Extraído do livro "Arrependimento para a vida" de David W Dyer; você pode fazer o download do ebook aqui no Filho Varão.
“(...) Assim, pois, Deus concedeu também aos
gentios o arrependimento para a vida” (At 11:18 VR).
O versículo citado mostra uma sucessão de eventos. Ele indica uma ação que resulta no recebimento de um benefício. A ação é chamada “arrependimento”. O benefício é descrito como “vida”.
Este processo foi experimentado por todos os participantes da igreja primitiva. O fato de que ele incluía tanto os judeus como os gentios é indicado pela palavra “também”. Era algo básico e essencial pelo qual eles passavam e o considerava fundamental para serem crentes em Jesus.
Essa experiência provou para os crentes judeus e, posteriormente, aos gentios, que tinham se convertido genuinamente. Para eles, o arrependimento e o recebimento dessa vida eram o centro da mensagem de Jesus.
Assim como nos dias do livro de Atos, hoje também é imperativo que cada crente cumpra esse processo e passe pelo mesmo. Todos nós precisamos passar por ele para que nossa fé seja genuína e seus benefícios sejam completamente compreendidos e experimentados.
Para recebermos a totalidade das bênçãos que são nossas em Cristo, é essencial que compreendamos com precisão o que está sendo dito no versículo citado no início. Com este propósito, passaremos um tempo investigando alguns de seus termos.
O QUE É ESSAVIDA?
Para começar, qual o significado exato da palavra “vida”? Todo habitante da terra já tem uma espécie de vida, do contrário, não estariam aqui. Então, que tipo de vida é essa que requer nosso arrependimento para que a tenhamos? Obviamente, é algo que pessoas naturais ainda não têm. É algo que ainda precisam receber.
Talvez alguns pensem que essa “vida” se refere à futura vida no Céu, mas não é este o caso. Outros podem imaginar que ela é uma extensão de sua vida humana, que não morrerão, mas permanecerão vivos para sempre. De qualquer maneira, não é este, também, o significado.
Outros ainda podem supor que este tipo de vida é uma melhoria de sua existência humana, como uma gasolina aditivada que pode dar a eles mais poder e mais quilometragem. Mais uma vez, esse não é o significado de “vida”. A vida mencionada nesse versículo é a preciosa vida de Deus!
Podemos estar certos disso devido ao uso de uma palavra especial para “vida” no texto original em grego. É essa palavra específica que nos dá a verdadeira compreensão. Apalavra “vida” vem de um vocábulo grego peculiar: “ZOÊ”. Ele foi escolhido pelos autores do Novo Testamento para se referir à vida do próprio Deus. Então, entende-se que a vida que pretendemos receber é a vida de outra Pessoa – a vida do próprio Deus.
A língua portuguesa tem somente uma palavra para vida, mas o grego é muito mais rico. Há várias palavras para se referir a diferentes tipos de vida e distingui-los entre si. Todos os crentes deveriam estar cientes dessa distinção, porque isso influencia grandemente nossa compreensão do que certas passagens bíblicas significam.
Por exemplo, lemos, em João 10:10, que Jesus veio para nos dar vida. Porém, que tipo de vida deve ser essa? Se a palavra grega fosse BIOS, Jesus poderia ter vindo para melhorar nossa existência física, ajudando-nos a sermos mais saudáveis ou prósperos. Se a palavra fosse PSUCHÊ, (que também é traduzida como “alma”) poderíamos presumir que Ele veio para nos fazer felizes e equilibrados.
De qualquer forma, a palavra usada aqui não é BIOS, nem PSUCHÊ, e sim ZOÊ, que se refere à vida de Deus Pai, aquela que não foi criada por ninguém. Jesus veio para tornar a vida do Pai disponível para nós e em abundância!
Essa distinção é essencial para entendermos outras passagens das Escrituras, também.
VIDA ETERNA
Essa vida ZOÊ é descrita em outras partes do Novo Testamento como sendo eterna (1 Jo 1:2). A palavra “eterna” no grego é muito especial, porque quer dizer “aquilo que transcende as eras” (AIONION). Portanto, ela aponta para uma vida sem começo e sem fim. É um tipo especial de vida que não nasceu, nem pode morrer; que sempre existiu, existe agora e existirá para sempre.
Apenas Deus possui esse tipo de vida. A Bíblia diz que somente Deus tem “imortalidade” (1 Tm 6:16). Essa é a espécie de vida descrita aqui. Ao longo das eras, Deus tem sido o único ser imortal. Sua vida não apenas não morre ou envelhece como também não pode ser morta por ninguém. É imortal e imutável. Está escrito: “(...) não era possível fosse Ele retido por ela [morte]” (At 2:24).
Agora temos boas novas. Elas são tão maravilhosas que é quase impossível de se crer nelas, ainda que sejam verdadeiras. Deus decidiu compartilhar Sua própria vida com os seres humanos. Ele tomou a decisão de tornar conhecida essa vida sem começo e sem fim aos meros mortais (Jo 3:16).
Quando eles recebem essa vida (ZOÊ), também se tornam seres imortais (2 Tm. 1:10); podem ter a vida eterna de Deus dentro de si. O que significa que jamais poderão morrer. Eles passaram “(...) da morte para a vida [a imortal]” (Jo 5:24).
Se tomarmos uns minutos e meditarmos nessa idéia, tudo isso parece quase inconcebível. A possibilidade de nós, simples seres humanos, recebermos a vida de um ser supremo em nosso interior é simplesmente inacreditável.
O que parece estar sendo oferecido a nós é a oportunidade de deixarmos a raça humana para fazermos parte de outra raça. Essa nova raça consiste em pessoas que receberam uma vida imortal, tão superior à vida humana, que vai além da compreensão natural. Aqueles que fazem parte dessa nova raça são chamados “filhos de Deus”; o que, na verdade, é uma nova espécie, uma nova variedade de ser, que a Bíblia chama de “nova criatura” (2 Co 5:17; Gl 6:15).
Homens e mulheres dificilmente sonhariam com isso. A ficção científica também nunca conseguiu imaginar algo parecido. No entanto, a verdade é que o Deus do universo abriu as portas para que qualquer um que consiga ouvir, entender e corresponder se transforme em algo sem precedentes no universo – algo inédito.
Eles podem receber, dentro si mesmos, a vida de um imensurável Ser superior. Podem permitir que essa vida os preencha por completo e, então, deixar com que ela se manifeste através deles em cada faceta de suas vidas.
Mesmo que alguns não tenham entendido ainda, esta é a verdadeira mensagem do evangelho de Jesus Cristo.
UM IMPEDIMENTO
Ainda existe um problema. Existe uma coisa que impede muitos homens e mulheres de receberem este dom inefável. Há uma barreira no processo de recebimento dessa nova vida. Existe algo que nos impede de receber essa vida e, mesmo quando já a recebemos, também nos inibe de sermos cada vez mais cheios dessa vida. Este problema chama-se pecado.
Deus é supremamente Santo. Ele não é só um pouco santo ou parcialmente santo. Ele é tão intensamente santo que, se uma pessoa pecadora, por alguma razão, adentrasse Sua presença, seria consumida. Agonizaria terrivelmente.
Sua santidade é tão pura, tão concentrada, tão extrema que qualquer coisa que não seja santa não pode permanecer em Sua presença. Um pecador jamais poderia ficar nem ao menos perto de Deus.
A vida de Deus é santa, reta por definição. Sua vida é espontaneamente santa, assim como a vida humana é naturalmente pecadora. Ele não precisa tentar não pecar. Não está tentando resistir à tentação. Ele não possui pecado pelo fato disso ser contrário à Sua natureza. Sua santidade é, simplesmente, quem e o que Ele é. É a Sua própria essência.
Fica claro, com isso, porque os pecadores gostam de ficar longe de Sua presença. Esta é a razão pela qual acham muitas desculpas para negar a existência de Deus. A consciência de uma pessoa não santa já sofre um impacto só de pensar que Deus possa ser real.
Para compreendermos melhor nosso Deus, poderíamos fazer uma analogia com o sol. O sol é, na verdade, uma contínua explosão nuclear. É tão intenso, que só podemos olhar para ele durante alguns segundos e, mesmo assim, com proteção nos olhos. Imagine, então, não apenas olhar, mas chegar perto do sol. Uma pessoa seria consumida pela sua impetuosa intensidade.
O universo consiste em bilhões de estrelas como essa. Talvez haja, na verdade, bilhões de galáxias, cada uma delas cheias dessas incontáveis estrelas. E cada uma dessas estrelas está brilhando, com uma inimaginável intensidade, como o sol. Contudo, nosso Deus, que criou tudo isso, ainda é bem mais grandioso! Ele é muito mais poderoso e a glória de Sua santa presença é ainda mais intensa.
Lemos em Isaías 33:14, o que vai acontecer na intensa presença de Deus: “Os pecadores em Sião se assombram, o tremor se apodera dos ímpios; e eles perguntam: Quem dentre nós habitará com o fogo devorador? Quem dentre nós habitará com chamas eternas?”.
Essa passagem indica com clareza que a presença de Deus é intensamente poderosa e ardente como fogo. Confirmando isso, também está escrito: “Porque o nosso Deus é fogo consumidor” (Hb 12:29). A presença do Criador é um local onde pecador algum conseguirá sobreviver. Ela causa extrema agonia e destruição. Exatamente como o efeito do sol em nosso corpo natural, a intensa presença de Deus é demais para que um pecador a agüente.
Mais uma prova disso é a maneira como a Besta será destruída. Seu fim se dará simplesmente pelo surgimento de Jesus: “(...) o iníquo, a quem o Senhor Jesus matará com o sopro de sua boca e o destruirá pela manifestação de sua vinda” (2 Ts 2:8). É o intenso e glorioso brilho de Sua aparição que destruirá o “homem do pecado”.
Quando estivermos diante de Deus, a verdade – poderosa, pura e não diluída – tomará conta do ambiente. Todo nosso “refúgio da mentira” será varrido (Is 28:17). Todas as desculpas para justificar nosso comportamento, nossas palavras, pensamentos, atitudes e ações; tudo o que fazemos para culpar os outros pela nossa condição; toda imagem que fazemos a nosso respeito – de que somos melhores do que realmente somos – serão vistos com extrema clareza.
A extraordinária presença de Deus produzirá este efeito. Nada permanecerá em segredo ou às escondidas. Tudo o que temos dito, feito ou pensado se tornará evidente diante de todo o universo. A consciência de qualquer pecador estará na mais extrema agonia, sem chance de escapar. Está escrito que Ele: “(...) trará à plena luz as coisas ocultas das trevas” e “(...) manifestará os desígnios do coração” (1 Co 4:5). Tudo que for secreto será exposto. A luz da presença de Deus o fará.
Hoje, Deus oculta-Se a Si mesmo (Is 45:15). Ele não está revelando-Se a Si mesmo ao mundo com clareza. Não há dúvida de que Ele faz isso para nosso benefício. É para que não sejamos consumidos. Quando Deus Se revelar a Si mesmo, em toda Sua plenitude, todo aquele que for pecador será destruído.
Isso não acontece porque Deus odeia essas pessoas, e sim porque é uma conseqüência natural de quando o pecado entra em contato com Sua santidade. A natureza da Sua pessoa é tão extrema que qualquer coisa que seja contrária a ela, simplesmente, não pode suportar a experiência. Isso é algo que não pode ser alterado. Deus não muda (Ml 3:6). Ele apenas é o que é.
Há outro exemplo dessa verdade. Podemos olhar para o que acontecerá quando Jesus surgir em Sua glória no final dos tempos. Neste caso, descobrimos que, quando os céus se abrirem e Ele começar a descer, os incrédulos e pecadores vão subitamente inventar uma nova religião. Eles vão começar a orar.
Entretanto, em vez de orar a Deus, orarão aos rochedos e montes. Começarão a gritar para as montanhas e rochas, dizendo: “Caí sobre nós e escondei-nos da face daquele que se assenta no trono e da ira do Cordeiro” (Ap 6:16).
Naquele tempo, morrer com uma pedra enorme caindo sobre eles será mais preferível a agonia e tormento que a presença de Jesus criará em suas mentes.
Espero que tenha ficado bem claro para cada leitor que Deus não se mistura com pecado e vice-versa. Eles não podem coexistir. A presença de Deus destrói todo pecado.
Não é porque Deus tenha alguma atitude intolerante sobre a fraqueza da espécie humana. Não é porque Ele esteja bravo por “um pouco de pecado”. Não é porque Ele não seja compreensível ou não simpatize com nossas faltas e falhas. É simplesmente um fato, um resultado de quem Deus, nosso Criador, é. A intensa santidade, que define Sua natureza, junto ao Seu maravilhoso e ilimitado poder, simplesmente destruirá todo pecador.
O SURGIMENTO DE DEUS
Deus está planejando revelar Sua presença ao universo, um dia. Em algum momento, Ele não Se ocultará mais. Deus não quer existir de uma maneira encoberta para sempre. Sua vontade é revelar-Se em Sua grandeza a toda Criação.
Entretanto, Deus ama a raça humana que fez. Ele não quer extinguir a todos nós através de Sua revelação plena sem que tenhamos algum tipo de preparação que nos capacite a sobreviver a esse evento.
Isso, então, traz-nos de volta ao nosso pensamento original. O plano de Deus para que permaneçamos vivos e inteiros em Sua vinda é fazer uma troca de vida. Sua idéia é que recebamos Sua própria vida e, assim, nos tornaremos uma variedade de seres que Lhe darão as boas-vindas e se alegrarão com Seu surgimento – seres “à prova de fogo”.
Por isso, devemos nos tornar o mesmo tipo de ser que Ele é, receber Sua vida e natureza santas e mergulhar nelas, porque só esse tipo de ser não sofrerá impacto negativo algum quando Ele surgir. Esse ser não apenas sobreviverá na presença de Deus, como também prosperará nela.
Hoje, nosso pecado é o que nos separa de Deus. Também é nosso pecado que causará nossa futura dor e destruição quando estivermos em Sua presença imediata. Portanto, é necessário que nos tornemos livres de nosso pecado. Somente assim, seremos capazes de suportar a presença de Deus quando Ele surgir.
ARREPENDIMENTO
O primeiro passo da solução de Deus para o problema do nosso pecado é chamado “arrependimento”. Esse é o passo que nós devemos dar. Ainda que seja verdade que Deus nos ajuda neste procedimento tão necessário, esta é uma decisão que somente nós podemos tomar.
O arrependimento é uma parte essencial do processo de salvação. Na verdade, é tão crucial na obtenção da nova vida que sem ele não podemos ir a lugar algum. Sendo assim, não podemos deixar de gastar algum tempo e examinar esse processo cuidadosamente.
Quando João Batista veio, ele veio pregando uma coisa: arrependimento. João dizia: “Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus”(Mt 3:2).
Do mesmo modo, Jesus começou Seu ministério na terra proclamando a mesma mensagem. Está escrito: “Daí por diante, passou Jesus a pregar e a dizer: Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus” (Mt 4:17). Esse arrependimento é o primeiro passo essencial para conseguirmos receber a vida que Deus está nos oferecendo. Há muitos que querem pular esse passo.
Incitam pessoas a aceitarem a Jesus sem o arrependimento inicial, necessário para prosseguir adiante ou alcançar êxito. Parecem crer que simplesmente “aceitar” a Jesus e tudo que Ele fez por nós é o suficiente para que o pecador, um dia, “vá para o céu”. Acabam apresentando um caminho largo e fácil.
O fato, no entanto, é que Jesus não carece de “aceitação”. Ele não está ansiando por sua aceitação ou de quem quer que seja. Deus não está aguardando ansiosamente, com esperança de que alguém O aceite. Parece que alguns crêem que, se eles tão somente O aceitarem, Ele Se esquecerá de toda Sua aversão ao pecado e à condição pecadora deles.
Ao contrario, nossa maior necessidade não é de aceitá-Lo, mas de que Ele nos aceite! Nós precisamos ser aceitos por Ele! E, para que Ele nos aceite é necessário que tomemos um passo inicial: o arrependimento – um completo, profundo e sincero arrependimento.
Então, o que é o arrependimento? É quando percebemos muitas coisas pecaminosas que temos feito. Também começamos a ver o que somos. Na luz de Deus, tornamo-nos convictos de nossos atos e de nossa tendência natural de fazer uma grande variedade de coisas más que são contrárias à natureza de Deus.
Em seguida, confessamos, diante de Deus, o que temos feito, o que somos e, então, tomamos conhecimento de que somos dignos de morte. Sim, o arrependimento genuíno envolve a percepção de que, aos olhos de Deus, somos dignos de morte. O arrependimento verdadeiro significa que nós descobrimos que merecemos morrer por aquilo que temos pensado, dito, feito e, inclusive, pelo que somos. Esta é uma parte importante do processo de arrependimento.
Raciocine comigo por um momento. Se não somos dignos de morte, ou não achamos que somos, que razão haveria para que alguém morresse em nosso lugar? Se não somos culpados o bastante para merecermos a pena de morte, que necessidade haveria de alguém nos substituir nessa execução? Se nossa culpa não é suficiente para merecermos a morte, então por que precisaríamos que Jesus morresse em nosso lugar?
Portanto, é impossível uma pessoa receber um Salvador que ela não quer ou que não sente que precisa ter.
O batismo deveria ser um símbolo deste fato em si. Não é um simples mergulho ou um banho. É uma declaração para o universo de que nós compreendemos e aceitamos nossa necessidade de morrer. No verdadeiro batismo, reconhecemos nossos pecados e proclamamos que estamos unidos com Cristo em Sua morte, olhando para Sua ressurreição para nossa salvação. Estamos declarando publicamente que quem somos e o que fazemos é digno de morte e que cremos que Cristo nos mudará através da substituição de Sua vida pela nossa.
Qualquer “arrependimento” que não tenha sido profundo o suficiente para que a pessoa envolvida compreenda que ela merece morrer é falho. Esse tipo de “arrependimento” não levará ninguém muito longe em sua caminhada cristã.
Sem um verdadeiro, profundo e completo arrependimento, tais pessoas não terão como ser limpas por Deus e ter suas vidas substituídas pela Dele. Portanto, crescerão muito pouco na vida espiritual.
Por que, por exemplo, alguém iria querer ter sua vida arrancada e trocada por outra vida se ele ainda crê que sua vida é boa? Se, em sua própria concepção, sua vida o está servindo bem, não existe nenhuma necessidade lógica para ser trocada. Ninguém gostaria de ser dominado pela vida de outra Pessoa se ainda gosta da vida que possui e a aprova. Ela nunca iria desejar morrer para si mesma e ter a vida de Deus em seu lugar.
A respeito do julgamento de Deus sobre aqueles que pecam, está escrito: “Sem misericórdia morre pelo depoimento de duas ou três testemunhas quem tiver rejeitado a lei de Moisés” (Hb10: 28).
Foi Deus quem deu esta lei. E a pena da lei para o pecado é a morte. A morte foi aplicada para diferentes tipos de ofensa, mesmo aquelas consideradas insignificantes. Por exemplo, o Velho Testamento conta-nos a história de um homem apedrejado até a morte, segundo a direção do próprio Deus, por estar apanhando lenha no sábado (Nm 15:32-36).
Essa mesma penalidade foi passada para aqueles que cometessem adultério, usassem drogas, praticassem homossexualismo, consultassem espíritos, cometessem incesto, fizessem sexo com animais, blasfemassem, murmurassem, fossem filhos rebeldes, dentre muitas outras coisas como essas. Resumindo: assim como o pecado de Adão e Eva resultou em morte, toda e qualquer pessoa que peca revela que é digna de morte. “(...) a alma que pecar, essa morrerá” (Ez 18:4).
A morte física, que foi instituída pela lei do Velho Testamento, é apenas uma representação, ou uma sombra, do futuro. Como temos visto, a morte e destruição da alma pecaminosa serão um resultado inevitável da presença direta de Deus. Quando Ele surgir, a vida e a natureza pecaminosa serão queimadas.
A sentença de Deus sobre o pecado é a morte. Deus não pode coexistir com o pecado. “Porque o salário do pecado [todo e qualquer pecado] é a morte (...)” (Rm 6:23). Temos entendido claramente, desde o início deste capítulo, que a intensa presença de Deus julgará quem e o que nós somos.
Então, podemos compreender, com facilidade, que as pessoas cheias de pecado, ou mesmo com uma tendência natural para o pecado, terão Seu julgamento executado sobre elas. Esses indivíduos, pelo simples fato de aparecerem diante de um Deus santíssimo, sofrerão o julgamento pela Sua presença.
Portanto, nosso arrependimento – o conhecimento de nossos atos e da nossa condição e o reconhecimento de que merecemos morrer – é essencial para recebermos Sua nova vida e, conseqüentemente escaparmos de Seu julgamento. Nosso arrependimento abre o caminho para nos tornarmos mortos para nós mesmos e cheios de Sua vida.
Assim, preparamo-nos para o dia vindouro, quando Jesus surgirá em Sua intensa e ardente glória. Quando, verdadeiramente, nos arrependemos, abrimos nossos corações para Deus fazer Sua gloriosa obra de substituição em nós, transformando-nos à Sua própria imagem.
Se não vemos nosso pecado, é porque temos uma deficiência de luz. A única maneira pela qual podemos realmente nos arrepender é se Deus, em Sua misericórdia, fizer Sua luz brilhar dentro de nós. Quando Ele Se aproxima de nós, a luz de Sua presença expõe quem e o que somos. Quando nos falta essa luz e a convicção de pecado, é a prova de que não somos realmente íntimos de nosso Criador.
Contudo, quando, através do favor de Deus, conseguimos vê-Lo com mais clareza, também enxergamos nosso pecado. Isso, então, capacita-nos a nos arrepender.
TRISTEZA
O arrependimento é algo que fazemos quando, finalmente, vemos nosso pecado. Quando percebemos, à luz de Deus, o mal em nossos caminhos, começamos a sentir um pesar. Quando compreendemos o quanto temos ofendido aos outros; quando vemos o quanto temos entristecido a Deus; quando sabemos como nossas palavras e ações têm causado dor e sofrimento àqueles que estão a nossa volta, estamos prontos para nos arrepender.
O verdadeiro arrependimento envolve tristeza. Vejamos o que Paulo escreveu para os coríntios: “Agora, me alegro não porque fostes contristados, mas porque fostes contristados para arrependimento; pois fostes contristados segundo Deus, para que, de nossa parte, nenhum dano sofrêsseis. Porque a tristeza segundo Deus produz arrependimento para a salvação, que a ninguém traz pesar (...)” (2 Co 7:9,10).
O arrependimento ocorre quando temos um grande senso de culpa pelos pecados que cometemos e pela nossa condição pecaminosa. Tornamo-nos verdadeiramente convictos da gravidade de nossos pecados e de suas conseqüências.
No arrependimento genuíno, nos damos conta de nossa horrível condição. Quando verdadeiramente enxergamos a nós mesmos, vemos algo muito repugnante.
A experiência de Jó é um exemplo dessa verdade. Ele era, em sua própria opinião, um homem reto. De fato, de um ponto de vista superficial, ele estava fazendo tudo certo. Ajudava os pobres, socorria os desamparados. Não falava mal dos outros. Não mentia, não cometia fraude, não roubava, não tirava vantagem, nem se comprometia com outros sem cumprir o combinado. Com seu jeito de agir, em muitas situações, Jó era mais correto do que muitos que dizem ser cristãos, hoje.
Entretanto, no final de sua provação, Deus revelou-Se a Jó. A justiça genuína de Deus foi vista e, naquela brilhante e intensa luz, Jó viu que seu esforço era meramente humano e imperfeito. Ele disse: “Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te vêem. Por isso me abomino e me arrependo no pó e na cinza” (Jó 42:5 e 6).
Por favor, note a reação de Jó. Quando viu a verdadeira santidade, abominou-se a si mesmo. Descobriu que o que ele era, ainda que em termos humanos fosse estimado, era podre, digno de repúdio. Ele odiou o que viu em si mesmo. Odiou a carne, a natureza caída e, até mesmo, o senso de justiça própria que tinha visto em si mesmo. O resultado foi arrependimento. Esta é a única reação aceita por Deus.
Quando Pedro estava pregando no dia de Pentecostes, seus ouvintes tiveram uma reação semelhante. Eles “compungiram-se em seu coração” (At 2:37). Pedro tinha-os acusado de participação no assassinato de Cristo. No versículo 23 do capítulo 2 do livro de Atos, falando acerca da morte de Jesus, ele proclama: “(...) vós o matastes, crucificando-o por mãos de iníquos”.
Com certeza, aqueles não eram os mesmos homens que O seguraram e pregaram os pregos. No entanto, foram convencidos pelo Espírito Santo de que era exatamente o tipo de pessoa que faria aquilo. Eles consentiram em Sua morte. Através da pregação de Pedro, sentiram uma profunda culpa rasgando seus corações. O resultado direto dessa convicção de pecado foi o arrependimento (vs. 38).
Outra reação à revelação da pessoa de Deus é a auto-repugnância. Em Ezequiel, capítulo 20, versículo 43, encontramos algo sobre o que ocorrerá no futuro reino milenar de Cristo, quando Ele trará todos aqueles da nação de Israel de volta para sua terra. Lá, Ele Se revelará a eles. E qual será a reação deles? Eles perceberão seus pecados e sentirão nojo.
Está escrito: “Ali vos lembrareis dos vossos caminhos e de todos os vossos feitos com que vos contaminastes e tereis nojo de vós mesmos, por todas as vossas iniqüidades que tendes cometido”. O verdadeiro arrependimento também envolve auto-repugnância.
Há muitos na Igreja, hoje, que estão difundindo o pensamento positivo. Eles pensam que você deve “amar-se a si mesmo”. Queridos irmãos e irmãs, deixe-me alertá-los da forma mais direta possível: este é um sério engano. Isso não os levará a lugar algum, espiritualmente.
Pode lhes dar a falsa idéia de “valor próprio”, no âmbito psicológico (que se trata apenas da alma do homem), mas não promoverá crescimento espiritual algum. Pode ajustar sua mente, humanamente falando, e, talvez, dar-lhes algum consolo emocional, mas não os transformará à imagem de Cristo.
Na verdade, de acordo com o evangelho de João, o amor-próprio resultará na perda de sua vida, ou “alma”. Lê-se: “Quem ama a sua vida perde-a; mas aquele que odeia a sua vida neste mundo preservá-la-á [tem esta vida trocada] para a vida eterna (Jo 12:25).
Por que será isso? Porque, quando aprovamos e amamos o que somos, não nos arrependemos. Não sentimos nojo nem nos detestamos. Não sentimos a necessidade de Alguém Superior viver dentro de nós, tomando o lugar de nossa vida natural.
Se for assim, quando Jesus surgir, não teremos sido completamente transformados. Naquele momento, Sua santidade intensa consumirá tudo que for natural, humano e pecaminoso. É impossível a vida pecaminosa permanecer em Sua presença.
Aqui, encontramos uma promessa infalível de Deus. Um fato do qual podemos ter certeza. Se amarmos quem e o que somos; se aprovarmos a nós mesmos; se pensarmos que somos bons; se não tivermos nojo e detestarmos a nós mesmos, perderemos nossa egocêntrica vida natural (PSUCHÊ) da pior maneira. Ela será perdida na vinda do Senhor. Será consumida por Sua intensa santidade. Contudo, se odiarmos nossa vida porque vemos o que ela realmente é à luz da face de Jesus, Ele trabalhará em nós para trocá-la por Sua própria vida eterna.
O verdadeiro arrependimento – algo que ocorre quando nos vemos à luz de Deus – gera tristeza e auto-repúdio, acompanhados de uma vontade de nos livrar daquilo que vemos. Significa que agora entendemos nossa necessidade de morrer e ter nossa vida substituída pela vida de Deus. Concordamos com o julgamento de Deus sobre nossa carne e nos abrimos para receber Sua grande salvação.
ALUZ DO MUNDO
Como temos visto, o verdadeiro arrependimento depende da revelação de Deus. Jesus é “a luz do mundo” (Jo 8:12). Quando nos aproximamos Dele, ou quando Ele Se aproxima de nós, Sua luz brilha em nós. Conforme essa luz se aproxima, começamos a nos enxergar com muito mais clareza.
Uma pessoa em um quarto totalmente escuro não vê nada. Esta é a nossa condição antes de conhecermos a Cristo. Quando, porém, uma pequena luz começa a brilhar, a pessoa no quarto começa a enxergar ao seu redor. Quanto mais a luz brilha, mais tudo é visto com clareza. Da mesma forma, quanto mais nos aproximamos de Jesus, mais forte Sua luz brilha e mais claramente enxergamos nosso pecado. Aliás, este é um excelente teste para sabermos se estamos nos transformando de verdade em pessoas mais íntimas de Jesus: se conseguimos ver melhor nosso pecado.
Quando era um jovem crente, imaginava que, depois de mais de 36 anos caminhando com o Senhor, estaria quase levitando, sentindo-me bem santo. Entretanto, minha experiência tem sido de, com o passar do tempo, ver cada vez mais o meu pecado. Tenho tido a constante e profunda oportunidade de me arrepender mais completamente e de deixar a nova vida de Deus crescer dentro de mim.
O arrependimento não é algo que acontece uma única vez. Não é algo que fazemos uma vez, no início de nossa caminhada cristã e depois acaba. Pelo contrário, no cristianismo verdadeiro, há sempre a profunda consciência de que precisamos de um Salvador. Vemos cada vez mais claramente o que somos, como homens naturais, e o quanto precisamos ter a nossa vida trocada pela Dele.
Quanto mais nos arrependemos, mais podemos ser transformados. Quanto mais compreendemos o quanto nossa velha vida é digna de morte, mais podemos ser transformados à Sua imagem. Um constante crescimento em arrependimento abre o caminho para que a vida de Deus nos preencha e substitua o que somos.
Agora, por que será que tem que ser assim? Porque, a menos que vejamos a necessidade de nossa vida velha morrer, Deus não fará – na verdade, não poderá fazer – Sua obra em nós. Ele, com certeza, não vai nos forçar a experimentar essa transformação. Ele não aplicará a morte de Jesus em áreas da nossa vida que não desejamos morrer.
Jesus nunca nos forçará a passar por essa transformação. Não estarmos dispostos a sermos crucificados é o que bloqueia Sua obra. Portanto, precisamos, primeiro, nos enxergar sob Sua luz e, depois, concordar com a sentença de Deus a nosso respeito. A partir daí, Ele vai operar em nosso interior para aplicar tanto a morte como a ressurreição de Jesus em nossa alma (PSUCHÊ).
Enquanto aprovamos o que somos, vamos querer reter o que temos. Enquanto pensamos que estamos bem, então não existe, em hipótese alguma, nenhuma necessidade de mudança. Certamente, não sentiremos nenhuma necessidade de haver uma sentença de morte sendo executada sobre nós.
Portanto, permaneceremos como somos: homens e mulheres naturais, sem transformação. O verdadeiro progresso na vida espiritual - transformação genuína e eterna à imagem de Deus – só pode existir quando nos enxergamos sob a luz de Deus. Somente então, estaremos dispostos a “negar-nos a nós mesmos e tomar a nossa cruz.” Somente então, estaremos dispostos a perder nossa própria vida.
Um comentário:
Quero Agradecer a DEUS por Vocês que tem abençoado minha vida através desse espaço que é poço de bençãos nesse deserto !!
Permanecendo na Fé na Esperança e no Amor !!
Recebam todos meu Abraço !!
PAZZZ
Postar um comentário