domingo, 14 de setembro de 2008

A Mensagem à Laodicéia- W Kelly

O Caráter da Igreja dos últimos tempos, e o que Cristo pensa dela

“Ao anjo da igreja em Laodicéia escreve: Estas coisas diz o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus: Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente. Quem dera fosses frio ou quente! Assim, porque és morno e nem és quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te da minha boca; pois dizes: Estou rico e abastado e não preciso de coisa alguma, e nem sabes que tu és infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu. Aconselho-te que de mim compres ouro refinado pelo fogo para te enriqueceres, vestiduras brancas para te vestires, a fim de que não seja manifesta a vergonha da tua nudez, e colírio para ungires os olhos, a fim de que vejas. Eu repreendo e disciplino a quantos amo. Sê, pois, zeloso e arrepende-te. Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele, comigo. Ao vencedor, dar-lhe-ei sentar-se comigo no meu trono, assim como também eu venci e me sentei com meu Pai no seu trono. Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.” (Apocalipse 3:14-22).


O Contraste com Filadélfia

Um acentuado contraste se adverte entre o estado de Sardes e da prévia ordem das coisas. Em Tiatira reinava uma grosseira corrupção, aberta e má, perseguição, aversão à santidade e à verdade de Deus, falsos profetas, embora havia ali um remanescente fiel. Se Tiatira representa a idade das trevas, quando o Senhor tinha escondido a seus santos fiéis nos rincões e esconderijos do mundo, em Sardes temos uma aparência de coisas corretas: um nome de que vive, e uma morte praticamente universal; não obstante, ainda em Sardes estavam aqueles que não haviam contaminado suas vestiduras. Assim como havia uma marcada distinção entre Sardes e Tiatira, também é certo que havia uma igualmente forte linha de demarcação entre Filadélfia e Laodicéia.

“Ao anjo da igreja em Laodicéia escreve” (não «dos laodicenses»)

Vamos a examinar o caráter que Deus confere a esta igreja, e a luz que Ele traz acerca de sua condição. Se existem duas igrejas que se acham em maior contraste, uma com a outra, seguramente são estas duas. A razão é esta: que quando Deus trabalha de uma maneira especial, quando manifesta sua graça de alguma nova forma e com uma nova luz, ele, a partir do desvio do Cristianismo, sempre faz surgir uma sombra particularmente obscura no curso dos acontecimentos.

Vemos em Filadélfia um quadro brilhante. Eles tinham pouca força, mas tinham que depender Dele em paz; pois o Senhor havia aberto a porta, e Ele a havia de manter aberta. Cristo era toda sua confiança, em contraste com os pretendidos religiosos que aparecem ao mesmo tempo reclamando ser o povo de Deus sem nenhuma consideração por Cristo. A Igreja deveria ser, pelo Espírito Santo, um verdadeiro testemunho da nova criação, da qual Cristo é tanto a única fonte como o Modelo admirável. Mas a igreja fracassou por completo, e nunca tanto como nesta última fase. Pois que diferença achamos quando nos pomos a considerar a Laodicéia!

Acaso o Senhor fala aqui de atender às necessidades deles, de ter a chave de Davi, de apresentar-se como o objeto de seus afetos, como o Santo e o Verdadeiro, em sua magnificência moral, que chama o coração a adorar-lhe? Acaso Ele, quando se dirige à Laodicéia, não fala em outro tom? Ouçamos-lhe:

“Estas coisas diz o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus” (v. 14).

O fim da profissão era quase arrogante. Cristo era o “Amém”, a única garantia das promessas divinas, e a única “testemunha fiel e verdadeira” Quando todos os demais haviam fracassado. A maneira como Ele se apresenta supõe que aqueles a quem se dirigia mediante a esta mensagem, eram completamente infiéis e haviam revivido as velhas coisas que haviam sido sepultadas no sepulcro de Cristo. Inclusive um santo como Jó não estava na presença de Deus quando pensava tanto acerca de si mesmo (“ouvindo-me algum ouvido, me tinha por bem-aventurado; vendo-me algum olho, dava testemunho de mim;”, etc. Jó 29:11). Podemos dizer que ele estava na presença de si mesmo e não na presença de Deus. Sempre é um pobre sinal ver um homem detendo-se para contemplar-se a si mesmo, já no que respeita ao bom ou ao mal de si mesmo. Inclusive quando nos convertemos, por que deveríamos deter-nos a considerar as mudanças operadas em nós? Isto não é esquecer-se das coisas que estão atrás – Filipenses 3:13 (as que, diga-se de passagem, não se referem a nossos pecados, senão a nosso progresso): se o Senhor nos têm concedido que demos um passo adiante, o tem feito para que estejamos mais perto Dele, e para que creiamos no conhecimento de Deus. Junto com isto, sempre haverá um aumento no conhecimento de nós mesmos, mas nunca visando a admiração própria. Pertencemos a Cristo, por isso, Ele é o objeto que felizmente nos mantêm humildes. Quando Jó foi levado à íntima presença de Deus realmente, então esteve no pó. Não sabia o que era ser absolutamente nada diante de Deus, até que foi levado ali, e seus olhos lhe viram (Jó 42:5). Antes, Jó visava mais o que Deus produzia Nele, mas agora Ele viu a si mesmo como pó. Depois disto, lhe vemos inclusive orando por seus amigos, e vemos também holocaustos. Tal era também o espírito de intercessão e de adoração. E isso parece a mim que era o espírito ao que havia sido levada a igreja de Filadélfia. Eles entenderam a adoração porque, em sua medida, conheciam Àquele que havia sido desde o princípio. O Senhor deseja que sejamos fortes em Cristo, que cresçamos Nele em todas as coisas.

Em Laodicéia não havia nenhum pensamento semelhante, nada que se pareça entrar em possessão das riquezas do Senhor de graça. Em nenhuma outra coisa deveríamos sentir nossa falta tanto como na adoração, e justamente porque a valorizamos. O sentimento espiritual —ainda que certamente débil— é o que anima nosso pequeno poder de adoração. Seguramente que o espírito de adoração é nosso verdadeiro poder para o serviço. Por isso, diz o Senhor em João 10:9: “Eu sou a porta; o que por mim entrar, será salvo; e entrará, e sairá, e achará pastos.” Já não se trata mais do redil judeu e da escravidão da lei, senão da perfeita liberdade, que entra para a adoração e que sai para o serviço, achando em todo lugar alimento e benção. Que doce é pensar que o tempo vem quando “entraremos”, para nunca mais “sair”!. Será sempre o serviço em imediata relação com o Senhor, o gozo da presença de Deus e do Cordeiro, a adoração eterna. E permita-me perguntar de volta, para quem será esta uma promessa grata e ditosa?: Para aqueles que apreciaram e gozaram da adoração na terra; como o vemos no Salmo 84:4, “Perpetuamente te louvarão”. O lugar onde o Senhor morava estava gravado ainda nos corações daqueles que iam ali: “Em cujo coração estão teus caminhos”. Sentiam que deviam acharem-se onde Deus estava, e ali habitavam.

Em Laodicéia, o Senhor não se revela da mesma forma pessoal, e menos ainda eclesiásticamente; mas se tomam certas qualidades e títulos que pertencem a Ele, cujo alcance vai desde o que Ele havia sido para Deus até o que o vincula com a nova cena na qual estava por ser manifestado como Cabeça sobre todas as coisas. Ele é “o Amém,a testemunha fiel e verdadeira, o principio da criação de Deus” (v. 14). Eles haviam falhado em tudo; haviam sido testemunhas infiéis. Mas é como se lhe dissera: «Vós não haveis encontrado um só pensamento de meu coração. Agora me apresentarei a vós tal como todos deveríeis haver sido. Também era “a testemunha fiel e verdadeira”. O Cristianismo, desde seus primórdios, desde os dias apostólicos por certo, é uma testemunha rejeitada. Cristo se acha em relacionamento com a nova criação.

Mornos

“Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente.” (v. 15). Isto é latitudinarismo. Não é a ignorância da verdade o que produz este mal mortal, senão que aqui se trata do coração que permanece indiferente à verdade, depois que esta última tenha sido trazida plenamente ante ele. Estas pessoas não querem a verdade, porque, para segui-la realmente, eles sentem que devem sacrificar o mundo e separar-se praticamente dele, ao qual não estão dispostos. Nós deveríamos ser tolerantes sempre que haja ignorância involuntária. Mas a indiferença à verdade é uma coisa totalmente diferente, e algo aborrecível aos olhos do Senhor.

Nunca, pois, o latitudinarismo é a condição das almas que são de simples coração, senão daqueles por quem a verdade tenha sido ouvida e que não estão dispostos para a cruz. A verdade de Deus sempre põe a prova os corações dos crentes. A verdade não é algo que eu simplesmente devo aprender, mas que sou provado por ela. Se a ovelha se acha em uma condição saudável, então ouvirá a voz do Pastor, e nem sequer reconhecerá a voz dos estranhos. Mas se a ovelha se desvia após outros, se verá tão confundida que já não será mais capaz de distinguir a bem conhecida voz do Pastor. Isto é o que surgiu em Laodicéia, e parece que a causa deles se deve por haver desprezado o testemunho dado na Igreja primitiva. Em Filadélfia, Ele se manifestou tal como é, e assegurou a cada coração que lhe recebeu, que como seu Nome era tudo para nós na terra, assim também ele nos dará Seu novo nome no tempo de glória. Cada afeto que tenha sido espiritual, tudo o que o Senhor trabalhou em nossos corações, sairá a luz mais brilhantemente no céu. O Senhor diz à Laodicéia: “nem és frio nem quente”. Eles tinham algo que os estimulava, pois o “frio” não era absoluto. Não eram honestos. Laodicéia é o último estado da decadência, a qual o Senhor já não podia permitir que seguisse mais. É um tempo no qual as pessoas terão muitas verdades em certa forma, mas suas almas não serão exercitadas pela verdade. Se o coração houvesse sido, ainda que fosse, em uma medida mínima, sincero —por mais ignorante que fosse— houvesse gozado de tudo o que provinha do Senhor. Aqueles que têm uma unção do Santo, e que sabem todas as coisas, como se diz em 1.ª Jo 2, não são os “pais” (quem naturalmente também haviam sido ungidos da mesma maneira), senão as criancinhas” (lit. “bebês”). Esta capacidade de julgar o que não é de Cristo, depende de que o coração seja leal a Ele. Por isso, o santo mais jovem na fé, com um “olho sensível”, é capaz de discernir com absoluta certeza nos casos em que um teólogo está extraviado em “genealogias intermináveis”.

Todo espírito que não confessa, senão que nega a Cristo (ao Cristo de Deus), é do anticristo. Houve, como há hoje, muitos anticristos, e a esfera de atividade onde podemos descobrir-los é ali onde o nome de Cristo é pronunciado. Se Cristo não houvesse sido conhecido, não poderia haver um anticristo, o qual foi a sombra obscura que seguiu à verdade. Tão seguramente como o Senhor trabalha em seus caminhos de graça, Satanás também está ativo. Ser “morno” era ser falso, com a pretensão da verdade; e o Senhor diz: “Te vomitarei de minha boca.” Não conheço em nenhuma outra parte que o Senhor empregue uma expressão tão depreciativa como esta. Difere notavelmente da maneira em que tratou a Sardes, onde se dá o juízo geral do Protestantismo, à qual o Senhor julga como ao mundo e ameaça a vir sobre ela como ladrão. É esta a maneira em que medimos nossas coisas? Pensamos provavelmente que Jezabel teria sido considerado como o pior; mas, nos surpreendemos porque que ser “morno” era realmente o pior de tudo? Entretanto, era isto o que provocou toda a indignação do Senhor, e Ele somente sabia.

A auto-satisfação

“Porque tu dizes: Eu sou rico, e me tenho enriquecido, e de nenhuma coisa tenho necessidade; e não sabes que tu és um desventurado, miserável, pobre, cego e nu” (v. 17).

Aqui encontramos uma clara prova de que eles haviam ouvido muito acerca da verdade. Criam que eram ricos. Consideravam a erudição e o intelectualismo em matéria religiosa como algo excepcionalmente desejável e de sumo valor. O crescimento nestas coisas —ao menos em extensão, mas não em profundidade— era para eles um motivo de satisfação. A propagação do conhecimento exterior de Deus é o que precipita a crise final, o juízo final e a supressão definitiva de tudo o que leva seu Nome falsamente e para sua própria complacência. Eles haviam buscado muito ao homem e ao mundo, os que prometem muito aos olhos. Mas isto não é justo juízo; pois quando se dá lugar assim à natureza caída na igreja, resulta em grande perca, até a plena exclusão do que é divino e celestial, e frente a todas as verdadeiras riquezas, ele significava o verdadeiro e amargo empobrecimento. Isto é o que o Senhor passa a apresentar ao anjo logo. Segue então uma falta de discernimento.

“e não sabes que tu és um desventurado, miserável, pobre, cego e nu” (v. 17).

Isto era assim porque haviam recusado o testemunho de Deus. Seu testemunho sempre produz o sentimento de não ser nada, mas nunca debilita a confiança Nele. Pode haver provas. As Epístolas de João estão cheias delas; mas não existe nunca o pensamento de que o Espírito conduza a um crente a duvidar de que Deus esteja a favor Dele. Ele pode trabalhar —e seguramente trabalhará— em uma alma que se esteja apartando do Senhor para voltar a trair a Ele. Pode fazer-nos sentir nossa debilidade. Mas de nenhuma maneira trabalhará jamais produzindo uma dúvida da verdade. E sempre é um sinal da carne em atividade, “desejando contra o Espírito”, quando damos lugar à desconfiança. Sempre o Espírito Santo, onde quer que se encontre, têm por objetivo fazer que um homem se humilhe completamente a si mesmo, que julgue e que renuncie à insensatez da carne. Há, e deve haver, sempre realidade e confiança na presença de Deus.

Laodicéia diz: “Eu sou rico, e me tenho enriquecido, e de nenhuma coisa tenho necessidade” (v. 17). É o Espírito Santo precisamente quem pronuncia que isto é presunção da carne, um coração que não conhece suas necessidades e que recusa a graça. Havia antes certo calor momentâneo, que é o que a havia feito tão aborrecível para Deus. Mas isto é justamente o que os homens estão fazendo, os que falam da igreja do futuro. Eles chamam ao tempo apostólico «a infância da igreja»; mais tarde a igreja se viu excessivamente crescida e desenvolvida assim como arrogante; e agora eles buscam uma igreja do futuro, quando já não esteja mais sujeita, senão que atuará por si mesma: atuará como um homem adulto. Ai!, onde terminarão estas aspirações? Pois Deus será excluído da assim chamada «igreja», e Sua autoridade não será levada em conta.

A indiferença

Isto está operando hoje de maneira extensiva. E são mornos os filhos de Deus frente a Ele; frente à verdade de Deus que é excluída?
Recordemos o que o Senhor diz aqui: “Te vomitarei de minha boca.” Seria um grave erro supor que não havia bons homens entre eles. Mas não se trata aqui de uma questão de indivíduos, senão da assembléia: O Senhor disse que como tal Ele os vomitaria de sua boca. As pessoas não podem congregar em extensas massas sem terem como resultado o laodiceísmo, por não dizer que este tenha sido também a fonte dele. A popularidade é uma coisa; mas outra muito distinta é o Espírito Santo que reúne as almas para Cristo no presente tempo. O Senhor seja louvado se tão só haja uns poucos congregados em seu Nome (Mateus 18:20)! Que todos os filhos de Deus tenham presente que eles devem render contas ao Senhor Jesus, a respeito de si se falam representados por Laodicéia ou não; se é que estão vivendo para Cristo, ou para o que meramente leva seu Nome como um véu sobre o indiferentismo.

Entretanto, o Senhor não os abandona. Lhes diz: “eu te aconselho que de mim compres ouro refinado no fogo, para que sejas rico, e vestiduras brancas para vestir-te, e que não se descubra a vergonha de tua nudez” (v. 18). O ouro é empregado como símbolo da justiça intrínseca na natureza de Deus, ou justiça divina; e vestiduras brancas, ou linho, representa as justiças dos santos, como o vemos no capítulo 19.

A justiça divina não formava mais parte de seus pensamentos. Nem apreciavam a justiça de Deus —o qual um cristão é feito em Cristo (2.ª Corintios 5:21)—, nem tampouco a justiça prática posta de manifesto ante os homens, à qual o Espírito Santo conduz. De modo que o Senhor lhes aconselha que comprem Dele o verdadeiro ouro, e vestiduras brancas para que possa ter lugar a santidade que lhes convinha diante dos demais. “Unge teus olhos com colírio, para que vejas.” Aqui esta o segredo: a falta de unção do Santo. Eles não viam nada adequadamente; nem sequer sua necessidade da justiça divina.

Chamado ao arrependimento: Cristo está fora e chama

“Eu repreendo e castigo a todos os que amo; se, pois, zeloso, e arrepende-te” (v. 19). Seguramente que esta é a voz do Senhor para o tempo presente. Ah, eis aqui o que os laodicenses necessitavam!. O Senhor está tratando com seu povo; põe continuamente diante deles algo para humilhá-los nos pensamentos que têm de si mesmos: Ele não lhes diz que façam ou que tratem de fazer algo novo, senão que os chama a “arrependerem-se”. Não lhes pede que estendam suas asas para realizar algum vôo maior no futuro, senão que vejam onde estão, e que confessem seu fracasso. Mas isto é tedioso à luz de um coração auto-suficiente e contento de si mesmo. Entretanto, o chamado ao arrependimento aqui, como em Sardes, difere enormemente do que vemos nas mensagens a Éfeso e a Pérgamo, onde se requereu a todos abaixo pena de solene castigo da parte do Senhor, já seja de maneira geral ou particular. Tiatira tinha aqui também um lugar intermédiario: “E tenho dado tempo para que se arrependa, mas não quer arrepender-se de sua fornicação” (Apocalipse 2:21). Por isso seguiu a ameaça do juízo, e sobreveio a vasta mudança em toda sua extensão.

É algo muito mais elevado padecer por Cristo e com Cristo, que ser ativo em obras. Quando o apóstolo perguntou uma vez: “Que farei, Senhor?”, o Senhor lhe disse: “Te mostrarei quanto te é necessário padecer por meu nome” (Atos 9). Isto é o que o Senhor valoriza de maneira muito especial. Não meros sofrimentos como homens, senão sofrimentos por Cristo. “Se sofremos, também reinaremos com Ele” (2.ª Timóteo 2:12).

Em Laodicéia se tratava de pessoas que, por causa de seu orgulho, haviam caído muito baixo, e eram, pois, chamadas a serem zelosas e a arrependerem-se, a humilharem-se diante de Deus por causa de sua condição.

Entretanto, o Senhor profere uma palavra de graça: “Eis aqui, eu estou à porta e bato” (v. 20). Não é algo solene que o Senhor esteja ali, e que tome o lugar de alguém que está fora? Entretanto, ele estava disposto a entrar quando achar uma alma leal a ele. “Se alguém ouve minha voz e abrir a porta, entrarei a ele.” Faz falta dizer que isto não se trata de uma mensagem de salvação para o mundo? No capítulo 10 de João, o Senhor se apresenta em plena graça dizendo: “Eu sou a porta; o que por mim entrar, será salvo” (v. 9). Mas em Apocalipse Ele fala desta maneira à igreja. Que posição solene! Quão baixo havia caído ela agora! O que devia haver sido a gostosa porção de toda a igreja —já seja em sua proximidade à Deus ou em suas manifestações ante aos homens ou na comunhão de Cristo—, era agora oferecida em pura graça àquele que ouvir com atenção e se humilhar ante a graça do Senhor. Ele certamente não tem simpatia com a auto-satisfação de Laodicéia. Por isso está fora, golpeando á porta, por se acaso houver algum coração dentro que não estiver tão ocupado com as coisas e com as pessoas ao redor, e que lhe abra a porta. Ao tal lhe diz: “Entrarei a ele, e cearei com ele, e ele comigo” (v. 20). Mas se trata de um assunto inteiramente individual. Em presença do mais grave abandono da verdade, devemos acaso dizer: «Não há nenhuma esperança»? De nenhuma maneira; pois o Senhor está à porta e chama. Pode ser que não muitos respondam a seu chamado, mas alguns o farão.

Sentados no trono de Cristo

E a promessa é: “Ao que vencer, lhe darei que se sente comigo em meu trono, assim como venci, e me tenho sentado com meu Pai em seu trono” (v. 21). É um erro supor que esta é uma promessa gloriosa: estamos dispostos a pensar assim porque naturalmente valorizamos tudo o que se relaciona com glória celestial. Mas Deus não estima as coisas deste modo. A regra que mede as coisas segundo seu valor, é o santo amor de Deus —o que demonstrou ser divino, grandemente quando Cristo se humilhou ao descer até o homem e morreu por ele—, e não o poder nem a glória. Deus podia haver feito milhares de mundos resultando muito mais fácil que dar a seu Filho para sofrer na cruz. Não questiono a graça dessa expressão, apesar de semelhante mal que imperava; mas nossa participação no reino com Cristo não é o mais bendito que gozaremos. E a promessa que aqui se faz não vai mais longe. O que temos e teremos em Cristo mesmo é muito mais precioso. Entretanto, esta é uma porção com Cristo. Em João 17:23 o Senhor mostra que a dispersão de glória é para a reivindicação de si mesmo ante o mundo. Toda a glória revelada no futuro constituirá a prova para o mundo, para que saibam que o Pai nos ama como amou a seu Filho. Mas nós estamos facultados a saber pelo Espírito Santo agora. Não temos que esperar até então para conhecer o amor que nos têm dado a glória: uma coisa mais profunda que aparecer ante o mundo ou que tronos no reino. O afeto pessoal do Senhor a seu povo é uma porção muito melhor que qualquer coisa dispensada ante os homens ou os anjos.

E aqui o Senhor encerra as igrejas. Ele havia chegado ao último estado. A sabedoria de Deus tem surtido nestes capítulos, nas verdades profundas, senão ao contrário o que requer consciência; e isto, antes que grande capacidade,é o que devemos entender.

W. Kelly, Lectures on the Book of Revelation, pág. 80-88

SINOPSE

Da mensagem à assembléia de Laodicéia


A Igreja em sua responsabilidade sobre a terra ia ser descartada, principalmente ao final, por ser um testemunho infiel. O quadro que descreve o estado de Laodicéia é, naturalmente, muito claro, mas, a meu entender, é o resultado da aversão e o desprezo do testemunho suscitado precedentemente pelo Senhor (Filadélfia). Se se desconhece e despreza a verdade valorizada por aqueles que deveras esperam ao Senhor, um se encontra em perigo de cair na espantosa condição que a Palavra põe aqui ante nossos olhos. Em Laodicéia, Cristo já não é mais o único objetivo pelo qual o coração se sente atraído e com o qual se compraz. Tampouco existe mais aqui o sentimento da benção relacionada com sua vinda e que conduz a esperar; e menos ainda se glorifica um na debilidade, de modo que o poder de Cristo permaneça e se manifeste nesta mesma debilidade. Ao contrário, prevalece o desejo de ser grande, de ser tido em alta estima pelos homens, tal como diz: “Eu sou rico, e me tenho enriquecido, e de nenhuma coisa tenho necessidade” (v. 14). Vemos aqui uma condição, pois, que deixa um amplo lugar para os pensamentos e os caminhos do homem.

Por isso o Senhor se apresenta ante eles como “o Amém”, o fim de toda esperança no homem; e toda segurança não se fala mais que na fidelidade de Cristo de Deus. Cristo somente é “a testemunha fiel e verdadeira”. Isto é precisamente o que a Igreja teria que haver sido e não foi, e, por conseqüência, Ele mesmo deve tomar este lugar. É o mesmo lugar que ele ocupou quando, cheio de graça, esteve aqui em baixo; e agora ele deve repreender à Igreja em poder, em glória e em juízo. E dificilmente um pode conceber tão grande e solene repreensão infligida à condição daqueles cuja obrigação era haver sido testemunhas fiéis e verdadeiras na terra. Além disso, ele é “o princípio da criação de Deus”. Isto põe ao primeiro homem completamente de lado, e com toda a razão por quanto Laodicéia é a glorificação do homem e de seus recursos na Igreja.

“Eu conheço tuas obras, que nem és frio nem quente. Oxalá fosses frio o quente! Mas por quanto és morno, e não frio nem quente, te vomitarei de minha boca” (v. 15). Eles são neutros, ou indiferentes, em princípio e na prática; seu coração somente está “meio” do lado de Cristo. Estou persuadido de que nada é mais propenso a gerar a indiferença que quando se assume uma posição sã da verdade exteriormente, mas sem o exercício do juízo de si mesmo e uma sincera piedade. Quanto mais se esteja firme na frente do campo de batalha, levando a responsabilidade do testemunho de Deus, tanto mais haverá conhecido e professado conhecer a graça e a verdade de Deus, expondo-las literalmente ante os demais. Mas se não há um andar que marche parelho com a luz; se o coração e a consciência não são governados e animados pelo poder do Espírito de Deus, por meio de uma fé viva em Cristo, mais profundamente também, cedo ou tarde, um cairá de novo em um estado de indiferença, se não de ativa inimizade. Um se voltará indiferente a tudo o que é bom, e o único tipo de zelo que predominará, se existir algum zelo, será pelo que pertence ao primeiro homem, isto é, pelo mundano e o mal.

Tal é o estado de Laodicéia ou laodiceísmo. E o Senhor declara que é uma coisa tão repulsiva, que não é de se estranhar que a maioria não esteja disposta a reconhecer que essa seja sua condição, como o é, ou sequer que possa ser. É a última fase antes de que não fique aparência da Igreja na terra. A pessoas sonham em vão com progressos, e se bajulam. “Mas por quanto és morno, e não frio nem quente, te vomitarei de minha boca. Porque tu dizes: Eu sou rico, e me tenho enriquecido, e de nenhuma coisa tenho necessidade; e não sabes que tu és um desventurado, miserável, pobre, cego e nu. Portanto, eu te aconselho que de mim compres ouro refinado no fogo” (v. 16-18). Eles queriam tudo o que é característico do cristianismo —ainda que careciam de tudo o que é precioso: “ouro”, ou seja, a justiça divina em Cristo, “para que sejas rico”, e “roupas brancas”, o que significa a justiça dos santos, “para vestir-te, e que não se descubra a vergonha de tua nudez”. Além disso, tinham necessidade de “colírio” para seus olhos: “e unge teus olhos com colírio, para que vejas” (v. 18). Haviam perdido a percepção do que Deus valoriza. Tudo era obscuro em quanto à verdade, e incerto em quanto ao juízo moral. A santidade da separação e o sabor da vida haviam desaparecido.

“Eu repreendo e castigo a todos os que amo; se, pois, zeloso, e arrepende-te. Eis aqui, eu estou à porta e chamo; se alguém ouve minha voz e abre a porta, entrarei a ele, e cearei com ele, e ele comigo” (v. 19-20). Ainda ali, nesta triste condição, o Senhor se apresenta de fora, cheio de graça para responder às necessidades das almas.

"Ao que vencer, lhe darei que se sente comigo em meu trono, assim como eu venci, e me sento com meu Pai em seu trono. O que tem ouvido, ouça o que o Espírito diz às igrejas” (v. 21-22).

E nas palavras que terminam a epístola, não encontramos nada de especial; o máximo que se promete não vai mais além da promessa de reinar com ele. Agora bem, reinar com Cristo é o que se reserva a cada um dos que terão parte na primeira ressurreição, inclusive aos judeus que padeceram pelos inimigos anteriores, ou mais tarde pelo reino do Anticristo. É, pois, um erro supor que esta promessa constitua uma distinção particular. Pois tudo se resume no fato de que, depois de tudo, o Senhor se mostrará fiel, apesar da infidelidade reinante. Pode haver uma fé individual real no meio das condições mais desfavoráveis e adversas. Mas todos os que são de Deus e de Cristo compartem o reino.

W. K., Revelation Expounded, pág. 71-

extraído do site www.verdadespreciosas.com.ar

Traduzido para o Português pelos irmãos da cidade de Alegrete-RS

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