, na maioria dos casos, até melhor) se olharmos com mais cuidado, aplicando a figura do oriente como representando o lugar do homem, longe de Deus.
Contrastando com estas 20 ocorrências, temos 46 onde o Espírito Santo liga, claramente, o oriente com aquilo que não vem de Deus. A expressão “vento oriental” ocorre 19 vezes, sendo que, em 16 destas, ela é sinônimo absolutamente claro de destruição ou pecado (veja, por exemplo, Gn 41:6; Is 27:8; Jr 18:17; Ez 27:26). Veja, também, as pessoas que foram para o oriente: Adão e Eva, depois da queda (Gn 3:24); Caim (Gn 4:16); Ló (Gn 13:11); os outros filhos de Abraão (Gn 25:6), etc. Em Ez 8:16, lemos de “cerca de vinte e cinco homens, de costas para o templo do Senhor, e com os rostos para o oriente; adoravam o sol virados para o oriente”.
Em vista disto, parece ser justificável afirmar que o Oriente, na Bíblia, indica o lugar do homem, longe de Deus, um lugar pecador e inútil.
Como podemos entender, então, o motivo que levou o Espírito a destacar que o jardim ficava na banda do oriente do Éden? É o mesmo que temos no Tabernáculo e no Templo visto por Ezequiel (Ez caps. 43, 46, e 47), cujas portas olhavam para o Oriente. É uma figura da graça de Deus, que tornou a salvação acessível ao ser humano. Quando o pecador, perdido em seu pecado, quisesse, pela operação do Espírito, buscar a Deus, ele iria virar as costas ao Oriente, e a primeira coisa que ele iria ver seria a porta da casa de Deus! Não seria necessário rodear a casa, procurando a entrada; Deus a colocou bem na sua frente. Louvamos a Deus porque Ele não tornou a salvação desnecessariamente complicada. O pecador que deseja ter o perdão dos pecados não tem que sair procurando um caminho escondido; a Porta, aberta pela graça de Deus, está ao alcance do mais fraco ser humano!
A igreja local deve ser um lugar acessível. Não um lugar onde qualquer um entra, sem questionamento, mas onde qualquer um que queira se submeter à Palavra de Deus encontrará livre acesso. Não estamos tratando de recepção à Ceia do Senhor; o Novo Testamento fala de recepção à comunhão da igreja, e isto inclui muito mais que simplesmente o partir do pão. Só poderá ser aceito à comunhão da igreja local (e, portanto, participar da Ceia) aquele que, confessando o Senhor Jesus como Salvador publicamente pelo batismo, estiver disposto a obedecer plenamente os princípios neo-testamentários que governam a igreja local, e manter-se separado do mundo e do pecado. Jamais devemos abrir mão desta exigência. Mas não devemos acrescentar qualquer outro obstáculo; não podemos exigir um certo tipo de roupa (além da vestimenta decente, é claro), ou determinado nível social, ou grau de instrução, etc. Qualquer discriminação humana é totalmente condenada (veja Tg 2:1-13).
Aquilo que Deus exige, para a entrada na Sua casa (que hoje é a igreja local, I Tm 3:15) não pode ser esquecido; qualquer ser humano só pode entrar pela Porta. Mas irmãos, não podemos dificultar desnecessariamente este processo; a porta da igreja local tem que estar olhando para o Oriente, para os pecadores e para os indoutos. Adotar táticas humanas, diluir a mensagem, e animar mais as reuniões, são sugestões da carne; mas mostrar um amor verdadeiro e sincero aos pecadores, apresentar o Evangelho de maneira tão clara que até uma criança possa entender, fazer com que os visitantes se sintam realmente bem-vindos em nosso meio, sair ao encontro deles de casa em casa se eles não querem vir ao salão onde nos reunimos, isto é tornar a igreja acessível. O padrão elevado que Deus exige tem que ser mantido; o que nós não temos o direito de fazer é acrescentar, às exigências de Deus, as nossas próprias.
4. Um jardim atraente (Gn 2:9)
O jardim do Éden deve ter sido, sem sombra de dúvida, um lugar extremamente belo. Não simplesmente um lugar agradável, onde o espírito encontrava prazer (como vimos acima), mas também um lugar onde os olhos se enchiam com as belezas físicas ali expostas. Deus, o sábio Criador, plantou árvores, e eram árvores agradáveis à vista. Aquele jardim manifestava o poder e a perfeição do Seu Criador.
Da mesma forma, uma igreja local deve manifestar, perante os homens e os anjos, a beleza da santidade de Deus. Além de ser um lugar onde o verdadeiro cristão encontrará prazer espiritual junto com seu Senhor, deve ser também um lugar onde os indoutos ou incrédulos poderão ver a ordem e perfeição que são características do nosso Deus.
I Coríntios cap. 14 deixa isto bem claro. Ao mostrar a necessidade de haver ordem nas reuniões da igreja, o Espírito nos revela, primeiro, o lado negativo (v. 23). Se a reunião for desordenada, os incrédulos ou indoutos irão dizer que somos loucos. Mas os vs. 24 e 25 apresentam o lado positivo: quando tudo é feito “com decência e ordem” (v. 40), o resultado é que o nome de Deus será glorificado (v. 25).
Em relação à “decência”, estamos precisando, hoje em dia, reaprender o significado da palavra “reverência”. Lamentavelmente, muitas das igrejas de Deus estão se portando com tanta leviandade, bagunça e falta de reverência, que o nome de Deus acaba sendo blasfemado (compare Rm 2:24). Que o Senhor nos dê a coragem para desprezar as táticas sensacionais e barulhentas, que só agradam à nossa alma; que Ele nos dê a intrepidez necessária para valorizarmos as reuniões simples, reverentes e espirituais que agradam ao nosso espírito e, principalmente, a Deus.
Quanto à “ordem”, é importante lembrarmos que a igreja não é um lugar sem autoridade, onde cada um faz o que bem entende; não é uma ditadura, onde um homem domina sobre os outros; nem é uma democracia, onde a vontade da maioria é feita; a igreja é uma Teocracia, onde Deus reina. Homens fieis e santos, levantados por Ele, presidem sobre o povo de Deus, submetendo-se, porém, ao Senhor dos senhores (Hb 13:17, etc).
Amados, a igreja de Deus é o lugar onde a beleza da Sua santidade deve ser vista. Que possamos fazer tudo com decência e ordem (I Co 14:40), resplandecendo como luzeiros no mundo (Fl 2:15), para que o mundo seja atraído pelas belezas do nosso Deus, reveladas no Senhor Jesus Cristo, e não seja confundido pelas nossas artimanhas.
5. Um lugar onde havia alimento (Gn 2:9)
O jardim do Éden não satisfazia apenas aos olhos; também fornecia alimento abundante e variado, com toda sorte de árvore boa para alimento.
Uma igreja que não esteja fornecendo alimento para o rebanho está em grande falta, e dificilmente poderá crescer. Para haver crescimento, é necessário alimento, e este deve ser encontrado, principalmente, na igreja, pois o Novo Testamento mostra claramente que é em comunhão com a igreja que o cristão cresce (veja Ef 4:11-16, por exemplo).
Deus fez provisão para esta necessidade, pois “Ele mesmo concedeu uns para … pastores e mestres”. Ele próprio deu, para cada igreja, irmãos capacitados para alimentar o povo de Deus através do ensino da Palavra. E não são somente os pastores e ensinadores que tem esta responsabilidade; os anciãos também devem ser aptos para ensinar (I Tm 3:2). Nem sempre esta aptidão será para o ensino público. Muito pode ser feito em conversas ou visitas particulares, em circunstâncias onde o ensino público não pode, ou não consegue, surtir o efeito desejado. Mas, seja por meio do ensino público ou individual, a verdade é que, em cada igreja local, o alvo deve ser que cada um dos membros esteja encontrando alimento para as suas necessidade.
Como está a sua igreja neste aspecto? Há alimento suficiente? Há variedade de alimento (“toda sorte de árvore”)? Se não, você está preocupado com isto? “Mas eu não tenho o dom de ensinar”, você diz; ou então: “Mas eu sou uma irmã; a Bíblia me proíbe de ensinar publicamente na igreja”. Mas, se não temos o dom de ensinar, estamos exortando em particular, com palavras e com nosso exemplo? Se não podemos ensinar publicamente, estamos ensinando em particular? Nós louvamos a Deus pelos servos eruditos que Ele capacitou para nos ensinar; mas não podemos esquecer que não é necessário saber definir Hermenêutica ou Homilética para poder alimentar o povo de Deus. O Servo perfeito, que soube “dizer uma palavra em tempo oportuno ao cansado”, era Aquele que despertava “todas as manhãs” para ouvir a voz de Deus (Is 50:4). Precisamos dos eruditos; principalmente, porém, necessitamos de homens e mulheres que, não se preocupando com o reconhecimento por parte dos homens, procuram estar em comunhão com Deus, ouvindo a Sua voz, para poderem nos falar palavras oportunas.
Senhor, dê-nos servos e servas que são despertados, toda manhã, pela Tua voz; servos que possam dizer: “O Senhor Deus me abriu os ouvidos, e eu não fui rebelde” (Isa. 50:5); servos que nos transmitam aquilo que homem ou livro nenhum os ensinou, mas aquilo que aprenderam do Senhor.
6. No meio, a árvore da vida (Gn 2:9)
Quando Eva tentou descrever o jardim do Éden, ela disse que a árvore que estava no meio do jardim era a árvore do conhecimento do bem e do mal (3:2-3). Parece que tanto esta, quanto a árvore da vida, estavam na região central do jardim. Mas repare que para Eva a árvore central, a mais importante, era a árvore proibida; para Deus, porém, a árvore que estava no centro do jardim era a árvore da vida (2:9), uma figura muito clara daquele que nos dá a vida eterna, o Senhor Jesus.
O centro de toda verdadeira igreja de Deus será ocupado unicamente pelo Senhor Jesus Cristo. É ao nome dEle que reunimos (Mt 18:20), atraídos por Ele e submissos a Ele. Ele é o Cabeça da Igreja que é o Seu corpo, e será também de toda igreja local que Lhe pertença (Cl 2:19; Ef 4:15, etc.). Não temos o direito de colocar qualquer outra coisa, ou pessoa, no centro da igreja. Se não somos atraídos unicamente ao nome de Cristo, se não permanecemos unidos simplesmente por amá-Lo, se não nos submetemos incondicionalmente à Sua palavra, então renunciamos ao direito de ter a Sua presença conosco. Poderemos ser uma “igreja”, mas não seremos uma igreja de Deus.
Irmãos e irmãs, que possamos recusar toda teoria, invenção, preceito ou tradição que vem dos homens, submetendo-nos somente à autoridade de Cristo. Que saibamos respeitar aqueles homens dedicados que Ele próprio levantou para guiar o rebanho, mas jamais permitir que qualquer mortal usurpe o lugar central na igreja local; este lugar pertence somente a Cristo! Que possamos nos esforçar para ver Cristo entronizado, respeitado, obedecido e exaltado em nosso meio!
7. Um lugar elevado (Gn 2:10)
Percebemos que este jardim era mais alto do que as terras ao seu redor, pelo fato de que o rio saia do jardim e fluía para as terras ao redor. É um fato comprovado que a água, em seu estado líquido, quando não impelida por uma força externa, corre sempre do lugar mais alto para o mais baixo. Como este rio nascia no Éden, e dali saia para outras terras, fica bem claro que o jardim estava num local elevado.
Esta deve ser, também, uma característica das igrejas de Deus hoje. Elas estão no mundo, mas não são do mundo. O mundo é inimigo de Deus (Tg 4:4) — uma igreja local é casa de Deus (I Tm 3:15), é um “santuário de Deus, … sagrado” (I Co 3:17). Espiritualmente, deve haver uma distância enorme entre uma igreja de Deus e o mundo. A organização da igreja não irá copiar a política humana, com sua democracia desordeira; as atividades da igreja não poderão ser confundidas com atividades de instituições mundanas; a adoração duma igreja verdadeira será sempre muito superior à religiosidade fria e formal do mundo religioso.
A igreja não deve procurar atrair os pecadores com aquilo que o mundo oferece. O mundo tem diversão, filmes, festas; a igreja deve apresentar algo muito diferente, e muito superior. Há algo de errado com nosso proceder se os incrédulos se sentem bem em nossas reuniões. Numa reunião onde o Espírito tem liberdade de agir, o resultado será exatamente o contrário: o incrédulo ou indouto é “por todos convencido, e por todos julgado” (I Co 14:24). Ele irá se sentir incomodado, percebendo que não somos iguais a ele (espiritualmente); ele irá perceber que é um pecador, e que necessita da salvação. Devemos ser cordiais e amáveis, fazendo com que ele se sinta muito bem-vindo; mas não podemos esquecer que nossa intenção, ao trazê-lo, não é simplesmente que ele volte outra vez; é que ele perceba o seu pecado, e aceite a Cristo.
Em suma: as igrejas de Deus devem ser lugares espiritualmente elevados. Que nos chamem de radicais, fanáticos, etc.; nós não podemos, em qualquer circunstância, abaixar os padrões elevados de santidade e pureza que Deus exige de nós, Seu povo. O desejo de Deus para o Seu povo é que sejam um alvo, um exemplo para o mundo perverso (Fl 2:15). Que responsabilidade! Estamos buscando algo mais elevado do que aquilo que o mundo apresenta? Ou estamos manchando nosso testemunho com a lama da irreverência e leviandade, sob o pretexto de atrair as multidões? “O santuário de Deus, que sois vós, é sagrado” (I Co 3:17). É melhor uma igreja pequena, mas “elevada”, do que uma igreja numerosa vivendo no vale, junto com o mundo.
8. Regado por um rio (Gn 2:10)
O jardim do Éden não era árido ou estéril, como já temos visto; era um lugar onde cresciam toda sorte de árvores; um jardim cheio de vida, exuberante e atraente. Mas, de onde vinha a vida deste jardim? Em parte, da neblina que regava toda a terra (2:6), mas principalmente do rio que saia do Éden.
Um rio, na Bíblia, é uma figura muito apropriada do Espírito Santo, conforme a Palavra de Deus nos explica em Jo 7:38-39. Este rio, portanto, é uma figura da atuação do Espírito Santo no meio do povo de Deus, dando-lhe a vida e poder necessários para servir ao Senhor. É o Espírito quem nos torna capazes de servir a Deus, pela Sua presença conosco (Jo 14:16) e pelos dons que Ele nos dá (I Co 12:8). Ele também habita na igreja local (em I C. 6:19 o cristão, individualmente, é visto como um templo do Espírito; em 3:16, porém, é da igreja local que o contexto está tratando), e é Ele quem irá operar no meio da igreja, levando-nos a obedecer ao Cabeça. A autoridade é de Cristo; o poder é do Espírito.
Irmãos, é fundamental que nossas igrejas tenham um rio para regá-las. A vida, o poder de nossas igrejas não pode vir de outra fonte, a não ser o Espírito Santo. Se, na igreja onde você se reúne, o trabalho é feito no poder do homem, conforme a programação dos homens, onde está o Espírito de Deus? Se a vida da igreja da qual você faz parte é mantida pelas pregações eloqüentes, pelos corais bem afinados, ou pelo prédio luxuoso, onde está o rio que deveria regar esta igreja? É nosso dever tirar da igreja todas aquelas coisas que só agradam a carne, coisas que o Espírito de Deus jamais nos autorizou a introduzir. Podem ser inofensivas; podem até ser bonitas, mas vão limitar a liberdade que o Espírito tanto deseja ter. As religiões humanas, para atrair e manter seus membros, precisam da ajuda de muitas coisas humanas; uma igreja de Deus, porém, para atrair cristãos ao nome de Cristo, só precisa do poder do Espírito que, como um rio, irá espalhar a Sua influência por todo o jardim.
9. Influenciava a outros (Gn 2:10)
Aquele rio não permanecia só no jardim do Éden; ele se dividia e atingia outras terras também (Havilá, Cuxe, Assíria), permitindo que elas fossem beneficiadas pela vida que havia nele. Um rio, pela sua própria natureza, não consegue ficar parado, mas avança sempre. Você se lembra daquela profecia impressionante, registrada em Ezequiel 47? Um rio que, quanto mais se afastava do santuário, e quanto mais se aproximava do mar Morto, mais profundo ficava; e o homem que guiava Ezequiel lhe disse: “tudo viverá por onde quer que passe este rio” (v. 9).
O mesmo deve acontecer com uma igreja local. O poder do Espírito Santo, operando nela como um rio, não poderá ser escondido do mundo, nem trancado dentro de quatro paredes. Quando a igreja manifesta, pela direção do Espírito, o Senhorio de Cristo, ela irá resplandecer como um luzeiro no mundo (Fl 2:15), e outros serão atraídos pelo seu testemunho. A ordem do Senhor aos Seus discípulos foi para que avançassem até aos confins da terra (At 1:8), e o Espírito de Deus deseja estimular-nos a cumprir esta ordem. Veja o exemplo da igreja em Tessalônica. “Porque de vós repercutiu a palavra do Senhor, não só na Macedônia e Acaia, mas por toda a parte se divulgou a vossa fé para com Deus” (I Ts 1:8). Todo cristão sincero deverá estimular esta visão em seus irmãos, desejando expandir, alcançar outras terras que estão secas.
Esta não é uma necessidade distante; muitas vezes, a terra mais seca não está do outro lado do planeta, mas no nosso quintal. Na sua cidade, quantos bairros estão desertos espiritualmente? Perto da sua igreja, quantas cidades sem nenhum testemunho conforme as Escrituras? Como seria bom se o Senhor reavivasse em nossos corações o desejo de multiplicar pela divisão. Não divisão contenciosa — isto é sempre obra da carne — mas divisão unida e pacífica. Parece uma contradição; multiplicar pela divisão, dividir com união; mas é a melhor maneira de expandir. Uma igreja, por exemplo, com 60 membros, pode muito bem se tornar em duas igrejas, cada uma com aproximadamente 30 membros, reunindo em dois bairros diferentes da cidade. Permaneceriam plenamente unidas, cooperando uma com a outra, mas seriam agora duas igrejas locais distintas. Um novo bairro daquela cidade teria a bênção de possuir um testemunho ao nome de Deus (os incrédulos daquele bairro não iriam apreciar isto, mas haveria uma luz brilhando ali). Outras pessoas teriam a oportunidade, não apenas de ouvir o evangelho pelas pregações, mas de ver o evangelho pela vida da igreja. E, com o tempo, estas duas igrejas teriam crescido o suficiente para se dividirem novamente, produzindo, pela divisão pacífica e dirigida pelo Espírito Santo, uma verdadeira multiplicação.
Se estamos gozando das bênção do Espírito Santo na nossa igreja, vamos olhar para os lados. Há muitas terras aí fora, mesmo em nossas próprias cidades e regiões, aonde Deus quer acender um candeeiro, espalhando as bênçãos que só o Espírito Santo distribui, trazendo vida a mares mortos, trazendo luz a noites escuras. Que o rio que sai do nosso jardim, da nossa igreja, possa se dividir em quatro, oito, vinte braços, para que, por todos os cantos deste imenso país, possa resplandecer e brilhar a glória de Deus, através do testemunho do Seu povo.
Conclusão
Deus plantou o jardim do Éden para nele ter comunhão com o homem. Adão e Eva abusaram deste privilégio, e foram expulsos dali. Depois desta tentativa de comunhão, fracassada por culpa do homem, Deus habitava no meio no Seu povo nas habitações construídas conforme as Suas instruções (no Tabernáculo e nos Templos). Hoje, “entretanto, não habita o Altíssimo em casas feitas por mãos humanas” (At 7:48), pois nesta dispensação, Ele habita no cristão, individualmente (I Co 6:19), e na igreja, coletivamente (I Co 3:16-17). Quantas vezes, porém, sentimos que estamos transformando a casa de Deus em nossa própria casa, onde as nossas leis são obedecidas, as nossas pregações são anunciadas, as nossas músicas são apresentadas, e a nossa honra é buscada. “Não sabeis que sois santuário de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá; porque o santuário de Deus, que sois vós, é sagrado”.
Que o Senhor mostre cada vez mais aos nossos corações a santidade e preciosidade duma igreja local. É um paraíso de Deus aqui na Terra. Que o Espírito de Deus nos dirija de volta à Bíblia, de onde temos desviado, levando-nos a desenvolver, em nosso meio, estas nove características que eram evidentes naquele primeiro paraíso, junto com as outras que o Novo Testamento nos apresenta. Sendo assim, da maneira que Deus quer, estaremos mostrando ao mundo a glória do Rei dos reis e Senhor dos senhores; estaremos desfrutando de comunhão com Deus, experimentando um pouquinho do Céu na Terra; principalmente, irmãos, estaremos agradando aquele que tanto fez por nós, apresentando as condições necessárias para que Ele tenha comunhão conosco. Que possamos estudar a Palavra de Deus, para saber “como se deve proceder na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, coluna e baluarte da verdade” (I Tim. 3:15).

Irmãos em Cristo Jesus.

Irmãos em Cristo Jesus.
Mt 5:14 "Vós sois a luz do mundo"