quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

PARTE 4- Romanos- George Howes


PARTE 4
— ROMANOS 5:12 – 8:39 —

Romanos 5:12 – 21
O apóstolo aqui começa a falar da bênção cristã sob um outro ponto de
vista. Até aqui tem tratado da questão dos pecados cometidos pelos homens e tem
mostrado como aquele que crê em Cristo é justificado deles e colocado no favor
divino com a certeza de ter parte na glória futura.
Agora, todavia, começa a falar sobre a natureza pecaminosa que nós
temos como descendentes de Adão, e desenvolve um pouco a verdade da
reconciliação mencionada no versículo 11.
Um ponto de grande importância neste trecho é que nele os nossos olhos
são dirigidos para Cristo — não só para aquilo que Ele tem feito a nosso favor,
mas também para a Sua pessoa. Assim os nossos corações são atraídos mais
para Ele, e, à medida que O vamos apreciando, o nosso amor por Ele aumenta.
Romanos 5:12, 18 e 19
Nesses versículos o apóstolo apresenta-nos três contrastes:
1 — Duas pessoas: Adão e Cristo.
2 — Dois atos: o de Adão, um ato do pecado; o de Cristo: um ato de justiça.
3 — Dois resultados desses respectivos atos: a morte e a vida.
Vemos que o resultado do ato de Adão alcançou em todo o tempo os que
estão identificados com ele, e da mesma maneira o resultado do ato de Cristo
alcança todos os que com Ele estão identificados.
Adão como cabeça da raça humana caiu pelo pecado, e na sua queda
levou-a toda consigo.
Foi pela desobediência de um homem que todos os outros foram feitos
pecadores, e não pelos seus próprios pecados. Todos têm pecado, cada um tem
os seus próprios pecados, mas aqui não se trata desse fato, mas antes do estado
de pecados de que todos participam igualmente, como disse Davi: “em pecado me
concebeu minha mãe” (Sl 51:5).
Assim fica confirmado o estado verdadeiro do ser humano como parece aos
olhos de Deus. Em conseqüência do pecado de Adão, a sua vida e a vida de todos
que estão identificados com ele, tornou-se uma vida condenada — a morte passou
por todos. Essa vida não pode consistir diante de Deus.
Agora, porém, se manifestou a grandeza da misericórdia e do amor de
Deus. O Filho de Deus, tornando-Se homem, carregou o peso da condenação do
primeiro homem, e pela Sua morte — aquele ato supremo de amor e da justiça —
estabeleceu a justiça divina e abriu o caminho pelo qual Deus, tendo ressuscitado
Jesus, pode nEle, e por meio dEle, abençoar a todos os que nEle crêem,
dando-lhes vida nEle.
Assim, Cristo em ressurreição tornou-Se em fonte de nova vida, e o crente
que a possui fica inteiramente justificado de toda a questão ou imputação do
pecado. Em Cristo alcançamos a justificação de vida.
17
Todos que estão relacionados com Adão são constituídos ou feitos
pecadores; todos os que estão identificados com Cristo são constituídos justos.
Romanos 5:13 – 17
Esses versículos formam um parêntesis em que o apóstolo desenvolve o
assunto. Principia por demonstrar que a morte não é somente o resultado da
desobediência do homem a um mandamento explícito, a uma lei, mas que é
resultado necessário da presença do pecado, ainda que não houvesse a
transgressão de uma lei. Isto é provas do pelo fato da morte ter reinado desde
Adão a Moisés, durante o período em que Deus não deu aos seres humanos lei
alguma (veja Gn 2 a Êx 20).
Concluímos então que todos que pertencem à raça de Adão estão, por
natureza, debaixo da condenação e do poder da morte, independentemente da
questão dos atos praticados por cada indivíduo.
Podemos referir-nos aqui ao caso de Enoque (veja Gn 5:24); ele não
morreu, foi uma exceção à regra; porém, lemos em Hebreus 11:5 que foi pela fé
que Enoque foi arrebatado, e isto confirma o argumento do apóstolo, quer dizer,
que é só pela fé que se pode alcançar a libertação.
No versículo 14 lemos que Adão é “figura daquele que havia de vir” e
assim, graças a Deus, podemos virar-nos de Adão para contemplarmos a Cristo
como a nossa Cabeça. Voltamo-nos do primeiro Adão descobrindo que temos
parte nAquele que é chamado “o último Adão”; voltamo-nos do primeiro homem
em toda a sua ruína para contemplarmos o Segundo Homem, Jesus Cristo, em
toda a Sua perfeição. Tudo ficou perdido em Adão, e agora para os crentes tudo é
assegurado em cristo. Com alegres corações podemos, portanto, contemplar
Aquele que é agora a nossa Cabeça — não Adão, mas Cristo.
Que grande graça é a graça divina que assim nos identifica com Cristo, e
nEle nos dá vida, uma vida nova, à qual o pecado não se pode ligar!
Romanos 5:20 e 21
Vemos aqui a razão por que Deus deu aos homens a Sua Lei. Ninguém
podia se justificar por ela diante de Deus, mas foi dada afim de manifestar o
terrível caráter do pecado. A Lei não foi a causa do pecado abundar, disto já havia
muito, mas por meio dela o pecado tornou-se em transgressão, e a sua força ficou
aprovada. Graças a Deus, porém, que onde o pecado abundou, superabundou a
graça.
Do nosso lado, só pecado; do lado de Deus, só graça divina — sim, graça
superabundante!
A morte é, em nós, o resultado de sermos filhos de Adão, nascidos em
pecado; a vida eterna é o resultado da livre operação da graça divina que nos
alcançou, de uma maneira absolutamente justa, por Jesus Cristo, nosso Senhor,
porque agora a graça reina pela justiça, por meio dEle.
Se no atual estado das coisas fosse a justiça que reinasse, seria para
condenação de todos; mas agora a graça reina pela justiça, por Jesus Cristo, e o
resultado para aquele que crê, é a vida.
Bem podemos levantar os nossos corações em adoração a Deus ao
contemplarmos Cristo em toda a Sua glória, posto por Deus para Cabeça de todos.
18
Oh!, que alegria apreciarmos que, diante de Deus, estamos identificados
com Cristo; assim exclamamos: Não Adão, mas Cristo!
Mais um passo e exclamamos: Não eu, mas Cristo!
A alma aprende a apreciar Cristo mais do que tudo e mais do que a si
mesma.
Romanos 6:1 – 5
O apóstolo agora contradiz a idéia de que o conhecimento e gozo da
soberana graça de Deus possam ser acompanhados pelo desejo de ser
permanecer na prática do pecado. Muitas vezes, ouvindo a bendita verdade
contida nas palavras “pela graça sois salvos, por meio da fé” (Ef 2:8), diz-se que
um tal ensino levará quem o receber a ser pouco cuidadoso na sua vida cristã e
que produzirá maus resultados. Quão diferente, porém, é o pensamento de Deus
manifestado nestes versículos.
Se, tendo crido em Cristo, estamos hoje identificados com Ele, em vida
nova, é um resultado de termos sido identificados com Ele na Sua morte.
Aos olhos de Deus foi posto termo, pela morte de Cristo, a tudo quanto
éramos como filhos de Adão, isto é, à nossa antiga condição como pertencendo à
raça condenada de Adão; e é sobre este terreno que entramos no gozo da nossa
vida em Cristo.
Claro é então, que, se reconhecermos que por meio da morte de Cristo
estamos mortos quanto ao pecado, não podemos pensar em viver mais nele; tal
proceder seria o mesmo que negar o que professamos.
O apóstolo em seguida confirma este pensamento, chamando a nossa
atenção para o significado do nosso batismo. Se temos sido batizados no nome do
Senhor Jesus, temos sido por esse meio identificados, quanto à nossa posição
neste mundo, com a morte de Cristo — batizados na Sua morte.
“Não sabeis isso?” pergunta o apóstolo. Convém perguntarmos a nós
próprios se temos apreciado esta verdade, e correspondido a ela na nossa vida
prática.
É por meio da morte, a morte de Cristo e a nossa morte nEle, que
alcançamos a vida, e não podemos continuar a viver naquela vida que foi
condenada na cruz de Cristo; a fé reconhece que aquela vida antiga acabou
judicialmente na morte de Cristo.
Agora, identificados com o Cristo ressurreto, devemos andar em novidade
de vida.
Romanos 6:6 – 8
Este versículo 6 começa com as palavras “sabendo isto” etc. Porventura,
temos nós apreciado o que se segue a essas palavras? Podemos nós dizer que
sabemos? E qual é a verdade indicada? Leiamos: “o nosso velho homem foi com
ele crucificado”.
A expressão “o nosso velho homem” descreve a nossa condição como
identificados com o primeiro Adão, tendo uma vida condenada por motivo do
pecado. Isto, graças a Deus, foi aos Seus olhos condenado e finado na morte de
Jesus, a fim de que o pecado não mais tivesse domínio sobre os nossos corpos e
que não o servíssemos mais.
19
Se temos apreciado o verdadeiro caráter do “nosso homem velho” como
sendo em tudo o contraste daquilo que Deus é, e por isso odioso a Deus, será com
grande alívio que veremos a maneira como Ele o julgou na morte de Cristo.
O que vemos nestes versículos não é que o “nosso homem velho” fica
remendado ou melhorado, mas, sim, que para Deus ele acabou na cruz, para dar
lugar àquilo que é novo em Cristo.
A nota tônica, por assim dizer, desse capítulo é a revelação do privilégio
que pertence ao crente de se identificar na sua fé e nos seus pensamentos com
Cristo. Se temos apreciado a verdade da nossa identificação com Cristo na Sua
morte, podemos regozijar-nos pela nossa identificação atual com Ele — vivemos
nEle diante de Deus, e podemos andar na certeza de que estaremos, mais tarde,
identificados com Ele na glória da ressurreição.
Romanos 6:9 – 13
Diremos aqui que não podemos aprender as verdades que estamos
considerando, sem que cheguemos a apreciar Cristo na Sua atual condição e
posição, porque como lemos “a verdade está em Jesus” (Ef 4:21); nEle vemos a
verdade exemplificada. O que Deus no Seu amor propõe para nós, vê-se já
realizado em Cristo na sua condição de Homem na glória celeste.
O versículo 9, assim como o versículo 6, começa com a palavra “sabendo”.
É claro que as verdades de que o apóstolo aqui fala devem ser conhecidas por
todos nós, os verdadeiros salvos. Prestemos-lhes, portanto, toda a atenção.
De que falam então esses versículos? Do triunfo de Cristo! A morte não
mais tem domínio sobre Ele! Mas leiamos para diante: “Pois, quanto a ter morrido,
de uma vez morreu para o pecado; mas, quanto a viver, vive para Deus”.
O nosso bendito Senhor Jesus foi feito pecado por nós sobre a cruz do
Calvário (veja 2 Co 5:21), e ali morreu e saiu da condição e da posição em que,
por amor de nós, Se achou identificado com o pecado — de uma vez morreu para
o pecado, para nunca mais tornar a tocar nele. E agora? Agora Ele vive como
homem glorioso no céu, e vive para Deus. Deus acha nEle ali o Seu perfeito
agrado. Vemos, assim, manifestado nEle o propósito de Deus a nosso respeito.
Como os nossos corações se comovem de amor, e de santo e ardente
desejo ao meditarem nestas palavras — “mortos para o pecado” — “vivos para
Deus”.
Conhecendo o amor de Deus, anelamos por corresponder à Sua vontade a
nosso respeito; queremos que Ele ache agrado na nossa vida aqui: desejamos
dar-Lhe aquilo que Lhe apraz. Constrangidos por tais desejos, reconhecendo
quantas vezes falhamos nisto, é um verdadeiro gozo para nós vermos que há ao
menos Um, Jesus Cristo, que vivendo na glória celeste corresponde em tudo à
divina vontade.
Como isto atrai o coração do crente ainda mais para Cristo, e nos ensina a
achar deleite nAquele em Quem Deus Se deleita, fazendo crescer em nós o desejo
de correspondermos aqui àquilo que Ele é ali!
Mas isto será possível?
Leiamos o versículo seguinte, e leiamo-lo com atenção: “Assim também vós
considerai-vos como mortos para o pecado; mas, vivos para Deus, em Cristo
Jesus, nosso Senhor”. Temos o privilégio não só de contemplarmos Cristo na
glória celeste, mas também do saber que estamos identificados com Ele.
Morreu Ele para o pecado?! Sim, e assim temos o privilégio de nos
considerarmos como tendo sido mortos com Ele. Vive Ele para Deus?!
20
Certamente, e por isso somos vivos para Deus, nEle. Quanto ao pecado —
mortos; quanto a Deus — vivos em Cristo.
Não é que o pecado esteja morto, mas nós temos de considerar que pela
morte de Jesus morremos quanto ao pecado. Por isso recusemos continuar a ser
dominados por ele. Se nos tenta, e se, por assim dizer, quer andar na nossa
companhia, viremos-lhe as costas, considerando-nos mortos para ele.
Por outro lado, reconhecemos que doravante estamos no mundo para
fazermos a vontade de Deus, e, enquanto esperamos o dia em que havemos de
ter corpos gloriosos, reconhecemos que os nossos corpos atuais devem ser
apresentados a Deus a fim de que neles se realize a Sua vontade aqui no mundo.
Lemos: “Apresentai-vos a Deus, como vivos dentre mortos, e os vossos
membros a Deus, como instrumentos de justiça”. Bendito privilégio este! Porém, é
só como libertados da condenação e domínio do pecado, como vivos em Cristo,
vivos dentre os mortos, que podemos apresentar-nos a Deus.
Vendo assim o privilégio que nos pertence, não deixemos de o
experimentar para o nosso gozo e para a glória de Deus.
Romanos 6:14 – 23
O privilégio de não sermos mais dominados pelo pecado nos é assegurado
pela graça divina; não é a Lei, mas sim o conhecimento da graça de Deus, que nos
liberta e nos mantém na liberdade. Já não estamos debaixo da Lei, porque a graça
de Deus nos tem feito ocupar um novo lugar, como identificados com Cristo em
ressurreição, onde a Lei não domina.
“O pecado não terá mais domínio sobre vós”. Bendita nova! Essa liberdade,
contudo, não dá ocasião a andarmos no pecado, porque, é claro, estando
libertados do domínio do pecado não havemos de continuar a servi-lo. Já somos
servos da justiça; temos, por assim dizer, mudado de senhores.
A liberdade cristã não nos permite andar no pecado, não nos dá licença
para pecar, mas, pelo contrário, é uma liberdade para servirmos a Deus.
O antigo serviço debaixo do domínio do pecado não deu resultado algum
proveitoso, e no fim havia a morte; agora libertados do pecado, o nosso gozo é
servirmos a justiça, e isto resulta em santificação no presente, e no fim haverá a
vida eterna — vida eterna gozada não como resultado das nossas obras, mas
como resultado da operação da graça divina — como dom gratuito de Deus.
Romanos 7:1 – 6
Tendo o apóstolo já considerado e demonstrado a maneira pela qual
estamos justificados diante de Deus, de como temos vida em Cristo ressuscitado e
estamos libertos do domínio do pecado na nossa vida prática, trata agora nestes
versículos de nos mostrar o efeito de tudo isto em relação à questão da autoridade
e domínio da Lei.
Numa palavra, podemos dizer que, por meio da morte de Cristo e da nossa
associação com Ele ressuscitado, estamos fora do alcance do domínio da Lei.
Para tornar a questão mais simples o apóstolo faz uma comparação fácil de
compreendermos. Cita o caso da mulher com o marido. Enquanto o marido viver, a
mulher está ligada e ele pela lei, porém, é claro que morrendo o marido, fica ela
livre da lei do marido. Outrossim reconhecemos que dois não podem ter domínio
sobre ela ao mesmo tempo; mas se o marido morrer está livre para ser de outro.
21
A lição que tiramos desta comparação é que a Lei tem domínio sobre uma
pessoa enquanto viver, mas, sobrevindo a morte, essa pessoa fica fora do seu
alcance. E de mais, uma pessoa não pode, ao mesmo tempo, estar debaixo do
domínio da Lei e também de Cristo: tem de ser de um ou de outro; dos dois não
pode ser.
Qual é pois a nossa posição atual como cristãos? Estávamos outrora “na
carne”, isto é quanto à vida em que, como responsáveis vivíamos diante de Deus,
estávamos identificados com o pecado e a ruína de Adão; e é sobre pessoas neste
estado ou condição que a lei tem domínio. Sobreveio, porém, a morte — a morte
de Cristo — e por esta morte, com que somos identificados, acabou, aos olhos de
Deus, a nossa condição como identificados com Adão e saímos dela para sermos
identificados em vida com Cristo.
Servindo-nos da comparação acima citada podemos dizer que a nossa
conexão com o primeiro marido — a Lei — acabou. Não que ela morresse, a Lei
fica sempre de pé, mas somos nós, os que temos parte na morte de Cristo, que
temos saído fora daquele estado em que a Lei podia ter domínio sobre nós. Não
estamos mais “na carne”; assim lemos: “Meus irmãos, também vós estais mortos
para a Lei pelo corpo de Cristo”.
Mas se não estamos mais sob o domínio da Lei, estamos sob o domínio
de Cristo. O primeiro marido disse-nos aquilo que devíamos fazer sem contudo
nos habilitar ou dar forças para isso; não produzíamos nesse tempo senão pecado
— “fruto para morte” (Rm 7:5). Mas agora, na nova posição em que estamos
colocados, e no novo parentesco que temos como identificados com um Cristo
ressurreto, e debaixo do Seu domínio, podemos produzir fruto para Deus.
Qual é, pois, o pensamento de Deus a nosso respeito em tudo isso? É que,
gozando nós agora a liberdade em Cristo e estando identificados com Ele e
debaixo do Seu domínio, O serviremos “em novidade de espírito, e não na velhice
da letra” (Rm 7:6); isto é, o nosso serviço prestado a Deus não deve continuar a
ser o resultado de estarmos constrangidos pelas ameaças da Lei, mas, sim, o de
estarmos associados, em santa e alegre liberdade, com Cristo agora ressuscitado.
Romanos 7:7 – 15
Tendo exposto claramente a doutrina a respeito da posição cristã com
respeito ao domínio da Lei, o apóstolo considera agora algumas dificuldades que
se podem formar na mente de qualquer pessoa.
Por exemplo, se o crente é pela morte de Cristo libertado do domínio do
pecado, como já sabemos, quer isto porventura dizer que a Lei é pecado, que é
uma coisa má?
De maneira alguma. Foi na verdade, por meio da Lei que cheguei a
perceber o caráter pecaminoso da minha natureza; mostrou-me ela que não
somente os meus atos, mas também os meus desejos eram pecado.
Quando eu não sentia a força da Lei, a existência do pecado na minha
natureza passou desapercebida para mim — “sem a lei, estava morto o pecado”
(Rm 7:8); porém desde que vi como a Lei condena e proíbe até o desejo de
praticar o pecado, descobri que tenho uma natureza que ama o pecado. Foi
mesmo a proibição do desejo que manifestou a existência dessa natureza.
O pecado — que é considerado aqui como um inimigo que ataca o crente
— servindo-se da proibição da Lei, despertou a vontade própria da minha natureza
pecaminosa, que está sempre pronta a resistir a esta e assim me colocou na
minha consciência, debaixo da condenação da Lei, debaixo da morte.
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“E eu, em algum tempo, vivia sem lei” (Rm 7:9); isto é, com respeito a
minha consciência, vivia — imaginava que tinha direito à vida, não sentindo que
tinha uma natureza pecaminosa que estava debaixo da condenação da morte.
Porém, “vindo o mandamento, reviveu o pecado, e eu morri”.; isto é, o
conhecimento da Lei me fez sentir a força e a existência do pecado em mim, e
fiquei assim condenado na minha consciência, estremeci debaixo da condenação
da Lei, vi que tinha sobre mim a sentença da morte.
Desta maneira, como lemos no versículo 10, a Lei, que em si é boa e justa
e que era para a vida, tornou-se para mim — devido à presença do pecado em
mim — em Lei para morte.
A Lei disse: “O homem que fizer estas coisas viverá por elas” (Rm 10:5).
Ela foi dada para a vida, porém logo percebi que não podia satisfazer as suas
exigências. Cumpri-la, para assim alcançar a vida, me era impossível: tinha
descoberto a presença do pecado em mim, e assim, a Lei apenas me condenava;
no meu caso vi que “era para a morte”.
Claramente a Lei então é santa, justa e boa, visto que condena
absolutamente o pecado, quer no desejo, quer no ato de o praticar. Porém, tendo a
vontade própria da minha natureza sido despertada em oposição ao mandamento,
senti-me colocado debaixo da sua justa condenação; quanto à apreciação da
minha consciência, posso dizer: “o pecado, tomando ocasião pelo mandamento,
me enganou e, por ele, me matou” (Rm 7:11).
Ora, tudo isso levanta outra dificuldade. Porventura será esta Lei tão boa e
santa, a causadora da minha morte? Não, de modo algum. O causador disso não é
a Lei, mas antes o pecado.
Tal é o caráter pecaminoso da minha natureza, que a vinda da Lei, perfeita
como é em si, não podia senão condenar-me. Assim, sei que a Lei é espiritual,
mas, em mim — ah!, em mim — está o mal; “sou carnal, vendido sob o pecado”
(Rm 7:14). Pela Lei tenho descoberto em mim uma natureza que se revolta contra
ela, e que ama o pecado. E o que é ainda pior, quando desejo fazer o bem não o
posso fazer, e aquilo que faço não o aprovo.
Romanos 7:16 – 26
“E, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa” (Rm 7:16). Isto
é um ponto importante, porque na minha mente ponho-me do lado da Lei,
condenando as minhas ações, mas não só isso: pois até reconheço que praticando
tais atos condenáveis, estes procedem não de mim próprio, mas do pecado que
habita em mim (veja Rm 7:17).
Que idéia tudo isto me dá da “carne”, daquilo que sou por natureza! Uma
coisa é reconhecer que tenho feito mal, e outra, que não posso fazer o bem —,
chegar a saber que “em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum” (Rm
7:18).
É custoso reconhecer esse triste fato, contudo é assim que sou levado a
distinguir entre aquilo que eu próprio sou, como sendo nascido de Deus, e o
pecado que habita em mim. Não posso em tais circunstâncias deixar de dizer que
“eu faço o que não quero”, porém, analisando tudo isso, vejo, com efeito, que “já o
não faço eu, mas o pecado que habita em mim”.
Reconheço que há em mim alguma coisa que é de Deus, que ama e aprova
a Sua Lei, e agora identifico-me com isso, com o homem interior”; contudo
acho-me sem o poder de pôr em prática o bem que desejo, e ainda mais, percebo
presente em mim o pecado que me estorva sempre.
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O meu grande desejo é viver para Deus — ser alguma coisa para Deus.
Porém, vejo que de um lado estou absolutamente sem poder, e do outro, pela
operação do pecado mim, que estou sob a sentença de morte.
O novo “eu” anela por estar livre para servir a Deus, mas não me posso
livrar do velho “eu”, que está ligado ao pecado e, portanto, debaixo da sentença de
morte. “Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte?”
(Rm 7:24).
Absolutamente incapaz de me libertar a mim mesmo, olho ao meu redor e
clamo: “Quem, quem me livrará?”
E quem pode fazê-lo senão Deus?! Sim, agora vejo que Deus já efetuou a
minha salvação, e aprecio, por fim, a verdade a respeito da morte e ressurreição
de Cristo, e da minha identificação com Ele. “Dou graças a Deus por Jesus Cristo,
nosso Senhor” (Rm 7:25).
Notemos que a experiência descrita no fim desse capítulo 7 não é
propriamente “experiência cristã”, apesar de ser a experiência de muitos cristãos.
É a experiência de quem está nascido de novo, e que por isso tem novos desejos
e sentimentos, mas que não tem pleno conhecimento da verdade do evangelho
nem do dom do Espírito Santo. Enfim, trata-se de uma pessoa que, quanto à sua
consciência, tem ainda diante de Deus a responsabilidade de um homem na carne
e por isso se acha debaixo do domínio da Lei.
De modo algum Paulo está aqui descrevendo a sua experiência como
cristão, isto é, a sua experiência na ocasião de escrever essa epístola; mas como
quem tivesse saído do lodo e estivesse em terra firme, descreve a agonia espiritual
de quem ainda lá se encontrasse.
“Para o mim o viver é Cristo!” É essa a linguagem da verdadeira experiência
cristã (veja Fp 1:21).; assim como também as palavras: “Posso todas as coisas
naquele que me fortalece” (Fp 4:13).
Romanos 8:1 – 4
Este capítulo abre com uma nota verdadeiramente triunfante: “Portanto,
agora, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus”1. E quem
haverá que, ao ler esses versículos, possa deixar de ficar deveras impressionado
com a diferença entre as palavras do capítulo 7, versículo 24 (“Miserável homem
que eu sou! Quem me livrará?”) e as do versículo 2 deste capítulo: “A Lei do
Espírito de vida, em Cristo Jesus, me livrou”.
Louvado seja Deus! Achamo-nos aqui na presença de um triunfo maior do
que qualquer que se possa ler na história humana — o triunfo de Deus; de Deus
que coloca os Seus remidos diante de Si livres de toda a condenação, e livres
também do domínio do pecado e da morte.
Aqui podemos citar algumas palavras da epístola aos Efésios: “Mas vós não
aprendestes assim a Cristo, se é que o tendes ouvido e nele fostes ensinados,
como está a verdade em Jesus” (Ef 4:20-21). Notemos bem as últimas palavras
acima citadas, que são — “a verdade está em Jesus”.
Estas palavras encerram um princípio de grande importância para nós na
compreensão do pensamento de Deus a nosso respeito. Toda a verdade a
respeito do propósito de Deus para com os crentes de hoje se manifesta na
pessoa de Jesus — na Sua morte, ressurreição e glória. Portanto, quanto melhor
1 As palavras “que não andam segundo a carne, mas segundo o espírito” em alguns manuscritos não constam.
Teologicamente não cabem aqui, como se existisse alguma condição à salvação, porém, sim, no versículo 4,
onde as lemos de igual modo. — N. do T.
24
compreendermos a posição dEle, tanto mais capazes seremos de apreciar a nossa
posição nEle.
Com que alívio descansa agora em Cristo aquele que tiver passado pela
triste experiência contada no capítulo 7, versículos 7 – 24. Naqueles versículos as
palavras que se salientam mais, pelas muitas vezes que se repetem, são os
pronomes “eu”, “me” e “mim”, que indicam que a pessoa que fala se ocupa consigo
própria. Agora, no capítulo 8, já tudo aquilo tem passado, e tanto a inteligência
como o coração dessa pessoa se ocupam com Cristo.
Leiamos então de novo as palavras: “Portanto, agora, nenhuma
condenação há para os que estão em Cristo Jesus”. Talvez alguém pense que isto
parece dizer demais. Lembremo-nos, porém, que é Deus que assim nos fala, e
bem podemos confiar naquilo que Ele diz.
Consideremos por um momento as palavras “em Cristo”. Todo crente há
de confessar que nEle tudo é perfeito, e que Ele nada tem de condenação;
sabemos que Deus acha nEle toda a Sua complacência.
Ora bem, nós crentes podemos dizer pausadamente e, pondo nas palavras
todo o seu sentido, que estamos nEle, que temos vida em Cristo.
A vida que temos de Deus em Cristo é inteiramente diferente da que temos
em Adão. Quanto a essa última, já foi condenada na morte de Jesus, ao passo que
a vida que temos em Cristo, nada tem, nem pode ter, de condenação.
Assim iniciamos por apreciar Cristo e a Sua perfeição, e em seguida,
sabendo que estamos também atualmente libertados do domínio do pecado em
nós, pela introdução deste novo princípio de vida em Cristo; e o poder desta vida
em nós é o Espírito Santo.
Vemos, pela fé, com corações agradecidos, a maneira como na pessoa e
morte de Seu Filho, feito pecado por nós sobre a cruz, Deus de uma vez para
sempre condenou o pecado na carne: a Sua plena sentença contra o pecado foi ali
executada, e podemos afirmar que Deus não tem mais que dizer a esse respeito.
Visto isso, também nós, aceitando o que Deus fez, não devemos ocupar-nos mais
com a carne: mas, recusando satisfazer os seus desejos, considerar que já não
estamos mais identificados com ela. Dominados então, não mais pelo pecado ou
pela carne, mas sim pelo poder da nova vida que temos em Cristo, andemos, não
segundo a carne, mas segundo o Espírito, achando o nosso gozo e prazer em
fazer a vontade de Deus.
Repetimos, que na morte de Cristo, a plena e justa exigência da Lei, a
nosso respeito, ficou satisfeita — foi executada a última pena. Agora libertados no
poder de uma nova vida em Cristo, o nosso privilégio é andarmos segundo o
Espírito e pelo Seu poder, de maneira que a vida de Jesus se manifeste em nós.
Romanos 8:5 – 9
O apóstolo nestes versículos torna a falar do contraste que há entre o que é
da carne e o que é do Espírito. Vem a propósito aludir aqui as palavras do Senhor
Jesus “O que é nascido da carne é carne, o que é nascido do Espírito é espírito”
(Jo 3:6).
Neste trecho o apóstolo está tratando das duas classes em que se pode
dividir o gênero humano, isto é, os que ainda têm necessidade de se converter,
que são segundo a carne, e os convertidos, que são, nessa sua condição,
segundo o Espírito. Cada qual tem os seus gostos e inclinações, mas como é
solene a posição daquele que ainda precisa se converter, visto que as suas
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inclinações o conduzem à morte. Atualmente sofre morte espiritual, mais tarde
sofrerá a física, e finalmente o que se chama a “segunda morte”, o castigo eterno.
Muito diferente é o caso do crente, pois lhe pertencem a vida e a paz. O
apóstolo não está aqui descrevendo exatamente a nossa experiência, mas
manifestando as respectivas posições ou caracteres de quem está identificado
com a carne, e de quem está no Espírito.
O caráter da carne é o de inimizade contra Deus e tanto assim é, que lemos
que a carne “não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser” (Rm 8:7).
É, como já temos visto, irremediavelmente má. No versículo 8 lemos: “Portanto, os
que estão na carne não podem agradar a Deus”, isto é, enquanto estivermos
identificados, aos olhos de Deus, com o pecado na carne que caiu debaixo da Sua
condenação na cruz, não podemos agradar-Lhe.
Qual é então a posição do cristão? A resposta a esta pergunta encontra-se
no versículo 9: “Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito”. Assim é que
Deus nos considera; somos salvos, e como tais não estamos na carne.
Porém, é preciso reparar bem a quem se referem estas palavras.
Referem-se só às pessoas convertidas e salvas e não a qualquer pessoa que
apenas se diz cristã. “Não estais na carne, mas sim no Espírito, se é que o Espírito
de Deus habita em vós. Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não
é dele”. Bem-aventurada é a sorte daquele que sabe que o Espírito de Cristo
habita nele. Como é aqui excluído todo o engano e toda a hipocrisia! Cada um tem
de se haver individualmente com Deus; a bênção vem só dEle; e é preciso que
tenhamos o selo divino.
Será bom aqui perguntarmos a nós próprios se porventura podemos
levantar os nossos corações a Deus em grata adoração, sabendo que em verdade
estamos em Cristo diante dEle e não mais em Adão; que Ele nos vê como estando
no Espírito e não na carne? Não é isto uma questão de considerarmos os nossos
sentimentos, nem de pensarmos na nossa experiência, mas sim de aceitarmos o
testemunho de Deus, e de confiarmos nEle.
O importante não é o que nós pensamos, mas aquilo que Ele diz; não o que
nós vemos, mas o que Ele vê.
Romanos 8:10 – 17
Temos visto que Deus nos considera identificados com Cristo, vivos no
poder do Espírito Santo. Porém, então, se Cristo está em nós, não podemos deixar
de reconhecer que o nosso corpo deve cessar de ser o instrumento do pecado;
mas a vida antiga não pode produzir senão pecado. Se porém Cristo estiver em
nós como a fonte e o poder de uma nova vida, o corpo, enquanto a vontade da
carne está, por assim dizer, morto; mas, debaixo do domínio do Espírito Santo, e
por meio dEle, torna-se o instrumento para a manifestação da justiça.
O Espírito Santo que é o novo poder da vida no crente, é a única fonte do
bem em nós e o único poder para a sua manifestação.
Além disto temos, pela presença do Espírito Santo em nós, a prova de que
até os nossos corpos mortais também hão de desfrutar mais tarde os gloriosos
resultados da ressurreição de Cristo, sendo conformados à semelhança do corpo
glorioso do Senhor. Assim todo o nosso ser — espírito, alma e corpo — gozará os
efeitos da plena redenção.
Tendo sido desta maneira libertados por Deus, não somos devedores à
carne para vivermos segundo as suas inclinações, mas antes pelo contrário, por
meio do Espírito Santo mortificamos as obras do corpo.
26
Deus não fala em mortificarmos os nossos corpos, mas as obras do corpo,
e isto só pode ter lugar por meio da nova vida em Cristo. Procedendo assim,
viveremos e desfrutaremos os gozos da vida nova.
Agora, no versículo 14, lemos a maravilhosa verdade de que aqueles que
assim são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus.
O crente descansa, assim, no gozo do pleno amor de Deus, tendo recebido
o Espírito de adoção, pelo qual clama: “Pai!”.
E notemos que o sermos “filhos de Deus” é uma conseqüência da
redenção, de sermos identificados com Cristo na Sua vida atual e de termos
recebido o Seu Espírito. Somente dos verdadeiros crentes se pode dizer que são
“filhos de Deus”; todos os homens são criaturas de Deus, Ele é o Criador de todos,
mas Deus não é Pai de todos nos sentido das palavras que estamos
considerando. Ele é o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, e todos que em Cristo
crêem podem dizer: “Ele é o nosso Deus e o nosso Pai também”.
Esta sublime bênção é o resultado da nossa associação no poder da vida
eterna com Cristo, e o Espírito que em nós habita testifica com o nosso espírito
que assim é.
Sendo, pois, filhos, somos também herdeiros de Deus, e co-herdeiros de
Cristo. Cristo, porém, sofreu aqui, como não podia deixar de sofrer, visto que
andava no meio do pecado e da tristeza do mundo, e a nós nos é concedido o
privilégio de termos comunhão com Ele no sofrimento aqui no lugar da Sua
rejeição; mas isto terá como conseqüência, mais tarde, a nossa comunhão com
Ele no lugar da Sua glória.
Romanos 8:18 – 27
Andamos, então, aqui como filhos de Deus, aguardando o dia da
manifestação da glória e, nesse espírito, Paulo disse: “para mim tenho por certo
que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em
nós há de ser revelada” (Rm 8:18).
E ainda mais quando chegar o dia em que o povo de Deus, agora
desprezado no mundo, se há de manifestar em glória, então a inteira criação que
tem estado sujeita à corrupção pelo pecado de Adão, experimentará a liberdade da
glória dos filhos de Deus. Oh! Que dia glorioso há de ser aquele em que nós
havemos de estar manifestados em glória com Cristo!
Lemos que a criação inteira geme e sofre, e não só ela, mas também nós
gememos em nós mesmos, esperando pelo dia em que Cristo há de manifestar o
Seu poder para a redenção dos nossos corpos.
Nós já gozamos as primícias do Espírito e desfrutamos a liberdade dos
filhos de Deus, porém desejamos muito deixar completamente o que é da velha
criação, e por isso gememos, anelando pelo momento em que isso se há de
realizar. Não desfrutamos ainda o pleno resultado da salvação — tendo recebido o
perdão dos nossos pecados, sendo justificados, tendo recebido o Espírito Santo, e
estando assim livres em nossos espíritos, esperamos pelos corpos gloriosos que
havemos de receber. Assim esperamos com paciência por esse bem que ainda
não vemos.
Nesse meio tempo a oração é necessária, não é? E, bendito seja Deus,
lemos que, não sabendo nós o que havemos de pedir como convém, o Espírito ora
por nós. Ele mesmo, segundo a vontade de Deus, intercede por nós.
27
Romanos 8:28 – 30
Chegamos agora a uma revelação verdadeiramente maravilhosa. O
apóstolo diz: “Sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem
daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados por seu decreto” (Rm
8:28).
Consideremos um pouco essas palavras, começando pelas últimas:
“chamados segundo o Seu decreto”.
Essas palavras nos falam do decreto ou propósito de Deus e, para aquele
que conhece a Deus, o quanto é agradável pensar que Ele tem um propósito firme
a respeito dos Seus, com respeito à glória de Cristo e à satisfação do Seu próprio
amor, propósito cuja realização nada há que a possa impedir.
Que momento alegre é para qualquer pessoa, quando pela primeira vez
aprecia o que é deixar o terreno da sua própria responsabilidade, para se achar
identificada com o propósito de Deus; sendo esse o terreno em que tudo depende
da graça, amor e poder de Deus.
Notemos agora que está escrito que todas as coisas contribuem para o bem
daqueles que amam a Deus e que são por Ele chamados.
É possível que alguém pergunte: Poderá este ou aquele fato contribuir para
o meu bem? A isso responderemos com outra pergunta. Não será porventura o
dito fato incluído nas palavras “todas as coisas”? Com toda certeza que sim.
Aceitemos então sem reserva aquilo que Deus nos diz.
Porém, talvez alguém sinta que isso não acontece consigo; pelo menos
vemos na vida prática que muitos crentes se queixam daquilo que lhes acontece,
fazem murmurações e mostram-se perturbados. Como se explica isso? Sem
dúvida pela falta de fé e de confiança no amor de Deus.
Qual será, pois, ao segredo que nos leva a dizer triunfantemente: “Sabemos
que todas as coisas contribuem para o nosso bem?” O segredo de tal certeza
encontra-se no conhecimento do amor de Deus.
Quais são aqueles que amam a Deus? Seguramente são os que
descansam no gozo do Seu amor por eles. É claro, portanto, que se somos
mantidos diariamente no gozo do amor divino, e se apreciamos o fato de sermos
chamados por Ele e identificados com o Seu propósito eterno, não podemos deixar
de reconhecer que todas as coisas têm por força de contribuir para o nosso bem,
visto que nEle o amor é ligado ao poder onipotente. Assim aconteça o que
acontecer, confiados no amor de Deus diremos: “Sabemos que tudo há de
contribuir de qualquer maneira para o nosso bem”; e assim poderemos dar graças
a Deus por todas as coisas, como é a vontade do Senhor.
O versículo 29 explica-nos qual é o propósito de Deus a nosso respeito.
Somos chamados para sermos conformes à imagem de Seu Filho, para que seja o
Primogênito entre muitos irmãos. Bendita esperança! Seremos conformes a Ele e
estaremos com Ele. Ele em tudo terá a preeminência, mas nós estaremos com
Ele. E tão certo é este propósito de Deus, que o apóstolo fala como se tudo já se
tivesse realizado, dizendo: “Aos que justificou, a esses também glorificou” (Rm
8:30).
Sim, bendito seja Deus, a obra iniciada aqui por divina graça, será levada
ao cabo ali em divina glória.
28
Romanos 8:31 – 39
Tendo agora chegado ao fim desta maravilhosa manifestação do
Evangelho, e tendo visto o que é o propósito de Deus a nosso respeito, que podem
os nossos corações responder a tudo isso? Exclamaremos exultantes: “Deus é
por nós!”.
E será porventura possível que Aquele que não deixou de entregar por nós
o Seu próprio Filho, nos não daria seja o que for, desde que contribua para o
nosso bem? Não, isso não; Deus há de dar-nos com Cristo todas as coisas.
Notemos bem as palavras “com Ele”. Não nos dará nada que nos possa afastar
dEle, mas com Ele nos dará todas as coisas.
Outra vez repetimos: “Deus é por nós”. Se for questão de dar — Ele nos
dará com Cristo todas as coisas (veja Rm 8:32). Se for questão de alguém intentar
acusação contra o Seu povo — Ele o justificará (veja Rm 8:33). Se for questão das
dificuldades e perigos que nos cercam — seremos mais do que vencedores por
Aquele que nos amou (veja Rm 8:30). Diremos mais, que o sermos “vencedores”
seria já uma grande coisa, mas Deus nos faz mais do que vencedores.
Podem haver dificuldades, perseguições ou perigos, mas Cristo que
morreu, e está ressuscitado e no lugar de poder à direita de Deus, interessa-Se
por nós constantemente, e intercede por nós. Portanto, forçosamente havemos de
vencer; mas ainda mais, das mesmas dificuldades e perigos havemos de tirar
muito proveito, chegando, assim, a ser mais do que vencedores, porque como
temos já visto, todas as coisas hão de positivamente contribuir para o nosso bem e
apenas nos fornecem ocasiões para experimentarmos mais o amor pessoal de
Cristo.
O apóstolo conclui este capítulo dizendo que está certo de que nada há,
nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem coisas
presentes, nem futuras, que nos possa separar do amor de Deus.
O amor divino é mais forte do que tudo, e é nos manifestado e assegurado
em Cristo Jesus, nosso Senhor, nAquele que venceu todo o poder do mal e da
morte e está atualmente sobre o trono de Deus.
O amor divino fica sendo eternamente o mesmo, e bem-aventurado é quem
pode dizer: “Estou certo de que nada me poderá separar do amor de Deus que
está em Cristo Jesus”.
A pessoa que assim conhece a Deus, sabe verdadeiramente gloriar-se
nEle.
Bem podemos dizer aqui: “Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor” (1 Co
1:31).

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