Prosseguiremos com este tópico importante do poder latente da alma. Já vimos o que a força psíquica pode fazer e como podemos distinguir entre as coisas que são e as que não são de Deus. No fim dessa era haverão muitos prodígios, milagres e feitos sobrenaturais. São eles realizados por Deus mesmo ou pela operação de outra espécie de poder? Precisamos saber como separar o que é espiritual daquilo que vem da alma. Agora vamos relatar ainda mais como o poder da alma opera, isto é, quais são seus métodos operacionais. Tal conhecimento nos ajudará ainda mais no conhecimento do que é de Deus e do que não é.
PROFECIAS NA BÍBLIA
Mas primeiro, examinemos as Escrituras para descobrimos quais são os sinais do fim desta era e anteriores à eminente volta do Senhor.
Porque hão de surgir falsos cristos e falsos profetas, e farão grandes sinais e prodígios; de modo que, se possível fora, enganariam até os escolhidos (Mt. 24:24).
E a besta que vi era semelhante ao leopardo, e os seus pés como os de urso, e a sua boca como a de cão; e o dragão deu-lhe o seu poder e o seu trono e grande autoridade. Também vi uma de suas cabeças como se fora curada ferida de morte, mas a sua ferida mortal foi curada. Toda a terra se maravilhou, seguindo a besta; e adoraram o dragão, porque deu à besta a sua autoridade; e adoraram a besta dizendo Quem é semelhante à besta? Quem poderá batalhar contra ela? Foi-lhe dada uma boca que proferia arrogância e blasfêmias; e deu-se-lhe autoridade para atuar por quarenta e dois meses (Ap. 13:2-5).
E então será revelado esse iníquo, a quem o Senhor Jesus matará com o sopro da sua boca e destruirá com a manifestação da sua vinda; a esse iníquo cuja vinda é segundo a eficácia de Satanás com todo o poder e sinais e prodígios de mentira, e com todo o engano da injustiça paro os que perecem, porque não receberam o amor da verdade para serem salvos (2 Tess. 1:8-10)
Antes de explicarmos estas passagens, observe por favor, que em 2 Tessalonicenses 2:9 está escrito "prodígios de mentira"; os prodígios são realmente realizados, mas com o objetivo de enganar as pessoas. Estes fenômenos não são imaginários mas reais, só que o fim deles é enganar.
Todas as passagens que lemos apontam para um só assunto: existem coisas que se tornarão conhecidas na grande tribulação. Entretanto, sem sombra de dúvida, alguns desses acontecimentos se darão antes do tempo da grande tribulação. Isso está de acordo com uma regra mais do que óbvia na Bíblia, de que antes do cumprimento de uma profecia algo semelhante geralmente acontece como um prenúncio da sua realização final. Por essa razão muitos eruditos em profecia concordam que as coisas que acontecerão na grande tribulação estão acontecendo agora uma após a outra, embora a intensidade não seja como nos dias futuros.
Ora, as passagens bíblicas que citamos acima mostram a característica do período da grande tribulação. Durante aquele tempo haverão grandes sinais e prodígios. Antes da vinda do Senhor, o anticristo estará interessado principalmente em realizar sinais e prodígios. É conhecimento comum que antes de uma pessoa chegar sua sombra é vista primeiro e sua voz ouvida antes dele. Assim também, antes da chegada da grande tribulação, sua sombra e o som dos seus sinais e prodígios já estarão presentes. Visto que os sinais e prodígios se tornarão muito comuns na grande tribulação, com certeza em nosso tempo atual eles aumentarão.
UMA OBSERVAÇÃO PESSOAL
Antes de avançarmos mais, eu gostaria de fazer uma observação. Pessoalmente não sou contra os milagres. Existem muitos registrados na Bíblia os quais são mui preciosos e extremamente importantes. Tenho enfatizado no passado como um crente precisa crescer em vários aspectos. Permita-me repeti-los mais uma vez. (1) Depois que alguém é salvo deve buscar o conhecimento adequado da Bíblia. (2) Deve desejar fazer progresso na vida espiritual: vitória, santidade, amor perfeito e assim por diante. Isto é muito importante. (3) Devemos ser ardentes no ganhar almas. (4) Devemos confiar em Deus com singeleza de fé para que possamos ver Deus operando milagres.
Existem muitos defeitos na igreja de hoje. Muitos crentes não têm outro interesse senão na explanação das Escrituras. O conhecimento deles é excelente, todavia não se preocupam nem tampouco buscam o crescimento na vida espiritual. Ou alguns podem ir um passo além e buscar a vida superior e as coisas profundas de Deus, mas negligenciam os outros três aspectos. Outros ainda têm zelo mas não têm conhecimento. Todos estes esforços desequilibrados são doentios. Não é surpreendente que na igreja hoje aqueles que buscam expor a Bíblia literal ou espiritualmente, ou a vida mais profunda e mais rica, ou que são zelosos em ganhar almas existem em grandes quantidades, mas poucos são aqueles que confiam em Deus com uma fé viva com o fim de obterem algo dEle?
Todos os cristãos devem se esforçar para desenvolverem igualmente estes quatro aspectos de crescimento, a fim de que não haja uma situação desequilibrada. Portanto, não sou contra os milagres, pelo contrário, eu os valorizo altamente. Entretanto, busco discernimento devido aos falsos milagres e prodígios de mentira. Por isso, ao falar sobre estas imitações não tenho a menor intenção de me opor aos milagres em si.
Por favor, lembre-se que todos os milagres operados por Deus são realizados pelo Espírito Santo com a cooperação do nosso espírito. Eles nunca são realizados pela alma do homem. Satanás é quem faz uso do poder da alma do homem--aquela força psíquica que devido à queda está agora oculta na carne do homem. E portanto, é inevitável que nos últimos dias Satanás levantará um anticristo a quem será dado seu próprio poder e autoridade, pois ele terá que confiar no poder latente da alma do homem.
Vou dar alguns exemplos que nos ajudarão a entender como certos fenômenos não são demonstrações de poder espiritual e sim as manifestações da força latente da alma. Visto já termos tratado com o lado miraculoso do poder da alma, focalizaremos aqui o seu lado não miraculoso.
Exemplo 1 - Evangelismo Pessoal
Assim como nossas condições psicológicas variam de uma pessoa para outra, assim acontece com nossos poderes da alma também. Algumas pessoas têm mentes mais fortes e às vezes podem ler os pensamentos dos outros. Alguém pode pensar que a fim de encontrar palavras adequadas para conversar com os outros, ele deva conhecer o pensamento dela. Esta é a maneira natural de conhecer e dele ser rejeitada.
Perdoe-me por ilustrar este ponto com a minha própria experiência. Nos meus contatos com as pessoas eu posso facilmente determinar seus pensamentos após uma curta troca de palavras. Eu simplesmente sei, sem qualquer razão especial. Quando comecei a servir ao Senhor no princípio, pensei que tal percepção natural da mente dos outros seria muito útil na obra do Senhor. Mas depois de compreender melhor não ousei usar mais minha capacidade natural. Toda vez que tal situação se levanta agora, eu imediatamente a resisto com oração.
Ao conversar com as pessoas, não é necessário que você saiba o que elas estão pensando em suas mentes. Além disso é inútil, pois tudo o que é da alma e é feito por seu poder findará em vaidade. Se uma obra é feita pela força psíquica, ela não edificará a vida da outra pessoa embora professe ter sido ajudada, pois nenhum proveito real foi depositado no fundo do seu ser. Por isso, quando um indivíduo vem a você, a coisa mais importante a fazer é pedir a Deus para mostrar como você pode ajudá-lo. Você deve dizer ao Senhor que, por não conhecer o que aquele homem está pensando nem está certo da sua condição psíquica e espiritual; você vem a Ele em total dependência dEle a fim de receber as palavras apropriadas. O que você precisa é renunciar a si mesmo a fim de receber ajuda de Deus.
Exemplo 2 - Reunião de Avivamento
É bastante espantoso como muitos irmãos que pregam muito mencionam a questão de reuniões a mim. Eles afirmam que se vão a um salão de cultos e encontram as luzes fracas, assistência baixa e abundância de cadeiras vazias, eles parecem perder seu poder após se levantarem para pregar. Mas se as luzes estiverem brilhando e o auditório cheio e animado, eles parecem crescer em poder. Mas que tipo de poder é este?
Posso dizer francamente que este não é outro senão o poder da sua própria força da alma. O poder que vem do Espírito Santo nunca é afetado pela circunstância exterior. Qualquer que quiser saber o que é pregar no poder da alma só precisa assistir uma grande reunião lotada de pessoas e suprida com os mais finos equipamentos, ouvir os cânticos e observar os movimentos do auditório. Você poderá sentir que há um poder especial num lugar cheio. Que poder é este? Você sente uma força que pressiona sobre você? Não pode ser o poder do Espírito Santo. É o poder da alma.
Por que é considerado poder da alma? Apenas observe o que estas pessoas estão fazendo. Ao cantar elas cantam em uníssono numa direção, resultando na concentração de todos os poderes da alma gerados pela multidão. Quão grande é este poder! Você pode ir pensando em ajudá-los, mas em tal atmosfera você é quem será influenciado por eles. Quão perigoso é isto! Muitos servos do Senhor me dizem a mesma estória de como os números no auditório ou a atmosfera da reunião e outras coisas ajudam ou estorvam seu trabalho. Eu sempre respondo que eles são controlados pela circunstância porque pregam em sua própria força.
Exemplo 3 - Cânticos
Muitas vezes o cântico é de grande ajuda na obra de Deus. Outras vezes entretanto, ele não pode deixar de ser apenas uma atividade da alma. Um grande número de pessoas gosta de visitar certos grupos de crentes porque a música lá é excelente. Alguns grupos gastam acima de um milhão de dólares simplesmente para instalar um órgão de tubos. Ouvimos pessoas dizerem que quando vão a tais lugares e ouvem o som do órgão e as vozes cantando, seus espíritos imediatamente são liberados na presença de Deus. Realmente tal coisa acontece. Mas são estas pessoas levadas em verdade à presença de Deus? Os espíritos das pessoas podem ser liberados e aproximados de Deus por uma pequena atração como essa? É este o método de Deus?
Infelizmente muitos dos arranjos nestes lugares são carnais. Eles tentam despertar a emoção do homem e estimular seu instinto religioso por meio dos sons do órgão e cânticos. Tal poder não é de Deus, mas dos hinos e da música. Nós também cantamos hinos, mas não colocamos nossa confiança neles. Somente o que é feito pelo Espírito Santo é útil; nada mais pode alcançar nosso espírito.
Você já esteve num lugar remoto no interior? Graças a Deus, Ele me deu a oportunidade de visitar um lugar assim. Uma vez fui a uma vila perto do mar. Todos os habitantes eram pescadores. Havia crentes espalhados por toda a vizinhança dessa vila. Eles tinham reuniões com vinte, trinta e até mesmo com cinqüenta ou sessenta pessoas. Sempre que se retinem juntos e cantam que melodia irregular penetra seus ouvidos! Uns cantam depressa e outros devagar, resultando num lapso de alguns minutos, porque os mais rápidos já terminaram a última linha mas devem esperar até que os mais lentos os alcancem. Você pode reunir sob este tipo de circunstância? Provavelmente você morrerá de impaciência e seu poder se dissipará completamente. Um irmão me disse que após ouvir tais irmãos cantando ele não podia mais pregar. Eu respondi dizendo que havia uma razão para isso: O poder vinha dele ou de Deus?
Você e eu geralmente consideremos as circunstâncias e somos influenciados por ela. Mas se for do Espírito Santo, nós controlaremos a circunstância. Este é um princípio profundo ao qual cada um de nós deve se apegar. Não usemos nossa própria força psíquica a fim de que não sejamos controlados pela circunstância.
Algumas vezes num ambiente oprimido o cântico pode ser usado por Deus para libertar as pessoas. A oração também às vezes pode ser de ajuda. Mas se fizermos do cântico ou da oração o centro, enfrentamos o perigo de liberar o poder da alma. Muitas pessoas vivem descuidadamente durante seis dias e depois assistem uma reunião da igreja no domingo. Elas ouvem o cântico de muitos hinos e se sentem aquecidas e alegres. Mas perguntemos de onde vem este tipo de calor e alegria? Posso provar que algo está deficiente aqui. Se uma pessoa vive descuidadamente durante seis dias e depois vem a Deus um dia, ela deveria sentir-se culpada e reprovar a si mesma. Como é então que o cântico faz com que ela se sinta aquecida e alegre? Isto não pode ser poder espiritual. Não desejo ser um crítico bitolado mas deve se salientar que o cântico excessivo excita o poder da alma.
Exemplo 4 - Exposição da Bíblia
Existe o perigo de se expressar o poder latente da alma até mesmo no estudo da Bíblia. Por exemplo: alguém está confuso sobre certa passagem da Escritura. Ele não entende seu significado. Assim ele pensa nele o tempo todo, seja andando na rua, dormindo em sua cama, em seu gabinete ou andando de trem. De repente um jato de luz brilha sobre ele; agora parece que ele pode expor aquela passagem para si mesmo de forma lógica. Se tem boa memória ele sem dúvida, a estocará em sua mente; se sua memória não é tão aguda ele escreverá numa caderneta. Tal interpretação repentina não é maravilhosa? Todavia a pergunta deve ser feita: Isto é digno de confiança? Porque às vezes ela pode vir do poder da alma. Considerando seu resultado, a interpretação pode ser razoavelmente julgada, pois tal exposição nova, especial e aparentemente espiritual pode não produzir fruto espiritual. Não apenas ele pode não extrair vida espiritual dela, mas também pode não ter como comunicar vida aos outros fornecendo tal interpretação. Tudo o que pode fazer é ajudar a mente das pessoas um pouco.
Exemplo 5 - Alegria
Grande número de pessoas deseja ter alegria em seu sentimento. O chamado riso santo é um caso extremo do assunto. É ensinado que se uma pessoa for cheia do Espírito Santo, ela invariavelmente terá este riso santo. Aquele que declara possuir esta espécie de riso não pode controlar a si mesmo. Sem qualquer razão ele rirá, rirá e rirá como que infectado por certa doença e parecerá estar parcialmente insano.
Numa certa reunião, depois do sermão ser concluído, foi anunciado que todos deveriam buscar este riso santo. Todos começaram a bater nas mesas ou cadeiras, pulando e saltando por toda parte, até que depois de certo tempo este chamado riso santo apareceu. As pessoas simplesmente olhavam um para a outra e caiam na gargalhada. Quanto mais pensavam nisso mais engraçado se tornava. Por isso não podiam se conter e continuavam rindo. O que é isso? Há possibilidade de tal coisa ser a plenitude do Espírito Santo? Pode isso ser Sua obra? Não, isto é certamente uma das obras da alma.
Menciono este caso extremo a fim de ilustrar por meio de um "extremo" como podemos escapar pela tangente por apenas dois ou três graus de inexatidão. Quando o Sr. Barlow (um amado companheiro cristão) esteve aqui reunindo conosco, uma ajuda particular que recebi dele foi essa observação: a fim de ver se uma coisa é certa ou errada temos apenas que aumentá-la uns cem graus, isto é, não importa o que seja, leve-a ao extremo. O princípio orientador é que se estiver errado nos cem graus, a pessoa sabe que também está errado no primeiro ou segundo grau. É muito difícil julgar apenas pelo primeiro ou segundo grau; caso haja algum erro, com certeza será pequeno demais para ser identificado. Mas pelo prolongamento ou aumento da situação ou circunstância, tudo se tornará bastante distinto.
Existe um provérbio chinês que diz assim: "O desvio de um centésimo ou milésimo de uma polegada terminará numa distância de mil quilômetros:" Você pode começar com um erro de apenas um centésimo ou milésimo de uma polegada, porém, mais tarde se deparará com uma discrepância de mil quilômetros. A afirmação inversa seria: se examinarmos a discrepância de mil quilômetros poderemos ver o erro de um centésimo ou milésimo de uma polegada.
Suponhamos que hajam duas linhas que não são exatamente paralelas mas estão fora num pequeno ângulo de um ou dois graus, dificilmente notável a olho nu. Se você prolonga estas linhas uma polegada a mais a distância entre elas torna-se obviamente maior. Quem poderá dizer quantas centenas de quilômetros elas estarão separadas uma da outra, se forem prolongadas até os confins da terra? A distância aos dez milhares de quilômetros da sua origem prova a existência de erro formado no ponto inicial.
Apliquemos agora esta norma ao chamado riso santo. Como as pessoas conseguem este riso santo? Que método elas seguem ou que condições devem preencher? Não é outra coisa senão o pedir para rir. Existe apenas um pensamento que é rir. Estão buscando serem cheias do Espírito? Seus lábios podem realmente proferir palavras como: "Ó Deus, encha-me com Teu Espírito." Todavia isso é apenas um método; o alvo da petição para serem cheias com o Espírito é algo mais do que serem cheias. Embora possam dizer com suas bocas, o desejo dos seus corações está em outro lugar. Qual é seu alvo? Elas querem rir e ficar alegres. Elas não oram: "Ó Deus, peço que me enchas com Teu Espírito, ficarei satisfeito tendo ou não sentimento." Qualquer que deseje ser cheio com o Espírito de Deus deve assumir tal atitude.
Permita-me relatar uma estória verdadeira. Um estudante havia se arrependido e crido no Senhor. Ele tinha um colega que professava possuir este riso santo dava impressão de ser excessivamente alegre. Este colega instou com ele para que buscasse ser cheio com o Espírito Santo, dizendo como ele era feliz de manhã ao anoitecer sem qualquer tristeza e afirmando quão útil tal experiência seria para o crescimento espiritual. Considerando que este colega era um crente e possuidor dessa experiência, o recém salvo pensou que podia tê-la também. Consequentemente começou a orar ansiosamente a Deus. Continuou em oração pedindo a Deus a experiência; pediu tanto que chegou a ponto de perder o apetite e negligenciar seus estudos.
Mais tarde foi ver um professor e pediu que ele orasse por ele. O estudante mesmo orou ardentemente a Deus e fez um voto de que não se levantaria da oração aquela noite se Deus não a desse a ele. Continuou orando até que repentinamente saltou e deu um grito dizendo quão alegre se sentia. Ele riu e riu. Quanto mais ria mais alegre sentia. Ele riu e dançou e gritou. Seu professor pensou que ele estava fora de si. Agindo como se fosse um médico, seu professor o segurou e disse: "Irmão, acalme-se, não haja desordenadamente:" Mas quanto mais era advertido, mais violentamente reagia. Seu professor não ousou dizer mais nada temendo ofender ao Espírito Santo, caso isso fosse realmente de Deus. Finalmente o estudante foi para casa e estava melhor no dia seguinte. Ora, isso não foi nada mais do que uma grande liberação do poder da alma, pois ele havia preenchido a condição para sua liberação.
Exemplo 6 - Visões e Sonhos
Atualmente muitas pessoas nas igrejas estão buscando ter visões e sonhos. Se alguém me perguntar se creio nisso, respondo que não me oponho a nenhum deles. Eu mesmo tenho tido algumas experiências e às vezes podem ser úteis. Todavia quero chamar sua atenção para a fonte deles. De onde vêm: são de Deus ou não?
Quão freqüentemente numa reunião alguém começa a contar ter tido uma visão e isso dá origem a uma avalanche de visões, até que todos na congregação chegam a testificar terem tido visões e sonhado sonhos. Ouvindo sobre visões as pessoas começam a orar pedindo a Deus para lhes dar a mesma experiência. Elas jejuarão e orarão por muitas noites se uma visão não for concedida. Gradativamente seus corpos enfraquecerão, suas mentes se tornarão vagas e suas vontades' perderão todo o poder de resistência. Aí elas recebem o que é chamado de visão e sonho. Não há dúvida de que elas recebem algo, mas como recebem estes sonhos e visões? Eles vêm de Deus? Tolerâncias tais como deixar a mente ficar vaga e a vontade passiva é definitivamente contra o ensino da Bíblia. Estas pessoas simplesmente se hipnotizam.
Algumas pessoas são propensas a sonhar e parecem ter condições de interpretar seus sonhos, embora freqüentemente seja de modo absurdo. Eu tive um médico amigo que parecia ter facilidade para sonhar. Cada vez que eu o via, ele me contava novos sonhos e interpretações. Ele sonhava quase toda noite e freqüentemente tinha três ou quatro sonhos numa só noite. Por que acontecia isso? Era porque Deus queria tanto dar a ele sonhos? Eu sei a razão. Ele era alguém que vivia a sonhar durante o dia e por isso sonhava à noite também. Era bem interessante encontrar um médico tão inteligente com pensamentos tão confusos. Sua mente desenhava quadros continuamente de manhã ao anoitecer, e não tinha como controlar seu pensamento. O que ele sonhava à noite era o que ele tinha pensado durante o dia. Por causa disso roguei a ele de modo bem direto dizendo que se não resistisse a estes sonhos ele seria finalmente enganado e sua vida espiritual não poderia crescer. Graças a Deus, ele melhorou mais tarde. Disso conhecemos que muitos dos sonhos não são de Deus; são simplesmente os resultados de uma mente dispersa.
Examine a Fonte
Alguns buscam visões, outros professam ter visto uma luz ou chama e outros mais declaram que tiveram sonhos. Seguindo seus testemunhos, muitos outros começam a afirmar que tiveram experiências semelhantes. Não me oponho a tais coisas, mas examino a origem delas. Elas vêm da alma ou do espírito? É bom lembrar que qualquer coisa feita no espírito pode ser duplicada pela alma; mas qualquer coisa que é copiada pela alma serve apenas para imitar o espírito. Se não examinarmos a fonte desses fenômenos seremos facilmente enganados. O ponto mais importante aqui não é negar estas coisas, mas sim examiná-las para ver se emergem da alma ou do espírito.
Diferenças nos Resultados
Qual é a diferença nos resultados entre a operação do espírito e a da alma? Isto nos fornecerá um indício principal entre aquilo que é do espírito e aquilo que é da alma. "O primeiro homem, Adão, tornou-se alma vivente; o último Adão, espírito vivificante" (I Co. 15:45). Paulo diz aqui que o primeiro Adão tornou-se uma alma vivente. A alma está viva. Ela tem sua vida e portanto capacita o homem a fazer toda sorte de coisas. Isto se refere à posição que Adão tinha. Depois o apóstolo continua: "o último Adão tornou-se espírito vivificante:" Esta palavra é digna de maior atenção; ela é bastante preciosa e significativa. A diferença nos resultados entre as operações do espírito e da alma é claramente dada aqui. A alma está viva e tem vida em si mesma. O espírito, entretanto, é capaz de dar vida aos outros. O espírito porém, não apenas tem vida em si mesmo, como também pode fazer outros viverem. Somente o espírito é capaz de vivificar pessoas para vida. A alma, a despeito de quão forte ela seja, não pode comunicar vida aos outros. "É o espírito;" diz o Senhor, "quem dá vida; a carne nada aproveita" (Jo. 6:63).
Devemos distinguir estas duas operações muito claramente, porque é da maior importância. Ninguém pode trabalhar satisfatoriamente se estiver confuso neste ponto. Deixe-me repetir: a alma está verdadeiramente viva mas não pode fazer outros viverem. O espírito, por outro lado, não apenas está vivo mas além disso dá vida aos outros. É por isso que declaro com tanta ênfase que precisamos dar de mão do nosso poder da alma. Tudo o que é da alma não tem valor. Não estamos discutindo sobre terminologias, porque isso é um grande princípio. Embora a alma esteja viva, ela não tem como fazer os outros viverem. Por isso, ao ajudar alguém devemos desejar do mais profundo do nosso ser e não ajudar simplesmente suas mentes. Não devemos trabalhar segundo a força psíquica visto que ela não pode salvar nem ser útil a ninguém. Quão cuidadosos devemos ser. Como devemos recusar qualquer coisa que venha da nossa alma. Pois ela não apenas não pode ajudar os outros como também é empecilho para a obra de Deus. Ela ofende a Deus como também O priva da Sua glória.
O Perigo Das Operações No Poder da Alma
Deixe-me usar algumas ilustrações comuns para mostrar a diferença entre as operações do espírito e da alma. Todavia não vou mencionar aqueles casos miraculosos porque já fiz isso atrás. Podemos dizer que é bastante comum na igreja hoje trabalhar pelos meios psíquicos. Quão freqüentemente os métodos psicológicos são usados nas reuniões de ministério para atrair as pessoas! Como os métodos psíquicos são em pregados nas reuniões dos crentes para estimular os ouvintes. Observando os métodos usados podemos julgar que tipo de trabalho está sendo realizado. Deixe-me dizer francamente que muitos sermões só podem ajudar as almas das pessoas mas não seus espíritos. Tais mensagens são dadas a partir da alma e por isso só podem alcançar a alma do homem e fornece-lhe um pouco mais de conhecimento mental. Não devemos operar desse modo, porque tal obra nunca penetra no espírito do homem.
Como muitas reuniões de avivamento são conduzidas? (Não sou contra o reavivamento dos crentes, isto eu devo tornar bem claro. Só estou perguntando se o modo de conduzir tais reuniões hoje é do espírito.) Não é verdade que em muitos encontros de reavivamento uma espécie de atmosfera é primeiro criada a fim de fazer com que as pessoas se sintam aquecidas e entusiasmadas? Um corinho é repetido uma e outra vez para aquecer o auditório. Algumas estórias emocionantes são contadas para provocar a entrega de testemunhos. Estes são métodos e táticas mas não o poder do Espírito Santo. Quando a atmosfera está quase aquecida plenamente, o pregador então se levanta e prega. Enquanto prega ele já está ciente do tipo de resultado que alcançará naquele dia. Ele tem várias estratégias preparadas. Pela manipulação inteligente ele pode saber de antemão que uma certa classe de pessoas sentirá calafrios, outra chorará e haverá confissão e tomada de decisões.
Tal espécie de reavivamento precisa ser renovado de um em um ou de dois em dois anos, porque o efeito do remédio dado anteriormente passará e antiga situação retornará. Para alguns, o efeito de um avivamento anterior se desfará dentro de apenas umas poucas semanas ou meses. Grande zelo e disposição são realmente exibidos no início do avivamento, mas depois de pouco tempo acaba e desaparece. Isto não tem outra explicação a não ser a ausência da vida.
Se as estórias de muitos crentes fossem registradas, elas conteriam a história dos avivamentos: avivamentos após quedas, e quedas após avivamentos. O estimulante usado no primeiro avivamento tem que ser aumentado para dosagem maior no segundo. A fim de ser eficaz o método empregado no segundo deve ser mais emotivo e emocionante. Eu sugeriria que este tipo de método poderia ser melhor descrito como uma injeção de "morfina espiritual'." Ela precisa ser injetada uma e outra vez. É evidente que a alma só pode viver por si mesma mas não tem poder para fazer outros viverem. Operar pelo poder da alma--ainda que as pessoas chorem, tomem resoluções e se tornem zelosas--é, praticamente falando, igual a nada.
O Espírito Dá Vida
O que é regeneração? É o recebimento da vida ressurreta do Senhor Jesus. Por que a Bíblia diz que somos regenerados por meio da ressurreição do Senhor ao invés de ser pelo nascimento do Senhor?
Porque a nova vida recebida é mais do que a vida de Belém. Aquela vida que é nascida em Belém estava para morrer, mas a vida de ressurreição não morre nunca. "Eu sou (...) o que vivo; fui morto, mas eis aqui estou vivo pelos séculos dos séculos" (Apoc. 1:17,18). A vida de ressurreição nunca morre mas vive para sempre. A vida que é nascida está na carne e portanto, pode morrer. O que recebemos na regeneração é a vida que vive para sempre e nunca morre.
O que é ressurreição? Suponhamos que haja um cadáver aqui. É absolutamente impossível ressuscitar um morto pelos meios humanos. Não importa quanta energia é exercida e quanto calor usado, o morto não voltará à vida. A única forma de fazê-lo viver é colocar a vida de Deus nele. Esta vida que vivifica o morto é a vida de ressurreição, e isto é ressurreição.
Que situação é pior do que a morte? O que é mais frio do que a morte? Um cadáver se deteriorará e apodrecerá mais e mais, mas quando a vida de ressurreição é comunicada, a morte é tragada pela vida. Consequentemente, uma pessoa regenerada é capaz de resistir a qualquer coisa que pertença à morte e resistir todas as coisas mortas.
O que se segue é uma ilustração que tem sido usada para explicar a ressurreição. Havia um certo homem que não acreditava na ressurreição, Ele era importante entre um círculo de ateus. Depois que ele morreu, o epitáfio sobre sua sepultura dizia: "Sepulcro Inquebrável". O túmulo havia sido construído com mármore. Surpreendentemente, aquele grande sarcófago de mármore partiu-se um dia. Aconteceu que uma bolota caiu na fenda das pedras durante a construção. Gradativamente ela cresceu num grande carvalho e eventualmente rompeu amplamente o túmulo. Uma árvore tem vida e por isso pode arrombar um lugar de morte. Somente a vida pode conquistar a morte. Isso é regeneração, isso é ressurreição.
O espírito vivifica; somente ele pode comunicar vida. É isto que precisamos observar. Mas infelizmente existem muitos substitutos para o espírito em nossos dias.
A Alma Deve Ser Tratada
Deus só trabalha com Sua própria força; consequentemente devemos pedir nEle para amarrar nossa vida da alma. Cada vez que trabalhamos para Deus precisamos primeiro tratar conosco mesmos, nos colocando à parte. Devemos por de lado nossos talentos e pontos fortes, e pedir a Deus para amarrar estas coisas. Devemos dizer a Ele: "Ó Deus, quero que Tu operes; não quero depender do meu talento e poder. Peço-Te que operes, porque de mim mesmo nada posso fazer:"
Muitos obreiros hoje consideram o poder de Deus insuficiente e por isso acrescentam o deles próprios. Trabalhar sobre tal base não somente é inútil como também prejudicial. Lembre-se que a obra do Espírito Santo nunca tolera a intromissão da mão do homem. Freqüentemente digo que na obra de Deus o homem deve ser como uma figura num papel, a qual não tem vida e nada pode fazer. Ele precisa de um influxo de vida para capacitá-lo a trabalhar. Neguemos a nós mesmos até ao ponto de nos tornarmos como figuras num papel, não tendo poder algum em nós mesmos. Todo o poder deve vir de cima; todos os métodos usados também devem vir de cima. Sabemos que somente o Espírito é quem vivifica. Deus opera pelo Espírito. Se desejarmos que Deus opere, devemos pedir a Ele para amarrar nossa vida da alma; caso contrário Ele não tem liberdade para operar.
"Em verdade, em verdade vos digo: Se o grão de trigo caindo na terra não morrer, fica ele só, mas se morrer, da muito fruto. Quem ama a sua vida, perdê-la-á; e quem neste mundo odeia a sua vida, guardá-la-á para a vida eterna" (Jo. 12:24,25). A palavra "vida" aqui no Grego indica a "alma". Significa que qualquer que quiser preservar sua vida da alma perderá sua vida da alma; mas aquele que perder sua vida da alma guardá-la-á para a vida eterna. Esta é uma ordem singular do Senhor. Ele fala em tais termos a fim de explicar o significado das palavras anteriores: "Se o grão de trigo caindo na terra não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto:" Primeiro ele morre, depois algo acontece. Se um crente não põe de lado sua própria vida da alma, o espírito nunca poderá operar e desse modo beneficiar outros. A fim de realizarmos uma obra mais profunda para o Senhor, precisamos tratar de forma prática com nossa alma. A vida da alma precisa ser perdida. Um grão de trigo é bom e sua cor dourada é muito bonita. Mas se for colocado sobre a mesa ele permanecerá um grão mesmo depois de cem anos. Ele nunca acrescentará mais nenhum grão. Todos os nossos poderes da alma são como aquele grão de trigo que não caiu na terra. Ele nunca pode produzir fruto.
Podemos considerar este problema com toda a seriedade? Aquela vida de ressurreição, que é santa e sem mácula e que possuímos agora, pode produzir muito fruto? Alguns perguntam por que não podem ajudar ou salvar as pessoas; outros indagam por que carecem de poder na obra. Muito confessam que não têm poder. Eu respondo que a razão deles não terem poder para operar está no grande poder que possuem em si mesmos. Visto que já possuem grande força neles mesmos, onde está a oportunidade para Deus operar? Usando a própria sabedoria, método, força ou habilidade natural, os crentes bloqueiam a manifestação do poder de Deus.
Muitos fenômenos miraculosos são realizados pela força da alma e não por Deus. Como esperar resultados bons e duradouros se substituem o poder de Deus por suas próprias habilidades naturais? Muitas reuniões de avivamento parecem ser bem sucedidos no momento, mas depois, voltam a zero nos resultados. Não há dúvida de que alguns avivamentos ajudam as pessoas. Mas estou me referindo aqui às obras feita por meio de métodos humanos. Posso declarar solenemente que qualquer que almeja uma obra melhor e mais profunda não deve falar sobre poder? Nossa responsabilidade é cair na terra e morrer. Se morrermos, então o produzir fruto será bastante natural.
O que o Senhor diz a respeito daquele que perde sua vida, isto é, aquele que odeia sua vida neste mundo? Ele a guardará para a vida eterna. É como se eu tivesse eloqüência e ainda assim não quisesse usá-la. Meu coração não está colocado na eloqüência; eu não a usarei como meu instrumento de trabalho. Eu perco minha eloqüência e recuso depender dela. Qual é o resultado? Eu ganho vida; isto é, sou capacitado a ajudar os outros em vida. A mesma coisa acontece com minha capacidade de gerenciar ou qualquer outra habilidade: eu me recuso a usá-la. Ao invés disso, aguardo diante de Deus. Assim eu realmente farei bem às pessoas. Aprendamos portanto, a não usar nosso próprio poder a fim de que possamos dar muito fruto.
O poder deve ser obtido na base da ressurreição. Ressurreição é viver além da morte. O que precisamos é não de maior poder mas de morte mais profunda. Precisamos resistir a todo poder natural. Aquele que não perdeu sua vida da alma, não conhece nada de poder. Porém aquele que passou pela morte está de posse da vida. Qualquer que perde sua vida da alma, à semelhança do grão de trigo que cai na terra e morre, crescerá na vida de Deus e produzirá muito fruto.
Creio que muitas pessoas são tão ricas e fortes que não dão chance de Deus operar. Freqüentemente me lembro das palavras "desamparado e desesperançado." Devo dizer a Deus: "Tudo o que tenho é Teu; eu mesmo nada tenho. Fora de Ti eu estou verdadeiramente desamparado e desesperançado:" Devemos ter uma atitude de dependência para com o Senhor, como se não pudéssemos inalar e exalar sem Ele. Qualquer coisa que temos vem dEle. Oh como Deus Se deleita em nos ver chegando a Ele desamparados e desesperançados.
Certa vez um irmão me perguntou: "Qual é a condição para a operação do Espírito Santo?” Ao que respondi: "O Espírito Santo nunca Se envolve em ajudar o poder da alma. O Espírito Santo precisa nos levar primeiro ao lugar onde não podemos fazer nada por nós mesmos." Aprendamos a recusar tudo aquilo que vem dos nossos egos naturais. Seja miraculoso ou comum, devemos recusar tudo aquilo que não vem de Deus. Ele então demonstrará Seu poder para realizar aquilo que pretendeu fazer.
O Exemplo do Senhor
"Disse-lhes, pois, Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que o Filho de si mesmo nada pode fazer, senão o que vir o Pai fazer; por que tudo quanto ele faz, o Filho o faz igualmente" (1o. 5:19). O Filho não pode fazer nada de Si mesmo. Em outras palavras, de todas as coisas que o Senhor realizou, nenhuma delas Ele fez por Si mesmo. Esta é a atitude contínua do Senhor. Ele nada faz por Seu próprio poder ou segundo Sua própria idéia. Ele recusa qualquer coisa que possa vir dEle mesmo. Entretanto, existe alguma coisa errada com Sua alma? Seu poder da alma não é bastante utilizável? Visto que Ele não tem o menor indício de pecado, para Ele não seria pecaminoso usar Seu poder da alma. Todavia, Ele afirma que o Filho nada pode fazer de Si mesmo. Se um Senhor tão santo e perfeito como Ele Se recusa a usar Seu próprio poder, e quanto a nós?
O Senhor é tão perfeito, todavia em toda a Sua vida Ele demonstrou ser desamparado e desesperançado em Si mesmo, dependendo somente de Deus. Ele veio ao mundo para fazer a vontade do Pai em todas as coisas. Nós que somos apenas uma partícula de pó, na verdade não somos nada. Devemos por de lado a força psíquica e recusar qualquer coisa que venha do poder da alma, antes que possamos trabalhar com força espiritual e produzir muito fruto. Que Deus nos abençoe.
Extraído do Livro " O Poder Latente da Alma" de W Nee.
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