domingo, 23 de novembro de 2008

Habite em Cristo: O Crucificado- Andrew Murray

“Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim” Gl 2:19b-20a “...fomos crucificados com ele na semelhança da sua morte” Rm 6:5a “Estou crucificado com Cristo”. Desta forma o apóstolo expressa a segurança de uma comunhão com Cristo nos Seus sofrimentos e morte, bem como sua plena participação em todo poder e benção de tal morte. O apóstolo estava tão certo do que dissera – ele sabia que estava morto de fato – que acrescentou: “... já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim”. Quão abençoada deve ser a experiência de tal união com o Senhor Jesus! Ser capaz de olhar para a Sua morte como sendo minha, de olhar para a Sua perfeita obediência a Deus, Sua vitória sobre o pecado e completo livramento do seu poder como sendo meus. Quão abençoado é perceber que o poder de Sua morte opera diariamente, pela fé, na mortificação da carne, com energia divina, renovando toda a vida em perfeita conformidade à vida ressurreta de Jesus! Habitar em Jesus, o Crucificado, é o segredo do crescimento desta nova vida, a qual é sempre gerada a partir da morte do que é natural. Procuremos entender isso. A expressão “unidos com ele na semelhança da sua morte”, irá nos ensinar o que significa habitar no Crucificado. Quando um ramo é enxertado ao tronco sobre o qual crescerá, é necessário que seja firmemente afixado e que habite exatamente onde o tronco foi ferido e cortado para receber o ramo. Não há enxertos sem ferimentos, sem que a vida interior da árvore seja aberta e exposta para receber o ramo estranho. É somente através de tais ferimentos que pode-se obter acesso para a comunhão da seiva, do crescimento e da vida do tronco mais forte. Assim ocorre também com Jesus e o pecador. Somente quando somos unidos a Ele na semelhança da sua morte é que seremos na semelhança da Sua ressurreição, participante da vida e do poder que há Nele. Na morte de cruz, Cristo foi ferido e em suas feridas abertas preparado um lugar onde podemos ser enxertados. E assim como é dito ao ramo ao ser enxertado: “habite aqui na ferida do tronco que agora o sustentará”, a mensagem vem à alma que crê: “habite nas feridas de Jesus; aí é o lugar de união, de vida e de crescimento. Aí você verá como Seu coração foi aberto para recebê-lo; como a sua carne foi rasgada para que o caminho pudesse ser aberto para você ser unido a Ele e ter acesso a todas as bençãos que fluem de Sua natureza divina”. Você também percebeu como o ramo precisa ser arrancado da árvore natural onde originalmente crescia e ser cortado conforme o lugar preparado no tronco ferido. Da mesma maneira o crente precisa ser moldado na conformidade da morte de Cristo, e ser crucificado e morrer com Ele. Tronco e ramo feridos são cortados para se encaixarem, na semelhança um do outro. Há uma comunhão entre os sofrimentos de Cristo e os seus sofrimentos. As experiências de Cristo precisam tornar-se suas. A disposição que Ele manifestou em escolher e suportar a Cruz precisam ser suas. Como Ele, você deverá dar pleno consentimento à condenação e ao julgamento justo, de um Deus santo, contra o pecado. Como Ele, você deve consentir em entregar sua vida sobrecarregada de pecado e maldição à morte, e através dela passar para a nova vida. Como Ele, você experimentará que somente através do auto-sacrificio do Getsêmani e do Calvário se encontra o caminho para a alegria e a frutificação da vida ressurreta. Quanto mais nítida for a semelhança entre o tronco e ramo feridos, mais precisamente as feridas se encaixarão uma nas outras, e mais certos, fáceis e completos serão a união e o crescimento. É em Jesus – Aquele que foi crucificado – que devo habitar. Devo aprender a olhar para a Cruz, não apenas como propiciarão perante Deus mas também como vitória sobre o diabo; não apenas como libertação da culpa mas também como libertação do poder do pecado. Devo contemplá-Lo sobre a Cruz como sendo totalmente meu, oferecendo-Se para receber-me na mais intima união e comunhão, para fazer-me participante do pleno poder de Sua morte para o pecado e da nova vida de vitória. A Cruz é a porta de entrada para a vida de vitória. Devo render-me a Ele sem restrições, com muita oração e ardente desejo, implorando para entrar cada vez mais intimamente na comunhão e na semelhança da Sua morte, do Espírito no qual Ele provou a morte. Devemos experimentar e entender porque a cruz é, desta maneira, o lugar de união. Na cruz o Filho de Deus entra na mais plena união com o homem entra na mais plena experiência de ter Se tornado o Filho do homem, um membro de uma raça amaldiçoada. É na morte que o Príncipe da vida conquista o poder da morte e é tão somente na morte que Ele pode fazer-me co-participante de tal vitória. A vida que Ele concede é uma vida que sai da morte, cada nova experiência do poder desta vida depende da comunhão da morte. Morte e vida são inseparáveis. Toda a graça concedida por Jesus, o Salvador, é somente ministrada ao longo do caminho de comunhão com Jesus, o Crucificado. Cristo veio e tomou o meu lugar; preciso colocar-me em Seu lugar e ali habitar. E há um lugar apenas que é tanto Seu quanto meu e esse lugar é a cruz. A cruz é Seu lugar por opção mas é meu lugar por causa da maldição do pecado. Ele foi à cruz para buscar-me e somente ali, na cruz, posso encontrá-Lo. Quando Ele ali me encontrou, a cruz era o lugar de maldição. Ele experimentou isso, pois “maldito todo aquele que for pendurado em madeiro”. Ele transformou a cruz num lugar de benção. Tal fato é a minha experiência, pois Cristo nos libertou da maldição tornando-Se maldição por nós. Quando Cristo toma meu lugar, Ele permaneceu o que era, o amado do Pai. Mas na Sua comunhão comigo Ele partilha da minha maldição e morre a minha morte. Quando permaneço em Seu lugar, que ainda é e sempre será meu, ainda sou o que sempre fui por natureza: aquele que foi amaldiçoado e que merece morrer. Mas unido a Ele, compartilho de Sua benção e recebo Sua vida. Quando veio unir-se comigo, Ele não pode evitar a cruz, pois a maldição sempre aponta para a cruz como sendo seu fim e seu fruto. Quando procuro ser um com ele também não posso evitar a cruz, pois em nenhum lugar além da cruz vida e libertação são encontrados. Da mesma forma como a minha maldição indicou-Lhe a cruz como sendo o único lugar onde Ele poderia estar completamente unido a mim, Suas bençãos também me indicam a cruz como sendo o único lugar onde posso ser unido a Ele. Minha cruz Ele a tomou como Sua; devo tomar Sua cruz como minha, preciso ser crucificado com Ele. Na medida em que habitar diária e profundamente em Jesus – Aquele que foi crucificado, é que vou provar a doçura de Seu amor, o poder de Sua vida, a plenitude de Sua salvação. Amado crente! Profundo mistério é a cruz de Cristo. Temo que há muitos cristãos que se contentam em olhar para a cruz, com Cristo morrendo ali pelos seus pecados, mas cujos corações não ardem desejosos de ter comunhão com Aquele que foi crucificado. Mal sabem que Ele os convida para tal comunhão. Ou talvez se contentam em crer que as aflições rotineiras da vida, as quais os filhos do mundo também experimentam, são sua porção de cruz de Cristo. Eles não compreendem o que é estar crucificado com Cristo. Não compreendem que tomar a cruz significa assemelhar-se a Cristo nos princípios que o moveram ao longo do Seu caminhar de obediência. A completa abnegação da carne com seus desejos e prazeres, a perfeita separação do mundo em todas as suas formas de pensar agir, o perder e o odiar a sua própria vida, a rendição do ego e de seus interesses em favor de outros – esta é disposição daquele que tomou a cruz de Cristo, daquele que procura dizer, “estou crucificado com Cristo, habito em Cristo, o Crucificado.” Agradaria você ao seu Senhor vivendo numa comunhão tão íntima quanto Sua graça o permitir? Oh, ore para que Seu Espírito o conduza para esta bendita verdade, este é o segredo do Senhor para aqueles que O temem. Sabemos como Pedro conheceu e confessou Cristo como o Filho do Deus vivo enquanto a cruz ainda era motivo de ofensa (Mt 16:6, 17, 21, 23). A fé que crê no sangue que perdoa e na vida que renova só pode alcançar o crescimento perfeito na medida em que habitar sob a cruz e, em comunhão viva com Ele, procurar e conformar-se perfeitamente com Jesus, o Crucificado. Oh Jesus, nosso Redentor crucificado, ensina-nos a não apenas crer em Ti, mas a habitar em Ti, a tomar a Tua cruz não apenas como a base do nosso perdão, mas como a lei de nossas vidas. Oh, ensina-nos a amá-la, não somente porque nela levaste a nossa maldição, mas porque nela entramos na mais íntima comunhão contigo e somos crucificados contigo. E ensina-nos, que na medida em que nos rendemos completamente para sermos possuídos pelo Espírito, através do Qual suportastes a cruz, seremos feitos co-participantes do poder e da benção aos quais tão somente a cruz permite o acesso.

Autor: Andrew Murray

Extraído da revista, À Maturidade, número 28 – Outono de 1996

sábado, 15 de novembro de 2008

Os Nicolaítas- Arcadio Sierra Diaz

"6 Tens, contudo, a teu favor que odeias as obras dos nicolaítas, as quais eu também odeio ".

O Senhor volta a comparar-se com a igreja de Éfeso e a louvar de novo, dizendo que lhe agrada que Éfeso aborreça o que Ele aborrece, as obras dos nicolaítas. Quem são os nicolaítas? O termo nicolaíta, vêm do grego "nikoláos", das raízes nikaos, governante, dirigente, guia, também tem a conotação de conquistar ou vencer, e laite ou laos (λαός), gente comum, secular, povo, laicado; da qual se deriva a palavra laico, significando, pois, "os que vencem ao povo", ou os que exercem autoridade sobre o povo, os que vencem aos laicos, pessoas que se têm por superiores aos crentes comuns; é esse afã de exercer autoridade e domínio sobre o povo, formando assim um tipo de hierarquia (governo da casta sacerdotal).

De onde se deduz que aqui o Senhor condena a mesma incipiente tendência na Igreja, de criar um partido de pessoas ambiciosas que se erijam por cima das demais, ávidas de poder, e que finalmente haviam de criar um sistema clerical divisório e exclusivista, formando assim dois grupos na Igreja: um minoritário, elitista e soberbo, chamado clero, e outro integrado pela grande massa dos santos, o laicado, governado e submetido pelo primeiro, hierarquia que vemos tomar força nos sistemas do catolicismo e o protestantismo, estorvando assim a ecônomia de Deus. Isso aborrece o Senhor da Igreja. O Senhor aborrece os ambiciosos de poder ao estilo Diótrefes. Mesmo no povo hebreu, Deus quis que Seu povo fosse todo um reino de sacerdotes (Êxodo 19:6), mas devido à adoração ao bezerro, perderam esse previlégio, e foi escolhida a tribo de Levi para exercer (Êxodo 32; Deuteronômio 33:8-10).

A respeito dos nicolaítas, diz Matthew Henry:

"É, pois, possível que se trate de uma seita de "iniciados" (gnósticos), que pretendiam estabelecer uma divisão do povo de Deus em castas, o qual havia de derivar, no decorrer do tempo, no estabelecimento da casta sacerdotal dentro da Igreja oficial do Império; isto havia de comportar os ritos e ceremônias que abundam em todas as religiões mistéricas, como pode ver-se mesmo na Igreja Romana, e mais todavía na chamada Ortodoxia. Mesclando o cerimonialismo judeu com a filosofía grega, temos já uma seita que combina o entusiasmo espiritual com o relaxamento moral; muita fantasia religiosa mesclada com despreocupação ética; orgulho e vaidade de mística retórica e de caráter "superior" que, na realidade, introduzia na Igreja o egoísmo, a soberba, o descuido do amor fraternal; afinal de contas, a mesma ortodoxia estava também em perigo. Como se defender de tais inimigos? Nos diz claramente a palavra de Deus: "Minhas ovelhas ouvem minha voz", diz o Senhor (João 10:27). E o próprio João nos diz: " E vós possuís unção que vem do Santo e todos tendes conhecimento.... Permaneça em vós o que ouvistes desde o princípio.... Isto que vos acabo de escrever é acerca dos que vos procuram enganar. (1 João 2:20, 24, 26)". (Matthew Henry. Comentário Bíblico do Apocalipse. CLIE. 1991. Pág.: 334).

A Igreja de Jesus Cristo toda é sacerdotal, e a imposta classe clerical mediadora prejudica o sacerdócio universal dos crentes. O Senhor não tolera que nada venha a se assenhorar de Sua Amada, a que Ele comprou com Seu sangue. O livro dos Atos e as cartas de Paulo determinam o governo da igreja local em mãos de um presbitério ou grupo de anciãos ou bispos (pastores). Não obstante, se adverte que no período de Éfeso só se conhece certos esforços pessoais, como o caso de Diótrefes (cfr. 3 João 9,10), de exercer autoridade sobre os santos; mas há indícios de que ao final do primeiro século e concretamente no segundo, ao redor do ano 125, talvez em um intento de imitar o cerimonialismo judeu, começou a dar-se a inclinação de elevar a um bispo sobre seus companheiros anciãos, assunto este que paulatinamente conduziu ao clericalismo, em detrimento da autêntica dependência do Senhor e do sacerdócio de todos os santos. A institucionalização da tribo de Levi e a família sacerdotal de Arão, não foi a intenção inicial de Deus no povo hebreu, e no Novo Testamento Deus volta a Seu propósito original (cfr. 1 Pedro 2:5,9; Apocalipse 1:6; 5:10). Hoje se desenvolveu o clericalismo no sistema babilônico e suas ramas.

No começo do século segundo, Inácio, bispo da igreja de Antioquía, registra o Ato que já se estava dando em alguns lugares com relação à erronêa diferenciação entre bispo e presbítero. Inácio, no curso de sua viagem a Roma como prisioneiro, rumo ao martírio, escreveu cartas a várias igrejas locais, quase todas na Ásia Menor (Éfeso, Magnésia, Trália, Filadélfia, Roma, Esmirna, e a Policarpo), nas quais encontramos a cita mais antiga sobre a distinção entre bispo e presbítero. Ali pela primeira vez aparece o que estava dando de colocar hierárquicamente o bispo por cima dos presbíteros e declarando que o bispo (o nomeava em singular) era o representante de Deus o Pai, e que os presbíteros são o sinédrio de Deus, a assembléia dos apóstolos. (Favor ler a carta de Ignácio aos Esmírnios no apêndice ao final deste capítulo). Com o tempo isto degenerou na nefasta divisão entre o clero e laicos. Foi se introduzindo a hierarquia na Igreja. Foi se estabelecendo e generalizando sutilmente essa "vaidosa" forma episcopal de governo, a qual chegou a ser dominante e universal. É possível que até o final do período de Esmirna hajam persistido as duas modalidades, a do bispo de uma só igreja local, e a do bispo que agia como se tivesse o direito de dirigir-se com autoridade às igrejas em outras localidades. Se diz que depois do ano 150 d. C., os concílios eram celebrados únicamente com esta classe particular de bispos, e logicamente que as leis eram ditadas só por eles. Muitos alegam um acervo de razões para que isto se sucedesse, mas ante as razões do Senhor não há justificação alguma. Como quais razões lutam? Entre outras, como o crescimento e extensão da Igreja, as perseguições, fazer frente ao surgimento de seitas, heresias e divisões doutrinais. Mas devemos em justiça observar a constância que durante os períodos de Éfeso, Esmirna, e muita parte de Pérgamo, nenhum bispo reclamou para si autoridade de caráter universal sobre o resto dos bispos e da Igreja inteira, como mais tarde o fez o bispo de Roma. Conforme a Palavra de Deus, um bispo (em grego episkopos, supervisor) não é de maior hierarquia que um ancião. Tomemos novamente o exemplo de Atos 20, no qual o apóstolo São Paulo chama anciãos aos dirigentes da igreja da localidade de Éfeso; e a esses mesmos anciãos, no verso 28 lhes chama bispos e também pastores, porque diz:

“Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes( ofício de pastores) a igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue".

Os líderes das igrejas locais são os anciãos, constituidos pelos apóstolos da obra (Atos 14:23; Tito 1:5), sem que ele signifique que ocupam hierárquicamente uma posição mais elevada. legítimos pastores são aqueles irmãos mais maduros espiritualmente da igreja local, quem, por seu amadurecimento e visão mais ampla de Cristo, se constituem em desinteressados e humildes servidores de seus irmãos. O Senhor Jesus foi enfático quando afirmou:" 25 Então, Jesus, chamando-os, disse: Sabeis que os governadores dos povos os dominam e que os maiorais exercem autoridade sobre eles.26 Não é assim entre vós; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva;27 e quem quiser ser o primeiro entre vós será vosso servo;28 tal como o Filho do Homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos. " (Mt. 20:25-28).O ancião ou bispo não deve assenhorar-se da igreja do Senhor, senão a supervisar e a vigiar no amor do Senhor. A igreja apostólica se distinguia porque em cada igreja local não havia um mas vários bispos (episkopoi) ou presbíteros (presbuteroi), que eram os mesmos anciãos ou pastores, pois se tratava de títulos que se davam aos mesmos ofícios, como atesta a Bíblia em Atos 20:17,18; Tito 1:5,7; 1 Timoteo 5:17; 1 Pedro 5:1; Filipenses 1:1; a primeira de Clemente aos Coríntios, capítulos 42, 44 e 57. Também Jerônimo, Agostinho de Hipona, o papa Urbano II (1091) e Pedro Lombarde admitiram que em sua origem bispos e presbíteros eram sinônimos, mas com o tempo o homem foi mudando as coisas de Deus, e o concílio de Trento (1545-1563) se encarregou de que esta verdade fosse convertida em uma heresia. Têm havido uma interpretação errônea quanto a alguns versos de Hebreus 13. No 7 diz: "Lembrai-vos dos vossos guias,(1*) os quais vos pregaram a palavra de Deus...". No 17 diz: "Obedecei aos vossos guias e sede submissos para com eles; pois velam por vossa alma, como quem deve prestar contas...". No 24 diz: "Saudai todos os vossos guias...". Em primeiro lugar se observa que sempre se fala no plural ao referir-se aos guias ou pastores; como quando Paulo escreve à igreja da localidade macedônica de Filipos, e na saudação lhes diz: "Paulo e Timóteo, servos de Jesus Cristo, a todos os santos em Cristo Jesus que estão em Filipos, com os bispos e diáconos". Isto é saudável porque evita que um só indivíduo se assenhore da igreja, como se vê atualmente em certas congregações. Em segundo lugar, voltando ao Hebreus, essa obediência dos santos a seus pastores de nenhuma maneira deve ser cega, senão que deve tratar-se de uma sujeição à luz dos postulados do evangelho; uma obediência na comunhão espiritual, na qual tome parte ativa o Espírito Santo; uma obediência iluminada e guiada inteligentemente pelo Espírito do Senhor, no conhecimento do amor de Cristo, o qual se faz corporativamente. Qualquer sujeição forçada e hierarquizada na Igreja, é abominável ao Senhor.

*(1) Em Hebreus 13:7,17 e 24, o original grego para a palavra pastores usa hegouménon, que significa "guias" ou "dirigentes". Pela frase que segue no verso 7 se deduz que a expressão não pode limitar-se só aos pastores (os que governam), mas também aos mestres, os que ensinam.
O clericalismo dos sistemas religiosos cristãos é uma mescla de elementos do judaísmo com alguns traços da organização sacerdotal da religião babilônica, com suas distintas variantes culturais. Babilônia é a berço da religião satânica, e tudo o que provém de Satanás vai de rumo a desvirtuar os princípios do Senhor para Sua Igreja. Na religião babilônica, com suas variantes egípcia, grega, romana, etc..., havia uma casta sacerdotal dominante. No judaísmo houve uma organização sacerdotal temporal, que foi mudada por um sacerdócio eterno, que inclui a Igreja. Na legítima Igreja do Senhor não existe o clericalismo, pois todos somos sacerdotes. O apóstolo Pedro o manifesta com suma clareza em 1 Pedro 2:5, assim:"... também vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo ".

Outros textos que fortalecem e confirmam esta afirmação podemos tomar em Apocalipse 1:6 e 5:10:"... e nos constituiu reino, sacerdotes para o seu Deus e Pai, a ele a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém! "."... e para o nosso Deus os constituíste reino e sacerdotes; e reinarão sobre a terra".Não há lugar a dúvida alguma de que não é a vontade do Senhor que em Sua Igreja haja posições e classe clericais, nem muito menos que os homens se assenhore de algo tão importante para o Pai, como é a Igreja, a Esposa que Ele se propôs conseguir a Seu Filho. A autoridade na Igreja é o Espírito Santo. Quando o ancião da igreja atribui a si essa autoridade emanada de seu cargo, acarreta consequências desastrosas no rebanho do Senhor. Se há confundido o ministério, trabalho ou serviço de pastor com um cargo revestido de uma autoridade mal interpretada e pior aplicada, devido a que se ha substituído a norma bíblica pela interpretação humana (cfr. Colossenses 2:20-22).Nas igrejas locais, os anciãos presidem, pastoreiam, ensinam, guian, mas não governam com senhorio, pois essa classe de governo implica certa cota de poder, e o poder quer controlar tudo, convertendo-se em abuso do poder, tratando com dureza as ovelhas. Há de se levar em conta que todo poder tende a personalizar-se e a assenhorar-se. É um princípio claro do Senhor que em Seu Corpo não haja distinção entre clerigos e laicos. Na época em que se reuniu o concílio de Jerusalém, ao redor do ano 50 d. C., na Igreja não havia distinção mesmo entre ministros e laicos. Ali diz que " Então, se reuniram os apóstolos e os presbíteros para examinar a questão. " (Atos 15:6). Diz o apóstolo Pedro em sua primeira epístola 5:1-3:" Rogo, pois, aos presbíteros que há entre vós, eu, presbítero como eles, e testemunha dos sofrimentos de Cristo, e ainda co-participante da glória que há de ser revelada:2 pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós, não por constrangimento, mas espontaneamente, como Deus quer; nem por sórdida ganância, mas de boa vontade;3 nem como dominadores dos que vos foram confiados, antes, tornando-vos modelos do rebanho. ".Isto escreve, abaixo da inspiração do Espírito Santo, o homem que o catolicismo romano proclama como o primeiro papa; sistema hierarquizado, clerical e assenhorador por excelência. Mas lastimosamente não só esse sistema adoece dessas exaltações, mas os diferentes sistemas religiosos dentro da cristianismo, que se vão desmembrando do sistema mãe, herdando, como é de se supor, muitas de suas formas externas, incluindo metodologias, liturgias, clericalismos e sistemas eclesiológicos extra bíblicos. Mesmo que os primeiros passos firmes se deram no século segundo, período de Esmirna, entretanto, a carta à igreja de Éfeso nos indica que já se levantavam homens interessados em promover a perda da igualdade entre os irmãos, foi quando começou a se deteriorar o sacerdócio de todos os santos. A Igreja do Senhor começou quando existia a escravidão institucional mesmo entre os santos; mas tanto o escravo como o amo eram iguais na igreja e diante do Senhor. Eventualmente podia dar-se em qualquer das igrejas locais que o escravo fosse bispo enquanto que o amo não. Se observares detalhadamente os sistemas religiosos cristãos de hoje, verás que no catolicismo romano persiste o sacerdócio, nas igrejas nacionais e denominações institucionalizadas existe o sistema clerical e nas igrejas congregacionais e independentes, o sistema pastoral.

Irmãos em Cristo Jesus.

Irmãos em Cristo Jesus.
Mt 5:14 "Vós sois a luz do mundo"