quinta-feira, 24 de julho de 2008

Como é Possível Compreendermos Hoje o que é “Igreja”?


Como é Possível Compreendermos Hoje o que é “Igreja”?

A verdade sobre a Assembléia ou Igreja de Deus é muito simples, como também toda a
Palavra, a não ser que queremos pô-la em acordo com os nossos pensamentos.
O apóstolo Paulo foi chamado pelo Senhor, para instruir os crentes (os verdadeiros salvos)
sobre tudo o que diz respeito à Igreja. A verdade da união dos crentes com Cristo no céu já é
contida na resposta do Senhor a Saulo, quando estava no caminho para Damasco: “Eu sou
Jesus, a quem tu persegues” (At 9:5). Saulo aprendeu disso, que, perseguindo os cristãos, estava
perseguindo o próprio Senhor Jesus.
A partir de então, o Senhor revelou a Paulo toda a verdade referente à Igreja, seu caráter, a
reunião de todos os filhos de Deus, tanto de entre os judeus como também de entre as nações,
em um corpo, do qual Cristo é o Cabeça glorificado no céu. Também lhe revelou a Sua vontade
sobre a ordem e administração da Igreja (veja Atos 26:16-18; também as epístolas aos Efésios,
Colossenses e Coríntios, a Timóteo e Tito).
Em todos os lugares onde Paulo anunciava o evangelho, os recém-convertidos se reuniram
como membros do Corpo de Cristo e formaram na sua localidade a Igreja ou Assembléia. A sua
epístola aos Coríntios ele dirigiu à “igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em
Cristo Jesus, chamados santos, com todos os que em todo lugar invocam o nome de nosso
Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso” (1 Co 1:1-2). Isto pode se dizer ainda hoje dos
crentes que se encontram num certo lugar. A verdade não mudou! Mas como a compreendemos?
Em todos os lugares, os cristãos estavam reunidos em nome do Senhor ou ao Seu nome (veja
Mt 18:20), segundo as instruções do apóstolo, tais como as possuímos nas epístolas dele. No
primeiro dia da semana, durante o culto, tomaram a Ceia da maneira como o Senhor a havia
instituído na noite, na qual foi traído. Ele mesmo recordou Paulo disso (1 Co 11:23-25).
Celebrando a Ceia em recordação da morte do Senhor, então compreenderam ao mesmo tempo a
comunhão, não apenas entre si, mas também com todos os crentes no mundo inteiro.
A mesa é, na Palavra de Deus, o lugar onde se exerce a comunhão (2 Sm 9:13; Mt 22:1-11;
Ap 3:20 etc.). Paulo diz em 1 Co 10:15-16: “Falo como a entendidos; julgai vós mesmos o que
digo. Porventura, o cálice de bênção que abençoamos não é a comunhão do sangue de Cristo?
O pão que partimos não é, porventura, a comunhão do corpo de Cristo?” Nesta passagem
igualmente se trata de comunhão, e não apenas de recordação. Ter comunhão significa
participar de uma mesma coisa. Esta comunhão não existe apenas visando o sangue e o corpo
do Senhor, mas ela se manifesta também entre todos os membros do Corpo de Cristo, segundo
versículo 17 deste mesmo capítulo: “Porque nós, sendo muitos, somos um só pão e um só
corpo; porque todos participamos do mesmo pão.” Desta forma, essa passagem introduz uma
outra verdade importante: O pão partido na Mesa do Senhor é a expressão de todo o Seu corpo
espiritual formado de todos os crentes. Toda congregação reunida em volta da Mesa do Senhor,
portanto, na sua localidade é a expressão de toda a Igreja. Parte-se o pão naquele lugar na
condição de membro do Corpo de Cristo, e não como membro de uma igreja particular ou de
uma comunidade cristã. Para compreender esta unidade, um filho de Deus admitido à Mesa numa igreja, também é considerado em comunhão em todas as igrejas baseado em carta de
recomendação. Isto porque este membro do Corpo de Cristo foi admitido em comunhão numa
igreja, que representa toda a Igreja — seja que ela consiste em duas ou três ou em trezentas
pessoas. As igrejas, pois, não são independentes umas das outras. É por essa razão que um
membro que havia de ser excluído de uma igreja, também é excluído de todas as outras igrejas
locais.
Estas verdades tão simples foram retidas pelas igrejas nos tempos dos apóstolos. Logo, porém,
pela mão do homem, tudo foi destruído como acontece com tudo que é confiado à sua
responsabilidade. O que é de Deus, porém, permanece: A Sua Igreja, tal como Ele a vê segundo
os Seus propósitos, sendo o resultado da obra do Seu Filho, edificado por Ele. Nem tampouco a
verdade no seu íntegro mudou. Ela continua a Igreja de Deus; e a Sua Palavra ainda tem a
mesma autoridade para ela como a tinha nos dias mais belos da Igreja. Se desejamos
sujeitarmos à Palavra, então temos à disposição as fontes imutáveis de ajuda, para praticar,
mesmo em meio de uma cristandade confessa, aquilo que é Igreja em acordo com os
pensamentos de Deus. Podemos, tal como os discípulos no início, permanecer na doutrina e na
comunhão dos apóstolos, no partir do pão, e nas orações.
Hoje, frente ao fato que os filhos de Deus estão dispersos e separadas em diversas igrejas e
comunidades retendo princípios mais ou menos errôneos, o fato de sermos filhos de Deus na
mesma localidade não é mais base suficiente para nos podermos reunir juntos. O que mais
precisa-se, então, além daquilo que era necessário no início para se reunir segundo a Palavra em
nossos dias? A própria Palavra nos ensina sobre isso.
O Senhor permitiu, que, já nos tempos do apóstolo Paulo, entraram doutrinas maus em certas
igrejas, para que pudesse nos dar instrução por escrito – instrução tal qual precisamos hoje em
dia, sendo que se espalham doutrinas falsas, para ainda pudéssemos realizar , como no início, o
que é Igreja em correspondência à verdade de Deus; verdade essa que permanece imutável da
mesma forma como Ele mesmo o é.
As instruções a respeito que nós precisamos ainda não eram necessários quando Paulo reunia
os recém convertidos, aqueles que haviam recebido o evangelho. As instruções necessárias para
nós, encontramos na segunda epístola ao Timóteo. Já naquele tempo havia cristãos espalhando
erros; eles se haviam desviado da verdade e perverteram a fé de alguns, dizendo, que a
ressurreição era já feita (veja 2 Tm 2:18). “Todavia” diz o apóstolo, “o fundamento de Deus fica
firme, tendo este selo: O Senhor conhece os que são seus, e qualquer que profere o nome de
Cristo aparte-se da iniqüidade” (versículo 19). Em meio da cristandade, na qual o mundo
penetrou e onde não é possível conhecer todos os verdadeiros crentes, temos a promessa
preciosa que o Senhor os conhece. Aqui, o apóstolo, porém, também dirige um apelo sério à
responsabilidade de cada um que profere o nome do Senhor: Retire-te da iniqüidade e não
associe este nome à iniqüidade! “Iniqüidade” não só determina pecados grosseiros, mas tudo
aquilo que está contradizendo os pensamentos de Deus tanto no andar como na doutrina, como
também no que diz respeito a introdução de instituições humanas pela vontade própria na Igreja
ou Assembléia de Deus. Era justo dizer, que a ressurreição já aconteceu? Era esta a afirmação
que perverteu a fé de alguns. Imoralidade e maldade são pecados pesados que provocam
desprezo geral; mas pôr de lado os pensamentos de Deus tão claramente expressas na Palavra
de Deus, e fazer a própria vontade, é sério igual, embora ofenda menos as pessoas.
Portanto, não podemos continuar em comunhão com doutrinas más, que se encontram de
múltiplas formas na cristandade. Como o dono de casa não pode fazer uso dos “vasos para
honra” quando misturados com os “vasos para desonra”, assim também aqueles que invocam o
nome do Senhor não podem ser-Lhe úteis quando associados ao erro. E é possível purificar-se
deste erro apenas por se separar daqueles que o aceitam e também daqueles que continuam em
comunhão com tais pessoas, embora eles próprios não retenham o erro (versículos 20-21).
Precisa-se, pois, purificar destes (e não só destas coisas, como a tradução sugere) e fugir o mal
de qualquer forma. Mas, em vez de ficar só — porque é necessário se retirar do mal
pessoalmente — deve-se seguir a justiça, a fé, o amor e a paz com os que, com coração puro,
invocam o Senhor. Quem age deste forma, será um vaso para honra, santificado, útil ao dono
de casa e preparado para toda boa obra.
Os cristãos encontram na Palavra todas as instruções necessárias com respeito ao andamento
da Igreja no tempo atual, depois de se terem purificado do mal. Estas instruções permaneceram
intactos mesmo em meio da ruína.
A separação do mal é um requisito absoluto para tomar a Ceia na Mesa do Senhor. O mal não
pode estar em comunhão com esta Mesa. Mesmo quando cristãos, que pessoalmente não têm
doutrinas falsas, participam de uma mesa, na qual se tolera tais doutrinas, então eles se fazem
um com aquela mesa. E, se voltarem à uma mesa purificada do mal, então põem esta mesa em
comunhão com o mal. Essa verdade nos é ensinada em 1 Coríntios 10:19-22, onde vemos, que
os coríntios, por meio da sua participação simultânea na mesa dos demônios e na Mesa do
Senhor, associaram a Mesa do Senhor com a mesa dos demônios – havia então comunhão entre
as duas. Hoje não temos mais tanto de lidar com culto aos ídolos, mas o princípio continua o
mesmo. Se admitimos crentes à Mesa do Senhor que retêm erros, então associamos esta Mesa
com o erro, e juntamente também todas as igrejas que se encontram na base da verdade. É isto
que muitos queridos filhos de Deus não podem ou não querem entender. Uns dizem, que o que
diz respeito à uma igreja não teria nada a ver com as outras — isto é independência. Outros
dizem: Tomo a Ceia pessoalmente em recordação do meu Senhor; não preciso ocupar-me com
os outros — isto é abnegação da comunhão. E atentemos bem que a Ceia não é a Ceia do
Salvador, mas sim do Senhor, Cuja autoridade havemos de reconhecer e a Quem devemos
obediência no ato, porque fomos comprados por um preço e por isso somos propriedade Sua.
Num lugar onde há muitos cristãos pertencentes a uma das diversas denominações, ali aqueles
que se separam do mal para serem fiéis ao Senhor são por acaso a Igreja de Deus desta
localidade? De maneira alguma! A igreja local abrange todos os filhos de Deus nesta localidade,
os conhecidos e os desconhecidos; aqueles, porém, que se reúnem segundo a Palavra,
representam a igreja local como também a Igreja em geral. Ao invés de afirmar que eles só
fossem a Igreja de Deus na localidade, a cada vez quando reunidos em volta da Mesa do Senhor
contemplam a igreja local e a Igreja em geral expressa naquele único pão em acordo com
1 Coríntios 10:17. Nos seus pensamentos e corações, se lembram de todos os ausentes,
entristecidos sobre o fato que não podem ter comunhão com todos eles.
É apenas desta maneira que pode-se realizar a verdade preciosa do único Corpo de Cristo em
meio da decadência atual das igrejas responsáveis em contraste com as igrejas e grupos que,
independentemente uns dos outros não se sujeitam às instruções da Palavra.
O desejo de permanecer fiel ao Senhor deveria ser mais precioso ao coração do redimido do
que a alegria de ter comunhão prática com todos os filhos de Deus. Este desejo não impede que
amemos a todos. Estar separado, certamente, traz consigo sofrimento; mas se isso acontecer por
causa de obediência ao Senhor, então a consciência da Sua aprovação e da Sua presença nos
concede grande encorajamento. Se pronunciarmos o nome do Senhor, e com isso
reconhecermos a Sua autoridade, o Seu senhorio, então havemos de guardar igualmente a Sua
Palavra e não devemos negar o nome do Santo e Verdadeiro (Ap 3:7). Tem que levar-se em
consideração que não é entendido pelos próprios irmãos; mas quem foi entendido menos do
que o Senhor? É uma privilégio sabermos que Ele nos entende.
Primeiro obedecer, e depois usufruir — é esta que devia ser a regra do cristão; não deveria
buscar gozo a custo da verdade.
O apóstolo João diz: “Nisto conhecemos que amamos os filhos de Deus: quando amamos a
Deus e guardamos os seus mandamentos” (1 Jo 5:2). Muitos, porém, dizem: “Nisto conhecemos
que amamos os filhos de Deus: quando andamos no mesmo caminho com eles, seja qual for a
maneira da exegese da Palavra; porque todos nós somos irmãos e estaremos juntos no céu.”
Nunca se pode separar o amor da obediência à Palavra de Deus, obediência aos Seus
mandamentos. É esta obediência a expressão de verdadeiro amor para com Deus e os Seus filho
(veja Jo 14:21-23).
Temos que amar todos os irmãos; mas traz sofrimento consigo se não podemos mostrá-lo por
andarmos junto com eles.
Temos que nos humilhar sobre a situação atual da separação e da desobediência.
Confessamos que temos grande parte na decadência da Igreja e na divisão de tantos filhos de
Deus, que todos pertencem ao Corpo de Cristo, a essa única Igreja, que, visando a sua posição
perante Deus, está indivisível.
Que o Senhor conceda a todos nós que andemos na verdade durante este tempo tão curto que
possivelmente ainda nos separa do momento da Sua vinda!

Extraído de: “Halte Fest”, ano 1963, pg. 372-379, Beröa-Verlag, Zurique — Suiça.

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