Uma breve dissertação sobre os termos:
“filhos de Deus” e “adoção de filhos”
Bernd Bremicker
“filhos de Deus” e “adoção de filhos”
Bernd Bremicker
Para essa dissertação nós nos baseamos em principalmente duas passagens como exemplos do uso dos dois termos em questão. O termo “filhos de Deus” encontramos, por exemplo, em 1 João 3:1, a expressão “adoção de filhos” (versão Revista e Corrigida Fiel da SBTB) em Efésios 1:5. Essa última expressão encontramos traduzidos por “filhos de adoção” na edição Revista e Corrigida bem como na edição Revista e Atalizada da SBB e também na edição Alfalit. A NVI traduz: “para sermos adotados como filhos”. De uma ou outra forma, todas as traduções brasileiras e portuguesas usam uma variação do termo “adoção”. Igualmente, todas as traduções concordam sobre o termo “filhos de Deus”.
O problema criado por alguns é o seguinte: Diz-se que, como pessoas renascidas
(termo igualmente questionável; melhor seria “nascido de novo”) que somos por meio da fé no Senhor Jesus, fomos colocados na posição dEle mesmo e somos assim “filhos legítimos”, i.e. “de nascença” e não fomos adotados como uma pessoa na vida natural adota uma criança e assim ela se torna “filho”, porém nunca pelo sangue. Diz-se que isso é diferente com uma pessoa verdaddeiramente crente. Esse ensino é apenas a metade da verdade que a Palavra de Deus nos apresenta. Se perguntarmos como as pessoas chegam a essa conclusão apresentada, veremos o seguinte. Observa-se apenas o primeiro sentido comumente usado hoje em dia da palavra “adoção”. Conforme o mais conceituado dicionário da língua portuguesa, o Aurélio Século XXI, “adoção” quer dizer: “[origem: do lat. adoptione.] substantivo feminino. 1.Ação ou efeito de adotar. 2.Aceitação voluntária e legal de uma criança como filho; perfilhação, perfilhamento.” Se vermos apenas o primeiro significado, a conclusão seria correta. Porém temos que levar em conta toda a gama de significados inerta a essa palavra. Então somos conforntados com o termo “perfilhar / perfilhação”.
O que quer dizer isso? Novamente o Aurélio: “Verbo transitivo direto. 1. Receber
legalmente como filho; filiar, filhar 2. Jur. Reconhecer voluntariamente (filho ilegítimo), no próprio termo do nascimento, mediante escritura pública, ou por testamento. 3.Adotar, defender, abraçar, filhar (uma teoria, um princípio).” O que interessa a nós é significado listado sob o ítem 2 — o uso jurídico do termo. Considerando isso, já vemos que o termo “adoção” não fala apenas de receber alguém como filho, mas que também quer dizer um reconhecimento em todos os sentidos, até mesmo no termo de nascimento. Esse significado é inclusive, também conforme o Aurélio, o primeiro significado da palavra “filiação”, ao menos em português (“[Do lat. tard. filiatione.] Substantivo feminino. 1. Ato de perfilhar. 2. Designação dos pais de alguém. 3.Ato ou efeito de filiar-se. 4. Conexão; dependência; encadeamento. 5. Antrop. Relação social de parentesco entre genitor, ou genitora, e progenitura, e que é, ao menos em parte, a base
da identidade dos novos membros da sociedade e de sua incorporação aos diversos grupos sociais. [F. paral., p. us.: filhação.]”). Somente o quinto (!) significado faz alusão direta à progenitura de alguém.
Em alemão, esse termo foi traduzido na edição de Elberfeld por “Sohnschaft” (que
não quer dizer “filiação” no sentido 5 do Aurélio, mas sim “condição legal como filho com todos os direitos e obrigações”. A palavra adquire esse significado por meio do sufixo “-schaft”. Martinho Lutero já traduziu esse termo por “Kindschaft” na sua primeira edição da tradução dele procedente do ano 1534 (o autor essa edição para consulta sua em seu poder em uma impressão fac-símile). O irmão John Nelson Darby traduziu na edição inglesa de sua tradução por “adoption” e na edição francesa por “pour nous adopter”. Menciono todos esses exemplos apenas para mostrar que existe um consenso comum entre as traduções diferenciando o termo em questão claramente do termo “filhos de Deus” (“Kinder Gottes” em alemão, “children of God” em inglês e “enfants de Dieu” em francês), usado por exemplo em 1 João 3:1.
Vamos agora considerar os termos gregos aplicados. Primeiro: “filhos de Deus”
(tekna qeou). Esse termo grego (“teknon”) dá ênfase no fato do nascimento, na
progenitura de uma pessoa por meio do sangue. Se refere nesse sentido a filhos de ambos os sexos indiferentemente (e assim é aplicado também nas Sagradas Escrituras em várias passagens, por exemplo: Mt 2:18; Mt 7:11; Mt 21:28; Rm 9:8; Fp 2:22; 1Tm 3:4 e 12 e Ap 12:5 etc.). Esse termo no uso comum do grego da época do Novo Testamento se aplicava até mesmo a uma criança ainda não nascida, sublinhando assim a ênfase dada a filiação sangüínea da pessoa até mesmo ainda não nascida. Um segundo significado desse termo faz alusão à relação espiritual entre duas pessoas e designa um descendente num sentido mais amplo (por exemplo: Mt 3:9 – os judeus se nomeiam “filhos de Abraão”; Mt 9:2; Gl 4:25 e 31;Ef 2:3; 1Pe 1:14; 1Pe 3:6; 2Pe 2:14 etc.). Esse termo “filhos de Deus” quer dizer, portanto, exatamente aquilo que as pessoas mencionadas acima ensinam com ênfase: filho legítimo por meio do sangue.
Porém, e agora temos uma certa dificuldade, a Palavra de Deus conhece outros
termos para designar “filhos”. Um deles é a palavra “huios” (“uioj”). Essa expressão faz parte do termo traduzido por “filhos de adoção” que, no grego, é uma palavra única, porém composta — facilidade essa que o português não possui, mas sim, por exemplo, o alemão. Essa palavra grega dá mais ênfase na relação de um filho para com o seu pai. Embora possa se referir à descendência natural e legítima, a nuance no significado não está nisso, mas na dignidade da relação filho – pai. Ela expressa, além disso, uma semelhança no caráter do filho com o do pai ou dos pais. Esse termo também é usado para contrastar à filiação ilegítima de uma pessoa. Interessantemente é esse o termo que sempre encontramos quando o Senhor Jesus é designado como “Filho de Deus”. Ele
nunca é entitulado como “teknon qeou”, mas sempre como “uioj qeou”. Temos
enfatizado, portanto, a dignidade e o caráter da relação filho – pai. Ao contrário de um “teknon” (aplicado no termo “filhos de Deus”), o “uioj” tem a capacidade de adentrar nos pensamentos do pai. Ele sabe estimar a dignidade da sua relação com o pai e sabe corresponder a mesma.
A segunda parte da palavra traduzida “adoção de filhos” é derivado do verbo tithemi (“tiqemi”) que tem o simples significado de “colocar / pôr”. “Adoção de filhos”, portanto, literalmente quer dizer “colocar ou pôr alguém na posição de um ‘uioj’ (filho)”. Além disso, esse termo composto, no grego, era também um termo jurídico usado para “adoção” no seu mais amplo sentido. Assim esse termo quer dizer: “aceitar voluntariamente uma pessoa por meio do novo nascimento e por fé na posição de um filho com todos os direitos e obrigações inertos a essa posição elevada na condição de pessoas inteligentes para corresponderem à dignidade dessa relação”. Não possuímos de nenhuma palavra portuguesa (e nem alemã ou inglesa ou francesa etc.) que expresse com exatidão toda essa gama de sentidos compreendidos por essa expressão grega. Assim sendo, o termo “filhos de adoção” ou “adoção de filhos” ou até mesmo “filiação” (em seu primeiro sentido que vem a ser “adoção”) é correto na tradução de todas as nossas versões bíblicas disponíveis em português e outros idiomas que apresentam esse mesmo problema. Dessa forma, também não existe aquela suposta problemática doutrinária alegada por certas pessoas. O Espírito Santo, e isso temos que admitir, queria expressar duas coisas diferentes usando esses dois termos, simplesmente para nos mostrar mais belezas e mais preciosidades de nossa relação como pessoas salvas do que seria possível expressar pelo simples termo “filhos de Deus”.
O segundo termo não nega a verdade do primeiro, mas sim a complementa de uma forma maravilhosa. Como a palavra “uioj”, até mesmo no grego, é um termo oposto a de um filho ilegítimo e o título exclusivo do Senhor Jesus, nós apreendemos que fomos colocados na mesma posição que Ele próprio possui diante de Deus. Isso não seria possível expressar por meio do termo “filhos de Deus”. Já seria algo grande e excelente possuir esse direito de sermos filhos legítimos de Deus, porém Deus queria mais. Ele queria nos colocar numa posição mui sublime e elevada. Ele nos compartilhou de Seu próprio caráter. Ele nos deu uma herança com todos os direitos que essa traz consigo. Ele nos concedeu a capacidade de correspondermos à essa possição elevada. Por outro lado, Ele nos deu também uma posição sublime no que diz respeito a nossas obrigações para com Ele. Se considerarmos a Palavra de Deus dessa forma e sob essa ótica, teremos mais proveito do que apenas contemplando unilateralmente esse assunto, insistindo na filiação legítima sangüinea nos opondo a outra verdade contido no termo “adoção de filhos”. Essa oposição procede de tradição doutrinária, de má compreensão do próprio português e, por conseguinte, má interpretação desses termos bíblicos por causa de uma opinião pré-formada a respeito. Repito mais uma vez: Podemos usar o termo “filiação”, porém não no sentido número 5 dado no Aurélio (que parece ser na cabeça das pessoas o sentido número 1). Sendo assim, o termo “adoção” parece ser o mais adequado,
também pelo simples fato de ser (e isso também no grego) um termo jurídico.
Meditemos mais sobre esses termos procurando as suas ocorrências na Palavra de Deus e teremos grande lucro espiritual. Uma alegria solene e sublime será a nossa observando o conteúdo desses termos. Infelizmente são poucos dos nossos irmãos que têm acesso integral a essas informações, mas Deus nos deu alguns, entre eles irmãos como John Nelson Darby, que souberam nos explicar a Palavra.
também pelo simples fato de ser (e isso também no grego) um termo jurídico.
Meditemos mais sobre esses termos procurando as suas ocorrências na Palavra de Deus e teremos grande lucro espiritual. Uma alegria solene e sublime será a nossa observando o conteúdo desses termos. Infelizmente são poucos dos nossos irmãos que têm acesso integral a essas informações, mas Deus nos deu alguns, entre eles irmãos como John Nelson Darby, que souberam nos explicar a Palavra.
É certo que também sejam apenas seres humanos sujeitos a erros — e erraram, mas antes de nos posicionar contra alguma coisa que nos deixaram como herança espiritual, um estudo aprofundado dos assuntos em questão é necessário com todos os meios que tivermos à disposição para tal pesquisa. Não tenho problema nenhum com o termo “adoção de filhos” examinado as suas significações no grego e vendo que irmãos como o mencionado irmão Darby também usaram exatamente esse termo para render o termo grego em questão. Consultando “The Bible Treasury”, vol. 4, pg. 213, observei que também o irmão William Kelly concorda com os tradutores nessa passagem de Efésio (ele traduz: “…unto the adoption of children”).
Ocupemo-nos mais com essa verdade sublime, solene, mui preciosa! O Senhor nos dará uma bênção incaculável!
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