segunda-feira, 30 de março de 2009

Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina- C.H. Mackintosh

UMAS PALAVRAS PARA OS QUE TRABALHAN NA OBRA DO SENHOR

Extraído do site www.verdadespreciosas.com.ar e Traduzido pelos irmãos da Cidade de Alegrete-RS

“Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Continua nestes deveres; porque, fazendo assim, salvarás tanto a ti mesmo como aos teus ouvintes” (1.ª Timóteo 4:16).

As palavras do texto citado são muito solenes e devem ser analisadas por todos aqueles que têm que apresentar às almas a Palavra de Deus e a doutrina. O inspirado apóstolo dirige estas palavras a seu amado filho Timóteo, as quais contêm a mais preciosa instrução para cada um dos que são chamados por Deus para ministrar na assembléia ou para pregar o Evangelho. Com toda segurança, tomar parte em tal ministério é um santo e elevado privilégio; mas, ao mesmo tempo, o que o exerce tem uma enorme responsabilidade.
A passagem citada na epígrafe expõe ante o obreiro do Senhor dois deveres sumamente importantes; deveres absolutamente essenciais aos quais deve se prestar atenção com diligente oração e vigilância, se quer ser um obreiro útil na Igreja de Deus, um “bom ministro de Jesus Cristo” (1.ª Timóteo 4:6). Primeiramente, deve cuidar de si mesmo, e logo cuidar da doutrina ou ensinamento.

1. “Tem cuidado de ti mesmo”

Consideremos em primeiro lugar este solene mandato: “Tem cuidado de ti mesmo.” Seria difícil expressar todo o alcance moral destas palavras. É importante que todo crente as observe, mas principalmente um obreiro do Senhor, pois a este se dirigem em particular. Ele, mais que ninguém, necessita cuidar de si mesmo. Deve cuidar o estado de seu coração, de sua consciência, de todo o seu homem interior. Tem que se conservar “puro” (1.ª Timóteo 5:22). Seus pensamentos, seus afetos, seu espírito, seu caráter, sua linguagem, tudo deve se manter sob o santo controle do Espírito e da Palavra de Deus. É necessário que esteja cingido com a verdade e vestido com a couraça da justiça. Sua condição moral e sua marcha prática devem concordar com a verdade que ministra; do contrário, o inimigo, com segurança, ganhará vantagem sobre ele.
O mestre deveria ser a expressão vivente do que ensina; ao menos, tal deveria ser o objetivo perseguido por ele com sinceridade, com veemência e com perseverança. É de desejar que esta santa medida esteja constantemente ante “os olhos de seu entendimento (lit. coração)” (Efésios 1:18). Desgraçadamente, muitos cometem faltas e permanecem sempre abaixo dessa medida; mas se seu coração é sincero, se sua consciência é delicada, se o temor de Deus e o amor de Cristo ocupam nele seu devido lugar, o obreiro do Senhor não se sentirá satisfeito com nada que esteja abaixo da medida divina, já seja em seu estado interior ou em seu andar exterior. Em todo tempo e em todo lugar, seu ardente desejo será manifestar em sua conduta o efeito prático de seu ensinamento, e ser “exemplo dos crentes na palavra, conduta, amor, espírito, fé e pureza” (1.ª Timóteo 4:12). E enquanto a seu ministério, todo obreiro do Senhor deveria poder dizer: “Não pregamos a nós mesmos, senão a Jesus Cristo como Senhor, e a nós como servos por amor de Jesus” (2.ª Coríntios 4:5).
Entretanto, jamais devemos perder de vista o tão importante fato moral de que o mestre deve viver a verdade que ensina. Moralmente, é muito perigoso que um homem ensine em público o que sua vida privada desmente —perigoso para si mesmo, desonroso para o testemunho e prejudicial para aqueles a quem ensina—. Que deplorável e humilhante é para um homem, quando contradiz com sua conduta pessoal e sua vida doméstica a verdade que apresenta publicamente na assembléia! Isto é algo que há de se temer sobremaneira que terminará indefectivelmente nos mais funestos resultados.
Que o firme propósito e o vigoroso anelo de todos os que ministram a Palavra e apresentam a doutrina seja, pois o de alimentar-se com a preciosa verdade de Deus, o de se apropriar dela, o de viver e se mover em sua atmosfera, de modo que seu homem interior seja fortalecido e formado por ela; que ela habite ricamente neles, e que desse modo possa correr com os demais com seu vivo poder, sabor, unção e plenitude.
É algo muito pobre, e inclusive muito perigoso, se sentar ante a Palavra de Deus como um mero estudante, com o objeto de preparar conferências ou sermões para pregar aos demais. Nada poderia ser mais fatigoso ou dessecante para a alma. O uso meramente intelectual da verdade de Deus, acumular na memória certas doutrinas, pontos de vista e princípios, e logo os expor com alguma facilidade de palavras, é por sua vez desmoralizador e enganoso. Poderíamos estar extraindo água para os demais e ao mesmo tempo sermos, nós mesmos, como encanamentos oxidados. Não há nada mais triste que isto. O Senhor diz: “Se alguém tem sede, venha a mim e beba”. Não diz extraia. A verdadeira fonte e o poder de todo ministério na Igreja, se achará sempre ao beber nós mesmos da água vivificante e não ao extraí-la para os demais. O Senhor segue dizendo: “O que crê em mim, como diz a Escritura, de seu interior fluirão rios de águas vivas” (João 7:37-38). É necessário que permaneçamos muito próximos da fonte eterna, o coração de Cristo, e beber dela largos goles e continuamente. Desse modo nossas próprias almas se refrescarão e serão enriquecidas; rios de bênçãos correrão delas para refrigério dos demais, e torrentes de louvores subirão ao trono e ao coração de Deus por Jesus Cristo. Este é o ministério cristão; o cristianismo autêntico; e toda outra coisa carece absolutamente de valor.

2. “Tem cuidado da doutrina”

Detenhamo-nos agora um momento no segundo ponto de nosso tema; refiro-me à doutrina ou o ensinamento; esta última palavra expressa o verdadeiro sentido do original. Quantas coisas se encontram encerradas ali! “Tem cuidado da doutrina.” Que solene advertência! Quanto cuidado e que santa vigilância se requerem! Quanto se necessita esperar em Deus com oração e com perseverança, para saber o que há que dizer e a maneira de dizer! Só Deus conhece o estado e a necessidade das almas. Nós não sabemos o que necessitam. Poderíamos oferecer “alimento sólido” aos que só são capazes de “beber leite”, e ocasionar-lhes assim um positivo prejuízo. O apóstolo diz: “Se alguém fala, seja como os oráculos de Deus” (1.ª Pedro 4:11; V.M.). Não diz: «Fale conforme aos oráculos ou às palavras de Deus», (como se lê em algumas versões). Um homem pode se levantar na assembléia e falar durante uma hora, estando cada uma de suas palavras em estrito acordo com a letra das Escrituras, e, entretanto, não haver falado de nenhum modo como oráculo de Deus —como porta voz de Deus—. Pode haver apresentado a verdade, mas não a verdade que se necessitava no momento.
Tudo isto é muito solene e nos faz sentir a seriedade da advertência do apóstolo: e “Tem cuidado da doutrina”! Que urgente necessidade temos de ser despojados de nós mesmos, para depender por completo do poder e a direção do Espírito Santo! Nisto estriba o precioso segredo de todo ministério eficaz, seja oral ou escrito. Alguém poderia falar durante horas e escrever muitos volumes sem dizer ou escrever nada que seja anti escriturário, mas se não o faz no poder do Espírito, suas palavras só serão metal que soa ou o sino que retine, e seus volumes um montão de papel sem utilidade. Necessitamos permanecer mais aos pés do Mestre e bebermos mais de seu Espírito; é necessário estar em comunhão com seu coração cheio desse amor que tem pelos preciosos cordeiros e ovelhas de seu rebanho. Então nossas almas estarão em condições de dar o alimento no tempo conveniente.
Só o Senhor sabe exatamente o que seus amados necessitam a cada instante. Nós quiçá poderíamos nos sentir profundamente interessados em uma ordem especial de verdades e julgar que isso é o que convém à assembléia, mas podemos nos equivocar por completo. Não é a verdade o que nos interessa, senão que o que temos que apresentar é a verdade que responde às necessidades da assembléia, e para fazê-lo é necessário esperar constantemente no Senhor de toda graça. Deveríamos fixar nossos olhos Nele, com atenção e com simplicidade, e dizer-lhe: «Senhor, que queres que eu diga a teus santos amados? Dá-me a mensagem que lhes convém.» Então o Senhor se serviria de nós como canais sujos; a verdade fluiria de seu amante coração aos nossos, e dali se derramaria nos corações dos seus, segundo o poder de seu Espírito.
Oxalá que isto fosse assim para todos os que falam e escrevem para a Igreja de Deus! Que resultados poderíamos esperar! Que poder, crescimento e manifestação ou progresso na vida divina se veria! Os verdadeiros interesses do rebanho de Cristo seriam o objetivo de tudo o que se diz ou se escreve. Não haveria nada equivocado; não se apresentaria nada estranho nem nada que cause sobressalto ou assombro. Dos lábios ou das plumas só brotaria o que é são, sóbrio e oportuno. Só se ouviriam “sãs palavras” (1.ª Timóteo 6:3; 2.ª Timóteo 1:13), que não podem ser condenadas; e se apresentaria unicamente o que é bom para a edificação.
Que em toda a Igreja de Deus cada obreiro se aplique a si mesmo a advertência do apóstolo: “Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina (ensinamento)... pois fazendo isto, salvarás a ti mesmo e aos que te ouvirem.”
“Recomenda estas coisas. Dá testemunho solene a todos perante Deus, para que evitem contendas de palavras que para nada aproveitam, exceto para a subversão dos ouvintes. Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade.” (2.ª Timoteo 2:14-15)

C.H.M.

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