quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Nicolaismo, surgimento e crescimento do clero- F.W.Grant

Extraído do site www.verdadespreciosas.com.arTraduzido para o Português pelos irmãos da cidade de Alegrete-RS

A maioria dos cristãos estão tão acostumados a um sistema de clérigos e laicos em suas “igrejas”, que se assombram ou até se enfurecem quando este sistema é questionado. Parece-lhes muito correto que haja um pastor ou ministro que se encarregue de uma igreja; e o fato de que tudo pareça funcionar muito bem sob este regime, se argumenta como prova de sua validez. Neste tratado, Grant examina e refuta abertamente o sistema clérigo-laicista. Demonstra com clareza, à luz das Escrituras, que esta estrutura humana é um mal que têm causado grande perda ao povo de Deus. Mesmo que tenha sido escrito há mais de 100 anos atrás, as coisas não estão melhores hoje. Animo aos irmãos a lerem esta obra com uma mente livre de prejuízos e com a Bíblia aberta. Não queremos a opinião de Grant nem a minha nem a de ninguém, senão o que Deus pensa a respeito. Te rogo, pois, que faças uso do princípio escriturário que diz: “julgai todas as coisas, retende o que é bom” (1.ª Tessalonicenses 5:21). Quero mencionar um ponto ao qual Grant não havia referido, talvez porque em seus dias não era tão comum como hoje. Refiro-me ao uso do título de Reverendo em relação com um pregador. O Dicionário define Reverendo como um “epíteto de respeito aplicado ou anteposto ao nome de um clérigo. Digno de ser reverenciado; que merece reverencia” (Dicionário Webster; similarmente el DRAE). O termo aparece assim vertido em algumas versões da Bíblia no Salmo 111:9: “Santo e reverendo é seu nome”( Versão Reina Valera), aplicado ao nome de Deus, pelo que ninguém deveria aplicá-lo a sí mesmo. A medida que você ler este escrito se dará conta, sem requerer muita imaginação, do porquê ocorreram estas coisas. Quando os homens começaram a ocupar os postos de clérigos (isto é, uma classe dirigente que estava por cima do resto das pessoas, ou seja, dos laicos), almejaram um título que mostrava o respeito que supunham que lhes era devido. Um desses títulos foi o de “reverendo”, que soava muito respeitoso. Seguindo esta mesma direção, muitos “ministros” se sentem orgulhosos de exibir as iniciais que indiquem algum grau acadêmico, tal como “Doutor em Teologia”, etc. à continuação de seus nomes, para assinalar assim que são algo especial, que têm alguma capacidade especial transmitidas por escolas ou instituições religiosas humanas, ao invés de estarem plenamente capacitados pelo chamado e o ensinamento de Deus. Com as observações precedentes, recomendo esta revisão da obra do Sr. Grant a cada leitor, rogando que ajude a mostrar a cada verdadeiro filho de Deus seu grande privilégio de ter acesso direto a Deus, e pedindo também que exponha à nudez o perverso sistema que tem chegado a ser tão comum no cristianismo Atual.
“Tens, contudo, a teu favor que odeias as obras dos nicolaítas, as quais eu também odeio.... Outrossim, também tu tens os que da mesma forma sustentam a doutrina dos nicolaítas.” (Apocalipse 2:6,15, nas epístolas do Senhor dirigidas às igrejas de Éfeso e de Pérgamo). Nas cartas proféticas dirigidas às sete igrejas do Apocalipse 2 e 3 (as quais nos dão a história espiritual da Igreja desde o tempo dos apóstolos até a vinda do Senhor), a carta à igreja de Pérgamo segue após às cartas à igreja de Éfeso e a igreja de Esmirna. Pérgamo marca a terceira etapa do desvio da verdade por parte da Igreja e é historicamente fácil de reconhecer. Aplica-se ao tempo no qual, logo de haver atravessado as perseguições pagãs (Esmirna), a Igreja foi publicamente reconhecida e estabelecida no mundo. O tema principal da carta à Pérgamo é “a Igreja que mora onde está o trono de Satanás”. A palavra correta é «trono», e não «assento» (como diz na versão RV) . Satanás tem seu trono no mundo, não no inferno, o qual será sua prisão e no qual nunca reinará. Ele é chamado “o príncipe deste mundo” em João 12:31, 14:30 e 16:11. Portanto, morar onde está o trono de Satanás é assentar-se no mundo, sob o governo e a proteção de Satanás. Isto é o que as pessoas chamam a instituição da Igreja! Teve lugar sob o imperador romano Constantino, perto do ano 320 d.C. Mesmo quando a tendência da Igreja em unir-se com o mundo vinha aumentando por algum tempo, foi então quando ela saiu fora do lugar que lhe era próprio e ingressou nos lugares da antiga idolatria pagã. As pessoas chamam isto de “triunfo do cristianismo”, mas o resultado foi que a Igreja se posicionou com tal firmeza nas coisas do mundo como nunca antes. O lugar de liderança no mundo foi dela e os princípios do mundo a invadiram rapidamente. O nome Pérgamo indica isto. É uma palavra grega que significa casamento. O casamento da Igreja com qualquer coisa antes que Cristo venha a levá-la consigo (no arrebatamento), é infidelidade a Ele, com quem ela está desposada. Mas aqui está o matrimônio da Igreja e do mundo, o final de um noivado que havia começado a muito tempo antes. Antes do tempo deste «casamento», uma coisa importante se menciona na primeira carta à igreja de Éfeso, ainda que só de maneira incidental, pois ele não caracteriza a condição espiritual da assembléia de Éfeso. O Senhor lhes diz: “Mas tens isto, que aborreces as obras dos nicolaítas, as quais eu também aborreço” (Apocalipse 2:6)! Entretanto, em Pérgamo temos mais que as obras dos nicolaítas; temos uma doutrina, e a Igreja, ao invés de recusá-la, a tolerava. Em seu tempo, os santos de Éfeso aborreciam as obras dos nicolaítas, mas em Pérgamo a permitiram e não condenaram aqueles que sustentavam a doutrina. Como temos de interpretar estes versículos? Falamos que a palavra nicolaítas é a única que temos para nos ajudar. Muitos têm realizado grandes esforços para intentar demonstrar que existiu uma seita dos nicolaítas —um grupo religioso chamado por esse nome— mas a maioria dos autores concordam em que essa hipótese é muito improvável. Mesmo se existiu tal seita, é difícil entender por que deveria haver nestas epístolas proféticas semelhante menção repetida e enfática de uma seita obscura acerca da qual a história nos possa dizer pouco ou nada. O Senhor denuncia solene e poderosamente: “a qual aborreço”. Ela deve ser especialmente importante para Ele, e também deve ser significativa na historia da Igreja, por pouco compreendida que possa ser. Além disso, a Escritura não nos encaminha à história da Igreja nem a nenhuma história para que interpretemos seus significados. A Palavra de Deus é seu próprio intérprete através do Espírito Santo e não temos que buscar em outras fontes para descobrir o que está ali. Do contrário, a interpretação da Escritura dependeria de homens eruditos que buscam respostas para aqueles que não tem os mesmos recursos ou atitudes, as quais, forçosamente, haveriam de serem aceitas sobre a base de sua autoridade somente! Ao largo da Escritura, o significado dos nomes é importante, e o significado de nicolaíta é chamativo e instrutivo. Por suposto, para aqueles que falavam grego, o significado lhes abriria resultado claro. Significa subjugador do povo. A última parte da palavra (Laos) é a palavra grega que designa ao «povo» e nosso termo de uso comum«laicos» deriva dela. Assim pois, os nicolaítas foram gente que estiveram submetendo ou reprimindo aos laicos —a massa do povo cristão— para assenhorearem indevidamente sobre eles. O que faz que isto seja mais claro ainda é que em Pérgamo temos também àqueles que sustentavam a doutrina de Balaão; um nome cuja semelhança no tocante a significado tem sido observada com freqüência. Balaão é uma palavra hebréia que significa destruidor do povo, um significado muito importante em vista de sua história. Balaão “ensinava a Balaque a por tropeço ante os filhos de Israel, a comer de coisas sacrificadas aos ídolos, e a cometer fornicação” (Apocalipse 2:14). Com este propósito instigou a Israel a mesclar-se com as nações, das quais Deus os havia separado com cuidado. A confusão dessa necessitada separação significou a destruição de Israel, enquanto prevalecera. De igual modo, a Igreja é chamada a sair fora do mundo, e é sumamente fácil aplicar o tipo divino neste caso. Assim, a estreita relação destes dois nomes (Balaão e nicolaíta), ajuda a confirmar o significado anterior de nicolaíta. Observemos o desenvolvimento do nicolaitismo. No princípio (e só estou traduzindo a palavra), certas pessoas adotaram uma posição de superioridade sobre o povo. Suas obras demonstraram o que eram. Ainda não há doutrina na carta à igreja de Éfeso, mas uma doutrina, ou ensinamento, se estabeleceu já em Pérgamo. Agora o lugar de liderança é assumido para ser deles por direito. A doutrina —o ensinamento sobre isto— é aceita ao menos por alguns, e a Igreja se vê indiferente ante esta situação. O que tem sucedido entre as obras dos nicolaítas e a doutrina? Tem surgido um partido ao qual o Senhor assinala como daqueles que diziam que eram judeus e não o eram, mas que eram a “sinagoga de Satanás”, o esforço demasiado exitoso de Satanás de judaizar a Igreja, de fazer que a Igreja fosse como o judaísmo do Antigo Testamento. O judaísmo foi um sistema probatório; um sistema de prova, para ver se o homem podia produzir uma justiça tal que agradasse a Deus. O resultado da prova foi que Deus disse “não há justo, nem sequer um” (Romanos 3:10). Só então Deus pode mostrar sua graça. Enquanto estivesse submetendo a prova ao homem, Deus não podia abrir o caminho a Sua própria presença, e justificar ai ao pecador. Ele teve que manter afastado ao homem entretanto perdurará aquela prova, para que sobre aquele fundamento (as obras dos homens) nenhum pudesse ver a Deus e viver. Não obstante, a natureza essencial do cristianismo é que todos são bem vindos. Há uma porta aberta e um acesso direto a Deus. O sangue de Cristo habilita a cada pecador a aproximar-se de Deus, e a encontrar justificação por Ele. Ver a Deus em Cristo é viver, não morrer. Por isso, aqueles que lhe tem encontrado pelo caminho do sangue que fala de paz, são considerados aptos e ordenados para tomar um lugar distinto de todos os demais, porque agora eles são Seus, são filhos do Pai e membros de Cristo, de Seu corpo. Essa é a verdadeira Igreja, um corpo chamado a sair fora, separado do mundo. Leia 1.ª Coríntios 12 e Efésios 1:22-23. O judaísmo, por outro lado, incluiu a todos os judeus. Nenhum podia tomar um lugar com Deus. Por conseguinte, a separação entre judeus piedosos e não piedosos, era impossível. O judaísmo foi uma necessidade prevista por Deus; mas instaurar novamente o judaísmo, depois que Deus lhe houve posto fim, não tinha sentido. Pelo contrário era o muito exitoso trabalho de Satanás contra o evangelho de Deus e Sua Igreja. Deus apelidou a estes judaizantes como a “sinagoga de Satanás”. Agora podemos entender como quando o verdadeiro caráter da Igreja se perdeu de vista, quando o significado de «membro da Igreja» chegou a ser gente batizada com água no lugar de ser com o Espírito Santo; quando o batismo com água e com o Espírito Santo foram considerados a mesma coisa (e isto chegou a ser aceito como doutrina prematuramente na história da igreja), a sinagoga judaica foi, na prática, estabelecida novamente. Cada vez foi sendo mais difícil falar de cristãos que houvessem feito a paz com Deus ou ainda que fossem salvos. Eles esperavam ser, e os sacramentos e ordenanças chegaram a ser meios de graça para assegurar, no possível, uma salvação muito distante. Vejamos como isto contribuiu à doutrina dos nicolaítas. A medida que a Igreja chegou a ser uma «sinagoga», os cristãos vieram a ser, na prática, o que foram os judeus da antigüidade, quando não havia em forma alguma nenhuma aproximação real a Deus. Inclusive o Sumo Sacerdote, quem (como tipo de Cristo) entrava ao Lugar Santíssimo uma vez ao ano, tinha que cobrir o propiciatório com uma nuvem de incenso para não morrer. Os sacerdotes comuns só podiam entrar no Lugar Santo, e as pessoas nem sequer podiam entrar ali. Tudo isto estava expressamente designado como um testemunho de sua condição espiritual. Era a conseqüência de seu fracasso espiritual, por quanto o oferecimento feito por Deus a eles em Êxodo 19 foi este: “Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, então, sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos; porque toda a terra é minha; vós me sereis reino de sacerdotes e nação santa” (v. 5, 6). Assim pois, a Israel se lhe ofereceu, condicionalmente, uma igual possibilidade de acesso íntimo a Deus. Todos eles haviam de ser sacerdotes. Mas isto foi revogado porquanto quebraram o pacto. Então, os membros de uma família especial (Levi) foram postos como sacerdotes, e o resto do povo foi colocado em um segundo plano. Assim, um sacerdócio separado e intermediário caracterizou ao judaísmo. Não havia nenhum labor missionário; nenhuma saída ao mundo; nenhuma provisão, nenhuma ordem para pregar a Lei em absoluto. Em efeito, o que podiam dizer? Que Deus estava em uma densa obscuridade e que ninguém podia ver-lhe e viver. Essas não eram boas novas. Assim, a ausência do evangelista e a presença do sacerdócio intermediário contavam a mesma triste história. Tal era o judaísmo. Quão diferente é o cristianismo! Nem bem a morte de Cristo houve rasgado o véu (entre o lugar santo e o lugar santíssimo, indicando um acesso a Deus para todos os sacerdotes) (Mateus 27:51), e houve aberto o caminho até a presença de Deus, então, de imediato, houve um Evangelho, e a nova ordem foi: “Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura” (Marcos 16:15). Deus agora está fazendo-se conhecer ao mundo inteiro. A intermediação sacerdotal terminou, dado que todos os cristãos agora são sacerdotes para Deus. O que foi oferecido a Israel condicionalmente, é agora um ato incondicional e consumado no cristianismo. Nós somos um reino de sacerdotes; e é Pedro (ordenado pelos homens como o cabeça do ritualismo) quem anuncia as duas coisas que destroem por completo o ritualismo. Primeiro, nos diz que somos “nascidos de novo”, não por batismo, senão “pela Palavra de Deus que vive e permanece para sempre”. Segundo, em lugar de uma casta de sacerdotes, ele diz a todos os cristãos: “Vós também, como pedras vivas, sede edificados como casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais aceitáveis a Deus por meio de Jesus Cristo” (1.ª Pedro 1:23; 2:5). Hoje, nosso louvor e ação de graças, e ainda nossas vidas e nossos corpos, tudo deve ser sacrifício espiritual para Deus (Hebreus 13:15, 16; Romanos 12:1). Esta deve ser a verdadeira obra sacerdotal de nossa parte, e só deste modo se conseguirá que nossas vidas adquiram seu próprio caráter. Estes sacrifícios são o serviço de oferendas de gratidão daqueles capacitados para aproximarem-se a Deus. No judaísmo —permita-me repetir— ninguém se aproximava a Deus. Assim pois, sempre que se encontra uma casta sacerdotal, isto significa a mesma coisa, ou seja, para a grande massa de pessoas, Deus está fora, distante e obscuro.
O SIGNIFICADO DE UM CLERO
Vamos ver agora o que significa um clero. É a palavra que assinala a uma classe especial de pessoas, distinguida dos «laicos» por haver se entregado a coisas espirituais e por ter um lugar de privilégio em relação com estas coisas sagradas que os laicos não têm. Atualmente, esta classe especial está sendo atacada por duas razões, ainda que esteja longe de desaparecer. Primeiro, Deus está projetando luz com respeito a este assunto. A segunda razão é puramente humana: a época é democrática, e os privilégios de classes estão desaparecendo. Mas,que significado tem esta classe especial? Posto que é distinta dos laicos, e goza de privilégios que estes não tem, significa um aberto e real nicolaitismo, a menos que a Escritura avalie suas pretensões, posto que os laicos tem sido submetidos a eles! Mas a Escritura não utiliza tais termos e distinções de classe, nem os aplica a nossos tempos do Novo Testamento. Estes termos, «clérigo» e «laico», são pura invenção humana, que tem surgido depois que o Novo Testamento fora completado, ainda que em realidade o conceito que está detrás destes termos foi de fato importado do judaísmo do Antigo Testamento. Devemos ver o importante principio que está em jogo para entender por que o Senhor diz que aborrece as obras dos nicolaítas. Nós também, se estamos em comunhão com nosso Senhor, devemos aborrecer o que Ele aborrece. Eu não estou falando de pessoas (que Deus não me permita esse mal!), senão de uma coisa. Hoje estamos ao final de uma larga série de afastamentos de Deus. Como conseqüência, crescemos entre muitas coisas que tem chegado até nós como “tradições dos anciãos”, vinculadas com homens a quem honramos e amamos, e, admitindo sua autoridade, temos aceitado estas tradições sem sequer jamais haver analisado a questão por nossa própria conta à luz da Palavra de Deus. Reconhecemos sinceramente a muitos destes homens como verdadeiros servos de Deus, mas ocupando uma posição errônea. Eu me refiro à posição: à coisa que o Senhor aborrece. Deus não diz: «as pessoas que eu aborreço». Mesmo naqueles dias esta classe de mal não era hereditário como o é agora, e aqueles que espalhavam o mal tinham sua própria responsabilidade, nós, não obstante, não deveríamos envergonhar-nos nem temer estar onde o Senhor está. De fato, não podemos estar com Ele neste assunto, a menos que nós também aborreçamos as obras dos nicolaítas. Devemos aborrecer esta coisa porque significa uma casta ou classe espiritual —um grupo de pessoas que oficialmente tem um direito à direção em coisas espirituais, uma proximidade a Deus derivada de uma posição oficial, e não de poder espiritual—. Isto é realmente um ressurgimento, abaixo outros nomes, e com modificações, do sacerdócio intermediário do judaísmo. Este é o significado do clero. Portanto, o resto dos cristãos são só os laicos, os leigos, pagantes, em maior ou menor medida, à antiga distancia de Deus, à qual a cruz pôs fim. Agora podemos ver a razão do por que a Igreja tinha que ser judaizada antes que as obras dos nicolaítas pudessem amadurecer em uma doutrina. Sob o judaísmo, o Senhor até havia autorizado a obediência a escribas e fariseus que se sentavam na cadeira de Moisés (Mateus 23:2-3); e para que este texto se aplique agora, a cadeira de Moisés tinha que ser estabelecida na Igreja cristã. Uma vez que este teve lugar, e que a massa de cristãos fora degradada do sacerdócio do qual falou Pedro, a meros «membros laicos», a doutrina dos nicolaítas foi estabelecida.
O MINISTÉRIO CRISTÃO
Não me interpretem mal. Eu não ponho em dúvida a instituição divina do ministério cristão, posto que o «ministério» é característico do cristianismo. E se bem creio que todos os verdadeiros cristãos são ministros, eu não questiono um ministério especial e distintivo da Palavra, como dado por Deus a alguns e não a todos, mas para o uso de todos. Ninguém que seja verdadeiramente ensinado por Deus pode negar que alguns cristãos tenham o lugar de evangelista, pastor ou mestre. A Escritura ensina que todo verdadeiro ministro é um dom de Cristo, que o é por Seu cuidado como Cabeça da Igreja, e que é para Seu povo, que é algum irmão que tem seu lugar dado por Deus somente e que é responsável, em seu caráter de ministro, ante Deus somente. O miserável sistema clérigo-laicista degrada o ministro de Deus desse bendito lugar e faz dele pouco mais que a manufatura e o servidor dos homens. À vez que outorga um lugar de senhorio sobre pessoas que comprazem à mente carnal (a velha natureza), este sistema restringe ao homem espiritual, tanto ao gerar nele uma consciência artificial para os homens (o conselho da igreja, etc.), como ao obstaculizar sua consciência para estar corretamente diante de Deus. Permita-me estabelecer brevemente qual é a doutrina da Escritura sobre o «ministério». É muito simples. A verdadeira Igreja (Assembléia) de Deus é o corpo de Cristo; todos os membros são os membros de Cristo. Nas Escrituras não há mais condição de membros que esta: a de membros do corpo de Cristo, ao qual pertencem todos os verdadeiros cristãos; não muitos corpos de Cristo, senão um só corpo (Efésios 4:4); não muitas igrejas, senão uma só Igreja. Há um lugar diferente para cada membro do corpo pelo único fato de que ele ou ela são um membro. Nem todos podem ser o olho, ou ouvido, etc., mas todos eles são necessários, e todos são ministros em alguma forma, uns dos outros. Assim pois, cada membro tem seu lugar, não só em uma determinada localidade e para o benefício de uns poucos, senão para o benefício do corpo inteiro. Cada membro tem um dom “porque da maneira que em um corpo temos muitos membros, mas nem todos os membros tem a mesma função, assim nós, sendo muitos, somos um corpo em Cristo, e todos membros uns dos outros. De maneira que, tendo diferentes dons, segundo a graça que nos é dada...” (Romanos 12:4-6). Leia também 1.ª Coríntios 12:7.11; Efésios 4:7 y 1.ª Pedro 4:10, os que também demonstram que cada cristão possui um dom. Em 1 Coríntios 12, Paulo fala em detalhe destes dons e os chama por um nome significativo no versículo 7: “manifestações do Espírito”. Eles são dons do Espírito e, também, manifestações do Espírito. Eles se manifestam (se mostram) a si mesmos ali onde se encontram, onde há discernimento espiritual por gente que está mui próximo de Deus, em comunhão íntima com ele. Por exemplo, tomemos o Evangelho. De onde obtém seu poder e autoridade? É de alguma aprovação do homem, ou é de seu próprio poder inerente? Desafortunadamente, a tentativa comum de acreditar ao mensageiro, tira, em lugar de agregar, poder à Palavra. A Palavra de Deus deve ser recebida simplesmente por ser sua Palavra. Ela tem a capacidade de satisfazer as necessidades do coração e da consciência só por ser as boas novas de Deus; o Deus que conhece perfeitamente qual é a necessidade do homem e que, em conseqüência, tem feito provisão para ele. Todo aquele que tem sentido o poder do Evangelho sabe de Quem tem vindo o poder. A obra e o testemunho do Espírito Santo na alma não necessitam nenhum testemunho do homem que os suplementem. Mesmo a apelação do Senhor em seu próprio caso foi à verdade. Ele expressou: “Pois se digo a verdade, por que vós não me credes?” (João 8:46). Quando Ele falava na sinagoga judaica ou em qualquer outro lugar, era, aos olhos dos homens, só um pobre filho de carpinteiro, não acreditado por escola ou grupo de homens alguns. Todo o peso da autoridade humana esteve contra Ele. Ele inclusive repudiou “o receber testemunho dos homens”. Só a Palavra de Deus deve falar por conta de Deus. “Minha doutrina não é minha, senão daquele que me enviou” (João 7:16). E, como se aprovou a si mesma? Pelo fato de ser verdade! A verdade se fez conhecer àqueles que a buscavam; o que “quer fazer a vontade de Deus, conhecerá se a doutrina é de Deus, ou se eu falo por minha própria conta” (João 7:17). Em João 7 e 8, o Senhor lhes está dizendo: «Eu digo a verdade. a tenho trazido de Deus; e se esta é a verdade, e se procurais fazer a vontade de Deus, aprendereis a reconhecê-la como a verdade.» Deus não manteria as pessoas na ignorância e na obscuridade se procuravam fazer Sua vontade. Permitiria Deus que os corações sinceros fossem defraudados pelos muitos enganos que haviam em redor? É claro que não! Ele faz conhecer Sua voz a todos os que lhe buscam. Assim, o Senhor diz a Pilatos: “Todo aquele que é da verdade, ouve a minha voz” (João 18:37). “Minhas ovelhas ouvem minha voz, e eu as conheço, e me seguem”, e de novo: “Mas ao estranho não seguirão, senão fugirão dele, porque não conhecem a voz dos estranhos” (João 10-27, 5).
A verdade é de uma natureza tal que a desonramos se tratamos de convalidá-la para aqueles que são verdadeiros, como se ela não fosse capaz de evidenciar a si mesma. Deus mesmo inclusive é desonrado, como se ele não pudesse ser suficiente para as almas, ou para o que ele mesmo tem dado. Não, o apóstolo fala de “manifestação da verdade, recomendando-nos a toda consciência humana diante de Deus” (2.ª Coríntios 4:2). O Senhor diz que o mundo está condenado porque “a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas que a luz, porque suas obras eram más” (João 3:19). Não havia nenhuma falta de evidência. A luz estava ali, e os homens reconheceram seu poder para sua própria condenação, quando procuraram escapar dela. Da mesma maneira, no dom está a “manifestação do Espírito”, e é “dada a cada um para proveito” (1.ª Coríntios 12:7). Pelo simples fato de que um homem o tenha, ele é responsável de usá-lo; responsável ante Ele, quem não o tem dado em vão. A capacidade e o título para «ministrar» estão no dom, porque eu sou responsável de ajudar e de servir com o que tenho. Se os demais recebem ajuda, eles não necessitam perguntar se tenho autorização para ajudá-los.
Este é o caráter sensível do ministério, o serviço de amor conforme a capacidade que Deus dá; serviço mútuo de uns aos outros e para todos, sem acepção ou a exclusão de uns a outros. Cada dom é adicionado ao tesouro comum, e todos são feitos mais ricos. A benção de Deus e a manifestação do Espírito são toda a autorização requerida. Nem todos são mestres, mas se aplica exatamente o mesmo princípio. O ensinamento é, entretanto, uma das muitas divisões do serviço para Deus, serviço que é rendido por uns a outros, de acordo com a esfera de seu ministério. Não havia acaso nenhuma classe ordenada (designada) na Igreja primitiva? Isso é uma coisa totalmente distinta. Havia duas classes de oficiais que eram regularmente designados ou ordenados. Os diáconos ou servidores tinham a seu cargo os fundos para os pobres e outros propósitos, e eram eleitos, primeiro pelos santos para este posto de confiança, e logo nomeados pelos apóstolos, já fosse diretamente ou por aqueles autorizados pelos apóstolos para fazê-lo. Os anciãos foram uma segunda classe —homens de idade, como o indica a palavra— que foram nomeados nas assembléias locais unicamente pelos apóstolos ou seus delegados (Atos 14:23; Tito 1:5) como bispos ou supervisores para estarem atentos ao estado espiritual da assembléia. Os anciãos eram o mesmo que os bispos, como deduzimos claramente das palavras de Paulo aos anciãos de Éfeso (Atos 20:17,28), quando ele lhes exorta dizendo: “Portanto, olhai por vós e por todo o rebanho em que o Espírito Santo os tem posto por bispos.” Aqui os tradutores da versão Reina-Valera tem deixado sem traduzir a palavra grega «bispo» que significa «supervisor», e o mesmo podemos observar em Tito 1:5, 7: “Por esta causa te deixei em Creta, para que... e estabelecesses anciãos em cada cidade, assim como eu te mandei... porque é necessário que o bispo (supervisor) seja irrepreensível...”. O trabalho de um ancião era vigiar ou supervisar, e mesmo quando ser “apto para ensinar” (1.ª Timoteo 3:2) era uma qualidade muito requerida em vista de que os erros eram já rampantes, o fato de ensinar certamente não era algo limitado àqueles que eram “maridos de uma só mulher, que tenha a seus filhos em sujeição com toda honestidade”, etc. (Tito 1:6-9; 1.ª Timóteo 3). Esta foi uma prova necessária para um que seria ancião (ou bispo), “pois o que não sabe governar sua própria casa, como cuidará da igreja de Deus?” (1.ª Timóteo 3:1-7). Qualquer que tenham sido os dons que tiveram os anciãos, eles os utilizavam da mesma maneira que faziam todos. O apóstolo Paulo ordena o seguinte: “Os anciãos que governam bem, sejam tidos por dignos de duplo honorários, especialmente os que trabalham em pregar e ensinar” (1.ª Timóteo 5:17). Mas se desprende claramente que eles podiam governar bem sem ocupar-se em trabalhar na Palavra e no ensino. O significado de sua ordenação ou nomeação era só este: aqui se tratava de uma questão de autoridade, não de dom. Foi uma questão de título para examinar com freqüência assuntos difíceis e delicados entre pessoas que não estavam dispostas a submeterem-se à Palavra de Deus. A ministração do «dom», não obstante, era uma questão totalmente diferente.
MINISTÉRIO VS. CLERICALISMO
Nosso penoso dever, agora, é contrastar esta doutrina da Escritura com os sistemas nos quais uma classe definida está consagrada formalmente a coisas espirituais, enquanto os laicos estão excluídos de dita ocupação. Este é o verdadeiro nicolaísmo: a sujeição do povo. O ministério da Palavra de Deus é completamente legítimo e nele estão aqueles que possuem dons e responsabilidades especiais (mas não exclusivamente) para ministrá-lo. Mas o «sacerdócio» é suficientemente distinto do «ministério» para ser reconhecido facilmente onde quer que seja reclamado ou exista. Os protestantes em geral negam que todo poder sacerdotal esta em seus ministros. Não tenho nenhum desejo de disputar sua honestidade nesta negação. Eles querem dizer que seus ministros não tem nenhum poder autoritativo de absolvição, e que eles não fazem da mesa do Senhor um altar no que se renove, dia após dia (como na missa católica romana), a perfeição do oferecimento único e suficiente de Cristo, negada por inumeráveis repetições. Eles tem razão com respeito a ambas as coisas, mas esta não é a história completa. Se analisarmos mais profundamente, encontraremos que existe um caráter sacerdotal de muitas outras maneiras. Podemos distinguir sacerdócio e ministério como segue: o ministério é para os homens, enquanto que o sacerdócio é para Deus. O que ministra traz a mensagem de Deus ao povo, falando, da parte de Deus, a eles. O sacerdote se dirige a Deus de parte do povo, falando no sentido inverso: de parte do povo, a Deus. O louvor e as ações de graças são sacrifícios espirituais. Eles são parte de nossas oferendas como sacerdotes. Agora, ponha uma classe especial em um lugar onde eles só, de forma regular e oficial, atuem dando louvores e ações de graças, e virão a ser um sacerdócio intermediário, mediadores entre Deus e aqueles que não estão tão perto Dele. A Ceia do Senhor é a mais completa e proeminente expressão pública da adoração e ação de graças cristã; mas, que ministro protestante ou pastor denominacional não o considera como seu direito e dever oficiais de administrá-la? A maioria dos «laicos» se abstém de administrá-la. Este é um dos terríveis males do sistema, pelo qual as massas cristãs são deste modo secularizadas (feitas mundanas). Ocupadas com coisas mundanas, pensam que não podem esperar ser espiritualmente como os clérigos. Deste modo, as massas são exoneradas das ocupações espirituais, para as quais crêem não reunir as mesmas condições que o clero. Mas isto vai muito mais além. “Porque os lábios do sacerdote tem de guardar a sabedoria” (Malaquias 2:7). Mas como pode o laico (que tem chegado a ser tal por haver abandonado seu sacerdócio voluntariamente) ter a sabedoria pertencente a uma classe sacerdotal? A falta de espiritualidade à qual se tem desprezado a si mesmos não lhes permite conhecer as coisas espirituais. Assim, só a classe ocupada nas coisas espirituais vem a ser intérprete autorizada da Palavra de Deus. Deste modo, o clero vem a ser os olhos, ouvidos e boca espirituais dos laicos. De qualquer maneira, esta organização convém à maioria das pessoas. O «clericalismo» não tem começado simplesmente porque uma classe de homens que quiseram dirigir assumiram o lugar de liderança. Esta miserável e anti-bíblica distinção entre clero e laicos nunca poderia ter ocorrido de maneira tão rápida e universal se não estivesse tão bem adaptada ao gosto daqueles a quem substituiu e degradou. No cristianismo, como em Israel, a profecia têm sido cumprida, “os profetas profetizam falsamente, e os sacerdotes dominam de mãos dadas com eles; e é o que deseja o meu povo.” (Jeremias 5:31). Ao sobrevir uma decadência espiritual, um que esta voltando ao mundo troca de boa vontade, como Esaú, sua primogenitura espiritual por uma mistura da sopa do mundo. Concede com gratidão sua necessidade de cuidar das coisas espirituais àqueles que aceitem esta responsabilidade. Uma vez que a Igreja perdeu seu primeiro amor e o mundo começou a introduzir-se através das portas pobremente protegidas, chegou a ser mais difícil para os cristãos tomar o bendito e maravilhoso lugar que lhes pertencia. Cada passo descendente só fazia mais fácil os passos subseqüentes, até que, em menos de 300 anos desde o começo da Igreja, um sacerdócio judaico e uma religião ritualista foram praticados em quase todas as partes. Só os nomes das coisas preciosas do cristianismo foram deixados. A realidade dos privilégios especiais e cada cristão individual havia desaparecido.
ORDENAÇÃO
Observemos com maior detalhe um traço característico desta clerezia ou clericalismo. Notamos a confusão entre o ministério e o sacerdócio; a atribuição de um título oficial não escriturário, para as coisas espirituais, para administrar a Ceia do Senhor e para batizar, etc. Agora tratarei sobre ênfase posta por este perverso sistema sobre a ordenação (isto é, nomeação ou reconhecimento oficial). Quero que vejas o que significa ordenação. Primeiro, se consultamos o Novo Testamento, não encontraremos nada acerca de uma ordem para ensinar ou pregar. Encontraremos as pessoas que fazem livremente, usando um dom que tenham. A Igreja inteira foi dispersa fora de Jerusalém (exceto os apóstolos) e estas pessoas foram por todas as partes pregando a Palavra. As perseguições não as ordenaram. Não há rastro de outra coisa. Timóteo recebeu um dom de profecia pela imposição das mãos de Paulo, em companhia dos anciãos (2.ª Timóteo 1:6; 1.ª Timóteo 4:14); mas aquela era a comunicação de um dom, não uma autorização para usá-lo! A Timóteo, então, se lhe ordena que comunique seu próprio conhecimento a homens de fé, que foram capazes também de ensinar a outros (2.ª Timóteo 2:2), mas não há nenhuma palavra acerca de ordená-los. O caso de Paulo e Barnabé em Antioquia (Atos 13:1-4) fracassa como sustento do propósito com que alguns o querem usar, porque (da maneira como se pretende usar) profetas e mestres estariam obrigados a ordenar ao apóstolo Paulo mesmo, que recusa totalmente ser um apóstolo “dos homens ou por homem” (Gálatas 1:1). Ao contrário o Espírito Santo diz: “Apartai-me a Barnabé e a Saulo para a obra a que (Eu) os tenho chamado” (Atos 13:2). Se trata aqui simplesmente de uma missão especial que eles cumpriram (Atos 14:26). O que significa ordenação nos círculos religiosos da atualidade? Pode você estar seguro de que significa muito; do contrario, os homens não contenderiam com tanto zelo por ele. Há duas formas de ordenação. Na forma mais extrema —como no caso dos católicos romanos e os ritualistas— à ordenação se o confere a atribuição de conceder tanto autoridade como poder espiritual. Os líderes da igreja se adotam, com todo o poder dos apóstolos, a faculdade de subministrar o Espírito Santo mediante a imposição de suas mãos. Deste modo, as massas do povo de Deus são descartadas do sacerdócio que Ele mesmo lhes tem outorgado, e uma classe especial é colocada em seu lugar para intermediar por eles de uma maneira que anula o fruto da obra de Cristo e os ata à «igreja» como o único meio de achar graça. Aqueles que aceitam uma forma mais moderada de ordenação, recusam reta e consistentemente essas pretensões anti-cristãs. Eles não pretendem conferir nenhum dom na ordenação, senão que só «reconhecem» o dom que Deus têm dado. Pero este «reconhecimento» é considerado necessário antes de que a pessoa possa batizar ou administrar a ceia do Senhor, coisas que não requerem nenhum dom especial em absoluto! Então, enquanto ao ministério, o dom de Deus estaria obrigado a requerer a aprovação humana, e é «reconhecido» em nome de Seu povo por aqueles a quem se considera que tem um «discernimento» que os cristãos laicos não tem. Cegos ou não, estes homens ordenados —o clero— vêm a ser os “guias dos cegos”, à vez que seus próprios corações são tirados do lugar de responsabilidade direta ante Deus e feitos indevidamente responsáveis ante o homem. Uma consciência artificial é feita para eles de parte daqueles que os ordenaram, e lhes são constantemente impostas condições as quais se tem que ajustar a fim de obter o reconhecimento requerido. Inclusive estes pastores ou ministros freqüentemente estão sob o controle de seus «ordenadores» no que respeita a sua senda de serviço. Em princípio, tudo isto é infidelidade a Deus, porque se Deus me tem dado um dom a fim de que o use para Ele, eu seria certamente infiel se comparecer a algum homem ou a um grupo de homens com o fim de solicitar sua permissão para usá-lo. O próprio dom acarreta a responsabilidade de usá-lo, como o temos visto. Se eles dizem que as pessoas podem cometer erros, eu estou de acordo, mas quem tem de assumir minha responsabilidade se estou equivocado? Além do mais, os erros cometidos por um «corpo ordenante» (ou «presbitério») são muito mais sérios que os de um indivíduo que meramente marcha sem haver sido enviado pelos homens, porque os erros do corpo ordenante são declarados sagrados e se prolongam no tempo pela ordenação que conferiu. Se a pessoa «ordenada» simplesmente se sustentara por seus próprios méritos, encontraria rapidamente seu verdadeiro nível; mas o corpo ordenante tem investido sobre ele um caráter que deve ser mantido. Equivocação de por meio ou não, ele é agora nada menos que um novo membro do corpo clerical, um ministro, mesmo quando não tenha realmente nada que ministrar. Ele deve ser mantido —deve ter sua «igreja»— por mais que esta se encontre em uma localidade pouco ilustre, onde as pessoas —tão amadas por Deus como qualquer— é posta sob seu cuidado e deve ficar sem se alimentar se ele não for capaz de alimentá-las. Não me acuse de sarcástico. O anterior é um fiel retrato do sistema do qual estou falando, sistema que envolve ao corpo de Cristo com vendas que impedem a livre circulação do sangue vivificante do ministério, que deveria estar fluindo de forma irrestrita através de todo o corpo. Aqueles que ordenam na atualidade devem provar que são ou apóstolos ou homens designados pelos apóstolos porque, segundo as Escrituras, nenhum outro tinha autoridade para ordenar (Atos 14:23; Tito 1:5). Aliás, devem provar que o «ancião» segundo as Escrituras pode não ser ancião de todo, senão um jovem, uma pessoa solteira, apenas saída de sua adolescência e que fora evangelista, pastor e mestre —todos dons de Deus envoltos em uma só pessoa—. Este é o ministro segundo o sistema: o tudo em todos para 50 ou 500 almas confiadas a ele como seu rebanho, no qual nenhum outro tem o direito de interferir. Seguramente a marca de «nicolaísmo», está posta sobre um sistema como este! Mesmo quando o ministro esteja espiritualmente dotado (e muitos estão, como outros muitos não estão), é improvável que tenha todos os dons espirituais. Suponha-se que seja um verdadeiro evangelista e que as almas se salvem; ele pode não ser um mestre, e ver-se assim incapacitado para edificá-las na verdade. Ou talvez tenha o verdadeiro dom de Deus de mestre, mas é enviado a um lugar onde há tão somente uns poucos cristãos e muitos de sua congregação são não convertidos. Não há conversões, mas sua presença ali, a causa do sistema sob o qual está trabalhando, mantém afastado (em diversos graus) ao evangelista que se necessitaria ali. Agradeçamos a Deus que Ele sempre esteja desbaratando estes sistemas, e que as necessidades possam ser supridas de algum modo irregular. Entretanto, esta provisão humana não é conforme o plano de Deus e por ele divide ao invés de unir. O sistema é o responsável de tudo isto. O ministério exclusivo de um só homem, ou de um número específico de homens em uma congregação, não tem Escritura que o sustente. A ordenação é o esforço para limitar todo ministério a certa classe e faz descansar a este na autorização humana e não no dom divino. E assim se nega aos demais membros do corpo —o rebanho de Cristo— a capacidade aprovisionada por Deus para ouvir Sua voz e logo comunicá-la. O resultado é que se dá ao homem a atenção que deveria ser dada à Palavra que ele traz. A pergunta prevalecente é: Está autorizado? Relativo à verdade do que fala, com freqüência é secundaria se ele está ordenado; ou talvez, diria eu, sua ortodoxia (sua retidão doutrinal) está estabelecida já de antemão para eles pelo fato de ser ordenado. O apóstolo Paulo não fora autorizado para ministrar conforme este plano. Houve apóstolos antes dele, mas ele não subiu a eles nem recebeu nada deles. Se houvesse uma «sucessão», ele a cortou. Paulo fez o que fez, de propósito, para mostrar que seu evangelho não era segundo os homens, nem derivado deles (Gálatas 1:1) e que não descansava sobre a autoridade humana. Se ele mesmo ou um anjo do céu (cuja autoridade pareceria concludente), anunciasse um evangelho diferente do que havia pregado, a sentença solene de Paulo é: “seja anátema” (Gálatas 1:8-9). Autoridade, então, não é nada, a menos que seja autoridade da Palavra de Deus. Esta é a prova: É isto conforme às Escrituras? “Acaso pode um cego guiar a outro cego? Não cairão ambos no buraco?” (Lucas 6:39). Dizer: «Eu não pude conhecer: confiei no outro», não o salvará do poço (o inferno para os não conversos, a pobreza espiritual e a perda da comunhão para os salvos), independentemente de quanta «autoridade» pretendeu ter o ministro que lhe guiou ao erro. Mas, como pode pretender o não espiritual e não instruído «laico» ter um conhecimento igual ao do educado e acreditado ministro, dedicado às coisas espirituais? Em geral, não pode. Ao invés de segurar por si e para si a Palavra de Deus, usando o poder do Espírito Santo que mora Nele para aprender as coisas espirituais (João 14:26), ele se submete àquele que, segundo supõe, deve saber mais e melhor. Assim pois, na prática, o ensinamento do ministro ou pastor substitui principalmente a autoridade da Palavra. Entretanto, ele mesmo não tem certeza em quanto à verdade ministrada. O laico não pode ocultar-se a si mesmo o fato de que os ministros não estejam de acordo entre si por mais doutos, bons e acreditados que sejam. Mas aqui o diabo intervém e sugere à pessoa incauta que a confusão é o resultado da imprecisão das Escrituras, quando em realidade é o resultado de fazer caso omisso das Escrituras. Opinião, não fé, há em todas as partes. Você tem direito a sua opinião, mas deve conceder a outros o direito a ter a própria. Você pode dizer «eu creio» enquanto não quer dizer «eu sei». Reclamar «conhecimento» seria reclamar que você é mais sábio e melhor que as gerações precedentes, as que creram de forma diferente. A infidelidade (incredulidade) logra prosperar desta maneira, e Satanás se regozija quando consegue que os pensamentos de muitos vibrantes comentaristas substituem a simples e segura voz divina. O que você necessita é a “espada do Espírito, que é a Palavra de Deus” (Efésios 6:17). Crês tu que «assim disse João Calvino» ou «Martinho Lutero» ou qualquer outro homem, impactará tanto a Satanás como: “assim disse o Senhor”? ¿Quem pode negar que tais pensamentos e práticas, estão em todas as partes e não restringidas unicamente aos católicos romanos e ritualistas? A tendência constante é a de desviar-se do Deus vivente, mesmo quando Ele está tão próximo dos seus hoje em dia como nunca antes na história da Igreja. Ele é, inclusive, tão capaz para instruir como sempre, e todavia está disposto a cumprir a palavra: “O que quer fazer a vontade de Deus, conhecerá se a doutrina é de Deus” (João 7:17). Os «olhos» da fé são os olhos do coração (do afeto por Deus), não olhos da cabeça. Deus tem ocultado dos sábios e entendidos o que revela às criaturas. A escola de Deus é mais efetiva que todos os seminários juntos, e nessa divina escola, laicos e clérigos podem ser iguais: “o espiritual julga (discerne) todas as coisas (1.ª Coríntios 2:15), pois tudo depende da condição espiritual individual. Não há substituto para a espiritualidade. O homem não pode gerar espiritualidade em outra pessoa mediante a ordenação nem mediante nenhum outro meio. Ordenação, em sua forma mais moderada, é o esforço do homem para realizar a manifestação do Espírito Santo. Mas se aqueles que ordenam cometem um erro (o são eles mesmos não espirituais e, por ele, incapazes de julgar) e seu «ministro» não tem nada que ver com a obra de Deus, eles simplesmente provêem guias cegos para os cegos.
DISCUSÃO E SUMÁRIO
Deste modo, a santa Palavra de Deus sempre encomenda a si mesma ao coração e à consciência. O esforço de querer dar Sua aprovação ao sacerdócio romano ou à hierarquia protestante, fracassa em ambos os casos por estar sobre o mesmo terreno do nicolaísmo. Não, o nicolaísmo não é coisa do passado, não é doutrina obscura de épocas passadas, senão um gigantesco e difundido sistema de erro, frutífero em resultados malignos. O erro, ainda que mortal, pode perdurar por muito tempo. Não vá atrás dele por causa de sua antigüidade ou porque todo o mundo o segue. O Senhor aborrece este perverso sistema clerical. Se Ele o aborrece. Deveríamos sentir medo de ter comunhão com Ele neste assunto? Todos devemos reconhecer que há bons homens envolvidos neste sistema: homens piedosos e verdadeiros ministros, que levam sem saber o emblema dos homens. Que Deus os livre! Que possam deixar de lado suas ataduras e serem livres! Que possam elevar-se à verdadeira dignidade de seu chamamento e serem responsáveis ante Deus, caminhando diante Dele somente! Por outro lado, amados irmãos, é de grande importância que todos os integrantes de Seu povo, por diferente que seja seu lugar no Corpo de Cristo, estejam conscientes de que todos eles são ministros, assim como sacerdotes, sem exceção. Cada cristão tem deveres espirituais que emanam de suas relações espirituais com todos os demais cristãos. É o privilégio de cada cristão contribuir com sua participação ao tesouro comum dos dons espirituais com os quais Cristo tem dotado a sua Igreja. Um que não contribui com seu ministério, está retendo de fato o que é sua obrigação para com toda a família de Deus. Ninguém que possua sequer um aparentemente pequeno «talento», tem direito a ocultá-lo e não dobrá-lo. Tal ação é infidelidade e incredulidade.“Mais bem-aventurado é dar que receber” (Atos 20:35). irmãos, quando despertaremos à realidade destas palavras? Temos uma inesgotável fonte de regozijo, a qual é para benção, e se viermos a ela quando temos sede, rios de água viva correrão de nós. A fonte de águas vivas (a Palavra) não está limitada, para aquele que a recebe, pela quantidade que recebe dela. Ela é divina e, além disso, completamente nossa. Oh, conhecer mais desta plenitude e de toda a responsabilidade de sua possessão em um mundo espiritualmente seco e cansado! Oh, conhecer melhor a infinita graça que nos utiliza como o meio de seu passo aos homens! Quando estaremos em condições de entender nossa comum posição e doce realidade da comunhão verdadeira com Ele, quem “não veio para ser servido, mas para servir”? (Mateus 20:28). Oh, por um ministério não oficial!; que corações cheios transbordem dentro dos vazios para que muitos outros possam também estar cheios. Como deveria regozijar-nos —em um mundo de necessidade, miséria e pecado― o fato de encontrar constantes oportunidades para mostrar a capacidade da plenitude de Cristo para combater e ministrar a cada um das necessidades do mundo. Para resumir, pois, podemos afirmar que o ministério oficial é independência prática do Espírito de Deus. Diz que um homem deve transbordar, mesmo quando estiver vazio; e, por outro lado, que outro não deve transbordar, mesmo se estiver cheio. Propõe, ante a presença do Espírito Santo —que veio na ausência de Cristo para ser o Guardião de seu povo— assegurar a ordem e o fortalecimento mediante legislação ao invés de fazê-lo mediante poder espiritual. Provoca que o rebanho de Cristo deixe de escutar Sua voz, fazendo algo não necessário para eles. Deste modo sanciona e perpetua a não-espiritualidade individual, em lugar de condená-la e de evitá-la. No método de Deus para o tratamento da não espiritualidade, o fracasso humano pode tornar-se exteriormente mais evidente, pois Deus se interessa pouco em uma aparência exterior correta quando o coração não é reto para com Ele. Ele sabe que a habilidade para guardar uma correta aparência, com freqüência impede o juízo honesto, diante Dele, da verdadeira condição espiritual! Os homens repreenderiam a Pedro por sua tentativa de caminhar sobre aquelas ondas (Mateus 14:24-33), o qual evidenciou sua pouca fé. Entretanto, o Senhor só reprovou a pequenez da fé que o fez fracassar. O homem recomendaria o bote para o fracasso de Pedro em lugar do poder de sustentá-lo do Senhor, sustento que lhe fez provar a Pedro. De qualquer maneira, vento e ondas podem virar o bote, mas “o Senhor nas alturas é mais poderoso que o estrondo das muitas águas, mais que as fortes ondas do mar” (Salmo 93:4). Ao longo destes séculos de fracasso humano, tem provado alguém que Deus seja infiel? Amados, é vossa honesta convicção que é algo completamente seguro confiar no Deus vivente? Se é assim, então deixemos Deus trabalhar, por mais que devamos admitir que temos fracassado. Atuemos como se realmente confiássemos Nele.

Cristianismo de mente vazia- john Stott

extraído do livro " crer também é pensar"
O que Paulo escreveu acerca dos judeus não crentes de seu tempo poderia ser dito, creio, com respeito a alguns crentes de hoje: “Porque lhes dou testemunho de que eles têm zelo por Deus, porém não com entendimento”. Muitos têm zelo sem conhecimento, entusiasmo sem esclarecimento. Em outras palavras, são inteligentes, mas faltam-lhes orientação.
Dou graças a Deus pelo zelo. Que jamais o conhecimento sem zelo tome o lugar do zelo sem conhecimento! O propósito de Deus inclui os dois: o zelo dirigido pelo conhecimento, e o conhecimento inflamado pelo zelo. É como ouvi certa vez o Dr. John Mackay dizer, quando era presidente do Seminário de Princeton: “A entrega sem reflexão é fanatismo em ação, mas a reflexão sem entrega é a paralisia de toda ação”.
O espírito de anti-intelectualismo é corrente hoje em dia. No mundo moderno multiplicam-se os programatistas, para os quais a primeira pergunta acerca de qualquer idéia não é: “É verdade?” mas sim: “Será que funciona?”. Os Jovens têm a tendência de ser ativistas, dedicados na defesa de uma causa, todavia nem sempre verificam com cuidado se sua causa é um fim digno de sua dedicação, ou se o modo como procedem é o melhor meio para alcançá-lo. Um universitário de Melbourne, Austrália, ao assistir a uma conferência na Suécia, soube que um movimento de protesto estudantil começara em sua própria universidade. Ele retorcia as mãos, desconsolado. “Eu devia estar lá”, desabafou, “para participar.
O protesto é contra o que?” Ele tinha zelo sem conhecimento.
Mordecai Richler , um comentarista canadense, foi muito claro a esse respeito: “O que me faz Ter medo com respeito a esta geração é o quanto ela se apóia na ignorância. Ser o desconhecimento geral continuar a crescer, algum dia alguém se levantará de um povoado por aí dizendo Ter inventado... a roda”.
Este mesmo espectro de anti-intelectualismo surge freqüentemente para perturbar a Igreja cristã. Considera a teologia com desprazer e desconfiança. Vou dar alguns exemplos.
Os católicos quase sempre têm dado uma grande ênfase no ritual e na sua correta conduta. Isso tem sido, pelo menos, uma das características tradicionais do catolicismo, embora muitos católicos contemporâneos (influenciados pelo movimento litúrgico) prefiram o ritual simples, para não dizer o austero. Observe-se que o cerimonial aparente não deve ser desprezado quando se trata de uma expressão clara e decorosa da verdade bíblica. O perigo do ritual é que facilmente se degenera em ritualismo, ou seja, numa mera celebração em que a cerimônia se torna um fim em si mesma, um substituto sem significado ao culto racional.
Por outro lado, há cristãos radicais que concentram suas energias na ação política e social. A preocupação do movimento ecumênico não é mais ecumenismo em si, ou planos de união de igrejas, ou questões de fé e disciplina; muito pelo contrário, preocupa-se com problema de dar alimento aos famintos, casa aos que não tem moradia; com o combate ao racismo, com os direitos dos oprimidos; com a promoção de programas de ajuda aos países em desenvolvimento, e com o apoio aos movimentos revolucionários do terceiro mundo. Embora as questões da violência e do envolvimento cristão na política sejam controvertidos, de uma maneira geral deve-se aceitar que luta pelo bem estar, pela dignidade e pela liberdade de todo homem, é da essência da vida cristã. Entretanto, historicamente falando, essa nova preocupação deve muito de seu ímpeto à difundida frustração de que jamais se alcançará um acordo em matéria de doutrina. O ativismo ecumênico desenvolve-se com reação à tarefa de formulação teológica, a qual não pode ser evitada, se é que as igrejas neste mundo devam ser reformadas e renovadas, para não dizer, unidas.
Grupos de cristãos pentecostais, muitos dos quais fazem da experiência o principal critério da verdade. Pondo de lado a questão da validade do que buscam e declaram, uma das características mais séria, de pelo menos alguns neo-pentecostais, é o seu declarado anti-intelectualismo.
Um dos líderes desse movimento disse recentemente, a propósito dos católicos pentecostais, que no fundo o que importa” não é a doutrina, mas a experiência”. Isso equivale a por nossa experiência subjetiva acima da verdade de Deus revelada. Outros dizem crer que Deus propositadamente dá às pessoas uma expressão inteligente a fim de evitar a passagem por suas mentes orgulhosas, que ficam assim humilhadas. Pois bem. Deus certamente humilha o orgulho dos homens, mas não despreza a mente que ele próprio criou.
Estas três ênfases - a de muitos católicos no ritual, a de radicais na ação social, e a de alguns pentecostais na experiência - são, até certo ponto, sintomas de uma só doença, o anti-intelectualismo.
São válvulas de escape para fugir à responsabilidade, dada por Deus, do uso cristão de nossas mentes.Num enfoque negativo, eu daria como substituto este trabalho “a miséria e a ameaça do cristianismo de mente vazia”. Mais positivamente, pretendo apresentar resumidamente o lugar da mente na vida cristã. Passo a dar uma visão geral do que pretendo abordar. No segundo capítulo, a título de introdução, apresentarei alguns argumentos - tanto seculares como cristãos - a favor da importância do uso de nossas mentes. No terceiro, constituindo a tese principal, descreverei seis aspectos da vida e responsabilidade cristãs, nos quais a mente tem uma função indispensável. Concluindo , procurarei prevenir contra o extremo oposto, também perigoso, de abandonar um anti-intelectualismo superficial para cair num árido super-intelectualismo. Não estou em defesa de uma vida cristã seca, sem humor, teórica, mas sim de uma viva devoção inflamada pelo fogo da verdade. Anseio por esse equilíbrio bíblico, evitando-se os extremos do fanatismo. Apressar-me-ei em dizer que o remédio para uma visão exagerada do intelecto não é nem depreciá-lo , nem negligenciá-lo, mas mantê-lo no lugar indicado por Deus, cumprindo o papel que ele lhe deu

O Amor é....- David W Dyer

Extraído do Livro " Deixe meu Povo Ir"
O amor é a natureza de Deus. Portanto, a genuína expressão desse amor tem certas características que refletem a natureza divina. Há um certo "sabor" ou "aroma" em alguém que esteja caminhando no amor sobrenatural, que talvez seja muito difícil definir, embora seja muito real. Há sobre uma pessoa assim algo que é uma exibição da divindade de Cristo.
Paulo, em sua primeira carta aos Coríntios, detalha muitas dessas características, de maneira que podemos ser capazes de identificá-las. Não apenas podemos reconhecê-las nos outros, mas também usar tais detalhes para avaliar nossas próprias vidas. Naqueles versículos, podemos examinar nossas vidas e ver se exibimos muito ou pouco da natureza de Deus. Cada uma dessas características define um aspecto da natureza de Cristo, que deveria ser evidente em nós.
Para começar, lemos que: "...o amor é paciente, é benigno..." (1 Co 13:4). Na caminhada com o Senhor, encontraremos muitas situações que nos farão sofrer, algumas vezes muito duramente. Muitas dessas ocasiões são provocadas por outras pessoas. É muito fácil, quando alguém nos provoca dor, termos uma reação maldosa. Isso é especialmente verdadeiro quando o sofrimento dura um longo tempo. Talvez o tempo seja de um, dois, dez ou mesmo trinta anos.
Em tais situações, o amor de Deus sofre pacientemente e continua a ser bondoso com a outra pessoa que está nos causan­do dor. O amor humano nunca pode fazer isso. Ele desaponta e, freqüentemente, desaponta rapidamente. Mas o amor sobrena­tural de Deus continua a amar e a ser bondoso, mesmo quando se depara com um sofrimento prolongado. O amor Dele é o único amor que se comporta desta maneira.
Pode ser que o seu sofrimento não seja provocado por uma outra pessoa. Talvez você esteja doente ou sentindo dores. Mas a expressão de bondade ainda deve ser sua. Se nos tornarmos ranzinzas, impacientes e difíceis por causa de nossa dor, isso será uma evidência de que precisamos de muito mais intimi­dade com a fonte do amor real, que é Jesus.
Somos também ensinados que: "...o amor não arde em ciúmes..." (1 Co 13:4). Já que Jesus é muito humilde, Sua natureza em nós não deve ser invejosa em relação aqueles que têm mais do que nós. Os que são cheios de Sua Vida não se preocupam se alguém tem mais dinheiro ou bens mundanos. Eles não se frustram quando outros são bem sucedidos e eles, não. Não estão lutando para possuir tanto quanto ou até mais do que outros possuem.
Não se preocupam quando outra pessoa é mais notada, mais usada por Deus, mais elogiada ou mais reconhecida. Não se tor­nam amargos quando outros são beneficiados e eles, não. Têm alegria em ver que alguém está sendo abençoado, porque seus corações estão batendo em harmonia com o seu Criador.
Aprendemos ainda que "o amor não se ensoberbece..." e que não é orgulhoso (1 Co 13:4). Isso mostra que os que estão cami­nhando no amor de Deus não estão à procura de reconhecimen­to. Não são orgulhosos do que possuem, em termos de bens materiais; não são cheios de si por causa de sua inteligência, beleza pessoal ou qualquer outra vantagem humana; não são arrogantes por causa dos seus dons espirituais ou pela maneira como Deus os está usando. Essas pessoas não estão procurando oportunidades de serem vistas ou ouvidas e não querem, de maneira alguma, impressionar outras pessoas. Ao contrário, o sabor da verdadeira humildade permeia a vida deles e o seu ministério.
O amor também "...não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses..." (1 Co 13:5). O amor divino não é agressivo. Não demanda "seus direitos", em determinadas situ­ações. Aqueles que estão cheios de tal amor não ofendem os ou­tros, insistindo em que seus métodos e desejos estejam corretos e devam ser cumpridos; não pleiteiam suas idéias e opiniões como as únicas corretas; não usam o próximo em benefício próprio; não procuram a sua própria satisfação em qualquer situação; mas preferem assegurar-se de que os outros estão sendo abençoados.
Aqueles que caminham em amor não se exasperam (1 Co 13:5). Não se ofendem facilmente. Quando são tratados misera­velmente; quando são ignorados; quando são mal compreendi­dos; quando alguém peca contra eles; não ficam instantanea­mente irritados e irados. Por serem humildes, seu orgulho não é ferido.
Tais pessoas verdadeiramente amorosas não reagem de forma natural à provocação; não tentam retaliar quando outros as machucam ou ferem; não "dão o troco". Ao contrário, com os olhos do Espírito, essas pessoas enxergam além da situação aparente e sentem o coração amoroso de Deus para com as pes­soas que abusam delas. As pessoas cheias do amor de Deus são muito inocentes e sem malícia.
Pessoas assim vivem um amor que "...não se ressente do mal..." (1 Co 13:5). Não são rápidas em imputar aos outros motivos errados; não gastam tempo julgando pensamentos e intenções alheios; não perdem tempo imaginando que os outros pensam mal deles nem lhes imputando vários pecados. Realmente existe uma atitude pura, um tipo de "santa inocên­cia" para com o mal, que permeia a vida daqueles que andam em amor.
Obviamente, o amor "...não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade..." (1 Co 13:6). Pessoas realmente amorosas não ficam felizes quando alguém cai em pecado. Quando coisas ruins acontecem com aqueles que se opuseram a elas e lhes fizeram feridas, isso não as fazem felizes. Não se agradam em ver que aquelas pessoas "finalmente" estão recebendo o que merecem.
Em vez disso, oram por seus inimigos. Seu amor não per­mite que elas gostem de ver as dores, dificuldades e falhas daqueles que as maltrataram e abusaram delas. Elas se alegram quando os vêem crescendo espiritualmente e se regozijam quan­do os outros são instruídos e abençoados. Sentem-se alegres porque a obra de Deus segue adiante e a escuridão é derrotada. A alegria delas não acontece quando o mal sucede a outros, mas quando estes são trazidos para uma maior intimidade com Deus.
O amor "...tudo sofre..." (1 Co 13:7). Crentes que são cheios do amor de Deus terão uma tolerância sobrenatural. Não renun­ciam facilmente às outras pessoas. Uma coisa se tornou muito clara para mim depois de muitos anos. É que, do ponto de vista de Deus, as pessoas não são descartáveis. Nós não somos livres para simplesmente nos livrarmos das pessoas de que não gosta­mos ou que nos ofenderam.
É inevitável que ocorram muitos problemas em nossa ca­minhada com o Senhor e em nosso contato com os outros. As pessoas irão pecar, errarão, poderão dizer ou fazer coisas que nos ferirão, possivelmente, de maneira muito profunda. No entanto, apesar de tudo isso, não somos livres para simples­mente descartá-las. O amor suporta todas as coisas.
É muito fácil perder a fé no que se refere à nossa situação e à condição dos outros. No entanto, Paulo nos ensina que o amor "...tudo crê..." (1 Co 13:7). Podemos estar certos de que, quando Deus começa um projeto, Ele tem intenção de acabá-lo. Quando Ele entra na vida de uma pessoa, já sabe o que vai fazer para cumprir os Seus propósitos. Portanto, quando estivermos andando em intimidade com Deus, iremos sentir Sua eterna per­sistência. Iremos receber Dele fé para acreditar que Sua vontade será cumprida.
Essa fé que Deus nos dá gera esperança dentro de nós (1 Co 13:7). Essa esperança é que a glória de Deus será reproduzida em nós através de todas as dificuldades e tribulações pelas quais passamos (Rm 5:2). Aqueles que andam em comunhão com Deus têm a esperança de serem transformados em Sua gloriosa imagem. Sabemos que, algum dia, nosso "pote de barro" será quebrado e a obra gloriosa que Deus fez dentro de nós irá res­plandecer como o sol (Mt 13:43).
Por meio de nossa fé, vemos o futuro. Vislumbramos o que é a verdadeira glória e somos capturados e mantidos cativos por essa visão. É a nossa intimidade com o nosso Criador que nos dá essa esperança. A esperança não só existe em relação a nós mes­mos, mas aos outros crentes também.
O amor "...jamais acaba..." (1 Co 13:8). É a nossa confiança no amor de Deus que nos motiva a perseverar. Somos capacita­dos por Seu amor a tolerar toda e qualquer necessidade e acon­tecimento. Apenas através de nossa comunhão com Ele podemos desenvolver essa tolerância.
Sem tal intimidade, a força humana nos decepciona. Sentimos que não podemos aguentar mais. Mas quando nos saí­mos bem ao entrar na presença de Deus, então encontramos o suprimento para suportar até o final (Mt 10:22). Em Deus existe um suprimento infindável do Seu amor, simplesmente ilimita­do. Ele "...jamais acaba...".
Simplesmente não há uma maneira do ser humano viver do modo descrito acima. Somente a Vida e a Natureza de Deus podem cumprir tal meta, de modo tão sublime. Assim, para viver dessa maneira, precisamos estar continuamente conecta­dos à fonte eterna. Se queremos transmitir Sua natureza; se dese­jamos exalar o doce perfume de Seu caráter; se gememos por ser uma acurada demonstração de Seus sentimentos e pensamen­tos; precisamos cultivar e manter uma comunhão íntima e amorosa com Jesus Cristo.
Aqueles que andam em amor se tornarão exibições da Natureza de Cristo. Serão cheios de bondade, gentileza, paciên­cia e doçura. Os outros sentirão neles algo tão atraente, que desejarão também uma maior intimidade com o seu Salvador. A exibição de Cristo é algo que o Espírito Santo faz dentro de nós.
Todo esse processo não é resultado de dedicação ou esforços humanos. Simplesmente decidir tentar mais arduamente será insuficiente. Não há nada no homem natural que possa imitar isso adequadamente. Portanto, para exibir essa maravilhosa natureza, precisamos andar em uma intimidade cada vez maior com Deus. Precisamos persistir Nele, recebendo continuamente o fluir da Vida Divina, que irá nos transformar à Sua imagem.

Examen de Conciencia- D.M Lloyd Jones

Extraído do Livro " La fé aprueba"
Se llenó de amargura mi alma, Y en mi corazón sentía punzadas.
Tan torpe era yo, que no entendía; Era como una bestia delante de ti.

Aquí llegamos a otro paso más en la narración de la crisis por la cual pasó el alma del salmista en su andar piadoso. Hemos visto cómo su forma de pensar con respecto a los impíos y a Dios fue corregida.
Ahora entramos a considerar cómo, en un tercer aspecto, su pensamiento acerca de sí mismo fue corregido. Esto lo describe en forma vivida y a la vez rigurosa en los dos versículos que estamos considerando. Notemos primero el sorprendente contraste que presenta con lo que anteriormente dijo acerca de sí mismo en los versículos 13 y 14. Allí dijo: "¡En vano he limpiado mi corazón y lavado mis manos en inocencia! Pues he sido azotado todo el día, y castigado todas las mañanas". Se tiene mucha lástima. Es muy correcto, un hombre muy bueno Se le está presionando mucho, se le trata injustamente, y aun Dios mismo parece ser injusto con él. Esto es lo que pensó de sí mismo cuando estaba fuera de santuario. Sin embargo, dentro del santuario todo cambió:
"Se llenó de amargura mi alma, y en mi corazón sentía punzadas Tan torpe era yo, que no entendía; era como una bestia delante de ti”. (¡Qué transformación!) ¡Qué concepto totalmente diferente de sí mismo. Y todo como resultado de que su forma de pensar fue corregida y hecha verdaderamente espiritual.
Esto es un asunto muy importante y el punto más sobresaliente en todo el desarrollo de la enseñanza de este Salmo. Seamos bien sinceros y honestos y admitamos que nosotros somos muy propensos a detenernos antes de llegar a este punto. Estamos satisfechos con leer acerca de los impíos —y no conozco a nadie que se ha incomodado por un sermón que muestra cómo los impíos han sido puestos en lugares resbaladizos. También está esta gran y exaltada doctrina acerca de Dios: "Jehová reina". A todos nos gusta escuchar acerca de ella. Aceptamos la enseñanza en cuanto al juicio de los impíos y nos gusta leer de la gloria y la majestad de Dios, porque esto nos hace sentir que todo está bien con nosotros. El peligro es detenernos en este punto y no seguir más adelante. El salmista, sin embargo, sigue adelante, y al hacerlo, no solamente nos revela su honestidad, sinceridad y veracidad, que eran parte tan esencial de su formación, sino que también —y esto es lo que quiero enfatizar— exhibe una comprensión de la naturaleza de la vida espiritual.
En estos dos versículos tenemos un relato de su arrepentimiento. Nos enteramos de lo que dijo de sí mismo y, en particular, acerca de su reciente conducta. Es, por cierto, un clásico ejemplo de un honesto examen de conciencia. Les invito a considerar esto conmigo por la importancia que tiene en la disciplina cristiana. Este arrepentimiento, este estado en el cual el hombre se detiene y habla consigo mismo, es uno de los aspectos más esenciales y vitales en lo que comúnmente se llama disciplina de la vida cristiana. No me disculpo por enfatizar este punto nuevamente, porque es algo que ha sido seriamente descuidado en estos días. ¿Con cuánta frecuencia oímos acerca de la disciplina en la vida cristiana? ¿Cuántas veces hablamos de esto? ¿Cuántas veces lo encontramos realmente en el centro del andar cristiano?
Hubo un tiempo en la Iglesia Cristiana cuando ocupaba un lugar central, y creo verdaderamente que el estado actual de la Iglesia se debe a nuestro descuido de esta disciplina. Realmente, no veo esperanza alguna de un verdadero avivamiento y un verdadero despertar hasta que volvamos a esta disciplina.
Al abordar este tema, quisiera comenzar diciendo que existen dos peligros principales, y como es habitual, están en extremos opuestos. Nosotros somos criaturas dadas a excesos, tomando posiciones ya sea en un extremo o en el otro. La dificultad está en caminar en la posición correcta, evitando las reacciones violentas; porque la verdadera posición en la uda cristiana es generalmente en el centro, entre los dos extremos. Un peligro bastante común ha sido la morbosidad y la introspección. Yo diría que no es una dificultad muy común entre cristianos hoy en día, aunque hay algunos que todavía están sujetos a ello. En algunas partes de Gran Bretaña, como por ejemplo, las regiones montañosas de Escocia, se encontrará todavía esta tendencia a que me estoy refiriendo. En un tiempo esto era muy común entre los celtas de esa región y en otras partes. Yo también fui criado en un ambiente religioso dado a esta tendencia, donde las personas pasaban gran parte de sus vidas analizándose y condenándose, sólo conscientes de su indignidad e incapacidad. Como resultado de esta actitud se volvían introspectivas, y se encerraban en sí mismas. Vivían continuamente tomándose el pulso y la temperatura espiritual, casi sumergidas en este proceso de condenación de sí mismas.
Les contaré la historia de una de las escenas más patéticas que he tenido que presenciar. Estuve al lado del lecho de muerte de uno de los hombres más santos y píos que he tenido el privilegio de conocer. En el cuarto estaban sus dos hijas, siendo ambas de edad madura. £1 anciano padre sabía que se estaba muriendo, y lo que más le preocupaba era que sus hijas no eran miembros de una Iglesia, y que nunca habían participado de la Santa Cena. Era realmente un caso asombroso, porque sería difícil encontrar dos mujeres tan santas y tan activas en la vida de la Iglesia. Sin embargo, no eran miembros de la Iglesia. ¿Por qué nunca habían participado de la Santa Cena? Porque no se sentían merecedoras de la misma; sentían que no estaban en condiciones de venir a la mesa, tan conscientes estaban de sus fracasos, de sus pecados y de sus defectos. Dos excelentes mujeres cristianas que por su introspección y encierro en sí mismas, creyeron no tener derecho de participar de la vida íntima de la Iglesia.
Esto era muy común en un tiempo. Algunos se levantaban en las reuniones de Iglesia para decir cuan pecadores eran y enfatizar cuánto habían fracasado. Tenían la esperanza de llegar al cielo, sí, pero no podían entender cómo criaturas tan indignas podían lograrlo. Ustedes seguramente estarán familiarizados con esta actitud por lo que han leído. Sin duda era una tendencia en las \idas de los santos Juan Fletcher y Henry Martyn. Estos no eran casos extremos, pero evidentemente tenían esta tendencia, y era una fase de la piedad de aquella época.
Este no es, en ninguna manera, el peligro de hoy en día, particularmente aquí en Londres y en los círculos en donde la mayoría de nosotros nos movemos. En verdad, el peligro entre nosotros es totalmente diferente; es el peligro contra el cual el profeta Jeremías nos amonesta cuando habla de aquellos que "curan la herida de mi pueblo con liviandad, diciendo: Paz, paz y 'no hay paz'. Es el extremo Opuesto a la otra tendencia. Es la ausencia de una real y santa tristeza por el pecado, con la inclinación a disculpamos y de consideramos a nosotros, a nuestros pecados, nuestras fallas y nuestros fracasos, muy livianamente.
Permítaseme expresarlo en una forma más drástica aún." Creo que existe un verdadero peligro entre algunos, y en particular entre evangélicos, de abusar de la doctrina de la salvación, de abusar de las grandes doctrinas de la justificación por la fe solamente y de la seguridad de la salvación con el consecuente fracaso al no comprender lo que realmente es el pecado ante los ojos de Dios, y lo que realmente significa en un hijo de Dios. No sé por qué, pero la idea que el arrepentimiento no debería tener parte alguna en la vida, del cristiano, parece haber ganado popularidad. Hay quienes piensan que está mal hablar de arrepentimiento. Dicen que en el momento en que uno se ha dado cuenta que ha pecado y que ha puesto su pecado "bajo la sangre" ya está bien. Detenerse para pensar en eso y condenarse a sí mismo significa que hay falta de fe. En el momento que miramos a Jesús ya está todo bien. Nos curamos a nosotros mismos muy fácilmente; en verdad, no vacilo en decir que el problema con la mayoría de nosotros, en un sentido, es que somos demasiado "sanos" espiritualmente. Lo digo enfáticamente, somos demasiado volubles y muy superficiales. No; nos preocupamos de estos problemas; nosotros, contrariamente a lo que hace el salmista en estos dos versículos, andamos muy a gusto con nosotros mismos Somos muy distintos al hombre que se describe en las Escrituras.
Sugiero que esto se debe al hecho que nosotros no hemos llegado a dar el paso que el salmista dio. En el santuario no solamente se dio cuenta acerca de los impíos y de Dios, sino también acerca de sí mismo. Parece que hoy en día no hacemos esto y el resultado es la falsa apariencia de salud, como si todo estuviera bien con nosotros. Hay muy poco de polvo y cenizas; hay muy peco de divina tristeza por el pecado; hay muy poca evidencia de verdadero arrepentimiento.
Deseo mostrar que la necesidad de arrepentimiento y la importancia del mismo es algo que se enseña en todas las Escrituras. £1 ejemplo clásico de esta enseñanza, desde luego, se encuentra en la parábola del Hijo Pródigo. Allí tenemos la historia de un hombre que pecó, y que en su insensatez, dejó su casa y después se encontró con que las cosas le fueron mal. ¿Qué pasó? Cuando se dio cuenta, ¿qué hizo? Se condenó a sí mismo, habló consigo mismo. Se trató a sí mismo severamente. Y fue sólo después de esto que se levantó y se volvió a su padre. O bien, tomemos esa maravillosa declaración en 2* Corintios 7:9-11. Estos cristianos en Corinto habían cometido un pecado y Pablo les escribió acerca de ello y envió también a Tito a predicarles sobre el tema. La acción que siguió nos proporciona una definición de lo que realmente significa un verdadero arrepentimiento espiritual. Lo que alegró al gran apóstol acerca de ellos fue la forma en que se trataron a sí mismos. Notemos que lo describe en detalle. Dice: "Porque he aquí, esto mismo de que hayáis sido contristados según Dios ¡qué solicitud produjo en vosotros, qué defensa, qué indignación, qué temor, qué ardiente afecto, qué celo, y qué vindicación! En todo os habéis mostrado limpios en el asunto". Estos corintios se trataron a sí mismos severamente y se condenaron a sí mismos; se "contristaron según Dios", y debido a esto Pablo les dice que nuevamente están en un lugar de bendición.
Otro ejemplo maravilloso de esta verdad la encontramos en el libro de Job. ¿Recordamos cómo Job a través de la parte principal de ese libro se justifica a sí mismo, defendiéndose y a veces sintiendo lástima de sí mismo? Pero cuando él vino sinceramente a la presencia de Dios, cuando llegó al lugar en donde se encontró con Dios, esto es lo que dijo: "Por tanto me aborrezco, y me arrepiento en polvo y ceniza" (Job 42:6). No hubo otro hombre más piadoso que Job, el más recto, el más religioso de todos en este mundo. Sin embargo, ahora, a causa de la adversidad, no se acuerda más de las buenas cosas que había tenido ni de las bendiciones de que había disfrutado. Job estuvo tentado a pensar de Dios en la misma manera que el autor del Salmo 73, y dijo cosas que no debería haber dicho. Pero cuando ve a Dios, tapa su boca con su mano y dice "me arrepiento en polvo y ceniza". Me pregunto si conocemos esta experiencia. ¿Sabemos lo que es aborrecernos a nosotros mismos y arrepentimos en polvo y ceniza? La doctrina popular de nuestros días no parece congeniar con esto, pues enseña que nosotros ya hemos pasado Romanos 7. No debemos hablar de sentirnos tristes por el pecado, porque esto significaría estar toda-\¡a en las primeras etapas de la vida cristiana. Así es que salteamos Romanos 7 y nos quedamos en Romanos 8. ¿Pero hemos estado alguna vez en Romanos 7? ¿Hemos dicho alguna vez desde el fondo de nuestro corazón: "¡ Miserable de mí! ¿Quién me librará de este cuerpo de muerte?" ¿Alguna vez nos hemos arrepentido, en verdad, en polvo y cenizas? Esta es una parte muy vital en la disciplina de la vida cristiana. Leamos las vidas de los santos a través de los siglos y veremos que hicieron esto muy frecuentemente. Leamos nuevamente la vida de Henry Martyn, por ejemplo; miremos a cualquiera de los grandes hombres de Dios, y encontraremos que muchos de ellos se aborrecían a sí mismos. Odiaban sus vidas en este mundo; se odiaban a sí mismos en este sentido. Y era por eso que fueron grandemente bendecidos por Dios.
Nada es más importante, entonces, para nosotros que seguir al salmista y ver exactamente lo que hizo. Tenemos que aprender a mirarnos a nosotros mismos y tratarnos con firmeza. Esto es primordial en la vida cristiana. ¿Cuáles son los pasos? He procurado dividirlos de la siguiente manera.
Primeramente, tenemos que confesar honestamente lo que hemos hecho. No nos gusta hacer esto. Nos damos cuenta de lo que hemos hecho, y la tendencia es decir: "He vuelto a Cristo, enseguida me ha perdonado y todo está bien". Esto es un error. Tenemos que confesar que hemos hecho esto. El salmista perdió mucho tiempo en conmiserarse de sí mismo, en mirar a otras personas y envidiarlas. Perdió mucho tiempo con pensamientos indignos acerca de Dios y sus caminos. Sin embargo, después de su recuperación en el santuario, se dijo a sí mismo: "Yo debo pasar la misma cantidad de tiempo mirándome a mí mismo, y a lo que he hecho". No debemos escatimarnos. Debemos en verdad confesar lo que hemos hecho, que equivale a decir que debemos deliberadamente poner estas cosas delante de nosotros. No debemos protegernos de ninguna manera; no debemos ceder a la tentación de escaparnos de nuestro pecado; no debemos mirarlo en forma casual. Debemos deliberadamente poner los hechos delante de nosotros y decir: "Esto es lo que he hecho, esto es lo que he pensado y lo que he dicho".
Pero no solamente esto. Debo analizar y desmenuzar esto en todos sus detalles y considerar todo lo que involucra e implica. Esto es lo que por medio de la disciplina propia debemos hacer implacable y resueltamente. Es indudable que el salmista hizo esto. Es por esto que termina diciendo: "igual que una bestia". Nosotros nunca nos aborreceremos si no hacemos esto. Debemos poner nuestro pecado delante de nosotros hasta que lo veamos tal cual es.
Enfatizaré que debemos particularizarlo y analizarlo en detalle. Sé que esto es penoso. Significa que no sólo es suficiente ir a Dios y decir: "Dios, soy un pecador". Debemos detallar nuestro pecado, debemos confesarlo a nosotros mismos y a Dios minuciosamente. Ahora bien, es más fácil decir: "soy un pecador", que: "he dicho algo que no debería haber dicho, o pensado algo que no debería haber pensado", o, "he abrigado un pensamiento impuro". La esencia del asunto es llegar hasta el detalle, particularizarlo, expresarlo todo, poner todos los detalles delante de uno mismo, analizarse a uno mismo y enfrentar el horrible carácter del pecado hasta su más profundo detalle. Esto es lo que los maestros en la vida espiritual han hecho. Leamos sus manuales, leamos las publicaciones de los hombres más santos que han adornado la vida de la Iglesia y nos daremos cuenta que siempre han procedido así. Ya he recordado a Juan Fletcher. El no solamente se hacía doce preguntas a sí mismo antes de acostarse a la noche sino que enseñó a su congregación a que haga lo mismo. No se contentó con un rápido examen general; se examinó en detalle con preguntas tales como ¿me enojo yo?, ¿me he enojado hoy? ¿He hecho la vida ingrata para alguien hoy?, ¿he escuchado hoy a alguna sugerencia que el diablo puso en mi mente, algún pensamiento impuro?, ¿he persistido en pensarlo, o lo he rechazado de inmediato? Debemos hacer un recuento de todo lo del día y ponerlo delante de nosotros y enfrentarlo. Esto es verdaderamente un examen de conciencia.
Luego debemos examinarlo todo a la vista de Dios, "ante El". Debemos llevar todas estas cosas incluyéndonos a nosotros mismos a la presencia de Dios y antes de hablar con Dios, debemos condenarnos a nosotros mismos. Notemos las palabras de Pablo en 2 Corintios 7:11: "qué indignación". Ellos estaban indignados consigo mismos. El problema es que nosotros no estamos indignados con nosotros mismos, y tendríamos que estarlo, porque todos somos culpables de los pecados que ya he enumerado. Estas son cosas horribles a la vista de Dios, y no estamos indignados. Nos llevamos muy bien con nosotros mismos; es por eso que nuestro testimonio es tan poco eficaz. Tenemos que aprender a humillarnos, tenemos que aprender cómo humillarnos, tenemos que aprender a golpearnos. Pablo nos dice en 1Corintios 9:27: “. Lo pongo en servidumbre". Metafóricamente él se castiga, se golpea hasta estar morado: esa es la derivación de la palabra traducida "poner en servidumbre". Nosotros debemos hacer lo mismo. Es una parte esencial de la disciplina. Indudablemente el autor del Salmo lo hizo porque termina diciendo: "Tan torpe era yo, que no entendía: ¡era como una bestia delante de ti! Solamente una persona que haga pasado por el proceso de un profundo examen de conciencia puede llegar a esta conclusión. Si queremos, entonces, llegar a esto, debemos persistir en este camino que hemos indicado y examinarnos de verdad para vemos tal como somos realmente.
El próximo punto que debemos considerar es éste: ¿qué es lo que descubrimos cuando hemos hecho todo esto? No puede haber ninguna duda a la respuesta dada en este Salmo. Lo que el autor encontró después de haberse examinado, y de haber realmente corregido su pensamiento acerca de sí mismo, fue que la causa principal, quizás la única causa de sus problemas, era él mismo. Este es siempre el problema. Nuestro yo es nuestro principal y constante enemigo; y es una de las más prolijas causas de nuestra infelicidad. Como resultado de la caída de Adán, nos centramos en nuestro ego. Somos sensibles en cuanto a nosotros mismos. Somos siempre egoístas, estamos siempre protegiéndonos, siempre listos a imaginarnos ofensas, siempre listos a decir que hemos sido engañados y tratados injustamente. ¿Acaso no estoy hablando de nuestra experiencia real? Que Dios tenga misericordia de nosotros. Es la verdad acerca de todos nosotros. El yo, este enemigo que aun trata de hacer que un hombre sea orgulloso de su propia humillación. El salmista encontró que ésta era la causa de todos sus problemas. Estaba errado su pensamiento acerca de los impíos, estaba equivocado en su juicio acerca de Dios. Pero la causa primordial de todos sus problemas estaba radicada en su pensar acerca de sí mismo. Era porque siempre estaba dando vueltas alrededor de sí mismo que todas las demás cosas le parecieron terriblemente malas, y totalmente injustas.
Quiero presentarles la psicología enseñada en este versículo, la verdadera psicología bíblica. ¿Lo hemos notado? Cuando el yo toma control de nosotros hay algo que sucede inevitablemente. Nuestros corazones comienzan a controlar nuestras mentes. Escuchemos al salmista. El se recuperó en la casa de Dios; su parecer acerca de los impíos y en cuanto a Dios fue corregido. Ahora se dirige a sí mismo y dice: "Se llenó de amargura mi alma y en mi corazón sentía punzadas" —nuevamente una parte de la sensibilidad— "tan torpe era yo, que no entendía; ¡era como una bestia delante de M!" Notemos el orden. Pone el corazón antes que la mente.
Hace notar que su corazón estuvo lleno de amargura' antes de que su mente comenzara a funcionar mal: el corazón primero, luego la cabeza.
Esta es una de las partes más profundas de la psicología que jamás podamos entender. El problema real está en que cuando uno se defiende a sí mismo, logra que se invierta el verdadero orden y el sentido exacto de proporción. Todos nuestros problemas son causados, en última instancia, por el hecho de que somos gobernados por nuestros corazones y sentimientos en vez de guiarnos por un pensar claro y un honesto análisis de las cosas delante de Dios. El corazón es una facultad muy poderosa dentro de nosotros. Cuando el corazón llega a controlar al hombre, lo intimida. Nos hace estúpidos; se apodera de nosotros de tal manera que nos volvemos irracionales y no podemos pensar claramente. Esto es lo que le pasó a este hombre. Pensó que era puramente un asunto de factores: ¡allí están los impíos, mírenlos y mírenme a mí! Pensó que era racional. Descubrió en el santuario que en verdad no fue racional, sino que su pensamiento estaba gobernado por sus sentimientos.
¿No es éste el problema con todos nosotros? El apóstol Pablo describe todo este problema en un gran párrafo en Filipenses 4:6-7. Observemos el orden de las palabras. "Por nada estéis afanosos, (no se preocupen por nada), sino sean conocidas vuestras peticiones delante de Dios en toda oración y ruego, con acción de gracias". Y luego ¿qué pasará? Nos dice el próximo versículo: "Y la paz de Dios, que sobrepasa todo entendimiento, guardará vuestros pensamientos, y vuestros corazones"? ¡De ninguna manera! Dice: "La paz de Dios, que sobrepasa todo entendimiento, guardará vuestros corazones, y vuestros pensamientos en Cristo Jesús". Los corazones primero, luego los pensamientos, porque aquí el problema está primordialmente en la esfera de los sentimientos.
Vemos aquí una profunda psicología. El Apóstol Pablo era un especialista para tratar las enfermedades del alma. Sabía que no tenía sentido tratar la mente antes de corregir el corazón, y es por esto que pone el corazón primero. El problema con cualquiera que está en esta condición, que siente que está pasando por malos momentos y que las cosas no le están yendo bien, es que comienza a cuestionar a Dios; y en realidad la raíz del problema es su propio corazón turbado, que lo gobierna y controla. Sus sentimientos han tomado posesión de su persona y le han cegado a cualquier otra cosa.
Todos los problemas y las luchas de la vida se deben, en última instancia, a esto. Podemos decir que los problemas familiares, las disputas entre marido y mujer, las peleas entre parientes, las discusiones entre clases y grupos, las peleas entre naciones, se deben al hecho que el yo es controlado por las emociones. Si nos detenemos a pensar, podemos ver cuan malo es esto, porque lo que realmente estamos diciendo es que somos absolutamente perfectos y que todos los demás están equivocados. Pero es patente que esto no puede ser cierto porque todos dicen lo mismo. Todos somos gobernados por este sentimiento acerca de nosotros mismos y estamos tentados a decir: "los demás no se portan bien conmigo, siempre soy mal entendido, siempre me hieren". Los demás dicen exactamente lo mismo. El problema es que nosotros somos controlados por nuestro yo, vivimos en base a nuestras emociones y somos gobernados por ellas de la forma más extraordinaria posición y decimos: "No veo por qué debo ceder". Nos afirmamos. Aun inconscientemente ponemos énfasis en esto. ¿Yo? ¿Qué he hecho de malo? ¿Por qué me han tratado así a mí? "Se llenó de amargura mi alma y en mi corazón sentía punzadas"; es siempre el corazón. El principio que quisiera enfatizar es que cuando el yo tiene el predominio, afecta nuestras emociones. El yo no puede soportar un examen intelectual verdadero. Si nos ponemos a pensar sobre esto, nos daremos cuenta cuan necios somos. Porque luego diremos: "Yo siento esto, pero así siente la otra persona. Yo digo esto, pero él también dice lo mismo. Evidentemente los dos pensamos que tenemos razón. Los dos tenemos la culpa y soy tan malo como el otro". "El que se siente disminuido", dice Juan Bunyan, "no teme la caída. El que es humilde, no teme el orgullo".
Tenemos que aprender a controlar cuidadosamente nuestros corazones. No es de extrañar que las Escrituras dicen: "Dame, hijo mío, tu corazón". No es sorprendente que Jeremías dice: "Engañoso es el corazón más que todas las cosas, y perverso..." ¡Qué tontos somos en nuestra psicología! Nuestra tendencia es decir acerca de otro: "No es muy intelectual: no entiende mucho, ¡pero tiene un buen corazón!" Eso está mal. Por más falta de inteligencia que tengamos, nuestras mentes son mucho mejores que nuestros corazones. Hablando en términos generales, los hombres no son malos porque piensan, sino porque no piensan.
Este pobre hombre del Salmo 73 era controlado por su corazón, pero no lo sabía. Pensaba que tenía razón. El corazón es "engañoso"; es muy hábil y astuto. Es por eso que tenemos que vigilarlo. "Y esta es la condenación”, leemos en Juan 3:19, "que la luz vino al mundo. Y los hombres amaron más las tinieblas que la luz, porque sus obras eran malas”. Es el corazón el que está mal, y es así que terminamos con el consejo del hombre sabio en Proverbios 4:23: "Sobre toda cosa guardada, guarda tu corazón; porque de él mana la vida". Vigila tu corazón, vigílate a ti mismo, vigila tus emociones. Cuando tu corazón está amargado, todo estará dolorido, y nada estará bien. Es el corazón lo que domina todo y hay un solo remedio final para el corazón dolorido y amargado: es acudir a Dios como lo hizo el salmista, y darse cuenta que Dios en su infinito amor y gracia, en su misericordia y compasión envió a su Hijo a este mundo para morir en una cruz, para que al aborrecernos a nosotros mismos, podamos ser perdonados y tener nuevamente un corazón limpio, y que la oración de David: "Crea en mí, oh Dios, un corazón limpio..." sea contestada. La respuesta a esa oración está en Cristo. El puede limpiar el corazón y santificar el alma.
Una vez que el hombre se conoce a sí mismo y ve lo horrendo de su pecado y la falacia de su corazón, sabe que tiene que acudir a Cristo. Allí encuentra perdón y purificación, una nueva vida, una nueva naturaleza, un nuevo corazón, un nuevo nombre. Gracias a Dios por este evangelio que puede dar al hombre un nuevo corazón y renovar un espíritu recto dentro de él.

Três Princípios Essenciais- Watchman Nee

Extraído do Livro " O ministério de Oração"

Já mencionamos como Deus tem sua vontade a respeito de todas as coisas, mas ele nada quer fazer independentemente. Agirá somente de­pois que a livre vontade da terra responda à sua vontade. Houvesse somente a vontade do céu, Deus não faria nenhum movimento; o movimen­to celestial será realizado na terra somente quan­do Deus estiver certo de que existe a mesma vontade sobre a terra. Isto é o que hoje chama­mos de ministério da Igreja. Os crentes precisam conscientizar-se de que o ministério da Igreja não consiste meramente na pregação do Evange­lho — certamente que isso é incluído, nãO haja engano nisto — mas também o ministério da Igreja inclui o trazer à terra a vontade que está nos céus. Mas como é que a Igreja faz isso? É orando aqui na terra. A oração não é uma coisa pequena, insignificante, não-essencial, como al­guns têm a tendência de pensar. A oração é trabalho. A Igreja diz: “Deus, queremos tua vontade”, Isto é o que chamamos de oração. Depois que a Igreja conhece a vontade de Deus, ela abre a boca para pedi-la. Isto é oração. Se a Igreja não tem este ministério, ela não serve para muita coisa na terra.
Muitas orações devocionais, orações de comu­nhão e orações intercessoras não podem substi­tuir a oração como ministério ou trabalho. Se todas as nossas orações são simplesmente devo­cionais ou consistem meramente em comunhão e pedidos, nosso orar é demasiadamente peque­no. A oração como trabalho ou ministério signifi­ca que permanecemos do lado de Deus, desejan­do o que ele deseja. Orar de acordo com a vontade de Deus é uma coisa muito poderosa. Para a Igreja, orar significa que ela descobriu a vontade de Deus e que agora a está proferindo. Orar não é só pedir a Deus, é também fazer uma declaração. Enquanto a Igreja ora, permanece do lado de Deus e declara que aquilo que o homem quer é o que Deus deseja. Se a Igreja assim o fizer, a declaração terá efeito imediato.
Vamos agora examinar os três princípios essenciais da oração encontrados em Mateus 18:18­-20.

1. Declarando, a vontade de Deus
“Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra será desligado no céu” (v. 18). A quem se refere o texto? A Igreja, porque no versículo precedente o Senhor a menciona. Estas palavras são a continuação do versículo 17. Portanto, o significado do versículo 18, agora diante de nós, é: tudo o que a Igreja ligar na terra será ligado no céu, e tudo o que a Igreja desligar na terra será desligado no céu.
Encontramos aqui um princípio de suma im­portância: hoje Deus opera mediante a Igreja; ele não pode fazer nada do que deseja, a menos que o realize por meio da Igreja. Este é. um princípio por demais sério, Hoje Deus não pode fazer as coisas apenas por si mesmo, porque existe outro livre-arbítrio, sem cuja cooperação Deus não pode fazer nada. A medida do poder da Igreja hoje determina a medida da manifestação do poder de Deus, pois seu poder é agora revelado através da Igreja. Deus colocou-se na Igreja. Se ela puder chegar a uma alta e grande posição, a manifestação do poder de Deus também chegará a uma alta e grande posição. Se a Igreja for incapaz de alcançar tal posição, então Deus também não poderá manifestar seu poder em altura e grandeza.
Este assunto todo pode ser comparado ao fluxo da água em nossa casa. Embora a caixa d’água da companhia fornecedora esteja cheia, seu fluxo é limitado pelo diâmetro da torneira de nossa casa. Se uma pessoa deseja ter um fluxo maior de água, precisará alargar a bitola de sua torneira. Hoje, o grau da manifestação do poder de Deus é governado pela capacidade da Igreja. Assim como em tempos anteriores, quando Deus se manifestou em Cristo, sua manifestação foi tão grande quanto a capacidade de Cristo, assim, agora, a manifestação de Deus na Igreja é igualmente circunscrita — desta vez, à capacida­de da Igreja. Quanto maior a capacidade da Igreja, tanto maior a manifestação de Deus e tão mais completo o seu conhecimento.
Precisamos ver que em todas as operações de Deus na terra hoje, primeiro precisa que a Igreja esteja do seu lado e, então, ele faz sua obra por meio dela. Deus nada fará independentemente; o que quer que ele faça hoje, o faz com a cooperação da Igreja. Ela é o instrumento por meio do qual Deus se manifesta.
Permita-me repetir que a Igreja é como uma torneira. Se a torneira é pequena, não poderá derramar muita água, ainda que a fonte seja tão abundante conto o rio Amazonas. Deus no céu tem o propósito de fazer algo, mas não o fará até que haja movimento na terra. São tantas as coisas que Deus quer ligar e desligar no céu! Muitas são as pessoas e coisas que o contradi­zem; Deus espera que todas estas sejam atadas. Muitas também são as pessoas e coisas espiri­tuais, valiosas, proveitosas, santificadas, e de Deus; estas, ele deseja que sejam desatadas. Mas justamente aqui se levanta um problema: Have­rá homem na terra que queira primeiro atar o que Deus deseja atar, e desatar o que ele tenciona desatar? Deus quer que a terra governe o céu; deseja que sua Igreja na terra dirija o céu.
Isto não quer dizer que Deus não seja Todo-poderoso, porque, de fato, ele é o Deus Todo-poderoso. Todavia, o poder de Deus só pode ser manifestado na terra através de um canal. Não podemos aumentá-lo, mas podemos impe­dí-lo. O homem não pode fazer crescer o poder de Deus; pode, contudo, obstruí-lo. Não pode­mos pedir que Deus faça aquilo que ele não quer fazer; podemos, porém, restringi-lo de fazer o que ele, deveras, quer fazer. Vemos realmente isto? A Igreja tem um poder pelo qual gerenciar o poder de Deus. Ela pode permitir que Deus faça o que ele deseja, ou proibir que ele o faça.
Nossos olhos precisam vislumbrar o futuro. Um dia Deus estenderá a Igreja para que seja a Nova Jerusalém e, naquele dia, sua glória será completa e desimpedidamente manifestada atra­vés da Igreja. Hoje Deus quer que a Igreja desate na terra antes que ele desate no céu; quer que ela ate na terra antes que ele ate no céu. O céu não começará a fazer as coisas. O céu apenas seguirá a terra em sua obra. Deus não começará primei­ro; ele, em sua operação, somente segue a Igreja. Se este é o caso, que tremenda responsabilidade tem a Igreja!
Como indicamos anteriormente, o que Mateus 18:15-17 refere é apenas um caso particular; o que se lhe segue, entretanto, constitui um gran­de princípio. A situação particular é: um irmão pecou contra outro; não reconheces, porém, que pecou, nem confessa sua falta. Ao recusar ouvir a Igreja será considerado como um gentio e publicano. Ora, o irmão que pecou provável ­mente retrucará: “Quem são vocês? Se vocês (a igreja) me considerarem como gentio e publicano, não mais irei às reuniões. Se não puder ir às suas reuniões, haverá outras reuniões a que poderei frequentar”
Mas note aqui o que o Senhor Jesus diz: “Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra será desligado no céu” Portanto, quan­do a Igreja julga uma pessoa como gentio, Deus no céu também o julga como, gentio. Quando a Igreja considera um irmão ofensor como publicano, Deus no céu, da mesma forma, considera­ o publicano. Em outras palavras, o que a Igreja faz na terra Deus fará no céu.
Temos aqui, portanto, tanto um caso particu­lar como um princípio que o governa. Nosso Senhor está meramente citando o caso para provar o princípio geral que é: Tudo o que a Igreja faz na terra, Deus o faz igualmente nós. Se a Igreja trata um irmão como gentio e publicano, Deus no céu trata-o como tal. Este princípio é aplicável não somente a este caso; é aplicável a muitos outros. O incidente aqui apresentado serve apenas de exemplo.
A Igreja é o vaso escolhido de Deus no qual é colocada a sua vontade, de modo que a Igreja possa declarar a vontade divina na terra. Se a terra quer, o céu também quer. Se a Igreja deseja, Deus também deseja. Por esta razão, se Deus encontrar dificuldade na Igreja, o que pretende realizar no céu não será realizado na terra.
Muitos irmãos e irmãs carregam pesados far­dos desde o amanhecer até o anoitecer. Estão sobrecarregados porque não oram. Quando uma torneira é aberta, a água corre; mas quando é fechada, a água é retida. Agora pense por uni momento. Qual pressão é maior, a gerada em soltar a água ou a gerada em reter a água? Todos sabemos que, quando a água é liberada a pres­são é diminuída, ao passo que ao ser bloqueada, a pressão aumenta. Da mesma forma, quando a Igreja ora, é como abrir a torneira; quanto mais tempo está aberta, menor se torna a pressão. Pela mesma razão, se a Igreja não ora, é como obstruir a torneira; a pressão aumentará gradati­vamente. Sempre que Deus deseja fazer alguma coisa, coloca uni fardo sobre um irmão, uma irmã, ou sobre toda a Igreja. Quanto mais a Igreja orar cumprindo seu ministério, tanto mais leve se tornará seu fardo. Cada oração aliviará um pouco o seu fardo. Depois de orar dez ou vinte vezes, seu fardo interior será grandemente diminuído. Mas se a Igreja falhar em orar, sentirá a pesada carga e ficará tão sufocada que imaginará estar a morrer.
Em vista disso, irmãos e irmãs, sempre que se sentirem pesados e sufocados por dentro, fique bem claro que o motivo não é outro senão que vocês não têm cumprido seu ministério diante de Deus. Se o fardo dele está sobre vocês, orem por meia hora ou uma hora e encontrar-se-ão respirando mais normalmente de novo, porque a pressão foi grandemente aliviada.
Qual é então, o ministério de oração da Igreja? E Deus dizendo à Igreja o que ele deseja fazer, de modo que a Igreja na terra possa orar, expressando a vontade dele. Tal oração não é pedir que Deus faça o que nós queremos, mas pedir-lhe que faça o que ele deseja fazer. Que possamos ver que a Igreja deve declarar na terra à vontade de Deus no céu. A Igreja precisa declarar na terra que ela deseja a vontade de Deus. Se ela falhar nisso, será de muito pouco valor para Deus. Ainda que ela aja bem em outros assuntos, será de pouca utilidade para Deus, se for deficiente neste setor. O mais alto propósito da Igreja é permitir que a vontade de Deus seja feita na terra.

2. Harmonia no Espírito Santo

Vimos como a Igreja deve atar o que Deus deseja atar e desatar o que Deus deseja desatar. Como, porém, deve a Igreja realmente atar e desatar? “Em verdade também vos digo que, se dois dentre vós, sobre a terra, concordarem a respeito de qualquer cousa que porventura pedi­rem, ser-lhes-á concedida por meu Pai que está nos céus” (v. 19 ERA). O versículo precedente; dá ênfase à terra e ao céu; este versículo tam­bém, O versículo 18 fala do céu ligando ou desligando tudo que a terra liga ou desliga, e o versículo 19 também diz o mesmo, afirmando que o Pai celeste concederá tudo o que a terra pedir. Por favor, observem que o que o Senhor Jesus enfatiza aqui não é simplesmente um acordo no pedir qualquer coisa; é, antes, unani­midade na terra a respeito de tudo o que os crentes irão pedir. Ele não quer dizer que primei­ro duas pessoas concordem na terra a respeito de certa coisa e então a peçam; não, o Senhor Jesus está dizendo que se vocês concordarem em tudo (harmonia no Espírito Santo), então qual­quer ponto particular que lhe pedirem será concedido pelo Pai que está nos céus. Esta é a unidade do corpo, ou melhor, a unidade no Espírito Santo.
Se Deus não lidar com a carne do indivíduo, ele se considerará um super-homem, uma vez que, a seus próprios olhos, o céu deve dar-lhe ouvidos. Não, se você não está na unidade do Espírito Santo, nem está orando na harmonia do Espírito Santo, veja só se o céu o ouvirá em algo! Você pode orar, mas o céu não ligará o que você atar, nem atará o que você desligar, pois isso não é algo que você possa fazer por si mesmo. Se você pensa que pode fazê-lo sozinho, está ali­mentando uma tolice, porque o que o Senhor declara é isto: “. se dois dentre vós, sobre a terra, concordarem a respeito de qualquer coisa que porventura pedirem, ser-lhes-á concedida por meu Pai que está nos céus.” Isto significa que, estando dois em harmonia a respeito de todo e qualquer assunto — sendo tão harmonio­sos como a música — então, qualquer coisa que pedirem ser-lhes-á concedida pelo Pai celestial. Para fazer tal oração é preciso que as pessoas que oram, estejam sob a influência do Espírito Santo. Isto quer dizer que sou levado por Deus a um ponto em que nego todos os meus desejos e quero somente o que o Senhor quer, e um outro irmão, da mesma forma, é levado pelo Espírito Santo ao ponto de negar todos os seus desejos e querer somente a vontade do Senhor. Eu e ele, ele e eu, ambos somos levados a um ponto em que há harmonia tal como a que existe na música. Então tudo o que pedirmos Deus o fará no céu por nós.
Irmãos, não alimentem a fantasia de que simplesmente concordando a respeito de deter­minado pedido de oração (sem uma anterior harmonia no Espírito Santo), essa oração será atendida, Não é assim. Pessoas com idéias semelhantes muitas vezes entram em muitos conflitos. Meramente ter o mesmo objetivo não garante ausência de discórdia. Duas pessoas podem desejar pregar o Evangelho e ainda assim brigarem entre si. Duas pessoas podem desejar, de todo o coração, ajudar aos outros; não obstan­te, podem voltar-se um contra o outro. Identida­de de propósito não significa necessariamente harmonia. Devemos estar cônscios de que não há possibilidade de harmonia na carne. Somente quando nossa vida natural é trabalhada pelo Senhor e começamos a viver no Espírito Santo eu vivendo em Cristo e você também vivendo em Cristo teremos harmonia; então sempre esta­remos capacitados a orar de pleno acordo a respeito de determinado assunto.
Aqui, pois, estão duas facetas de uma só coisa: a primeira é estar em harmonia a respeito de Jesus enfatiza aqui não é simplesmente um acordo no pedir qualquer coisa; é, antes, unani­midade na terra a respeito de tudo o que os crentes irão pedir. Ele não quer dizer que primei­ro duas pessoas concordem na terra a respeito de certa coisa e então a peçam; não, o Senhor Jesus está dizendo que se vocês concordarem em tudo (harmonia no Espírito Santo), então qual­quer ponto particular que lhe pedirem será concedido pelo Pai que está nos céus. Esta é a unidade do corpo, ou melhor, a unidade no Espírito Santo.
Tenha em mente que a oração não é a primeira coisa a ser feita. A oração apenas segue os passos da harmonia. Se a Igreja deseja ter tal ministério de oração sobre a terra, todo irmão e irmã precisam aprender a negar a vida da carne diante do Senhor; doutra forma a Igreja não será eficaz. A palavra que o Senhor Jesus nos dá aqui é maravilhosíssima. Ele não diz que se a pessoa, pedir alguma coisa em seu nome, o Pai a ouvirá, nem diz o Senhor que orará para que o Pai responda. Ao invés disso, declara ele: “se dois dentre vós, sobre a terra, concordarem a respeito de qualquer coisa que, porventura pedi­rem, ser-lhes-á concedida por meu Pai que está nos céus.” Oh, se realmente concordarmos, as portas do céu se abrirão!
Aqui está um irmão que peca contra outro. Antes que a Igreja comece a lidar com ele, o irmão que foi ofendido vai com um ou dois irmãos a fim de levá-lo ao arrependimento. Estes dois irmãos vão ter com o irmão ofensor antes mesmo de a Igreja começar a tratar do seu assunto. Contudo, não é que estes dois irmãos discordem da Igreja; eles apenas vêem o assunto antes da Igreja, pois subseqüentemente a Igreja examina a situação exatamente do mesmo mo­do. Em outras palavras, esses dois irmãos têm o mesmo fundamento da Igreja. O que o Senhor quer dizer é que os dois representam a Igreja na terra. O que a Igreja vê está em perfeita concor­dância com o que aqueles dois irmãos vêem. Este é o ministério da oração. Precisam concordar em tudo, seja o que for, e precisam orar de comum acordo a respeito desse assunto parti­cular.
O ministério de oração da Igreja consiste em orar na terra de modo a causar ação no céu. Precisamos lembrar-nos de que a oração, tal como apresentada em Mateus 18, definitivamen­te não faz parte da oração devocional ou da oração pessoal privada. Muitas vezes temos necessidades pessoais as quais levamos a Deus e ele nos responde. Há, na verdade, lugar para a oração pessoal. Da mesma forma, seguidamente sentimos a proximidade de Deus. Graças a Deus, ele ouve as orações devocionais. Estas também não podem ser desprezadas. Vamos até ao ponto de reconhecer que, se a oração de um irmão ou irmã ficar sem resposta, ou se alguém não sentir a proximidade de Deus, algo está errado. Temos de dar atenção à oração pessoal, bem como à oração devocional. Os crentes novos, em particular, não poderão correr a carreira que lhes está proposta, se forem deficientes nas orações pessoais e devocionais.
Mesmo assim, precisamos compreender que a oração não é apenas para nosso uso pessoal, nem somente para propósitos devocionais. A oração é um ministério, a oração é uma obra. Esta oração sobre a terra é o ministério da Igreja, bem como seu trabalho. E a responsabilidade da Igreja diante de Deus, pois a oração é o escoa­douro do céu. Qual é a oração da Igreja? Deus deseja fazer certa coisa e a Igreja sobre a terra ora a esse respeito, em antecipação, para que isso se realize a para que se cumpra o propósito de Deus.
O ministério da Igreja é o ministério do corpo de Cristo, e esse ministério é a oração. Tal oração não é feita nem com objetivos devocionais, nem por necessidades pessoais; é mais para o “céu”. Agora, o que essa oração — o tipo de oração que temos à nossa frente — significa é: Eis um homem que perdeu a comunhão devido à sua recusa em ouvir a persuasão de um irmão, ou a advertência de dois ou três outros irmãos, e, finalmente, o julgamento da Igreja. Deus, por­tanto, desatará um julgamento sobre ele para que seja considerado como um gentio e publi­cano; contudo, Deus não agirá imediatamente, mas esperará até que a Igreja ore para esse fim e, então, fá-lo-á no céu. Se a Igreja tomar a respon­sabilidade de fazer tal oração sobre a terra chegará a ocasião em que a vida espiritual do ofensor secar-se-á, como se já não tivesse parte com Deus, Deus quer tomar tal atitude, mas espera que a Igreja ore.
Muitos assuntos estão amontoados no céu, muitas transações permanecem sem efeito, sim­plesmente porque Deus não consegue encontrar seu escoadouro na terra. Quem sabe quantos assuntos não terminados existem no céu, os quais Deus não pode executar porque a Igreja não tem exercitado seu livre-arbítrio de pôr-se ao lado dele para a realização do seu propósito! Entendamos que a tarefa mais nobre da Igreja, a maior tarefa que ela poderia executar, é a de ser o escoadouro de Deus na terra, Para a Igreja ser o escoadouro da vontade de Deus, deve orar. Tal oração não é fragmentária; é um ministério de oração — oração como obra. À medida que Deus dá visão e abre os olhos das pessoas para verem sua vontade, elas se levantam para orar.
O Senhor mostra-nos aqui que a oração individual é inadequada; são precisos pelo menos dois para orar. Se não percebermos isto, não sabere­mos a respeito de que o Senhor está falando. As orações apresentadas no Evangelho de João são todas pessoais. Dai encontrarmos palavra como esta:”. . . Tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo conceda” (João 15:16 ERA). Não há condição estabelecida quanto ao número de pessoas. Em Mateus 18, porém, é dada uma condição numérica: pelo menos dois. “Porque onde estiverem dois reunidos em meu no­me“, diz o Senhor. Aqui se necessita pelo menos de dois porque o assunto tratado refere-se à comunhão, Não é algo feito por uma pessoa, nem é uma só pessoa que serve como escoadouro de Deus, mas sim, duas.
O princípio de duas pessoas.é o princípio da Igreja, que também é o princípio do corpo de Cristo. Embora tal oração seja feita por duas pessoas, a “concordância” é indispensável. Concordar é estar em harmonia. Esses dois indivíduos precisam estar em harmonia, preci­sam permanecer no fundamento do corpo e precisam saber o que é a vida do corpo. Estes dois aqui não têm senão um alvo, que é dizer a Deus: Queremos que tua vontade seja feita na terra, como no céu, Quando a Igreja permanece em tal base e ora de acordo com ela, vemos que tudo o que pedirmos será concedido pelo Pai, que está no céu.
Quando verdadeiramente permanecemos so­bre o fundamento da Igreja e aceitamos a res­ponsabilidade do ministério da oração diante de Deus, a vontade de Deus será feita na Igreja em que estamos. Se assim não for, é vã nossa igreja. Tal oração, feita por poucos ou por muitos, terá poder, pois o grau da operação de Deus hoje é governado pêlo grau da oração da Igreja. A manifestação do poder de Deus não excederá à oração da Igreja. Hoje, a grandeza do poder. Deus está circunscrita pelo tamanho da oração da Igreja. Isto não significa, naturalmente, que o poder de Deus no céu tem somente o tamanho da nossa oração, pois, no céu, obviamente, seu poder é ilimitado. Somente na terra hoje é que a manifestação do seu poder depende de quanto a Igreja ora. Somente pela oração da Igreja pode-se medir a manifestação do poder de Deus.
Em vista disso, a Igreja deve fazer grandes orações e pedidos. Como pode a Igreja fazer pequenas orações. quando comparece diante do Deus de tal abundância? Ela não pode fazer pequeninos pedidos diante de um Deus tão grande. Vir à presença do grande Deus é esperar que grandes coisas aconteçam (Isaías 33:3). Se a capacidade da Igreja for limitada, ela não pode senão restringir a manifestação do poder de Deus. Reconheçamos que o assunto dos vence­dores ainda não foi completamente resolvido e Satanás ainda não foi lançado no fundo do abismo. Por amor do seu testemunho, portanto, Deus precisa de um vaso através do qual possa realizar todas as suas obras. E necessário que a Igreja faça tremendas orações a fim de manifestar Deus. E este é o ministério da Igreja.
Irmãos e irmãs, ficam a pensar se Deus, visitando nossas reuniões de oração, pode confirmar que elas realmente cumprem o minis­tério de oração da Igreja. Precisamos ver que não é questão de freqüência; é, antes, questão de peso. Se realmente vemos a responsabilidade de oração da Igreja, não podemos deixar de confessar quão inadequada é a nossa oração e como temos restringido e impedido Deus de realizar a que ele deseja. A Igreja tem falhado em seu ministério! Quão lamentável é esta situação!
O ter Deus uma Igreja fiel ao seu ministério ou não depende da atuação do grupo de pessoas na presença dele, desqualificando-se ou tomando-se verdadeiros vasos na realização do seu pro­pósito. Queremos assinalar que o que Deus procura é a fidelidade da Igreja ao seu ministério, o ministério da Igreja é oração — não da espécie comum, consistindo de pequenas ora­ções, mas do tipo que prepara o caminho de Deus. E Deus quem primeiro deseja fazer certa coisa, mas a Igreja prepara o caminho com a oração de modo que ele possa ter uma estrada. A Igreja deveria ter grandes orações. Orações tre­mendas e fortes, Oração não é assunto sem importância diante de Deus. Se a oração for sempre centralizada no eu, em problemas pes­soais e em pequenos ganhos ou perdas, onde estará o meio pelo qual manifestar-se o eterno propósito de Deus? Precisamos ser empurrados às profundezas neste assunto da oração.
“Dois concordarem” não é uma palavra super­ficial ou uma expressão leviana. Se não sabemos o que é o corpo de Cristo, nem permanecemos neste fundamento, embora consigamos reunir duzentas pessoas para orar seremos, contudo, ineficazes. Mas se de fato, vemos o corpo de Cristo e permanecemos no correto lugar no corpo — negando nossa carne e não pedindo para nós mesmos, mas que a vontade de Deus seja feita na terra — veremos quão harmoniosa é tal oração. Desse modo, aquilo por que oramos na terra será concedido pelo Pai que está no céu.
Por favor, observe que o versículo 18 inclui uma palavra muito preciosa: “tudo”; e o versículo 19 também apresenta a expressão igualmente preciosa: “qualquer coisa”. “Tudo o que ligardes na terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra será desligado no céu.” O Senhor quer dizer na medida em que a terra ligar, o céu também ligará; e na medida em que a terra desligar, o céu também desligará. A medida da terra decide a medida do céu. Não deve haver medo de ter uma medida demasiadamen­te grande na terra, porque a medida no céu é sempre intrinsicamente maior do que a da terra e, portanto, não existe nenhuma chance de a medida da terra ultrapassar a do céu. O que o céu quer ligar invariavelmente é muito mais do que a terra deseja ligar, e o que o céu deseja desligar sempre excede ao que a terra desata. Tal ação de ligar e desligar está além da capacidade de qualquer pessoa.Só pode ser feito “se dois, concordarem na terra acerca de qualquer coisa que pedirem” e, então, “será feito por meu Pai, que está nos céus”.
Irmãos, o poder de Deus é para sempre, maior que o nosso poder. A água do reservatório da companhia indiscutivelmente tem mais volu­me do que a de nossas torneiras. A água no poço é sempre mais abundante do que a água em nosso balde. O poder celeste jamais poderá ser medido pela visão terrestre.
3. Estiverem Reunidos

“Porque onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí, estou eu no meio deles” (v. 20). Temos aqui o terceiro princípio, e o mais profundo deles também. No versículo 18, temos um princípio, no versículo 19 outro, e no versículo 20 ainda outro. O princípio dado no versículo 20 é mais amplo do que o do versículo 19. Por que diz o versículo 19 que “se dois de vós concordarem na terra acerca de qualquer coisa que pedirem, isso lhes será feito por meu Pai, que está nos céus”? A resposta é apresentada no versículo 20. “Porque onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí, estou eu no meio deles” Por que há tanto poder na terra? Por que o orar em harmonia tem efeito tão tremendo? O que dá ao orar em harmonia de duas ou três pessoas, tanto poder? É porque sempre que somos chamados a reunir-nos no nome do Senhor, a presença do Senhor mesmo está aí. E este o motivo da unanimidade. O versículo 18 fala da relação entre a terra e o céu; o versículo 19 da harmonia na terra; o versículo 20, do motivo de tal harmonia.
Conscientizemo-nos de que somos chamados para reunir-nos. Não nos juntamos por nós mesmos. Reunir-nos por nós mesmos e sermos chamados para reunir-nos são duas coisas com­pletamente diferentes. Sermos chamados para reunir-nos é sermos chamados pelo Senhor para reunir-nos em conjunto. Não vimos por nós mesmos; antes, o Senhor nos chamou. Muitos vêm a uma reunião com a atitude de observadores ou espectadores e, portanto, nada obtêm. Se alguém vem porque o Senhor lhe falou, esse tal terá um sentimento de perda, se não vier. As pessoas que são assim chamadas pelo Senhor para se reunirem são tímidas no nome do Se­nhor. Vêm por amor do nome do Senhor. Tais irmãos e irmãs podem dizer, onde quer que venham a se juntar: “Estamos aqui não por nós mesmos, mas pelo nome do Senhor, pelo amor de glorificar teu Filho”.
Graças a Deus, pois quando todos os irmãos e irmãs estão reunidos no nome do Senhor aí há concordância, aí há harmonia. No caso de vir­mos a uma reunião por amor de nós mesmos, ali não haverá, obviamente, nenhuma harmonia. Mas, se estivermos dispostos a querer aquilo que o Senhor quer e não o que nós queremos, e, se rejeitarmos o que o Senhor rejeita, então haverá concordância. Por isso os filhos de Deus estão sendo chamados pelo Senhor para estarem reunidos. São reunidos no seu nome, Diz o Senhor:
“Ai, estou eu no meio deles” É o Senhor que dirige tudo. Uma vez que ele está aí, dirigindo, iluminando, falando e revelando, então tudo o que for ligado na terra será também ligado no céu, e tudo o que for desligado na terra será desligado no céu. Isso acontece porque o Senhor opera juntamente com sua Igreja.
Conseqüentemente precisamos aprender a ne­gar-nos a nós mesmos diante do Senhor. Cada vez que ele nos chama para nos reunirmos, deveríamos voltar-nos para o seu nome, pois o seu nome é maior do que todos os nomes. Todos os ídolos precisam ser esmagados. Assim, ele nos conduzirá.
Irmãos e irmãs, isto não é sentimento nem teoria, mas fato. Se a Igreja é normal, então, depois de cada reunião, ela sabe se o Senhor esteve presente. Quando o Senhor está presen­te, a Igreja é rica e forte. Durante tal tempo, ela pode ligar ou desligar. Mas, se o Senhor não está no meio dela, ele nada pode fazer. Somente a Igreja possui tal poder; o indivíduo simplesmen­te não o possui em si mesmo.
Que o Senhor nos conceda entendimento mais profundo e maior experiência na oração. A oração não é apenas pessoal ou devocional; precisa ser um trabalho e um ministério. Que o Senhor nos sustente com poder para que sempre que nos reunamos, trabalhemos em oração e cumpramos o ministério de oração da Igreja, a fim de que o Senhor possa fazer tudo o que ele deseja.

Irmãos em Cristo Jesus.

Irmãos em Cristo Jesus.
Mt 5:14 "Vós sois a luz do mundo"

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