sábado, 1 de agosto de 2009

A Responsabilidade moral do homem... C.H. Mackintosh


A RESPONSABILIDADE MORAL DO HOMEM DIANTE DEUS
E SUA FALTA DE PODER
Por: Charles Henry Mackintosh

Extraído do site Verdades Preciosas e Traduzido para o Português por Paulo Sérgio Almeida de Oliveria
A questão da responsabilidade do homem parece deixar perplexas a muitas almas. Estas consideram que é difícil —por não dizer impossível— conciliar este principio com o fato de que o homem carece por completo de poder. «Se o homem —argüirem— é absolutamente impotente, como pode ser responsável? Se ele por si mesmo não pode arrepender-se nem acreditar no Evangelho, como pode ser responsável? E se ele, finalmente, não é responsável por acreditar no Evangelho, sobre que base, então, poderá ser julgado por recusá-lo?»

Assim é como a mente humana raciocina e argüia; e a teologia, infelizmente, não ajuda a resolver a dificuldade, mas, pelo contrário, aumenta a confusão e a escuridão. Pois, por um lado, uma escola de teologia —a «alta» ou calvinista— ensina —e corretamente— a completa impotência ou incapacidade do homem; que o deixa liberado a seus próprios meios, ele jamais irá querer nem poderá vir a Deus; que isto só é possível graças ao poder do Espírito Santo; que se não fosse pela livre e soberana graça, nunca uma só alma poderia ser salva; que, se de nós dependesse, só obraríamos mau e nunca faríamos bem. De tudo isto, o calvinista deduz que o homem não é responsável. Seu ensino é correto, mas sua dedução é errônea. A outra escola de teologia —a «baixa» ou arminiana— ensina —e corretamente— que o homem é responsável; que será castigado com eterna destruição por ter recusado ao Evangelho; que Deus manda a todos os homens em todo lugar que se arrependam; que roga aos pecadores, a todos os homens, ao mundo, que se reconciliem com Ele; que Deus quer que todos os homens sejam salvos e venham ao conhecimento da verdade. De tudo isto, o sistema deduz que o homem tem o poder ou a faculdade de arrepender-se e acreditar. Seu ensino é correto; sua dedução, errônea.

Disto se segue que nem os raciocínios humanos nem os ensinos da mera teologia —alta ou baixa— poderão jamais resolver a questão da responsabilidade do homem e de sua falta de poder. A palavra de Deus somente pode fazê-lo; e o faz da maneira mais simples e concludente. Ela ensina, demonstra e ilustra, do começo de Gêneses até o final do Apocalipse, a completa impotência do homem para obrar o bem e sua incessante inclinação ao mal. A Escritura, em Gênese 6, declara que “todo intuito dos pensamentos do coração deles é de contínuo somente o mal”. Em Jeremias 17 declara que “enganoso é o coração mais que todas as coisas, e perverso”. Em Romanos 3 nos ensina que “não há justo, nem mesmo um; não há quem entenda. Não há quem procure Deus. Todos se desviaram, a uma se fizeram inúteis; não há quem faz o bem, não há nem sequer um”.

Além disso, a Escritura não só ensina a doutrina da absoluta e irremediável ruína do homem, de seu incorrigível mal, de sua total impotência para fazer o bem e de sua invariável inclinação ao mal, mas sim também nos provê de um amontoado de provas, absolutamente incontestáveis, na forma de fatos e ilustrações tirados da história atual do homem, que demonstram a doutrina. Mostra-nos ao homem no jardim, acreditando no diabo, desobedecendo a Deus e sendo expulso. Mostra-o, depois de ter sido expulso, seguindo seu caminho de maldade, até que Deus, finalmente, teve que enviar o dilúvio. Logo, na terra restaurada, o homem se embriaga e se degrada. É provado sem a lei, e resulta ser um rebelde sem lei. Então é provado sob a lei, e se converte em um transgressor premeditado. Então são enviados os profetas, e o homem os apedreja; João o Batista é enviado, e o homem o decapita; o Filho de Deus é enviado, e o homem o crucifica; o Espírito Santo é enviado, e o homem resiste.

assim, em cada volume —por dizê-lo assim— da história do gênero humano, em cada seção, em cada página, em cada parágrafo, em cada linha, lemos a respeito de sua completa ruína, de seu total afastamento de Deus. Nos ensina, da maneira mais clara possível, que, se do homem dependesse, jamais poderia nem quereria —embora, certamente, deveria— voltar-se para Deus, e fazer obras dignas de arrependimento. E, em perfeita concordância com isto, aprendemos da parábola da grande janta que o Senhor referiu em Lucas 14, que nem tão sequer um dos convidados quis achar-se à mesa. Todos os que se sentaram à mesa, foram “forçados a entrar”. Nenhum só jamais teria assistido se tivesse sido liberado a sua própria decisão. A graça, a livre graça de Deus, deveu forçá-los a entrar; e assim o faz. Bendito seja para sempre o Deus de toda graça!

Mas, por outra parte, lado a lado com isto, e ensinado com igual força e claridade, está a solene e importante verdade da responsabilidade do homem. Na Criação, Deus se dirige ao homem como a um ser responsável, pois tal indubitavelmente o é. E além disso, sua responsabilidade, em cada caso, é medida por seus benefícios. Por isso, ao abrir a epístola aos Romanos, vemos que o gentil é considerado em uma condição sem lei, mas sendo responsável por emprestar ouvido o testemunho da Criação, o que não tem feito. O judeu é considerado como estando sob a lei, sendo responsável por guardá-la, o que não tem feito. Logo, no capítulo 11 da epístola, a cristandade é considerada como responsável por permanecer na bondade de Deus, o qual não fez. E em 2.ª Tessalonicenses 1 lemos que aqueles que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo, serão castigados com eterna destruição. Por último, no capítulo 2 da epístola aos Hebreus, o apóstolo urge na consciência esta solene pergunta: “Como escaparemos nós, se descuidarmos uma salvação tão grande?”

Agora bem, o gentio não será julgado sobre a mesma base que o judeu; tampouco o judeu será julgado sobre a mesma base que o cristão nominal. Deus tratará com cada qual sobre seu próprio terreno distintivo e conforme à luz e privilégios recebidos. Há quem receberá “muitos açoites”, e quem será “açoitado pouco”, conforme a Lucas 12. Será “mais passível” para uns que para outros, segundo Mateus 11. O Juiz de toda a terra terá que fazer o que é justo; mas o homem é responsável, e sua responsabilidade é medida pela luz e os benefícios que lhe foram dados. Não a todos os agrupa indiscriminadamente, como se eles se achassem em um terreno comum. Ao contrário, faz-se uma distinção da mais estrita, e ninguém será jamais condenado por menosprezar e recusar benefícios que não tenham estado a seu alcance. Mas certamente o só pelo fato de que haverá um julgamento, demonstra convincentemente —embora não houvesse nenhuma outra prova— que o homem é responsável.

E quem —perguntamos— é o protótipo de irresponsabilidade por excelência? Aquele que recusa ou despreza o Evangelho da graça de Deus. O Evangelho revela toda a plenitude da graça de Deus. Todos os recursos divinos se desdobram no Evangelho: O amor de Deus; a preciosa obra e a gloriosa Pessoa do Filho; o testemunho do Espírito Santo. Além disso, no Evangelho, Deus é visto no maravilhoso ministério da reconciliação, rogando aos pecadores que se reconciliem com Ele[1]. Nada pode ultrapassar isto. É o mais elevado e pleno desdobramento da graça, da misericórdia e do amor de Deus; portanto, todos os que o recusam ou menosprezam, são responsáveis no sentido mais estrito do termo, e trazem sobre si o mais severo julgamento de Deus. Aqueles que recusam o testemunho da Criação são culpados; os que quebrantam a lei são mais culpados ainda; mas aqueles que recusam a graça oferecida, são os mais culpados de todos.

Haverá alguém que ainda objete e diga que não é possível reconciliar as duas coisas: a impotência do homem e a responsabilidade do homem? O tal tenha em conta que não nos incumbe as reconciliar. Deus o tem feito ao incluir ambas as verdades uma ao lado da outra em sua eterna Palavra. Corresponde-nos nos sujeitar e acreditar, não raciocinar. Se atendermos às conclusões e deduções de nossas mentes, ou aos dogmas das antagônicas escolas de teologia, cairemos em um embrulho e estaremos sempre perplexos e confusos. Mas se simplesmente nos inclinamos ante as Escrituras, conheceremos a verdade. Os homens podem raciocinar e rebelar-se contra Deus; mas a questão é se o homem tem que julgar a Deus ou Deus tem que julgar ao homem. É Deus soberano ou não? Se o homem tiver que colocar-se como juiz de Deus, então Deus não é mais Deus. “Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus?” (Romanos 9:20).

Esta é a questão fundamental. Podemos responder a ela? O fato claro é que esta dificuldade referente à questão de poder e responsabilidade é um completo engano que surge da ignorância de nossa verdadeira condição e de nossa falta de absoluta submissão a Deus. Toda alma que se acha em uma boa condição moral, reconhecerá livremente sua responsabilidade, sua culpa, sua completa impotência, seu merecimento do justo julgamento de Deus, e que se não fora pela soberana graça de Deus em Cristo, ela seria indevidamente condenada. Todos aqueles que não reconhecem isto, do profundo de sua alma, ignoram-se a si mesmos, e se colocam virtualmente em julgamento contra Deus. Tal é sua situação, se tivermos que ser ensinados pela Escritura.

Tomemos um exemplo. Um homem me deve certa soma de dinheiro; mas é um homem inconsciente e esbanjador, de modo que é incapaz de me pagar; e não só é incapaz, mas também tampouco tem o menor desejo de fazê-lo. Não quer me pagar; não quer ter nada que ver comigo. Se me visse vir pela rua, ocultar-se-ia logo que pudesse contanto que me esquivasse. É responsável? Tenho razões para iniciar ações legais contra ele? Acaso sua total incapacidade para me pagar o exonera de responsabilidade?

Logo o envio a meu servo com uma afetuosa mensagem. Insulta-o. O envio outro; e o golpeia violentamente. Então o envio a meu próprio filho para que lhe rogue que venha para mim e se reconheça meu devedor, para que confesse e assuma seu próprio lugar, e para lhe dizer que não só quero perdoar sua dívida, mas também associá-lo a mim. Ele então insulta a meu filho de toda forma possível, joga toda sorte de opróbrio contra ele e, finalmente, o assassina.

Tudo isto constitui simplesmente uma muito débil ilustração da verdadeira condição de coisas entre Deus e o pecador; entretanto, alguns querem raciocinar e argumentar a respeito da injustiça de sustentar que o homem é responsável. Isso é um fatal engano, desde todo ponto de vista. No inferno não há uma só alma que tenha alguma dificuldade sobre este tema. E com toda segurança que no céu ninguém sente nenhuma dificuldade a respeito. Todos os que se achem no inferno reconhecerão que receberam o que mereciam conforme a suas obras; enquanto que aqueles que se achem no céu se reconhecerão «devedores à graça somente». Os primeiros terão que agradecer-se a si mesmos; os últimos terão que dar graças a Deus. Acreditam que tal é a única solução verdadeira à questão da responsabilidade e o poder do homem [2].


C.H.M.


NOTAS

[1]N. do A.— Alguns queriam nos ensinar que a expressão “Em nome de Cristo, pois, rogamos que vos reconcilieis com Deus” (2.ª Coríntios 5:20) refere-se aos cristãos que são exortados a reconciliar-se com os caminhos de Deus. Que engano! Isso passa por cima completamente do claro sentido da passagem e seus termos atuais. Deus estava em Cristo, não reconciliando aos crentes com Seus caminhos, a não ser reconciliando ao mundo consigo. E agora a palavra da reconciliação é encomendada aos embaixadores de Cristo, quem tem de rogar aos pecadores que se reconciliem com Deus. A força e a beleza desta preciosa passagem são sacrificadas, a fim de sustentar certa escola de doutrina que não pode enfrentar o pleno ensino da Santa Escritura. Quanto melhor é abandonar toda escola e sistema de teologia, e vir como um menino ao infinito e insondável oceano da divina inspiração!

Um comentário:

gilnei santos disse...

Que Deus tenha misericordia de todos nós e abra nossos olhos a fim de vermos a nossa responsabilidade como embaixadores de Cristo para anunciar aos perdidos que se reconciliem com Deus.

Irmãos em Cristo Jesus.

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Mt 5:14 "Vós sois a luz do mundo"

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