Mesmo numa leitura superficial do Novo Testamento, logo reparamos que o Espírito Santo ora chama nosso Senhor de “Jesus Cristo”, ora de “Cristo Jesus”. E por quê ? Seria apenas para dar variedade ao texto? Ou há alguma diferença entre estes dois nomes? Este estudo sugere algumas respostas a estas perguntas.
Introdução
Antes de considerar os significados dos nomes “Jesus” e “Cristo” (e suas formas compostas), quero deixar claro que, se cremos na inspiração verbal da Bíblia (e não há como estudar a Bíblia sem ver inúmeras provas desta verdade), é impossível imaginar que o uso de nomes e títulos diferentes, em contextos diferentes, seja apenas aleatório. Se o Espírito Santo cuidou da inspiração das Escrituras até a nivel de palavras, haverá uma razão em cada palavra usada e em cada palavra omitida. Quanto aos nomes do Senhor, é minha convicção firme que em cada ocasião é usado o nome que o Espírito Santo escolheu para aquele contexto, e sempre haverá lições preciosas no estudo destas ocorrências. Talvez eu não possa explicar o motivo de determinado nome ser usado em certo versículo, mas a Palavra de Deus é perfeita em todos os seus detalhes.
Pois bem, com isto em mente, passemos ao estudo dos nomes em si.
Jesus
O nome “Jesus” é mais comum no Novo Testamento do que “Cristo” [veja Nota 1]. É o nome que nos lembra do Homem, daquele que nasceu humilde numa manjedoura , do desprezado carpinteiro de Nazaré, daquele que saiu fora de Jerusalém carregando a Sua própria cruz, zombado e maltrado pelos homens. Os homens não o conheciam como “Cristo” (Mt 16:16 é uma exceção), mas como “Jesus”.
Este é, sem dúvida, o Seu nome humano [veja Nota 2], mas mesmo aqui vemos a prova da Sua divindade, pois “Jesus” é a forma grega de um nome derivado de duas palavras do hebraico: a primeira significa “Jeová”, e a outra quer dizer “salvação” ou “Salvador”. Portanto, “Jesus” quer dizer “a salvação de Jeová”, ou “Jeová é Salvador”. Foi exatamente isto que José ouviu em sonho: “Chamarás o Seu nome Jesus; porque Ele salvará o Seu povo dos pecados deles” (Mt 1:21).
A primeira sílaba deste nome é “Jeová”, lembrando-nos dum fato sublime: este Jesus, que o mundo desprezou e continua a desprezar, é Jeová, o grande “Eu sou” do Velho Testamento. Prezado leitor, permita que esta verdade penetre no seu coração: aquela criança que, ao nascer, foi colocada “numa majedoura, porque não havia lugar para eles na estalagem”, é o Criador dos céus e da terra, o Deus Todo-Poderoso, o próprio Jeová! Como disse alguém, enquanto Maria o segurava em seus braços, Ele sustentava o universo em Sua mão! Uma criança indefesa? Não; Jeová manifesto em carne!
Lembre de João 12? Alguns gregos disseram a Filipe: “Senhor, queríamos ver a Jesus”. E quem era este Jesus? João nos diz nos vs. 40-41 que Ele é aquele que Isaías viu num alto e sublime trono, do qual os serafins diziam: “Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos; toda a terra está cheia da Sua glória”.[veja Nota 3]
Jesus é Jeová; que verdade majestosa. Mas como alguém já destacou, se fosse apenas isto, seria um nome majestoso, glorioso, porém assustador. Se Ele fosse apenas Jeová, estaríamos maravilhados ante a Sua glória e majestade, mas não poderíamos nos aproximar dEle. “Nem as estrelas são puras aos Seus olhos. Quanto menos o homem, que é verme” (Jó 25:5-6). Poderíamos temê-Lo e respeitá-Lo, mas Ele seria um Deus distante, nossos pecados fazendo separação entre nós e Ele. Mas eis a verdade sublime: Ele é Jeová, sim, em toda a Sua glória, mas Ele é também Salvador! Foi esta a visão que teve o velho Simeão, ao segurar em seus braços o menino Jesus: “Os meus olhos viram a Tua salvação” (Lc 2:30). Ele é o único que pode nos levar a Deus; Ele é o único Salvador.
Jesus: “Jeová é Salvador” — que nome precioso! Toda a majestade, glória e poder de Jeová, e todo o amor, misericórdia e compaixão de um Salvador. Com razão cantamos:
Nunca dos homens se ouvirá,
Nunca nos santos céus de luz
Mais doce nota soará
Que o nome de Jesus. (Hinos e Cânticos n. 8)
Como afirmamos acima, porém, apesar deste nome ser tão precioso para o cristão, é o nome que nos lembra que Ele foi humilhado e desprezado pelos homens.
Cristo
Em contraste com isto, temos o nome “Cristo” (mais propriamente um título). É derivado da palavra grega para ungir [veja Nota 4], da mesma forma que “Messias” (no hebraico) quer dizer “o ungido”. Este nome nos lembra que Cristo é o ungido, o escolhido de Deus. Em Israel, sacerdotes (Êx 40:15), reis (I Sm 9:16) e profetas (I Re 19:16) eram ungidos, um símbolo que indicava que Deus os havia separado para alguma obra em relação ao Seu povo. Todos estes, porém, falharam, mas Deus nos apresenta o Seu Cristo, o Seu Ungido, o Seu Sacerdote, Profeta e Rei, que cumpriu plenamente o propósito de Deus. “Cristo” é o nome que fala-nos daquele que o Pai escolheu.
Este é o nome que está associado com a Sua glória. Quando Pedro O confessou como “o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16:16), o Senhor “advertiu os discípulos que a ninguém dissessem ser Ele o Cristo” (v. 20, ARA); não era ainda chegada a Sua hora. Depois da Sua ressurreição, porém, o mesmo Pedro pregou ousadamente aos judeus dizendo que “este Jesus, que vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo” (At 2:36). Deus O elevou sobre todo principado e potestade; Deus O fez Cristo.
“Cristo”, portanto, lembra-nos que Ele foi escolhido e exaltado por Deus.
Conclusão
“Jesus” é o nome da Sua encarnação, mais comum nos Evangelhos; “Cristo” é o nome da Sua exaltação, mais comum nas epístolas [veja Nota 5]. “Jesus” nos fala do Homem desprezado; “Cristo” nos fala do Senhor glorificado.
Quando unimos estes nomes, percebemos então lições preciosas ao ver a ordem em que são usados. “Cristo Jesus” lembra-nos do Messias que se fez Homem; é o nome que fala da humilhação daquele que Deus escolheu (primeiro “Cristo”, depois “Jesus”). “Jesus Cristo”, por outro lado, fala-nos do Homem que foi escolhido e ungido por Deus; é o nome que fala da exaltação daquele que os homens desprezaram (primeiro “Jesus”, depois “Cristo”).
Uma ilustração desta verdade é facilmente vista em Fp 2:5-11. Nos vs. 5-8, onde o assunto é a humilhação do Senhor Jesus, o Espírito Santo leva Paulo a usar o nome “Cristo Jesus” (v. 5). Nos vs. 9-11, onde o assunto é a exaltação que o Filho recebeu, o nome muda para “Jesus Cristo” (v. 11).
Prestando atenção nestas diferenças, perceberemos muitas lições preciosas, e muitas confirmações da autoria Divina das Escrituras.
Notas de Rodapé
[Nota 1] “Jesus” ocorre aproximadamente 983 vezes em 942 versículos (este número poderá variar, dependendo do manuscrito pesquisado, mas a variação será mínima), ao passo que “Cristo” ocorre aproximadamente 569 vezes em 530 versículos diferentes; isto é, “Cristo” ocorre aproximadamente 58% das vezes que “Jesus” ocorre (quase a metade).
[Nota 2] É preciso tomar muito cuidado para não separar aquilo que Deus uniu, e que é inseparável. Jamais podemos cair no erro de procurar separar, como dizem alguns, as “duas naturezas” do Senhor Jesus, como se Ele fazia determinadas coisas como Homem, e outras como Deus. Ele é um Ser completo, plenamente Homem, plenamente Deus, não um ser mitológico, meio homem e meio Deus. Ele sempre foi, e sempre será, perfeito em todos os aspectos da Sua pessoa, e jamais deixou de ser Deus, mesmo estando no ventre de Maria. Que mistério da graça de Deus! Não podemos compreendê-lo, jamais devemos tentar explicá-lo.
Portanto, quando falo do “nome humano” do Senhor quero dizer o nome que Ele recebeu ao nascer, o nome que nos lembra mais da Sua encarnação do que da Sua glória eterna, o nome que está associado à Sua humanidade.
[Nota 3] Compare Jo 12:40 com Is 6:9-10. E leia novamente Jo 12:41: “Isaías disse isto quando viu a Sua glória, e falou dEle”. Dele, quem? “De Jesus”, diz João; “Do Senhor dos Exércitos”, diz Isaías. E não há contradição, pois Jesus é Jeová!
[Nota 4] É interessante notar que há duas palavras diferentes no grego que significam “ungir”. Uma delas (aleipho) é usada somente de unções normais, segundo o costume dos judeus de ungir um visitante, etc. Ela ocorre somente nove vezes, em Mt 6:17; Mc 6:13; 16:1; Lc 7:38, 46; Jo 11:2; 12:3; Tg 5:14. Já a outra palavra (chrio; pronuncia-se crío) refere-se a unções cerimoniais, segundo o costume religioso dos judeus. Esta palavra, da qual é derivada Cristo, ocorre apenas cinco vezes no Novo Testamento: aprendemos que Cristo foi ungido pelo Espírito Santo (Lc 4:18) e pelo Pai (At 4:27; 10:38; Hb 1:9). Na quinta referência, aprendemos que Deus também ungiu-nos a nós (II Co 1:21).
[Nota 5] Nos Evangelhos, o nome “Jesus” ocorre (sozinho ou com outros nomes) aproximadamente 625 vezes, enquanto que “Cristo” (sozinho ou composto) ocorre aproximadamente 60 vezes (isto é, menos de um décimo). Já em Atos e nas Epístolas, enquanto “Jesus” ocorre aproximadamente mais 358 vezes, “Cristo” ocorre aproximadamente 511 vezes. Fica claro, portanto, que “Jesus” é o nome dos Evangelhos, e “Cristo” é o nome mais identificado com o Senhor ressurrecto
Para a Edificação do Corpo de Cristo!! Mateus 5:9 Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos maduros de Deus.
quinta-feira, 21 de agosto de 2008
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