quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Princípios de igreja no Tabernáculo ( Parte II)- A. McShane

Uma coisa era ter à mão os materiais necessários para o santuário — outra, bem mais complexa, era usá-los na construção de uma forma que agradasse a Deus. Não podemos deixar de perceber a grande ênfase colocada no padrão que foi mostrado a Moisés no monte. É óbvio que nada foi deixado à mercê da sabedoria humana, nem seria tolerado qualquer descuido ou relaxo. Todo o serviço precisava ser feito à altura do padrão divino. Podemos perfeitamente perguntar: “Como é que tal estrutura pôde ser feita?” Leve estes materiais para qualquer oficina moderna e veja o que seria produzido. Não podemos esquecer, porém, que maravilha maior é que as pessoas que foram convocadas para esta construção eram pedreiros ou pastores, ocupações que não dariam nenhuma experiência para este tipo de serviço.

A construção de santuários para Deus nos nossos dias é igualmente impressionante para o mundo. Provavelmente o maior feito debaixo do Sol é um homem chegar numa cidade, como Paulo fez em Corinto, pregar o Evangelho, reunir os convertidos, e partir deixando um testemunho estabelecido que será um memorial do poder e da presença de Deus. Este milagre ocorreu não só nos dias do Novo Testamento, mas continua acontecendo repetidamente nos dias de hoje, pois no mundo inteiro, e em praticamente todos os países, há igrejas funcionando de acordo com o padrão divino. Tais igrejas não só se apropriam da promessa da Sua presença no seu meio, mas também experimentam a realidade dela. As palavras escritas à igreja em Corinto, “vós … sois o templo de Deus” (I Co 3:16), poderiam ser verdadeiramente dirigidas a qualquer uma destas igrejas.
Deus jamais pede que Seu povo faça algum serviço para Ele sem lhes dar a força e a capacidade para executá-lo. No caso do Tabernáculo Ele preparou dois homens — Bezalel e Aoliabe — para executar a obra. Nenhum deles indicou-se a si mesmo, e nenhum deles foi consultado para saber se gostaria de trabalhar junto com o outro. Não, tudo foi planejado pela vontade soberana de Deus, independentemente de interferência humana e da opinião da congregação. É óbvio, então, que ninguém podia acusar estes homens de “tomar a dianteira”, nem havia qualquer razão para orgulho da sua parte, pois haviam recebido do Senhor a habilidade que possuíam para desempenhar suas responsabilidades.
A maioria daqueles que lêem as epístolas perceberá claramente o significado destas coisas, pois Deus continua construindo os Seus santuários hoje usando homens que Ele escolhe, e Ele jamais delegou a qualquer pessoa, ou qualquer grupo de pessoas, a autoridade para constituir os Seus servos. Apesar da opinião da Cristandade e até de algumas chamadas “igrejas”, Deus ainda detém o direito de escolher homens para liderança, para ensino e para evangelização. Algumas vezes as ferramentas que Ele escolhe parecem inapropriadas, mas depois que fizeram sua obra todos ficaram satisfeitos, vendo que somente o poder de Deus é que poderia ter produzido tais resultados. No caso do ancião e do diácono, algumas qualificações essenciais são apresentadas, mas mesmo quando estas qualificações são manifestas em alguns homens isto não quer dizer, necessariamente, que por causa disto tais homens devem assumir a responsabilidade do presbitério ou do diaconato. Podemos ter certeza, é claro, que Deus jamais ordena homens não qualificados ou desqualificados para qualquer obra.
Embora os dois artesãos já mencionados tinham a principal responsabilidade na construção do Tabernáculo, é interessante notar que toda a congregação pôde participar nesta grande obra. Não podemos deixar de ficar impressionados com a variedade de habilidades necessárias — tapeçaria, tingimento, bordado, costura, carpintaria, manipulação de metais (ouro, prata e cobre), trabalhos com cordas e cortume. Nisto vemos uma ilustração da variedade de dons usados na construção de igrejas. Alguns dos serviços foram feitos nas tendas dos israelitas, como a preparação das linhas e seu tingimento pelas mulheres. Não se esperava delas que saíssem para cortar as árvores para as tábuas, nem que cuidassem dos metais nos fornos.
É estranho que algumas irmãs pensam que, se não estão fazendo algo em público e algo para o qual Deus chamou apenas homens, que não estão trabalhando na Sua obra. Havia uma esfera de serviço para as mulheres nos dias de Moisés, e continua assim até hoje. Eram elas que preparavam os fios de linho que davam brilho ao santuário no passado, e assim hoje elas trabalham por trás das cortinas, dando brilho à igreja pela sua influência piedosa.
O Tabernáculo completo deve ter causado admiração em todos que o contemplavam. Quer pensemos nas imensas tábuas (com pelo menos 4,5 m de comprimento e 70 cm de largura, provavelmente com 22 cm de espessura), ou nas longas cortinas de linho, ou nos móveis de ouro e cobre, somos forçados a reconhecer as muitas horas de trabalho árduo que foram gastos para preparar estas coisas. As tábuas tinham que estar no esquadro para que encaixassem uma na outra onde quer que fossem montadas. Este deve ter sido um trabalho cansativo que custou muito suor no calor do deserto. Aonde quer que vemos uma igreja podemos ter certeza que alguém trabalhou e carregou pesados fardos, pois de outra forma ela não existiria. Ao contemplar seu trabalho em plantar igrejas na Ásia e Europa Paulo tinha, além de doces recordações, a consciência de que tinha usado todas as suas forças naquilo. Foi necessário muito esforço para que judeus e gentios pudessem “encaixar”, vivendo em feliz comunhão, mas o Evangelho conseguiu fazer o que parecia impossível ao homem. Assim como uma tábua, feita de acordo com o padrão, encaixava perfeitamente aonde quer que fosse montada no Tabernáculo, assim qualquer cristão, submisso à vontade de Deus, encaixará em qualquer igreja bíblica.
Nem todo o trabalho na construção do santuário no deserto era trabalho pesado. Para algumas tarefas era necessário grande paciência e muitas horas disponíveis — por exemplo, a confecção dos querubins e do candelabro. Inúmeros golpes do martelo, direcionados com precisão artística, moldavam lentamente estas obras de arte. Que ilustração bela do ministério eficaz de irmãos que, atingindo as consciências dos santos, produzem neles glórias e belezas que nunca teriam sido reveladas sem este ministério. Alguns dos metais eram formados em moldes — isto nos lembra do tipo de ministério que aquece os santos, amolecendo-os de tal forma que irão prontamente conformar-se com o “molde” da doutrina que lhes foi entregue.
A repetição da palavra “unido” (a palavra hebraica chabar recebe diversas traduções diferentes nas versões em Português, como “unido”, “ligado”, “entreleçado”, etc. — ocorre em Êx 26:3, 6, 9, 11; 28:7; 36:10, 13, 16, 18; 39:4) nas instruções para a construção do Tabernáculo nos ensina outra lição importante sobre a vida de uma igreja, pois assim como as cortinas eram unidas por colchetes e as tábuas por travessas, assim Deus espera que Seu testemunho atual seja uma demonstração da unidade do Seu povo. Na verdade, nenhum grupo de cristãos pode afirmar ser Sua habitação se não reconhece o valor da comunhão entre os santos. O mundo religioso esforça-se agora para unir a Cristandade numa imensa “igreja” mundial, e não há dúvida de que o tempo está se aproximando quando sua ambição será realizada. Esta “igreja” mundial será a habitação dos demônios, não de Deus, pois ela é a imitação satânica da verdadeira comunhão, e todos aqueles que cooperam com ele, sejam modernistas ou assim-chamados evangélicos, estão cooperando para o avanço do seu plano. Separado, porém, desta confederação, e também um testemunho contra ela, está todo verdadeiro santuário de Deus, onde a comunhão dos santos é estimulada e desfrutada.
No Tabernáculo nenhuma cortina pendurada isolada e nenhuma tábua permanecia em pé isolada. Nos cantos onde as paredes se encontravam medidas especiais foram tomadas para que as filerias de tábuas não se separassem. As travessas externas, a travessa interna abrangendo toda a extensão das paredes, as argolas e as bases, tudo proclama para as nossas almas que a habitação de Deus é caracterizada pela união. À luz disto, cada membro de uma igreja deve ter cuidado para que nada seja permitido na sua vida que poderia impedir um cristão obediente e espiritual de ter comunhão com ele, e nenhuma companhia que pretende ser um santuário de Deus pode permitir qualquer coisa no seu meio que impediria um cristão sincero de desfrutar de comunhão ali. Se a igreja é a Sua habitação, então é natural que aqueles que estão em comunhão com Ele irão ter os mesmos pensamentos que Ele tem sobre a união do Seu povo.
Todos aqueles que contribuíram com a obra do Tabernáculo devem ter ficado satisfeitos quando a estrutura foi finalmente erguida. A honra de trabalhar na habitação de Deus não era algo desprezível. Da mesma forma aqueles que têm o privilégio de plantar e cuidar de igrejas também reconhecem o grande privilégio que lhes foi outorgado. Quão gostoso olhar para um grupo de cristãos reunidos ao nome do Senhor e saber que tivemos alguma participação na obra que os transformou naquilo que são. Contemplar as misericórdias e belezas do Senhor naqueles que, pouco tempo atrás, eram pecadores perdidos levaria qualquer servo de Deus a curvar-se em gratidão.
A. McShane

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Irmãos em Cristo Jesus.

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