quinta-feira, 24 de julho de 2008

O Cristão Carnal- Jessie Penn-Lewis

O Cristão Carnal- Jessie Penn-Lewis


“E eu, irmãos não vos pude falar como a espirituais, mas como a carnais, como a criancinhas em Cristo”. (I Co 3:1). A “alma” é o lugar da consciência de s i mesmo ( a personalidade, a vontade, o intelecto), e está situada entre o espírito; o lugar da consciência de Deus; e o corpo; o lugar da percepção, ou da consciência do mundo. Gall diz que a “alma” recebe sua vida, ou poder animador, do espírito (a parte mais elevada), ou da vida animal (a parte mais baixa). Em Latim a palavra “alma” é “anima” o princípio animador do corpo. Na pessoa convertida aqueles que tiveram seus espíritos regenerados ou vivificados pelo Espírito de Deus a alma é dominada por baixo, pela vida animal ou por cima, pela vida do espírito. Pode se dizer, portanto, que há três classes de cristãos (há somente duas classes de pessoas, salvos e perdidos, regenerados e não regenerados; mas diferentes classes de crentes, definidos de acordo com o crescimento e conhecimento da vida de Deus) e estas três classes de crentes são claramente apresentadas nas Escrituras como: 1. A pessoa “espiritual” dominada pelo Espírito de Deus que habita e fortifica seu espírito humano regenerado. 2. A pessoa “almática” dominada pela alma, pelo intelecto ou emoções. 3. A pessoa “ carnal ” dominada pela carne, pelos desejos ou hábitos carnais. A palavra usada em I Coríntios 3:1 não é “psique”, alma; mas “sarkikos”, carnal, o adjetivo da palavra em Romanos 8:7, onde está escrito que “a inclinação da carne (carne sarx) é inimizade contra Deus”. Não é dito que a “psique”, ou a vida almática, é inimizade contra Deus, mas a inclinação carnal. É verdade que o natural, ou a pessoa “almática”, não pode receber ou entender as coisas do Espírito (I Co 2,14), mas não é dito que são inimigos de Deus simplesmente porque são almáticos! “E eu, irmãos não vos pude falar como a espirituais, mas como a carnais, como a criancinhas em Cristo”, escreveu Paulo aos Coríntios, apesar de verdadeiramente regenerados e “em Cristo” eles ainda eram tão dominados pela “carne” que ele somente poderia descrevê-los como sendo ainda “carnais” ou mundanos. Isto foi comprovado pela manifestação das obras da carne em ciúme e contenda, pois ele escreve aos Gálatas, “as obras da carne são manifestas, as quais são: imoralidade,..., feitiçaria,..., ciúme,..., ambição,..., inveja,..., e coisas desse tipo”. (Gl 5:19-21). Qualquer uma destas manifestações vista em um crente indica obras, em algum grau, da “sarkikos”, ou vida carnal, passeando pelas avenidas da alma ou personalidade em ciúme, contenda, etc. Tal pessoa certamente não é “almática” meramente “natural” mas alguém que anda “após a carne”, ainda que seu espírito possa estar renovado e vivificado; aqueles que estão assim, andando “na carne”, não podem agradar a Deus. Paulo descreve estes crentes de Corinto como sendo “carnais” ou mundanos, e ainda “criancinhas em Cristo”, mostra claramente que as “criancinhas em Cristo” estão geralmente debaixo do domínio da carne ou “na carne” no estágio inicial da vida espiritual. Na sua regeneração eles verdadeiramente estão “em Cristo”, vitalmente vivificados com Sua vida e firmados Nele pelo Seu Espírito, como está escrito em João 3:16, “aquele que nEle crer tem a vida eterna”; mas estas “crianças em Cristo”, vitalmente nEle através de uma fé viva, ainda não compreenderam tudo o que a Cruz tira deles pelo fato de serem batizados em Sua morte na Cruz e vivificados pela Sua vida. Parece, pela linguagem de Paulo, que ele culpa estes Coríntios por serem ainda “criancinhas”, pois o estágio de criança não deve ser de muita duração (ver Hb 5:11-14). A regeneração do espírito, que vem através do sopro do Espírito de Vida de Deus, na simples fé da pessoa no sacrifício expiatório do Filho de Deus sobre a Cruz a seu favor, deve ser prontamente seguida pela compreensão da morte do pecador com o Salvador (Rm 6:1-13), a qual traz libertação da vida da “carne”, que os Cristãos de Corinto ainda não tinham manifestadamente conhecido. Paulo esboça muito claramente as marcas do Cristão carnal “criancinhas em Cristo” e por estas marcas todos os crentes do tempo presente podem julgar por eles mesmos se também são “ainda carnais”. Isto nos leva a considerar a libertação da Cruz. “E os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências” (Gl 5:24). Estas são as palavras com as quais Paulo termina sua descrição das “obras da carne” em sua carta aos Gálatas, enquanto realça o “fruto do Espírito” que a pessoa “espiritual” aquela em quem o espírito, habitado pelo Espírito Santo, a guia deveria produzir em seu viver. As “criancinhas em Cristo” que são “ainda carnais” precisam da mais plena compreensão do significado da Cruz; pois no propósito de Deus a morte de Cristo significou que a “velha natureza” foi crucificada com Ele, de maneira que “os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne” com todas as suas afeições e desejos. A mesma Cruz que foi revelada para a pessoa não regenerada como o lugar onde o pecado foi expiado e a carga do pecado removida pelo sangue do Cordeiro é o lugar onde o Cristão “carnal”, que pode ser uma “criancinha em Cristo”, embora regenerado por muitos anos, deve obter libertação do domínio da carne, de maneira que possa andar pelo espírito e não “pela carne”, e assim na devida estação tornar-se uma pessoa espiritual e plenamente crescida em Cristo. Romanos 6 é a Carta Magna da liberdade através da Cruz de Cristo que a “criancinha em Cristo” precisa conhecer, pois ela claramente estabelece a base da libertação, da qual somente uma breve referência é feita em Gálatas 5:24 e em outras passagens. Somente por uma apropriação da morte com Cristo, com a mortificação das “obras” do corpo (Rm 8:13 e Cl 3:5), o crente pode viver, andar e agir no e pelo Espírito, e assim se tornar uma pessoa espiritual. “Quando estávamos na carne, as paixões dos pecados, suscitadas pela lei, operavam em nossos membros para darem fruto para a morte”, escreveu Paulo aos Romanos, “mas agora fomos libertos da lei” (Rm 7:5-6). “Em semelhança de carne do pecado” (Rm 8;3), o puro e santo Filho de Deus pendurado sobre o madeiro, uma “oferta pelo pecado”, e porque Ele morreu pelo pecado e para o pecado no lugar do pecador, Deus assim condenou para sempre uma vida de “pecado na carne” em todos os que estão verdadeiramente unidos ao Seu Filho. Os crentes vivem “na carne” (II Co 10:3), isto é verdade, no tocante ao fato de que ainda estão em seus corpos físicos, mas uma vez que vêem o próprio Filho de Deus em “semelhança de carne do pecado” pendurado sobre o madeiro, e sabem que nEle morreram para o pecado, daquela hora em diante vivem “na carne” (Gl 2:20) tanto quanto o corpo físico é solicitado, mas eles não 'andam' mais “segundo a carne” ou seja, de acordo com as demandas e desejos de seus corpos mas “segundo o espírito” ou seja, de acordo com seus espíritos renovados e habitados pelo Espírito de Deus (Rm 8:5-6). Baseados na obra do Filho de Deus na Cruz do Calvário, na qual os pecadores por quem Ele morreu foram identificados com o Substituto que morreu por eles, os crentes redimidos e regenerados são chamados para “considerarem”, ou se reconhecerem como “mortos para o pecado”, porque “nosso homem velho foi com Ele crucificado”. O Espírito Santo de Deus habitando em seus espíritos, pode então conduzir o propósito divino ao seu resultado final de que o “corpo do pecado” o detentor total do pecado na totalidade da humanidade caída possa ser “destruído” ou abolido, a medida que o povo de sua parte firme, e fielmente recuse deixar que “reine o pecado” (Rm 6:6,11,13). É quando a “criancinha em Cristo” sabe disto que a “carne” cessa de dominar e ter controle, e se levanta em espírito em união real com o Senhor ascendido vivo para Deus em Cristo Jesus. A “criancinha em Cristo”, que compreende isto, agora sabe o completo significado de ser “vivo para Deus”; e anda segundo o espírito e pelo Espírito, cessa de realizar os desejos da carne, e de aqui em diante, entrega ao seu espírito, habitado pelo Espírito de Deus, o domínio de todo o seu ser. Isto não significa que não pode de novo errar em “andar segundo a carne”, mas já que entregou sua mente para as “coisas do Espírito” e se considerou continuamente “morto para o pecado”, então, “pelo Espírito” firmemente “mortifica as obras do corpo” (Rm 8,13) e anda em novidade de vida.

Do livro: “Soul and Spirit” (Alma e Espírito).

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