sexta-feira, 28 de novembro de 2008

NICOLAITÍSMO- Surgimento e Crescimento do Clero- F. W. Grant

A maioria dos cristãos estão tão acostumados a um sistema de clérigos e laicos em suas “igrejas”, que se assombram ou até se enfurecem quando este sistema é questionado. Parece-lhes muito correto que haja um pastor ou ministro que se encarregue de uma igreja; e o fato de que tudo pareça funcionar muito bem sob este regime, se argumenta como prova de sua validez.

Neste tratado, Grant examina e refuta abertamente o sistema clérigo-laicista. Demonstra com clareza, à luz das Escrituras, que esta estrutura humana é um mal que têm causado grande perda ao povo de Deus. Mesmo que tenha sido escrito há mais de 100 anos atrás, as coisas não estão melhores hoje. Animo aos irmãos a lerem esta obra com uma mente livre de prejuízos e com a Bíblia aberta. Não queremos a opinião de Grant nem a minha nem a de ninguém, senão o que Deus pensa a respeito. Te rogo, pois, que faças uso do princípio escriturário que diz: “julgai todas as coisas, retende o que é bom” (1.ª Tessalonicenses 5:21).

Quero mencionar um ponto ao qual Grant não havia referido, talvez porque em seus dias não era tão comum como hoje. Refiro-me ao uso do título de Reverendo em relação com um pregador. O Dicionário define Reverendo como um “epíteto de respeito aplicado ou anteposto ao nome de um clérigo. Digno de ser reverenciado; que merece reverencia” (Dicionário Webster; similarmente el DRAE). O termo aparece assim vertido em algumas versões da Bíblia no Salmo 111:9: “Santo e reverendo é seu nome”( Versão Reina Valera), aplicado ao nome de Deus, pelo que ninguém deveria aplicá-lo a sí mesmo. A medida que você ler este escrito se dará conta, sem requerer muita imaginação, do porquê ocorreram estas coisas. Quando os homens começaram a ocupar os postos de clérigos (isto é, uma classe dirigente que estava por cima do resto das pessoas, ou seja, dos laicos), almejaram um título que mostrava o respeito que supunham que lhes era devido. Um desses títulos foi o de “reverendo”, que soava muito respeitoso. Seguindo esta mesma direção, muitos “ministros” se sentem orgulhosos de exibir as iniciais que indiquem algum grau acadêmico, tal como “Doutor em Teologia”, etc. à continuação de seus nomes, para assinalar assim que são algo especial, que têm alguma capacidade especial transmitidas por escolas ou instituições religiosas humanas, ao invés de estarem plenamente capacitados pelo chamado e o ensinamento de Deus. Com as observações precedentes, recomendo esta revisão da obra do Sr. Grant a cada leitor, rogando que ajude a mostrar a cada verdadeiro filho de Deus seu grande privilégio de ter acesso direto a Deus, e pedindo também que exponha à nudez o perverso sistema que tem chegado a ser tão comum no cristianismo Atual.

“Tens, contudo, a teu favor que odeias as obras dos nicolaítas, as quais eu também odeio.... Outrossim, também tu tens os que da mesma forma sustentam a doutrina dos nicolaítas.” (Apocalipse 2:6,15, nas epístolas do Senhor dirigidas às igrejas de Éfeso e de Pérgamo).

Nas cartas proféticas dirigidas às sete igrejas do Apocalipse 2 e 3 (as quais nos dão a história espiritual da Igreja desde o tempo dos apóstolos até a vinda do Senhor), a carta à igreja de Pérgamo segue após às cartas à igreja de Éfeso e a igreja de Esmirna. Pérgamo marca a terceira etapa do desvio da verdade por parte da Igreja e é historicamente fácil de reconhecer. Aplica-se ao tempo no qual, logo de haver atravessado as perseguições pagãs (Esmirna), a Igreja foi publicamente reconhecida e estabelecida no mundo. O tema principal da carta à Pérgamo é “a Igreja que mora onde está o trono de Satanás”. A palavra correta é «trono», e não «assento» (como diz na versão RV) . Satanás tem seu trono no mundo, não no inferno, o qual será sua prisão e no qual nunca reinará. Ele é chamado “o príncipe deste mundo” em João 12:31, 14:30 e 16:11.
Portanto, morar onde está o trono de Satanás é assentar-se no mundo, sob o governo e a proteção de Satanás. Isto é o que as pessoas chamam a instituição da Igreja! Teve lugar sob o imperador romano Constantino, perto do ano 320 d.C. Mesmo quando a tendência da Igreja em unir-se com o mundo vinha aumentando por algum tempo, foi então quando ela saiu fora do lugar que lhe era próprio e ingressou nos lugares da antiga idolatria pagã. As pessoas chamam isto de “triunfo do cristianismo”, mas o resultado foi que a Igreja se posicionou com tal firmeza nas coisas do mundo como nunca antes. O lugar de liderança no mundo foi dela e os princípios do mundo a invadiram rapidamente.

O nome Pérgamo indica isto. É uma palavra grega que significa casamento. O casamento da Igreja com qualquer coisa antes que Cristo venha a levá-la consigo (no arrebatamento), é infidelidade a Ele, com quem ela está desposada. Mas aqui está o matrimônio da Igreja e do mundo, o final de um noivado que havia começado a muito tempo antes.

Antes do tempo deste «casamento», uma coisa importante se menciona na primeira carta à igreja de Éfeso, ainda que só de maneira incidental, pois ele não caracteriza a condição espiritual da assembléia de Éfeso. O Senhor lhes diz: “Mas tens isto, que aborreces as obras dos nicolaítas, as quais eu também aborreço” (Apocalipse 2:6)! Entretanto, em Pérgamo temos mais que as obras dos nicolaítas; temos uma doutrina, e a Igreja, ao invés de recusá-la, a tolerava. Em seu tempo, os santos de Éfeso aborreciam as obras dos nicolaítas, mas em Pérgamo a permitiram e não condenaram aqueles que sustentavam a doutrina.

Como temos de interpretar estes versículos? Falamos que a palavra nicolaítas é a única que temos para nos ajudar. Muitos têm realizado grandes esforços para intentar demonstrar que existiu uma seita dos nicolaítas —um grupo religioso chamado por esse nome— mas a maioria dos autores concordam em que essa hipótese é muito improvável. Mesmo se existiu tal seita, é difícil entender por que deveria haver nestas epístolas proféticas semelhante menção repetida e enfática de uma seita obscura acerca da qual a história nos possa dizer pouco ou nada. O Senhor denuncia solene e poderosamente: “a qual aborreço”. Ela deve ser especialmente importante para Ele, e também deve ser significativa na historia da Igreja, por pouco compreendida que possa ser. Além disso, a Escritura não nos encaminha à história da Igreja nem a nenhuma história para que interpretemos seus significados. A Palavra de Deus é seu próprio intérprete através do Espírito Santo e não temos que buscar em outras fontes para descobrir o que está ali. Do contrário, a interpretação da Escritura dependeria de homens eruditos que buscam respostas para aqueles que não tem os mesmos recursos ou atitudes, as quais, forçosamente, haveriam de serem aceitas sobre a base de sua autoridade somente!

Ao largo da Escritura, o significado dos nomes é importante, e o significado de nicolaíta é chamativo e instrutivo. Por suposto, para aqueles que falavam grego, o significado lhes abriria resultado claro. Significa subjugador do povo. A última parte da palavra (Laos) é a palavra grega que designa ao «povo» e nosso termo de uso comum«laicos» deriva dela. Assim pois, os nicolaítas foram gente que estiveram submetendo ou reprimindo aos laicos —a massa do povo cristão— para assenhorearem indevidamente sobre eles.

O que faz que isto seja mais claro ainda é que em Pérgamo temos também àqueles que sustentavam a doutrina de Balaão; um nome cuja semelhança no tocante a significado tem sido observada com freqüência. Balaão é uma palavra hebréia que significa destruidor do povo, um significado muito importante em vista de sua história. Balaão “ensinava a Balaque a por tropeço ante os filhos de Israel, a comer de coisas sacrificadas aos ídolos, e a cometer fornicação” (Apocalipse 2:14). Com este propósito instigou a Israel a mesclar-se com as nações, das quais Deus os havia separado com cuidado.

A confusão dessa necessitada separação significou a destruição de Israel, enquanto prevalecera. De igual modo, a Igreja é chamada a sair fora do mundo, e é sumamente fácil aplicar o tipo divino neste caso. Assim, a estreita relação destes dois nomes (Balaão e nicolaíta), ajuda a confirmar o significado anterior de nicolaíta.

Observemos o desenvolvimento do nicolaitismo. No princípio (e só estou traduzindo a palavra), certas pessoas adotaram uma posição de superioridade sobre o povo. Suas obras demonstraram o que eram. Ainda não há doutrina na carta à igreja de Éfeso, mas uma doutrina, ou ensinamento, se estabeleceu já em Pérgamo. Agora o lugar de liderança é assumido para ser deles por direito. A doutrina —o ensinamento sobre isto— é aceita ao menos por alguns, e a Igreja se vê indiferente ante esta situação. O que tem sucedido entre as obras dos nicolaítas e a doutrina? Tem surgido um partido ao qual o Senhor assinala como daqueles que diziam que eram judeus e não o eram, mas que eram a “sinagoga de Satanás”, o esforço demasiado exitoso de Satanás de judaizar a Igreja, de fazer que a Igreja fosse como o judaísmo do Antigo Testamento.
O judaísmo foi um sistema probatório; um sistema de prova, para ver se o homem podia produzir uma justiça tal que agradasse a Deus. O resultado da prova foi que Deus disse “não há justo, nem sequer um” (Romanos 3:10). Só então Deus pode mostrar sua graça. Enquanto estivesse submetendo a prova ao homem, Deus não podia abrir o caminho a Sua própria presença, e justificar ai ao pecador. Ele teve que manter afastado ao homem entretanto perdurará aquela prova, para que sobre aquele fundamento (as obras dos homens) nenhum pudesse ver a Deus e viver. Não obstante, a natureza essencial do cristianismo é que todos são bem vindos. Há uma porta aberta e um acesso direto a Deus. O sangue de Cristo habilita a cada pecador a aproximar-se de Deus, e a encontrar justificação por Ele. Ver a Deus em Cristo é viver, não morrer. Por isso, aqueles que lhe tem encontrado pelo caminho do sangue que fala de paz, são considerados aptos e ordenados para tomar um lugar distinto de todos os demais, porque agora eles são Seus, são filhos do Pai e membros de Cristo, de Seu corpo. Essa é a verdadeira Igreja, um corpo chamado a sair fora, separado do mundo. Leia 1.ª Coríntios 12 e Efésios 1:22-23. O judaísmo, por outro lado, incluiu a todos os judeus. Nenhum podia tomar um lugar com Deus. Por conseguinte, a separação entre judeus piedosos e não piedosos, era impossível. O judaísmo foi uma necessidade prevista por Deus; mas instaurar novamente o judaísmo, depois que Deus lhe houve posto fim, não tinha sentido. Pelo contrário era o muito exitoso trabalho de Satanás contra o evangelho de Deus e Sua Igreja. Deus apelidou a estes judaizantes como a “sinagoga de Satanás”.

Agora podemos entender como quando o verdadeiro caráter da Igreja se perdeu de vista, quando o significado de «membro da Igreja» chegou a ser gente batizada com água no lugar de ser com o Espírito Santo; quando o batismo com água e com o Espírito Santo foram considerados a mesma coisa (e isto chegou a ser aceito como doutrina prematuramente na história da igreja), a sinagoga judaica foi, na prática, estabelecida novamente. Cada vez foi sendo mais difícil falar de cristãos que houvessem feito a paz com Deus ou ainda que fossem salvos. Eles esperavam ser, e os sacramentos e ordenanças chegaram a ser meios de graça para assegurar, no possível, uma salvação muito distante.

Vejamos como isto contribuiu à doutrina dos nicolaítas. A medida que a Igreja chegou a ser uma «sinagoga», os cristãos vieram a ser, na prática, o que foram os judeus da antigüidade, quando não havia em forma alguma nenhuma aproximação real a Deus. Inclusive o Sumo Sacerdote, quem (como tipo de Cristo) entrava ao Lugar Santíssimo uma vez ao ano, tinha que cobrir o propiciatório com uma nuvem de incenso para não morrer. Os sacerdotes comuns só podiam entrar no Lugar Santo, e as pessoas nem sequer podiam entrar ali. Tudo isto estava expressamente designado como um testemunho de sua condição espiritual. Era a conseqüência de seu fracasso espiritual, por quanto o oferecimento feito por Deus a eles em Êxodo 19 foi este: “Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, então, sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos; porque toda a terra é minha; vós me sereis reino de sacerdotes e nação santa” (v. 5, 6).

Assim pois, a Israel se lhe ofereceu, condicionalmente, uma igual possibilidade de acesso íntimo a Deus. Todos eles haviam de ser sacerdotes. Mas isto foi revogado porquanto quebraram o pacto. Então, os membros de uma família especial (Levi) foram postos como sacerdotes, e o resto do povo foi colocado em um segundo plano. Assim, um sacerdócio separado e intermediário caracterizou ao judaísmo. Não havia nenhum labor missionário; nenhuma saída ao mundo; nenhuma provisão, nenhuma ordem para pregar a Lei em absoluto. Em efeito, o que podiam dizer? Que Deus estava em uma densa obscuridade e que ninguém podia ver-lhe e viver. Essas não eram boas novas. Assim, a ausência do evangelista e a presença do sacerdócio intermediário contavam a mesma triste história.

Tal era o judaísmo. Quão diferente é o cristianismo! Nem bem a morte de Cristo houve rasgado o véu (entre o lugar santo e o lugar santíssimo, indicando um acesso a Deus para todos os sacerdotes) (Mateus 27:51), e houve aberto o caminho até a presença de Deus, então, de imediato, houve um Evangelho, e a nova ordem foi: “Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura” (Marcos 16:15). Deus agora está fazendo-se conhecer ao mundo inteiro.

A intermediação sacerdotal terminou, dado que todos os cristãos agora são sacerdotes para Deus. O que foi oferecido a Israel condicionalmente, é agora um ato incondicional e consumado no cristianismo. Nós somos um reino de sacerdotes; e é Pedro (ordenado pelos homens como o cabeça do ritualismo) quem anuncia as duas coisas que destroem por completo o ritualismo. Primeiro, nos diz que somos “nascidos de novo”, não por batismo, senão “pela Palavra de Deus que vive e permanece para sempre”. Segundo, em lugar de uma casta de sacerdotes, ele diz a todos os cristãos: “Vós também, como pedras vivas, sede edificados como casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais aceitáveis a Deus por meio de Jesus Cristo” (1.ª Pedro 1:23; 2:5). Hoje, nosso louvor e ação de graças, e ainda nossas vidas e nossos corpos, tudo deve ser sacrifício espiritual para Deus (Hebreus 13:15, 16; Romanos 12:1). Esta deve ser a verdadeira obra sacerdotal de nossa parte, e só deste modo se conseguirá que nossas vidas adquiram seu próprio caráter. Estes sacrifícios são o serviço de oferendas de gratidão daqueles capacitados para aproximarem-se a Deus. No judaísmo —permita-me repetir— ninguém se aproximava a Deus. Assim pois, sempre que se encontra uma casta sacerdotal, isto significa a mesma coisa, ou seja, para a grande massa de pessoas, Deus está fora, distante e obscuro.

O SIGNIFICADO DE UM CLERO

Vamos ver agora o que significa um clero. É a palavra que assinala a uma classe especial de pessoas, distinguida dos «laicos» por haver se entregado a coisas espirituais e por ter um lugar de privilégio em relação com estas coisas sagradas que os laicos não têm. Atualmente, esta classe especial está sendo atacada por duas razões, ainda que esteja longe de desaparecer. Primeiro, Deus está projetando luz com respeito a este assunto. A segunda razão é puramente humana: a época é democrática, e os privilégios de classes estão desaparecendo.

Mas,que significado tem esta classe especial? Posto que é distinta dos laicos, e goza de privilégios que estes não tem, significa um aberto e real nicolaitismo, a menos que a Escritura avalie suas pretensões, posto que os laicos tem sido submetidos a eles! Mas a Escritura não utiliza tais termos e distinções de classe, nem os aplica a nossos tempos do Novo Testamento. Estes termos, «clérigo» e «laico», são pura invenção humana, que tem surgido depois que o Novo Testamento fora completado, ainda que em realidade o conceito que está detrás destes termos foi de fato importado do judaísmo do Antigo Testamento.
Devemos ver o importante principio que está em jogo para entender por que o Senhor diz que aborrece as obras dos nicolaítas. Nós também, se estamos em comunhão com nosso Senhor, devemos aborrecer o que Ele aborrece.
Eu não estou falando de pessoas (que Deus não me permita esse mal!), senão de uma coisa. Hoje estamos ao final de uma larga série de afastamentos de Deus. Como conseqüência, crescemos entre muitas coisas que tem chegado até nós como “tradições dos anciãos”, vinculadas com homens a quem honramos e amamos, e, admitindo sua autoridade, temos aceitado estas tradições sem sequer jamais haver analisado a questão por nossa própria conta à luz da Palavra de Deus.

Reconhecemos sinceramente a muitos destes homens como verdadeiros servos de Deus, mas ocupando uma posição errônea. Eu me refiro à posição: à coisa que o Senhor aborrece. Deus não diz: «as pessoas que eu aborreço». Mesmo naqueles dias esta classe de mal não era hereditário como o é agora, e aqueles que espalhavam o mal tinham sua própria responsabilidade, nós, não obstante, não deveríamos envergonhar-nos nem temer estar onde o Senhor está. De fato, não podemos estar com Ele neste assunto, a menos que nós também aborreçamos as obras dos nicolaítas.

Devemos aborrecer esta coisa porque significa uma casta ou classe espiritual —um grupo de pessoas que oficialmente tem um direito à direção em coisas espirituais, uma proximidade a Deus derivada de uma posição oficial, e não de poder espiritual—. Isto é realmente um ressurgimento, abaixo outros nomes, e com modificações, do sacerdócio intermediário do judaísmo. Este é o significado do clero. Portanto, o resto dos cristãos são só os laicos, os leigos, pagantes, em maior ou menor medida, à antiga distancia de Deus, à qual a cruz pôs fim.
Agora podemos ver a razão do por que a Igreja tinha que ser judaizada antes que as obras dos nicolaítas pudessem amadurecer em uma doutrina. Sob o judaísmo, o Senhor até havia autorizado a obediência a escribas e fariseus que se sentavam na cadeira de Moisés (Mateus 23:2-3); e para que este texto se aplique agora, a cadeira de Moisés tinha que ser estabelecida na Igreja cristã. Uma vez que este teve lugar, e que a massa de cristãos fora degradada do sacerdócio do qual falou Pedro, a meros «membros laicos», a doutrina dos nicolaítas foi estabelecida.

O MINISTÉRIO CRISTÃO

Não me interpretem mal. Eu não ponho em dúvida a instituição divina do ministério cristão, posto que o «ministério» é característico do cristianismo. E se bem creio que todos os verdadeiros cristãos são ministros, eu não questiono um ministério especial e distintivo da Palavra, como dado por Deus a alguns e não a todos, mas para o uso de todos. Ninguém que seja verdadeiramente ensinado por Deus pode negar que alguns cristãos tenham o lugar de evangelista, pastor ou mestre. A Escritura ensina que todo verdadeiro ministro é um dom de Cristo, que o é por Seu cuidado como Cabeça da Igreja, e que é para Seu povo, que é algum irmão que tem seu lugar dado por Deus somente e que é responsável, em seu caráter de ministro, ante Deus somente. O miserável sistema clérigo-laicista degrada o ministro de Deus desse bendito lugar e faz dele pouco mais que a manufatura e o servidor dos homens. À vez que outorga um lugar de senhorio sobre pessoas que comprazem à mente carnal (a velha natureza), este sistema restringe ao homem espiritual, tanto ao gerar nele uma consciência artificial para os homens (o conselho da igreja, etc.), como ao obstaculizar sua consciência para estar corretamente diante de Deus.

Permita-me estabelecer brevemente qual é a doutrina da Escritura sobre o «ministério». É muito simples. A verdadeira Igreja (Assembléia) de Deus é o corpo de Cristo; todos os membros são os membros de Cristo. Nas Escrituras não há mais condição de membros que esta: a de membros do corpo de Cristo, ao qual pertencem todos os verdadeiros cristãos; não muitos corpos de Cristo, senão um só corpo (Efésios 4:4); não muitas igrejas, senão uma só Igreja. Há um lugar diferente para cada membro do corpo pelo único fato de que ele ou ela são um membro. Nem todos podem ser o olho, ou ouvido, etc., mas todos eles são necessários, e todos são ministros em alguma forma, uns dos outros. Assim pois, cada membro tem seu lugar, não só em uma determinada localidade e para o benefício de uns poucos, senão para o benefício do corpo inteiro. Cada membro tem um dom “porque da maneira que em um corpo temos muitos membros, mas nem todos os membros tem a mesma função, assim nós, sendo muitos, somos um corpo em Cristo, e todos membros uns dos outros. De maneira que, tendo diferentes dons, segundo a graça que nos é dada...” (Romanos 12:4-6). Leia também 1.ª Coríntios 12:7.11; Efésios 4:7 y 1.ª Pedro 4:10, os que também demonstram que cada cristão possui um dom.

Em 1 Coríntios 12, Paulo fala em detalhe destes dons e os chama por um nome significativo no versículo 7: “manifestações do Espírito”. Eles são dons do Espírito e, também, manifestações do Espírito. Eles se manifestam (se mostram) a si mesmos ali onde se encontram, onde há discernimento espiritual por gente que está mui próximo de Deus, em comunhão íntima com ele. Por exemplo, tomemos o Evangelho. De onde obtém seu poder e autoridade? É de alguma aprovação do homem, ou é de seu próprio poder inerente? Desafortunadamente, a tentativa comum de acreditar ao mensageiro, tira, em lugar de agregar, poder à Palavra. A Palavra de Deus deve ser recebida simplesmente por ser sua Palavra. Ela tem a capacidade de satisfazer as necessidades do coração e da consciência só por ser as boas novas de Deus; o Deus que conhece perfeitamente qual é a necessidade do homem e que, em conseqüência, tem feito provisão para ele. Todo aquele que tem sentido o poder do Evangelho sabe de Quem tem vindo o poder. A obra e o testemunho do Espírito Santo na alma não necessitam nenhum testemunho do homem que os suplementem.

Mesmo a apelação do Senhor em seu próprio caso foi à verdade. Ele expressou: “Pois se digo a verdade, por que vós não me credes?” (João 8:46). Quando Ele falava na sinagoga judaica ou em qualquer outro lugar, era, aos olhos dos homens, só um pobre filho de carpinteiro, não acreditado por escola ou grupo de homens alguns. Todo o peso da autoridade humana esteve contra Ele. Ele inclusive repudiou “o receber testemunho dos homens”. Só a Palavra de Deus deve falar por conta de Deus. “Minha doutrina não é minha, senão daquele que me enviou” (João 7:16). E, como se aprovou a si mesma? Pelo fato de ser verdade! A verdade se fez conhecer àqueles que a buscavam; o que “quer fazer a vontade de Deus, conhecerá se a doutrina é de Deus, ou se eu falo por minha própria conta” (João 7:17). Em João 7 e 8, o Senhor lhes está dizendo: «Eu digo a verdade. a tenho trazido de Deus; e se esta é a verdade, e se procurais fazer a vontade de Deus, aprendereis a reconhecê-la como a verdade.»

Deus não manteria as pessoas na ignorância e na obscuridade se procuravam fazer Sua vontade. Permitiria Deus que os corações sinceros fossem defraudados pelos muitos enganos que haviam em redor? É claro que não! Ele faz conhecer Sua voz a todos os que lhe buscam. Assim, o Senhor diz a Pilatos: “Todo aquele que é da verdade, ouve a minha voz” (João 18:37). “Minhas ovelhas ouvem minha voz, e eu as conheço, e me seguem”, e de novo: “Mas ao estranho não seguirão, senão fugirão dele, porque não conhecem a voz dos estranhos” (João 10-27, 5).
A verdade é de uma natureza tal que a desonramos se tratamos de convalidá-la para aqueles que são verdadeiros, como se ela não fosse capaz de evidenciar a si mesma. Deus mesmo inclusive é desonrado, como se ele não pudesse ser suficiente para as almas, ou para o que ele mesmo tem dado.

Não, o apóstolo fala de “manifestação da verdade, recomendando-nos a toda consciência humana diante de Deus” (2.ª Coríntios 4:2). O Senhor diz que o mundo está condenado porque “a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas que a luz, porque suas obras eram más” (João 3:19). Não havia nenhuma falta de evidência. A luz estava ali, e os homens reconheceram seu poder para sua própria condenação, quando procuraram escapar dela. Da mesma maneira, no dom está a “manifestação do Espírito”, e é “dada a cada um para proveito” (1.ª Coríntios 12:7). Pelo simples fato de que um homem o tenha, ele é responsável de usá-lo; responsável ante Ele, quem não o tem dado em vão. A capacidade e o título para «ministrar» estão no dom, porque eu sou responsável de ajudar e de servir com o que tenho. Se os demais recebem ajuda, eles não necessitam perguntar se tenho autorização para ajudá-los.

Este é o caráter sensível do ministério, o serviço de amor conforme a capacidade que Deus dá; serviço mútuo de uns aos outros e para todos, sem acepção ou a exclusão de uns a outros. Cada dom é adicionado ao tesouro comum, e todos são feitos mais ricos. A benção de Deus e a manifestação do Espírito são toda a autorização requerida. Nem todos são mestres, mas se aplica exatamente o mesmo princípio. O ensinamento é, entretanto, uma das muitas divisões do serviço para Deus, serviço que é rendido por uns a outros, de acordo com a esfera de seu ministério. Não havia acaso nenhuma classe ordenada (designada) na Igreja primitiva? Isso é uma coisa totalmente distinta. Havia duas classes de oficiais que eram regularmente designados ou ordenados. Os diáconos ou servidores tinham a seu cargo os fundos para os pobres e outros propósitos, e eram eleitos, primeiro pelos santos para este posto de confiança, e logo nomeados pelos apóstolos, já fosse diretamente ou por aqueles autorizados pelos apóstolos para fazê-lo.

Os anciãos foram uma segunda classe —homens de idade, como o indica a palavra— que foram nomeados nas assembléias locais unicamente pelos apóstolos ou seus delegados (Atos 14:23; Tito 1:5) como bispos ou supervisores para estarem atentos ao estado espiritual da assembléia. Os anciãos eram o mesmo que os bispos, como deduzimos claramente das palavras de Paulo aos anciãos de Éfeso (Atos 20:17,28), quando ele lhes exorta dizendo: “Portanto, olhai por vós e por todo o rebanho em que o Espírito Santo os tem posto por bispos.” Aqui os tradutores da versão Reina-Valera tem deixado sem traduzir a palavra grega «bispo» que significa «supervisor», e o mesmo podemos observar em Tito 1:5, 7: “Por esta causa te deixei em Creta, para que... e estabelecesses anciãos em cada cidade, assim como eu te mandei... porque é necessário que o bispo (supervisor) seja irrepreensível...”. O trabalho de um ancião era vigiar ou supervisar, e mesmo quando ser “apto para ensinar” (1.ª Timoteo 3:2) era uma qualidade muito requerida em vista de que os erros eram já rampantes, o fato de ensinar certamente não era algo limitado àqueles que eram “maridos de uma só mulher, que tenha a seus filhos em sujeição com toda honestidade”, etc. (Tito 1:6-9; 1.ª Timóteo 3). Esta foi uma prova necessária para um que seria ancião (ou bispo), “pois o que não sabe governar sua própria casa, como cuidará da igreja de Deus?” (1.ª Timóteo 3:1-7). Qualquer que tenham sido os dons que tiveram os anciãos, eles os utilizavam da mesma maneira que faziam todos. O apóstolo Paulo ordena o seguinte: “Os anciãos que governam bem, sejam tidos por dignos de duplo honorários, especialmente os que trabalham em pregar e ensinar” (1.ª Timóteo 5:17). Mas se desprende claramente que eles podiam governar bem sem ocupar-se em trabalhar na Palavra e no ensino. O significado de sua ordenação ou nomeação era só este: aqui se tratava de uma questão de autoridade, não de dom. Foi uma questão de título para examinar com freqüência assuntos difíceis e delicados entre pessoas que não estavam dispostas a submeterem-se à Palavra de Deus. A ministração do «dom», não obstante, era uma questão totalmente diferente.

MINISTÉRIO VS. CLERICALISMO

Nosso penoso dever, agora, é contrastar esta doutrina da Escritura com os sistemas nos quais uma classe definida está consagrada formalmente a coisas espirituais, enquanto os laicos estão excluídos de dita ocupação. Este é o verdadeiro nicolaísmo: a sujeição do povo.

O ministério da Palavra de Deus é completamente legítimo e nele estão aqueles que possuem dons e responsabilidades especiais (mas não exclusivamente) para ministrá-lo. Mas o «sacerdócio» é suficientemente distinto do «ministério» para ser reconhecido facilmente onde quer que seja reclamado ou exista. Os protestantes em geral negam que todo poder sacerdotal esta em seus ministros. Não tenho nenhum desejo de disputar sua honestidade nesta negação. Eles querem dizer que seus ministros não tem nenhum poder autoritativo de absolvição, e que eles não fazem da mesa do Senhor um altar no que se renove, dia após dia (como na missa católica romana), a perfeição do oferecimento único e suficiente de Cristo, negada por inumeráveis repetições. Eles tem razão com respeito a ambas as coisas, mas esta não é a história completa. Se analisarmos mais profundamente, encontraremos que existe um caráter sacerdotal de muitas outras maneiras.

Podemos distinguir sacerdócio e ministério como segue: o ministério é para os homens, enquanto que o sacerdócio é para Deus. O que ministra traz a mensagem de Deus ao povo, falando, da parte de Deus, a eles. O sacerdote se dirige a Deus de parte do povo, falando no sentido inverso: de parte do povo, a Deus.
O louvor e as ações de graças são sacrifícios espirituais. Eles são parte de nossas oferendas como sacerdotes. Agora, ponha uma classe especial em um lugar onde eles só, de forma regular e oficial, atuem dando louvores e ações de graças, e virão a ser um sacerdócio intermediário, mediadores entre Deus e aqueles que não estão tão perto Dele.

A Ceia do Senhor é a mais completa e proeminente expressão pública da adoração e ação de graças cristã; mas, que ministro protestante ou pastor denominacional não o considera como seu direito e dever oficiais de administrá-la? A maioria dos «laicos» se abstém de administrá-la. Este é um dos terríveis males do sistema, pelo qual as massas cristãs são deste modo secularizadas (feitas mundanas). Ocupadas com coisas mundanas, pensam que não podem esperar ser espiritualmente como os clérigos. Deste modo, as massas são exoneradas das ocupações espirituais, para as quais crêem não reunir as mesmas condições que o clero. Mas isto vai muito mais além. “Porque os lábios do sacerdote tem de guardar a sabedoria” (Malaquias 2:7). Mas como pode o laico (que tem chegado a ser tal por haver abandonado seu sacerdócio voluntariamente) ter a sabedoria pertencente a uma classe sacerdotal? A falta de espiritualidade à qual se tem desprezado a si mesmos não lhes permite conhecer as coisas espirituais. Assim, só a classe ocupada nas coisas espirituais vem a ser intérprete autorizada da Palavra de Deus. Deste modo, o clero vem a ser os olhos, ouvidos e boca espirituais dos laicos. De qualquer maneira, esta organização convém à maioria das pessoas. O «clericalismo» não tem começado simplesmente porque uma classe de homens que quiseram dirigir assumiram o lugar de liderança. Esta miserável e anti-bíblica distinção entre clero e laicos nunca poderia ter ocorrido de maneira tão rápida e universal se não estivesse tão bem adaptada ao gosto daqueles a quem substituiu e degradou. No cristianismo, como em Israel, a profecia têm sido cumprida, “os profetas profetizam falsamente, e os sacerdotes dominam de mãos dadas com eles; e é o que deseja o meu povo.” (Jeremias 5:31). Ao sobrevir uma decadência espiritual, um que esta voltando ao mundo troca de boa vontade, como Esaú, sua primogenitura espiritual por uma mistura da sopa do mundo. Concede com gratidão sua necessidade de cuidar das coisas espirituais àqueles que aceitem esta responsabilidade. Uma vez que a Igreja perdeu seu primeiro amor e o mundo começou a introduzir-se através das portas pobremente protegidas, chegou a ser mais difícil para os cristãos tomar o bendito e maravilhoso lugar que lhes pertencia. Cada passo descendente só fazia mais fácil os passos subseqüentes, até que, em menos de 300 anos desde o começo da Igreja, um sacerdócio judaico e uma religião ritualista foram praticados em quase todas as partes. Só os nomes das coisas preciosas do cristianismo foram deixados. A realidade dos privilégios especiais e cada cristão individual havia desaparecido.

ORDENAÇÃO

Observemos com maior detalhe um traço característico desta clerezia ou clericalismo. Notamos a confusão entre o ministério e o sacerdócio; a atribuição de um título oficial não escriturário, para as coisas espirituais, para administrar a Ceia do Senhor e para batizar, etc. Agora tratarei sobre ênfase posta por este perverso sistema sobre a ordenação (isto é, nomeação ou reconhecimento oficial).

Quero que vejas o que significa ordenação. Primeiro, se consultamos o Novo Testamento, não encontraremos nada acerca de uma ordem para ensinar ou pregar. Encontraremos as pessoas que fazem livremente, usando um dom que tenham. A Igreja inteira foi dispersa fora de Jerusalém (exceto os apóstolos) e estas pessoas foram por todas as partes pregando a Palavra. As perseguições não as ordenaram. Não há rastro de outra coisa. Timóteo recebeu um dom de profecia pela imposição das mãos de Paulo, em companhia dos anciãos (2.ª Timóteo 1:6; 1.ª Timóteo 4:14); mas aquela era a comunicação de um dom, não uma autorização para usá-lo! A Timóteo, então, se lhe ordena que comunique seu próprio conhecimento a homens de fé, que foram capazes também de ensinar a outros (2.ª Timóteo 2:2), mas não há nenhuma palavra acerca de ordená-los. O caso de Paulo e Barnabé em Antioquia (Atos 13:1-4) fracassa como sustento do propósito com que alguns o querem usar, porque (da maneira como se pretende usar) profetas e mestres estariam obrigados a ordenar ao apóstolo Paulo mesmo, que recusa totalmente ser um apóstolo “dos homens ou por homem” (Gálatas 1:1). Ao contrário o Espírito Santo diz: “Apartai-me a Barnabé e a Saulo para a obra a que (Eu) os tenho chamado” (Atos 13:2). Se trata aqui simplesmente de uma missão especial que eles cumpriram (Atos 14:26).
O que significa ordenação nos círculos religiosos da atualidade? Pode você estar seguro de que significa muito; do contrario, os homens não contenderiam com tanto zelo por ele. Há duas formas de ordenação. Na forma mais extrema —como no caso dos católicos romanos e os ritualistas— à ordenação se o confere a atribuição de conceder tanto autoridade como poder espiritual. Os líderes da igreja se adotam, com todo o poder dos apóstolos, a faculdade de subministrar o Espírito Santo mediante a imposição de suas mãos. Deste modo, as massas do povo de Deus são descartadas do sacerdócio que Ele mesmo lhes tem outorgado, e uma classe especial é colocada em seu lugar para intermediar por eles de uma maneira que anula o fruto da obra de Cristo e os ata à «igreja» como o único meio de achar graça.

Aqueles que aceitam uma forma mais moderada de ordenação, recusam reta e consistentemente essas pretensões anti-cristãs. Eles não pretendem conferir nenhum dom na ordenação, senão que só «reconhecem» o dom que Deus têm dado. Pero este «reconhecimento» é considerado necessário antes de que a pessoa possa batizar ou administrar a ceia do Senhor, coisas que não requerem nenhum dom especial em absoluto! Então, enquanto ao ministério, o dom de Deus estaria obrigado a requerer a aprovação humana, e é «reconhecido» em nome de Seu povo por aqueles a quem se considera que tem um «discernimento» que os cristãos laicos não tem. Cegos ou não, estes homens ordenados —o clero— vêm a ser os “guias dos cegos”, à vez que seus próprios corações são tirados do lugar de responsabilidade direta ante Deus e feitos indevidamente responsáveis ante o homem. Uma consciência artificial é feita para eles de parte daqueles que os ordenaram, e lhes são constantemente impostas condições as quais se tem que ajustar a fim de obter o reconhecimento requerido. Inclusive estes pastores ou ministros freqüentemente estão sob o controle de seus «ordenadores» no que respeita a sua senda de serviço. Em princípio, tudo isto é infidelidade a Deus, porque se Deus me tem dado um dom a fim de que o use para Ele, eu seria certamente infiel se comparecer a algum homem ou a um grupo de homens com o fim de solicitar sua permissão para usá-lo. O próprio dom acarreta a responsabilidade de usá-lo, como o temos visto. Se eles dizem que as pessoas podem cometer erros, eu estou de acordo, mas quem tem de assumir minha responsabilidade se estou equivocado? Além do mais, os erros cometidos por um «corpo ordenante» (ou «presbitério») são muito mais sérios que os de um indivíduo que meramente marcha sem haver sido enviado pelos homens, porque os erros do corpo ordenante são declarados sagrados e se prolongam no tempo pela ordenação que conferiu. Se a pessoa «ordenada» simplesmente se sustentara por seus próprios méritos, encontraria rapidamente seu verdadeiro nível; mas o corpo ordenante tem investido sobre ele um caráter que deve ser mantido. Equivocação de por meio ou não, ele é agora nada menos que um novo membro do corpo clerical, um ministro, mesmo quando não tenha realmente nada que ministrar. Ele deve ser mantido —deve ter sua «igreja»— por mais que esta se encontre em uma localidade pouco ilustre, onde as pessoas —tão amadas por Deus como qualquer— é posta sob seu cuidado e deve ficar sem se alimentar se ele não for capaz de alimentá-las. Não me acuse de sarcástico. O anterior é um fiel retrato do sistema do qual estou falando, sistema que envolve ao corpo de Cristo com vendas que impedem a livre circulação do sangue vivificante do ministério, que deveria estar fluindo de forma irrestrita através de todo o corpo. Aqueles que ordenam na atualidade devem provar que são ou apóstolos ou homens designados pelos apóstolos porque, segundo as Escrituras, nenhum outro tinha autoridade para ordenar (Atos 14:23; Tito 1:5). Aliás, devem provar que o «ancião» segundo as Escrituras pode não ser ancião de todo, senão um jovem, uma pessoa solteira, apenas saída de sua adolescência e que fora evangelista, pastor e mestre —todos dons de Deus envoltos em uma só pessoa—.

Este é o ministro segundo o sistema: o tudo em todos para 50 ou 500 almas confiadas a ele como seu rebanho, no qual nenhum outro tem o direito de interferir. Seguramente a marca de «nicolaísmo», está posta sobre um sistema como este! Mesmo quando o ministro esteja espiritualmente dotado (e muitos estão, como outros muitos não estão), é improvável que tenha todos os dons espirituais. Suponha-se que seja um verdadeiro evangelista e que as almas se salvem; ele pode não ser um mestre, e ver-se assim incapacitado para edificá-las na verdade. Ou talvez tenha o verdadeiro dom de Deus de mestre, mas é enviado a um lugar onde há tão somente uns poucos cristãos e muitos de sua congregação são não convertidos. Não há conversões, mas sua presença ali, a causa do sistema sob o qual está trabalhando, mantém afastado (em diversos graus) ao evangelista que se necessitaria ali.

Agradeçamos a Deus que Ele sempre esteja desbaratando estes sistemas, e que as necessidades possam ser supridas de algum modo irregular. Entretanto, esta provisão humana não é conforme o plano de Deus e por ele divide ao invés de unir. O sistema é o responsável de tudo isto. O ministério exclusivo de um só homem, ou de um número específico de homens em uma congregação, não tem Escritura que o sustente. A ordenação é o esforço para limitar todo ministério a certa classe e faz descansar a este na autorização humana e não no dom divino. E assim se nega aos demais membros do corpo —o rebanho de Cristo— a capacidade aprovisionada por Deus para ouvir Sua voz e logo comunicá-la. O resultado é que se dá ao homem a atenção que deveria ser dada à Palavra que ele traz. A pergunta prevalecente é: Está autorizado? Relativo à verdade do que fala, com freqüência é secundaria se ele está ordenado; ou talvez, diria eu, sua ortodoxia (sua retidão doutrinal) está estabelecida já de antemão para eles pelo fato de ser ordenado. O apóstolo Paulo não fora autorizado para ministrar conforme este plano. Houve apóstolos antes dele, mas ele não subiu a eles nem recebeu nada deles. Se houvesse uma «sucessão», ele a cortou. Paulo fez o que fez, de propósito, para mostrar que seu evangelho não era segundo os homens, nem derivado deles (Gálatas 1:1) e que não descansava sobre a autoridade humana. Se ele mesmo ou um anjo do céu (cuja autoridade pareceria concludente), anunciasse um evangelho diferente do que havia pregado, a sentença solene de Paulo é: “seja anátema” (Gálatas 1:8-9). Autoridade, então, não é nada, a menos que seja autoridade da Palavra de Deus. Esta é a prova: É isto conforme às Escrituras? “Acaso pode um cego guiar a outro cego? Não cairão ambos no buraco?” (Lucas 6:39). Dizer: «Eu não pude conhecer: confiei no outro», não o salvará do poço (o inferno para os não conversos, a pobreza espiritual e a perda da comunhão para os salvos), independentemente de quanta «autoridade» pretendeu ter o ministro que lhe guiou ao erro. Mas, como pode pretender o não espiritual e não instruído «laico» ter um conhecimento igual ao do educado e acreditado ministro, dedicado às coisas espirituais? Em geral, não pode. Ao invés de segurar por si e para si a Palavra de Deus, usando o poder do Espírito Santo que mora Nele para aprender as coisas espirituais (João 14:26), ele se submete àquele que, segundo supõe, deve saber mais e melhor. Assim pois, na prática, o ensinamento do ministro ou pastor substitui principalmente a autoridade da Palavra. Entretanto, ele mesmo não tem certeza em quanto à verdade ministrada. O laico não pode ocultar-se a si mesmo o fato de que os ministros não estejam de acordo entre si por mais doutos, bons e acreditados que sejam. Mas aqui o diabo intervém e sugere à pessoa incauta que a confusão é o resultado da imprecisão das Escrituras, quando em realidade é o resultado de fazer caso omisso das Escrituras. Opinião, não fé, há em todas as partes. Você tem direito a sua opinião, mas deve conceder a outros o direito a ter a própria. Você pode dizer «eu creio» enquanto não quer dizer «eu sei». Reclamar «conhecimento» seria reclamar que você é mais sábio e melhor que as gerações precedentes, as que creram de forma diferente. A infidelidade (incredulidade) logra prosperar desta maneira, e Satanás se regozija quando consegue que os pensamentos de muitos vibrantes comentaristas substituem a simples e segura voz divina. O que você necessita é a “espada do Espírito, que é a Palavra de Deus” (Efésios 6:17). Crês tu que «assim disse João Calvino» ou «Martinho Lutero» ou qualquer outro homem, impactará tanto a Satanás como: “assim disse o Senhor”? ¿Quem pode negar que tais pensamentos e práticas, estão em todas as partes e não restringidas unicamente aos católicos romanos e ritualistas? A tendência constante é a de desviar-se do Deus vivente, mesmo quando Ele está tão próximo dos seus hoje em dia como nunca antes na história da Igreja. Ele é, inclusive, tão capaz para instruir como sempre, e todavia está disposto a cumprir a palavra: “O que quer fazer a vontade de Deus, conhecerá se a doutrina é de Deus” (João 7:17). Os «olhos» da fé são os olhos do coração (do afeto por Deus), não olhos da cabeça. Deus tem ocultado dos sábios e entendidos o que revela às criaturas. A escola de Deus é mais efetiva que todos os seminários juntos, e nessa divina escola, laicos e clérigos podem ser iguais: “o espiritual julga (discerne) todas as coisas (1.ª Coríntios 2:15), pois tudo depende da condição espiritual individual. Não há substituto para a espiritualidade.

O homem não pode gerar espiritualidade em outra pessoa mediante a ordenação nem mediante nenhum outro meio. Ordenação, em sua forma mais moderada, é o esforço do homem para realizar a manifestação do Espírito Santo. Mas se aqueles que ordenam cometem um erro (o são eles mesmos não espirituais e, por ele, incapazes de julgar) e seu «ministro» não tem nada que ver com a obra de Deus, eles simplesmente provêem guias cegos para os cegos.

DISCUSÃO E SUMÁRIO

Deste modo, a santa Palavra de Deus sempre encomenda a si mesma ao coração e à consciência. O esforço de querer dar Sua aprovação ao sacerdócio romano ou à hierarquia protestante, fracassa em ambos os casos por estar sobre o mesmo terreno do nicolaísmo. Não, o nicolaísmo não é coisa do passado, não é doutrina obscura de épocas passadas, senão um gigantesco e difundido sistema de erro, frutífero em resultados malignos. O erro, ainda que mortal, pode perdurar por muito tempo. Não vá atrás dele por causa de sua antigüidade ou porque todo o mundo o segue. O Senhor aborrece este perverso sistema clerical. Se Ele o aborrece. Deveríamos sentir medo de ter comunhão com Ele neste assunto? Todos devemos reconhecer que há bons homens envolvidos neste sistema: homens piedosos e verdadeiros ministros, que levam sem saber o emblema dos homens. Que Deus os livre! Que possam deixar de lado suas ataduras e serem livres! Que possam elevar-se à verdadeira dignidade de seu chamamento e serem responsáveis ante Deus, caminhando diante Dele somente! Por outro lado, amados irmãos, é de grande importância que todos os integrantes de Seu povo, por diferente que seja seu lugar no Corpo de Cristo, estejam conscientes de que todos eles são ministros, assim como sacerdotes, sem exceção. Cada cristão tem deveres espirituais que emanam de suas relações espirituais com todos os demais cristãos. É o privilégio de cada cristão contribuir com sua participação ao tesouro comum dos dons espirituais com os quais Cristo tem dotado a sua Igreja. Um que não contribui com seu ministério, está retendo de fato o que é sua obrigação para com toda a família de Deus. Ninguém que possua sequer um aparentemente pequeno «talento», tem direito a ocultá-lo e não dobrá-lo. Tal ação é infidelidade e incredulidade.“Mais bem-aventurado é dar que receber” (Atos 20:35). irmãos, quando despertaremos à realidade destas palavras? Temos uma inesgotável fonte de regozijo, a qual é para benção, e se viermos a ela quando temos sede, rios de água viva correrão de nós. A fonte de águas vivas (a Palavra) não está limitada, para aquele que a recebe, pela quantidade que recebe dela. Ela é divina e, além disso, completamente nossa. Oh, conhecer mais desta plenitude e de toda a responsabilidade de sua possessão em um mundo espiritualmente seco e cansado! Oh, conhecer melhor a infinita graça que nos utiliza como o meio de seu passo aos homens! Quando estaremos em condições de entender nossa comum posição e doce realidade da comunhão verdadeira com Ele, quem “não veio para ser servido, mas para servir”? (Mateus 20:28). Oh, por um ministério não oficial!; que corações cheios transbordem dentro dos vazios para que muitos outros possam também estar cheios. Como deveria regozijar-nos —em um mundo de necessidade, miséria e pecado― o fato de encontrar constantes oportunidades para mostrar a capacidade da plenitude de Cristo para combater e ministrar a cada um das necessidades do mundo. Para resumir, pois, podemos afirmar que o ministério oficial é independência prática do Espírito de Deus.

Diz que um homem deve transbordar, mesmo quando estiver vazio; e, por outro lado, que outro não deve transbordar, mesmo se estiver cheio. Propõe, ante a presença do Espírito Santo —que veio na ausência de Cristo para ser o Guardião de seu povo— assegurar a ordem e o fortalecimento mediante legislação ao invés de fazê-lo mediante poder espiritual. Provoca que o rebanho de Cristo deixe de escutar Sua voz, fazendo algo não necessário para eles. Deste modo sanciona e perpetua a não-espiritualidade individual, em lugar de condená-la e de evitá-la. No método de Deus para o tratamento da não espiritualidade, o fracasso humano pode tornar-se exteriormente mais evidente, pois Deus se interessa pouco em uma aparência exterior correta quando o coração não é reto para com Ele. Ele sabe que a habilidade para guardar uma correta aparência, com freqüência impede o juízo honesto, diante Dele, da verdadeira condição espiritual! Os homens repreenderiam a Pedro por sua tentativa de caminhar sobre aquelas ondas (Mateus 14:24-33), o qual evidenciou sua pouca fé. Entretanto, o Senhor só reprovou a pequenez da fé que o fez fracassar. O homem recomendaria o bote para o fracasso de Pedro em lugar do poder de sustentá-lo do Senhor, sustento que lhe fez provar a Pedro. De qualquer maneira, vento e ondas podem virar o bote, mas “o Senhor nas alturas é mais poderoso que o estrondo das muitas águas, mais que as fortes ondas do mar” (Salmo 93:4). Ao longo destes séculos de fracasso humano, tem provado alguém que Deus seja infiel? Amados, é vossa honesta convicção que é algo completamente seguro confiar no Deus vivente? Se é assim, então deixemos Deus trabalhar, por mais que devamos admitir que temos fracassado. Atuemos como se realmente confiássemos Nele.

Extraído do site http://www.verdadespreciosas.com.ar/
Traduzido para o Português pelos irmãos da cidade de Alegrete-RS

A Lei- C.H Mackintosh

A Lei e a Graça

É da maior importância compreender o verdadeiro caráter e o objeto da lei moral, como nos é apresentada neste capítulo. Existe uma tendência no homem para confundir os princípios da lei com graça, de sorte que nem a lei nem a graça podem ser perfeitamente compreendidas. Alei é despojada da sua austera e inflexível majes­tade, e a graça é privada de todos os seus atrativos divinos. As santas exigências de Deus ficam sem resposta, e as profundas e múltiplas necessidades do pecador permanecem insolúveis pelo sistema anómalo criado por aqueles que tentam confundir a lei com a graça. Com efeito, nunca podem confundir-se, visto que são tão distintas quanto o podem ser duas coisas. Alei mostra-nos o que o homem deveria ser; enquanto que a graça demonstra o que Deus é. Como poderão, pois, ser unidas num mesmo sistema1?- Como poderia o pecador ser salvo por meio de um sistema formado em parte pela lei e em parte pela graça1? Impossível: ele tem de ser sal vo por uma ou por outra.
A lei tem sido às vezes chamada "a expressão do pensamento de Deus". Mas esta definição é inteiramente inexata.. Se a considerás­semos como a expressão daquilo que o homem deveria ser, estaríamos mais perto da verdade. Se eu considerar os dez mandamentos como a expressão do pensamento de Deus, então, pergunto, não há nada mais no pensamento de Deus senão "farás" isto e "não farás" aquilo? Não há graça, nem misericórdia nem bondade? Deus não manifes­tará aquilo que é, nem revelará os segredos profundos desse amor que enche o Seu coração? Não existe nada mais no coração de Deus senão exigências e proibições severas"? Se fosse assim, teríamos de dizer que "Deus é lei"emvezde dizermos que" Deus é amor". Porém, bendito seja o Seu nome, existe muito mais em Seu coração do que jamais poderão expressar os "dez mandamentos" pronunciados no monte fumegante. Se quero saber o que Deus é, devo olhar para Cristo; "porque nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade" (Cl 2:9). "PorquealeifoidadaporMoisés;agraçaeaverdadevieram por Jesus Cristo" (Jo 1:17). Certamente, na lei achava-se uma certa medida de verdade; continha a verdade quanto àquilo que o homem deveria ser. Como tudo que emana de Deus, a lei era perfeita — perfeita para alcançar o fim a que era destinada; porém esse fim não era, de modo nenhum, revelar, perante pecadores culpados, a natu­reza e o caráter de Deus. Não havia graça nem misericórdia. "Que­brantando alguém a lei de Moisés, morre sem misericórdia" (Hb 10.28). "Ohomem que fizer estascoisas viverá por elas" (Lv 18:5; Rm 10:5). "Maldito todo aquele que não permanecer em todas as coisas que estão escritas no livro da lei, para fazê-las" (Dt 27:26; Gl 3:10). Nada disto era graça. Com efeito, o monte Sinai não era o lugar para se procurar tal coisa. Jeová revelou-Se ali em majestade terrível, no meio da obscuridade, trevas, tempestade, trovões e relâmpagos. Estas circunstâncias não são aquelas que acompanham uma dispensação de graça e misericórdia; mas eram próprias de uma dispensação de verdade e justiça: e a lei não era mais que isso.
Na lei Deus declara o que o homem deveria ser, e pronuncia a maldição sobre ele se o não for. Ora quando o homem se examine à luz da lei descobre que é precisamente aquilo que a lei condena. Como poderá ele, portanto, obter a vida por meio da lerv A lei propõe a vida e a justiça como os fins a alcançar, guardando-a; mas mostra-nos, desde o primeiro momento, que nos encontramos num estado de morte e iniquidade. Precisamos desde o primeiro momento das mesmíssimas coisas que a lei propõe alcançar-nos no fim. Como vamos nós, portanto, obtê-las? Para cumprir aquilo que a lei requer é preciso que eu tenha vida; e para ser o que a lei exige devo possuir a justiça; e se eu não tiver vida e justiça sou "maldito". Porém, o fato é que eu não tenho uma nem a outra. Que devo então f azer4- Eis a questão. Que respondam aqueles que querem ser "doutores da lei" (1 Tm 1.7): que dêem uma resposta própria para uma consciência reta, curvada sob o sentido duplo da espiritualidade e inflexibilidade da lei e a sua carnalidade desesperada.

O Propósito da Lei

A verdade é que, como nos ensina o apóstolo, a lei veio para que a ofensa abundasse (Rm5:20). Isto mostra-nos claramente o verda­deiro objetivo da lei: veio a propósito para que o pecado se fizesse excessivamente maligno (Rm 7:13). Era, em certo sentido, como um espelho perfeito enviado para revelar ao homem o seu desarranjo moral. Se eu me puser diante de um espelho com o meu vestuário desarranjado, o espelho mostra-me o desarranjo, mas não o põe em ordem. Se eu fizer descer sobre um muro tortuoso um prumo, o prumo mostra a tortuosidade, mas não a altera. Se eu sair numa noite escura com uma luz, esta revela-me todos os obstáculos e dificulda­des que se acham no caminho, mas não os remove. Além disso, o espelho, o prumo, e a luz não criam os males que revelam distintamente: nem os criam nem os afastam, apenas os revelam. O mesmo acontece com a lei: não cria o mal no coração dohomem nem tampouco o tira; mas revela-o com infalível exatidão.
"Que diremos pois4 É a lei pecado1?- De modo nenhum; mas eu não conheci o pecado senão pela lei; porque eu não conheceria a concupiscência se a lei não dissesse: Não cobiçarás" (Rm 7:7). O apóstolo não diz que não teria tido "concupiscência". Não, mas apenas que não a teria conhecido. A "concupiscência" existia; mas ele estava às escuras quanto ao fato, até que a lei, como a luz do Deus Onipotente, brilhou nos recessos tenebrosos do seu coração e revelou o mal que nele havia Assim como um homem numa câmara escura pode estar rodeado de poeira e confusão sem contudo poder ver nada por causa da escuridão. Mas deixai que os raios de sol penetrem ali e ele distinguirá imediatamente tudo. São os raios de sol que formam o pó? Certamente que não. O pó encontra-se ali, e os raios de sol apenas o detectam e revelam. Isto é apenas uma simples ilustração dos efeitos da lei: julga o caráter e a condição do homem. Julga o pecador e encerra-o debaixo da maldição: vem para julgar o que ele é e amaldiçoa-o se ele não é o que ela lhe diz que deve ser.


A Lei Condena o Pecador

É, portanto, claramente impossível que alguém possa obter a vida e a justificação por meio daquilo que só pode amaldiçoá-lo; e a menos que a condição do pecador e o caráter da lei sejam inteira­mente alterados, a lei não pode fazer mais que amaldiçoá-lo. A lei não é indulgente com as fraquezas, e não reconhece a obediência sincera, embora imperfeita. Se fosse este o caso, não seria aquilo que é, "santa, justa e boa" (Rm7:12). É justo que o pecador não possa obter vida pela lei porque a lei é aquilo que é. Se o pecador pudesse obter vida pela lei, a lei não seria perfeita, ou então ele não seria pecador. É impossível que o pecador possa obter vida por meio de uma lei perfeita, porque, embora seja perfeita, tem de condená-lo: a sua perfeição absoluta manifesta e sela a ruína e condenação do homem. "Porisso, nenhuma carne será justificada diante dele pelas obras da lei, porque pela lei vem o conhecimento do pecado" (Rm 3:20). O apóstolo não diz que o pecado é pela lei, mas somente que por ela vem o conhecimento do pecado. "Porque até à lei estava o pecado no mundo, mas o pecado não é imputado não havendo lei" (Rm 5:13). O pecado existia, e precisava apenas da lei para o manifestar na forma de "transgressão". É como se eu dissesse a meu filho: "não deves tocar nessa faca". A minha proibição revela a tendência do seu coração para fazer a sua própria vontade.
O apóstolo João diz que o "o pecado é iniquidade" (1 Jo 3:4). A palavra "transgressão" não traduz o verdadeiro pensamento do Espírito Santo nesta passagem (1). Para que haja transgressão é necessário que seja estabelecida uma regra ou linha de conduta definida; porque transgressão quer dizer cruzar uma linha proibi­da; essa linha têmo-la na lei. Tomemos por exemplo algumas das suas proibições: "Não matarás", "Não cometerás adultério", "Não furtarás". Aqui tenho, pois, uma regra ou linha posta diante de mim; porém descubro que tenho em mim mesmo os próprios princípios contra os quais estas proibições são expressamente dirigidas. Ainda mais, o próprio fato de me ser proibido matar mostra que o homicídio está em minha natureza. Não havia necessidade de me ser proibido fazer uma coisa que eu não tinha inclinação para fazer; porém, a revelação da vontade de Deus, quanto ao que eu deveria ser, mostra a tendência da minha vontade para ser aquilo que não devo. Isto é bem claro, e está perfeitamente de acordo com todoo ensino apostólico sobre este assunto.

Não somos Justificados pela Lei

Muitos, contudo, admitem que não podemos obter vida pela lei, mas sustentam, ao mesmo tempo, que a lei é a nossa regra de vida. Ora, o apóstolo declara que "Todos aqueles... que são das obras da lei, estão debaixo da maldição" (Gl 3:10). Pouco importa a sua condição individual, se estão sobre o terreno da lei, acham-se, necessariamente, sob a maldição. Pode ser que alguém diga: "Eu estou regenerado, e, portanto, não estou exposto à maldição." Porém, se a regeneração não retira o homem do terreno da lei, não pode pô-lo para lá dos limites da maldição da lei. Se o cristão estiver debaixo da lei, está exposto, necessariamente, à maldição da lei. Mas, que tem que ver a lei com a regeneração1?- Onde é que vemos que se trate da regeneração no capítulo 20 de Êxodos A lei tem apenas uma pergunta a fazer ao homem—uma pergunta curta, solene e direta —, a saber: "És tu o que deverias seri" Se a resposta é negativa, a lei não pode senão lançar os seus terríveis anátemas sobre o homem e matá-lo. E quem reconhecerá mais prontamente e mais profundamente que, em si mesmo, não é aquilo que deveria ser senão o homem verdadeiramente regenerado?- Portanto, se está debaixo da lei, está, inevitavelmente, debaixo da maldição. Não é possível que a lei diminua as suas exigências ou se misture com a graça. Os homens procuram sempre baixar o seu padrão; sentem que não podem elevar-se à medida da lei, e, então, procurar rebaixá-la até si; porém este esforço é vão: a lei permanece em toda a sua pureza, majestade e inflexibilidade austera, e não aceitará nada menos que uma obediência perfeita; qual é o homem, regenerado ou não, que pode intentar obedecer assim?- Dir-se-á: "Nós temos a perfeição em Cristo". Sem dúvida, mas não é pela lei, mas, sim, pela graça; e não podemos, de nenhum modo, confundir as duas dispensações. As Escrituras ensinam-nos claramente que não somos j ustif içados pela lei; nem a lei é a nossa regra de vida. Aquilo que só pode amaldiçoar nunca poderá justificar, e aquilo que só pode matar nunca poderá ser uma regra de fé. Seria como se um homem tentasse fazer fortuna valendo-se de uma ação de falência movida contra si.

Um Jugo Impossível de Levar

O capítulo 15 do livro de Atos mostra-nos como o Espírito Santo respondeu à tentativa que se pretendera fazer para pôr os crentes sob a lei, como regra de vida. "Alguns, porém, da seita dos fariseus, que tinham crido, se levantaram, dizendo que era mister circuncidá-los e mandar-lhes que guardassem a lei de Moisés" (versículo 5). Isto não era mais do que o silvo da antiga serpente fazendo-se ouvir nas sugestões sinistras e desanimadoras desses primitivos legalistas. Mas vejamos como o assunto foi resolvido pela poderosa energia do Espírito Santo e a voz unânime dos doze apóstolos e de toda a Igreja. "E, havendo grande contenda, levan-tou-se Pedro e disse-lhes: Varões irmãos, bem sabeis que já há muito tempo Deus me elegeu, dentre vós, para que os gentios ouvissem da minha boca a palavra do evangelho e cressem". — O quê? As exigências e as maldições da lei de Moisés? Não; bendito seja Deus, esta não era a mensagem que Deus queria fazer chegar aos ouvidos de pecadores perdidos. Ouvissem, então, o quê"? "OUVISSEM DA MINHA BOCA A PALAVRA DO EVANGE­LHO E CRESSEM". Aqui estava a mensagem que correspondia ao caráter e natureza de Deus. Ele nunca teria perturbado os homens com uma linguagem triste de exigências e proibições. Esses fariseus não eram Seus mensageiros — muito pelo contrário. Não eram portadores de boas novas, nem anunciadores da paz, e portanto os seus pés eram tudo menos "formosos" aos olhos d'Aquele que Se deleita em misericórdia.
"Agora, pois", continua o apóstolo, "porque tentais a Deus, pondo sobre a cerviz dos discípulos um jugo que nem nossos pais nem nós pudemos suportara" Esta linguagem era grave e forte. Deus não queria pôr "um jugo sobre a cerviz" daqueles cujos corações haviam sido libertados pelo evangelho da paz. Antes pelo contrário, desejava exortá-los a permanecerem na liberdade de Cristo e a não se meterem "outra vez debaixo do jugo da servidão" (Gl. 5:1). Não enviaria aqueles a quem havia recebido em Seu seio de amor "ao monte palpável" para os aterrorizar com a "escuridão", "trevas", e "tempestade" (Hb 12:18). Isso seria impossível. "Mas cremos", diz Pedro, "que seremos salvos PELA GRAÇA DO SE­NHOR JESUS CRISTO, como eles também" (At 15:11). Tanto os judeus, que tinham recebido a lei como os gentios, que nunca a receberam, deviam agora ser "salvos" pela "graça". E não somente deviam ser "salvos pela graça", mas estar "firmes" na graça (Rm 5:2) e crescer na graça (2Pe 3:18). Ensinar outra coisa era tentar a Deus. Esses fariseus subvertiam os próprios fundamentos da fé cristã; e o mesmo fazem todos aqueles que procuram pôr os crentes debaixo da lei. Não existe mal ou erro mais abominável aos olhos de Deus do que o legalismo. Escutai a linguagem enérgica — os acentos de justa indignação—de que se serve o Espírito Santo, a respeito desses doutores da lei: "Eu quereria que fossem cortados aqueles que vos andam inquietando" (Gl 5:12).
Mas, deixai-me perguntar, os pensamentos do Espírito Santo mudaram a este respeitou Já deixou de ser tentar a Deus pôr um jugo sobre a cerviz do pecadora E segundo a Sua vontade graciosa que a lei seja lida aos ouvidos dos pecadores? Responda o leitor a estas interrogações à luz do capítulo 15 de Atos e da Epístola aos Gálatas. Estas Escrituras, ainda mesmo que não houvesse outras, são sufici­entes para provar que a intenção de Deus nunca foi que os Gentios "ouvissem a palavra" da lei. Se fosse essa a Sua intenção, o Senhor teria, certamente, escolhido alguém para a proclamar aos seus ouvidos. Mas não; quando proclamou a Sua "lei terrível", Ele falou numa só língua; porém quando proclamou as boas novas de salva­ção, pelo sangue do Cordeiro, falou na língua "de todas as nações que estão debaixo do céu". Falou de tal moâoque cada um, na sua própria língua em que havia nascido, pudesse ouvir a doce história da graça (At 2:1 -11).

A Mensagem da Graça

Além disso, quando Deus deu, no monte Sinai, as exigências severas do concerto das obras, dirigiu-Se exclusivamente a um povo. A sua voz foi ouvida unicamente dentro dos estreitos limites da nação judaica; porém, quando, nas planícies de Belém, "o anjo do Senhor" proclamou "novas de grande alegria", acrescentou estas palavras características, "que serápara todo o povo" (Lc 2:10). Quando o Cristo ressuscitado enviou os Seus arautos de salvação, a Sua mensagem era redigida assim: "Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda a criatura" (Mc 16:15). A onda poderosa da graça, que tinha a sua origem no seio de Deus e o seu leito no sangue do Cordeiro, estava destinada a elevar-se, na energia irresistível do Espírito Santo, muito acima dos estreitos limites de Israel e rolar através do comprimento e largura de um mundo manchado de pecado. "Toda a criatura" devia ouvir "na sua própria língua" a mensagem da paz, a palavra do evangelho, o relato da salvação pelo sangue da cruz.
Finalmente, para que nada pudesse faltar para dar a prova aos nossos corações legalistas que o monte Sinai não era, de modo nenhum, o lugar onde os segredos profundos do coração de Deus foram revelados, o Espírito Santo disse, tanto por boca de um profeta como de um apóstolo: "Quão formosos os pés dos que anunciam a paz, dos que anunciam coisas boas!" (Is 52:7; Rm 10:15). Porém, daqueles que queriam ser doutores da mesma lei o Espírito Santo disse: "Eu quereria que fossem cortados aqueles que vos andam inquietando" (GI5:12).

A Lei e o Evangelho

Desta forma, é evidente que a lei não é nem o fundamento de vida para o pecador nem a regra de vida para o cristão. Cristo é tanto uma coisa como a outra. Ele é a nossa vida e a nossa regra de vida. Alei só pode amaldiçoar e matar. Cristo é a nossa vida e justiça. Ele fez-Se maldição por nós sendo pregado no madeiro. O Senhor desceu ao lugar onde estava o pecador—ao lugar da morte e do juízo —, e, havendo, pela Sua morte, cumprido inteiramente tudo que era ou poderia ser contra nós, tornou-Se, na ressurreição, a origem de vida e o fundamento de justiça para todos os que crêem no Seu nome. Possuindo assima vida e a justiça n'Ele, somos chamados para andar, não apenas como a lei ordena, mas "como ele andou" (1 Jo 2:6). Será desnecessário afirmar que matar, cometer adultério ou roubar, são atos diretamente opostos à moral cristã. Mas se um cristão regulasse a sua vida segundo esses mandamentos ou de acordo com o decálogo produziria esses frutos raros e delicados de que fala a espístola aos Efésios1?- Poderiam os dez mandamentos fazer com que um ladrão não roubasse mais e trabalhasse a fim de poder ter que dar4 Trans­formariam jamais um ladrão num homem laborioso e liberais Não, por certo. A lei diz: "Não furtarás"; mas acaso diz, "dá àquele que está em necessidade" — vai, dá de comer ao teu inimigo, veste-o e abençoa-o —, vai e alegra por teus sentimentos benevolentes e teus atos beneficentes o coração daquele que procura sempre prejudicar-te? De modo nenhum; e, contudo, se eu estivesse sob a lei, como regra, ela só podia amaldiçoar-me e matar-me. Como pode ser isto, sendo o padrão do Novo Testamento muito mais elevado"? Éporque sou fraco e a lei não me dá forças nem me mostra misericór­dia. A lei exige força daquele que não tem nenhuma eantaldiçoa-o se ele não pode mostrá-la. Mas o evangelho dá forças àquele que não tem nenhuma, e abençoa-o na manifestação dessa força. A lei propõe a vida como o fim da obediência; o evangelho dá vida como o próprio e único fundamento de obediência.
Mas, para não fatigar o leitor à força de argumentos, pergunto, se a lei é, realmente, a regra de vida do crente, em que parte do Novo Testamento se apresenta ela assima Evidentemente o apóstolo não tinha tal pensamento quando disse. "Porque, em Cristo Jesus, nem a circuncisão nem a incircuncisão têm virtude alguma, mas sim o ser um nova criatura. E, a todos quantos andarem conforme esta regra, paz e misericórdia sobre eles e sobre o Israel de Deus" (Gl 6:15-16). Qual regra? A lei?- Não, mas sim a "nova criatura".
Em capítulo 20 de Êxodo não encontramos uma só palavra quanto à "nova criação". Pelo contrário, este capítulo é dirigido ao homem tal qual ele é, no seu estado natural da velha criação, e põe-no à prova para saber o que ele pode realmente fazer. Ora se a lei era a regra pela qual os crentes deviam andar, por que pronuncia o apóstolo a sua bênção sobre os que andam segundo uma regra totalmente diferen-tei Por que não diz ele, "a todos quantos andarem conforme a regra dos dez mandamentos"1? Não é evidente, segundo esta passagem, que a Igreja de Deus tem uma regra mais elevada segundo a qual deve andara É, indiscutivelmente. Os dez mandamentos, embora façam parte, como todos os verdadeiros crentes admitem, do cânon de inspiração, nunca poderiam ser a regra de fé para todo aquele que tenha, pela graça infinita, sido introduzido na nova criação—todo aquele que tem recebido nova vida em Cristo.

A Lei é Perfeita

Mas, pode perguntar-se, "a lei não é perfeita? E se é perfeita que mais pode desejar-se?- A lei é divinamente perfeita. Na verdade, a própria perfeição da lei é a razão de amaldiçoar e matar aqueles que não são perfeitos e pretendem subsistir perante ela. "A lei é espiri­tual, mas eu sou carnal" (Rm 7:14). É inteiramente impossível fazer-se uma ideia justada perfeiçãoeespiritualidadedalei. Porém, esta lei perfeita estando em contato com a humanidade caída—esta lei espiritual entrando em contato com a mente carnal—só podia produzir a "ira" e a "inimizade" (Rm 4:15; 8:7). Por quê1?- É porque a lei não é perfeita?- Ao contrário, é porque ela o é e o homem é pecador. Se o homem fosse perfeito cumpriria a lei em toda a sua perfeição espiritual; e até mesmo no caso de crentes verdadeiros, embora tragam ainda consigo uma natureza corrompida, o apósto­lo ensina-nos: "Para que a justiça da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o espírito" (Rm 8:4): ".. .porque quem ama aos outros cumpriu a lei... O amor não faz mal ao próximo. De sorte que o cumprimento da lei é o amor" (Rm 13:8 e 10). Se eu amar o próximo não furtarei aquilo que lhe pertence; pelo contrário, procurarei fazer-lhe todo o bem que puder. Tudo isto é claro e fácil de compreender por uma alma espiritual; mas não toca na questão da lei, quer seja como fundamento de vida do pecador ou de regra de vida para o crente.

Os dois grandes Mandamentos

Se considerarmos a lei sob as suas duas partes importantes, vemos que ordena ao homem amar a Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todas as suas forças, e amarão próximo como a si mesmo. Tal é o resumo da lei. Eis o que a lei exige, e nada menos. Mas qual é o filho caído de Adão que j amais pôde responder a esta dupla exigência da lei4- Qual é o homem que pode dizer que ama Deus desta maneirai "...a inclinação da carne" (quer dizer, a inclinação que temos por natureza) "é inimizade contra Deus" (Rm 8:7). O homem aborrece a Deus e os Seus caminhos. Deus veio na Pessoa de Cristo e manifestou-Se aos homens, não na magnificência esmagadora da Sua majestade, mas com todo o encanto e a doçura de graça perfeita e condescendência. Qual foi o resultado? O homem aborreceu a Deus: "...me aborreceram a mime a meu Pai" (Jo 15:24). Mas dirá alguém, "ohomem devia amar a Deus". Sem dúvida, e merece a morte e a perdição eterna se o não fizer. Mas poderá a lei produzir este amor no coração do homemi Era esse o seu fim? De maneira nenhuma, "porque a lei opera a ira". A lei encontra o homem num estado de inimizade contra Deus; e, sem alterar nada desse estado — porque esse não era o seu objetivo — manda que ele ame a Deus de todo o seu coração, e amaldiçoa-o se o não fizer. Não pertencia ao domínio da lei alterar ou melhorar a natureza do homem; nem tampouco podia dar-lhe o poder de cumprir as suas justas exigências. Dizia: "Faze isto é viverás". Mandava que o homem amasse a Deus. Não revelava aquilo que Deus era para o homem, mesmo na sua culpa e ruína; mas dizia ao homem aquilo que ele deveria ser para Deus.
Era uma obra triste. Não se via em tudo isto o desenrolar dos atrativos poderosos do caráter divino, produzindo no homem verdadeiro arrependimento para com Deus, fundindo o seu cora­ção de gelo e elevando a sua alma em verdadeiro af eto e adoração sincera. Não; era um mandamento inflexível para amar a Deus; e, em vez de produzir amor, opera "a ira"—não porque não devesse ser amado, mas porque o homem era pecador.
Depois, lemos; "Amarás ao teu próximo como a ti mesmo". Como pode "o homem natural" fazer isto? Ama ao seu próximo como a si mesmo?- É este o princípio que se observa nas câmaras de comércio, na bolsa, nos bancos, nos negócios, nas feiras e nos mercados deste mundo"?- Ah, não! O homem não ama o seu próximo como a si mesmo. Sem sombras de dúvida, deveria fazê-lo, e se a sua condição fosse boa, ele o faria. Mas é mau — inteiramente mau—e a menos que nasça de novo da Palavra e do Espírito Santo, não pode ver nem entrar no reino deDeus(Jo3:3-5).Aleinãopode produzir este novo nascimento. Mata "o homem velho", mas não cria, nem pode criar "ohomemnovo".Comefeito, sabemos que o Senhor Jesus reuniu na Sua gloriosa Pessoa tanto Deus como o nosso próximo, visto que era, segundo a verdade fundamental da doutrina cristã, "Deus manifestado em carne" (1 Tm 3:16). Como foi Ele tratado pelo homem'? Amou-0 de todo o seu coração ou como a si mesmo*?- Ao contrário: crucificou-0 entre dois salteadores depois de haver, antecipadamente, preferido um ladrão e malfeitor a este bendito Senhor que andara fazendo bem — que tinha vindo da eterna morada de luz e amor, sendo Ele Próprio a personificação viva dessa luz e desse amor — Cujo coração tinha sempre palpitado com a mais simpatia pela necessidade humana e Cuja mão estivera sempre disposta a enxugar as lágrimas do pecador e a aliviar os seus sofrimentos. Assim, contemplando a cruz de Cristo, vemos nela uma demonstração irrefutável do fato que não está ao alcance da natureza ou capacidade do homem guardar a lei.

A Adoração

Depois de tudo que temos visto, há um interesse particular para o homem espiritual observar a posição relativa de Deus e o pecador no Hm deste memorável capítulo. "Então, disse o Senhor a Moisés: Assim dirás aos filhos de Israel:... Um altar de terra me farás e sobre ele sacrificarás os teus holocaustos, e as tuas ofertas pacíficas e as tuas ovelhas, e as tuas vacas; em todo lugar onde eu fizer celebrar a memória do meu nome, VIREI ATI E TE ABENÇOAREI. E, se me fizeres um altar de pedras, não o farás de pedras lavradas; se sobre ele levantares o teu buril, profaná-lo-ás. Não subirás também por degraus ao meu altar, para que a tua nudez não seja descoberta diante deles" (versículos 22 á 26).
Não vemos nesta passagem o homem na posição de fazer obras, mas na de um adorador: e isto no fim do capítulo 20 do Êxodo. Este fato ensina-nos claramente que o ambiente de Sinai não é aquele que Deus quer que o pecador respire—o monte de Sinai não é o lugar próprio para o encontro de Deus com o homem:".. .em todo o lugar onde eu fizer celebrar a memória do meu nome virei a ti e te abençoarei". Como esse lugar onde Jeová faz celebrar a memória do Seu nome, e onde vem para abençoar o Seu povo em adoração, é diferente dos terrores do monte fumegante!
Mas, além disso, pode encontrar-Se com o pecador num altar sem pedras lavradas ou degraus—um lugar de culto cuja constru­ção não necessita da arte do homem ou esforço humano para dele se aproximar. As pedras lavradas por mão do homem só podiam manchar o altar e os degraus só podiam descobrir a "nudez" humana. Que símbolo admirável do lugar onde Deus encontra agora o pecador, a própria Pessoa e obra de Seu Filho, Jesus Cristo, em Quem todas as exigências da lei e da justiça e da consciência são perfeitamente cumpridas! Em todos os tempos e em todos os lugares, o homem tem estado sempre pronto, de um modo ou de outro, a levantar os seus instrumentos na construção do seu altar ou para se aproximar dele pelos degraus de sua própria invenção. Porém, o resultado dessas tentativas tem sido a contaminação e a nudez... "todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças, como trapo da imundícia; e todos nós caímos como a folha, e as nossas culpas, como um vento, nos arrebatam" (Is 64:6). Quem se atreveria a aproximar-se de Deus com um vestuário de "trapo da imundície?" Ou quem poderá adorá-Lo na sua "nudeza" Que maior absurdo poderia haver do que pensar em chegar à presença de Deus de um modo que necessariamente inclui contaminação ou nudeza E contudo sucede assim sempre que o esforço humano é empregado para abrir o caminho para Deus. Não somente esse esforço é desnecessário como está marcado com a contaminação e a nudez. Deus veio tão perto do pecador, até mesmo à profundidade da sua ruína, que não há necessidade de ele levantar o instrumento da legalidade ou de subir os degraus da justiça própria — fazê-lo é apenas expor a sua imundícia e a sua nudez.
São estes os princípios com que o Espírito Santo termina esta parte notável deste livro inspirado. Que Deus os inscreva em nossos corações de forma a podermos compreender claramente a diferença essencial entre a LEI e a GRAÇA.
Extraído do Livro: Notas sobre o Pentateuco- Êxodo, de C.H Mackintosh ( O Link para o download deste livro encontra-se no Filho Varão )

Is the Church of God an Organization or an Organism?- L M Grant.

Read Exodus 18.
Exodus 18 has sometimes been used as an argument to justify a practice in the Church of appointing people to certain places of responsibility and dignity so that operations might proceed more smoothly. Does the Spirit of God have any such intention in recording the advice of Jethro, and Moses accepting this advice without question?
There was a friendly spirit between Jethro and his son-in-law, Moses. Jethro had not shared in the afflictions of Israel in their liberation from Egyptian bondage, but coming to visit Moses afterward, he found Moses sitting from morning to night to hear the causes of Israelites and to pass judgment for them. It was a most plausible alternative he suggested, one that appeals favorably to our natural thoughts. But notice that Jethro said, "I will give you counsel, and God will be with you" (v. 19). He did not suggest that God should give Moses counsel, but implied that God would be with Moses if Moses accepted Jethro's counsel. He advised Moses to appoint able and conscientious men to judge the smaller matters that arose between the people, and who could bring the larger matters to Moses.
Moses evidently considered that this was perfectly logical, and who could quarrel with this? But one fatal flaw was evident in adopting this advice. God had not commanded it, and Moses did not even consult God about this matter. Jethro could give the advice, then leave. He had not been linked with Israel in their former afflictions, and he was not to be linked with them in their wilderness trials. Moses chose "to suffer affliction with the people of God" (Heb. 11: 25), but Jethro did not.
If God intended Moses to act as he was doing, could He not give him strength for it? Certainly He could. But this history illustrates something most serious. Moses is a type of Christ. Should believers be content to have other people settle the problems they consider small, and only bring the great things to the Lord? No! We should go directly to the Lord with every occasion of need. The introduction of intermediaries is the legal principle of human organization. No wonder we find God introducing the law of Moses in Exodus 19, and God Himself putting Israel under a form of organization that Peter later spoke of as "a yoke — which neither our fathers nor we were able to bear" (Acts. 15: 10).
But even among Christians the natural tendency of our hearts is to revert to legal bondage in some way, and we fail to realize that human organization in the Church of God is legal bondage. Where some people are put in special places, then others do not need the spiritual exercise of being in the Lord's presence to receive guidance, for they get their guidance from human sources.
The body of Christ, the Church, is not an organization, but an organism, that which is vitally connected with the Head of the body and which receives its nourishment, guidance and direction from the Head (Eph. 4: 15-16). When first instituted after the resurrection of the Lord Jesus, the Church had no human head on earth, such as Moses. Apostles were present, not as being authorities themselves, but as unitedly insisting on the sole authority of the Lord Jesus. When some Jewish believers came to Antioch and insisted that Gentile believers should be circumcised and keep the law, this was settled at Jerusalem, not by the authority of any apostle, but by the word of God (Acts 15: 7-8; 17-18), which was declared by the apostles and accepted by the gathered brethren.
It was necessary to have apostles as the connecting link between the dispensation of law and that of the grace of God, necessary that such men of devoted character should be used to lay the foundation of Christianity (1 Cor. 3: 10-11; Eph. 2: 20), that is, to lay down the truth of God concerning Christ in all His relationships. Apostles themselves passed away, but they have left their writings, scriptures that are authoritative, and by which the Church of God may be guided and preserved in all her subsequent history. While they were living, apostles did appoint elders in various assemblies, and Paul instructed Titus to appoint elders in each assembly in Crete (Titus 1: 5). Assemblies never did appoint elders, and there are no apostles living to do so now, nor delegates of the apostles.
However, once the Church has been established, there is no reason why believers should not be unitedly guided by the Spirit of God, who remains as a living power in the Church, as was not true under the dispensation of law. Are there no elders therefore? By all means elders are still in the Church, but not as appointed by men. There are those who can do the work without any appointment, for God has fitted them for the work. We should certainly pray for such, and appreciate their wise counsel and help.
As regards ministry of the word of God, God Himself gives gifts who are to respond to His own leading in devoted service. They do not need the appointment of men, but the power of God. If the assembly sees a spiritual gift in a saint, they should gladly encourage him. With the Spirit of God leading, there will be humility and unity. The assembly will gladly express fellowship with such a servant in the measure in which they can approve of his service.
In all spiritual service, we are therefore to depend, not in any way upon human arrangements, but upon the power of the Spirit of God. On the other hand, in Acts 6: 3 the saints at Jerusalem were told to look out from among themselves seven men of good reputation to take care of material needs among the saints. These are the deacons of which 1 Timothy 3: 8-13 speaks. As to caring for material things, the assembly is perfectly right to appoint those whom they can trust to do this work. But God does not allow us to choose for ourselves the ministers of spiritual things whom we desire. How good it is that God cares for us so perfectly! Yet we so little respond to this that when difficulties arise we look all around us for some human means of meeting these. Such means will be appealing to our rationalizing minds, things that have been adopted by many groups of Christians, but leaving out the clear leading of God by His Spirit. How humbling it is that we are thus expressing the opinion that Christ is not enough!
It is natural to desire a thriving testimony, but if such a testimony becomes an object, then Christ has lost His place as the one Object worthy of our confidence. Let us return to our first love, and value the living power of the Spirit in the body of Christ.
L.M. Grant.

La Iglesia como era al principio y su estado actual- J. N. Darby

Podemos considerar a la Iglesia desde dos puntos de vista. Primeramente, es la reunión de los hijos de Dios, formados en un solo cuerpo, unidos por el poder del Espíritu Santo en Cristo Jesús, el hombre glorificado, ascendido al cielo. En segundo lugar, es la casa o habitación de Dios por el Espíritu.

El Salvador se dio a sí mismo, no solamente para salvar perfectamente a todos los que creen en Él, sino también “para congregar en uno a los hijos de Dios que estaban dispersos” (Juan 11:52). Cristo cumplió perfectamente la obra de la redención; habiendo ofrecido un solo sacrificio por los pecados, se sentó a la diestra de Dios. “Porque con una sola ofrenda hizo perfectos para siempre a los santificados.” El Espíritu Santo nos da testimonio al decir: “Y nunca más me acordaré de sus pecados y transgresiones” (Hebreos 10:14, 17). El amor de Dios nos ha dado a Jesús; la justicia de Dios está plenamente satisfecha por Su sacrificio, y Él está sentado a la diestra de Dios como un testimonio continuo de que la obra de la redención está cumplida, de que somos aceptos en Él y de que poseemos la gloria a la que somos llamados. Según su promesa, Jesús envió al Espíritu Santo del cielo, el Consolador, quien mora en nosotros, los que creemos en Jesús, y quien nos ha sellado para el día de la redención, es decir, para la glorificación de nuestros cuerpos. El mismo Espíritu es, además, las arras de nuestra herencia.

Todas estas cosas podrían ser verdad, aun cuando no hubiese una Iglesia en la tierra. Hay individuos salvos, hay hijos de Dios herederos de la gloria del cielo; pero estar unidos a Cristo, ser miembros de su cuerpo, de su carne y de sus huesos, es otra cosa muy distinta; y es otra cosa aún ser la habitación de Dios por el Espíritu. Nosotros hablaremos de estos últimos puntos.

No hay nada más claramente demostrado en las Santas Escrituras que el hecho de que la Iglesia es el cuerpo de Cristo. No solamente somos salvos por Cristo, sino que estamos en Cristo y Cristo en nosotros. El verdadero cristiano que goza de Sus privilegios sabe que, por medio del Espíritu Santo, él está en Cristo y Cristo en él. “En aquel día”, dice el Señor, “vosotros conoceréis que yo estoy en mi Padre, y vosotros en mí, y yo en vosotros” (Juan 14:20). En aquel día, es decir, en el día cuando hayáis recibido el Espíritu Santo enviado del cielo. “Pero el que se une al Señor, un espíritu es con él” (1 Corintios 6:17).

Así pues, estamos en Cristo y somos miembros de su cuerpo. Esta doctrina está ampliamente desarrollada en la epístola a los Efesios, capítulos 1 a 3. ¿Qué podría haber más claro que esta palabra: “Y lo dio por cabeza sobre todas las cosas a la iglesia, la cual es su cuerpo” (Efesios 1:22, 23)? Observad que este hecho maravilloso comenzó, o se encontró que existía, tan pronto como Cristo fue glorificado en el cielo, aunque todo lo que se encuentra contenido en estos versículos no ha sido todavía cumplido. Dios, dice el apóstol, nos ha resucitado junto con Él, nos ha sentado en Él en los lugares celestiales —no todavía con Él, sino “en Él”—. Y en el capítulo 3: “Misterio que en otras generaciones no se dio a conocer a los hijos de los hombres, como ahora es revelado a sus santos apóstoles y profetas por el Espíritu: que los gentiles son coherederos y miembros del mismo cuerpo, y copartícipes de la promesa en Cristo Jesús por medio del evangelio… para que la multiforme sabiduría de Dios sea ahora dada a conocer por medio de la iglesia a los principados y potestades en los lugares celestiales” (Efesios 3:5- 6, 10).

Aquí, pues, la Iglesia está formada en la tierra por el Espíritu Santo que bajó del cielo, después que Cristo fue glorificado. Está unida a Cristo, su Cabeza celestial, y todos los verdaderos creyentes son sus miembros por el mismo Espíritu. Esta preciosa verdad se halla confirmada en otros pasajes; por ejemplo, en la epístola a los Romanos, capítulo 12: “Porque de la manera que en un cuerpo tenemos muchos miembros, pero no todos los miembros tienen la misma función, así nosotros, siendo muchos, somos un cuerpo en Cristo, y todos miembros los unos de los otros” (Romanos 12:4-5).

No es preciso citar otros pasajes; llamamos solamente la atención del lector respecto del capítulo 12 de la primera epístola a los Corintios. Está claro como la luz del mediodía que el apóstol habla aquí de la Iglesia en la tierra, no de una Iglesia futura en el cielo, y ni siquiera de iglesias dispersas en el mundo, sino de la Iglesia en conjunto, representada, sin embargo, por la iglesia de Corinto. Por eso se dice al comienzo de la epístola: “A la iglesia de Dios que está en Corinto, a los santificados en Cristo Jesús, llamados a ser santos, con todos los que en cualquier lugar invocan el nombre de nuestro Señor Jesucristo, Señor de ellos y nuestro.” La totalidad de la Iglesia se halla claramente indicada por estas palabras: “Y a unos puso Dios en la iglesia, primeramente apóstoles, luego profetas, lo tercero maestros, luego los que hacen milagros, después los que sanan.” Es evidente que los apóstoles no se hallaban en una iglesia particular, y que los dones de sanidades no podían ser ejercidos en el cielo. Claramente es la Iglesia universal en la tierra. Esta Iglesia es el cuerpo de Cristo, y los verdaderos creyentes son sus miembros.

Ella es una por el bautismo del Espíritu Santo. “Porque así como el cuerpo es uno, y tiene muchos miembros, pero todos los miembros del cuerpo, siendo muchos, son un solo cuerpo, así también Cristo” (v. 12). Entonces, después de haber dicho que cada uno de estos miembros trabaja según su propia función en el cuerpo, el apóstol agrega: “Vosotros, pues, sois el cuerpo de Cristo, y miembros cada uno en particular” (v. 27). Tened presente que esto sucede como consecuencia del bautismo del Espíritu Santo que descendió del cielo. Por consiguiente, este cuerpo existe en la tierra y comprende a todos los cristianos, dondequiera que se encuentren; ellos han recibido el Espíritu Santo, por lo que son miembros de Cristo y miembros los unos de los otros. ¡Oh, qué hermosa es esta unidad! Si un miembro sufre, todos los miembros sufren con él; y si un miembro recibe honra, todos los miembros se regocijan con él.

La palabra nos enseña aquí que los dones son miembros de “todo el cuerpo”, y que ellos pertenecen al cuerpo en su conjunto. Los apóstoles, los profetas, los maestros, están en la Iglesia y no en una iglesia particular. Por consiguiente, resulta que estos dones dados por el Espíritu Santo, son ejercidos en toda la Iglesia, dondequiera que se encuentre el miembro que los posee, porque él es miembro del cuerpo. Si Apolos enseñaba en Éfeso, también enseñaba cuando estaba en Corinto, y en cualquier localidad en la que pudiera hallarse.
La Iglesia es, pues, el cuerpo de Cristo, unido a Él, su Cabeza en el cielo. Venimos a ser miembros de este cuerpo por el Espíritu que mora en nosotros, y todos los cristianos son miembros los unos de los otros. Esta Iglesia que pronto será hecha perfecta en el cielo, es formada actualmente en la tierra por el Espíritu Santo enviado del cielo, quien mora con nosotros y por quien todos los verdaderos creyentes son bautizados en un solo cuerpo (1 Corintios 12:13). Como miembros de un solo cuerpo, los dones son ejercidos en la Iglesia entera.
Hay todavía, como lo dijimos, otro carácter de la Iglesia de Dios en la tierra; ella, aquí abajo, es la habitación de Dios. Es interesante observar que esto no tuvo lugar antes que se cumpliese la redención. Dios no habitó con Adán ni aun cuando él era todavía inocente, ni con Abraham, aunque visitó con mucha condescendencia al primer hombre en el paraíso, como lo hizo también más tarde con el padre de los creyentes. No obstante, Él nunca moró con ellos. Pero una vez que Israel fue sacado de Egipto, un pueblo redimido (Éxodo 15:13), Dios comenzó a morar en medio de su pueblo. Tan pronto como la construcción del tabernáculo fue revelada y regulada, Dios dijo: “Y habitaré entre los hijos de Israel; y seré su Dios. Y conocerán que yo soy Jehová su Dios, que los saqué de la tierra de Egipto, para habitar en medio de ellos” (Éxodo 29:45-46). Después de haber liberado a su pueblo, Dios habitó en medio de él, y la presencia de Dios fue su mayor privilegio.

La presencia del Espíritu Santo es lo que caracteriza a los verdaderos creyentes en Cristo: “Vuestro cuerpo es templo del Espíritu Santo” (1 Corintios 6:19). “Si alguno no tiene el Espíritu de Cristo, no es de él” (Romanos 8:9). Los cristianos, colectivamente, son el templo de Dios, y el Espíritu de Dios habita en ellos (1 Corintios 3:16). Sin hablar del cristiano individualmente entonces, diré que la Iglesia en la tierra es la habitación de Dios por el Espíritu. ¡Qué precioso privilegio! ¡La presencia de Dios mismo, fuente de gozo, de fuerza y de sabiduría para su pueblo! Pero al mismo tiempo, hay una enorme responsabilidad en cuanto a la manera en que tratamos a un invitado tal. Citaré algunos pasajes para demostrar esta verdad. En Efesios 2:19-22 leemos: “Así que ya no sois extranjeros ni advenedizos, sino conciudadanos de los santos, y miembros de la familia de Dios, edificados sobre el fundamento de los apóstoles y profetas, siendo la principal piedra del ángulo Jesucristo mismo, en quien todo el edificio, bien coordinado, va creciendo para ser un templo santo en el Señor; en quien vosotros también sois juntamente edificados para morada de Dios en el Espíritu.”

Vemos aquí que, aunque esta edificación ya se comenzó en la tierra, la intención de Dios es tener un templo, compuesto de todos los que creen, después de que Dios hubo derribado la pared intermedia de separación que excluía a los gentiles; y que este edificio crece hasta que todos los cristianos estén reunidos en la gloria. Pero mientras tanto, los creyentes en la tierra forman el tabernáculo de Dios, Su morada por el Espíritu, el cual mora en medio de la Iglesia.

En 1 Timoteo 3:14-15, el apóstol dice: “Esto te escribo, aunque tengo la esperanza de ir pronto a verte, para que si tardo, sepas como debes conducirte en la casa de Dios, que es la iglesia del Dios viviente, columna y baluarte de la verdad.” Según estas palabras, vemos que los cristianos en la tierra son la casa del Dios viviente, y que esta epístola enseña a Timoteo cómo debe conducirse en esta casa. Vemos también que el cristiano es responsable de mantener la verdad en el mundo. La Iglesia no tiene que enseñar, pero los apóstoles enseñan, los maestros enseñan, y el cristiano mantiene la verdad siendo fiel. La Iglesia es el testigo de la verdad en el mundo. Los que buscan la verdad, no la buscan entre los paganos, los judíos o los mahometanos, sino en la Iglesia cristiana. Ésta no es una autoridad para la verdad; la Palabra es la autoridad. La Iglesia es el vaso que contiene la verdad; y allí donde la verdad no está, no hay Iglesia. La Iglesia es el cuerpo de Cristo, y este último es la Cabeza en el cielo[1] .

Tal es la casa de Dios en la tierra. Cuando la Iglesia esté completa, se reunirá con Cristo en el cielo, revestida de la misma gloria que su Esposo. Es necesario, antes de hablar del estado de la Iglesia tal como era al principio, señalar una diferencia que se encuentra en la Palabra de Dios, en cuanto a la casa. El Señor dijo: “Sobre esta roca edificaré mi iglesia” (Mateo 16:18). Es el mismo Cristo el que edifica su Iglesia; y, por lo tanto, las puertas del hades no prevalecerán contra ella[2]. Aquí, no es el hombre el que edifica, sino Cristo. Ésta es la razón por la que el apóstol Pedro, cuando habla de la casa espiritual, no dice nada de los obreros: “Acercándoos a él, piedra viva… vosotros también, como piedras vivas, sed edificados como casa espiritual y sacerdocio santo, para ofrecer sacrificios espirituales aceptables a Dios por medio de Jesucristo” (1 Pedro 2:4-5).
Ésta es la obra de la gracia en el corazón del individuo, por la cual el hombre se acerca a Cristo. En apoyo de eso, se dice además que “el Señor añadía cada día a la iglesia los que habían de ser salvos” (Hechos 2:47). Esta obra no podía echarse a perder, puesto que es la obra de Dios, eficaz para la eternidad, y manifestada a su tiempo. Leamos aún en la epístola a los Efesios, capítulo 2: “Edificados sobre el fundamento de los apóstoles y profetas, siendo la principal piedra del ángulo Jesucristo mismo, en quien todo el edificio, bien coordinado, va creciendo para ser un templo santo en el Señor.” Este edificio que crece, puede manifestarse a los ojos de los hombres; pero, si el efecto de esta obra de gracia eficaz no se manifiesta en su unidad exterior ante los ojos de los hombres, Dios no dejará por eso de hacer su obra, reuniendo a sus hijos para la vida eterna. Las almas vienen a Cristo y son edificadas sobre él.
Los apóstoles Juan y Pablo, y más concretamente el último, hablan de la unidad manifestada ante los hombres, para testimonio del poder del Espíritu a los hombres. En Juan 17 leemos: “Mas no ruego solamente por éstos, sino también por los que han de creer en mí por la palabra de ellos, para que todos sean uno; como tú, oh Padre, en mí, y yo en ti, que también ellos sean uno en nosotros; para que el mundo crea que tú me enviaste” (Juan 17:20-21). Aquí, la unidad de los hijos de Dios es un testimonio hacia el mundo de que Dios envió a Jesús para que el mundo crea. Como consecuencia de esta verdad, está claro que el deber de los hijos de Dios es manifestar esta realidad. Todos reconocen de qué manera el estado contrario a esta verdad es un arma en las manos de los enemigos de esta verdad.

El carácter de la casa y la doctrina de la responsabilidad de los hombres se enseñan aún en otros pasajes de la Palabra de Dios. Pablo dice: “Vosotros sois, edificio de Dios. Conforme a la gracia de Dios que me ha sido dada, yo como perito arquitecto puse el fundamento, y otro edifica encima, pero cada uno mire cómo sobreedifica” (1 Corintios 3:9-10). Aquí, es el hombre el que edifica. La casa de Dios se manifiesta en la tierra. La Iglesia es el edificio de Dios, pero no tenemos allí la obra de Dios solamente —esto es, los que vienen a Dios atraídos por el Espíritu Santo— sino el efecto de la obra de los hombres, que a menudo han edificado con madera, heno, hojarasca, etc.

Los hombres confundieron la casa exterior, edificada por los hombres, con la obra de Cristo que puede ser idéntica a la de los hombres, pero puede también diferir ampliamente. Falsos maestros atribuyeron todos los privilegios del cuerpo de Cristo a la “casa grande”, compuesta de toda clase de iniquidad y de hombres corrompidos (2 Timoteo 2). Este fatal error no destruye la responsabilidad de los hombres en lo que respecta a la casa de Dios —su morada por el Espíritu Santo—, como tampoco esta responsabilidad se destruye con relación a la unidad del Espíritu, en un único cuerpo sobre la tierra.

Me parece importante señalar esta diferencia, porque arroja mucha luz sobre las cuestiones actuales. Pero prosigamos con nuestro tema. ¿Cuál era el estado de la Iglesia al principio en Jerusalén? Vemos que se manifestaba el poder del Espíritu Santo maravillosamente. “Todos los que habían creído estaban juntos, y tenían en común todas las cosas; y vendían sus propiedades y sus bienes, y lo repartían a todos según la necesidad de cada uno. Y perseverando unánimes cada día en el templo, y partiendo el pan en las casas, comían juntos con alegría y sencillez de corazón, alabando a Dios, y teniendo favor con todo el pueblo. Y el Señor añadía cada día a la iglesia los que habían de ser salvos” (Hechos 2). Y en el capítulo 4: “Y la multitud de los que habían creído era de un corazón y un alma; y ninguno decía ser suyo propio nada de lo que poseía, sino que tenían todas las cosas en común. Y con gran poder los apóstoles daban testimonio de la resurrección del Señor Jesús, y abundante gracia era sobre todos ellos. Así que no había entre ellos ningún necesitado, porque todos los que poseían heredades o casas, las vendían, y traían el precio de lo vendido, y lo ponían a los pies de los apóstoles, y se repartía a cada uno según su necesidad” (Hechos 4:32-35). ¡Qué espléndida descripción del efecto del poder del Espíritu en sus corazones, efecto que desaparecería demasiado pronto y para siempre!; pero los cristianos deben procurar realizar este estado tanto como les sea posible.
La maldad del corazón del hombre se manifestó rápidamente: Ananías y Safira, luego la murmuración de los griegos contra los hebreos, porque sus viudas eran descuidadas en las distribuciones diarias, manifestarán que el pecado del corazón del hombre, unido a la obra del diablo, ya actuaba en el seno de la Iglesia. Pero, al mismo tiempo, el Espíritu Santo estaba en la Iglesia y actuaba allí, y bastaba para poner fuera el mal y cambiarlo en bien; la Iglesia era una, conocida por el mundo, y se podía decir entonces que los apóstoles, cuando salían, iban y volvían siempre dentro de su misma compañía. Una única Iglesia, llena del Espíritu Santo, daba testimonio a la salvación de Dios y a Su presencia en la tierra; y Dios añadía a esta Iglesia a los que habían de ser salvos. Esta Iglesia fue dispersada por la persecución, excepto los apóstoles que permanecieron en Jerusalén. Dios suscita entonces a Pablo para ser su mensajero para los gentiles. Comienza a edificar la Iglesia entre los gentiles y enseña que en ella no hay judíos ni gentiles, sino que todos son uno y el mismo cuerpo en Cristo. No sólo se proclama la existencia de la Iglesia entre los gentiles, sino que además la doctrina de la Iglesia, su unidad, la unión de los judíos y de los gentiles en un cuerpo, se pone en ejecución. Fue el objeto de los consejos de Dios desde antes de la fundación del mundo, oculta en Dios; misterio que había estado escondido desde los siglos en Dios, a fin de dar a conocer ahora a los principados y a las potestades en los lugares celestiales, por medio de la Iglesia, la multiforme sabiduría de Dios: lo que en otras edades no fue dado a conocer a los hijos de los hombres, como ha sido ahora revelado a sus santos apóstoles y profetas[3] por medio del Espíritu. Por ello se dice a los Colosenses: “El misterio que ha estado oculto a los siglos y a las generaciones, pero que ahora ha sido manifestado a sus santos” (Colosenses 1:26).

Los cristianos eran todos conocidos, públicamente admitidos en la Iglesia, tanto gentiles como judíos. La unidad era manifestada. Todos los santos eran miembros de un solo cuerpo, del cuerpo de Cristo; la unidad del cuerpo era reconocida, y era una verdad fundamental del cristianismo. En cada localidad, había una manifestación de esta unidad de la Iglesia de Dios sobre la tierra; de modo que una epístola de Pablo dirigida a la iglesia de Dios en Corinto, llegaba a una sola asamblea; y el apóstol podía añadir a continuación: “con todos los que en cualquier lugar invocan el nombre de nuestro Señor Jesucristo, Señor de ellos y nuestro”. Sin embargo, si hablamos especialmente de los que estaban en Corinto, dice: “Vosotros, pues, sois (el) cuerpo de Cristo, y miembros cada uno en particular.” Si un cristiano, miembro del cuerpo de Cristo, iba de Éfeso a Corinto, era necesariamente también miembro del cuerpo de Cristo en esta última asamblea. Los cristianos no son miembros de una asamblea, sino de Cristo. El ojo, la oreja, el pie o cualquier otro miembro que estuviese en Corinto, lo era también en Éfeso. En la Palabra no encontramos la idea de ser miembro de una iglesia, sino de miembros de Cristo.

El ministerio, tal como es presentado en la Palabra, es también una prueba de la misma verdad. Los dones, fuente del ministerio, otorgados por el Espíritu Santo, estaban en la Iglesia (1 Corintios 12:8-12, 28). Aquellos que los poseían eran miembros del cuerpo. Si Apolos era maestro en Corinto, lo era también en Éfeso. Si era el ojo, la oreja, o cualquier otro miembro del cuerpo de Cristo en Éfeso, también lo era en Corinto. No hay nada más claramente expresado sobre este tema que lo que leemos en 1 Corintios 12: un cuerpo, muchos miembros; la Iglesia era una sola, y en ella se hallaban los dones que el Espíritu Santo había dado —dones que se ejercían en cualquier localidad donde pudiese estar el que los poseyera—. El capítulo 4 de la epístola a los Efesios contiene la misma verdad. Cuando Cristo ascendió a lo alto, “dio dones a los hombres... Y él mismo constituyó a unos, apóstoles; a otros, profetas; a otros, evangelistas; a otros, pastores y maestros, a fin de perfeccionar a los santos para la obra del ministerio, para la edificación del cuerpo de Cristo, hasta que todos lleguemos a la unidad de la fe y del conocimiento del Hijo de Dios, a un varón perfecto, a la medida de la estatura de la plenitud de Cristo; para que ya no seamos niños fluctuantes, llevados por doquiera de todo viento de doctrina, por estratagema de hombres que para engañar emplean con astucia las artimañas del error, sino que siguiendo la verdad en amor, crezcamos en todo en aquel que es la cabeza, esto es, Cristo, de quien todo el cuerpo, bien concertado y unido entre sí por todas las coyunturas que se ayudan mutuamente, según la actividad propia de cada miembro, recibe su crecimiento para ir edificándose en amor.”

Esta unidad y la libre actividad de los miembros era una realidad práctica en el tiempo de los apóstoles. Se reconocía plenamente cada don como suficiente para llevar a cabo la obra del Señor, y se ejercía libremente. Los apóstoles trabajaban como apóstoles, y asimismo los que habían sido dispersados en ocasión de la primera persecución, trabajaban en la obra según la medida de sus dones. Es así como los apóstoles enseñaban (1 Pedro 4:10-11; 1 Corintios 14:26, 29); y así lo hicieron los cristianos. El diablo pretendió destruir esta unidad, pero no logró su objetivo mientras los apóstoles vivían. Empleó el judaísmo para alcanzar este objetivo; pero el Espíritu Santo preservó la unidad, como lo leemos en Hechos 15. El diablo pretendió crear sectas por medio de la filosofía (1 Corintios 2), y de estas dos cosas juntas (Colosenses 2); pero todos sus esfuerzos fueron inútiles. El Espíritu Santo actuaba en medio de la Iglesia, así como la sabiduría otorgada a los apóstoles para mantener la unidad y la verdad de la Iglesia contra el poder del enemigo. Cuanto más se leen los Hechos de los Apóstoles y las Epístolas, tanto más se ven esta unidad y esta verdad. La unión de estas dos cosas no puede tener su efecto sino por la acción del Espíritu Santo. La libertad individual no es unión; y la unión entre los hombres no deja al individuo su plena libertad. Cuando el Espíritu Santo gobierna, une necesariamente a los hermanos entre sí y actúa en cada uno de ellos según el objetivo que se propuso a sí mismo al unirlos, es decir, según Su propio propósito. Por ello el Espíritu Santo reúne a todos los santos en un solo cuerpo, y actúa en cada uno de ellos según Su voluntad, conduciéndolos en el servicio del Señor para la gloria de Dios y la edificación del cuerpo. ¡Tal era la Iglesia! ¿Es eso ella ahora, y dónde existe? Será perfecta en el cielo, de acuerdo; pero ¿dónde encontrarlo ahora en la tierra? Los miembros del cuerpo de Cristo ahora están dispersos; varios están ocultos en el mundo, otros están en medio de la corrupción religiosa; unos se hallan en una secta, otros en otra, y todas en rivalidad para atraer a los que son salvos. Muchos, gracias a Dios, buscan realmente la unidad; pero, ¿quién la ha encontrado? No basta con decir que por el mismo Espíritu, fuimos bautizados en un solo cuerpo: “Para que todos sean uno…”, dice el Señor, “para que el mundo crea que tú me enviaste.” Pero no somos uno; no se manifiesta la unidad del cuerpo. Al principio se manifestaba claramente, y, en cada ciudad, esta unidad era evidente a los ojos del mundo. Todos los cristianos iban por todas partes como una sola Iglesia. El que era miembro de Cristo en una localidad, lo era también en otra, y se recibía en todas partes al que tenía una carta de recomendación, puesto que sólo había una asamblea.

La Cena era la señal exterior de la unidad: “Siendo uno solo el pan, nosotros, con ser muchos, somos un cuerpo; pues todos participamos de aquel mismo pan” (1 Corintios 10:17). El testimonio que la Iglesia rinde hoy es más bien éste: que el Espíritu Santo, su poder y su gracia, no puede superar las causas de las divisiones. La mayor parte de esto que se llama la Iglesia es el asiento de la corrupción más grosera y la mayoría de aquellos que presumen de su luz son incrédulos. Ortodoxos, reformados, católicos, luteranos, no toman la Cena juntos; se condenan unos a otros. La luz de los hijos de Dios que se encuentran en las distintas sectas, yace oculta bajo un almud; y los que se separan de estos cuerpos, porque no pueden soportar esta corrupción, se dividen en cientos de partidos que no tomarán la Cena juntos. Ni los unos, ni los otros, pretenden ser la Iglesia de Dios, pero dicen que ella se ha vuelto invisible. ¿Cuál es, pues, el valor de una luz invisible? Sin embargo, no hay ni humillación, ni confesión, por más que se reconozca que la luz se volvió invisible. La unidad, en lo que respecta a su manifestación, está destruida. La Iglesia, que una vez era bella, unida, celestial, perdió su carácter; se halla oculta en el mundo; y los mismos cristianos son mundanos, llenos de codicias, ávidos de riquezas, de honores, de poder, similares a los hijos de este siglo. Son una epístola, en la cual nadie puede leer una sola palabra de Cristo[4]. La mayor parte de lo que lleva el nombre de cristiano es infiel o constituye el asiento del enemigo, y los verdaderos cristianos están perdidos en medio de la multitud. ¿Dónde encontrarán “un solo pan”, el emblema del “un cuerpo”? ¿Dónde está el poder del Espíritu que une a los cristianos en un solo cuerpo? ¿Quién puede negar que los cristianos hayan sido así? ¿Y no son culpables de no ser lo que una vez fueron? ¿Podemos considerar bueno que se esté en un estado muy diferente del que estaba la Iglesia al principio, y que la Palabra reclama de nosotros? Deberíamos estar profundamente afligidos de un estado tal como el de la Iglesia en el mundo, porque no responde de ningún modo al corazón y al amor de Cristo. Los hombres se limitan a tener asegurada su vida eterna.

¿Buscamos lo que la Palabra dice sobre este punto? Encontramos en Romanos 11, de una manera general, lo que concierne a cada economía o dispensación, a los caminos del Señor para con los judíos y para con las ramas de entre los gentiles que sustituyeron a los judíos: “La severidad ciertamente para con los que cayeron, pero la bondad para contigo, si permaneces en esa bondad; pues de otra manera tú también serás cortado.” ¿No es una cosa muy seria, que el pueblo de Dios en la tierra sea cortado? Ciertamente los fieles son y serán guardados; puesto que Dios no falta nunca a su fidelidad; pero todos los sistemas en los cuales se glorifica, pueden ser —y de hecho lo serán— juzgados y cortados. La gloria de Dios, su presencia visible y real, estuvo en Jerusalén, su trono estaba entre los querubines. Durante el cautiverio en Babilonia, su presencia abandonó Jerusalén, y su gloria así como su presencia no estuvieron ya más en el templo, en medio del pueblo. Y aunque su larga paciencia hacia ellos los soportó hasta el tiempo en que Cristo fue rechazado, Dios, sin embargo, los cortó en lo que respecta a ese pacto. El remanente se convirtió en los cristianos, pero todo el sistema llegó a su fin por el juicio. El sistema cristiano tendrá el mismo fin, si no persevera en la bondad de Dios; y no ha perseverado. En consecuencia, aunque yo tengo la firme convicción de que todo verdadero cristiano será preservado y arrebatado al cielo, en lo que respecta al testimonio de la Iglesia en la tierra, a la casa de Dios por el Espíritu, no existirá ya más. Pedro había dicho: “Es tiempo de que el juicio comience por la casa de Dios” (1 Pedro 4:17); y en el tiempo de Pablo, el misterio de la iniquidad ya estaba en curso y debía seguir hasta que el hombre de pecado estuviese allí. Ya en el tiempo del apóstol, cada uno buscaba su propio interés y no el de Cristo (Filipenses 1). El apóstol nos dice aún, que después de su partida entrarían en la Iglesia lobos rapaces que no perdonarían al rebaño (Hechos 20:29), y que en los últimos días vendrían tiempos peligrosos, hombres con apariencia de piedad, pero que negarían su poder; malos hombres e impostores que irían de mal en peor, engañando y siendo engañados (2 Timoteo 3:5, 13), y que finalmente tendría lugar la apostasía. ¿Todo eso constituye la perseverancia en la gracia de Dios? Esta infidelidad ¿es algo desconocido en la historia del hombre? Dios siempre comenzó por colocar a sus criaturas en una buena posición, pero la criatura abandonó invariablemente la posición en la cual Dios la había puesto, y se volvió infiel en ella. Dios, después de larga paciencia, nunca restablece a la posición de la cual se cayó. No corresponde a sus caminos restaurar una cosa que se echó a perder; sino que Él directamente la corta, para introducir luego algo totalmente nuevo, mucho mejor que lo que había sido antes. Adán cayó, y Dios quiere que el segundo Adán sea el Señor del cielo. Dios dio la ley a Israel, pero éste hizo el becerro de oro antes de que Moisés bajase de la montaña; y Dios quiere escribir la ley en el corazón de su pueblo. Dios estableció el sacerdocio de Aarón, pero sus hijos ofrecen inmediatamente “fuego extraño”; y, a partir de entonces, Aarón no pudo entrar más en el lugar santísimo con sus vestiduras de “gloria y hermosura”. Dios hizo sentar al hijo de David en el trono de Jehová (1 Crónicas 29:23), pero dado que la idolatría fue introducida por él, el reino fue dividido, y el trono del mundo fue otorgado por Dios a Nabucodonosor, quien hizo una gran estatua de oro y lanzó a los fieles a la hoguera ardiente. En cada ocasión el hombre fracasó; y Dios, después de haberlo soportado mucho tiempo, interviene en juicio, y sustituye el sistema anterior por uno mejor.

Es interesante observar cómo todas las cosas en las que el hombre fracasó, se restablecen de una manera más excelente en el segundo Hombre. El hombre será exaltado en Cristo, la ley escrita en el corazón de los judíos, el sacerdocio ejercido por Jesucristo. Él es el hijo de David que reinará sobre la casa de Israel; regirá las naciones. Lo mismo ocurre en lo que se refiere a la Iglesia; ella fue infiel, no mantuvo la gloria de Dios que le había sido confiada; a causa de eso, como sistema, será cortada de la tierra; el orden de cosas establecido por Dios finalizará por el juicio; los fieles subirán al cielo en una condición mucho mejor, para ser conformados a la imagen del Hijo de Dios, y se establecerá el reino del Señor en la tierra. Todas estas cosas serán un admirable testimonio de la fidelidad de Dios, quien cumplirá todos sus propósitos a pesar de la infidelidad del hombre. Pero ¿anula esto la responsabilidad del hombre? ¿Cómo Dios, pues, como dice el apóstol, juzgaría al mundo? Nuestros corazones ¿no sienten que arrastramos la gloria de Dios al polvo? El mal comenzó a partir del tiempo de los apóstoles; cada uno agregó a éste su parte; la iniquidad de los siglos se amontona sobre nosotros; pronto la casa de Dios será juzgada; se volvió a demandar la sangre de todos los justos a la nación judía, y Babilonia también será hallada culpable de la sangre de todos los santos.

Es cierto que serán arrebatados al cielo; pero, junto con eso, ¿no deberíamos afligirnos por la ruina de la casa de Dios? Sí, sin duda. Ella era una; un testimonio magnífico a la gloria de su Cabeza por el poder del Espíritu Santo; unida, celestial, la cual daba a conocer al mundo el efecto del poder del Espíritu Santo, que ponía al hombre sobre todo motivo humano, y hacía desaparecer las distinciones y las diversidades, llevando creyentes de todas las regiones y de todas las clases para ser una sola familia, un solo cuerpo, una sola Iglesia: testimonio poderoso de la presencia de Dios en la tierra en medio de los hombres.

Se objeta que no somos responsables de los pecados de nuestros antecesores. ¿No somos responsables del estado en el cual nos encontramos? ¿Acaso un Nehemías, un Daniel, se excusaron por los pecados del pueblo? ¿No confesaron más bien el miserable estado del pueblo de Dios, como si perteneciera a ellos mismos? Si no fuésemos responsables, ¿por qué Dios no nos dejaría de lado, por qué juzgaría y destruiría todo el sistema? ¿Por qué dice: “Vendré pronto a ti, y quitaré tu candelero de su lugar, si no te hubieres arrepentido”? ¿Por qué juzga a Tiatira, sustituyéndola por el reino? ¿Por qué dice a Laodicea: “Te vomitaré de mi boca”? Yo creo que las siete iglesias (Apocalipsis 2 y 3) nos dan la historia de la Iglesia, del principio al final; en todos los casos existe la responsabilidad de los cristianos acerca del estado de la Iglesia. Se dirá quizá que sólo las iglesias locales son responsables, y no la Iglesia universal. Lo que es seguro, es que Dios cortará a la Iglesia como sistema establecido en la tierra.

A fin de demostrar que la responsabilidad continúa del principio al fin, leamos en la epístola de Judas: “Algunos hombres han entrado encubiertamente, los que desde antes habían sido destinados para esta condenación” (Judas 4). Éstos ya se habían infiltrado entre ellos y “de éstos también profetizó Enoc, séptimo desde Adán, diciendo: He aquí, vino el Señor con sus santas decenas de millares, para hacer juicio contra todos” (Judas 14). Así pues, los que en el tiempo de Judas se habían infiltrado solapadamente, atraían el juicio sobre los profesantes profanos del cristianismo. En esta epístola tenemos los tres caracteres de la iniquidad y sus progresos. En Caín está la iniquidad puramente humana; en Balaam, la iniquidad eclesiástica; en Coré, la rebelión, y entonces perecen. En el campo donde el Señor había sembrado la buena semilla, el enemigo, mientras los hombres dormían, sembró la cizaña. Es muy cierto que la buena semilla se recoge en el granero; sin embargo, la negligencia de los siervos dejó al enemigo la ocasión de estropear la obra del amo. ¿Podemos ser indiferentes al estado de la Iglesia, amada por el Señor; indiferentes a las divisiones que el Señor ha prohibido?[5]. No; humillémonos, queridos hermanos, confesemos nuestras faltas y pongamos fin al asunto. Marchemos fielmente cada uno como corresponde, y esforcémonos en encontrar una vez más la unidad de la Iglesia y el testimonio de Dios. Purifiquémonos de todo mal y de toda iniquidad. Si es posible reunirnos en el nombre del Señor, será una gran bendición; pero es esencial que eso se haga en la unidad de la Iglesia de Dios y en la verdadera libertad del Espíritu.

Si la casa de Dios está aún en la tierra y el Espíritu Santo la habita, ¿no estará contristado por el estado de la Iglesia? Y si él mora en nosotros, ¿no deberían estar afligidos y humillados nuestros corazones por la deshonra que se le causa a Cristo, y por la destrucción del testimonio que el Espíritu Santo descendido del cielo vino a rendir en la unidad de la Iglesia de Dios? Quien compare el estado de la Iglesia, tal como nos es descrita en el Nuevo Testamento, con su estado actual, tendrá el corazón profundamente entristecido al ver la gloria de la Iglesia arrastrada en el polvo y al Enemigo que triunfa en medio de la confusión del pueblo de Dios.
En suma, Cristo ha confiado su gloria en la tierra a la Iglesia. Ella era la depositaria de esta gloria. En ella el mundo habría debido ver desplegada esa gloria por el poder del Espíritu Santo, testimonio de la victoria de Cristo sobre Satanás, sobre la muerte y sobre todos los enemigos a los que llevó cautivos, triunfando sobre ellos en la cruz. ¿Guardó la Iglesia este depósito y mantuvo la gloria de Cristo en la tierra? Si tal no fue el caso, decidme, cristianos, la Iglesia, ¿no es responsable de esto? El siervo a quien el amo confió el cuidado de su casa (Mateo 24), ¿es responsable o no del estado de la casa de su amo? Uno podrá decir tal vez que el siervo malo es la imagen de la iglesia exterior que está corrompida y que en realidad no es la Iglesia, y que en mi caso particular, yo no soy miembro de ella en absoluto. A eso respondo que en la parábola, el siervo está solo, y la pregunta entonces, respecto de ese siervo que está solo, es: ¿es fiel o no? Puede ser cierto que Ud. se haya separado de la iniquidad que llena la casa de Dios, e hizo bien; pero su corazón ¿no se humilla debido al estado en el cual se encuentra esta casa? El Señor derramó lágrimas sobre Jerusalén, y ¿no deberíamos nosotros derramarlas por lo que es aún más caro a Su corazón? Es aquí donde la gloria del Señor ha sido pisoteada. ¿Diremos que no somos responsables de esto? Su siervo, aunque solo, es tenido por responsable. Aun cuando, guiado individualmente por la Palabra, pueda apartarme de toda esa iniquidad que corrompe la casa de Dios, tengo el deber, como siervo de Cristo, de identificarme con Su gloria y con las manifestaciones de esta gloria hacia el mundo. Allí es donde la fe se pone de manifiesto: no solamente creyendo que Dios y Cristo poseen la gloria, sino identificando esta gloria con su pueblo (Éxodo 32:11-12; Números 14:13-19; 2 Corintios 1:20). En primer lugar, Dios ha confiado su gloria al hombre, el cual es responsable de permanecer en esta posición y de ser fiel, sin abandonar su primer estado; por consecuencia, Dios establecerá su propia gloria, conforme a sus propósitos. Pero, sobre todo, el hombre es responsable allí donde Dios lo ha puesto. Hemos sido puestos en la Iglesia de Dios, en su casa sobre la tierra, allí donde su gloria habita. Esta Iglesia, ¿dónde está?


J. N. D. (1866)
Extraído do site www.verdadespreciosas.com.ar

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