sexta-feira, 24 de outubro de 2008

As Ofertas no Período de Esmirna- Arcadio Sierra Díaz

Nas igrejas locais costumavam destinar as ofertas a um fundo comum principalmente para a ajuda dos santos pobres, com a participação e direção dos anciãos da igreja. Os que recebiam uma ajuda sistemática eram os matricularii, pois estavam inscritos na matrícula, ou seja, que havia uma lista ou cânon das viúvas, órfãos, anciãos sem recursos, os que haviam perdido seus bens por causa de uma desgraça (um naufrágio, por exemplo), os que nos tempos da perseguição haviam caído na miséria, e demais necessitados.

Por exemplo, é digno de menção que na comunidade cristã de Roma levavam um registro dos irmãos que haviam sido enviados a trabalhos forçados nas minas da ilha mediterrânea de Cerdenha, para mandar-lhes ajuda. A Igreja não se cuidava de entesourar nem de incrementar seu patrimônio; não havia o interesse de construir luxuosos e grandiosos templos para as reuniões, e o dinheiro não era desviado a cobrir gastos que não foram estritamente necessários, aparte de atender aos santos pobres. A Igreja de Jesus Cristo carece de tesouros terrenos, como testemunhou o diácono Lorenzo quando, ante o tribunal pagão, se lhe impôs a que entregasse os tesouros da igreja, ele contestou que os tesouros da comunidade cristã são os santos pobres. De onde provinham estes recursos? A oferta é um ato de adoração e honra ao Senhor, e deve ser voluntária. Diz Tertuliano que:

"cada um dá uma vez ao mês ou quando quer, se é que quer alguma vez, e se pode, pois a nada se lhe obriga"

. A Respeito disto, é digno de mencionar também que Justino Mártir na descrição das reuniões dominicais da igreja para a Ceia do Senhor, e que a meados do século segundo começaram a chamar de eucaristia, de uma palavra grega que significa o dar graças. Diz que as contribuições feitas pelos irmãos abastados, eram depositadas em mãos do oficial presidente da reunião, o qual se encarregava de usar esses fundos para socorrer às viúvas, aos órfãos, aos enfermos, aos prisioneiros, aos estranhos que visitavam aos cristãos e a outros que atravessavam por alguma necessidade.

No período de Esmirna, a Igreja é alentada. É uma das duas, com Filadélfia, que não recebe reprovações do Senhor, e a anima e aprova essas obras no sofrimento. O Senhor sabe qual é a origem desse sofrimento; Ele conhece a tribulação devida à amarga perseguição de que é objeto Sua amada, e que por trás dos bastidores é Satanás quem na verdade está interessado em destruir à Igreja de Jesus Cristo, mas o querubim caído se vale de seus instrumentos humanos para realizar sua obra destrutiva, e nesses duzentos anos do período de Esmirna usou todo o poderio imperial para efetuar seus maléficos desejos.

O Senhor permite a tribulação em Sua Igreja, entre outras coisas, para capacitar-la para que participe e desfrute das riquezas da vida do Senhor.Eventualmente a história registra a ação dos imperadores romanos. Que motivos aparentes moviam aos Césares a perseguir aos cristãos e pretenderem extermina-los? Que mal faziam os santos ao Império e a sociedade? Eram os crentes uns delinqüentes? Os cristãos faziam o bem; conformavam um grupo obediente à lei, mas eram odiados e perseguidos de morte devido a que não compartilhavam a idolatria e a adoração aos deuses alheios; em conseqüência eram considerados uns alienados, pessoas anti-sociais, desafetuados ou aborrecedores dos demais seres humanos; eram considerados também uns ateus porque não criam nos deuses pagãos, e tudo isso ia alimentando um antagonismo excitante. Também consideram os historiadores que a negativa de muitos cristãos a exercer cargo de magistrados, portar armas e render culto ao imperador, os fizeram oficialmente suspeitos. Nos primeiros séculos, nos tempos da República, se rendia culto a Roma, mas com o estabelecimento do império, os imperadores, com o título de Augustos, foram considerados "divinos", pois lhes chamavam præsens divinus (divindade encarnada), e reclamaram culto à sua pessoa, talvez seguindo o costume herdado desde os tempos de Alexandre Magno. Similar ao que ocorre hoje em torno das religiões idolátricas e supersticiosas, com essa efervescência na fabricação de toda sorte de objetos religiosos, esse grande comércio com missas fúnebres, responsos, crucifixos, imagens, escapulários, estampas, medalhas, sufrágios, veladoras, Rosa ungida, fogueira santa, chifres para ungir e milhares de coisas mais, nesse tempo haviam cristalizado fortes interesses financeiros na indústria religiosa pagã; sacerdotes e laicos relacionados com os templos dos ídolos, os fabricantes de imagens, escultores, arquitetos de templos, artesões de réplicas de templos, como o caso dos ourives de Éfeso; todos eles viam afetados seus abundantes negócios pelo avanço da Igreja, e incitavam e promoviam a perseguição contra os santos. O Senhor também disse à Igreja em Esmirna que conhece sua pobreza. Alguns exegetas consideram que se trata de uma pobreza econômica, o qual em parte pode ser verdade; e consideramos que estar atribulado e perseguido em meio de escassez já é em si uma grande calamidade. Mas se analisarmos mais detalhadamente o contexto e aprofundarmos o significado, obteremos novas luzes sobre este trecho tão importante da caminhada da Igreja no período de Esmirna. Quando o Senhor disse que conhece sua pobreza, a continuação, e em contraste, lhe adiciona as palavras "mas tu és rico"; é o mesmo que dizer, que há uma riqueza no Senhor que gera essa pobreza de espírito. É tudo ao contrário do que Ele disse à igreja em Laodicéia:

“pois dizes: Estou rico e abastado e não preciso de coisa alguma, e nem sabes que tu és infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu.” (Ap. 3:17).

Diz-se que esta riqueza de que se orgulha a igreja em Laodicéia não é necessariamente de tipo material, mesmo que também haja parte disso; nota-se que por si mesma essa expressão conota soberba, e o Senhor expõe sua verdadeira condição espiritual. O verdadeiro vencedor é pobre em espírito e rico em Deus. Assim mesmo ocorre no caso de Esmirna. A pobreza desta sofrida igreja pode ter seus aspectos de necessidades materiais, e de fato os tem se levarmos em conta que por causa das perseguições eram despedidos de seus trabalhos, seus bens confiscados e sofriam perdas por diferentes motivos; mas a tribulação, a pobreza, a blasfêmia, o cárcere e a morte, são os ingredientes da amargura de Esmirna. Não há base escrituraria para afirmar que a pobreza seja algo bom, nem que garanta a espiritualidade da pessoa; como tampouco a Bíblia faz apologia à riqueza. Há ricos santos e humildes, assim como há pobres altivos. O Senhor tem outros interesses e outros propósitos. Diz em Mateus 5:3:

“Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus.”.

Nem sempre a riqueza material gera soberba, pois de fato há crentes endinheirados que são humildes de coração, mas a carência de pobreza espiritual se traduz com freqüência em altivez; a pobreza de espiritol é característica fundamental do cristão normal. É notório que há um aspecto em que o cristianismo denominacional se assemelha muito ao mundo e é que em muitos setores do protestantismo se defende com regularidade a prosperidade e ao êxito material e se despreza a humildade. Uma das nefastas conseqüências desta orientação é a marcada tendência a dividir-se em congregações com distinção de classes, posição social, situação econômica e até profissionais.

O Senhor apóia que haja igrejas de ricos e igrejas de pobres? Não é vergonhoso diante do Senhor que haja igrejas de brancos e igrejas de negros? Está conforme o Senhor com todas essas discriminações, exclusivismos, divisões, altivez e esnobismos que costumam dar-se em Seus filhos, pelos quais derramou todo o Seu sangue o Ser mais humilde que haja pisado nesta terra? Ser pobre no espírito é não confiar no que tens, nem no que sabes, nem no que és, senão que toda sua confiança está posta no Senhor. Nisto se diferencia o homem natural e o cristão. Uma pessoa que tem ao Senhor Jesus Cristo como seu único suporte, seu único tesouro e sua única riqueza, é verdadeiramente rica. A respeito cabe perguntar, o que dizem os apologistas da chamada teologia da prosperidade?

Extraído do Livro " A Igreja de Jesus Cristo, Uma Perspectiva Histórico profética"*

* Encontra-se disponivel para download na seção de ebooks do blog " http://aigrejadejesuscristo.blogspot.com "

O Espírito e a Alma- Watchman Nee

O espírito

É imperativo que um crente saiba que tem um espírito, posto que, como logo veremos, toda comunicação com Deus tem lugar ali. Se o crente não discernir seu próprio espírito, sempre ignorará a maneira de comunicar-se com Deus no espírito. Facilmente substitui as obras do espírito com os pensamentos e emoções da alma. Dessa maneira se auto-limita ao mundo exterior, incapaz para sempre de alcançar o mundo espiritual.

1 Coríntios 2:11 fala do espírito do homem que está «nele».
2 Coríntios 5:4 menciona «meu espírito».
Romanos 8:16 diz «nosso espírito».
1 Coríntios 14:14 utiliza «meu espírito».
1 Coríntios 14:32 fala dos «espíritos dos profetas».
Provérbios 25:28 se refere a «seu próprio espírito».
Hebreus 12:23 consigna «os espíritos dos justos».
Zacarias 12:1 afirma que «o Senhor... formou o espírito do homem dentro dele».

Estes versículos demonstram claramente que os seres humanos possuem, com efeito, um espírito humano. Este espírito não é sinônimo de nossa alma nem é tampouco o Espírito Santo.

Adoramos a Deus neste espírito.

Segundo os ensinamentos da Bíblia e a experiência dos crentes, pode-se dizer que o espírito humano compreende três partes. Ou, expresso de outro modo, se pode dizer que tem três funções principais. Estas são a consciência, a intuição e a comunhão.

A consciência é o órgão que discerne; distingue o bom e o mau. Entretanto, não o faz por meio da influência do conhecimento armazenado na mente, mas sim com um espontâneo julgamento direto. Frequentemente nosso raciocínio justifica o que nossa consciência julga. O trabalho da consciência é independente e direto, pois não se submete às opiniões do exterior. Se a obra do homem for má, a consciência levantará sua voz acusatória.

A intuição é o órgão sensitivo do espírito humano. É tão diametralmente diferente do sentido físico e do sentido anímico que é chamada intuição. A intuição suporta uma sensibilidade direta independente de qualquer influência exterior. Esse conhecimento que nos chega sem nenhuma ajuda do pensamento, da emoção ou da vontade é intuitivo. «Sabemos» por meio de nossa intuição, e nossa mente nos ajuda a «compreender». As revelações de Deus e todos os movimentos do Espírito Santo são perceptíveis para o crente através da intuição.Em conseqüência, um crente deve levar em consideração dois elementos: a voz da consciência e o ensino da intuição.

A comunhão é a adoração a Deus. Os órgãos da alma são incompetentes para adorar a Deus. Não podemos receber Deus com nossos pensamentos, sentimentos ou intenções, porque unicamente podemos conhecê-Lo diretamente em nossos espíritos. Nossa adoração a Deus e as comunicações de Deus conosco acontecem diretamente no espírito. Têm lugar no homem interior», não na alma ou no homem exterior.

Assim, podemos concluir que estes três elementos, consciência, intuição e comunhão, estão profundamente inter-relacionados e funcionam coordenados. A relação entre consciência e intuição é que a consciência julga segundo a intuição; condenando toda conduta que não siga as diretrizes dadas pela intuição. A intuição está relacionada com a comunhão ou adoração em que Deus se dá a conhecer ao homem pela intuição e lhe revela sua vontade também por meio da intuição. Nem a expectativa nem a dedução nos dão o conhecimento de Deus.

Nos versículos seguintes, separados em três grupos, pode-se observar rapidamente que nossos espíritos possuem a função da consciência (note-se que não dissemos que o espírito é a consciência), a função da intuição (ou sentido espiritual) e a função da comunhão (ou adoração).

A) A função da consciência no espírito do homem.

«O Senhor teu Deus lhe endurecera o espírito» (Dt. 2:30).

«Salva os contritos de espírito» (Sl. 34:18).

«Renova em mim um espírito estável» (Sl. 51:10).

«Tendo Jesus dito isto, turbou-se em espírito» (Jo. 13:21).

«Revoltava-se nele o seu espírito, vendo a cidade cheia de» (At. 17:16).

«O Espírito mesmo testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus» (Rm. 8:16).

«Ainda que ausente no corpo, mas presente no espírito, já julguei, como se estivesse presente» (1 Co. 5:3).

«Não tive descanso no meu espírito» (2 Co. 2:13).

«Porque Deus não nos deu o espírito de covardia» (2 Tm. 1:7).

B) A função da intuição no espírito do homem.

«O espírito, na verdade, está pronto» (MT. 26:41).

«Jesus logo percebeu em seu espírito» (Mc. 2:8).

«Suspirando profundamente em seu espírito» (Mc. 8:12).

«comoveu-se profundamente em espírito» (Jo. 11:33).

«Paulo estava constrangido no espírito» (At. 18:5).

«Sendo fervoroso de espírito» (At. 18:25).

«Constrangido no meu espírito, vou a Jerusalém» (At. 20:22).

«Qual dos homens entende as coisas do homem, senão o espírito do homem que nele está?» (1 Co. 2:11).

«Reconfortaram o meu espírito assim como o vosso» (1 Co. 16:18).

«O seu espírito tem sido reconfortado por vós todos» (2 Co. 7:13).

C) A função da comunhão no espírito do homem.

«Meu espírito exulta em Deus meu Salvador» (Lc. 1:47).

«Os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade» (Jo. 4:23).

«A quem sirvo em meu espírito» (Rm. 1:9).

«Servirmos... em novidade de espírito» (Rm. 7:6).

«Recebestes o espírito de adoção, pelo qual clamamos: Aba, Pai!» (Rm. 8:15).

«O Espírito mesmo testifica com o nosso espírito» (Rm. 8:16).

«o que se une ao Senhor é um só espírito com ele.» (1 Co.6:17).

«cantarei com o espírito» (1 Co. 14:15).

«Se tu bendisseres com o espírito» (1 Co. 14:16).

«E levou-me em espírito» (Ap. 21:10).

Por estes versículos podemos saber que nosso espírito possui pelo menos estas três funções. Apesar dos homens não regenerados ainda não terem vida, mesmo assim possuem estas funções (mas sua adoração é dirigida a espíritos malignos). Algumas pessoas manifestam mais que estas funções, enquanto outras manifestam menos. Isto, entretanto, não implica que não estejam mortos em pecados e transgressões. O Novo Testamento não considera os possuidores de uma consciência sensível, uma grande intuição ou uma tendência ou um interesse espirituais como salvos. Estas pessoas só nos demonstram que, além do pensamento, a emoção e a vontade de nossa alma, também temos um espírito. Antes da regeneração o espírito está separado da vida de Deus. Só depois daquela viverá em nossos espíritos a vida de Deus e do Espírito Santo. E então serão vivificados para ser instrumentos do Espírito Santo.
Nossa meta ao estudar a importância do espírito é nos capacitar para compreender que, como seres humanos, possuímos um espírito independente. Este espírito não é a mente do homem, sua vontade ou sua emoção. Ao contrário, abrange as funções da consciência, da intuição e da comunhão. É no espírito onde Deus nos regenera, nos ensina e nos guia a seu repouso. Mas é triste ter que dizer que, devido aos longos anos de domínio da alma, muitos cristãos sabem muito pouco de seu espírito. Deveríamos tremer diante de Deus e lhe pedir que nos ensine através da experiência o que é espiritual e o que é anímico.
Antes que o crente nasça de novo, seu espírito fica tão submerso e envolto por sua alma que lhe é impossível distinguir se algo sai da alma ou do espírito. As funções deste se misturaram com as daquela. Além disso, o espírito perdeu sua função original — sua relação com Deus — porque está morto para Deus. Poderia parecer que se converteu em um acessório da alma. E ao crescer e fortalecer o pensamento, a emoção e a vontade, as funções do espírito ficam tão eclipsadas que são quase ignoradas. É por isto que terá que fazer a obra de separação entre alma e espírito quando o crente tiver sido regenerado.
Ao investigar as Escrituras parece realmente que um espírito regenerado funciona da mesma maneira que o faz a alma. Os seguintes versículos o ilustram:

«Seu espírito estava perturbado» (Gn. 41:8).

«que é imprudente de espírito exalta a loucura» (Pv. 14:29).

«Um espírito abatido seca os ossos» (Pv. 17:22).

«Os que erram em espírito» (Is. 29:24).

«E gemerão pela angústia de espírito» (Is. 65:14).

«Seu espírito se endureceu» (Dn. 5:20).

Estes versículos nos mostram as obras do espírito não regenerado e nos indicam o quão parecidas são suas obras com as da alma. O motivo de não mencionar a alma mas sim o espírito é mostrar o que tem ocorrido no mais profundo do homem. Descobre-se de que maneira a alma do homem chegou a influenciar e a controlar completamente o seu espírito, obtendo com isto a manifestação das obras da alma. Ainda assim o espírito ainda existe, porque estas obras saem do espírito. Embora continue governado pela alma, o espírito não deixa de ser um órgão.

A alma

Além de possuir um espírito que lhe permite ter uma comunicação íntima com Deus, o homem também tem uma alma, a consciência de si mesmo. A operação da alma o faz ser consciente de sua existência. É a sede de nossa personalidade. Os elementos que nos fazem humanos pertencem à alma. O intelecto, os ideais, o amor, a emoção, o discernimento, a capacidade de escolher, a decisão, etc., não passam de diferentes experiências da alma.
Já foi explicado que o espírito e o corpo estão fundidos na alma, a qual, a sua vez, forma o órgão de nossa personalidade. É por isso que em algumas ocasiões a Bíblia chama ao homem «alma», como se o homem só possuísse este elemento. Por exemplo, Gênesis 12:5 fala das pessoas como «almas».

E quando Jacó levou a toda sua família ao Egito, diz que «todas as almas da casa do Jacó que entraram no Egito eram setenta» (Gn. 46:27).

No original da Bíblia há numerosos casos em que se usa «alma» em lugar de «homem». Isto se deve a que a sede e a essência da personalidade é a alma.

Compreender a personalidade de um homem é compreender sua pessoa. A existência, as características e a vida de um homem se encontram todas na alma. Em conseqüência a Bíblia chama ao homem «uma alma».

O que constitui a personalidade do homem são as três faculdades principais de vontade, pensamento e emoção.

A vontade é o instrumento de nossas decisões e revela nosso poder de escolha. Expressa nosso consentimento ou nossa negativa, nosso «sim» ou nosso «não». Sem ele o homem fica reduzido a um autômato.
A mente, o instrumento de nossos pensamentos, manifesta nosso poder intelectual. É a fonte da sabedoria, do conhecimento e do raciocínio. Sua ausência faz que um homem seja tolo e inepto.
O instrumento de nossas simpatias e antipatias é a faculdade da emoção. Por meio dela podemos expressar amor ou ódio e nos sentir alegres, zangados, tristes ou felizes. Sua escassez fará o homem insensível como a madeira ou a pedra.
Um cuidadoso estudo da Bíblia nos levará à conclusão de que estas três faculdades básicas da personalidade pertencem à alma. Há muitas passagens bíblicas, e não é possível citá-las todas. Daí que só podemos enumerar uma breve seleção das mesmas.

A) A faculdade da vontade da alma

«Não me entregues à vontade (original, "alma") de meus adversários» (Sl. 27:12).

«Não o entregarás à vontade (original, "alma") de seus inimigos» (Sl. 41:2).

«Te entreguei à vontade (original, "alma") dos que te odeiam» (Ez. 16:27).

«Deixá-la-ás ir à sua vontade (original, "alma")» (Dt. 21:14).

«Eia! cumpriu-se o nosso desejo! (original, "alma")» (Sl. 35:25).

«Ou faz um voto para ligar-se ele mesmo (original, "alma") com uma obrigação» (Nm. 30:2).

«Disponde, pois, agora vossa mente e vosso coração (original, "alma") para buscardes ao Senhor vosso Deus» (1 Cr. 22:19).

«Eles desejam e elevam sua alma por voltar a viver ali» (Jr. 44:14).

«Nessas coisas a minha alma recusa tocar» (Jó 6:7).

«Minha alma escolheria antes a estrangulação, e a morte do que estes meus ossos» (Jó 7:15).

Aqui «vontade» ou «coração» assinalam à vontade humana. — Dispor o coração», «elevar sua alma», «negar-se», «preferir», são, todas, atividades da vontade e têm sua origem na alma.

B) A faculdade do intelecto ou a mente da alma

«E o desejo dos seus corações, juntamente com seus filhos e suas filhas» (Ez. 24:25).

«Não é bom uma alma agir sem refletir» (Pv. 19:2).

«Até quando encherei de cuidados (siríaco, hebreu: suportar os conselhos) a minha alma?» (Sl. 13:2).

«Suas obras são maravilhosas e minha alma as conhece bem» (Sl. 139:14).

«Minha alma ainda os conserva na memória» (Lm. 3:20).

«O conhecimento será aprazível à tua alma» (Pv. 2:10).

«Guarda a verdadeira sabedoria e o bom siso; assim serão elas vida para a tua alma» (Pv. 3:21, 22).

«Sabe que é assim a sabedoria para a tua alma» (Pv. 24:14).

Aqui «conhecimento», «conselho», «elevar», «pensar», «refletir», «sabedoria» etc., existem como atividades do intelecto ou da mente do homem, as quais a Bíblia nos diz que provêm da alma.

C) A faculdade da emoção da alma

1) EMOÇÕES DE AFETO
«A alma de Jônatas se uniu à alma de David, e Jônatas o amou como à sua própria alma» (1 Sm. 18:1).

«Você a quem ama minha alma» (Ct. 1:7).

«Minha alma engrandece ao Senhor» (Lc. 1:46).

«Sua vida detesta o pão, e sua alma a comida deliciosa» (Jó 33:20).

«Os que a alma do David odeia» (2 Sm. 5:8).

«Minha alma se zangou com eles» (Zc. 11:8).

«Amarás ao Senhor teu Deus... com toda tua alma» (Dt. 6:5).

«Minha alma está cansada da vida» (Jó 10:1).

«Sua alma detesta toda classe de comida» (Sl. 107:18).

2) EMOÇÕES DE DESEJO

«Por tudo o que te pedir a tua alma» (Dt. 14:26).

«O que possa dizer sua alma» (1 Sm. 20:4).

«Minha alma suspira! sim, desfalece pelos átrios do Senhor» (Sl. 84:2).

«O desejo de sua alma» (Ez. 24:21).

«Tanto te deseja minha alma, Oh Deus» (Sl. 42:1).

«Minha alma suspira por ti de noite» (Is. 26:9).

«Minha alma está contente» (Mt. 12:18).

3) EMOÇÕES DE SENTIMENTOS E SENSAÇÕES

«Além disso uma espada transpassará sua própria alma» (Lc. 2:35).

«Todo o povo estava amargurado na alma» (1 Sm. 30:6).

«Sua alma está em amargura» (2 Rs.4:27).

«Sua alma se moveu de compaixão por causa da desgraça de Israel» (Jz. 10:16).

«Quanto tempo atormentará minha alma» (Jó 19:2).

«Minha alma exultará em meu Deus» (Is. 61:10).

«Alegra a alma de seu servo» (Sl. 86:4).

«Sua alma se deprimiu em seu interior» (Sl. 107:5).

«por que estás abatida, Oh minha alma» (Sl. 42:5).

«Volta, Oh minha alma, a seu descanso» (Sl. 116:7).

«Minha alma se consome de desejo» (Sl. 119:20).

«Doçura para a alma» (Pv. 16:24).

«Deixa que tua alma se deleite na gordura» (Is. 55:2).

«A minha alma está triste até a morte» (Mt. 26:38).

«afligia todos os dias a sua alma justa» (2 Pe. 2:8).

Nestas observações sobre as diversas emoções do homem podemos descobrir que nossa alma é capaz de amar e de odiar, de desejar e de aspirar, de sentir e de perceber.
Neste breve estudo bíblico se torna evidente que a alma do homem possui a parte conhecida como vontade, a parte conhecida como mente ou intelecto e a parte conhecida como emoção.

A vida da alma

Alguns eruditos bíblicos nos assinalam que no grego se empregam três palavras diferentes para designar «a vida»:

1) BIOS
2) psyche
3) zoe

Todas descrevem a vida, mas comunicam significados muito diferentes.
BIOS faz referência ao meio de vida ou sustento. Nosso Senhor Jesus usou esta palavra quando elogiou à mulher que atirou no tesouro do templo todo seu sustento.
Zoe é a vida mais elevada, a vida do espírito. Sempre que a Bíblia fala da vida eterna utiliza esta palavra.
Psyche se refere à vida animada do homem, a sua vida natural ou vida da alma. A Bíblia emprega este termo quando descreve a vida humana.
Observemos agora que as palavras «alma» e «vida da alma» na Bíblia são uma e a mesma no original. No Antigo Testamento a palavra hebréia para «alma» — nephesh — se utiliza também para «vida da alma». Por conseguinte, o Novo Testamento usa a palavra grega psyche para «alma» e «vida da alma». Por isso sabemos que «a alma» não só é um dos três elementos do homem, mas sim também é a vida do homem, sua vida natural. Em muitos lugares da Bíblia se traduz «alma» por «vida».

«Somente que não comam a carne com sua vida, quer dizer, seu sangue» (Gn. 9:4,5).

«A vida da carne está no sangue» (Lv. 17:11).

«Morreram os que procuravam a morte do menino» (Mt. 2:20).

«É lícito no sábado salvar a vida ou tirá-la?» (Lc. 6:9).

«Os que têm exposto as suas vidas pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo» (At. 15:26).

«Em nada tenho a minha vida como preciosa para mim» (At. 20:24).

«Para dar sua vida como um resgate por muitos» (Mt. 20:28).

«O bom pastor sacrifica sua vida pelas ovelhas» (Jo. 10:11,15, 17).

A palavra «vida» nestes versículos é «alma» no original. Traduziu-se assim porque do contrário seria difícil compreendê-la. Verdadeiramente a alma é a mesma vida do homem.
Como já mencionamos, «a alma» é um dos três elementos do homem. «A verdade da alma» é a vida natural do homem, a que o faz existir e o vivifica. É a vida pela qual vive o homem atualmente, é o poder pelo qual o homem é o que é. Como a Bíblia aplica nephesh e psyche à alma e à vida do homem, é evidente que embora distintas não são separáveis. São distinguíveis, dado que em certos lugares psyche (por exemplo) é traduzida por «alma» ou «vida». Não se podem intercambiar as traduções. Por exemplo, «alma» e «vida» em Lucas 12:19-23 e em Marcos 3:4 são na realidade a mesma palavra no original, mas as traduções com a mesma palavra em outras línguas não teria sentido. Entretanto são inseparáveis porque as duas estão completamente unidas no homem. Um homem sem alma não vive. A Bíblia nunca nos diz que um homem natural possua outra vida que não seja a da alma. A vida do homem só é a alma, que impregna o corpo.
Posto que a vida está unida ao corpo, passa a ser a vida do homem. A vida é o fenômeno da alma.
A Bíblia considerou o corpo presente do homem como um «corpo anímico» (1 Co. 15:44 original), porque a vida do corpo que temos agora é a da alma. assim, a vida do homem é simplesmente uma expressão da composição de suas energias mentais, emocionais e volitivas. No mundo natural a «personalidade» abrange estas diferentes partes da alma, mas nada mais. A vida da alma é a vida natural do homem.
Reconhecer que a alma é a vida do homem é um fato muito importante porque tem muito a ver com o tipo de cristãos que chegaremos a ser: espirituais ou anímicos. Isto o explicaremos mais à frente.

A alma e o eu do homem

Dado que vimos que a alma é a sede de nossa personalidade, o órgão da vontade e a vida natural, podemos deduzir facilmente que esta alma é também o «autêntico eu», o eu mesmo. Nosso eu é a alma. Isto também se pode demonstrar com a Bíblia. Em Números 30, a frase «atar-se» aparece dez vezes. No original é «atar sua alma». Isto nos leva a compreender que a alma é nosso próprio eu. Em muitas outras passagens da Bíblia encontramos a palavra «alma» traduzida por «eu».
Por exemplo:

«Nem neles vos contaminareis» (Lv. 11:43).

«Não vos contaminareis» (Lv. 11:44).

«Por si e pela sua descendência» (Et. 9:31).

«Oh tu, que te despedaças na tua ira» (Jó 18:4).

«justificava a si mesmo» (Jó 32:2).

«Mas eles mesmos caem cativos» (Is. 46:2).

«O que todos (original, "toda alma") devam comer, isso só o pode preparar você» (Êx. 12:16).

«Quem mata a alguma pessoa (original, "alguma alma") sem intenção» (Nm. 35:11,15).

«Me deixem (original, "deixem a minha alma") morrer a morte dos justos» (Nm. 23:10).

«Quando qualquer (original, "qualquer alma") leve uma oferenda de cereais» (Lv. 2:1).

«Hei-me... tranqüilizado» (Sl. 131:2).

«Não pensem que no palácio do rei vão (original, "sua alma vai") escapar» (Et. 4:13).

«O Senhor Deus jurou por Ele mesmo» (original, "jurado por sua alma") (Am. 6:8).

Esses textos do Antigo Testamento nos dizem de diferentes maneiras que a alma é o próprio eu do homem.

O Novo Testamento nos transmite a mesma impressão. — «Almas», no original, traduziu-se por «oito pessoas» em 1 Pedro 3:20 e como «duzentas e setenta e seis pessoas» em Atos 27:37. A frase de Romanos 2:9, traduzida como «todo ser humano que faz o mal», no original é «toda alma de homem que faz o mal». Por isso, advertir à alma de um homem que faz o mal é advertir ao malvado. Em Tiago 5:20 se considera salvar uma alma como salvar a um pecador. E Lucas 12:19 fala das palavras de satisfação que o néscio rico dirigia a sua alma como se estivesse falando consigo. Assim, está claro que a Bíblia em conjunto contempla a alma do homem ou a vida da alma como o próprio homem.
Podemos encontrar uma confirmação disso nas palavras de nosso Senhor Jesus consignadas em dois diferentes Evangelhos.

Mateus 16:26 diz: «Pois que aproveita ao homem se ganhar o mundo inteiro e perder a sua vida (phyche)?» «Ou que dará um homem em troca de sua vida (phyche)?»
Enquanto que Lucas 9:25 o explica assim: «Pois, que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, e perder-se a si mesmo (eau-tonj)?»
Ambos os escritores do Evangelho deixam perseverança do mesmo, mas um usa «vida» (ou «alma») enquanto que o outro usa «ele mesmo». Isto significa que o Espírito Santo está utilizando Mateus para explicar o significado de «ele mesmo» em Lucas e a Lucas para explicar o significado de «vida» em Mateus. A alma ou a vida do homem no próprio homem, e vice-versa.
Este estudo nos permite deduzir que para sermos homem devemos possuir o que há na alma do homem.

Todo homem natural possui este elemento e que o contém, porque a alma é a vida comum compartilhada por todos os homens naturais. Antes da regeneração, tudo o que forma parte da vida — seja o eu, a vida, a força, o poder, a decisão, o pensamento, a opinião, o amor, o sentimento — pertence à alma. Em outras palavras, a vida da alma é a vida que um homem herda ao nascer. Tudo o que esta vida possui e tudo o que possa chegar a ser se encontra no reino da alma. Se reconhecermos claramente o que é anímico, então nos será mais fácil reconhecer mais adiante o que é espiritual. Será possível separar o espiritual do anímico.

Extraído do Livro "O Homem Espiritual"

Irmãos em Cristo Jesus.

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Mt 5:14 "Vós sois a luz do mundo"