quinta-feira, 12 de junho de 2025

A OBRA DE DEUS, A OBRA DO MINISTÉRIO E A OBRA DE CADA UM- Gino Iafrancesco.

Translator

 



Capítulo do Livro: Provisões da Ressurreição e da Ascensão- Tomo II

 

Dado que o Espírito é a provisão fundamental da ressurreição e ascensão de Cristo, portanto, o ministério do Espírito tem aqui um lugar importante, e por isso também a obra do ministério. Vamos, então, considerar algo relativo à obra de Deus, à obra do ministério e à obra de cada um; a obra de cada um está dentro da obra do ministério, e a obra do ministério do corpo de Cristo está dentro da obra de Deus.


Vamos abrir a palavra de Deus no livro de Atos dos Apóstolos, e vamos ao capítulo 13; vamos ver o verso 41, que é uma citação feita pelo apóstolo Paulo; nesse capítulo 13 aparece o testemunho de Paulo e Barnabé em Pisídia; e aqui se encontra o que ele nos diz sobre uma citação que está no contexto do testemunho do evangelho pelos apóstolos – pelo corpo de Cristo ao mundo, primeiramente aos judeus, em uma sinagoga judaica em Pisídia – o apóstolo utilizou um versículo de interesse. Então, diz o verso 41 do capítulo 13, que é uma citação do profeta Habacuque: “Vede, ó desprezadores...”; porque quando se despreza, algo é aniquilado, mas Deus diz: Vede, os que estão desprezando, olhem; o que é preciso ver? “Maravilhem-se e desapareçam;” Oh! Três coisas: ver, maravilhar-se, e se continuarmos desprezando, desaparecer; oxalá não sejamos desprezadores, mas colaboradores, para não desaparecer, mas para permanecer. “Vede, ó desprezadores, maravilhem-se e desapareçam; porque Eu faço uma obra em vossos dias, obra que não acreditarão, se alguém lhes contar”. É uma citação interessante onde Deus mesmo fala na primeira pessoa: Eu faço uma obra; é a obra de Deus. Manolito sentiu no coração ler para nós desde o início, um Salmo que falava das obras e feitos poderosos de Deus e nosso testemunho; e glorificaram a Deus por causa de suas obras e feitos miraculosos. Então há uma obra desde a eternidade que Deus vem fazendo, uma obra que abrange tudo que Ele fez, incluindo sua criação, sua providência, a obra da redenção, seu reino, a glorificação da Igreja, a conclusão de todas as coisas, o cumprimento, a realização do seu propósito eterno; tudo isso é o que se chama “a obra de Deus”; e a obra de Deus tem vários capítulos; e um desses capítulos é a obra que Deus diz que faria em nossos dias; e Paulo refere-se a esses dias a partir da vinda do Senhor Jesus, porque ele está testemunhando sobre a vinda do Senhor Jesus, sobre a obra de Cristo na cruz, sobre a ressurreição, sobre o derramamento do Espírito, e sobre a comissão dada à Igreja, e sobre o trabalho de Deus com a Igreja; então essa é a obra de Deus que Deus está fazendo em nossos dias; não podemos desprezá-la, embora possamos também nos maravilhar, e alguns podem desaparecer; que sério! Não é? Que Deus relacione com sua obra em nossos dias essas três palavras: ver, maravilhar-se e desaparecer; a obra do Senhor é para que nós desapareçamos, e para que o Senhor apareça; essa é a obra de Deus.


As festas solenes de Israel nos lembram da odisséia de Cristo, ou seja: a obra do Senhor, os diversos aspectos de sua obra; dentro desses aspectos de sua obra temos o de sua morte como aparece na cruz, no sentido objetivo, jurídico, exterior a nós; Ele morreu, mas também precisamos comê-lo, o Cordeiro sacrificado e com pães sem fermento; por isso a festa da Páscoa vinha junto com a dos Pães Ázimos e com a das Primícias que fala da ressurreição; então há o aspecto jurídico e o aspecto orgânico, o que Ele fez por si mesmo e o que faz em nós; por isso aparece também a festa de Pentecostes após as primícias, cinquenta dias, a obra do Espírito que é outro capítulo da obra de Deus; mas após Pentecostes, e coberta pela Expiação, e na espera da conclusão, está a obra das Trombetas que significa Cristo sendo anunciado.


Há uma obra de criação, uma obra de providência, uma obra de redenção, e também há uma obra de inspirar as Escrituras, de edificar o corpo de Cristo, de constituir o ministério do corpo, de dar à Igreja apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres, para que edifiquem o corpo de Cristo para aperfeiçoamento dos santos; são os santos que fazem a obra do ministério. Então percebemos como dentro da obra de Deus está esse grande capítulo da Festa das Trombetas que é Cristo sendo anunciado, a palavra sendo inspirada, sendo escrita, e sendo exposta, porque a exposição das palavras de Deus ilumina; isso também é parte da obra de Deus; não é a única, mas é parte da obra de Deus.


Então percebemos que da obra de Deus surge o que se chama na palavra “a obra do ministério”; a obra do ministério é necessária dentro da obra de Deus, e é também parte da obra de Deus. Embora haja diversidade de dons, há um mesmo Espírito; e embora haja diversidade de ministérios, há um mesmo Senhor que coordena todos os ministérios no ministério do Novo Pacto, do Novo Testamento, da justificação, da reconciliação, do Espírito, da Palavra, no sentido completo de todo o conselho de Deus. Então a obra do ministério também é parte da obra de Deus; é Deus quem faz essas obras. Diz a palavra que Ele constituiu Paulo ministro segundo a graça de Deus que lhe foi dada e segundo a operação do seu poder; então a obra de Deus é a operação do seu poder em graça através de todos os membros do corpo; o trabalho do corpo de Cristo é parte da obra de Deus porque é a operação do seu poder em graça, e é necessária a obra do ministério do corpo de Cristo para que a obra total de Deus tenha sua culminação.


O Filho de Deus ascendeu ressuscitado, e sentou-se à direita do Pai, e lhe foi dado o livro dos Sete Selos; o primeiro selo que Ele abriu foi o do cavalo branco para vencer; e Ele derramou seu Espírito, constituiu apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres para aperfeiçoar os santos para a obra do ministério, para a edificação do corpo de Cristo; essa é a festa das Trombetas: Cristo sendo anunciado. Após a obra de Pentecostes vem a obra das Trombetas; essa é uma obra de Deus. Alguém mencionou aqui um personagem que está se opondo não aos evangélicos ou aos pastores, mas à obra de Deus. Se este desprezador não olhar, se não se maravilhar, então desaparece; esse e qualquer outro.


Então, irmãos, há algo que Deus mesmo está fazendo em nossos dias. Uma obra que Eu farei, diz o Senhor, em vossos dias; e parte dessa obra é a obra do ministério; essa expressão: a obra do ministério que é usada no Novo Testamento, já havia sido antecipada pelo Espírito Santo no Antigo Testamento de maneira tipológica; não vamos ver todas as passagens, mas pelo menos alguma representativa no livro 1º de Crônicas.


Vamos ao primeiro livro de Crônicas capítulo 23, porque é um capítulo tipológico; lembremos que nesses capítulos está sendo ordenado o serviço da casa de Deus: os porteiros, os levitas cantores, etc. etc.; então no capítulo 23 que as Sociedades Bíblicas intitulou “Distribuição e deveres dos levitas”, há várias expressões ao longo do capítulo, mas algumas se concentram, e podemos lê-las, desde o versículo 24 em diante. Vamos ler desde o verso 24; mencionou-se uma série de pessoas e disse: “Estes são os filhos de Levi, nas famílias de seus pais”; notemos aqui, primeiro são pessoas, e essas pessoas estão em família, e estão corporativamente trabalhando, e estão sob o governo de Deus; “chefes de famílias segundo o censo deles, contados por seus nomes, por suas cabeças, de vinte anos para cima, os quais trabalhavam (isso é plural) no ministério (isso é singular) da casa de Javé”. Todos eles trabalhavam, mas não trabalhavam em ministérios diferentes, mas seus diferentes ministérios, funções e atividades formavam parte de uma atividade ou serviço coletivo que entre todos prestavam; esse serviço coletivo, onde as partes de cada um se juntavam e encaixavam umas com as outras, se chamava “o ministério da casa de Deus”.


Podemos continuar lendo; vou pular o versículo 25, e diz no verso 26: “E também os levitas não terão mais que carregar o tabernáculo e todos os utensílios para o seu ministério”. Agora era o templo, então agora, tendo passado do tabernáculo ou da tenda para o templo, agora seu ministério se modificava conforme as circunstâncias, e agora vou ler o 27: “Assim que, conforme as últimas palavras de Davi, foi feita a contagem dos filhos de Levi de vinte anos para cima. E estavam sob as ordens dos filhos de Arão (que representa o Sumo Sacerdócio que é Cristo) para ministrar na casa de Javé”. Em quais lugares? “Nos átrios, nas câmaras e na purificação de toda coisa santificada, e na demais obra”; já tudo isso que se fazia, por exemplo, nos átrios, o que se fazia nas câmaras, o que se fazia para purificar cada coisa, tudo isso era parte desta obra; e agora diz: “e nas demais obras do ministério da casa de Deus”. Então notem como o Espírito Santo estava introduzindo na tipologia o conceito da obra do ministério do corpo de Cristo que é hoje a casa de Deus; aquilo era uma figura, hoje é a realidade.


Então no Novo Testamento, os irmãos já conhecem muito bem, temos essa expressão em Efésios, no capítulo 4, onde aparece no versículo 10: “Aquele que desceu, é o mesmo que também subiu acima de todos os céus (para que Ele subiu?) para encher tudo”. Assenta-te à minha direita até que eu coloque todos os teus inimigos por escabelo dos teus pés. Tome o Livro, abra este Livro, e quando terminar de abrir o Livro, os reinos do mundo virão a ser do Senhor Jesus Cristo. Então Ele se sentou à direita e começou a abrir o Livro, e a primeira coisa que pôs a cavalgar foi o cavalo branco; e então esse cavalo começa a cavalgar aqui; Cristo se sentou à direita, e então dEle se diz: “subiu acima de todos os céus para encher tudo. E Ele mesmo deu (vou traduzir aqui com mais exatidão porque a palavra “constituiu” tem uma conotação um pouco clerical, um pouco eclesiástica, mas não no sentido bíblico, mas no sentido tradicional; a palavra em grego é edoken, ou seja, deu Deus; ou seja, Deus está dando pessoas à Igreja, não colocando opressores nos santos, mas fazendo-lhes presentes; é muito diferente o sentir e a maneira como Paulo fala; então por isso prefiro traduzir assim): “E Ele mesmo deu a uns, apóstolos; a outros, profetas; a outros, evangelistas; a outros, pastores e mestres, com o objetivo de...” Ele deu, essa é parte de sua obra, da obra dEle em nossos dias; para que Ele dá essas pessoas, qual é o objetivo? Que eles se engrandeçam, sejam um clero especial, um sacerdócio intocável? Não; o objetivo é um presente à Igreja, para a Igreja; diz: “com o objetivo de aperfeiçoar os santos”; ou seja, Deus dá pessoas à Igreja com o objetivo de aperfeiçoar os santos; o objetivo são os santos, que os santos façam a obra do ministério.


A obra do ministério não é feita somente pelos apóstolos, pelos profetas, pelos evangelistas, pelos pastores e mestres, mas por todos os santos, por todos os membros do corpo de Cristo; e se Ele deu esse presente à Igreja, não é para que substitua o trabalho da Igreja, mas para que o promova, para que o ajuste, para que o aperfeiçoe; então ali aparece essa expressão que lemos lá em Crônicas: “a obra do ministério”; e aqui diz: “para a edificação do corpo de Cristo”, que é o que é a casa de Deus.


Então dizia que eles trabalhavam juntos, eram muitos, havia um censo, muitas pessoas; mas todas essas pessoas, cada uma tinha sua particularidade, essa particularidade deveriam realizar na comunhão do corpo; não perdiam sua particularidade, mas também não perdiam sua inclusão no corpo; e nisso precisamos ter muita clareza, e que o Senhor, pelo seu Espírito, nos conceda muito equilíbrio.


A mesma Bíblia que fala da obra de Deus e da obra do ministério de todos os santos, também fala da “obra de cada um”; então existe a obra de cada um; a obra de cada um é uma obra particular, tem seu selo próprio, não é igual à obra de outro. A obra do pâncreas não é a mesma que a dos pulmões, não é a mesma que a do estômago, não é a mesma que a dos olhos; mas embora não seja a mesma, está coordenada dentro de uma só obra de todo o corpo. Assim, todo o corpo cumpre uma função conjunta, coletiva, para o Senhor; então a obra de cada um está inserida na obra do ministério, e a obra do ministério do corpo de Cristo é parte da obra de Deus. A criação, bem, nisso não tivemos nada a ver, nem na providência temos algo a ver, embora Ele nos use às vezes como instrumentos providenciais; a obra da redenção Ele teve que fazer sozinho na cruz; mas na obra do ministério de edificar o corpo de Cristo, nos cabe uma parte, assim como na obra da providência cabe aos anjos nos proteger, evitar alguns acidentes, produzir algumas das que chamamos entre aspas “casualidades”; Ele usa anjos para sua obra de providência e cuidado, etc.


Ele usa os membros do corpo de Cristo para a obra do ministério de edificação do corpo de Cristo, que é a edificação de uma esposa para o Filho de Deus. Assim, a obra de cada um está inserida, incluída, e é parte da obra do ministério coletivo; então precisamos aprender um equilíbrio. O equilíbrio está entre homogeneizar e particularizar; em um extremo, queremos ressaltar tanto nossa própria obra que às vezes nos esquecemos de que nossa parte é apenas isso, uma parte no contexto da obra dos outros, e que deve encaixar com a obra dos outros. Mas podemos ir para o outro lado, e querer homogeneizar, e tornar todo mundo igual a nós; o Senhor fez diversidade de ministérios, e diversidade de dons, e também diz que Ele faz diversas operações; há diversidade de dons, mas o Espírito é um, é o mesmo; diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo; e há diversidade de operações divinas, que têm a ver com a obra de cada um, e dos grupos que Ele forma; diversidade de operações, mas Deus faz todas as coisas em todos.


A obra de Deus se manifesta quando o coração pulsa, quando os pulmões respiram, captam o oxigênio e o transferem para o sangue. O sistema circulatório tem uma função específica, assim como o sistema nervoso tem outra; cada um desempenha seu papel único. No entanto, a atuação de cada parte não é isolada, nem está em oposição às demais. Embora os papéis sejam diferentes, e até contrastantes às vezes, todos são coordenados por uma única Cabeça. Por isso, a Bíblia fala sobre coordenação, mas não aquela que nasce da carne — que pode ser usada por Satanás para causar confusão. Trata-se de uma coordenação que vem da Cabeça, pelo Espírito, de forma sobrenatural e sem interferência humana. Como diz a Escritura: ajustados e coordenados em Cristo, vamos sendo edificados juntos para nos tornarmos um templo santo no Senhor, unidos uns aos outros.


Vamos ver agora a terceira parte; a primeira, a obra de Deus; a segunda, a obra do ministério; a terceira, a obra de cada um. Vamos ver onde fala da obra de cada um. Esse “cada um” é você, pode colocar seu nome e sobrenome, e se quiser seu documento, amém! Marcos, vamos ao evangelho de Marcos, e vamos aos últimos capítulos do livro de Marcos, ao capítulo 13, não o último, mas dos últimos; versículos 33 em diante, ou seja, até o 37; ali diz assim, o Senhor falando: “Olhai”, bem, é preciso olhar, “vigiai e orai; porque não sabeis quando será o tempo. É como (aqui está dando uma figura, uma parábola) um homem (é o Senhor Jesus) que indo para longe (à direita do Pai) deixou sua casa (esta é a Igreja aqui na terra, Ele ainda não a levou, nos sentou com Ele em lugares celestiais, mas em Espírito) e deu autoridade (isso é no singular) a seus servos (isso é no plural; ou seja, sua autoridade, sua delegação, foi repartida entre seus servos; e agora diz mais:) e a cada um sua obra; e ao porteiro (ou seja, que tem que fazer uma coisa específica) mandou que vigiasse”. Ou seja, tem que estar atento para que quando seu Senhor chegar, levante-se e o receba e anuncie. Então aqui o Senhor Jesus fala da autoridade dEle que é uma só; todo poder me foi dado nos céus e na terra; portanto, ide e fazei discípulos em todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que estou convosco todos os dias até o fim do mundo. Foi para longe, mas deixou sua casa e deu autoridade a seus servos, a repartiu entre eles, mas acrescenta: “e a cada um sua obra”.


Por isso em 1 Coríntios 3, se quiserem ver comigo, voltamos a nos encontrar com essa expressão; versículo 13; vou ler desde o 10: “Conforme a graça de Deus que me foi dada, eu como perito arquiteto pus o fundamento, e outro edifica sobre ele, mas (prestem atenção nessa frase) cada um veja como edifica sobre o fundamento.” Sobre o fundamento, ninguém pode colocar outro; mas sobre o fundamento cada um tem que fazer sua parte; então, se vai fazer sua parte, para que seja uma obra legítima, que não seja de palha, que não seja queimável, tem que ser produzida como diz Paulo: aquele que agiu em Pedro, também agiu em mim; diz: me fez ministro, segundo a operação do seu poder; ou seja, para que a obra de cada um seja legítima, tem que ser produzida pela operação do poder de Deus; é o poder de Deus que tem que operar em cada pessoa, fazendo-a entender qual é sua missão, ainda que tenha que recolher um papelzinho no chão; isso é parte da obra de Deus; cada um deve saber, tem que nascer do Espírito, tem que ser uma obra que tem origem em Deus, cuja origem é celestial; tanto a comissão, como a realização, como o objetivo, têm que ser dEle, têm que ser por Ele, e tem que ser para Ele; então é parte da obra de Deus porque se originou nEle, se realiza através dEle, e se realiza para Ele; esse é o selo da verdadeira obra de Deus: tem que ter sua origem em Deus, ser realizada espiritualmente, e tem que ser para a glória de Deus; dEle, por Ele e para Ele; assim deve ser a obra em geral e a obra particular de cada um.


Aqui, voltamos a falar sobre a obra de cada um. No verso 10, lemos: “Cada um veja como edifica sobre ela.” Ou seja, cabe a cada um de nós considerar como está edificando sobre esse fundamento. É responsabilidade pessoal fazer o melhor possível e cumprir aquilo que, de maneira particular, lhe foi confiado. É para cada um examinar sua própria obra. Por isso, a Escritura também pergunta: quem somos nós para julgar o servo alheio? Para seu próprio Senhor está de pé ou cai, mas poderoso é o Senhor para o fazer estar firme; ou seja, o Senhor tem que nos dizer, como disse a Pedro quando ele estava tão interessado na obra de João dizendo: Senhor, e quanto a João? Já me disseste o que vai acontecer comigo; e João, o que acontecerá com ele? E o Senhor responde: e quanto a ti? O que te importa? É uma forma de dizer: o que te importa? Assegure-te de fazer sua parte, faça o melhor que puder, ande no espírito, faça sua parte e faça-a como te cabe fazer, e ninguém tem que interferir em você; notem isso, é preciso ter equilíbrio; não devemos homogeneizar a obra do Senhor, controlando os irmãos de uma maneira carnal, pois essa é uma tática de Satanás, que vamos ler agora na Bíblia, para estorvar a obra; tática de Satanás é querer homogeneizar e controlar a obra por meios naturais, que os sistemas utilizam às vezes, outras vezes cláusulas, às vezes organizações com as quais retiram a autoridade do fluir do Espírito, e a colocam em um carro de bois.

O peso da Arca, de carregar a Arca, da Palavra e da glória de Deus deve ser sentido no coração de cada levita. Não é algo automático, como se fosse apenas uma questão de revezamento: “agora é sua vez, depois é a minha”. Não se trata de cumprir tarefas segundo uma simples organização humana — este é o modelo do “carro de bois”. O carro de bois representa um sistema criado pelo homem para tentar fazer a obra de Deus, mas que, na verdade, acaba atrapalhando. O que precisa realmente pesar é a responsabilidade e a reverência no coração de cada um diante daquilo que Deus confia a cada pessoa.

Uma coisa é que cada um, cada levita, cada sacerdote – pois agora no corpo de Cristo somos todos, homens e mulheres, filhos de Deus, sacerdotes do Novo Testamento – cada um tem que ter o peso da Arca sobre seu coração; é muito fácil, é muito “prático” para o humano fazer como fez Montesquieu: bem, vamos dividir o poder em Legislativo, Executivo e Judiciário; e criou um aparato; mas esse aparato não tem vida, Deus não comissionou aparatos, Deus não comissiona sistemas, Deus não comissiona estatutos, Deus comissiona pessoas, pessoas que têm o peso de Deus em seu coração e em quem o Espírito opera, pela operação do seu poder, pela graça do Senhor; essa pessoa começa a servir no que a essa pessoa lhe corresponde; e a Palavra diz aos demais – todos somos os demais – quem és tu que julgas o servo alheio? Para seu próprio Senhor está em pé ou cai, mas poderoso é o Senhor para o fazer estar em pé. Isso se refere a quem você está criticando.


Então cada um tem uma obra específica a fazer; e também vos digo isto: cada um de nós que temos uma obra particular, e todos temos, devemos ter dois cuidados: pela direita e pela esquerda; há um querubim guardião em um extremo, e outro querubim guardião em outro extremo. Por um lado, você não deve fazer sua obra particular de maneira individualista, não deve se desvincular do corpo, deve saber que sua parte é com o corpo; por outro lado, não pode permitir a homogeneização, a alienação de sua função particular, porque o Senhor estabelece alguns limites, e diz: esta é a obra de um, esta é a obra de outro; embora a de um e a de outro sejam a obra do ministério, e essa é a obra de Deus. Dentro da obra de Deus está a obra do ministério, e dentro da obra do ministério está a obra de cada um; e se há a obra de cada um, então há a obra do outro, a sua e a do outro.


Vamos agora observar onde a Bíblia fala sobre a obra do outro. Até aqui, vimos que 1ª Coríntios aborda não apenas no versículo 10 do capítulo 3, mas também no versículo 13: “a obra de cada um se tornará manifesta.” Assim como em Marcos lemos sobre a “obra de cada um”, em 1ª Coríntios esse tema volta a aparecer. Agora, em 2ª Coríntios, além de falar da nossa própria obra, Paulo explica sobre a obra do outro.


Vejamos 2ª Coríntios, capítulo 10, a partir do versículo 12 para compreendermos o contexto até o versículo 16: “Porque não ousamos nos contar nem nos comparar com alguns que se louvam a si mesmos; mas esses, medindo-se a si mesmos por si mesmos e comparando-se entre si, não são sensatos.” Quando alguém se avalia isoladamente, acaba pensando que é o melhor, “a última Coca-Cola do deserto”, como costumamos dizer. Por isso, não é sábio medir-se apenas por si mesmo.


Esse tipo de comparação evidencia a falta de sabedoria e mostra o risco do isolamento. É fundamental permanecer em comunhão, sem perder a própria identidade, mas também sem separar essa identidade individual da identidade coletiva do corpo, ou seja, da comunidade e da obra que realizamos juntos.

Paulo segue dizendo: “Nós, porém, não nos gloriamos desmedidamente…” Ele fala sobre não ir além daquilo que Deus estabeleceu como medida para cada um. O que significa ser “desmedido”? Significa não respeitar limites: tanto aquele que faz menos do que deveria é irresponsável e prejudica o corpo, quanto aquele que tenta ir além do que lhe cabe também causa dano. Por isso, é importante agir “conforme a regra que Deus nos deu por medida” — nem aquém, nem além, mas dentro do limite que nos corresponde.Aqui está o texto revisado para uma leitura mais fluida e clara, mantendo a essência do seu conteúdo:

No Novo Testamento, há algo chamado de “regra dada por Deus para medir”, um padrão que determina até onde devemos e podemos ir. A isso se chama “prumo” — um limite estabelecido pelo próprio Deus. Essa regra diz: “até aqui posso ir e até aqui devo ir; daqui em diante, não devo ultrapassar.” Ela orienta nossos passos e nos impede de avançar além do que nos foi designado.


O texto continua: “a regra que Deus nos deu por medida, para também chegar até vós”; ou seja, esse padrão tem relação direta com o alcance até as outras pessoas. Por exemplo, quando Paulo chegou a Corinto, coube a ele lançar os fundamentos ali, mas não em Jerusalém — pois essa missão foi dada a Pedro. Quando Paulo pensou em ir à Bitínia, o Espírito Santo disse: “Não, não vá à Bitínia, pois esse trabalho pertence a Pedro.” Deus entregou Bitínia a Pedro, e a Paulo, a Macedônia. Assim, se Deus diz: “Vá à Macedônia, não vá à Bitínia e não entre na Mísia”, é porque cada um tem um campo onde será mais útil.Deus deixou claro: “Paulo, não vão receber seu testemunho em Jerusalém. Eu te envio aos gentios; lá Eu te usarei. Em Jerusalém, haverá oposição; problemas surgirão desde o momento que você chegar.” Ou seja, existem medidas — limites específicos. A obra de cada um, a do outro, e a maneira correta de se relacionar — tudo envolve saber até onde ir.O serviço de dois, três ou cinco pessoas juntos também é assim: são diferentes, cada um com responsabilidade e características próprias. Essas expressões não são concorrentes, mas complementares. Nunca devemos agir como rivais, mas entender as diferenças e atuar de forma a somar, e não competir. O outro nunca será igual a nós, assim como nós não seremos iguais a ele. Isso não nos torna inimigos, mas sim complementares.E, nesse complemento, é fundamental discernir até onde posso — e devo — ir, onde não devo me intrometer e, se necessário, saber retirar minha mão e deixar que o outro faça o que lhe cabe.


Diz assim o verso 15: “Não nos gloriamos com desmedida em trabalhos alheios”; ou seja, há um "gloriar-se" que é legítimo, mas há um que é desmedido; o que significa trabalhos alheios? Que Deus encarregou o pâncreas de fazer um trabalho, o fígado pode ajudar, podem se complementar, mas não será o mesmo trabalho; não podemos dizer: devem escolher; ou ficam com o fígado ou com o pâncreas; não, precisamos do pâncreas como pâncreas, e precisamos do fígado como fígado; precisamos dos dois, não precisamos colocá-los para brigar, deixemos que sejam distintos, que se apoiem, se complementem, sem se estorvarem, entenderam?


Então diz aqui: “Não nos gloriamos desmedidamente em trabalhos alheios, mas esperamos (porque com isso precisamos ter muita paciência) que conforme cresça a vossa fé (ou seja, quando os irmãos se tornarem mais maduros, não agora, mas depois) seremos muito engrandecidos entre vós, conforme a nossa regra;” por agora somos criticados e não nos consideram apóstolos, diz Paulo; mas agora todos falamos de Paulo; cada vez que partimos o pão, às vezes nem usamos as palavras de Jesus, mas as de Paulo; não lemos Mateus, nem Marcos, nem Lucas, nem João, mas quase sempre lemos Paulo; agora honramos Paulo; mas quando Paulo estava entre eles foi tratado como inferior, perceberam? Vocês lembram como foi; então Paulo diz: “mas esperamos que conforme cresça a vossa fé seremos muito engrandecidos entre vós, conforme a nossa regra; e que anunciaremos o evangelho nos lugares além de vós, sem entrar na obra de outro”; não significa que não possa entrar se for convidado, não; mas não deve entrar para se gloriar no que já estava preparado. Se coube a Paulo, a Timóteo, a Tito, ou a qualquer deles, fundar a igreja em Corinto, então são eles que devem colocar as coisas em ordem ali; são eles que devem nomear os anciãos e auditar as situações; não cabe aos que fundaram a igreja em Jerusalém, assim como a Paulo não cabe fazer isso em Jerusalém, mas cabe fazê-lo em Corinto; por isso Paulo diz que procurou não se gloriar desmedidamente nos trabalhos alheios, porque é fácil, quando uma árvore já está plantada, sentar-se à sua sombra e comer de seu fruto; o que é difícil é plantar a árvore quando não há árvore, e regá-la e cuidá-la até que cresça, para que possam vir as aves e fazer seus ninhos ali.


Então quer dizer que existem na palavra de Deus alguns cuidados do Espírito Santo expressos aqui por Paulo que precisamos ter. Por um lado, é importante termos cuidado para não isolar nossa obra, como se construíssemos muros ao redor dela para impedir a participação de outros, criando um núcleo independente; esse é um excesso a ser evitado. Na obra do Senhor, o trabalho de cada um está conectado ao dos demais, por isso precisamos aprender a admitir e acolher os outros, vivendo dentro dos limites estabelecidos.

Ao mesmo tempo, é fundamental mantermos nossa identidade e função — afinal, não somos tudo, somos uma parte, assim como os outros também são. Eles têm cargas, percepções e responsabilidades diferentes das nossas, e pode ser que aquilo que nos foi confiado não tenha relevância para eles, ou mesmo seja desprezado.

Ainda assim, não devemos permitir que a falta de envolvimento ou aprovação do outro nos impeça de cumprir nossa parte. É nossa responsabilidade perseverar, mesmo que outros não façam o mesmo. Se outro discorda de como você realiza a tarefa — dizendo, por exemplo, “eu faria de outro jeito” —, lembre-se: cada um tem sua maneira de servir. Faça conforme Deus lhe deu, com liberdade, mas nunca imponha limitações ao outro.


Vejamos um exemplo no livro de Neemias, que ilustra de forma preciosa como Satanás é astuto para tentar obstruir a obra do Senhor. Lembramos das ações de Sambalate, Tobias e Gesém e do que a Palavra relata depois desse trabalho: eles conseguiram, por um tempo, paralisar e obstruir a obra. No capítulo 6 — que a Sociedade Bíblica intitulou “Maquinações dos adversários” — vemos essa realidade com clareza.


Esse texto nos alerta que temos sim um adversário, Satanás, que, junto com seus demônios, desenvolve estratégias engenhosas para impedir o avanço daquilo que Deus deseja realizar. Muitas vezes, essas maquinações não surgem de maneira óbvia, mas infiltram-se nos corações de pessoas desavisadas, transformando-se em atitudes humanas marcadas por animosidade. Assim, as armas de Satanás acabam se expressando por meio de pessoas que, mesmo sem perceber, se tornam instrumentos para provocar problemas e travar a obra do Senhor. Por isso, precisamos estar atentos e vigilantes, reconhecendo que as maquinações do inimigo podem se disfarçar em situações e relacionamentos cotidianos. É fundamental discernir o que vem de Deus e o que pode ser estratégia do adversário, para não colaborarmos, mesmo sem intenção, com qualquer obstáculo à obra do Senhor.


O capítulo 6 de Neemias nos traz um exemplo marcante:

Quando ouviram Sambalate, Tobias e Gesém, o árabe (que também é chamado Gásmu, pois aparece assim em árabe e em hebraico), e os demais dos nossos inimigos, que eu havia edificado o muro, e que nele não havia brecha (embora até aquele tempo eu ainda não tivesse colocado as portas sobre as entradas)”.Embora a obra ainda não estivesse totalmente finalizada, o muro já se erguia, estabelecendo uma separação entre o santo e o profano. Percebam como, nesse contexto, surge a chamada maquinaria ecumênica. Aqui vemos claramente como Satanás utiliza animosidades, pequenas divisões e ressentimentos para criar um ambiente adverso....


No verso 2, lemos: “Sambalate e Gesém enviaram a dizer-me: Vem e reunamo-nos em alguma das aldeias no vale de Ono. Mas eles tinham intenção de me fazer mal.” Por trás do que parecia um convite à unidade, na verdade havia animosidade oculta nos corações deles. Por fora, era um apelo à cooperação — “vamos nos reunir, vamos fazer juntos” —, mas o verdadeiro objetivo era exercer pressão, não a partir do Espírito ou de uma comissão divina, mas de interesses pessoais e ressentimentos.


Esse tipo de atitude persiste até hoje. O apóstolo Paulo, escrevendo aos filipenses, diz que alguns pregam a Cristo sinceramente, mas outros o fazem por motivos tortuosos, por rivalidade, querendo acrescentar aflição às suas prisões. Ou seja, havia um “rancor” contra Paulo: por fora, anunciavam a Cristo — o caramelo da mensagem — mas, por dentro, o que movia suas ações não era amor ao Senhor, e sim motivações próprias. Apesar de usarem o nome de Cristo, rejeitavam o canal que Deus estava usando, tentando obstruir a verdadeira obra que Ele realizava por meio de Paulo.


Segue dizendo aqui no verso 3: “E lhes enviei mensageiros, dizendo: Estou fazendo uma grande obra, e não posso descer; porque cessaria a obra, deixando-a eu para ir até vós”. Ou seja, Neemias não caiu na armadilha da homogeneização onde todos queriam controlar, opinar, e manejar as coisas quando lhe foi especificamente encomendado fazer aquilo. É como aconteceu com aquele jovem profeta a quem Deus deu uma comissão; mas chegou um profeta velho e lhe disse: Eu também sou profeta de Deus como você, além disso, sou mais velho e tenho mais experiência; como é que você não vai comer e beber aqui comigo? Venha, vamos comer e nos assentar aqui; e o outro se misturou, se mesclou com a rebelião, deixou-se alienar, e desobedeceu à comissão direta que ele recebeu; a comissão era que fosse, falasse e voltasse, sem comer ou beber nada daquele lugar, porque era uma maneira de dizer: não participo com vocês em vosso pecado, anuncio o julgamento; mas o outro profeta velho, astuto, experiente, diplomático, político, fez desviar da sua comissão aquele jovem profeta, e o jovem profeta desobedeceu a Deus e se assentou para comer, e descuidou de sua comissão, e morreu; morreu por quê? Porque desobedeceu; então Deus não podia mais contar com ele.


Quando você tem uma comissão que é de Deus, primeiro tem que ser de Deus, e é importante que o corpo vigie, mas em Espírito, porque às vezes há democracias, melhor chamadas de "carnocracias", que criam certas pressões sociais sobre os irmãos para manipulá-los, para controlá-los. O Espírito Santo nunca faz isso, o Espírito Santo sempre é respeitoso com cada pessoa, não tenta manipular nem controlar; quando se quer criar esse ambiente, não nos parecemos com Pedro, João, Tiago, mas com Sambalate, Tobias e Gesém, o árabe, “apóstolos” de outro, “apóstolos” das maquinações do adversário, percebe? Então veja como Neemias reagiu: Eu faço uma grande obra, eu tenho que fazer o que me foi encomendado, não digo que a minha parte seja a única, mas farei minha parte da melhor maneira que puder, e tenho que honrar meu ministério, como diz Paulo; não vou permitir que seja desonrado, porque não sou só eu, é o meu Senhor; isso era algo do Senhor.


Agora, quando estamos no corpo, temos que aprender a respeitar o ministério dos outros e aprender a saber levar à coordenação, sem necessidade de homogenização, e sem necessidade de isolamento. O isolamento não é bom, mas também não é bom que deixemos alienar a obra do Senhor; alienação criada por uma pressão que não nasceu do Espírito e que contradiz a comissão. Então continua dizendo no verso 4: “E me enviaram o mesmo convite até quatro vezes”; notem, eles queriam se intrometer no que os outros estavam edificando, mas não para colaborar, queriam se intrometer para atrapalhar, Satanás faz assim. Há uma grande diferença que se nota quando é para colaborar e quando é para atrapalhar; isso é visível, certo?


O versículo 5 continua: “Então...” ah! eles insistiam e insistiam; então agora começam a mostrar as garras; primeiro foram muito diplomáticos, vamos nos reunir, teremos uma reunião; mas o que havia no coração dessa reunião? De onde nascia essa reunião? Não devemos nos reunir sempre assim só porque sim; às vezes há pessoas que organizam reuniões para atrapalhar alguns; para isso alguns fazem reuniões, para atrapalhar os servos de Deus em seu trabalho; não pensem que isso não acontece, acontece muitas vezes; e diz aqui: “Então Sambalate enviou a mim seu servo para dizer o mesmo pela quinta vez, com uma carta aberta na mão”; agora começa a pressão mais forte, agora começam as acusações: – vocês querem se engrandecer, se fazer maiores –, como Corá, Datã e Abirão disseram a Moisés e Arão; o mesmo disseram aqui a Neemias: “Ouviu-se entre as nações, e Gasmu (que é o mesmo Gesém, só que um é em árabe e outro em hebraico) que vocês e os judeus pensam em se rebelar;” começam a acusá-los de rebelião. Quem não se submete à maquinaria da pressão eclesiástica é tratado como rebelde; pessoas que têm comissão de Deus às vezes são tratadas como rebeldes porque querem manipulá-las e elas não se deixam, como disse Paulo: não cedemos aos que se dizem irmãos, que entraram dissimuladamente para prejudicar a liberdade que temos em Cristo, aos quais nem por um momento cedemos, para que a verdade de Deus permanecesse com vós; ou seja, Paulo falava do corpo e o vivia, mas ele não era bobo, ele discernia o espírito que se movia na política eclesiástica. “Diz que vocês e os judeus pensam em se rebelar; e que por isso edificas tu o muro, (as medidas, as regras de Deus), com a intenção (ou seja, essas são suas intençõess, segundo essas palavras,) de ser tu o rei (queres te fazer rei) e que tens colocado profetas que proclamem sobre ti em Jerusalém, dizendo: Há rei em Judá! E agora essas palavras serão ouvidas pelo rei; vem, portanto, e consultemos juntos”. Como querem se intrometer no que não lhes importa! Isso se chama “impertinência”, intrometer-se no que não lhes diz respeito.


Verso 8: “Então eu mandei dizer a ele: Não há tal coisa como dizes, mas do teu coração tu inventas. Porque todos eles nos amedrontavam, dizendo: Debilitar-se-ão as mãos deles na obra, e não será concluída (isso era o que eles queriam, ou seja, Satanás, mas às vezes ele usa corações humanos) Agora, pois, ó Deus, fortalece tu as minhas mãos." Ai! Depois veio a pressão por meio de falsa profecia, agora chegaram com “profecia” e tudo: “Vim então à casa de Semaías, filho de Delaías, filho de Meetabel, porque ele estava preso; o qual me disse: Reunamo-nos na casa de Deus, dentro do templo (como quem diz: oremos juntos) e fechemos as portas do templo, porque vêm para te matar; sim, esta noite virão para te matar. Então eu disse: Um homem como eu fugiria? E quem, que fosse como eu, entraria no templo para salvar-se a vida? Não entrarei. E entendi que Deus não o havia enviado, (notem: uma coisa que parecia boa, orar juntos) mas falava aquela profecia contra mim porque Tobias e Sambalate o haviam subornado”; há pessoas que não sabem que foram subornadas, porque os subornadores são tão sutis que destilam frasezinhas como Absalão para colocar o povo contra Davi; e essa pessoa agiu manipulada.


Irmãos, na edificação da obra de Deus, todos juntos fazemos uma só obra. Essa obra geral tem muitas partes, cada um tem sua parte, e cada um tem que fazer sua parte com retidão diante de Deus, defender o que lhe foi dado e fazê-lo, não se deixar alienar, nem intimidar, nem manipular, nem desencorajar, nem atrapalhar; faça o melhor que puder. Como disse o Senhor: trabalhai enquanto é dia, porque vem a noite quando ninguém pode trabalhar. Enquanto houver tempo para fazer as coisas, faça-as, antes que se levantem contra você para atrapalhar seu trabalho.


Se Deus te deu algo para fazer, faça com diligência, faça o melhor que puder, não se deixe enredar como o profeta jovem, e ao mesmo tempo lembre-se de que sua parte é apenas uma parte do corpo, que você precisa se complementar com outros em Cristo, que não importam as diferenças, temos que conviver, não nos isolamos, estar com os outros, edificar o corpo; se você é pâncreas, seja um bom pâncreas, mas não tente ser fígado-pâncreas; deixe o fígado ser fígado, e não tente fazer do pâncreas, fígado; e trabalhem juntos em harmonia, cada um dentro de seus limites, dentro do reconhecimento mútuo, como Deus fez com que Paulo reconhecesse Tiago, Cefas e João, e também Deus fez com que Tiago, Cefas e João reconhecessem a graça que havia sido dada a Paulo. E ao haver um reconhecimento mútuo deve haver esse decoro, essa decência, esses cuidados, essa responsabilidade, sem ir além, nem ficar aquém, nem no extremo do isolamento, nem no extremo da homogeneização, da manipulação, porque Satanás sempre sabe, e com isso estou terminando, mas o Espírito ainda não me deixa terminar, tenho que dizer algo mais: Satanás sempre rouba a obra dos que fazem seu trabalho no Espírito, dessa maneira; o Senhor trabalha nos irmãos, começam a evangelizar, começam a se reunir, começam a se multiplicar, e chega o “presidente da missão com sua personaria jurídica”, ah!, – tiremos este e coloquemos o “pastor do Instituto” – e esse pastor novo, importado, que não nasceu ali, o que faz é danificar o que outro havia feito; e ao outro dão-lhe um empurrãozinho e mandam para lá; e esses vêm abrigar-se na árvore alheia, gloriando-se no trabalho alheio, a fazer estorvo.


Estão vendo meus irmãos? Satanás sempre age assim através do aparato, através do carro de bois, através de uma organização humana, motivada erroneamente, com origem que não é celestial, metendo a mão, reunamo-nos, consultemos juntos, façamos, até oremos juntos, mas com o objetivo de que você não continue obedecendo a Deus, mas ao nosso critério, percebe irmãos? Em muitas obras de pessoas que começaram, depois os irmãos cometem o erro de entregar seu trabalho, que lhes foi encomendado por Deus, a uma denominação; o entregam para que tal grupo, ou tal pastor, ou tal organização, se encarreguem; mas o que fazem é desfazer o que Deus havia posto nos pioneiros; Deus lhes havia encomendado esse trabalho, abriu-lhes a porta, os usou, e esses são os que devem guardar essa obra, pôr-lhe muros, serem porteiros e guardá-la para o governo de Cristo, do Espírito e da Palavra, e não entregar irresponsavelmente o que lhes foi encomendado, passando-o a outros que têm outros interesses. É necessário comprovar quais colaboradores Deus realmente envia.


Na política eclesiástica há muita gente que vive do modus vivendi eclesiástico; é preciso ter cuidado com isso. Sempre aparecerão pessoas dizendo: Irmão, vejo que vocês têm muitos grupinhos pelas casas, eu estudei no seminário tal, fui pastor em tal denominação, por que você não me dá um desses grupinhos? Que fácil, não é? Por que não começam eles mesmos a evangelizar e a se reunir em sua própria casa? Sim, evangelizar, começar, percebe? Eu não estou dizendo coisas que não acontecem, mas coisas que acontecem muito na cristandade por falta de clareza sobre essas coisas. A obra de Deus inclui a obra do ministério; e a obra do ministério inclui a obra de cada um; e cada um deve ser fiel ao fazer sua obra, mas não de maneira isolada, sem pretender que é o único, em concordância com os demais, em um bom espírito. Quando você vê outro espírito, assim como este que Sambalate, Tobias e Gesém promoveram, mantenha distância, porque a palavra do Senhor diz: em vão se armará a rede aos olhos da ave... Diz a Escritura: fuja como gazela do que arma laços; e armar laços se refere àquelas pressões vis para alienar sua obra. Então faça o que tem que fazer, mas você não está só, faça na verdadeira comunhão do corpo, mas assegure-se de que seja a verdadeira, assegure-se de que é algo do Espírito, algo que o Espírito organizou. O Espírito colocou pessoas diferentes juntas para se complementar, para se amar, para se reconhecer mutuamente, para trabalhar juntos, mas não para rivalizar, não para atrapalhar, não para alienar, nem manipular, nem controlar; o controle deve ser do Espírito Santo, porque Ele distribui a cada um como Ele quer, não como você quer. Às vezes nós estendemos a mão e queremos distribuir como nós queremos: – vamos diminuir este, vamos aumentar aquele –; é como se os apóstolos dissessem: – como é que Paulo vai aparecer em toda a segunda parte de Atos dos Apóstolos e Pedro não aparece ali? Vamos mudar Atos, vamos colocar um capítulo de Pedro, um de Tiago, outro de André, etc., e assim com todos; assim seremos mais democráticos. Mas não foi assim que o Senhor inspirou.


Quando eu era jovem, eu ouvia os Beatles; olhava os compositores das músicas, e ali na capa do disco dizia: esta é de Lennon & McCartney, Lennon & McCartney; ah! Por fim uma de Harrison; Lennon, McCartney, Lennon, McCartney, e por aí, a cada terceiro disco, uma de Ringo. Ah! eu queria que fosse uma de Ringo, outra de John Lennon, etc., uma de cada um; mas não é como nós queremos. Irmãos, tenham cuidado para não meter a mão para manipular a Igreja como você gostaria, ou como outro gostaria e usa você para pressionar. Deus doa como Ele quer, e não somos ninguém para julgar a obra de outro; o que cabe a mim? Faço o melhor que posso, e tenho a melhor relação que posso com os outros no que depender de mim; sem permitir que o que tenho que fazer seja alienado, e sem me isolar do corpo, mas com o Espírito, em comunhão, com prudência, sabendo até onde se pode ir, etc. etc. Eu confio que o Espírito Santo confirmará o que for dEle; o que for só meu, oxalá também mostre-lhes, para que se livrem do que é meu, e fiquem com o que é do Senhor. Obrigado, irmãos.

domingo, 1 de junho de 2025

INOCÊNCIA, QUEDA E REDENÇÃO- Gino Iafrancesco V.

 


Há um tema constante rondando em meu coração e, em minha jornada pelo Brasil, percebi que o Espírito Santo, em muitos lugares - não todos, mas em muitos - me colocava a falar sobre esse assunto. Aqui também falamos um pouco sobre isso, mas sinto no coração que devemos, com a ajuda do Senhor, aprofundar um pouco mais nas coisas que recebemos, para que possamos recebê-las melhor do Senhor, cada vez com mais clareza, cada vez com mais nitidez.


Gostaria que abríssemos a palavra do Senhor novamente em Gênesis, no primeiro capítulo. Aqui, em Gênesis, já estão praticamente contidas as sementes que se desenvolvem ao longo de toda a Bíblia. Para compreender a relação que Deus tem com o homem, precisamos ver três etapas. Poderíamos dizer três etapas na relação do homem com Deus, mas, para compreender essa relação, devemos levar em conta as três etapas. Se considerarmos apenas uma ou duas delas, mas não as três, nossa visão será incompleta e teremos muitos desequilíbrios. Algumas pessoas começam a ver as coisas a partir da realidade da queda e, conforme o que aconteceu com o homem após a queda, formam uma visão incorreta de Deus. Devemos lembrar que a relação de Deus com o homem não começou com o homem caído, mas com o homem antes da queda.


Devemos observar com muito cuidado a palavra de Deus. Qual foi a classe de homem que Deus quis criar e criou antes da queda e que tipo de relação Deus quis ter e de fato teve durante um bom tempo com o homem antes da queda. E outra coisa que devemos considerar é a seguinte: é na criação do homem que se manifesta qual é o propósito de Deus para com o homem antes da queda. Que tipo de relação Deus quer ter com o homem se manifesta na maneira como Deus fez o homem antes da queda. O homem tinha ou não livre arbítrio? O homem tinha ou não responsabilidade? Estava o homem impossibilitado de comer da árvore da vida, de tomar, estender sua mão e tomar antes da queda? Porque, depois da queda, Deus disse que agora o homem não deve estender sua mão e comer da árvore da vida. Mas, antes da queda, esse "agora" ainda não havia chegado, ou seja, quando Deus criou o homem, Ele criou um homem livre, com livre arbítrio, com responsabilidade, que, se quisesse, poderia estender sua mão e tomar da árvore da vida.


Enquanto o homem estava sem cair, estava de qualquer forma em uma prova porque foi colocado no meio do jardim do Éden e lhe foi dito: De todas as árvores do jardim poderás comer, menos da árvore do conhecimento do bem e do mal. A árvore do conhecimento do bem e do mal estava próxima à árvore da vida, e a árvore da vida estava no centro do jardim do Éden, e isso significa muito. O centro é a árvore da vida, vamos lê-lo no capítulo 2. Diz nos versículos 8 e 9: “E Yahveh Elohim plantou um jardim no Éden, ao oriente; e ali pôs o homem que havia formado” foi Deus quem o colocou naquela condição no jardim do Éden e diz mais: “E Yahveh Elohim fez brotar da terra toda árvore agradável à vista e boa para comer;” ou seja, originalmente, a parte mais perfeita do reino vegetal era o alimento do homem, ainda o homem comia só vegetais, não comia animais porque não havia caído, enquanto o homem não caísse não precisava da redenção; a redenção veio porque o homem caiu, agora se o homem tem que comer dos animais porque o sacrifício dos animais é uma figura da morte de Cristo, amém?


Mas antes da queda, o homem era neutro, o homem era perfeito, mas ainda era apenas homem com natureza humana, mas sem a natureza divina; embora o homem não tivesse caído, ainda o homem só tinha espírito humano, alma humana livre, não havia nenhuma pressão do pecado na carne do homem porque a carne de Adão antes de cair não era pecaminosa, a carne de Adão foi criada por Deus, a carne se tornou pecaminosa depois da queda. Agora sim, claro que havia mal no universo mas não no homem, o mal estava até antes da queda fora do homem, havia começado com o Lúcifer, aquele querubim que se rebelou, arrastou a terceira parte dos anjos, mas o mal estava fora. Mas Deus como não obriga, por isso é muito importante que compreendamos desde o princípio o caráter de Deus, porque depois virá a questão das discussões dos calvinistas com os arminianos e isso por dizer o mínimo, porque calvinistas há vários: calvinistas extremistas, há moderados e arminianos há extremos e há moderados, e há metodistas que são arminianos, wesleyanos e metodistas que são calvinistas, e toda essa discussão tem a ver com isso que estamos considerando agora. Depois perceberemos mais claramente todas essas coisas, mas o que revela o tipo de relação que Deus quer ter com o homem é a primeira etapa, a etapa do homem desde a criação até a queda, como Deus criou o homem? Isso é o que revela que tipo de relação Deus quer ter com o ser humano, porque uma coisa é o que aconteceu com o homem depois da queda, mas não é isso que revela o tipo de relação que Deus quer ter contigo e comigo, isso foi um acidente que Satanás provocou e que já estava previsto por Deus, e para Deus não há mudanças de propósito, e isso é o que gostaria que entendêssemos.


Quando Deus criou o homem antes da queda, Ele o criou com um propósito e vocês acreditam que Satanás frustrou o propósito de Deus e agora o pobre Deus não vai poder ter o que Ele queria, mas agora teve que se ajustar a Satanás ou ao que Satanás fez, será isso? Porque às vezes nossa teologia tem essas implicações ocultas, que às vezes não percebemos porque só vemos o homem afetado após a queda e então começamos a justificar o homem e a culpar Deus porque essas são outras implicações que também estão escondidas quando não interpretamos desde o princípio.


Então, desde a criação até a queda houve um período de cerca de um século, porque se vocês se dão conta de quando nasceu Sete: Sete nasceu no ano 130 de Adão. Quando Adão tinha 130 anos foi que nasceu Sete, ou seja, Abel havia morrido, então nasceu Sete. Então você vai diminuindo mais ou menos quando Abel morreu e Sete nasce, mais ou menos qual poderia ser a idade de Abel e Caim, percebe que têm que retroceder mais ou menos ao começo de um século ou ao final de um século, ou seja, sem ser exatos, sem dizer que foi no ano 100, mas podemos dizer que por cerca de um século Adão e Eva viveram inocentes no Éden; sem saber que estavam nus, sem ter filhos; podiam conversar com Deus. Às vezes não nos detemos para pensar nessas coisas e Deus esteve assim muito tempo com eles porque quando você vai ver as datas foi no ano 130 que Sete nasceu para substituir Caim. Tire alguns anos, se quiser tirar mais de 30, tire 40, tire 50, se quiser tirar 80, de qualquer forma fazia muitos anos que Adão e Eva, sendo inocentes, viviam no jardim do Éden antes da queda. Não podemos ser dogmáticos e dizer quanto, mas sim temos que saber que deve ter sido por um bom tempo e esse tempo nos ajuda a entender o tipo de relação que Deus queria ter com o homem. Imagine, ainda eles nesse tempo não haviam comido da árvore da vida e não estava proibido ainda.


Desde o princípio, mesmo antes da queda, parece que não comíamos o que tínhamos que comer. Deus colocou todas as árvores e o mais interessado que comêssemos da árvore da vida era Deus, essa era a árvore da qual Deus tinha mais interesse que comêssemos, mas Ele não forçou nada, Ele deixou em liberdade os seres humanos, os seres humanos podiam fazer o que queriam e Deus os observava; observou por muito tempo. Mas a árvore que foi proibida foi a que chamou a atenção deles e aquela árvore era a porta para o contato com o mundo onde existia Satanás e os anjos caídos. Enquanto eles não abrissem essa porta, esse mundo ficava fora e eles permaneciam até inocentes da existência do mal, eles nem sequer precisavam saber que havia um querubim que se rebelou com a terceira parte dos anjos e que poderiam estar por lá, de fato a serpente estava lá, ali estava a serpente. Mas enquanto não se abrisse a porta da árvore do conhecimento do bem e do mal, o homem continuaria na inocência e Deus esperando ver quando comia da árvore da vida e agora também, depois da queda, há a redenção e depois da redenção, que é a terceira parte, o homem tem que continuar decidindo ir à árvore da vida. Quem quiser, venha e beba, antes não precisava de redenção porque não havia caído, redimido de quê? Se não havia nem pecado. Mas depois caiu e precisava da graça, porque a queda incapacitou o homem terrivelmente em muitas coisas.


É bom examinar até que ponto, porque esse é outro dos pontos em discussão no mundo teológico, até que ponto o homem foi afetado na queda, até que ponto o livre arbítrio foi afetado na queda, então é bom que vocês vejam como Adão e Eva se relacionavam depois da queda com Deus, será que podiam falar com Deus depois da queda?


Volto a ler novamente o que aconteceu depois da queda: Veio Deus falar com eles e eles se escondiam, mas de toda forma ouviam, ou seja, o contato não se interrompeu totalmente, Deus não ficou totalmente escondido, eles ficaram com memória da sua experiência anterior, percebe? Então aí há outro ponto que é necessário atender com muito cuidado. Mas ainda não vamos entrar nesse assunto, apenas estamos identificando os três principais períodos: O primeiro a partir da criação até a queda, esse período é muito necessário considerá-lo com cuidado porque esse é o período que revela o propósito de Deus com o homem, esse é o período que revela o tipo de ser humano que Deus quer ter e com que tipo de ser humano Ele quer se relacionar, será que Deus quer se relacionar com um robô? Com um fantoche? Ou com um ser humano? Qual é o tipo de relação que Deus quer ter? Forçada ou espontânea? Deus quer que o homem exercite ou não sua responsabilidade?

Será que existe a responsabilidade? Então é necessário ver isso: o que revela o verdadeiro propósito? Esse é o primeiro período: como o homem foi feito e como o homem viveu e se relacionou com Deus até antes da queda. O homem era neutro e poderia ter escolhido, e Deus lhe deu essa liberdade e quer que o homem a exerça; que o homem escolhesse voluntariamente se aproximar da árvore da vida e viver por Deus. E Deus esperou muito, esperou até que caíssem sem terem comido da árvore da vida. Isso foi algo sério.


Agora vem a segunda situação, a segunda etapa: o que aconteceu com o homem depois da queda? E será que a queda – como mencionei há pouco – frustrou o propósito? E que agora Deus já não pode ter a relação com o homem da maneira que Ele queria? Porque certamente a queda afetou o ser humano, afetou o espírito do homem de tal forma que o espírito do homem ficou separado de Deus porque o que Deus havia dito era: no dia que dele comerdes, morrereis.


Devemos entender o que significa a morte. Que tipo de morte foi? Primeiro, uma morte que afetou o espírito do homem, mas não afetou a existência do homem; o homem não desapareceu, ele continuou sendo homem, só que agora já não tinha a liberdade de vir por si mesmo tomar da árvore da vida. Que não estenda agora, - depois da queda - sua mão para comer da árvore da vida. Foi destituído da vida de Deus e da glória de Deus porque tomou a decisão errada. O homem na prova, como diz Deus nos profetas menores, quebrou o pacto, como Deus diz a Israel: vós, como Adão, quebrastes o pacto, isso está em Oséias, ou seja, Adão quebrou um pacto. Havia um pacto no Éden e esse pacto era entre duas pessoas livres, o pacto era um casamento, livre, o tipo de relação que Deus quer ter é com pessoas não forçadas, mas pessoas convidadas, pessoas que querem, pessoas que decidem, e se esquecermos que o homem deve decidir, estamos perdendo de vista o tipo de relação que Deus quer ter conosco.


Um casamento significa a decisão do homem e da mulher, e a relação do homem e da mulher é a que reflete a relação de Deus com seu povo, de Cristo com a igreja, e esse casamento tem que ser voluntário. Então, esse é o tipo de relação que Deus quer ter; Deus não é um manipulador de fantoches. Alguns confundem a soberania divina com a manipulação de fantoches porque não entendem que o Deus soberano tem um caráter muito diferente do de manipulador. Claro que Deus é soberano, isso não podemos negar, e sendo absolutamente soberano, Ele poderia fazer o que quisesse, mas Deus tem um caráter, Deus tem uma maneira de ser e Ele exerce sua soberania segundo seu caráter. Sempre que se ouça falar da soberania divina, deve-se também falar do caráter divino. Com que caráter Deus exerce ou faz uso de sua soberania, isso deve ser sempre considerado porque, caso contrário, as pessoas dizem: bem, já que estou caído, que Deus faça tudo. Agora, Deus faz sua parte, e esse é o assunto da discussão teológica entre o monergismo e o sinergismo; monergismo de mono e ergos de uma só energia, e sinergismo de comunhão, casamento, essa é uma discussão teológica que existe, e isso se deve a todos esses assuntos.


Depois vem a terceira etapa: a redenção. Deus redime o homem para recuperar o homem e para recuperar a relação que Ele planejou no princípio com o homem, agora graças à graça, recuperar a relação livre, compreendem? Não é uma relação forçada porque Deus nunca quis ter uma relação forçada e se pensamos: agora quando Deus redime o homem, agora já não pode ter a relação que queria ter com o homem quando o criou, então teremos que admitir que Satanás conseguiu atrapalhar o propósito de Deus e agora Deus teve que se adaptar à obra de Satanás. Deus previu a obra de Satanás, mas seu propósito permaneceu inabalável, Deus tinha outra carta escondida, quando Satanás fizesse sua jogada, Deus apresentava sua carta escondida que se chamava redenção, a recuperação do homem, a renovação, a regeneração e continuava inabalável com seu propósito. Então está o homem antes da queda, a primeira etapa, depois já veio a queda e afetou o homem, afetou o espírito do homem, o homem ficou morto no seu sentido espiritual. Morto quer dizer separado de Deus, privado da vida e da glória divinas, isso aconteceu com o homem. Então, seu espírito poderia estar unido à vida divina como agora depois da redenção. Nós já estamos.


Antes da queda, o homem poderia tomar da árvore da vida e assim seu espírito teria sido regenerado e nunca teria caído, porque quando o homem foi criado, ele ainda não havia sido regenerado porque foi criado com espírito humano, alma humana e corpo humano, e com a liberdade de viver por si mesmo ou de viver em união com Deus. Se ele escolhesse comer da árvore da vida, quer dizer que escolhia viver em união com Deus pela vida divina, então o homem viveria a vida divina e Deus viveria a vida humana em casamento, Deus no homem e o homem em Deus. Mas Deus quis que o homem assumisse a responsabilidade, Deus não o obrigou a comer, mas colocou no centro a árvore da vida, a da ciência estava ali perto, mas a do centro, a árvore principal, a que Deus queria que comêssemos, era a de sua própria vida divina. Mesmo sem pecar, o homem precisava comer da árvore da vida para ser regenerado, para que não fosse apenas um homem, mas um filho de Deus.


Adão foi um filho de Deus, mas no sentido de criatura, depois, quando ele recebeu a redenção e foi vestido pelo Senhor, então ele foi redimido, foi anunciada a redenção e ele recebeu as vestimentas que o cobriam, o sangue do sacrifício e o efeito dessa morte o cobriu. Mas antes da queda, enquanto ele não comia da árvore da vida, ele não tinha vida divina, ainda que não tivesse caído, isso não era suficiente, mas tinha que escolher e deixou passar o tempo. Quando Deus disse: Não estenda agora sua mão e coma, isso foi depois da queda, mas antes desse “agora”, ele poderia estender sua mão. De todos os árvores, podes comer, tinha a capacidade de tomar da vida divina, tomar da vida divina e vou sublinhar esse verbo “tomar” porque nos encontraremos com ele novamente, porque assim como da parte do homem há essas três etapas, também da parte do Senhor para recuperar o homem há três etapas; as três etapas do homem: primeiro perfeito, mas sem vida, perfeito quanto ao humano, capaz, livre e em prova, mas não viveu pela vida divina, comeu das outras árvores e da árvore da ciência do bem e do mal. Ali mudou, ali o pecado entrou no homem e a natureza humana ficou vendida ao poder do pecado. Então agora temos que, com a ajuda da palavra de Deus – antes que com a teologia calvinista, arminiana ou qualquer outra teologia – com a própria palavra de Deus devemos estudar o melhor possível para ver o que aconteceu com o homem depois da queda. Então, há coisas que aconteceram em seu espírito, coisas que aconteceram em sua alma e coisas que aconteceram em seu corpo. A morte começou com a separação de Deus, quando o homem já não estava em comunhão com Deus e já não vivia pela vida de Deus. Mas agora havia um poder que era mais forte que o poder de sua alma. A alma não desapareceu, a alma continuou existindo ainda, mas agora separada de Deus, então se centrava em si mesma, começou a fazer o que bem entendia, mas quando queria fazer um bem que desejava, descobriu que havia um poder em sua carne que se chamava pecado, que era maior que o poder de sua alma; querer o bem está em mim, mas não o fazer porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, isso faço, algo aconteceu na alma do homem. O homem não deixou de querer, de fato, Paulo diz: querer o bem está em mim, mas não o fazer, ou seja, a força de nossa alma apenas não foi mais suficiente para fazer a vontade de Deus, pois em nossa carne, diz Paulo, em minha carne, não habita o bem.


Desde a queda, na carne habita o mal e agora existe da parte da carne uma constante propensão ao mal; nossa carne quer o mal e pressiona com suas paixões e desejos agora desordenados e caídos sobre a alma, e a alma por sua própria força não pode fazer o que antes poderia fazer. Antes a alma queria poder comer da árvore da vida, mas agora depois da queda, Deus mesmo disse: não estenda sua mão até que não houvesse redenção. Até que o preço não fosse pago a favor do homem pelo seu pecado, o homem não podia tomar, mas depois é preciso tomar, por isso diz em Apocalipse: ao que vencer, darei a comer da árvore da vida. Agora volta novamente, mas então há algo que se chama “vencer”. Por que Deus usa a palavra “vencer” se Ele já venceu por nós? Porque o tipo de relação que quer ter é com seres livres. Ele provê, mas a provisão não viola o estatuto da liberdade do homem, a redenção não viola o estatuto da liberdade do homem; no Novo Testamento agora se chama a lei da liberdade. A lei da liberdade quer dizer que o tipo de relação que Deus quer continuar tendo com o homem é uma relação espontânea e livre, e a redenção vem para recuperar o homem e recuperar a relação.


Nunca depois da redenção o homem continuará sendo marionete, mas há uma discussão sobre a terceira parte, outra discussão teológica que alguns falam sobre a graça irresistível, os cânones de Dort, que são mais calvinistas que Calvino. Porque um dos cânones de Dort é a eleição limitada, e Calvino acreditava na eleição ilimitada; então, os cânones de Dort foram mais calvinistas que o próprio Calvino, a expiação limitada. Calvino não falava de expiação limitada, ele acreditava que a expiação era válida para salvar a todos; se alguém não era salvo, não era porque Deus não queria salvá-lo, mas alguns querem dizer e fazer entender que Deus não quer que todos sejam salvos, mas a Bíblia diz que Deus quer que todos sejam salvos. Então, não se pode interpretar contra a Bíblia, não se podem interpretar versos uns contra os outros, mas devemos interpretá-los todos juntos; tomar os versos do calvinismo, do arminianismo, que não são de um nem de outro, não são deles, são da Bíblia, mas é preciso tomá-los todos, percebe?


Há uma questão aí, agora só estamos vendo um panorama da questão, não estamos entrando na questão, estamos olhando o panorama da situação que deve ser abordada com cuidado. Deus quer a salvação de todos? A palavra diz isso? Então, como vamos interpretar o fato de muitos não serem salvos? Não é Deus Todo-Poderoso e soberano? E se Ele é soberano e Todo-Poderoso, por que alguns não são salvos se Ele quer que todos sejam salvos? Porque o tipo de relação que Deus quer ter com o homem envolve a responsabilidade do homem e quando Deus concedeu responsabilidade e consequências à responsabilidade, o próprio Deus as respeita; mesmo na redenção, Deus redime se a pessoa recebe.


Então, se você ouvir falar da graça irresistível no mundo teológico, não encontrará essa expressão na Bíblia. Nunca na Bíblia você encontrará graça irresistível, ao contrário, Estevão diz: "vocês sempre resistem ao Espírito Santo", ou seja, o Espírito Santo estava trabalhando e respeitando, devemos entender isso: o Espírito Santo sempre trabalha e concede graça, mas respeitando a decisão responsável do homem, inclusive o Espírito Santo devolve a capacidade de ser responsável, mas não decide pelo homem. Deus nunca decidirá pelo homem, porque o homem deixaria de ser homem e seria um robô. O robô já nasce com todas as decisões programadas, o homem o programa; quando perguntarem tal coisa, responda tal, quando moverem essa peça, mova aquela outra, está programado. Mas isso é um robô, não um homem à imagem e semelhança de Deus. Um homem à imagem e semelhança de Deus é uma pessoa que precisa decidir se recebe ou não a graça, Deus não vai forçar a graça.


A Escritura diz por que veio o dilúvio e Deus dá a razão e veja essa frase que às vezes lembramos, verso 5 do capítulo 6 de Gênesis. Primeiro lemos o 3 e depois o 5: "E disse Javé: não contenderá meu espírito com o homem para sempre, porque certamente ele é carne, mas serão seus dias cento e vinte anos", ou seja, Deus estava há mil e seiscentos e poucos anos contendendo com o homem. Deus, o absoluto Todo-Poderoso, lutando com o homem como fez com Jacó. Deus apareceu como um homem com Jacó e lutou com Jacó, vejam que Deus não age de maneira arbitrária, Ele é soberano, mas não arbitrário, que é diferente, por que Deus não diz: "adoram-me todos": aperta um botãozinho e dizem, aleluia! Glória a Deus! Bendito seja Deus!... Por um botãozinho, vocês acham que Deus ficaria contente? Um político sim, um político contrata pessoas que gritam: Viva o doutor fulano!, O doutor fulano é o melhor prefeito!, ou aqueles profissionais de choro contratados nos cemitérios para chorar pelo pobre morto – as carpideiras – mas sabemos que é pura encenação. Deus é mais digno que isso, Deus não quer apertar um botão para que o adorem com um botão ou que chorem com um botão, que riam com um botão, Deus não quer isso. Quem quiser ser meu discípulo, tome, quem quiser, tome, tem que querer e querendo, tome. Para ser discípulo, tem que querer e tem que tomar.


A provisão está dada, mas não está forçada, tem que ser recebida e tomada. Então, que Ele esteja em nós é uma coisa, mas que coloquemos o pé na terra que Ele nos deu, isso quer dizer “tomar”: tome sua cruz, na cruz foi provida sua crucificação, na cruz foi provida sua liberdade total, na cruz você foi crucificado, o velho homem foi crucificado, tudo o que é negativo acabou, mas agora, se quiser, tome ou deixe, esse é o problema, a provisão está dada, mas é preciso crer, receber e tomar, essa é a responsabilidade, nesse verso “tomar” aí está a chave. Quem quiser, venha a mim e beba. Se o Senhor diz: Quem quiser, beba, será que o Senhor está zombando de um paralítico? Um paralítico está ali e o Senhor diz: levanta-te e anda, mas como vou andar?, acaso não percebe que sou paralítico?, depois da queda fiquei paralítico e não posso andar! Eu sei, mas estou dizendo a você: anda, quer dizer que vou te ajudar. E quando aquele paralítico teve fé – quando Paulo lhe disse isso, teve fé – Paulo lhe disse: levanta-te e anda! Paulo não estava zombando do paralítico, porque não estava dando uma ordem ao paralítico para que ele atuasse sozinho, a graça estava ali para que quando o paralítico acreditasse, recebesse e tomasse a graça, então a graça operava, mas era a decisão do paralítico por fé que abriria a porta para o fluir da graça. Não é uma graça irresistível.


A Bíblia diz: vocês sempre resistem ao Espírito Santo. O Espírito Santo está ali, a Bíblia diz que fazemos afronta ao espírito da graça e não é irresistível, é uma graça que vemos resistida e afrontada e ali em Gênesis 6, ali aparece muito claramente o que o Senhor está dizendo. Ali em Gênesis 6 diz: não contenderá meu espírito para sempre com o homem, ou seja, até o dia do dilúvio, o que Deus estava fazendo com o homem que se tornara carne e vivia apenas pela carne? Deus estava contendendo. Ou seja, é a graça de Deus, mas Deus que é Todo-Poderoso contende respeitando suas próprias leis. É como um jogo de futebol com suas regras, você não pode cobrar um pênalti a três metros quando o goleiro não está, você tem que cobrar do ponto de pênalti quando o goleiro está, mas não pode dizer: agora que o goleiro não está, vou cobrar um pênalti, assim não é. Agora, o próprio Deus cumpre suas próprias leis, Ele é soberano, Ele se autoimpôs o respeito à liberdade e à responsabilidade que Ele concedeu. Se você não entende isso, vai acreditar que se Deus o predestinou, Ele o pega pela orelha e faz todas as coisas e você, enquanto isso, como pobre herdeiro do pecado, vai pecar e pecar e pecar e pecar até que Deus o pegue pela orelha. Não é assim irmão, Deus vai deixá-lo pecar e pecar e pecar até que vá para o inferno. Deus vai anunciar o evangelho e aos que o receberam Ele deu o poder de se tornarem filhos de Deus.


E aqui há outro ponto em discussão: Primeiro se recebe para ser filho ou primeiro se é filho para ser recebido? O monergismo, o calvinismo extremo, diz que Deus regenera aqueles que Ele quer para que possam recebê-lo, mas a Bíblia diz: aos que o receberam, deu-lhes o poder de se tornarem filhos. A base de ser feito filho é receber, porque a graça vem a você para ajudar, mas não para decidir por você, a graça o capacita, mas está esperando, antes da queda Deus esperou que Adão comesse da árvore da vida, mesmo antes da queda, e Adão não comeu e Deus não o forçou, e depois da queda Deus está contendendo com o homem, contendendo. Agora, por que Deus contende com o homem?


Será que Deus está louco ao fazer o impossível? Será isso o que acontece com Deus? Por que Deus contende com o homem? Porque Deus está oferecendo graça. Irmãos, desde o Éden, quando o homem pecou, a graça já estava lá. A semente da mulher esmagará a cabeça da serpente, e até que Cristo viesse, todos os que andaram com Deus, andaram na fé na semente que viria na fé da ressurreição, como Paulo explica sobre Abraão, sobre Isaque, que pela fé se tornou herdeiro da justiça, mesmo antes de Cristo vir ele acreditou que viria e foi justificado pela fé, mesmo antes de Cristo vir ele já acreditou que viria, já recebeu Cristo antes que Ele viesse, já o recebeu. O mesmo aconteceu com Enoque: Enoque andou com Deus e Deus o levou, isso sim é algo grandioso, mesmo antes de Cristo vir, mesmo antes do dilúvio, quando Deus estava contendendo com o homem, Enoque respondeu a Deus, caminhou com Deus, não sozinho, pois do contrário, não teria desaparecido em arrebatamento, mas caminhou, foi com Deus. Mesmo antes do dilúvio, Enoque caminhou com Deus, ele recebeu a graça de Deus pela fé, mesmo antes de que viesse. Pela promessa acreditou, baseado na promessa caminhou com Deus, de tal forma que Deus o levou sem ver a morte; enquanto os outros estavam resistindo à contenda de Deus.


Diz o verso 5: “E viu Javé (não é que Deus não havia visto, mas agora estava demonstrado) que a maldade dos homens era muita na terra, e que todo (ah! se houvesse 99% de erros, mas uma janelinha, um buraco; está o quarto escuro, mas por um buraco entra um raio de luz, mas nem um buraco irmãos, diz) todo desígnio dos pensamentos do coração deles era continuamente somente o mal”. “Todo desígnio continuamente somente o mal”; se não houvesse todo desígnio, dos milhões de desígnios, um teria estado para receber a contenda de Deus, como fez Enoque, como fez Noé. Noé achou graça aos olhos de Deus. Havia o contraste entre Enoque, Noé, e aquela geração. Deus estava tentando: primeiro anunciando, depois realizando, então vem a terceira etapa, chega o prometido e se cumpre, o preço é pago, e vem a graça.


Vamos a Tito, sublinhe este versículo irmão, se você quiser, capítulo 2 verso 11: “Porque a graça de Deus se manifestou para salvação”, não apenas para provocar e depois mandar para o inferno, não! Deus não está mentindo, “para salvação de todos os homens”, desde quando começou a manifestar-se a graça? Desde que anunciou a Cristo, porque a graça é Cristo, desde que disse: “a semente da mulher esmagará a cabeça da serpente”, desde então se manifestou a graça, desde que sacrificou aquele cordeiro e cobriu Adão e Eva, ali se manifestou a graça, desde que disse: em tua semente serão benditas as famílias da terra, essa é a graça manifestada a nós antes dos tempos dos séculos, a graça foi oferecida antes dos tempos dos séculos e foi oferecida a quem? A todos. Ide e pregai este evangelho a quem? A toda criatura, a todos. Então diz aqui: “a graça de Deus se manifestou para salvação”, não para fazer joguinho, mira, mira e tchau. Alguns apresentam assim que Deus não quer salvar senão a uns, e aos outros lhes diz: mira, mira, mas não, eu quero que vá para o inferno, esse é o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus?, mas é o de alguns teólogos, que Deus não quer realmente que sejam salvos, Deus quer é que se percam e uns que se salvem, não é assim! Deus quer que todos se salvem e por isso o inferno Ele não o fez para os homens.


Se Deus quisesse que algum homem se perdesse, Deus teria feito pelo menos um inferninho como para homens, mas Deus não fez o inferno para os homens, Deus fez o inferno para o diabo e seus anjos, mas como alguns o seguiram, pois têm que segui-lo até lá. Mas Deus quer que todo homem seja salvo, Deus quer que todo homem venha ao pleno conhecimento da verdade, Deus quer apresentar perfeito em Cristo Jesus a todo homem; e se Ele é Todo-Poderoso e é soberano, por que não o faz? Porque Ele não viola a responsabilidade do homem, Ele não o fará dessa maneira, porque o homem deixaria de ser homem, Ele estabeleceu que a relação com o homem tinha que ser espontânea, voluntária.


Desde o princípio quando Deus vai construir sua casa, a primeira coisa que diz a Moisés é: Moisés, diga ao povo: “quem de seu coração, espontaneamente, voluntariamente, quiser trazer oferta para o meu santuário”. O requisito primeiro para Deus ter uma casa é que tem que nascer da decisão espontânea do homem. A graça está aí porque Deus sabe que o homem caiu e a graça ajuda o homem caído, mas a graça não decide pelo homem caído, a graça ajuda, a graça está aí, o querer e o fazer Ele o produz, mas não contra nós, sem nós, mas em nós e nós somos o homem livre. Deus produz o querer, Deus produz o fazer em nós, não coloque apenas uma metade, nem a outra metade, não fique com o nós sem a graça ou com a graça sem o nós, quem quiser, quem permanece em mim e eu nele, este dá muito fruto, porque vai haver um julgamento? Se fosse tudo por robô não haveria julgamento e se houvesse julgamento seria injusto o julgamento, porque você acaso resistiu a Deus? Você fez as coisas como Deus programou, Deus programou para que você pecasse, o obrigou a pecar e agora o manda para o inferno?


Será isso? É esse Deus? Por que haverá julgamento? Porque há responsabilidade no ser humano, por isso haverá julgamento, porque há responsabilidade e a responsabilidade tem consequências transcendentais. Se alguém vai estar no inferno, Deus não queria, esse não era o lugar, Deus não fez lugar no inferno para nenhum homem porque se Ele tivesse feito isso, é como se Ele já quisesse que fosse para o inferno, não! Ele não fez o inferno para o homem, mas para o diabo e seus anjos, mas haverá milhões de homens no inferno e nenhum estará lá por culpa de Deus. Cada homem que está no inferno está por sua própria culpa e por sua própria responsabilidade, porque resistiu à graça, porque fez afronta ao espírito de fé, porque não quis crer sendo que Deus deu fé a todos.


Você sabe que a Bíblia diz que Deus deu fé a todos? Alguém diz: "é que a fé é um dom de Deus"; se é um dom de Deus, mas esse dom Deus deu a todos, querem ver esse versículo? Vamos à Bíblia, vamos a Atos dos Apóstolos, vamos a um dos discursos do apóstolo Paulo no capítulo 17. Diz o versículo 31 e isso eu examinei e reexaminei no grego para que não digam: ah!, é que aqui o tradutor era arminiano, não!, o tradutor era calvinista, mas mesmo assim, escaparam-lhe certas frases, como dizem os testemunhas que não creem na divindade, mas mesmo assim escapam-se-lhe versículos onde se pode demonstrar a divindade de Cristo. Diz assim Atos 17:31: “porquanto estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com justiça, (porque julgar mas sem justiça? Porque Deus é soberano, mas também é justo, vê?) por aquele homem que destinou, dando fé (aqui está onde a fé) com haver levantado dos mortos”, ou seja, a ressurreição de Jesus à vista de testemunhas, é Deus dando fé a todos, dando fé com haver levantado, porque a fé vem pelo ouvir a palavra de Deus. Se alguém não tem fé, não é porque Deus não lhe dá, mas porque não a quer receber, percebe? não é de todos a fé, não porque Deus não a dá, Deus dá fé a todos, levantando a Jesus Cristo dos mortos. Se alguém não tem fé não é porque Deus não a deu, porque Deus mandou que a todo mundo se pregasse que Jesus Cristo ressuscitou e a fé vem pelo ouvir e o ouvir a palavra de Deus.


A fé é a palavra, a fé vem pela palavra, a palavra de Deus produz o ouvir e o ouvir produz a fé, mas quem não quer, não há pior cego que o que não quer ver, não há pior surdo que o que não quer ouvir, não é que Deus não deu, é que alguns não quiseram, por isso diz a Escritura: sem causa me aborreceram, “sem causa”, porque se dissesse: não, isso foi por culpa de Adão, não, não, por causa de Adão não!, porque sim, Adão caiu e você foi afetado, mas minha graça está aí, desde o princípio que caiu estou manifestando graça. A graça não falta, mas a graça não é imposta, “sem causa me aborreceram”, “Amaram mais as trevas que a luz”, não é que não veio a luz. De tal maneira amou Deus o mundo, não somente os predestinados, o mundo, que deu seu Filho Unigênito para que todo aquele que nele crer, e como Deus deu fé a todos? Ressuscitando a Jesus Cristo e mandando que se pregue a todos porque a fé vem pelo ouvir, a fé acerca do Senhor Jesus, e alguns se salvaram antes de que viesse só pela promessa que viria, percebe? E Abraão creu em Deus e lhe foi contado por justiça; a graça sempre esteve ali e foi resistida, foi resistida, então o homem é responsável. Agora, o homem sem a graça não pode fazer nada porque o que faz o homem sozinho? Precisa da graça, precisa da ajuda, mas essa ajuda não vem para tomar a decisão pelo homem, a ajuda é devolver-lhe a capacidade de decidir, para decidir na fé, para esforçar-se na graça, esforce-se na graça, diz Paulo a Timóteo, se fosse ele sozinho, não. O homem precisa da graça porque houve pecado e merece a morte e foi afetado e não serve para nada, precisa de graça, sem graça não se pode fazer nada, mas a graça é para todos.


Lemos em Tito: a graça de Deus se manifestou para salvação a todos os homens; se alguém não a recebe não é porque Deus não dá fé, porque Deus dá fé a todos, ressuscitando a Cristo dos mortos e anunciando o evangelho, mas não a recebem, não quiseram recebê-la, sem causa o aborrecem e por isso é a condenação. A condenação não é como dizia Teodoro Beza, que Deus queria que alguns se condenassem então provocou a queda para que se condenassem, assim dizia o discípulo de Calvino que era mais calvinista que o próprio Calvino, ele ensinou isso, mas não é isso o que diz a Bíblia. A Bíblia diz: sem causa me aborreceram, e essa é a condenação: que a luz chegou e os homens amaram mais as trevas que a luz. Quando Deus diz: “quem quiser, venha e beba gratuitamente”, é porque Ele dá graça a todos para que venham. Não pode vir se Deus não o trouxer, mas Deus não diz: eu não quero trazer você, não!, eu quero trazer todos, mas não vou pegá-lo pelo pescoço. Esse é o ponto, que quem quiser, venha e o paralítico como se levantará? “Levanta-te” porque ali está a graça, dizer ao paralítico: “levanta-te e anda”, é o mesmo que dizer aos mortos: quem quiser venha e beba, mas como se estou morto? Ah! mas quem ouvir a voz do Filho de Deus, viverá e os que a ouvirem, ou seja, os que a aceitarem, receberem com alegria, beberão.


Então irmãos, a questão apenas está no início.


Irmãos em Cristo Jesus.

Irmãos em Cristo Jesus.
Mt 5:14 "Vós sois a luz do mundo"