sexta-feira, 24 de outubro de 2008

As Ofertas no Período de Esmirna- Arcadio Sierra Díaz

Nas igrejas locais costumavam destinar as ofertas a um fundo comum principalmente para a ajuda dos santos pobres, com a participação e direção dos anciãos da igreja. Os que recebiam uma ajuda sistemática eram os matricularii, pois estavam inscritos na matrícula, ou seja, que havia uma lista ou cânon das viúvas, órfãos, anciãos sem recursos, os que haviam perdido seus bens por causa de uma desgraça (um naufrágio, por exemplo), os que nos tempos da perseguição haviam caído na miséria, e demais necessitados.

Por exemplo, é digno de menção que na comunidade cristã de Roma levavam um registro dos irmãos que haviam sido enviados a trabalhos forçados nas minas da ilha mediterrânea de Cerdenha, para mandar-lhes ajuda. A Igreja não se cuidava de entesourar nem de incrementar seu patrimônio; não havia o interesse de construir luxuosos e grandiosos templos para as reuniões, e o dinheiro não era desviado a cobrir gastos que não foram estritamente necessários, aparte de atender aos santos pobres. A Igreja de Jesus Cristo carece de tesouros terrenos, como testemunhou o diácono Lorenzo quando, ante o tribunal pagão, se lhe impôs a que entregasse os tesouros da igreja, ele contestou que os tesouros da comunidade cristã são os santos pobres. De onde provinham estes recursos? A oferta é um ato de adoração e honra ao Senhor, e deve ser voluntária. Diz Tertuliano que:

"cada um dá uma vez ao mês ou quando quer, se é que quer alguma vez, e se pode, pois a nada se lhe obriga"

. A Respeito disto, é digno de mencionar também que Justino Mártir na descrição das reuniões dominicais da igreja para a Ceia do Senhor, e que a meados do século segundo começaram a chamar de eucaristia, de uma palavra grega que significa o dar graças. Diz que as contribuições feitas pelos irmãos abastados, eram depositadas em mãos do oficial presidente da reunião, o qual se encarregava de usar esses fundos para socorrer às viúvas, aos órfãos, aos enfermos, aos prisioneiros, aos estranhos que visitavam aos cristãos e a outros que atravessavam por alguma necessidade.

No período de Esmirna, a Igreja é alentada. É uma das duas, com Filadélfia, que não recebe reprovações do Senhor, e a anima e aprova essas obras no sofrimento. O Senhor sabe qual é a origem desse sofrimento; Ele conhece a tribulação devida à amarga perseguição de que é objeto Sua amada, e que por trás dos bastidores é Satanás quem na verdade está interessado em destruir à Igreja de Jesus Cristo, mas o querubim caído se vale de seus instrumentos humanos para realizar sua obra destrutiva, e nesses duzentos anos do período de Esmirna usou todo o poderio imperial para efetuar seus maléficos desejos.

O Senhor permite a tribulação em Sua Igreja, entre outras coisas, para capacitar-la para que participe e desfrute das riquezas da vida do Senhor.Eventualmente a história registra a ação dos imperadores romanos. Que motivos aparentes moviam aos Césares a perseguir aos cristãos e pretenderem extermina-los? Que mal faziam os santos ao Império e a sociedade? Eram os crentes uns delinqüentes? Os cristãos faziam o bem; conformavam um grupo obediente à lei, mas eram odiados e perseguidos de morte devido a que não compartilhavam a idolatria e a adoração aos deuses alheios; em conseqüência eram considerados uns alienados, pessoas anti-sociais, desafetuados ou aborrecedores dos demais seres humanos; eram considerados também uns ateus porque não criam nos deuses pagãos, e tudo isso ia alimentando um antagonismo excitante. Também consideram os historiadores que a negativa de muitos cristãos a exercer cargo de magistrados, portar armas e render culto ao imperador, os fizeram oficialmente suspeitos. Nos primeiros séculos, nos tempos da República, se rendia culto a Roma, mas com o estabelecimento do império, os imperadores, com o título de Augustos, foram considerados "divinos", pois lhes chamavam præsens divinus (divindade encarnada), e reclamaram culto à sua pessoa, talvez seguindo o costume herdado desde os tempos de Alexandre Magno. Similar ao que ocorre hoje em torno das religiões idolátricas e supersticiosas, com essa efervescência na fabricação de toda sorte de objetos religiosos, esse grande comércio com missas fúnebres, responsos, crucifixos, imagens, escapulários, estampas, medalhas, sufrágios, veladoras, Rosa ungida, fogueira santa, chifres para ungir e milhares de coisas mais, nesse tempo haviam cristalizado fortes interesses financeiros na indústria religiosa pagã; sacerdotes e laicos relacionados com os templos dos ídolos, os fabricantes de imagens, escultores, arquitetos de templos, artesões de réplicas de templos, como o caso dos ourives de Éfeso; todos eles viam afetados seus abundantes negócios pelo avanço da Igreja, e incitavam e promoviam a perseguição contra os santos. O Senhor também disse à Igreja em Esmirna que conhece sua pobreza. Alguns exegetas consideram que se trata de uma pobreza econômica, o qual em parte pode ser verdade; e consideramos que estar atribulado e perseguido em meio de escassez já é em si uma grande calamidade. Mas se analisarmos mais detalhadamente o contexto e aprofundarmos o significado, obteremos novas luzes sobre este trecho tão importante da caminhada da Igreja no período de Esmirna. Quando o Senhor disse que conhece sua pobreza, a continuação, e em contraste, lhe adiciona as palavras "mas tu és rico"; é o mesmo que dizer, que há uma riqueza no Senhor que gera essa pobreza de espírito. É tudo ao contrário do que Ele disse à igreja em Laodicéia:

“pois dizes: Estou rico e abastado e não preciso de coisa alguma, e nem sabes que tu és infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu.” (Ap. 3:17).

Diz-se que esta riqueza de que se orgulha a igreja em Laodicéia não é necessariamente de tipo material, mesmo que também haja parte disso; nota-se que por si mesma essa expressão conota soberba, e o Senhor expõe sua verdadeira condição espiritual. O verdadeiro vencedor é pobre em espírito e rico em Deus. Assim mesmo ocorre no caso de Esmirna. A pobreza desta sofrida igreja pode ter seus aspectos de necessidades materiais, e de fato os tem se levarmos em conta que por causa das perseguições eram despedidos de seus trabalhos, seus bens confiscados e sofriam perdas por diferentes motivos; mas a tribulação, a pobreza, a blasfêmia, o cárcere e a morte, são os ingredientes da amargura de Esmirna. Não há base escrituraria para afirmar que a pobreza seja algo bom, nem que garanta a espiritualidade da pessoa; como tampouco a Bíblia faz apologia à riqueza. Há ricos santos e humildes, assim como há pobres altivos. O Senhor tem outros interesses e outros propósitos. Diz em Mateus 5:3:

“Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus.”.

Nem sempre a riqueza material gera soberba, pois de fato há crentes endinheirados que são humildes de coração, mas a carência de pobreza espiritual se traduz com freqüência em altivez; a pobreza de espiritol é característica fundamental do cristão normal. É notório que há um aspecto em que o cristianismo denominacional se assemelha muito ao mundo e é que em muitos setores do protestantismo se defende com regularidade a prosperidade e ao êxito material e se despreza a humildade. Uma das nefastas conseqüências desta orientação é a marcada tendência a dividir-se em congregações com distinção de classes, posição social, situação econômica e até profissionais.

O Senhor apóia que haja igrejas de ricos e igrejas de pobres? Não é vergonhoso diante do Senhor que haja igrejas de brancos e igrejas de negros? Está conforme o Senhor com todas essas discriminações, exclusivismos, divisões, altivez e esnobismos que costumam dar-se em Seus filhos, pelos quais derramou todo o Seu sangue o Ser mais humilde que haja pisado nesta terra? Ser pobre no espírito é não confiar no que tens, nem no que sabes, nem no que és, senão que toda sua confiança está posta no Senhor. Nisto se diferencia o homem natural e o cristão. Uma pessoa que tem ao Senhor Jesus Cristo como seu único suporte, seu único tesouro e sua única riqueza, é verdadeiramente rica. A respeito cabe perguntar, o que dizem os apologistas da chamada teologia da prosperidade?

Extraído do Livro " A Igreja de Jesus Cristo, Uma Perspectiva Histórico profética"*

* Encontra-se disponivel para download na seção de ebooks do blog " http://aigrejadejesuscristo.blogspot.com "

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Irmãos em Cristo Jesus.

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