sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Enganando as Nações- Peter Leithart

Apocalipse 20:1-3 afirma que Satanás é lançado no abismo, que é “encerrado” e “selado” por 1.000 anos, e os versículos 7-10 adicionam que no final dos 1.000 anos, Satanás será solto para reunir as nações contra a cidade amada de Deus, até que eles sejam destruídos. Que tipo de restrição está sendo posta sobre Satanás? Ele é totalmente impotente? E, qual é o sentido da soltura no final do milênio?

Beale oferece vários argumentos convincentes para sugerir que a restrição de Satanás é uma limitação específica, e não geral da atividade de Satanás. Gramaticamente, a cláusula de propósito no versículo 3b especifica a razão para o aprisionamento e selo dos versículos 1-3a; Satanás está preso, jogado, trancado e selado “para que não mais engane as nações, até que os mil anos se acabem”. Esse é o propósito específico do aprisionamento; essa é a limitação específica do poder de Satanás que é observada no texto. Além disso, Beale explora o uso da linguagem de “aprisionar Satanás” no evangelho, e argumenta que esse aprisionamento (em Marcos 3:27, por exemplo) não restringe Satanás em todo aspecto. E mais, a noção que Satanás está “selado” no abismo não o limita totalmente: “Selar pode conotar um encarceramento absoluto, mas pode significar também a idéia geral de ‘autoridade terminada’, que é o seu significado primário também em Daniel 6:17 e Mateus 27:66… o selo de Deus sobre os cristãos não os protege em cada sentido, mas somente duma maneira espiritual e salvífica, visto que eles sofrem perseguição de várias formas físicas [citando Ap. 7:3; 9:4]. Igualmente, o selo de Deus sobre Satanás o impede de prejudicar a segurança salvífica da verdadeira igreja, embora ele possa causar males físicos a ela”. (Não estou perfeitamente contente com a forma como Beale diz isso, mas o ponto é correto). Finalmente, Ap. 20:7-10 descreve as
atividades de Satanás no final do milênio, quando ele “será solto da sua prisão, e sairá a enganar as nações que estão sobre os quatro cantos da terra” (v. 7-8a).
Satanás faz após o milênio o que ele tinha sido impedido de fazer durante todo o milênio – enganar as nações. No contexto de Ap. 20, esse engano tem o propósito específico de unir as nações contra os santos. Assim, Satanás está preso e restritoenquanto está sob a autoridade de Cristo (o Deus-HOMEM) e enquanto é incapaz de enganar as nações para uni-las contra “o arraial dos santos” (v. 9). Essa conclusão pode ser enriquecida explorando-se o papel de Satanás no restante de Apocalipse. Satanás é mencionado primeiro em conexão com a “sinagoga de Satanás”, os falsos judeus que eram culpados de blasfêmia e mentiras (2:9; 3:9). Eu tomo as outras referências a Satanás nas sete cartas (“trono de Satanás”, 2:13; “as profundezas de Satanás”, 2:24) em relação à sinagoga de Satanás. Isto é, Apocalipse fala primeiro sobre Satanás (o “acusador”) como o poder por detrás dos oponentes judeus e judaizantes da igreja cristã (cf. João 8). Isso faz sentido com a dupla narrativa do evangelho e do apocalipse de João: os líderes judeus tomaram o papel de acusadores satânicos em relação a Jesus, e fizeram o mesmo com os Seus seguidores. Quando Satanás aparece na visão de Apocalipse 12, ele é descrito como o “acusador de nossos irmãos” que “diante do nosso Deus os acusava de dia e de noite” (v. 10).

Apocalipse 12 é a primeira vez no livro que Satanás é descrito como um “enganador” (12:9), e ele é chamado assim quando é lançado do céu. Parece haver uma seqüência aqui: enquanto ele tinha acesso à corte celestial, ele podia agir como
um acusador; este é o papel que ele tinha desempenhado desde a queda de Adão (Jó 1-2; Zc. 3). Mas uma vez que Jesus subiu ao céu, Satanás é destituído dessa posição, e não mais pode acusar os santos. Por causa da morte e ressurreição de Jesus, Deus
nos justificou; quem pode nos condenar? Mas isso não termina a campanha de Satanás. Em vez disso, ele muda de tática. Em vez de acusar, ele começa a enganar, retornando à estratégia original que empregou no jardim do Éden. Por todo o restante de Apocalipse, Satanás e as bestas que sobem do mar embarcam numa campanha de propaganda para enganar “toda a terra” [12:9; grego, GE]; “os que habitam na terra” [13:14; grego, GE]. Com James Jordan, tomo GE aqui como se
referindo especificamente à terra de Israel (isso é muito evidente no contraste da besta da terra e do mar no capítulo 13). O ponto específico desse engano é atiçar o
povo da terra a fazer uma imagem da besta do mar (Roma) e prestar homenagem a ela (vv. 14-15), e perseguir qualquer um que recuse adorar a besta (v. 15). Aqueles que recusam aceitar a marca da besta, que recusam adorar Roma, não poderão “comprar e vender”, as permutas litúrgicas do templo judeu. Por causa dos enganos de Satanás por meio do falso profeta, aqueles que recusam jurar fidelidade a César são expulsos da sinagoga (cf. João 9). Resumindo, ao invés de tentar colocar Deus contra o Seu povo acusando-os na corte celestial, Satanás engana os judeus para cooperarem com Roma na destruição da igreja. Há um tipo de quiasmo à carreira de Satanás:

A. Enganador no Éden

B. Acusador

A’. Enganador no novo Éden da igreja

O engano de Satanás não é, contudo, restrito ao “povo da terra [de Israel]”. O clímax da denúncia profética do comércio da Babilônia em Apocalipse 18 é o julgamento que Babilônia/Jerusalém “enganou” as nações (grego, ETHNE) “pelas tuas feitiçarias” (18:23). Isso é imediatamente seguido pela acusação que “nela se achou o sangue dos profetas, e dos santos, e de todos os que foram mortos na terra” (18:24). Assim, o povo enganado da terra de Israel se torna enganadores para o mundo todo. Soa familiar? Liberais da igreja enganam as nações numa ideologia de tolerância e pluralismo. Quando a cidade cai, Jesus faz guerra contra os reis da terra, que foram seduzidos pela besta do mar e pelo falso profeta (=besta da terra) e lança-os no lago de fogo (19:19-20). Aqueles promotores particulares do engano satânico são destruídos. E o próprio Satanás é impedido de realizar um esquema similar durante os 1.000 anos do milênio. Embora os líderes religiosos enganados continuarão a enganar os líderes políticos para perseguir a igreja, Satanás não será capaz de unir todas as nações para batalhar com os santos até o milênio ser finalizado. Esse é o limite específico sobre seu poder durante o período presente. Como um mafioso aprisionado, Satanás ainda é capaz de mexer os pauzinhos, fomentar confusão e perturbar a igreja. Mas ele não tem o poder para unir as nações contra o Senhor e contra o Seu Ungido.

Por que ele receberia esse poder e permissão no final do milênio? Deixe-me sugerir, tentativamente, que isso é parte da igreja viver a vida de Jesus. Jesus expulsou demônios e afirmou ter preso Satanás para saquear a sua casa. Mas no final do seu ministério, Satanás agiu por meio dos judeus e romanos para levar Jesus à cruz. Em sua ressurreição e ascensão, contudo, Ele expulsou Satanás. Esse foi o fim do poder de Satanás acusar no céu. Toda essa história é executada numa escala mais ampla na história da igreja. A história da igreja começa com a restrição do poder de Satanás para enganar. Mas no final da história da igreja, Satanás unirá novamente nas nações contra o Senhor e contra o Seu ungido, até que fogo caia do céu, e Satanás seja lançado, com a besta e o falso profeta, no lago de fogo.

Extraído do site www.monergismo.com
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto

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Irmãos em Cristo Jesus.

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Mt 5:14 "Vós sois a luz do mundo"

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