quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

PARTE 5- Romanos- George Howes


PARTE 5
— ROMANOS 9 A 11 —

Com o capítulo 8, o apóstolo concluiu a sua magnífica exposição sobre o
evangelho da graça de Deus, manifestado e enviado por Deus a toda criatura, quer
seja gentio quer judeu, agora ele trata de demonstrar que isso de modo algum
desfaz as promessas de Deus feitas a Abraão a respeito do Seu povo antigo, o
povo de Israel. Ele nos mostrou que nada há que possa impedir que se realize o
propósito de Deus com respeito àqueles que são chamados pela Sua graça por
meio do testemunho do evangelho, agora nos mostra que nada há, tampouco, que
possa estorvar a realização das Suas promessas referentes ao povo de Israel.
Um fato em que apóstolo insiste nesse capítulo, e que é muito importante
reconhecermos, é que Deus é soberano, e que toda a bênção para os seres
humanos é o resultado da Sua soberana misericórdia.
Romanos 9:1 – 5
Nestes versículos o apóstolo revela o intenso amor que sentia pelo povo
terrestre de Deus, os seus irmãos segundo a carne. Recapitula aqui alguns dos
muitos privilégios que lhes pertenciam, concluindo com o fato de ter Cristo nascido
entre eles, acrescentando, porém, a esta referência à Sua humanidade, que Ele é
“sobre todos, Deus bendito eternamente” (Rm 9:5).
Qual foi a razão desta tristeza que o apóstolo sentia no seu coração?
Foi o fato deles terem rejeitado Cristo, o Único que podia fazê-los entrar no
gozo da bênção prometida.
Romanos 9:6 – 16
Entristeceu-se, porventura, por pensar que Deus tinha faltado à Sua
Palavra? Não, isso não podia ser. A sua dor foi causada por ter visto como o povo
ia perdendo a bênção por rejeitar Cristo. Quanto às promessas de Deus, tinha ele
a certeza que nenhuma delas podia deixar de se cumprir, e agora trata de explicar
isso, citando para esse fim 3 pontos:
1 — A promessa de Deus feita a Abraão (veja Rm 9:9).
2 — A vontade de Deus que determinava que Jacó havia de dominar Esaú
(veja Rm 9:11-12).
3 — A Palavra de Deus a Moisés — “Compadecer-me-ei de quem me
compadecer e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia” (Rm 9:15).
O resultado das lições tiradas desses 3 casos se vê no versículo 16:
“Assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que
se compadece”.
Consideremos esses 3 pontos. Em primeiro lugar era verdade, como diziam
os judeus, que Deus fizera uma promessa a Abraão; porém, essa promessa não
dizia respeito a todos os filhos de Abraão, como eles bem sabiam, mas somente a
Isaque e à sua descendência.
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Ismael e outros filhos de Abraão foram postos de lado e a bênção
prometida foi ligada a Isaque, o filho prometido (veja Rm 9:9); — “Em Isaque será
chamada a tua descendência” (Rm 9:7).
Ismael, de cujo nascimento lemos no livro de Gênesis, capítulo 16, foi o
filho da vontade e da energia natural, ao passo que Isaque foi o filho da promessa;
e a bênção divina depende dessa última, da promessa de Deus. Assim o judeu
devia ter compreendido, e nós podemos aprendê-lo, que a bênção “não depende
do que quer” (veja Rm 9:16). De fato lemos: “Não há ninguém que busque a Deus”
(Rm 3:11). É por isso que não pode haver esperança para os seres humanos, quer
judeus quer gentios, senão em Deus que é soberano.
Quando Deus faz uma promessa absoluta e incondicional, é como se nos
declarasse o Seu próprio propósito, e já temos visto que nada há que possa pôr
empecilho à realização do propósito de Deus. É verdade que a bênção prometida
pode não estar ao alcance do poder dos homens por mais que se esforcem, mas o
poder de Deus fará com que eles a gozem.
Isto é a lição que temos no segundo caso acima citado, o de Esaú e Jacó.
Antes mesmo que nascessem, Deus dissera: “O maior servirá o menor” (Rm 9:12).
Mais tarde, os dois fizeram mal, nem um nem outro merecia receber a bênção
prometida, porém Deus, sempre fiel a Sua promessa, assegurou a bênção de
Jacó. Assim vemos que “não depende do que corre” (Rm 9:16). Também lemos:
“Não há quem faça o bem, não há nem um só” (Rm 3:12) e, por isso, novamente
dizemos, não pode haver esperança para os homens senão em Deus que é
soberano.
O terceiro caso citado, isso é, as palavras de Deus a Moisés (veja Rm
9:15), prova e evidencia que Deus, soberano como é, Se compraz de usar o Seu
poder para abençoar os seres humanos, e que não tem prazer algum em julgá-los.
As ditas palavras foram dirigidas por Deus a Moisés logo depois do povo de
Israel ter pecado horrivelmente contra Ele, fazendo o bezerro de ouro (veja Êx 32 e
33:19). Foi aquele um momento em que, com justiça, Deus podia ter destruído
aquele povo por completo, mas em vez disso, falou, dizendo: “Compadecer-me-ei
de quem me compadecer e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia”.
Vemos, então, que sendo todos pecadores, sem mérito algum diante de
Deus, se alguém receber bênção dEle, será em resultado da Sua soberana
misericórdia.
Assim o judeu tem que reconhecer que, quanto a si, tem perdido todo o
direito de receber a bênção, ao passo que Deus certamente há de cumprir a
promessa dada a Abraão. Conseqüentemente, tanto para ele como para o gentio,
toda a bênção depende da soberana misericórdia de Deus.
Romanos 9:17 – 18
O apóstolo considera agora o caso daqueles que não recebem a bênção
divina.
Faraó serve como exemplo desses. Era um homem pecador que se exaltou
contra Deus, desafiando-O com as palavras: “Quem é o SENHOR, cuja voz eu
ouvirei?” (Êx 5:2). Depois disso foi seis vezes avisado solenemente, por meio de
pragas terríveis, contra a loucura de procurar resistir a Deus; mas de todas as
vezes o se coração se endureceu. Lemos que depois de tê-lo suportado com muita
paciência, “o SENHOR endureceu o coração de Faraó” e então ouvimos aquelas
terríveis palavras: “Para isto mesmo te levantei, para em ti mostrar o meu poder e
para que o meu nome seja anunciado em toda a terra” (Êx 9:12, 16; Rm 9:17).
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Lendo no livro de Êxodo vemos que tanto Israel como Faraó eram culpados
diante de Deus e a justiça teria condenado a ambos, porém Deus é soberano, e
mostra-nos ser Ele não só justo em todos os Seus atos, mas também um Deus
que Se compraz em mostrar misericórdia. Quando Faráo endureceu o seu coração
contra Deus, foi destruído pela justiça, ao mesmo tempo que o povo de Israel foi
salvo pela soberana misericórdia de Deus, que o abrigou sob o sangue do
sacrifício da páscoa.
Todo o mundo é condenável diante de Deus; a justiça havia de julgar e
condenar a todos; porém, Deus Se tem manifestado como um Deus Salvador,
soberano em misericórdia, sendo a morte de Cristo a base sobre a qual Ele assim
pode agir.
Romanos 9:19 – 24
Talvez alguém diga: “Por que se queixa Ele ainda? Quem resiste à Sua
vontade? Ainda mais, se é simplesmente uma questão da Sua vontade e do Seu
poder, que posso eu fazer? Se hei-de ser salvo sê-lo-ei efetivamente, e se não, a
culpa não é minha”.
Ah! Ninguém que tivesse uma verdadeira apreciação da majestade,
sabedoria e amor de Deus, falaria assim. O fato de Deus pelo Seu soberano poder
cumprir a Sua vontade não é razão alguma para o homem fazer o que bem quiser,
satisfazendo assim a própria vontade. Não; o princípio da sabedoria é temor de
Deus, e isto faz com que demos a Deus o lugar e a glória que Lhe pertencem.
Devemos aceitar e obedecer logo ao testemunho que Deus nos dá, reconhecendo,
ao mesmo tempo, que, sendo Ele soberano, tem o direito de fazer tudo quanto Lhe
aprouver.
O apóstolo ousada mente afirma esta verdade. Digam os homens o que
disserem, o oleiro tem poder sobre o barro. A coisa formada não pode dizer ao que
a formou: “Por que me fizeste assim?”
“Tu és bom e fazes bem”, lemos no Salmo 119:68, e o coração de quem
teme a Deus e se humilha diante dEle, regozija-se em pensar na Sua soberana
bondade. Porém, se Deus, querendo dar a conhecer co Seu poder e mostrar a Sua
ira, a deixa cair sobre os que se têm preparado a si próprios para a perdição,
tendo-os Ele primeiro suportado com muita paciência e longanimidade, quem é
que se pode queixar? Ninguém.
Por outro lado, Ele mesmo prepara os vasos para a manifestação da Sua
misericórdia. Todos são maus, porém Deus, em misericórdia soberana está
preparando vasos nos quais dará a conhecer as riquezas da Sua glória.
“Os quais (vasos de misericórdia) somos nós”, diz o apóstolo. Oxalá querido
leitor, que nós nos possamos ver, pela fé, entre esses! Pobres miseráveis
pecadores por natureza, se podermos, sequer, melhorar a nossa situação diante
de Deus, não podemos senão lançar-nos sobre a misericórdia soberana de Deus
por meio de Jesus. Escrevendo aos Coríntios, Paulo tratando do estado glorioso
que espera o crente, disse: “Quem para isso mesmo nos preparou foi Deus” (2 Co
5:5).
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Romanos 9:24 – 33
O apóstolo agora afirma que “os vasos de misericórdia” são chamados não
só de entre os judeus, mas também de entre os gentios, e em confirmação disso
cita os profetas Oseías e Isaías.
Oséias tinha profetizado que a graça divina havia de alcançar tanto os
gentios, que nunca tinham recebido promessa alguma a esse respeito, como os
judeus, que tinham perdido, pelo seu pecado, todo o direito a receber a promessa
que lhes fora feita.
Além disso, Isaías tinha dito que apenas uma parte do povo de Israel seria
salva, e isto devido à soberana misericórdia de Deus.
Qual era então o resultado de tudo isso? Vemos que os gentios, que não
buscavam a justiça, alcançaram-na pela fé, enquanto que os judeus, tão religiosos
como eram, não alcançaram essa justiça diante de Deus.
E porquê? Porque os judeus enganaram-se no modo de a alcançar;
procuraram justificar-se pelas suas próprias obra em vez de reconhecerem a sua
incapacidade, e confiaram em Cristo. Rejeitaram Cristo em Quem e por Quem
somente se pode alcançar a justiça de Deus.
Isaías tinha falado da pedra de tropeço que Deus havia de pôr em Sião.
Seria como um santuário para os que cressem, porém como uma rocha de
escândalo e pedra de tropeço para os que não cressem. Os judeus tropeçaram
naquela Pedra — um Cristo humilde, meigo e rejeitado pelos homens — e têm
sido confundidos como atualmente se vê.
Romanos 10:1 – 13
O apóstolo aqui fala do intenso desejo que sentia pela salvação do povo de
Israel, e de como orava a Deus por isso. Testifica do muito zelo que aquele povo
mostrava quanto à religião, mas explica-nos que esse mesmo zelo os impediu de
apreciar o testemunho de justiça pela fé em Jesus Cristo, que Deus lhe estava
enviando.
Na sua cegueira procuravam, pelas suas próprias obras, colocar-se diante
de Deus numa justiça que fosse deles próprios. Recusaram humilhar-se perante
Deus e confessar-Lhe a sua absoluta falta de justiça, e assim não se sujeitaram à
justiça de Deus.
É verdade que Moisés tinha dito: “O homem que fizer estas coisas viverá
por elas” (Rm 10:5); mas quem as podia fazer? Ninguém.
A pessoa, porém, que reconheça isso e se volte para Deus
confessando-Lhe a sua necessidade, descobre logo que da Sua parte Deus lhe
está apresentando, para a sua aceitação pela fé, aquilo que nunca podia alcançar
pelas obras da lei.
Cristo tem vindo! A maldição da lei, pronunciada contra quem não
cumprisse com as suas exigências, sofreu-a Cristo na Sua morte! A vida — o fim
proposto pela lei — alcançamo-la em Cristo ressuscitado!
Plena satisfação, perfeita bênção, justiça, vida, tudo temos em Cristo e tudo
alcançamos pela fé. “O fim da lei é Cristo…” (Rm 10:4). Bendito seja Deus, toda
esta bênção, desde o princípio até ao fim, provém dEle.
Não necessitamos, por assim dizer, subir ao céu para trazer do alto a
Cristo, porque Deus já no-Lo enviou, e Ele por amor de nós se entregou à morte
(veja Rm10:6).
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Tampouco precisamos descer ao abismo para tornar a trazer Cristo de
entre os mortos, porque Deus já O ressuscitou (Rm 10:7).
Que nos resta então fazer? Temos que escutar o testemunho que Deus nos
tem enviado a respeito de Cristo, e sujeitarmo-nos a Ele.
E que diz Ele? Apresenta-nos uma justiça perfeita, uma salvação completa,
dizendo: “Se, com a tua boca, confessares ao Senhor Jesus e, em teu coração,
creres que Deus o ressuscitou dos mortos, serás salvo” (Rm 10:9). Estas palavras
indicam claramente que não se trata de uma simples questão do esclarecimento
da nossa inteligência, mas sim do nosso coração se comover profundamente,
porque “com o coração se crê para alcançar a justiça” (Rm 10:10).
Mas há mais. Junta-se à fé do coração, a confissão da boca: o crente
confessa que Cristo é o seu Senhor.
Quer diante de Deus, quer diante dos homens apresenta-se como
identificado pela fé com Cristo, confessando-O como sendo o seu Senhor. Assim
tem aceitação para com Deus e desfruta o poder da salvação neste mundo,
porque: “Todo aquele que nele crer não será confundido” (Rm 10:11).
Desta maneira, a bênção é por Deus assegurada igualmente aos gentios e
aos judeus e, de acordo com isso, lemos que, referente ao evangelho e a bênção
nele oferecida, “não há diferença entre judeu e grego” (Rm 10:12).
Em Romanos 3:22 e 23 lemos: “Não há diferença. Porque todos pecaram”.
Aqui, no versículo 12 de Romanos 10, lemos: “Não há diferença … porque um
mesmo é o Senhor de todos, rico para com todos os que o invocam”. Bem
podemos confessar humildemente o primeiro desses fatos, enquanto nos
regozijamos diante de Deus pelo segundo.
Vemos então que em Cristo glorificado há bênção sem limites para todos.
Sendo, como homem, exaltado por Deus a ser Senhor de todos, todos se podem
aproveitar das riquezas que nEle há; porém para isso cada um tem de invocá-Lo
individualmente.
Nem zelo nem obras humanas podem alcançar este grande bem, mas “todo
aquele que invocar o nome do Senhor será salvo” (Rm 10:13).
Romanos 10:14 – 21
O ponto principal neste trecho parece ser o fato de que o testemunho de
Deus é para o mundo todo.
Que necessidade há, então, de pregar o evangelho! “Como, pois, invocarão
aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem não ouviram?” (Rm
10:14).
É preciso, e isso fica óbvio, que os pregadores sejam enviados por Deus,
mas que privilégio também é ser enviado! Porventura não desejamos nós ser-Lhe
úteis para Seu serviço?
Como Ele aprecia este serviço! “Quão formosos são os pés dos que
anunciam a paz, dos que anunciam coisas boas!” (Rm 10:15). Sim, quão formosos
aos olhos de Deus! Quão apreciável é para Ele este serviço!
Como isso anima Seus servos, apesar de muita gente recusar aceitar o
testemunho deles!
Isaías deu testemunho, no meio do povo de Israel, referente aos
sofrimentos e à glória de Cristo, mas por fim teve que dizer: “Senhor, quem creu na
nossa pregação?”
O testemunho de Deus tem sido proclamado, e a fé vem pelo ouvir — por
ouvir a Palavra de Deus.
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Logo no princípio, quando Deus chamou o povo de Israel para ser um povo
particular para Si, Moisés predisse a maneira como esse povo havia de deixar de
seguir o Senhor, andando no seu pecado e cegueira e, ainda mais, disse como
Deus havia de dar a bênção a outros, que não pertencessem àquele povo, a fim de
assim despertar nele o desejo de também receber a bênção de Deus que até
agora, na sua coletividade, tem rejeitado.
O apóstolo cita outra vez o profeta Isaías como testemunha desse fato.
Lemos: “Fui achado pelos que me não buscavam, fui manifestado aos que por mim
não perguntavam” (Rm 10:20). Deus manifestou-Se àqueles que não O buscavam
nem perguntavam por Ele. Bendito seja o Seu nome, aprouve-Lhe manifestar-Se a
Si mesmo na pessoa do Seu Filho Jesus àqueles que, como nós, não o buscavam.
Que graça divina! Que graça soberana!
Isaías, porém, acrescentou, falando ainda do povo de Israel: “Todo o dia
estendi as minhas mãos a um povo rebelde e contradizente” (Rm 10:21). E assim
tem acontecido; o testemunho de Deus tem sido aceito entre os gentios ao passo
que a nação de Israel, na sua coletividade, o tem rejeitado; por conseqüência,
tendo recusado a Cristo, tem sido por Deus posta de parte e confundida, porém:
“Todo aquele que nele crer não será confundido” (Rm 10:11).
Romanos 11:1 – 15
Coloca-se agora pergunta: “Porventura, Rejeitou Deus o seu povo?” (Rm
11:1). Terá mudado o Seu propósito com respeito a ele? “De modo nenhum!” —
responde o apóstolo, comparando em seguida a posição do povo no tempo dele
com a do povo no tempo de Elias (veja 1 Rs 19).
Nesse tempo, a nação em geral estava caída em pecado, sem o temor de
Deus, nem fé. Contudo, Deus reservou para Si um pequeno número que O
conhecia, e assim é ainda hoje. A nação de Israel tem sido, por assim dizer,
abandonada por agora e anda em cegueira espiritual, porém Deus na Sua graça
soberana ainda trabalha entre ela, escolhendo um pequeno número que, por fé em
Cristo, tem parte na Sua Igreja. Paulo cita o seu próprio caso como prova disso.
É verdade que Deus tinha-lhes dado a Sua promessa, prometendo-lhes
bênção aqui na terra, mas quando Cristo, Aquele em Quem toda a bênção lhes era
assegurada, chegou entre eles, recusaram-se de recebê-Lo e assim perderam
todo o direito às promessas. Agora, se as receberem, será somente em resultado
dos soberanos propósito e misericórdia de Deus.
O estado atual daquela nação não há de continuar sempre assim. Longe
disso; mas tendo aquele povo perdido pela sua desobediência, incredulidade e
orgulho, o lugar de privilégio que tinha gozado, Deus está agora efetuando o Seu
propósito de abençoar os gentios, tirando de entre eles um povo para o Seu nome
(veja At 15:14), e entre este povo encontra-se um remanescente do povo antigo
(Rm 11:15).
E há ainda mais. Esse povo de Israel é ainda o centro dos pensamentos de
Deus com respeito ao Seu governo desse mundo, e se, como temos visto, a sua
queda tem dado ocasião à bênção de Deus ser apresentada pelo evangelho a todo
o mundo, qual será a bênção que há de resultar, cá no mundo, quando Israel for
colocado por Deus na posição e glória prometidas, não é?! Será, na verdade, para
toda a criação, como vida de entre os mortos (veja Rm 15:15).
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Romanos 11:16 – 36
O apóstolo agora explica a posição relativa dos judeus e dos gentios com
respeito ao lugar de privilégio e bênção aqui neste mundo.
Depois do dilúvio com que Deus destruiu o mundo antigo, os homens
procuraram fazer para si uma grande cidade e um grande nome a fim de que não
fossem espalhados por toda a terra, porém Deus os confundiu neste propósito e os
espalhou por toda a parte e os dividiu em diversas nações (Gn 11).
Parece, então, que basicamente todos se entregaram à idolatria e, estando
as coisas assim, Deus, conforme o seu soberano propósito, chamou a Abraão
(veja Js 29), fazendo com que ele fosse o pai — o primeiro — daqueles que
haviam de experimentar o benefício das promessas que Deus estava prestes a
declarar.
Foi Abraão constituído, por assim dizer, raiz da “oliveira de promessa”, e
Israel — não só os judeus, isto é, as duas tribos, mas sim as doze tribos — será
salvo (Rm 11:20). Quando O virem, passará a sua cegueira, e arrependidos
reconhecerão por fim o seu Messias, e Ele, cumprindo, então, as promessas de
Deus, reinará em poder e majestade e o Seu povo antigo será outra vez o principal
entre as nações.
Sim, tudo quanto Deus tem proposto, quer a respeito da Sua Igreja, quer do
Seu povo terrestre, Israel, há de infalivelmente ser realizado. E quando Deus
assim nos fala da bênção que tem determinado para os seres humanos, nos vem à
lembrança que todos, quer judeus quer gentios, têm sido desobedientes, de
maneira que ninguém, nem sequer o judeu, pode falar de qualquer direito à
bênção; todos hão de recebê-la somente pela soberana misericórdia de Deus (Rm
11:32).
O apóstolo, ao concluir esta parte de sua epístola, exclama num espírito de
adoração: “Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de
Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus
caminhos!” (Rm 11:33).
A sabedoria divina planejou tudo, e o poder divino há de efetuar tudo, para
a glória de Deus.
Com corações adoradores concluímos este capítulo, dizendo: “Dele, e por
ele, e para ele são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém!” (Rm
11:36).

PARTE 6 - Romanos- George Howes


PARTE 6
— ROMANOS 12:1 A 15:7 —

Na parte desta epístola de que vamos agora tratar, vemos qual é a conduta
e maneira de vida que resulta da apreciação e aceitação da doutrina que já nos
tem sido apresentada.
Temos aqui, não tanto a exposição das verdades fundamentais do
evangelho, como exortações próprias para aqueles que tenham recebido estas
verdades.
Consideremos então estas exortações, pedindo a Deus que, pela Sua
divina graça, nos faça corresponder a elas para glória do Seu nome.
Romanos 12:1
Se, tendo aceitado o testemunho de Deus no evangelho, pensarmos em
nós próprios, havemos de reconhecer que somos os objetos de misericórdia e
amor divino, e que somos colocados diante de Deus no Seu pleno favor. E, sendo
assim, os nossos corpos devem ser postos à Sua disposição, para que em nós, e
por meio de nós, se realize a Sua divina vontade neste mundo.
Reparemos bem na força de expressão com que o apóstolo começa as
suas exortações: “Rogo-vos!” Que intensidade de desejo vemos nestas palavras!
Que santo fervor! Ele não diz: “Mando-vos!”; é a graça, e não a Lei, que fala aqui.
Notemos o motivo que cita para reforçar o seu pedido. “Rogo-vos, pois,
irmãos, pela compaixão de Deus”. E como é grande, de fato, essa misericórdia de
Deus manifestada nesta epístola que estamos considerando.
E para que será que o apóstolo assim nos roga? “Rogo-vos … que
apresenteis o vosso corpo em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus”.
Convém notarmos primeiro que o sacrifício apresentado a Deus é um
sacrifício vivo, santo e agradável; somente assim podia Deus achar agrado nele.
Talvez este pensamento vá levantar em alguém uma certa dificuldade,
pensando naquilo que é em si próprio. Devemos, porém, lembrar-nos de que Deus
sempre vê o crente como sendo identificado com Cristo.
Na verdade, o que se nos apresenta neste versículo se baseia no ensino
dos capítulos 5 a 8.
Nunca poderíamos apresentar os nossos corpos a Deus como sacrifícios
vivos, se não tivéssemos primeiro apreciado de alguma maneira, o modo como
Cristo Se Lhe apresentou como um sacrifício na morte.
Deus não pode sentir agrado com o que é “da carne”, isto é, com o que
somos como identificados com Adão. Mas Cristo foi feito pecado por nós, sobre a
cruz, e ali morreu, de maneira que lemos: “Assim também vós considerai-vos como
mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm
6:11). E mais: “Apresentai-vos a Deus, como vivos dentre mortos” (Rm 6:13).
Assim como os que têm sido identificados com a morte de Cristo e que são
agora vivos nEle diante de Deus, vemos que somos na verdade livres.
O pecado não tem mais domínio sobre nós (Rm 6:14).
A Lei não tem mais domínio sobre nós (Rm 7:4).
Não somos devedores à carne para vivermos mais segundo as suas
concupiscências (Rm 8:12).
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A morte não tem mais poder contra nós (Rm 8:38).
Repetimos, pois, com corações adoradores: “Somos livres”.
Então, o que havemos de fazer? O nosso privilégio é reconhecer o direito
que Deus tem sobre nós — esse Deus, por Cujos misericórdia e poder temos sido
libertos!
E tendo já verdadeiramente reconhecido este Seu direito sobre nós,
precisamos manter-nos constantemente nesta mesma atitude.
Sendo agora pelo Espírito Santo unidos a Cristo glorificado no céu, não é o
caráter da carne que havemos de patentear, mas sim a graça e beleza da vida de
Jesus, como lemos: “Trazendo sempre por toda parte a mortificação do Senhor
Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus se manifeste também em nossa
carne mortal” (2 Co 4:10). Assim, na verdade, pode Deus ver aqui o que Lhe é
agradável.
É da maior importância apreciarmos o fato de que é só como sendo livres
no poder da vida nova, em Cristo ressuscitado, que podemos apresentar os
nossos corpos a Deus. Porém, permita Deus que nós todos possamos apreciar de
tal maneira a liberdade que agora desfrutamos em Cristo, que, no gozo do amor
divino e no santuário da presença de Deus, Lhe apresentemos os nossos corpos
em sacrifício vivo e santo.
Sem dúvida este ato ou está feito, ou por fazer, da parte de cada crente.
“Rogo-vos que seja feito”, diz o apóstolo. Que assim seja conosco para depois
andarmos sempre mantidos no espírito desse ato, reconhecendo que somos dEle
— espírito, alma e corpo.
Romanos 12:2
Um ponto de muita importância que resulta de termos apresentado os
nossos corpos como sacrifício vivo a Deus, é acharmo-nos à parte de tudo quanto
caracteriza esse mundo. O mundo atual é dominado pela vontade humana, mas o
crente, transformado pela renovação do seu espírito, não se conforma com o
espírito e os costumes desse século, mas, reconhecendo que é de Deus,
experimenta o que é a Sua vontade — a vontade divina.
A vontade de Deus está ligada ao Seu propósito a favor de nós; e já temos
visto que esse propósito é de infinito e divino amor, de modo que,
apresentando-Lhe os nossos corpos como sacrifícios vivos para efetuarem a
realização da Sua vontade aqui, experimentamos que essa vontade é, em
verdade, boa, agradável e perfeita.
Quando assim nos colocamos completamente nas Suas mãos, confiados
absolutamente no Seu amor e sabedoria, então chegamos ao ponto de poder dizer
não somente que a Sua vontade é boa e perfeita, mas que é agradável.
Romanos 12:3 a 10
No versículo 3, o apóstolo exorta-nos a não termos idéias exageradas de
nós mesmos ou dos outros. Precisamos julgar, não conforme as aparências, mas
conforme a medida da fé que Deus tem repartido a cada um.
O apóstolo agora menciona o fato de todos os verdadeiros crentes
formarem um só corpo em Cristo.
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Esta verdade que apenas é aqui indicada sem ser desenvolvida, serve para
regular a nossa conduta, como crentes, uns para com os outros.
Os diversos membros do corpo humano têm diversas funções, e operam de
diferentes maneiras, porém cada um nos seus movimentos contribui para o bem
de todos, do corpo comum, e é dirigido pela cabeça.
Assim deve ser, diz o apóstolo, com todos nós cristãos. Cada pessoa deve
ocupar o seu lugar, conforme a medida da fé que tiver recebido, e assim contribuir
para o bem de todos, reconhecendo que o lugar que ocupa é seu pela vontade de
Deus.
Alguns, segundo essa vontade podem ter recebido dons especiais, em tais
casos, que haja todo o cuidado e zelo no exercício destes dons com toda a
humildade lembrando-se que estes favores têm sido recebidos de Deus, para
serem usados para o bem de todos.
Finalmente é preciso que haja amor sem fingimento, e que, como os que
têm sido ensinados por Deus, saibamos aborrecer o mal e aderir ao bem.
Assim, amando-nos uns aos outros reciprocamente, saberemos também
honrar-nos devidamente uns aos outros.
Romanos 12:11 a 21
O apóstolo fala agora de outros pontos que dizem respeito à vida cristã e ao
espírito em que devemos andar individualmente.
Em todas as circunstâncias devemos sempre proceder com um espírito leal
e fervoroso como convém àqueles que até nas coisas mais pequeninas têm e
privilégio de servir ao Senhor Jesus.
Na vida do cristão não se devia notar a preguiça, mas antes o zelo (veja Rm
12:11), o gozo, a esperança, paciência, a oração (Rm 11:12), a bondade, a
hospitalidade (Rm 12:13), o amor para com os inimigos (Rm 12:14) e a simpatia
(Rm 12:15).
Esses são alguns dos característicos da vida cristã. Permita Deus que
sejam manifestados em nossas vidas.
Como crentes devemos ser caracterizados pela graça divina e pela
humildade, de maneira que, ao contrário do espírito mundano que ambiciona
coisas grandes e altivas, achemos o nosso gozo em andar com os humildes (Rm
12:16), aprendendo assim do nosso bendito Senhor Jesus que disse: “Eu sou
manso e humilde de coração” (Mt 11:29).
Também é o nosso privilégio manifestar aos outros o mesmo espírito que
Deus nos manifestou a nós, isto é, um espírito de graça divina e de longanimidade.
Portanto, a ninguém tornemos mal por mal (Rm 12:17).
Devemos ter também o maior cuidado em termos todas as nossas coisas
arranjadas de uma maneira honesta diante de todos, a fim de que ninguém nos
possa acusar, nem nós sirvamos de tropeço a ninguém (Rm 12:17).
Paz com todos deve também ser uma das nossas normas, pelo menos
quanto estiver ao nosso alcance.
Devemos sempre andar tranqüila e honestamente, sem darmos ocasião de
queixa a ninguém. E, caso fôssemos mal tratados ou infamados, não nos compete
a nós vingarmo-nos, mas deixar tudo que nos diz respeito nas mãos do nosso
Senhor (Rm 12:18-19).
Por fim lemos: “Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem”
(Rm 12:21). Aqui vemos o triunfo do cristão. Vemos esse princípio perfeitamente
exemplificado no Senhor Jesus; e nunca o foi mais do que na ocasião da cruz,
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quando triunfou sobre todo o poder do mal. Portanto, no poder da vitória de Cristo
e regozijando-nos no verdadeiro bem que é nosso nEle, podemos fazer bem a
todos, triunfando assim do mal que nos rodeia.
Ó Senhor Jesus, que esta seja a nossa experiência pela Tua graça!
Romanos 13:1 a 7
Estes versículos nos instruem acerca do nosso modo de proceder para com
os poderes civis. Ainda estamos nos “tempos dos gentios” (Lc 21:24) — tempos
em que o poder e o governo estão aqui entregues por Deus nas mãos dos
homens, e como cristãos precisamos reconhecer isso.
“As autoridades que há foram ordenadas por Deus” (Rm 13:1).
Reconheçamos então a autoridade dos que governam e sujeitemo-nos a ela,
porque esta é a vontade de Deus. É possível que os que têm a autoridade nas
suas mãos falhem nos seus deveres, contudo a responsabilidade disso lhes cabe
a eles e não a nós.
Portanto, para o crente, não é uma questão desse ou daquele partido
político, mas havendo governo, autoridade estabelecida — “as autoridades que há”
— tem de se lhe sujeitar. Pode achar-se em circunstâncias em que a autoridade
dos homens se entremeta naquilo que diz respeito às coisas de Deus e à
consciência do verdadeiro crente; em tais casos, é claro que se deve obedecer a
Deus e não aos homens.
Somente o Senhor tem direito de dominar a nossa consciência, porém, não
se tratando de uma questão de consciência, quer seja coisa de que gostamos,
quer não, temos de nos sujeitar a ela. Assim devemo-nos guardar contra o espírito
que hoje tanto se manifesta ao nosso redor, um espírito de insubordinação à
autoridade estabelecida e, sabendo o que é a vontade de Deus, temos que dar a
cada um o que devemos, seja tributo, seja honra. Não é uma questão de
patriotismo, mas de fazermos a vontade de Deus.
Romanos 13:8 a 10
“A ninguém devais coisa alguma, a não ser o amor” (Rm 13:8). Sejamos,
então, irmãos amados, cuidadosos nisso, afim de que não cheguemos a desonrar
o nosso Senhor e a entristecer o Espírito Santo pela nossa desobediência à
vontade expressa do nosso Deus.
O amor é uma dívida que nunca poderemos pagar. É isto o que satisfaz as
exigências da Lei, porque o amor, que é de Deus, não faz mal ao próximo.
Assim, ao mesmo tempo que somos livres do domínio da Lei, a nossa
conduta deve ser tal que cumpramos com os seus preceitos, visto que “o
cumprimento da lei é o amor” (Rm 13:10).
Romanos 13:11 a 14
Devemos mostrar o maior zelo em atender a todas essas exortações que
estamos considerando, porque o tempo que havemos de estar neste mundo é
limitado. Aproxima-se o dia da vinda do Senhor em que havemos de alcançar a
plena salvação, até a dos nossos corpos.
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Cristo tem sido rejeitado pelo mundo e por conseqüência é noite aqui, mas
a noite está passando e o dia vem chegando, e nós devemos lembrar-nos que,
sendo ainda noite com relação a esse mundo, nós cristãos somos do dia.
Andamos na luz que dimana de Cristo na glória celeste; temos a luz do dia.
Brevemente Cristo se levantará como o Sol da Justiça, mas atualmente é como a
Estrela da Alva nos nossos corações, de maneira que devemos andar já como é
digno dos que são do dia. Rejeitemos o que é das trevas, da noite, e vistamo-nos
com as armas da luz.
A salvação é a completa libertação de tudo quanto seja contrário a Deus e,
quando o Senhor voltar, tudo que não for dEle será posto de parte e a nossa
salvação será em todo o sentido completa. Esperamos por aquele dia; está já
agora mais perto do que quando recebemos a fé.
Porém, enquanto esperamos, temos já a luz do dia, e assim, conhecendo
Cristo na glória e tendo os nossos corações dirigidos a Ele em fé, amor e
esperança, não fazemos caso da carne para satisfazermos os seus apetites e
sermos caracterizados por aquilo que é das trevas, mas fugimos das bebedeiras,
desonestidades, dissoluções, contendas, invejas e todas as obras das trevas e
revestimo-nos do Senhor Jesus Cristo. Tomamos o caráter dEle e, andando
honestamente, manifestamos aqui o que é dEle — o Seu caráter.
O capítulo 12 da epístola aos Romanos trata do caráter e privilégio do
crente verdadeiro como pertencendo ao corpo de Cristo; o capítulo 13 considera-o
como vivendo no reino dos homens, sujeito à autoridade dos governadores aqui; e
finalmente, o capítulo 14 trata dele como pertencendo ao reino de Deus e debaixo
da autoridade de Cristo.
Romanos 14:1 a 12
Nestes versículos salienta-se o fato de estarmos, como cristãos, debaixo da
autoridade do SENHOR.
Cada crente é responsável em tudo para com o Senhor, e portanto não
devemos procurar dominar as consciências dos nossos irmãos.
Quando houver diferença de opinião entre irmãos a respeito de coisas
parecidas com aquelas mencionadas aqui pelo apóstolo, é preciso que haja toda a
consideração de parte a parte. Não se vê em todas a mesma medida de
entendimento espiritual. A fé de alguns aprecia mais do que a de outros.
Havia alguns que mostravam não terem apreciado a plenitude da liberdade
com que Cristo liberta os Seus. As suas almas não gozavam o fato de
pertencerem à nova criação e serem, como tais, mortos com Cristo, quanto aos
princípios do mundo. Eram, de fato, “fracos na fé” (Rm 14:1). Porém eram do
Senhor, remidos pelo Seu sangue e amados por Ele, e amavam a Cristo e,
portanto, era preciso recebê-los, mas não para dissentir com eles pontos
duvidosos que podiam servir apenas para levantar dificuldades e fazer-lhes
confusão.
Podia dar-se o caso que alguém por motivo da sua consciência não
quisesse comer ou beber isto ou aquilo, julgando ser contra a vontade divina; ou
que fizesse caso de guardar certos dias como sendo diferentes dos outros,
pensando que assim honrava ao Senhor. Em tais casos temos de nos lembrar que
o crente verdadeiro é o servo do Senhor, e que tem de andar diante dEle,
conforme a luz que tiver recebido, guardando uma boa consciência em tudo. Assim
o que faz, fá-lo para o Senhor.
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Portanto, apesar do seu procedimento resultar da falta do verdadeiro
conhecimento da posição e privilégio do cristão, não devemos julgar que está
fazendo mal, porque a sua consciência não lhe permite proceder de outra maneira.
Nem tampouco devemos desprezar um irmão que seja dominado por certas
regras ou costumes dos quais sabemos que ficaria libertado se tivesse uma
apreciação melhor da verdade. Se o que faz, o faz para o Senhor, não devemos
nem julgá-lo, nem desprezá-lo, mas antes procurar conduzi-lo para mais pleno
conhecimento da verdade revelada em Jesus.
Todo salvo é o servo do Senhor e não o nosso servo (Rm 14:4).
Comparecerá perante o tribunal de Cristo e não perante o nosso tribunal (Rm
14:10). Cada um dará conta a Deus de si mesmo e não do seu irmão (Rm 14:12).
Portanto não devemos julgar o servo alheio, nem condenar em tais casos o nosso
irmão; para o Senhor está em pé ou cai; e, graças a Deus, se conservar uma boa
consciência, estará firme, porque poderoso é Deus para o firmar (Rm 14:4).
Procuremos guardar sempre uma consciência sossegada diante do Senhor
e permitamos que os outros também façam o mesmo. Andemos sempre como sob
a Sua autoridade, lembrando-nos que O servimos a Ele e que somos responsáveis
para com Ele.
Romanos 14:13 a 23
Não nos julguemos pois uns aos outros, antes cuidemos todos em não
sermos motivo de tropeço para qualquer irmão. Lembremo-nos que pertencemos
ao reino de Deus que não é comida nem bebida, mas justiça, paz e gozo no
Espírito Santo e assim procuremos servir aos nossos irmãos em amor, buscando
em tudo o seu proveito; porque quem nisto serve a Cristo, agrada a Deus e é
aprovado dos homens.
De outro lado se deixarmos de mostrar cuidado e consideração pelo bem
dos nossos irmãos, pondo descuidadamente qualquer tropeço diante deles,
erramos e fazemos, não só com que eles se entristeçam (Rm 14:15), mas
prejudicamos assim um por quem Cristo morreu (Rm 14:15) e impedimos a obra
de Deus (Rm 14:20).
Devemos ter o maior cuidado em não ofender nem escandalizar a
consciência de outrem por aquilo que nós fazemos ou deixamos de fazer.
Também é coisa muito séria levar pelo nosso exemplo qualquer pessoa a
fazer uma coisa para a qual não tenha fé, e a respeito da qual dúvida se é ou não
da vontade de Deus. Cada um precisa estar plenamente convencido no seu
próprio ânimo (Rm 14:5), porque serve ao Senhor e não aos homens; e se em
qualquer caso não sabe como deve proceder, convém que espere até que Deus
lhe mostre a Sua vontade.
“Tudo o que não é de fé é pecado” (Rm 14:23). Se o crente fizer o que faz
sem se importar se é ou não a vontade de Deus, estará apenas fazendo a sua
própria vontade, e isto é pecado. Ter fé a respeito de uma coisa quer dizer ter a luz
da vontade de Deus a esse respeito. Se quisermos fazer a Sua vontade, Deus
no-la fará conhecer e então poderemos ir avante em fé, tendo a luz divina e assim
havemos de conservar uma consciência tranqüila.
Em amor, “sigamos, pois, as coisas que servem para a paz e para a
edificação de uns para com os outros ” (Rm 14:19).
Pensemos nos nossos irmãos como sendo aqueles que Deus tem recebido
(Rm 14:3), e os servos do Senhor (Rm 14:4), e não estaremos então dispostos a
julgá-los nem a desprezá-los.
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Pensemos neles como sendo aqueles por quem Cristo morreu (Rm 14:15),
e como sendo na verdade nossos irmãos (Rm 14:15 e 21), e assim procuraremos,
de um lado evitar tudo que lhes possa servir de tropeço, e de outro, servi-los em
amor.
Andemos, então, em amor e fé, lembrando-nos das palavras:
“Bem-aventurado aquele que não se condena a si mesmo naquilo que aprova”
(Rm 14:22).
Romanos 15:1 a 7
Estes 7 versículos ligam-se com o capítulo antecedente, concluindo o
ensino ali apresentado. Toda a verdade cristã nos é apresentada por Deus em
relação com a pessoa de Cristo. Temos estado a considerá-Lo como sendo o
nosso Senhor, Aquele que nos governa, e nestes versículos contemplamo-Lo
como o nosso exemplo, Aquele a Quem seguimos.
Lemos: “Cristo não agradou a si mesmo” (Rm 15:3). É claro, pelo que
temos já exposto, que não devemos procurar a nossa própria satisfação, mas
antes o proveito e edificação espiritual do nosso próximo, e nisto temos que seguir
o exemplo do nosso bendito Senhor Jesus. Vemos como Ele sempre andou no
caminho de amor e obediência à vontade de Deus, suportando meigamente as
injúrias que caíam sobre Ele. Duma maneira tão perfeita manifestou Jesus o
caráter de Deus em toda a Sua vida que, quando os homens queriam injuriar a
Deus, as injúrias caíram sobre Ele.
“Porque tudo que dantes foi escrito para nosso ensino foi escrito” (Rm
15:4). Estudemos, pois, com cuidado e com oração as Sagradas Escrituras a fim
de sabermos o que é a vontade de Deus e de compreendermos os Seus caminhos
e de seguirmos os princípios nelas indicados. Assim, caminhando no trilho de amor
e obediência já marcado pelo Senhor, e perseverando nele com paciência,
experimentaremos as consolações das Escrituras e assim seremos mantidos em
gozo e esperança.
Podemos nós, porventura, dizer que na nossa experiência temos gozado a
consolação das Escrituras Sagradas? Se a resposta for negativa, é porque temos
deixado de estudá-las com espírito humilde e oração.
Lendo nos evangelhos vemos como o Senhor Jesus, como Homem aqui no
mundo, Se servia das Escrituras, e convém lembrar-nos das Suas palavras:
“Escrito está que nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra de Deus”
(Lc 4:4).
Reparemos como, no versículo 5, Deus toma o título de “Deus de paciência
e de consolação”. Que nome tão cheio de significação para os nossos corações! E
como revela o Seu caráter! Que infinita paciência Ele mostra constantemente para
conosco, e como Ele Se interessa em tudo, até nas coisas mais pequenas, que
nos dizem respeito! Como, maravilhosamente, Ele também sabe consolar e
confortar os desanimados e tristes, e quanta graça divina ministra aos Seus!
Assim, pois, conhecendo a Deus, e tendo experimentado a Sua paciência,
conforto e amor para conosco, andemos no mesmo espírito uns para com os
outros, aprendendo de Cristo e sendo dominados por Ele. Desta maneira,
gozaremos a comunhão uns com os outros, segundo Jesus Cristo, e poderemos
juntos e unânimes glorificar a Deus, ao Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo.
“Portanto, recebei-vos uns aos outros, como também Cristo nos recebeu
para glória de Deus” (Rm 15:7).
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Que maneira tão bela com que o apóstolo conclui as suas exortações! Em
tudo que fizermos temos que fitar os olhos em Cristo, nosso Senhor e Exemplo, e
assim andando em obediência à vontade de Deus, tudo resultará em glória para
Ele.
O nosso privilégio, assim como também a nossa responsabilidade, é
fazermos tudo o que fazemos no Espírito de Cristo — como Cristo e para Deus.

Irmãos em Cristo Jesus.

Irmãos em Cristo Jesus.
Mt 5:14 "Vós sois a luz do mundo"