sábado, 6 de setembro de 2008

Princípios de igreja no Tabernáculo ( Parte III ) A. Mcshane

O conteúdo do Tabernáculo

Por enquanto, temos nos preocupado principalmente com as lições que podemos aprender da aparência geral e da estrutura do Tabernáculo. Agora pensaremos no seu conteúdo, procurando nestes objetos mais algumas sugestões relacionadas com o testemunho das igrejas. Devemos continuar lembrando que o Tabernáculo, ao contrário da maioria das construções religiosas de hoje, não era um local de reunião para o povo. Suas dimensões reduzidas indicavam que ele era totalmente inadequado para tal finalidade. Não, o Tabernáculo era a habitação de Deus, e todos os vasos contidos nele eram para o Seu serviço. É claro que sabemos que a habitação de Deus hoje não é o prédio de reuniões, mas as pessoas que ali se reúnem. Tanto se fala no Cristianismo sobre os prédios que muitos nas igrejas locais ainda imaginam que o prédio onde se reúnem é “a casa de Deus”. É muito bom possuir um abrigo das intempéries onde o povo pode se reunir confortavelmente, e ter este prédio legalmente registrado no nome de responsáveis legais, porém devemos lembrar que nem o prédio nem os responsáveis legais por ele devem ser um fator decisivo em resolver questões relacionadas à igreja. Se a igreja resolve deixar seu antigo lugar de reuniões e dois ou três permanecem naquele lugar, eles não podem reivindicar ser a igreja.

Ao entrar no pátio do Tabernáculo dois móveis eram vistos — o primeiro era o altar de bronze perto da porta, e o segundo a pia de bronze colocada um pouco mais distante. Estes dois móveis eram públicos, e bem conhecidos de toda a congregação de Israel. Ninguém podia aproximar-se do santuário de Deus sem passar por eles. Quando pensamos no altar com seus sacrifícios e fogo, não podemos deixar de lembrar do único sacrifício pelos pecados oferecido na Cruz. Todo santuário presente deve apresentar, de forma bem destacada, a morte de Cristo. Seja na celebração da Ceia, na pregação do Evangelho, no ensino dos santos, ou em oração pública, este assunto sublime deve ter a pre-eminência da qual é digno. O ritualista que confia na justiça própria enaltece o exemplo de Cristo, mas o verdadeiro cristão sabe que foi necessário um sacrifício, e que a igreja é a grande testificadora acerca da Cruz. Este móvel não possuía nada que atraísse os sentidos naturais. O derramamento de sangue, o esfolamento de animais, e a carne queimada não tinham como finalidade atrair os curiosos, mas sim estabelecer um contraste claro com os bezerros de ouro e os ídolos brilhantes do Egito. “Nós pregamos a Cristo crucificado” é o lema de toda verdadeira igreja, e esta mensagem é ainda considerada por muitos como escândalo e tropeço.
Em relação ao segundo móvel, a pia de bronze, sabemos muito pouco. Nem seu tamanho, nem seu peso, nem seu formato são informados, mas pelo menos sabemos que foi feito dos espelhos das mulheres, e que era usado pelos sacerdotes para lavar suas mãos e pés. Com certeza ela nos fala da Palavra de Deus. Há duas citações que deixam isto claro: “Com que purificará o jovem o seu caminho? Observando-o conforme a Tua Palavra” (Sl 119:9); e: “Vós já estais limpos, pela Palavra que vos tenho falado” (Jo 15:3). Todo verdadeiro santuário de Deus hoje dá destaque às Escrituras. Ao serem lidas e ensinadas, elas têm um efeito santificador sobre a congregação, ajudando a preservá-los vivendo e andando em pureza. Uma igreja difere dos sistemas religiosos por não necessitar de credos, artigos de fé, confissões e catequismos. Para ela, a Palavra de Deus é a última corte de apelação, e ela humildemente submete-se ao “Assim diz o Senhor.” Há o perigo de considerar que as Escrituras não têm lugar em determinadas reuniões, especialmente a Ceia do Senhor. Se crermos e praticarmos isto, os santos poderão até achar que não precisam levar suas Bíblias para estas reuniões. Apesar de todos concordarmos que ministério prático não faz parte da Ceia, o que pode nos ajudar melhor a lembrar do Senhor do que ler as Escrituras que falam dEle? Está implícito em I Coríntios que, após a Ceia, os dons eram exercitados, e sem dúvida esta é uma hora apropriada para usarmos a Palavra purificadora. Todos que visitam uma igreja devem ficar impressionados com o uso constante que é feito das Escrituras, e pelo fato de que tudo é feito de acordo com o ensino delas.
Após passar pelo átrio do Tabernáculo e entrar no Lugar Santo, três móveis eram vistos: a mesa, o candeeiro e o altar de incenso. Estes móveis não eram públicos como aqueles que acabamos de considerar, mas eram vistos apenas pelos sacerdotes no seu serviço. Cada um desses tem uma lição a nos ensinar acerca do funcionamento interno da habitação de Deus hoje. A mesa, com sua coroa e seus doze pães cobertos de incenso, nos falam da unidade dos santos, mantidos em união pelo poder divino, e desfrutando de doce comunhão perante Deus. Em tal companhia, as distinções nacionais, sociais ou raciais não são mais vistas. Aqueles que estão na comunhão não só sabem sobre a unidade dos santos, mas também a experimentam em comunhão uns com os outros. Os pães no Tabernáculo eram todos iguais, independentemente do tamanho da tribo que representavam — assim devemos lembrar que a igreja não é lugar de auto-afirmação, ou divisão ou contendas. Como poderia ser, se cada vez que partimos o pão proclamamos não apenas a morte do Senhor, mas também que estamos em comunhão com todos aqueles que participam do mesmo pão?
Defronte da mesa dos pães da proposição havia o candelabro. Cada tarde ele era aceso pelo sumo sacerdote, queimando a noite inteira até pela manhã, de sorte que a habitação de Deus nunca estava no escuro. Este móvel com suas sete lâmpadas nos lembra da luz da igreja brilhando no poder do Espírito. Para o homem natural a igreja é um mistério, pois ele não pode entender como pessoas podem reunir-se e realizar uma reunião ordeira sem algum tipo de dirigente para controlá-la, ou algum programa pré-definido para ser seguido. Aqueles que estão “do lado de dentro”, porém, sabem como isto funciona, pois eles contemplam a ordem de Deus sendo executada pelo poder do Espírito, e vêem que funciona perfeitamente. Exercícios sacerdotais e ministério público nos ajuntamentos dos santos não são desenvolvidos “no escuro”, nem aqueles que servem ficam tropeçando uns sobre os outros enquanto se ocupam no serviço de Deus. Não, mas mesmo sem organização e planejamento humanos, harmonia perfeita pode ser produzida pela direção do Espírito Santo.
O terceiro móvel nesta parte do Tabernáculo era o altar de incenso, que representa a adoração na igreja. Os santuários de Deus são lugares onde Ele recebe o louvor do Seu povo. Nós nos reunimos, não simplesmente para apreciarmos a companhia um do outro, mas especialmente para desfrutarmos de comunhão com Deus. Cantamos Seus louvores, contemplamos Suas glórias, honramos Seu nome. Se as verdadeiras igrejas falham em Lhe dar a Sua porção, de onde Ele poderá recebê-la? Com certeza não nos ajuntamentos ritualistas na Cristandade. Quando o espírito de adoração começa a enfraquecer numa igreja podemos ter certeza que já começou o declínio, e a não ser que este for logo contido, conseqüências terríveis virão.
No Santo do Santos do Tabernáculo havia apenas um móvel — a arca. Apesar de estarmos considerando-a por último, ela era talvez a mais importante peça de todas. Sobre ela aparecia a nuvem, dela Deus falava com Moisés, nela havia o propiciatório e os querubins da glória, e uma vez por ano o sumo sacerdote comparecia perante ela. Ela simboliza a presença de Deus, lembrando-nos assim daquilo que já enfatizamos, que a igreja é, na verdade, o lugar onde a presença de Deus é conscientemente sentida. Não pode ser o Seu santuário se Ele não estiver ali, e se não desfrutarmos da Sua presença, o serviço que prestamos não tem valor. Há um aspecto solene a esta verdade que deve ser compreendido por todos — a presença do Senhor é terrível! A devida reverência é necessária nos ajuntamentos do Seu povo. A igreja em Corinto sofreu as tristes conseqüêcias pelo seu comportamento inadequado na presença dEle, pois alguns sentiram a Sua mão disciplinadora. Que tal Pessoa sublime se digne de habitar no meio de uma companhia simples de santos, muitos dos quais tirados das camadas mais baixas da sociedade, é uma maravilha que foge à nossa compreensão. É muito animador, porém, lembrarmos que, mesmo após quase dois mil anos, as igrejas ainda podem desfrutar da mesma presença e poder que eram conhecidos das igrejas nos dias do Novo Testamento. Seus locais de reunião podem não possuir a grandeza e habilidade artística dos homens, mas tendo manifestações do Espírito, com ordem divina e reconhecendo o Senhorio de Cristo, estas igrejas não perdem em nada para as igrejas modelo plantadas pelos apóstolos. Como qualquer outro testemunho dado aos homens, as igrejas têm muito de que se envergonhar, e não têm razão para o orgulho. Aliás, para muitos a maravilha é que Deus, na Sua fidelidade, ainda se digna de ter Seu nome indentificado com elas. Em relação ao número daqueles que professam ser salvos, são um mero remanescente. Apesar de tudo isto, não há nenhum outro exemplo nas Escrituras além do exemplo deixado pelos apóstolos no início desta era. Alguns ensinam que, devido à confusão na Cristandade, é impossível ter um testemunho unido hoje, mas no decorrer dos séculos os servos fiéis de Deus sempre retornaram aos primeiros princípios, e Ele sempre Se agradou em honrar a obediência deles.
O transporte do Tabernáculo
Diferentemente do Templo, com seus imensos alicerces de pedra e suas paredes sólidas, o Tabernáculo era uma estrutura móvel que poderia ser desmontada e reerguida em relativamente pouco tempo. A responsabilidade deste serviço foi colocada por Deus nas mãos dos Levitas. Assim como deu instruções quanto à sua construção, assim Ele determinou como seria seu transporte. Enquanto o povo de Israel marchava ele permanecia na mesma posição entre as tribos que ocupava quando estavam acampados, e assim ele mantinha a ordem nas fileiras dos israelitas.
Sua mobilidade tem lições para nós hoje. Nenhum israelita poderia olhar para o Tabernáculo sem lembrar que o deserto não era o seu lar. Cada prego, cada tábua, tudo lhe dizia que ele deveria estar pronto para marchar a qualquer instante. A igreja, o santuário de hoje, é igualmente um testemunho do nosso caráter peregrino. O mundo não é nosso lar, pois aguardamos uma cidade, como Abraão antigamente. Por todos os lados há um deserto que não contém nada digno de atrair o interesse da aristocracia dos céus. Poucos, talvez, entendem a relação íntima entre caráter peregrino e o testemunhos das verdadeiras igrejas. Há pouca possibilidade de que permanecerão fiéis ao ensino das Escrituras sobre a igreja local aqueles que afundam seus alicerces aqui na Terra e fazem das coisas terrenas seu principal interesse. Não — materialismo e as verdades sobre a igreja são incompatíveis. Cada ajuntamento dos santos, cada lembrança do Senhor, cada tentativa de servi-Lo são novas lembranças de que a Sua vinda está próxima, e nossa estadia na Terra pode terminar a qualquer momento. Ninguém pode negar que aqueles que desprezam o valor da igreja local, e não querem a vergonha de colocar-se fora do arraial, são normalmente caracterizados por materialismo.
Cada nova mudança do Tabernáculo não apenas trazia os israelitas mais perto do prometido descanso, mas também exigia o serviço daqueles que eram responsáveis pelo seu transporte. Muitos já têm comparado as três famílias dos Levitas — os Gersonitas, os Coatitas e os Meraritas — com os três principais dons existentes hoje em dia. Os Meraritas e seus carros carregados com pesadas tábuas e bases nos lembram dos evangelistas, que lançam o alicerce da obra; os Gersonitas, com as coberturas e menos carros, nos falam dos pastores e seu cuidado pelo rebanho, ao passo que os Coatitas, sem carros, mas carregando os móveis em seus ombros, nos lembram dos ensinadores que sabem colocar em ordem os tesouros espirituais na casa de Deus. Disto podemos aprender que todo verdadeiro serviço precisa estar relacionado com a igreja — seja no início de um novo testemunho, seja na edificação e desenvolvimento de um testemunho já existente. Serviço e adoração jamais devem ser separados.
Enquanto eram carregados, o Tabernáculo e seus utensílios ficavam geralmente cobertos. Os carros eram cobertos, e todos os móveis, com excessão da arca e da pia, eram cobertos com peles de texugos. Assim a beleza e glória do Tabernáculo ficavam escondidos dos olhos humanos. A cobertura externa da arca era azul, tornando-a assim bem destacada enquanto ela liderava o povo em marcha. Não há nenhuma menção de alguma cobertura para a pia, portanto não podemos afirmar se era coberta ou não. A arca indo na frente nos sugere que em todos os avanços da igreja Cristo deve ter o primeiro lugar. A pia descoberta (se assim era) nos mostram que as Escrituras devem permanecer abertas para a investigação de todos.
Nunca houve dúvida entre Israel sobre onde armar o Tabernáculo no deserto, pois a coluna de nuvem erguendo-se da arca, e provavelmente estendendo-se como um imenso guarda-chuva sobre a congregação, determinava cada novo lugar de repouso. Era tanto o abrigo quanto o guia do povo. Feliz é a igreja que avança sob a direção divina, trazendo luz e bênçãos aos que estão nas trevas. A igreja em Tessalônica deve ser imitada, pois era conhecida por proclamar a Palavra a todos em redor. Todos sabemos que se almas não forem congregadas à igreja ela tornar-se-á estagnada e morta, e se territórios novos não forem alcançados a obra de Deus será limitada no seu crescimento.
Que estas poucas sugestões sobre o Tabernáculo sirvam para ajudar todos que estão reunidos ao nome do Senhor a valorizar ainda mais sua posição, e para mostrar a todos os demais que Deus ainda tem, na Terra, um lugar de testemunho, que Ele se digna de chamar de Seu santuário.

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Irmãos em Cristo Jesus.

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