quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Cristianismo de mente vazia- john Stott

extraído do livro " crer também é pensar"
O que Paulo escreveu acerca dos judeus não crentes de seu tempo poderia ser dito, creio, com respeito a alguns crentes de hoje: “Porque lhes dou testemunho de que eles têm zelo por Deus, porém não com entendimento”. Muitos têm zelo sem conhecimento, entusiasmo sem esclarecimento. Em outras palavras, são inteligentes, mas faltam-lhes orientação.
Dou graças a Deus pelo zelo. Que jamais o conhecimento sem zelo tome o lugar do zelo sem conhecimento! O propósito de Deus inclui os dois: o zelo dirigido pelo conhecimento, e o conhecimento inflamado pelo zelo. É como ouvi certa vez o Dr. John Mackay dizer, quando era presidente do Seminário de Princeton: “A entrega sem reflexão é fanatismo em ação, mas a reflexão sem entrega é a paralisia de toda ação”.
O espírito de anti-intelectualismo é corrente hoje em dia. No mundo moderno multiplicam-se os programatistas, para os quais a primeira pergunta acerca de qualquer idéia não é: “É verdade?” mas sim: “Será que funciona?”. Os Jovens têm a tendência de ser ativistas, dedicados na defesa de uma causa, todavia nem sempre verificam com cuidado se sua causa é um fim digno de sua dedicação, ou se o modo como procedem é o melhor meio para alcançá-lo. Um universitário de Melbourne, Austrália, ao assistir a uma conferência na Suécia, soube que um movimento de protesto estudantil começara em sua própria universidade. Ele retorcia as mãos, desconsolado. “Eu devia estar lá”, desabafou, “para participar.
O protesto é contra o que?” Ele tinha zelo sem conhecimento.
Mordecai Richler , um comentarista canadense, foi muito claro a esse respeito: “O que me faz Ter medo com respeito a esta geração é o quanto ela se apóia na ignorância. Ser o desconhecimento geral continuar a crescer, algum dia alguém se levantará de um povoado por aí dizendo Ter inventado... a roda”.
Este mesmo espectro de anti-intelectualismo surge freqüentemente para perturbar a Igreja cristã. Considera a teologia com desprazer e desconfiança. Vou dar alguns exemplos.
Os católicos quase sempre têm dado uma grande ênfase no ritual e na sua correta conduta. Isso tem sido, pelo menos, uma das características tradicionais do catolicismo, embora muitos católicos contemporâneos (influenciados pelo movimento litúrgico) prefiram o ritual simples, para não dizer o austero. Observe-se que o cerimonial aparente não deve ser desprezado quando se trata de uma expressão clara e decorosa da verdade bíblica. O perigo do ritual é que facilmente se degenera em ritualismo, ou seja, numa mera celebração em que a cerimônia se torna um fim em si mesma, um substituto sem significado ao culto racional.
Por outro lado, há cristãos radicais que concentram suas energias na ação política e social. A preocupação do movimento ecumênico não é mais ecumenismo em si, ou planos de união de igrejas, ou questões de fé e disciplina; muito pelo contrário, preocupa-se com problema de dar alimento aos famintos, casa aos que não tem moradia; com o combate ao racismo, com os direitos dos oprimidos; com a promoção de programas de ajuda aos países em desenvolvimento, e com o apoio aos movimentos revolucionários do terceiro mundo. Embora as questões da violência e do envolvimento cristão na política sejam controvertidos, de uma maneira geral deve-se aceitar que luta pelo bem estar, pela dignidade e pela liberdade de todo homem, é da essência da vida cristã. Entretanto, historicamente falando, essa nova preocupação deve muito de seu ímpeto à difundida frustração de que jamais se alcançará um acordo em matéria de doutrina. O ativismo ecumênico desenvolve-se com reação à tarefa de formulação teológica, a qual não pode ser evitada, se é que as igrejas neste mundo devam ser reformadas e renovadas, para não dizer, unidas.
Grupos de cristãos pentecostais, muitos dos quais fazem da experiência o principal critério da verdade. Pondo de lado a questão da validade do que buscam e declaram, uma das características mais séria, de pelo menos alguns neo-pentecostais, é o seu declarado anti-intelectualismo.
Um dos líderes desse movimento disse recentemente, a propósito dos católicos pentecostais, que no fundo o que importa” não é a doutrina, mas a experiência”. Isso equivale a por nossa experiência subjetiva acima da verdade de Deus revelada. Outros dizem crer que Deus propositadamente dá às pessoas uma expressão inteligente a fim de evitar a passagem por suas mentes orgulhosas, que ficam assim humilhadas. Pois bem. Deus certamente humilha o orgulho dos homens, mas não despreza a mente que ele próprio criou.
Estas três ênfases - a de muitos católicos no ritual, a de radicais na ação social, e a de alguns pentecostais na experiência - são, até certo ponto, sintomas de uma só doença, o anti-intelectualismo.
São válvulas de escape para fugir à responsabilidade, dada por Deus, do uso cristão de nossas mentes.Num enfoque negativo, eu daria como substituto este trabalho “a miséria e a ameaça do cristianismo de mente vazia”. Mais positivamente, pretendo apresentar resumidamente o lugar da mente na vida cristã. Passo a dar uma visão geral do que pretendo abordar. No segundo capítulo, a título de introdução, apresentarei alguns argumentos - tanto seculares como cristãos - a favor da importância do uso de nossas mentes. No terceiro, constituindo a tese principal, descreverei seis aspectos da vida e responsabilidade cristãs, nos quais a mente tem uma função indispensável. Concluindo , procurarei prevenir contra o extremo oposto, também perigoso, de abandonar um anti-intelectualismo superficial para cair num árido super-intelectualismo. Não estou em defesa de uma vida cristã seca, sem humor, teórica, mas sim de uma viva devoção inflamada pelo fogo da verdade. Anseio por esse equilíbrio bíblico, evitando-se os extremos do fanatismo. Apressar-me-ei em dizer que o remédio para uma visão exagerada do intelecto não é nem depreciá-lo , nem negligenciá-lo, mas mantê-lo no lugar indicado por Deus, cumprindo o papel que ele lhe deu

O Amor é....- David W Dyer

Extraído do Livro " Deixe meu Povo Ir"
O amor é a natureza de Deus. Portanto, a genuína expressão desse amor tem certas características que refletem a natureza divina. Há um certo "sabor" ou "aroma" em alguém que esteja caminhando no amor sobrenatural, que talvez seja muito difícil definir, embora seja muito real. Há sobre uma pessoa assim algo que é uma exibição da divindade de Cristo.
Paulo, em sua primeira carta aos Coríntios, detalha muitas dessas características, de maneira que podemos ser capazes de identificá-las. Não apenas podemos reconhecê-las nos outros, mas também usar tais detalhes para avaliar nossas próprias vidas. Naqueles versículos, podemos examinar nossas vidas e ver se exibimos muito ou pouco da natureza de Deus. Cada uma dessas características define um aspecto da natureza de Cristo, que deveria ser evidente em nós.
Para começar, lemos que: "...o amor é paciente, é benigno..." (1 Co 13:4). Na caminhada com o Senhor, encontraremos muitas situações que nos farão sofrer, algumas vezes muito duramente. Muitas dessas ocasiões são provocadas por outras pessoas. É muito fácil, quando alguém nos provoca dor, termos uma reação maldosa. Isso é especialmente verdadeiro quando o sofrimento dura um longo tempo. Talvez o tempo seja de um, dois, dez ou mesmo trinta anos.
Em tais situações, o amor de Deus sofre pacientemente e continua a ser bondoso com a outra pessoa que está nos causan­do dor. O amor humano nunca pode fazer isso. Ele desaponta e, freqüentemente, desaponta rapidamente. Mas o amor sobrena­tural de Deus continua a amar e a ser bondoso, mesmo quando se depara com um sofrimento prolongado. O amor Dele é o único amor que se comporta desta maneira.
Pode ser que o seu sofrimento não seja provocado por uma outra pessoa. Talvez você esteja doente ou sentindo dores. Mas a expressão de bondade ainda deve ser sua. Se nos tornarmos ranzinzas, impacientes e difíceis por causa de nossa dor, isso será uma evidência de que precisamos de muito mais intimi­dade com a fonte do amor real, que é Jesus.
Somos também ensinados que: "...o amor não arde em ciúmes..." (1 Co 13:4). Já que Jesus é muito humilde, Sua natureza em nós não deve ser invejosa em relação aqueles que têm mais do que nós. Os que são cheios de Sua Vida não se preocupam se alguém tem mais dinheiro ou bens mundanos. Eles não se frustram quando outros são bem sucedidos e eles, não. Não estão lutando para possuir tanto quanto ou até mais do que outros possuem.
Não se preocupam quando outra pessoa é mais notada, mais usada por Deus, mais elogiada ou mais reconhecida. Não se tor­nam amargos quando outros são beneficiados e eles, não. Têm alegria em ver que alguém está sendo abençoado, porque seus corações estão batendo em harmonia com o seu Criador.
Aprendemos ainda que "o amor não se ensoberbece..." e que não é orgulhoso (1 Co 13:4). Isso mostra que os que estão cami­nhando no amor de Deus não estão à procura de reconhecimen­to. Não são orgulhosos do que possuem, em termos de bens materiais; não são cheios de si por causa de sua inteligência, beleza pessoal ou qualquer outra vantagem humana; não são arrogantes por causa dos seus dons espirituais ou pela maneira como Deus os está usando. Essas pessoas não estão procurando oportunidades de serem vistas ou ouvidas e não querem, de maneira alguma, impressionar outras pessoas. Ao contrário, o sabor da verdadeira humildade permeia a vida deles e o seu ministério.
O amor também "...não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses..." (1 Co 13:5). O amor divino não é agressivo. Não demanda "seus direitos", em determinadas situ­ações. Aqueles que estão cheios de tal amor não ofendem os ou­tros, insistindo em que seus métodos e desejos estejam corretos e devam ser cumpridos; não pleiteiam suas idéias e opiniões como as únicas corretas; não usam o próximo em benefício próprio; não procuram a sua própria satisfação em qualquer situação; mas preferem assegurar-se de que os outros estão sendo abençoados.
Aqueles que caminham em amor não se exasperam (1 Co 13:5). Não se ofendem facilmente. Quando são tratados misera­velmente; quando são ignorados; quando são mal compreendi­dos; quando alguém peca contra eles; não ficam instantanea­mente irritados e irados. Por serem humildes, seu orgulho não é ferido.
Tais pessoas verdadeiramente amorosas não reagem de forma natural à provocação; não tentam retaliar quando outros as machucam ou ferem; não "dão o troco". Ao contrário, com os olhos do Espírito, essas pessoas enxergam além da situação aparente e sentem o coração amoroso de Deus para com as pes­soas que abusam delas. As pessoas cheias do amor de Deus são muito inocentes e sem malícia.
Pessoas assim vivem um amor que "...não se ressente do mal..." (1 Co 13:5). Não são rápidas em imputar aos outros motivos errados; não gastam tempo julgando pensamentos e intenções alheios; não perdem tempo imaginando que os outros pensam mal deles nem lhes imputando vários pecados. Realmente existe uma atitude pura, um tipo de "santa inocên­cia" para com o mal, que permeia a vida daqueles que andam em amor.
Obviamente, o amor "...não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade..." (1 Co 13:6). Pessoas realmente amorosas não ficam felizes quando alguém cai em pecado. Quando coisas ruins acontecem com aqueles que se opuseram a elas e lhes fizeram feridas, isso não as fazem felizes. Não se agradam em ver que aquelas pessoas "finalmente" estão recebendo o que merecem.
Em vez disso, oram por seus inimigos. Seu amor não per­mite que elas gostem de ver as dores, dificuldades e falhas daqueles que as maltrataram e abusaram delas. Elas se alegram quando os vêem crescendo espiritualmente e se regozijam quan­do os outros são instruídos e abençoados. Sentem-se alegres porque a obra de Deus segue adiante e a escuridão é derrotada. A alegria delas não acontece quando o mal sucede a outros, mas quando estes são trazidos para uma maior intimidade com Deus.
O amor "...tudo sofre..." (1 Co 13:7). Crentes que são cheios do amor de Deus terão uma tolerância sobrenatural. Não renun­ciam facilmente às outras pessoas. Uma coisa se tornou muito clara para mim depois de muitos anos. É que, do ponto de vista de Deus, as pessoas não são descartáveis. Nós não somos livres para simplesmente nos livrarmos das pessoas de que não gosta­mos ou que nos ofenderam.
É inevitável que ocorram muitos problemas em nossa ca­minhada com o Senhor e em nosso contato com os outros. As pessoas irão pecar, errarão, poderão dizer ou fazer coisas que nos ferirão, possivelmente, de maneira muito profunda. No entanto, apesar de tudo isso, não somos livres para simples­mente descartá-las. O amor suporta todas as coisas.
É muito fácil perder a fé no que se refere à nossa situação e à condição dos outros. No entanto, Paulo nos ensina que o amor "...tudo crê..." (1 Co 13:7). Podemos estar certos de que, quando Deus começa um projeto, Ele tem intenção de acabá-lo. Quando Ele entra na vida de uma pessoa, já sabe o que vai fazer para cumprir os Seus propósitos. Portanto, quando estivermos andando em intimidade com Deus, iremos sentir Sua eterna per­sistência. Iremos receber Dele fé para acreditar que Sua vontade será cumprida.
Essa fé que Deus nos dá gera esperança dentro de nós (1 Co 13:7). Essa esperança é que a glória de Deus será reproduzida em nós através de todas as dificuldades e tribulações pelas quais passamos (Rm 5:2). Aqueles que andam em comunhão com Deus têm a esperança de serem transformados em Sua gloriosa imagem. Sabemos que, algum dia, nosso "pote de barro" será quebrado e a obra gloriosa que Deus fez dentro de nós irá res­plandecer como o sol (Mt 13:43).
Por meio de nossa fé, vemos o futuro. Vislumbramos o que é a verdadeira glória e somos capturados e mantidos cativos por essa visão. É a nossa intimidade com o nosso Criador que nos dá essa esperança. A esperança não só existe em relação a nós mes­mos, mas aos outros crentes também.
O amor "...jamais acaba..." (1 Co 13:8). É a nossa confiança no amor de Deus que nos motiva a perseverar. Somos capacita­dos por Seu amor a tolerar toda e qualquer necessidade e acon­tecimento. Apenas através de nossa comunhão com Ele podemos desenvolver essa tolerância.
Sem tal intimidade, a força humana nos decepciona. Sentimos que não podemos aguentar mais. Mas quando nos saí­mos bem ao entrar na presença de Deus, então encontramos o suprimento para suportar até o final (Mt 10:22). Em Deus existe um suprimento infindável do Seu amor, simplesmente ilimita­do. Ele "...jamais acaba...".
Simplesmente não há uma maneira do ser humano viver do modo descrito acima. Somente a Vida e a Natureza de Deus podem cumprir tal meta, de modo tão sublime. Assim, para viver dessa maneira, precisamos estar continuamente conecta­dos à fonte eterna. Se queremos transmitir Sua natureza; se dese­jamos exalar o doce perfume de Seu caráter; se gememos por ser uma acurada demonstração de Seus sentimentos e pensamen­tos; precisamos cultivar e manter uma comunhão íntima e amorosa com Jesus Cristo.
Aqueles que andam em amor se tornarão exibições da Natureza de Cristo. Serão cheios de bondade, gentileza, paciên­cia e doçura. Os outros sentirão neles algo tão atraente, que desejarão também uma maior intimidade com o seu Salvador. A exibição de Cristo é algo que o Espírito Santo faz dentro de nós.
Todo esse processo não é resultado de dedicação ou esforços humanos. Simplesmente decidir tentar mais arduamente será insuficiente. Não há nada no homem natural que possa imitar isso adequadamente. Portanto, para exibir essa maravilhosa natureza, precisamos andar em uma intimidade cada vez maior com Deus. Precisamos persistir Nele, recebendo continuamente o fluir da Vida Divina, que irá nos transformar à Sua imagem.

Irmãos em Cristo Jesus.

Irmãos em Cristo Jesus.
Mt 5:14 "Vós sois a luz do mundo"