Há um tema constante rondando em meu coração e, em minha jornada pelo Brasil, percebi que o Espírito Santo, em muitos lugares - não todos, mas em muitos - me colocava a falar sobre esse assunto. Aqui também falamos um pouco sobre isso, mas sinto no coração que devemos, com a ajuda do Senhor, aprofundar um pouco mais nas coisas que recebemos, para que possamos recebê-las melhor do Senhor, cada vez com mais clareza, cada vez com mais nitidez.
Gostaria que abríssemos a palavra do Senhor novamente em Gênesis, no primeiro capítulo. Aqui, em Gênesis, já estão praticamente contidas as sementes que se desenvolvem ao longo de toda a Bíblia. Para compreender a relação que Deus tem com o homem, precisamos ver três etapas. Poderíamos dizer três etapas na relação do homem com Deus, mas, para compreender essa relação, devemos levar em conta as três etapas. Se considerarmos apenas uma ou duas delas, mas não as três, nossa visão será incompleta e teremos muitos desequilíbrios. Algumas pessoas começam a ver as coisas a partir da realidade da queda e, conforme o que aconteceu com o homem após a queda, formam uma visão incorreta de Deus. Devemos lembrar que a relação de Deus com o homem não começou com o homem caído, mas com o homem antes da queda.
Devemos observar com muito cuidado a palavra de Deus. Qual foi a classe de homem que Deus quis criar e criou antes da queda e que tipo de relação Deus quis ter e de fato teve durante um bom tempo com o homem antes da queda. E outra coisa que devemos considerar é a seguinte: é na criação do homem que se manifesta qual é o propósito de Deus para com o homem antes da queda. Que tipo de relação Deus quer ter com o homem se manifesta na maneira como Deus fez o homem antes da queda. O homem tinha ou não livre arbítrio? O homem tinha ou não responsabilidade? Estava o homem impossibilitado de comer da árvore da vida, de tomar, estender sua mão e tomar antes da queda? Porque, depois da queda, Deus disse que agora o homem não deve estender sua mão e comer da árvore da vida. Mas, antes da queda, esse "agora" ainda não havia chegado, ou seja, quando Deus criou o homem, Ele criou um homem livre, com livre arbítrio, com responsabilidade, que, se quisesse, poderia estender sua mão e tomar da árvore da vida.
Enquanto o homem estava sem cair, estava de qualquer forma em uma prova porque foi colocado no meio do jardim do Éden e lhe foi dito: De todas as árvores do jardim poderás comer, menos da árvore do conhecimento do bem e do mal. A árvore do conhecimento do bem e do mal estava próxima à árvore da vida, e a árvore da vida estava no centro do jardim do Éden, e isso significa muito. O centro é a árvore da vida, vamos lê-lo no capítulo 2. Diz nos versículos 8 e 9: “E Yahveh Elohim plantou um jardim no Éden, ao oriente; e ali pôs o homem que havia formado” foi Deus quem o colocou naquela condição no jardim do Éden e diz mais: “E Yahveh Elohim fez brotar da terra toda árvore agradável à vista e boa para comer;” ou seja, originalmente, a parte mais perfeita do reino vegetal era o alimento do homem, ainda o homem comia só vegetais, não comia animais porque não havia caído, enquanto o homem não caísse não precisava da redenção; a redenção veio porque o homem caiu, agora se o homem tem que comer dos animais porque o sacrifício dos animais é uma figura da morte de Cristo, amém?
Mas antes da queda, o homem era neutro, o homem era perfeito, mas ainda era apenas homem com natureza humana, mas sem a natureza divina; embora o homem não tivesse caído, ainda o homem só tinha espírito humano, alma humana livre, não havia nenhuma pressão do pecado na carne do homem porque a carne de Adão antes de cair não era pecaminosa, a carne de Adão foi criada por Deus, a carne se tornou pecaminosa depois da queda. Agora sim, claro que havia mal no universo mas não no homem, o mal estava até antes da queda fora do homem, havia começado com o Lúcifer, aquele querubim que se rebelou, arrastou a terceira parte dos anjos, mas o mal estava fora. Mas Deus como não obriga, por isso é muito importante que compreendamos desde o princípio o caráter de Deus, porque depois virá a questão das discussões dos calvinistas com os arminianos e isso por dizer o mínimo, porque calvinistas há vários: calvinistas extremistas, há moderados e arminianos há extremos e há moderados, e há metodistas que são arminianos, wesleyanos e metodistas que são calvinistas, e toda essa discussão tem a ver com isso que estamos considerando agora. Depois perceberemos mais claramente todas essas coisas, mas o que revela o tipo de relação que Deus quer ter com o homem é a primeira etapa, a etapa do homem desde a criação até a queda, como Deus criou o homem? Isso é o que revela que tipo de relação Deus quer ter com o ser humano, porque uma coisa é o que aconteceu com o homem depois da queda, mas não é isso que revela o tipo de relação que Deus quer ter contigo e comigo, isso foi um acidente que Satanás provocou e que já estava previsto por Deus, e para Deus não há mudanças de propósito, e isso é o que gostaria que entendêssemos.
Quando Deus criou o homem antes da queda, Ele o criou com um propósito e vocês acreditam que Satanás frustrou o propósito de Deus e agora o pobre Deus não vai poder ter o que Ele queria, mas agora teve que se ajustar a Satanás ou ao que Satanás fez, será isso? Porque às vezes nossa teologia tem essas implicações ocultas, que às vezes não percebemos porque só vemos o homem afetado após a queda e então começamos a justificar o homem e a culpar Deus porque essas são outras implicações que também estão escondidas quando não interpretamos desde o princípio.
Então, desde a criação até a queda houve um período de cerca de um século, porque se vocês se dão conta de quando nasceu Sete: Sete nasceu no ano 130 de Adão. Quando Adão tinha 130 anos foi que nasceu Sete, ou seja, Abel havia morrido, então nasceu Sete. Então você vai diminuindo mais ou menos quando Abel morreu e Sete nasce, mais ou menos qual poderia ser a idade de Abel e Caim, percebe que têm que retroceder mais ou menos ao começo de um século ou ao final de um século, ou seja, sem ser exatos, sem dizer que foi no ano 100, mas podemos dizer que por cerca de um século Adão e Eva viveram inocentes no Éden; sem saber que estavam nus, sem ter filhos; podiam conversar com Deus. Às vezes não nos detemos para pensar nessas coisas e Deus esteve assim muito tempo com eles porque quando você vai ver as datas foi no ano 130 que Sete nasceu para substituir Caim. Tire alguns anos, se quiser tirar mais de 30, tire 40, tire 50, se quiser tirar 80, de qualquer forma fazia muitos anos que Adão e Eva, sendo inocentes, viviam no jardim do Éden antes da queda. Não podemos ser dogmáticos e dizer quanto, mas sim temos que saber que deve ter sido por um bom tempo e esse tempo nos ajuda a entender o tipo de relação que Deus queria ter com o homem. Imagine, ainda eles nesse tempo não haviam comido da árvore da vida e não estava proibido ainda.
Desde o princípio, mesmo antes da queda, parece que não comíamos o que tínhamos que comer. Deus colocou todas as árvores e o mais interessado que comêssemos da árvore da vida era Deus, essa era a árvore da qual Deus tinha mais interesse que comêssemos, mas Ele não forçou nada, Ele deixou em liberdade os seres humanos, os seres humanos podiam fazer o que queriam e Deus os observava; observou por muito tempo. Mas a árvore que foi proibida foi a que chamou a atenção deles e aquela árvore era a porta para o contato com o mundo onde existia Satanás e os anjos caídos. Enquanto eles não abrissem essa porta, esse mundo ficava fora e eles permaneciam até inocentes da existência do mal, eles nem sequer precisavam saber que havia um querubim que se rebelou com a terceira parte dos anjos e que poderiam estar por lá, de fato a serpente estava lá, ali estava a serpente. Mas enquanto não se abrisse a porta da árvore do conhecimento do bem e do mal, o homem continuaria na inocência e Deus esperando ver quando comia da árvore da vida e agora também, depois da queda, há a redenção e depois da redenção, que é a terceira parte, o homem tem que continuar decidindo ir à árvore da vida. Quem quiser, venha e beba, antes não precisava de redenção porque não havia caído, redimido de quê? Se não havia nem pecado. Mas depois caiu e precisava da graça, porque a queda incapacitou o homem terrivelmente em muitas coisas.
É bom examinar até que ponto, porque esse é outro dos pontos em discussão no mundo teológico, até que ponto o homem foi afetado na queda, até que ponto o livre arbítrio foi afetado na queda, então é bom que vocês vejam como Adão e Eva se relacionavam depois da queda com Deus, será que podiam falar com Deus depois da queda?
Volto a ler novamente o que aconteceu depois da queda: Veio Deus falar com eles e eles se escondiam, mas de toda forma ouviam, ou seja, o contato não se interrompeu totalmente, Deus não ficou totalmente escondido, eles ficaram com memória da sua experiência anterior, percebe? Então aí há outro ponto que é necessário atender com muito cuidado. Mas ainda não vamos entrar nesse assunto, apenas estamos identificando os três principais períodos: O primeiro a partir da criação até a queda, esse período é muito necessário considerá-lo com cuidado porque esse é o período que revela o propósito de Deus com o homem, esse é o período que revela o tipo de ser humano que Deus quer ter e com que tipo de ser humano Ele quer se relacionar, será que Deus quer se relacionar com um robô? Com um fantoche? Ou com um ser humano? Qual é o tipo de relação que Deus quer ter? Forçada ou espontânea? Deus quer que o homem exercite ou não sua responsabilidade?
Será que existe a responsabilidade? Então é necessário ver isso: o que revela o verdadeiro propósito? Esse é o primeiro período: como o homem foi feito e como o homem viveu e se relacionou com Deus até antes da queda. O homem era neutro e poderia ter escolhido, e Deus lhe deu essa liberdade e quer que o homem a exerça; que o homem escolhesse voluntariamente se aproximar da árvore da vida e viver por Deus. E Deus esperou muito, esperou até que caíssem sem terem comido da árvore da vida. Isso foi algo sério.
Agora vem a segunda situação, a segunda etapa: o que aconteceu com o homem depois da queda? E será que a queda – como mencionei há pouco – frustrou o propósito? E que agora Deus já não pode ter a relação com o homem da maneira que Ele queria? Porque certamente a queda afetou o ser humano, afetou o espírito do homem de tal forma que o espírito do homem ficou separado de Deus porque o que Deus havia dito era: no dia que dele comerdes, morrereis.
Devemos entender o que significa a morte. Que tipo de morte foi? Primeiro, uma morte que afetou o espírito do homem, mas não afetou a existência do homem; o homem não desapareceu, ele continuou sendo homem, só que agora já não tinha a liberdade de vir por si mesmo tomar da árvore da vida. Que não estenda agora, - depois da queda - sua mão para comer da árvore da vida. Foi destituído da vida de Deus e da glória de Deus porque tomou a decisão errada. O homem na prova, como diz Deus nos profetas menores, quebrou o pacto, como Deus diz a Israel: vós, como Adão, quebrastes o pacto, isso está em Oséias, ou seja, Adão quebrou um pacto. Havia um pacto no Éden e esse pacto era entre duas pessoas livres, o pacto era um casamento, livre, o tipo de relação que Deus quer ter é com pessoas não forçadas, mas pessoas convidadas, pessoas que querem, pessoas que decidem, e se esquecermos que o homem deve decidir, estamos perdendo de vista o tipo de relação que Deus quer ter conosco.
Um casamento significa a decisão do homem e da mulher, e a relação do homem e da mulher é a que reflete a relação de Deus com seu povo, de Cristo com a igreja, e esse casamento tem que ser voluntário. Então, esse é o tipo de relação que Deus quer ter; Deus não é um manipulador de fantoches. Alguns confundem a soberania divina com a manipulação de fantoches porque não entendem que o Deus soberano tem um caráter muito diferente do de manipulador. Claro que Deus é soberano, isso não podemos negar, e sendo absolutamente soberano, Ele poderia fazer o que quisesse, mas Deus tem um caráter, Deus tem uma maneira de ser e Ele exerce sua soberania segundo seu caráter. Sempre que se ouça falar da soberania divina, deve-se também falar do caráter divino. Com que caráter Deus exerce ou faz uso de sua soberania, isso deve ser sempre considerado porque, caso contrário, as pessoas dizem: bem, já que estou caído, que Deus faça tudo. Agora, Deus faz sua parte, e esse é o assunto da discussão teológica entre o monergismo e o sinergismo; monergismo de mono e ergos de uma só energia, e sinergismo de comunhão, casamento, essa é uma discussão teológica que existe, e isso se deve a todos esses assuntos.
Depois vem a terceira etapa: a redenção. Deus redime o homem para recuperar o homem e para recuperar a relação que Ele planejou no princípio com o homem, agora graças à graça, recuperar a relação livre, compreendem? Não é uma relação forçada porque Deus nunca quis ter uma relação forçada e se pensamos: agora quando Deus redime o homem, agora já não pode ter a relação que queria ter com o homem quando o criou, então teremos que admitir que Satanás conseguiu atrapalhar o propósito de Deus e agora Deus teve que se adaptar à obra de Satanás. Deus previu a obra de Satanás, mas seu propósito permaneceu inabalável, Deus tinha outra carta escondida, quando Satanás fizesse sua jogada, Deus apresentava sua carta escondida que se chamava redenção, a recuperação do homem, a renovação, a regeneração e continuava inabalável com seu propósito. Então está o homem antes da queda, a primeira etapa, depois já veio a queda e afetou o homem, afetou o espírito do homem, o homem ficou morto no seu sentido espiritual. Morto quer dizer separado de Deus, privado da vida e da glória divinas, isso aconteceu com o homem. Então, seu espírito poderia estar unido à vida divina como agora depois da redenção. Nós já estamos.
Antes da queda, o homem poderia tomar da árvore da vida e assim seu espírito teria sido regenerado e nunca teria caído, porque quando o homem foi criado, ele ainda não havia sido regenerado porque foi criado com espírito humano, alma humana e corpo humano, e com a liberdade de viver por si mesmo ou de viver em união com Deus. Se ele escolhesse comer da árvore da vida, quer dizer que escolhia viver em união com Deus pela vida divina, então o homem viveria a vida divina e Deus viveria a vida humana em casamento, Deus no homem e o homem em Deus. Mas Deus quis que o homem assumisse a responsabilidade, Deus não o obrigou a comer, mas colocou no centro a árvore da vida, a da ciência estava ali perto, mas a do centro, a árvore principal, a que Deus queria que comêssemos, era a de sua própria vida divina. Mesmo sem pecar, o homem precisava comer da árvore da vida para ser regenerado, para que não fosse apenas um homem, mas um filho de Deus.
Adão foi um filho de Deus, mas no sentido de criatura, depois, quando ele recebeu a redenção e foi vestido pelo Senhor, então ele foi redimido, foi anunciada a redenção e ele recebeu as vestimentas que o cobriam, o sangue do sacrifício e o efeito dessa morte o cobriu. Mas antes da queda, enquanto ele não comia da árvore da vida, ele não tinha vida divina, ainda que não tivesse caído, isso não era suficiente, mas tinha que escolher e deixou passar o tempo. Quando Deus disse: Não estenda agora sua mão e coma, isso foi depois da queda, mas antes desse “agora”, ele poderia estender sua mão. De todos os árvores, podes comer, tinha a capacidade de tomar da vida divina, tomar da vida divina e vou sublinhar esse verbo “tomar” porque nos encontraremos com ele novamente, porque assim como da parte do homem há essas três etapas, também da parte do Senhor para recuperar o homem há três etapas; as três etapas do homem: primeiro perfeito, mas sem vida, perfeito quanto ao humano, capaz, livre e em prova, mas não viveu pela vida divina, comeu das outras árvores e da árvore da ciência do bem e do mal. Ali mudou, ali o pecado entrou no homem e a natureza humana ficou vendida ao poder do pecado. Então agora temos que, com a ajuda da palavra de Deus – antes que com a teologia calvinista, arminiana ou qualquer outra teologia – com a própria palavra de Deus devemos estudar o melhor possível para ver o que aconteceu com o homem depois da queda. Então, há coisas que aconteceram em seu espírito, coisas que aconteceram em sua alma e coisas que aconteceram em seu corpo. A morte começou com a separação de Deus, quando o homem já não estava em comunhão com Deus e já não vivia pela vida de Deus. Mas agora havia um poder que era mais forte que o poder de sua alma. A alma não desapareceu, a alma continuou existindo ainda, mas agora separada de Deus, então se centrava em si mesma, começou a fazer o que bem entendia, mas quando queria fazer um bem que desejava, descobriu que havia um poder em sua carne que se chamava pecado, que era maior que o poder de sua alma; querer o bem está em mim, mas não o fazer porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, isso faço, algo aconteceu na alma do homem. O homem não deixou de querer, de fato, Paulo diz: querer o bem está em mim, mas não o fazer, ou seja, a força de nossa alma apenas não foi mais suficiente para fazer a vontade de Deus, pois em nossa carne, diz Paulo, em minha carne, não habita o bem.
Desde a queda, na carne habita o mal e agora existe da parte da carne uma constante propensão ao mal; nossa carne quer o mal e pressiona com suas paixões e desejos agora desordenados e caídos sobre a alma, e a alma por sua própria força não pode fazer o que antes poderia fazer. Antes a alma queria poder comer da árvore da vida, mas agora depois da queda, Deus mesmo disse: não estenda sua mão até que não houvesse redenção. Até que o preço não fosse pago a favor do homem pelo seu pecado, o homem não podia tomar, mas depois é preciso tomar, por isso diz em Apocalipse: ao que vencer, darei a comer da árvore da vida. Agora volta novamente, mas então há algo que se chama “vencer”. Por que Deus usa a palavra “vencer” se Ele já venceu por nós? Porque o tipo de relação que quer ter é com seres livres. Ele provê, mas a provisão não viola o estatuto da liberdade do homem, a redenção não viola o estatuto da liberdade do homem; no Novo Testamento agora se chama a lei da liberdade. A lei da liberdade quer dizer que o tipo de relação que Deus quer continuar tendo com o homem é uma relação espontânea e livre, e a redenção vem para recuperar o homem e recuperar a relação.
Nunca depois da redenção o homem continuará sendo marionete, mas há uma discussão sobre a terceira parte, outra discussão teológica que alguns falam sobre a graça irresistível, os cânones de Dort, que são mais calvinistas que Calvino. Porque um dos cânones de Dort é a eleição limitada, e Calvino acreditava na eleição ilimitada; então, os cânones de Dort foram mais calvinistas que o próprio Calvino, a expiação limitada. Calvino não falava de expiação limitada, ele acreditava que a expiação era válida para salvar a todos; se alguém não era salvo, não era porque Deus não queria salvá-lo, mas alguns querem dizer e fazer entender que Deus não quer que todos sejam salvos, mas a Bíblia diz que Deus quer que todos sejam salvos. Então, não se pode interpretar contra a Bíblia, não se podem interpretar versos uns contra os outros, mas devemos interpretá-los todos juntos; tomar os versos do calvinismo, do arminianismo, que não são de um nem de outro, não são deles, são da Bíblia, mas é preciso tomá-los todos, percebe?
Há uma questão aí, agora só estamos vendo um panorama da questão, não estamos entrando na questão, estamos olhando o panorama da situação que deve ser abordada com cuidado. Deus quer a salvação de todos? A palavra diz isso? Então, como vamos interpretar o fato de muitos não serem salvos? Não é Deus Todo-Poderoso e soberano? E se Ele é soberano e Todo-Poderoso, por que alguns não são salvos se Ele quer que todos sejam salvos? Porque o tipo de relação que Deus quer ter com o homem envolve a responsabilidade do homem e quando Deus concedeu responsabilidade e consequências à responsabilidade, o próprio Deus as respeita; mesmo na redenção, Deus redime se a pessoa recebe.
Então, se você ouvir falar da graça irresistível no mundo teológico, não encontrará essa expressão na Bíblia. Nunca na Bíblia você encontrará graça irresistível, ao contrário, Estevão diz: "vocês sempre resistem ao Espírito Santo", ou seja, o Espírito Santo estava trabalhando e respeitando, devemos entender isso: o Espírito Santo sempre trabalha e concede graça, mas respeitando a decisão responsável do homem, inclusive o Espírito Santo devolve a capacidade de ser responsável, mas não decide pelo homem. Deus nunca decidirá pelo homem, porque o homem deixaria de ser homem e seria um robô. O robô já nasce com todas as decisões programadas, o homem o programa; quando perguntarem tal coisa, responda tal, quando moverem essa peça, mova aquela outra, está programado. Mas isso é um robô, não um homem à imagem e semelhança de Deus. Um homem à imagem e semelhança de Deus é uma pessoa que precisa decidir se recebe ou não a graça, Deus não vai forçar a graça.
A Escritura diz por que veio o dilúvio e Deus dá a razão e veja essa frase que às vezes lembramos, verso 5 do capítulo 6 de Gênesis. Primeiro lemos o 3 e depois o 5: "E disse Javé: não contenderá meu espírito com o homem para sempre, porque certamente ele é carne, mas serão seus dias cento e vinte anos", ou seja, Deus estava há mil e seiscentos e poucos anos contendendo com o homem. Deus, o absoluto Todo-Poderoso, lutando com o homem como fez com Jacó. Deus apareceu como um homem com Jacó e lutou com Jacó, vejam que Deus não age de maneira arbitrária, Ele é soberano, mas não arbitrário, que é diferente, por que Deus não diz: "adoram-me todos": aperta um botãozinho e dizem, aleluia! Glória a Deus! Bendito seja Deus!... Por um botãozinho, vocês acham que Deus ficaria contente? Um político sim, um político contrata pessoas que gritam: Viva o doutor fulano!, O doutor fulano é o melhor prefeito!, ou aqueles profissionais de choro contratados nos cemitérios para chorar pelo pobre morto – as carpideiras – mas sabemos que é pura encenação. Deus é mais digno que isso, Deus não quer apertar um botão para que o adorem com um botão ou que chorem com um botão, que riam com um botão, Deus não quer isso. Quem quiser ser meu discípulo, tome, quem quiser, tome, tem que querer e querendo, tome. Para ser discípulo, tem que querer e tem que tomar.
A provisão está dada, mas não está forçada, tem que ser recebida e tomada. Então, que Ele esteja em nós é uma coisa, mas que coloquemos o pé na terra que Ele nos deu, isso quer dizer “tomar”: tome sua cruz, na cruz foi provida sua crucificação, na cruz foi provida sua liberdade total, na cruz você foi crucificado, o velho homem foi crucificado, tudo o que é negativo acabou, mas agora, se quiser, tome ou deixe, esse é o problema, a provisão está dada, mas é preciso crer, receber e tomar, essa é a responsabilidade, nesse verso “tomar” aí está a chave. Quem quiser, venha a mim e beba. Se o Senhor diz: Quem quiser, beba, será que o Senhor está zombando de um paralítico? Um paralítico está ali e o Senhor diz: levanta-te e anda, mas como vou andar?, acaso não percebe que sou paralítico?, depois da queda fiquei paralítico e não posso andar! Eu sei, mas estou dizendo a você: anda, quer dizer que vou te ajudar. E quando aquele paralítico teve fé – quando Paulo lhe disse isso, teve fé – Paulo lhe disse: levanta-te e anda! Paulo não estava zombando do paralítico, porque não estava dando uma ordem ao paralítico para que ele atuasse sozinho, a graça estava ali para que quando o paralítico acreditasse, recebesse e tomasse a graça, então a graça operava, mas era a decisão do paralítico por fé que abriria a porta para o fluir da graça. Não é uma graça irresistível.
A Bíblia diz: vocês sempre resistem ao Espírito Santo. O Espírito Santo está ali, a Bíblia diz que fazemos afronta ao espírito da graça e não é irresistível, é uma graça que vemos resistida e afrontada e ali em Gênesis 6, ali aparece muito claramente o que o Senhor está dizendo. Ali em Gênesis 6 diz: não contenderá meu espírito para sempre com o homem, ou seja, até o dia do dilúvio, o que Deus estava fazendo com o homem que se tornara carne e vivia apenas pela carne? Deus estava contendendo. Ou seja, é a graça de Deus, mas Deus que é Todo-Poderoso contende respeitando suas próprias leis. É como um jogo de futebol com suas regras, você não pode cobrar um pênalti a três metros quando o goleiro não está, você tem que cobrar do ponto de pênalti quando o goleiro está, mas não pode dizer: agora que o goleiro não está, vou cobrar um pênalti, assim não é. Agora, o próprio Deus cumpre suas próprias leis, Ele é soberano, Ele se autoimpôs o respeito à liberdade e à responsabilidade que Ele concedeu. Se você não entende isso, vai acreditar que se Deus o predestinou, Ele o pega pela orelha e faz todas as coisas e você, enquanto isso, como pobre herdeiro do pecado, vai pecar e pecar e pecar e pecar até que Deus o pegue pela orelha. Não é assim irmão, Deus vai deixá-lo pecar e pecar e pecar até que vá para o inferno. Deus vai anunciar o evangelho e aos que o receberam Ele deu o poder de se tornarem filhos de Deus.
E aqui há outro ponto em discussão: Primeiro se recebe para ser filho ou primeiro se é filho para ser recebido? O monergismo, o calvinismo extremo, diz que Deus regenera aqueles que Ele quer para que possam recebê-lo, mas a Bíblia diz: aos que o receberam, deu-lhes o poder de se tornarem filhos. A base de ser feito filho é receber, porque a graça vem a você para ajudar, mas não para decidir por você, a graça o capacita, mas está esperando, antes da queda Deus esperou que Adão comesse da árvore da vida, mesmo antes da queda, e Adão não comeu e Deus não o forçou, e depois da queda Deus está contendendo com o homem, contendendo. Agora, por que Deus contende com o homem?
Será que Deus está louco ao fazer o impossível? Será isso o que acontece com Deus? Por que Deus contende com o homem? Porque Deus está oferecendo graça. Irmãos, desde o Éden, quando o homem pecou, a graça já estava lá. A semente da mulher esmagará a cabeça da serpente, e até que Cristo viesse, todos os que andaram com Deus, andaram na fé na semente que viria na fé da ressurreição, como Paulo explica sobre Abraão, sobre Isaque, que pela fé se tornou herdeiro da justiça, mesmo antes de Cristo vir ele acreditou que viria e foi justificado pela fé, mesmo antes de Cristo vir ele já acreditou que viria, já recebeu Cristo antes que Ele viesse, já o recebeu. O mesmo aconteceu com Enoque: Enoque andou com Deus e Deus o levou, isso sim é algo grandioso, mesmo antes de Cristo vir, mesmo antes do dilúvio, quando Deus estava contendendo com o homem, Enoque respondeu a Deus, caminhou com Deus, não sozinho, pois do contrário, não teria desaparecido em arrebatamento, mas caminhou, foi com Deus. Mesmo antes do dilúvio, Enoque caminhou com Deus, ele recebeu a graça de Deus pela fé, mesmo antes de que viesse. Pela promessa acreditou, baseado na promessa caminhou com Deus, de tal forma que Deus o levou sem ver a morte; enquanto os outros estavam resistindo à contenda de Deus.
Diz o verso 5: “E viu Javé (não é que Deus não havia visto, mas agora estava demonstrado) que a maldade dos homens era muita na terra, e que todo (ah! se houvesse 99% de erros, mas uma janelinha, um buraco; está o quarto escuro, mas por um buraco entra um raio de luz, mas nem um buraco irmãos, diz) todo desígnio dos pensamentos do coração deles era continuamente somente o mal”. “Todo desígnio continuamente somente o mal”; se não houvesse todo desígnio, dos milhões de desígnios, um teria estado para receber a contenda de Deus, como fez Enoque, como fez Noé. Noé achou graça aos olhos de Deus. Havia o contraste entre Enoque, Noé, e aquela geração. Deus estava tentando: primeiro anunciando, depois realizando, então vem a terceira etapa, chega o prometido e se cumpre, o preço é pago, e vem a graça.
Vamos a Tito, sublinhe este versículo irmão, se você quiser, capítulo 2 verso 11: “Porque a graça de Deus se manifestou para salvação”, não apenas para provocar e depois mandar para o inferno, não! Deus não está mentindo, “para salvação de todos os homens”, desde quando começou a manifestar-se a graça? Desde que anunciou a Cristo, porque a graça é Cristo, desde que disse: “a semente da mulher esmagará a cabeça da serpente”, desde então se manifestou a graça, desde que sacrificou aquele cordeiro e cobriu Adão e Eva, ali se manifestou a graça, desde que disse: em tua semente serão benditas as famílias da terra, essa é a graça manifestada a nós antes dos tempos dos séculos, a graça foi oferecida antes dos tempos dos séculos e foi oferecida a quem? A todos. Ide e pregai este evangelho a quem? A toda criatura, a todos. Então diz aqui: “a graça de Deus se manifestou para salvação”, não para fazer joguinho, mira, mira e tchau. Alguns apresentam assim que Deus não quer salvar senão a uns, e aos outros lhes diz: mira, mira, mas não, eu quero que vá para o inferno, esse é o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus?, mas é o de alguns teólogos, que Deus não quer realmente que sejam salvos, Deus quer é que se percam e uns que se salvem, não é assim! Deus quer que todos se salvem e por isso o inferno Ele não o fez para os homens.
Se Deus quisesse que algum homem se perdesse, Deus teria feito pelo menos um inferninho como para homens, mas Deus não fez o inferno para os homens, Deus fez o inferno para o diabo e seus anjos, mas como alguns o seguiram, pois têm que segui-lo até lá. Mas Deus quer que todo homem seja salvo, Deus quer que todo homem venha ao pleno conhecimento da verdade, Deus quer apresentar perfeito em Cristo Jesus a todo homem; e se Ele é Todo-Poderoso e é soberano, por que não o faz? Porque Ele não viola a responsabilidade do homem, Ele não o fará dessa maneira, porque o homem deixaria de ser homem, Ele estabeleceu que a relação com o homem tinha que ser espontânea, voluntária.
Desde o princípio quando Deus vai construir sua casa, a primeira coisa que diz a Moisés é: Moisés, diga ao povo: “quem de seu coração, espontaneamente, voluntariamente, quiser trazer oferta para o meu santuário”. O requisito primeiro para Deus ter uma casa é que tem que nascer da decisão espontânea do homem. A graça está aí porque Deus sabe que o homem caiu e a graça ajuda o homem caído, mas a graça não decide pelo homem caído, a graça ajuda, a graça está aí, o querer e o fazer Ele o produz, mas não contra nós, sem nós, mas em nós e nós somos o homem livre. Deus produz o querer, Deus produz o fazer em nós, não coloque apenas uma metade, nem a outra metade, não fique com o nós sem a graça ou com a graça sem o nós, quem quiser, quem permanece em mim e eu nele, este dá muito fruto, porque vai haver um julgamento? Se fosse tudo por robô não haveria julgamento e se houvesse julgamento seria injusto o julgamento, porque você acaso resistiu a Deus? Você fez as coisas como Deus programou, Deus programou para que você pecasse, o obrigou a pecar e agora o manda para o inferno?
Será isso? É esse Deus? Por que haverá julgamento? Porque há responsabilidade no ser humano, por isso haverá julgamento, porque há responsabilidade e a responsabilidade tem consequências transcendentais. Se alguém vai estar no inferno, Deus não queria, esse não era o lugar, Deus não fez lugar no inferno para nenhum homem porque se Ele tivesse feito isso, é como se Ele já quisesse que fosse para o inferno, não! Ele não fez o inferno para o homem, mas para o diabo e seus anjos, mas haverá milhões de homens no inferno e nenhum estará lá por culpa de Deus. Cada homem que está no inferno está por sua própria culpa e por sua própria responsabilidade, porque resistiu à graça, porque fez afronta ao espírito de fé, porque não quis crer sendo que Deus deu fé a todos.
Você sabe que a Bíblia diz que Deus deu fé a todos? Alguém diz: "é que a fé é um dom de Deus"; se é um dom de Deus, mas esse dom Deus deu a todos, querem ver esse versículo? Vamos à Bíblia, vamos a Atos dos Apóstolos, vamos a um dos discursos do apóstolo Paulo no capítulo 17. Diz o versículo 31 e isso eu examinei e reexaminei no grego para que não digam: ah!, é que aqui o tradutor era arminiano, não!, o tradutor era calvinista, mas mesmo assim, escaparam-lhe certas frases, como dizem os testemunhas que não creem na divindade, mas mesmo assim escapam-se-lhe versículos onde se pode demonstrar a divindade de Cristo. Diz assim Atos 17:31: “porquanto estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com justiça, (porque julgar mas sem justiça? Porque Deus é soberano, mas também é justo, vê?) por aquele homem que destinou, dando fé (aqui está onde a fé) com haver levantado dos mortos”, ou seja, a ressurreição de Jesus à vista de testemunhas, é Deus dando fé a todos, dando fé com haver levantado, porque a fé vem pelo ouvir a palavra de Deus. Se alguém não tem fé, não é porque Deus não lhe dá, mas porque não a quer receber, percebe? não é de todos a fé, não porque Deus não a dá, Deus dá fé a todos, levantando a Jesus Cristo dos mortos. Se alguém não tem fé não é porque Deus não a deu, porque Deus mandou que a todo mundo se pregasse que Jesus Cristo ressuscitou e a fé vem pelo ouvir e o ouvir a palavra de Deus.
A fé é a palavra, a fé vem pela palavra, a palavra de Deus produz o ouvir e o ouvir produz a fé, mas quem não quer, não há pior cego que o que não quer ver, não há pior surdo que o que não quer ouvir, não é que Deus não deu, é que alguns não quiseram, por isso diz a Escritura: sem causa me aborreceram, “sem causa”, porque se dissesse: não, isso foi por culpa de Adão, não, não, por causa de Adão não!, porque sim, Adão caiu e você foi afetado, mas minha graça está aí, desde o princípio que caiu estou manifestando graça. A graça não falta, mas a graça não é imposta, “sem causa me aborreceram”, “Amaram mais as trevas que a luz”, não é que não veio a luz. De tal maneira amou Deus o mundo, não somente os predestinados, o mundo, que deu seu Filho Unigênito para que todo aquele que nele crer, e como Deus deu fé a todos? Ressuscitando a Jesus Cristo e mandando que se pregue a todos porque a fé vem pelo ouvir, a fé acerca do Senhor Jesus, e alguns se salvaram antes de que viesse só pela promessa que viria, percebe? E Abraão creu em Deus e lhe foi contado por justiça; a graça sempre esteve ali e foi resistida, foi resistida, então o homem é responsável. Agora, o homem sem a graça não pode fazer nada porque o que faz o homem sozinho? Precisa da graça, precisa da ajuda, mas essa ajuda não vem para tomar a decisão pelo homem, a ajuda é devolver-lhe a capacidade de decidir, para decidir na fé, para esforçar-se na graça, esforce-se na graça, diz Paulo a Timóteo, se fosse ele sozinho, não. O homem precisa da graça porque houve pecado e merece a morte e foi afetado e não serve para nada, precisa de graça, sem graça não se pode fazer nada, mas a graça é para todos.
Lemos em Tito: a graça de Deus se manifestou para salvação a todos os homens; se alguém não a recebe não é porque Deus não dá fé, porque Deus dá fé a todos, ressuscitando a Cristo dos mortos e anunciando o evangelho, mas não a recebem, não quiseram recebê-la, sem causa o aborrecem e por isso é a condenação. A condenação não é como dizia Teodoro Beza, que Deus queria que alguns se condenassem então provocou a queda para que se condenassem, assim dizia o discípulo de Calvino que era mais calvinista que o próprio Calvino, ele ensinou isso, mas não é isso o que diz a Bíblia. A Bíblia diz: sem causa me aborreceram, e essa é a condenação: que a luz chegou e os homens amaram mais as trevas que a luz. Quando Deus diz: “quem quiser, venha e beba gratuitamente”, é porque Ele dá graça a todos para que venham. Não pode vir se Deus não o trouxer, mas Deus não diz: eu não quero trazer você, não!, eu quero trazer todos, mas não vou pegá-lo pelo pescoço. Esse é o ponto, que quem quiser, venha e o paralítico como se levantará? “Levanta-te” porque ali está a graça, dizer ao paralítico: “levanta-te e anda”, é o mesmo que dizer aos mortos: quem quiser venha e beba, mas como se estou morto? Ah! mas quem ouvir a voz do Filho de Deus, viverá e os que a ouvirem, ou seja, os que a aceitarem, receberem com alegria, beberão.
Então irmãos, a questão apenas está no início.
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