A escala ascendente
"Por esta causa dobro os meus joelhos perante o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, de quem toma o nome toda a família nos céus e na terra, para que lhes dê, conforme às riquezas da sua glória, o ser fortalecidos com poder no homem interior por seu Espírito; para que Cristo habite pela fé em vossos corações, a fim de que, arraigados e fundados em amor, sejais plenamente capazes de compreender com todos os santos qual seja a largura, o comprimento, a profundidade e a altura, e de conhecer o amor de Cristo, que excede a todo conhecimento, para que sejais cheios de toda a plenitude de Deus. E Aquele que é poderoso para fazer todas as coisas muito mais abundantemente do que pedimos ou entendemos, segundo o poder que opera em nós, a ele seja a glória na igreja em Cristo Jesus por todas as gerações, pelos séculos dos séculos. Amém" (Efésios 3:14-23).No texto acima vemos uma progressão, uma grande escada onde o degrau posterior descansa no anterior e este por sua vez em seu anterior. A edificação da casa de Deus, com todos os santos, para a plenitude de Cristo, que é o último degrau, tem etapas ou degraus anteriores que são necessários para que se possa alcançar aquele último. A Palavra de Deus nos diz (Gênesis 28) que Jacó em Betel viu uma escada; aqui veremos alguns degraus dessa escada.Paulo começa dizendo: "Por esta causa". Paulo viu primeiro um pouco de Deus, e a causa de Deus, porque o que nos dizem os capítulos 1 ao 3 de Efésios é o propósito eterno de Deus, a identidade da Igreja e o lugar da Igreja nesse santo propósito. Essa é a causa pela qual a intercessão de Paulo se empenhou. Primeiro viu o propósito de Deus; viu o significado da Igreja para Deus e o lugar da Igreja no propósito de Deus. Mas nós podemos cair na tentação de ficar somente com a conversação a respeito de uma visão mística da Igreja. O Senhor não quer que nós somente conversemos a respeito dessa formosa e mística visão do que para Ele é a Igreja na Palavra de Deus, mas sim Deus realmente quer ter à Igreja como esposa para si, como Corpo para o Seu Filho, como veículo para o Seu Espírito, como morada para a Sua plenitude.
Primeiro degrau: Vida em Cristo
Isso requer um trabalho muito íntimo de Deus, primeiro com cada um de nós pessoalmente; quer dizer, para que Deus tenha a Igreja que Ele quer realmente, Ele tem que trabalhar a sério, sem toscanejar; verdadeiramente tomar em Suas mãos e fazer uma obra verdadeira. Quando a obra do Senhor é verdadeira, sentimos; às vezes doe; nem sempre há dor, mas é uma douradura verdadeira, porque Deus realmente está dourando, realmente está transformando, e isso significa que Deus se mete conosco inequivocamente, com todas as nossas coisas; em qualquer área da nossa vida, aquela que menos imaginamos, chega o momento em que Deus põe o dedo ali e diz: Isto eu vou tratar agora usando este método que só eu sei que é apropriado. Até aqui tratei outras coisas, mas chegou o tempo para esta parte.Vemos que essa edificação que Deus realiza de sua morada para a sua plenitude, se faz de uma maneira muito prática com um tratamento muito verdadeiro em cada um de nós, primeiro como indivíduo, mas o tratamento de Deus em cada indivíduo, passa depois a ser um tratamento sobre nós como Igreja.
Segundo degrau:
ser fortalecidos no homem interiorDeus trabalha com cada indivíduo, com os redimidos, tratando a cada um como um caso especial. Em seguida o Senhor trata com as inter-relações dos indivíduos, como Igreja. Ele faz um trabalho com cada um pessoalmente para poder fazer um trabalho com a Igreja coletivamente. Acontece que às vezes não deixemos Deus trabalhar em nossas vidas no individual, e isso impede que avance o trabalho coletivo do Senhor com a Igreja. Isso nos ensina que o trabalho essencial do Senhor é em nossas vidas, para em seguida trabalhar verdadeiramente com a Igreja. O verso 16 diz: "...para que lhes dê, conforme às riquezas da sua glória, o ser fortalecidos com poder no homem interior pelo seu Espírito". Aqui encontramos o primeiro alvo nesta escada. Paulo está orando para que alcancemos um primeiro alvo; nossa intercessão deve ser compreendida no espírito sobre a intercessão de Paulo; e Deus queira que esta chegue a ser a nossa intercessão. É de temer que em muitos dos nossos casos, poucas vezes tenhamos intercedido por esta causa. O ser fortalecido com poder no homem interior pelo Espírito de Deus é o primeiro objetivo pelo qual devemos nos comprometer para orar uns pelos outros, para orar por cada um dos nossos irmãos.Se este primeiro passo não for dado, se não formos fortalecidos com poder em nosso espírito, podemos falar muito, podemos ter uma visão, mas não vamos ter a realidade dessa visão, porque a realidade dessa visão se dá com o fortalecimento do homem interior. Alguém pode saber o que deve ser feito, pode conhecer os ideais, mas se não formos fortalecidos com poder no homem interior, não podemos pôr em prática os ideais que temos. Por isso, a primeira necessidade é a vida, o fortalecimento do homem interior. O apóstolo João em sua primeira epístola no capítulo 5:16 diz:"Se alguém vir seu irmão cometer pecado que não seja de morte, pedirá, e Deus lhe dará vida; isto é para os que cometem pecado que não seja de morte. Há pecado de morte, pelo qual eu digo que não ore".Se alguém vir o seu irmão cometer pecado que não seja de morte -quer dizer, que Deus não tenha tido que decidir a sua morte-, pedirá a Deus e Deus lhe dará vida; isso significa que os crentes pecam porque temos um fluir de vida um pouco restringido; embora tenhamos a vida do Senhor em nosso espírito, a sua circulação através do resto do nosso ser é muito fraco ainda; não é fortalecida, e porque é fraco somos capazes de fazer coisas que ofendem a Deus e a outras pessoas; não somos o suficientemente consagrados. E a que se deve a isso? Que estamos limitados no fluir da vida. Quando a Palavra diz que se alguém vir o seu irmão cometer pecado -aí está a intercessão- que não seja de morte, pedirá a Deus para que Ele lhe dê vida, e Deus lhe dará vida. Em Efésios 2 diz que Deus, quando estávamos mortos em delitos e pecados, deu-nos vida juntamente com Cristo. A primeira necessidade que temos na nova criação é a vida. A vida é o começo, e quando diz: "ser fortalecidos com poder no homem interior", é uma questão de vida. Quase sempre somos levados a criticar, a julgar, a sentenciar, mas ninguém vai se levantar ou ser ajudado com essa atitude; somente pedindo vida. Essa é a primeira necessidade que cada um como pessoa necessita, ser fortalecido em seu homem interior.
Terceiro degrau:
que habite Cristo em nosso coraçãoUma vez alcançado o objetivo anterior se torna um requisito para um segundo objetivo mais avançado que é o que aparece a seguir, de que devemos ser fortalecidos no homem interior. Lemos a seguir (verso 17): "...para que habite Cristo pela fé em vossos corações". Recapitulando, temos que interceder; dobro os meus joelhos perante o Pai por esta causa, porque conheço o que Deus quer, porque vejo o que a Igreja é para Deus, vejo o lugar da Igreja nesse propósito, e para que esse propósito comece a cumprir-se, necessitamos primeiro de vida, e em seguida ser fortalecidos em vida no homem interior. Isso é o principal. Não atividades religiosas; não posturas que alguém está acostumado a ter, mas vida; realmente o necessário é a vida, o poder do homem interior. A Palavra ali nos diz que esse ser fortalecido no homem interior, é "para que habite Cristo pela fé em vossos corações". Realmente a vida do Senhor, o fortalecimento do homem interior deve fluir do interior para o exterior.O Senhor Jesus identificou o homem interior como o nosso espírito. O Senhor Jesus diz em João 7:38: "que crê em mim, como diz a Escritura, do seu interior correrão rios de água viva".E logo no verso seguinte explica João pelo Espírito Santo: "Isto disse do Espírito que haviam de receber os que nele cressem; pois ainda não tinha vindo o Espírito Santo, porque Jesus ainda não tinha sido glorificado". Isso nos confirma que há um fluir como rios do Espírito do interior. Quando a Escritura diz "do seu interior", essa palavra no idioma grego é ek, de onde temos essas raízes em castelhano: êxodo, exterior, externo; ek significa sair, de dentro para fora; se trata de uma preposição grega que na gramática se desenha como uma espécie de círculo e uma flecha saindo, para dar idéia do significado da preposição: sair de. Notemos com atenção que ao dizer desde o seu espírito, significa que a vida do Senhor passa do espírito humano para a alma.Por isso diz à Igreja -não está falando com incrédulos, fala à Igreja, que já tem o Senhor em seu espírito-: "para que habite", como se não habitasse. Mas não diz em seu espírito mas sim "em seus corações". Temos que entender o que significa coração na Bíblia, porque quando Paulo diz a Igreja que sejam fortalecidos no homem interior para que Cristo habite em vossos corações, se pensarmos que já o recebemos no coração, então, como poderia dizer para que habite no coração dos santos? Se já são santos para que receber a Cristo no coração? Temos que entender o que quer dizer "o coração" na Bíblia. Devemos entender o que é esse habitar de Cristo no coração por meio do fortalecimento do homem interior, por meio do fluir do Espírito de Deus, pelo espírito do homem para a alma do homem; já que na Bíblia diz que o coração é a alma mais a consciência doespírito. Na Bíblia mostra que o nosso espírito é a parte mais íntima do nosso ser, ou seja, o Lugar Santíssimo do templo de Deus. O espírito tem três funções principais: a da consciência, como diz a Palavra, "um coração limpo..., um espírito reto dentro de mim..., ao coração contrito e humilhado tu não desprezarás". A contrição é uma questão da consciência; assim que a consciência do homem está relacionada com o seu espírito; a consciência é uma função do espírito. Diz a Palavra: "E minha consciência me dá testemunho no Espírito Santo". É com o nosso espírito que recebemos as certezas que nos dá o Espírito de Deus. Diz em Romanos 8:16 que: "O Espírito mesmo dá testemunho ao nosso espírito, de que somos filhos de Deus". As outras funções do espírito humano são a intuição e a comunhão com Deus.A alma tem funções diferentes as do espírito, como a da mente. Há um versículo que diz: "A minha alma sabe muito bem...; de modo que quem sabe as coisas, as coisas do saber, de pensar, de raciocinar, essas funções mentais correspondem a alma. Mas também toda a gama de emoções correspondem a alma. Na Bíblia a alma é a que se alegra, a que se entristece, a que se zanga, a que tem vontade; e a vontade é também da alma. Agora ao conhecer as funções da alma e as da consciência do espírito, e vemos o que é que faz o coração, descobrimos que o coração é a relação da alma com a consciência do espírito, porque a Palavra diz que do coração emana a vida.A vida vem do Espírito de Deus ao nosso espírito, mas não vem para ficar quieta mas para fluir, para emanar do espírito para a alma; do mais íntimo do nosso ser, da intuição e percepção e da comunhão que experimentamos quando estamos na presença de Deus, e experimentamos no espírito o fluir da vida. Daí tem que emanar; do (ek) seu interior correrão; esse emanar é para o exterior do nosso ser. Quando no Antigo Testamento Deus simbolizava a casa de Deus com o templo, do Lugar Santíssimo, debaixo do trono, fluía o rio de vida, mas o rio de vida saía do Lugar Santíssimo, passava para o lugar santo, em seguida passava para o átrio, e por último saía até as nações e até o mar; de debaixo do trono de Deus no Lugar Santíssimo fluía o rio para fora. Aquilo era a tipologia, mas hoje é a realidade.O rio de Deus é o Espírito e a casa de Deus somos nós; o Lugar Santíssimo é o nosso espírito, o Lugar Santo é a nossa alma e o átrio é o nosso corpo. Isso nos ensina que o plano de Deus é que a vida de Deus, que se manifestou em Jesus Cristo e que nos é ministrada pelo Espírito Santo, chegou primeiro ao nosso espírito e dali deve correr para a nossa alma; quer dizer, "seu interior seja fortalecido para que habite Cristo pela fé em vossos corações". O coração tem as suas funções um pouco mais exteriores que o espírito, pois o espírito é mais íntimo que o coração humano; o coração ao contrário está relacionado com a consciência do espírito, mas é, por assim dizer, a porta por onde emana a vida."Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o seu coração; porque dele emana a vida" (Provérbios 4:23). A porta para que o Espírito do Senhor saia das profundidades, da intimidade, para o exterior, é o coração. Se estudarmos na Bíblia quais são as funções do coração, veremos que são as mesmas que as de nossa alma, de maneira que dizer coração e alma é quase o mesmo, com a diferença que quando diz coração, está dizendo algo a mais, pois guarda a consciência do espírito.Porque, quais são as funções do coração? Diz a Bíblia: "pois se o nosso coração nos repreende, maior é Deus que o nosso coração, e ele sabe todas as coisas. Amados, se o nosso coração não nos repreender, temos confiança em Deus"(1 João 3:20-21); quer dizer, que essa função da consciência, de repreender ou não, é do coração. Aí vemos a função que, com o espírito humano tem o coração, a da consciência. Também em Hebreus 4:12 diz: "Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante que toda espada de dois gumes; e penetra até repartir a alma e o espírito, as juntas e os tutanos, e discerne os pensamentos e as intenções do coração".Aqui se refere também a funções da alma, porque as intenções são exercidas com a mente e a vontade. Existe um fluir do interior para o exterior, do espírito para a alma, para o coração.A vida que todo filho de Deus já tem, está profundamente guardada em nós. Mas muitas vezes em nosso pensamento -porque quando dizemos coração tem que ser desmembrado, porque os pensamentos são do coração, as intenções são do coração, a consciência é do coração, as emoções são do coração- podemos dizer, sim, Cristo habita em meu coração, eu aceitei a Cristo em meu coração. É muito fácil dizê-lo, mas realizá-lo é diferente. Ter a Cristo morando em meu coração significa que Cristo está morando em meus pensamentos. Mas quantos filhos de Deus têm pensamentos onde Cristo não habita. Quer dizer que o processo de habitação de Cristo no coração é algo mais complexo; para que Cristo habite em meus pensamentos, habite em minhas emoções, é necessário um processo, um desenvolvimento, porque quantos filhos de Deus tem sentimentos de ira, de preguiça, de rebeldia, de adultério, ou de qualquer outra coisa, e somos legítimos cristãos e temos ao Senhor em nosso espírito, mas as nossas emoções ainda não estão o suficientemente controladas ou habitadas por Cristo, e se não estivermos fortalecidos no homem interior, essas emoções se tornam um gigante difícil de dirigir e controlar. Mas se somos fortalecidos no homem interior, ele controla essas emoções, traz sujeitos os pensamentos à obediência a Cristo, põe a vontade em acordo com a vontade de Deus, porque é um fluir de Cristo que vem de dentro para fora.Essa é uma lei espiritual: O tudo de Deus está em Cristo; o tudo de Deus e Cristo, está no Espírito; o tudo do Espírito vem para o nosso espírito, e o tudo de Deus o Pai, o Filho e o Espírito Santo que está em nosso espírito, tem que formar-se, derramar-se em nossos pensamentos, intenções, emoções, consciência; quer dizer, em nossos corações. Em 1 Coríntios 14:15, quando Paulo fala de orar no espírito, diz: "Orarei com o espírito, mas orarei também com o entendimento". No versículo 13 diz: "...aquele que fala em língua estranha, peça em oração poder interpretá-la". O entendimento pertence à mente da alma, o coração, mas no espírito está intercedendo, mas dá-se o caso em que, como a mente é um pouco mais exterior, não consegue interpretar a oração do espírito, e é por isso que Paulo exorta dizendo (verso 14): "Porque se eu orar em língua desconhecida, o meu espírito ora, mas o meu entendimento fica infrutífero". Por isso é necessário pedir em oração poder interpretá-la, para que a luz da vida não fique só no espírito, mas ilumine os olhos do entendimento e flua do interior para o exterior e do homem interior também habite no coração.Tudo isso é um processo. Receber ao Senhor nos deu a vida; estávamos mortos em nossos delitos e pecados, mas ao unirmos ao Senhor nos limpou dos nossos pecados e nos deu vida e o Espírito. Em seguida a segunda etapa é no coração; e isto já é um trabalho mais sério. O trabalho de Deus é verdadeiro. Para que Cristo habite em meus pensamentos, Deus tem que ter um combate com a minha mente, com os meus hábitos mentais, com os pensamentos, com as mentiras que aceitei como verdades e que estão em nossos pensamentos. Ele já habita em meu espírito, mas é necessário que habite em meus pensamentos. Há uma relação muito aparente dos pensamentos com os sentimentos, porque segundo o que penso e sinto, faço. Isto é o que diz Provérbio 23:7: "...como é o seu pensamento em seu coração, tal é ele". Segundo o que a pessoa pensa com o seu coração, isso se torna. Se o diabo te disser uma mentira como uma verdade e você aceita essa mentira como verdade, começa a sentir equivocadamente e a atuar também equivocadamente. Para corrigir a conduta é necessário corrigir o sentimento, e para corrigir o sentimento deverá corrigir o pensamento, e mostrar onde está a mentira do diabo, porque uma mentira não pode ser expulsa como se tratasse de um demônio, pois o demônio é uma pessoa, e existem enganos de demônios na pessoa; o demônio pode sair, mas se a mentira fica, essa mentira não pode ser exorcizada, tem que ser desmentida com a verdade.Esse trabalho da habitação de Cristo no coração é uma operação cirúrgica minuciosa, verdadeira do Senhor com os nossos hábitos mentais, sentimentos decisivos; nesse processo Deus está operando. Deus quer verdadeiramente algo para si mesmo; Ele quer fluir em nós e que os nossos pensamentos estejam de acordo com os Seus, mas freqüentemente Ele pensa uma coisa e nós outra, porque os Seus pensamentos não são os nossos, de maneira que os nossos pensamentos têm que aprender a sujeitar-se a Cristo; e esse é um trabalho longo de Deus, que só pode ser feito com o fortalecimento do homem interior.Antes de fortalecer o homem interior, não tinham conquistas, e agora tem; pensava mal, agora pensa bem; estava opaco, agora está luminoso, porque foi fortalecido no homem interior. Mas agora os seus pensamentos precisam ser habitados por Cristo. Os seus pensamentos, as suas determinações, devem ir se tornando cada vez mais cristalinas, mais transparentes. Um copo, se estiver limpo, põe-lhe água, e se alguém toma dessa água, tem sabor de água porque é pura e o copo está limpo. Mas se o copo não estiver limpo, embora a água seja limpa, o copo lhe acrescenta um sabor diferente ou esquisito. É água, mas além disso tem algum elemento estranho. Nós somos esse copo sujo; temos o tesouro mas em vasos de barro. Quando nos encontramos com os nossos irmãos, aparentemente tudo está bem, mas sempre há um saborzinho estranho que deve ser tratado; nesse sabor estranho Cristo não está habitando, mas há um elemento velho que deve ser renovado pelo Espírito. Essa é uma verdadeira operação de Deus, e não se trata só de uma doutrina linda mas sim de uma operação cirúrgica que Deus faz com cada filho, com toda a nossa personalidade, porque Ele quer refletir-se através da nossa personalidade; nossa personalidade deve ser purificada, renovada.
Quarto degrau: Compreender as medidas de Cristo
Nos degraus anteriores temos falado de um processo a nível individual; agora entra a etapa a nível coletivo. O fortalecimento do homem interior tem como objetivo a habitação de Cristo no nosso coração, e isto tem como objetivo o próximo degrau sucessivo, e para isso nos localizamos de novo nos versos 17-19a: "...para que habite Cristo pela fé em vossos corações, a fim de que, arraigados e fundados em amor, sejais plenamente capazes de compreender com todos os santos qual seja a largura, o comprimento, a profundidade e a altura, e de conhecer o amor de Cristo, que excede a todo conhecimento...". Para que o Senhor tem que fazer esse trabalho no coração até que cheguemos a atender o guiar de Deus e a voz interior? Para que "sejam capazes de compreender com todos os santos" as medidas de Cristo. Um indivíduo não pode compreender sozinho as medidas de Cristo, mas só poderá compreendê-las coletivamente. Para que eu possa ser capaz de compreender com os meus irmãos as medidas de Cristo, devo ser antes tratado em meu coração, do contrário não vou aceitar o meu irmão. Vou aceitar a mim mesmo, mas não creio que Deus possa me dizer algo através de outro irmão. É por isso que é necessário que Deus passe a operar em cada um de nós para aprender a compreender coletivamente. Uma coisa é compreender algo individualmente, e outra é que quando estamos juntos, com todos compreendemos mais, porque o que alguém compreende individualmente é uma coisa, mas o que compreende com os outros é maior. O irmão Watchman Nee dava um exemplo muito precioso em uma mensagem de um livro chamado "Conversas adicionais sobre a vida da Igreja", que trata sobre uns temas que ele compartilhou antes de ser encarcerado por 20 anos. Ele dizia que se um copo de vidro está quebrado em muitos pedacinhos, mesmo que não falte nenhum dos pedacinhos de vidro; e estiverem todos; mas, quanta água podem conter os pedacinhos de vidro? Um pedacinho só pode conter certo nível, mas quando todos os pedacinhos estão formando um copo, não somente pode conter a totalidade do que cada um pode conter, mas também algo mais. Por exemplo, se as pessoas podem conter 2 e outros 2, são 4, e outros 2, são 6, e outros dois, são 8...24...32...40. Se cada um de nós contém 2, o que contemos separados é 40; mas se os juntarmos, não só vamos conter 40, mas sim 2.000, 5.000; porque o copo unido cabe mais que o copo quebrado. Como pessoas individuais, podemos conter até certa medida, mas como Igreja estamos destinados a conter a plenitude, mas isto é algo muito sério.Irmão, possivelmente você vai aprender que os maiores sofrimentos que terás em sua vida, talvez não irão vir do diabo, ou dos inimigos; possivelmente você irá receber das pessoas mais queridas, dos mais próximos, dos mais amigos; vais ser profundamente ferido, talvez criticado ou exposto ou envergonhado, ou talvez menosprezado, ou desprezado, ou ignorado; mas com esses sofrimentos vamos aprendendo para que não nos portemos dessa maneira com os outros.Essa pessoa não pode avaliar de como é com os outros, até que o outro seja conosco como somos com os outros, então é quando nos damos conta. Nisto temos o exemplo de Jacó. Ele não se dava conta que era Jacó, o trapaceiro, o usurpador. Deus tinha um propósito com Jacó e precisava tratar com ele, e Deus sabia onde Jacó teria que aprender, e para esse fim o encaminhou até onde estava Labão, o seu tio. Na relação com o tio não só tratou de arrancar-lhe a pele, mas também o tio trocou a esposa, trocou o seu salário 30 vezes. Só prestamos a atenção do que fazemos a outros quando nos fazem o mesmo a nós. O Senhor trata verdadeiramente. Se alguém quiser escapar de ser tratado, vai ficar muito aquém da Igreja, longe do plano de Deus; se realmente queremos caminhar pelo caminho de Deus, temos que aceitar muitas disposições do Senhor que podem nos incomodar ou que podem nos ferir, porque terá que aprender a compreender com todos, e isto é muito difícil. É muito difícil nos pormos de acordo com pessoas que vêem de forma distinta, que têm temperamento diferente, distinto caráter; uns são extrovertidos, outros introvertidos; uns são rápidos e outros preguiçosos.É necessário aprender a ser um só vaso unido e não um pedaço quebrado.
Quinto degrau: A Igreja cheia da plenitude de Deus
Diz no verso 19b: "...para que sejam cheios de toda a plenitude de Deus". Deus destinou à Igreja como vaso para a sua plenitude; mas para que a plenitude de Deus caiba na Igreja, esta tem que estar bem coordenada como um só Corpo, e essa coordenação, essa junção de um com o outro é doloroso para a carne, mas boa para o espírito, porque Deus não nos põe com as pessoas que queremos. Se a decisão dependesse de nós, escolheríamos as pessoas que queremos, mas Deus tem outros filhos, possivelmente com aqueles que não gostaríamos de estar, e Deus te põe com eles e deverá aprender a engolir saliva, a suportar e a sofrer; e isso é até negares a ti mesmo, e negar-se ele a si mesmo, que não fique nada dele, e não fique nada de ti, e fique Cristo nele, e fique Cristo em ti.Desta forma a plenitude de Cristo acha lugar. Isto não é nada teórico; o Senhor não está contente com as teorias e bibliotecas cheias dos temas da Igreja; isso parece bom, mas não é suficiente; Ele quer uma verdadeira Igreja, e que aprendamos a nos integrar uns com os outros, não que sejam nossos amigos; há variedade de tudo na Igreja. A Palavra diz: "o ser fortalecidos com poder no homem interior por seu Espírito..., sejam plenamente capazes de compreender com todos os santos...". Que difícil é compreender o "com"; é muito fácil estar seguro da minha opinião, estar seguro da minha prudência, da interpretação clara da doutrina, e não tenho por que escutar a outro a outra interpretação, e o refuto e o desprezo antes de ouvi-lo. Terá que entender o outro e reconhecer que também ele tinha razão e que me enriquece com o que eu não via, e melhor, Deus o enriquece com o que eu digo, e já não sou eu sozinho vendo dois e ele sozinho vendo dois, mas sim juntos vemos dez, porque quando juntamos dois e dois são quatro, mas quatro têm relação com oito e cresce a união; isto é algo muito prático e terá que aprender a não guiar-se pelos gostos naturais, mas deixar que as disposições de Deus prevaleçam como Deus tenha ordenado as circunstâncias em sua vida, com as pessoas que Ele quer, sejam agradáveis ou não. Tem que aprender algo nesse meio porque a vida individual não é suficiente, mas compreender com todos, as medidas de Cristo, e em seguida chegar ao último degrau, "para que sejam cheios de toda a plenitude de Deus", destinada aos santos, mas como Corpo. Este é o caminho que nos espera.
Para a Edificação do Corpo de Cristo!! Mateus 5:9 Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos maduros de Deus.
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